verbosaudade

[verbosaudade]

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Hoje a temperatura não chegou a dez graus, exatamente como naquela noite cinzenta de julho, em que a tentativa de um recomeço foi o início do nosso fim. Você dedilhava o violão e eu tentava segurar a nota, mas o ar estava seco e nosso destino rarefeito, como essa história decadente que entre linhas sempre tento contar. Já se passaram dois anos, eu sei, mas o clima do nosso mundo ainda é o mesmo. Lá fora o tempo é gélido, aqui dentro o peito é gelo. Paro e penso se nosso amor sobreviveria ao calor das floridas e amarelas estações - sei que não. Os poros abertos chorariam suor e o frágil sentimento escorreria pelas coxas em direção ao chão. O que restasse pelos braços, testa e pescoço seria afastado pelas mãos ou enxugado pela bainha das camisas de linho cru. Bastaria um só mergulho para que tudo virasse água salgada: o mar, o suor, as lágrimas e o amor. O nosso desprotegido amor. Talvez por isso você só me procure quando o inverno bate à porta. Talvez por isso o termômetro de nós dois nunca passe dos dez graus. Nosso amor se conserva no ar seco da distância e na temperatura fria da saudade, mas se estraga com rapidez no calor das palavras e dos beijos de estação. Me lembro bem das nossas despedidas explosões. Partículas de coração voando por cada canto da cidade, perdidas em meio às luzes dos faróis vermelhos e letreiros de bar. Nem mesmo o frio foi capaz de controlar, e disso você sabe. No meio da poeira brilhante daquela noite – aquela noite em que tentei te convencer - você soltou minha bandeja de prata e foi embora. No chão deitavam as inúteis batalhas de junho, as úlceras de uma vida inteira e meu manual de instrução. Por entre as lesões da partida, recém-marcadas pela queda do metal lustrado, o amor espesso, perolado e prematuro respirou pela primeira vez. E então congelou.

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Perco o rumo todas as vezes que tento decifrar o enigma do teu corpo. Perco a paz e o sentimento de tranquilidade causado por tua voz. A inconstância presente em ti supera a minha; o descompasso do teu coração engana o meu. Quando finalmente me reconstruí daquela última queda, seu olhar me empurrou da pedra mais alta. Tão alta que ainda não encontrei o chão - nem sequer o vejo ao longe. Já fazem meses que flutuo na atmosfera de nós dois e não sei de nada. Da sua boca não sai certeza alguma. Do seu olhar, mil rosas cheias de espinhos são disparadas em minha direção e me machucam. Mesmo assim, eu quero mais. De alguma forma, por alguma razão, dentro do meu coração, eu quero mais. Estou perdida, assino e assumo. Não sei o que fazer além de aceitar a espera e o meu corpo despedaçado depois que o solo o encontrar. Mais uma vez, o impacto do amor me fez explodir vermelho por todos os cantos e a culpa é sua. Sou para sempre derrotada, maltratada, ultrajada... e perdidamente apaixonada por você.

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Ele me olha com calma e eu me expando por inteiro. Cresço. Ascendo. Entendo os motivos de tudo, as razões do mundo, que caminho seguir. Me faço sol, lua, vento e cautela. Furacão. Ele me olha com calma e me destrói com amor. Destrói as opiniões alheias. A pressão dos dias. As dores do passado. O vazio incessante que arde aqui.

E depois, quando tudo parece pó, me estende as mãos. Exercita o meu olhar. Vislumbro o horizonte diante de mim. Sigo.

E ele segue comigo.

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My heart, my hips, my body, my love... Tryna find a part of me that you didn't touch. Gave up on me like I was a bad drug, now I'm searching for signs in a haunted club. Our songs, our films, united, we stand. Our country, guess it was a lawless land. Why are my fears at the touch of your hand? Paper cut stains from my paper thin plans. My time, my wine, my spirit, my trust... Tryna find a part of me you didn't take up. Gave you too much, but it wasn't enough, but I'll be alright... it's just a thousand cuts.

Taylor Swift

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(...) No replay de todas as memórias eu me perco e não sei mais escrever. Nunca soube, perto de você. Mas sempre tive a ânsia, mais que em qualquer outro momento. Te escrevi em meia hora porque sabia que, na meia hora seguinte, iria te perder. Sabia que o nosso reencontro era o ponto final. A pendência de outras vidas a ser resolvida com o melhor beijo de despedida... talvez meu único. Se penso no nosso goodbye, penso no beijo dado e no seu olhar atento. Quente. A estação te esperava num abraço, te engoliu com rapidez e dali a gente nunca mais saiu. Sempre que passo em frente nos vejo lá. O abraço demorado e sofrido que durou mais de uma hora. Que esperou o último beijo chegar. Na calma de sempre, no tempo de sempre, como nosso primeiro foi. E segundo. E todos os outros. No meio da nossa tempestade, no meio do temporal dos nossos nervos, nossos corpos sempre foram calma quando juntos. Duas mentes agitadas, dois corações machucados, dois lábios magnéticos e duas decepções. Te amo tanto. Me machuquei tanto. Quase pleonasmo. Eu e você, menino... eu e você, bonito... a gente é pleonasmo. A gente é amor querendo virar amor. E não tem forma mais linda de virar amor do que se deixar ser poesia. Nosso fim se deu. Nossa pendência se resolveu. Nosso livro lançou. O maior best seller já vivido nesse coração.

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Você não sabe do meu novo emprego nem do meu apêndice estourado em setembro nem da minha avó que quase ficou cega em um dia que era só eu e ela você nunca me viu sendo o socorro de alguém

minha terapeuta diz que ainda busco sua aprovação soterrada em minhas ideias e contida nas minhas projeções quando penso que não sou capaz até reduzir um grande acontecimento em nada você me deve por todos os anos de terapia que ainda vou fazer.

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My baby's fly like a jet stream, high above the whole scene, loves me like I'm brand new.

Taylor Swift

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Ele disse que minha forma de amar é errada e eu acreditei. Claro que acreditei. Depois daquela madrugada de junho, entendi que sou errada por inteiro, e isso ele também me disse. Me deu de comer aos leões da opinião alheia e remontou meus ossos da forma que melhor sustentava sua história. Os pés na costela, o fêmur na cabeça, a coluna espalhada em pequenos pedacinhos por aí. Eu sou errada por inteiro, lembra? Eu lembro todos os dias desde então. Sou destruidora de sonhos e oprimidos corações. Minha inteligência justificada fere seu ego tão frágil e por isso me culpo. Me falta humildade e me sobra prepotência, hoje sei. Sei porque ele me disse, tão sábio de mim. Sei também de minha intensidade demasiada e da sensibilidade quase teatral, um absurdo aos olhos seus. Eu sou mesmo errada por inteiro, acreditei, e por dias a fio pensei em me moldar. Me diminuir para me encaixar. Para caber na gaiola de sua vida, tão pequena e insalubre. Tão medíocre e impiedosa. Tão indigna de mim. Desisti. Em meio às crises da meia-noite e aos papéis ilustrados de tinta e lágrima, me descobri um pássaro gigante. Um albatroz-errante que vaga pelos mares e ama sem temor. Do outro lado da história, bem distante do meu vôo, o descobri errado. Coitado. Um sabe-tudo cativante e completamente ignorante de amor.

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Eu abro a porta devagar para que barulho nenhum interrompa sua paz. É fim da manhã, o quarto está escuro e você dorme. Dorme como se os carros não passassem lá fora, como se os problemas não existissem aqui dentro, como se os anjos estivessem com você. Você dorme e eu descanso. Descanso meus olhos sobre a luz que te cobre. Descanso meu mundo sobre o ar que te aquece. Descanso em você todo amor que merece. Envolvo seu sono com a proteção de quem cuida. Zelo seus sonhos com o cuidado de quem ama. E, no silêncio que embala o momento, minha vida na sua se transforma. Na sua calma a minha alma se borda. No meu abraço o seu cansaço se perde. As pálpebras abrem. O sorriso aparece.