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HOLOTAPE #002-A
Nossa, acabou a gravação e eu nem percebi, falei quase 40 minutos.
Bem, o terceiro dia começou logo cedo, fui acordado pela luz do sol no meu rosto, assim como todos, foi uma noite de sono sem preocupações, pelo menos para mim, já que tinha um teto e companhia. O café da manhã foi alguns vegetais da horta da família, os níveis de radiação estavam bem acima do normal para a comida mas tive que comer tudo, era isso ou passar fome durante o dia, dava pra sentir o gosto estranho que a radiação deixa, é algo metálico, errado. Cada pedaço me deu um arrepio.
O dia de trabalho foi duro, tive que colher algumas cenouras com formatos estranhos, bem diferentes da horta do Vault, isso provavelmente por conta da radiação, enquanto o trabalho rolava Jeremy continuou contando a história dos Heróis da Wasteland, Vault Dwelles e seus grandes feitos, quase me fez acreditar que pudesse ser o sucessor deles, isso me fez sorrir, mesmo sabendo que eu nem chegaria na sombra dessas pessoas.
Perguntei sobre a vida de Jeremy, como ele havia crescido. Ele disse que era de uma cidade muito distante chamada Cidade Gelada, um lugar onde o gelo não derrete nunca. De lá Jeremy disse que conheceu sua antiga esposa, ao falar dela ele sempre fazia uma pausa, assumi que fosse uma pausa de luto, de lá eles vinheram para esse lugar e começaram uma pequena plantação, aqui eles tiveram os filhos, umas caravanas também passavam pela trilha, e acabavam ali para trocar algumas coisas, assim eles seguiram vivendo em paz, a voz de jeremy mudou, quando ele relatou a vinda de um grupo de Atiradores
Os atiradores extorquiram eles de todas as formas, levaram todas as posses e até a comida que tinham, decidiram dormir na propriedade, por que já não tinham feito o bastante. No primeiro raiar da manhã, na saída deles, a mulher, Anastasia, pediu para que fosse levada junto, mesmo com dois filhos e o marido, a mulher foi junto dos mercenários e não havia nada que ele pudesse fazer, ao tentar contestar Jeremy quase levou um tiro, os homens eram muito rápidos no gatilho, segundo ele.
Jeremy conta como o líder deles, um cara todo equipado com uma armadura completa e várias armas, olhou para sua mulher como um pedaço de carne, apalpou-a assim que aceitou o pedido, e levou-a junto da caravana enquanto eles ficaram para trás, Jeremy nunca entendeu a atitude da mulher, mas estava com os punhos fechados com bastante força.
Depois de contar a história ficamos em silêncio, não conseguia imaginar a dor que ele havia sofrido, espero nunca ter que passar por isso, bateu uma tristeza por ele, era um cara legal, acolhedor, não um selvagem qualquer, mas mesmo assim teve que passar por uma barbaridade dessa. Quando os filhos voltaram foi que as conversas retornaram, ele pediu para que mantivesse segredo, afinal os filhos não sabiam que a mãe tinha feito aquilo.
Resolvi dormir cedo, já que estava cansado daquele dia de trabalho, não era a primeira vez que ajudava na horta, a Sra Smith sempre pedia ajuda na Horta do Vault, talvez para que eu não passasse tanto tempo sozinho.
Mas durante a noite algo me despertou, era a garota, Helena, que silenciosamente me chamou para fora de casa, passando pelo pai e o irmão que dormiam bem próximos. Ela fechou a porta com cuidado para não acorda-los e me encarou com o olhar firme. “Me leve daqui” Gelei na hora, engoli a seco tentando entender. “Eu não aguento viver nesse lugar, quero viver aventuras com você, ou sem você, só preciso que me leve pra TudoVê e se não quiser minha companhia eu tomarei meu rumo…”
Pedi que ela falasse baixo, se ela não sabia como a mãe tinha ido embora, talvez não soubesse dos perigos da Wasteland, viver de lendas acaba entorpecendo a mente. Argumentei, não podia deixar que ela continuasse com isso na cabeça. “Eu não vou demorar pra voltar pro Vault, só preciso conseguir uma caravana e poderei voltar para lá, você não deveria sair, seu pai e seu irmão precisam de você.”
A animação na voz dela sumiu ao perceber que eu não queria colaborar, o tom agora era de desespero, ela realmente não queria ficar ali.
… Não sei o porque não imaginei que aquilo fosse acontecer.
Do nada ela começou a gritar, pelo pai e pelo irmão, me chamando de abusador, pervertido, como se eu estivesse tentando agarrá-la a força. Sabia que aquilo ia acabar mal então apenas corri para porta, onde minhas coisas estavam, e dali para fora do cercado, correndo o mais rápido possível na direção que ele dizia ser TudoVê.
De longe ainda pude ver Jeremy mirar a arma e atirar, por sorte, não acertou minha perna. Também ouvi alguns gritos de raiva e choro. A garota vendo sua única chance de ir embora, literalmente ir embora, e eu, conseguindo não morrer por uma estúpida conversa.
Agora é quase meio dia e eu não dormi nada, continuei andando, estou com fome e tenho quase nem uma provisão. Mas não posso parar de correr, se Jeremy vinher atrás de mim não vai perguntar o motivo antes de atirar, é… tenho que andar…
Esse foi o dia mais louco da minha vida…
… e o pior de tudo que é só o começo
Dia 4, Ícaro Desligando.
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HOLOTAPE #001-B
Merda…
Quarto dia, já faz algumas horas que sai da fazenda…
Não, eu tenho que contar tudo do começo. O Sr H vai ficar irritado se não contar tudo.
Bem, no início do segundo dia eu consegui achar algumas sucatas naquela casa onde passei a noite, nada de muito útil, achei algumas tampinhas também, estavam num saquinho, 12 tampas, bem, eram apenas tampas, deixei lá mesmo, pra que eu usaria?
Saí da casa e segui em frente, pela estrada que tinha achado ontem antes do anoitecer, deixei de andar reto pra seguir a trilha. Encontrei uma descida que me deu algum panorama, ao longe consegui ver um tipo de ferro velho, meio fechado, com algumas coisas se movimentando, pareciam ser cachorros, minha curiosidade não era tanta então decidi ir pelo outro lado, em uma rota que desviasse bastante daquele lugar, certamente ali eu teria problemas.
Depois de algumas horas de caminhada e já satisfeito da distância entre eu e o ferro velho, me deparei com um cercado e dois Bois, de DUAS CABEÇAS. SIM, DUAS CABEÇAS.
Perdi o fôlego na hora, sabia que encontraria coisas bizarras criadas pela radiação mas aquilo me pegou de surpresa mesmo. Dei um grito repentino, óbvio, mas os bois não pareciam nem se importar comigo, continuaram comendo aquele resto de planta que tinha no cercado mas o grito certamente chamou a atenção de quem viva dentro daquele cercado
Segundos depois do susto reparei uma pequena cabana mal feita, com uma movimentação dentro, não tive muita reação quando vi um homem, com a pele meio queimada do sol apontando uma arma na minha direção, instintivamente levantei os braços que nem os bandidos nos quadrinhos do SIlver shoud.
Pedi na hora para que ele não atirar mas demorou alguns segundos para o senhor processar o que estava acontecendo, ele abaixou a arma ainda meio perplexo e depois caiu de joelhos, com uma expressão de impacto no rosto. Perguntei se ele estava bem e o homem abriu o sorriso enquanto, aos berros, gritava glórias, beijando o pulso.
Perguntei novamente e ele se levantou nas carreiras, pulou a cerca e me abraçou. “A lenda é verdade!” Ele gritava aos prantos. E foi me empurrando para dentro de casa.
Entrei na cabana que aprecia bem maior por dentro, tinha móveis trabalhos em madeira, que eu nunca tinha visto até ontem na casa abandonada, ele me fez sentar e pegou um bule de café antigo, ferveu água e começou a preparar.
O homem se acalmou nesses instantes, mas ainda estava muito animado, pediu desculpas por ter apontado a arma, falei que estava tudo bem, ele deixou uma pequena lata na minha frente, contendo café.
Perguntei por que ele ficou tão animado em me ver.
“Hora bolas, por conta da Lenda do Vault Dweller”
“É a lenda de um grande herói que saiu do Vault 12 e mudou o mundo, enfrentou vários DeathClaws e até encontrou um deles que sabia falar…”
“Death o que?”
“E não só isso, ele mudou o mundo e depois dele vieram muitos outros, e agora você”
Eu não sabia muito bem o que falar, como iria dizer para esse senhor que eu não era o herói que ele esperava? Tentei argumentar, não podia deixá-lo assumir aquilo, seria pura irresponsabilidade minha, ainda mais quando eu estava responsável por levar as caravanas passantes para o Vault.
O homem desconversou várias vezes quando tentei dizer que eu era apenas um garoto normal do Vault, mas simplesmente isso já era o suficiente para ele acreditar nessa bobagem de lenda.
Enquanto conversávamos duas pessoas chegaram na casa, os dois filhos do homem que até aquele momento não tinha se apresentado. Ele levantou e falou com orgulhos dos filhos, Eduardo e Helena, e aproveitou para se apresentar, Jeremy.
Aquele dia passou rápido, todos ficaram muito interessado em me ter ali, perguntando sobre a vida no Vault, como eram as pessoas, o que a gente comia, se lá era como antes da grande guerra. Respondi tudo, eles ficaram bem desanimados em saber como era a realidade do Vault, bem diferente de como as pessoas imaginavam.
Jeremy disse que me abrigaria aquela noite em conta de algumas horas de trabalho no dia seguinte, eu disse que ajudaria ele o dia inteiro se me desse algumas coordenadas de onde poderia encontrar a cidade mais próxima, e ele disse que mais alguns dias de caminhada e eu chegaria a Tudo Vê, perguntei do nome ele disse que tinha algo haver a uma seita, um culto, ou uma religião, ele nunca entendeu muito bem, acabou não explicando direito.
O homem disse os melhores pontos de referência para conseguir encontrar a cidade, era fácil até, mas levaria talvez mais dois dias de viagem, eu não podia me dar ao luxo de parar por muito tempo mas um dia não faria mal, ainda mais para ajudar o homem. O resto daquele dia foi para responder perguntas, os filhos de Jemery tinham por volta de 15, 16 anos, e o garoto perguntava bastante coisa sobre o Vault, claramente herdou o entusiasmo do pai, a menina era bem mais reclusa, olhava com desconfiança e curiosidade, mas ficou calada maior parte do tempo.
Mostrei para ele o Pip-boy e as Holotapes que iria gravar, mostrei a gravação do primeiro dia e eles riram bastante, fiquei um pouco envergonhado mas embarquei nos risos. Em seguida fomos dormir, ele me mostrou um colchão surrado, era o melhor que podia oferecer, eu agradeci, e era muito melhor que dormir no chão como na noite passada.
Foi um dia divertido…
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HOLOTAPE #001-A
TESTE… UM, DOIS, TRÊS
É, parece que tá funcionando.
Quem diria que no escritório do Sr Hullges teria um gravador e uma caixa de holotapes.
Bem, esse é meu primeiro dia fora do Vault 357. Meu nome é Ícaro, tenho 21 anos e morei a minha vida toda no Vault, nunca pensei que fosse precisar sair de lá. Meus pesadelos sobre a Wasteland faziam com que não dormisse por semanas, aos 10, 11 anos fiquei traumatizado em descobrir a possibilidade dos Super mutantes, horrendos monstros que comiam criancinhas, agora eu estou do lado de fora, escondido nos escombros de uma casa desmoronada, com o brilho do meu pip-boy bem baixo para que nada consiga me detectar, pelo menos nisso eu sou bom, minha especialidade sempre foi ficar escondido.
Talvez por isso o senhor H pediu para que eu fosse em busca de algum lugar civilizado, minha missão era conseguir caravanas que negociarem com o Vault, pois atualmente estamos ficando sem comida, me deu uma caixa de Holotapes e um pip-boy para que eu pudesse registrar todos os dias da viagem, uma ótima ideia mas com a pessoa errada. Fico pensando que fui escolhido talvez por não ter mais nada a perder, afinal, meus pais já faleceram a algum tempo, não tenho irmãos e nem pessoas relativas, talvez fosse a pessoa mais sozinha do Vault. Melhor impossível para esse trabalho maluco.
Não sei o nível de detalhe que ele deseja mas já é a terceira vez que bocejo, ainda sim, não consigo dormir, está frio, tenho pouca comida e água, quase tudo aqui queima ao toque, provavelmente por conta da radiação, sorte minha que o pip-boy é ótimo para detectar esse tipo de coisa, já ouvi alguns uivos, talvez lobos? espero que eles sejam que nem nas fotos que vi no Vault e não um versão mutante daquilo. Eu falei que tudo que tenho para me defender é um facão? pois é, eles não podiam me dar armas de verdade porque eu não era treinado, isso me deu nos nervos mas tive que relevar, era isso ou ir para o poço.
Bem acho que é melhor para por aqui, não sei quanto tempo as Holotapes podem gravar. Só quero deixar claro que andei em linha reta durante o tempo quase todo hoje, encontrei algumas casas destruídas, um lago e uma ponte também destruída, não vi nem uma movimentação vinda de canto algum, será que tem alguém mesmo vivo ao redor do mundo? se tudo que sobrou foi apenas poeira radioativa e animais gigantes? Espero que eu consiga encontrar alguém e salvar o Vault…
Eles estão dependendo de mim…
… não vou deixá-los na mão.
Dia 1, Ícaro desligando.

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