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deprimida
semana vai, semana vem, o ciclo sempre se repete. conviver com um transtorno de natureza cíclica é teimar em achar que nada nunca vai ficar ruim de novo, só pra ver toda a sua funcionalidade e vontade de existir se esfarelar e escorrer pelos dedos enquanto você tenta segurar tudo que pretendeu ter em suas mãos.
não tem muito como explicar, um dia a chave simplesmente vira, e fazer qualquer coisa automaticamente se torna a tarefa mais difícil do mundo. o cérebro procura desesperadamente gatilhos de satisfação, e tudo vira fuga: horas de doomscrolling, comer desenfreado, baldes de energético e café, doses exageradas de açúcar.
sair da cama dá trabalho. pensar em comer gera dores de cabeça e espirituais de outra natureza. quero me enfiar num buraco e esperar o dia passar, o mundo passar (possivelmente por cima de mim). o que faz o meu cérebro ser programado assim?
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ficar doente foi um tema recorrente dos últimos tempos. 3 quedas de imunidades em cerca de 40 dias e o suficiente pra sentir que meu corpo realmente não conseguiria continuar no ritmo em que eu estava obrigando ele a funcionar.
ironicamente, o fim de semestre tem sido a oportunidade de me tranquilizar e colocar a cabeça no lugar pra conseguir fazer as coisas direitinho. estou redescobrindo o prazer dea imersão em um tema relativamente desconhecido, o prazer de estudar e aprender, dominar um tema que antes me era estranho e misterioso. o prazer de viver a vida intelectual que eu dizia almejar mas da qual sempre estava correndo.
não excluí completamente as ferramentas digitais e a inteligência artificial, mas agora sei usar de forma que faz mais sentido para mim e não mina minha criatividade e capacidade de produção acadêmica.
entre atividades e casos de responsabilidade civil, um projeto de iniciação científica em sociologia jurídica, e um trabalho de direito internacional do meio ambiente, tenho feito o possível para expor o meu coração sangrento ao máximo que conseguir. me emocionei escrevendo uma introdução acadêmica sobre futuros e viveres possíveis e, no fim das contas, acho que quero que minha vida seja sobre isso.
não tem nada que eu faça de forma mais profunda do que sentir as coisas, mas isso não faz de mim 100% artista ou exclui minhas vocações acadêmicas. embora pareçam traços antagônicos, acredito que é possível combinar as duas coisas.
um dia o bittar me disse que a única forma certa de fazer as coisas era com o coração, e eu pretendo levar isso para o resto da minha carreira. escolho duvidar sempre de muita coisa, mas estou tentando não duvidar de mim e acreditar nele quando ele disse que a academia precisa mais de mim do que eu preciso dela.
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manhã
é engraçado acordar deprimida. mais do que preguiça em levantar, quando o despertador toca, meu corpo é inundado pela sensação de que os ossos são cascas vazias, e que se eu ousar sair da cama, eles vão se esfarelar e eu vou virar um montinho de pó. a cabeça dói, mas não de um jeito onde sinto pressão. ao invés disso, parece que ela está desconectada do meu corpo. um balão que paira acima do defunto que se estica na cama.
ao voltar a dormir, inevitavelmente o cérebro vai pra lugares estranhos. nessa esticada de alguns minutos ou, dependendo do dia, até de uma hora, em que a mente flutua entre consciente e inconsciente, sou atacada por lembranças do que aconteceu ou deixou de acontecer, alguns rostos que um dia povoaram meu cotidiano e agora restam só na minha cabeça, outros que já fizeram mais sentido figurados próximo ao meu, e alguns outros que são mera expectativa de presença e frustração.
claro que não são só delírios imaginativos que acontecem nesse meio tempo. a mente racional pulsa com lembretes de tudo que precisa ser feito. no dia. na semana. no mês. na vida. sinto o pescoço tensionar e penso se algum dia o nó no meu trapézio vai se desfazer. impossível relaxar de fato se a cabeça nunca para, mas quanto mais ela se movimenta, mais o corpo paralisa.
dito isso, um check up fisiológico: preciso fazer xixi? é o suficiente pra me fazer levantar? outra checagem, mais psicológica do que qualquer coisa: como está minha barriga? inchaço? gases? estou com fome? vontade de comer? talvez só precise beber água. se tiver sorte, peguei um copo ou uma garrafa ontem antes de deitar. o gosto de plástico é quase reconfortante como a primeira coisa que entra no meu estômago. expectativa de comer menos e virar cada vez menor.
o tempo corre e periga de arruinar meu dia se eu não levantar em breve. meu cachorro precisa de mim. as responsabilidades chamam e, mesmo que seja só pra deixar elas me atropelarem, preciso colocar a cara a mostra pra elas não esquecerem que, dia vem, dia vai, entre estados de euforia ou paralisia zumbi-ística, eu ainda estou aqui.
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com meus próprios neurônios
depois de meses sufocada por demandas e usando ferramentas de IA pra facilitar minha vida em coisas sobre as quais não me importo o suficiente (mas talvez devesse me importar), hoje tive a prova de satisfação de fazer algo.
há meses tinha culpa acumulada por usar ferramentas que sei que têm um impacto majoritariamente negativo, em termos de desinformação, impacto ambiental e outros aspectos (além de um sentimento persistente de desonestidade intelectual), mas que era sempre superada pela falta de motivação e energia para de fato empregar o esforço para tentar fazer as coisas direito.
até que, há algumas semanas, encontrei um poema no tumblr que se direcionava a um alguém indeterminado que usava ferramentas de IA pra escapar de afazeres da vida. a provocação ia nas linhas de 'do que você está de fato tentando escapar, tendo em vista que viver é enfrentar e operar seus neurônios pra fazer tarefas?'. fui muito impactada pela ideia de que eu estava tentando usar um atalho para a minha própria vida, e decidi fazer um esforço consciente de evitar, pelo menos para essa tarefa específica, usar o atalho desonesto que estava, francamente, me emburrecendo.
foi bom ver algo redigido com as minhas próprias palavras e imperfeições discursivas. por menor significância que tivesse a tarefa (ou talvez justamente por isso), foi importante dar a ela a devida atenção e fazê-la com as minhas próprias mãos. batalhar com sistema horrível de busca jurisprudencial do TST e encontrar uma resolução que justificasse o ponto que eu estava tentando trazer.
é semivergonhoso admitir que eu vinha usando o chatgpt pra facilitar minha vida, mas foi de fato um despertar pensar que escapar das tarefas diárias com as quais a gente se envolve é o mesmo que tentar escapar da vida em si.
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Momento Carrie Bradshaw
o começo de ser alguém diferente de fato é feito por momentos de escolha. existe uma alegria em romantizar a própria vida e fingir que somos mais interessantes e profundos do que de fato somos.
nesse momento, sentada em um café, mas tomando um drink com whisky em pleno dia útil, resgato sensações da vida boa da qual tive um gosto em um date que me deslumbrou pouco tempo atrás.
escrever sobre o que eu penso enquanto uma música que não me agrada rivaliza ccom beats de foco que estouram meus fones de ouvido, parcamente capaz de manter meu foco e formular frases que façam sentido, é mais sobre a sensação do que sobre a produção em si. meu drink ao lado do meu teclado enquanto não espero por ninguém. a única coisa que me basta é a minha companhia, e essa é a vida com a qual eu sempre sonhei.
talvez seguir uma carreira ligada à escrita tenha a ver com se permitir momentos românticos onde os pensamentos afloram e as palavras transbordam, à vezes coesas, às vezes confusas; às vezes verdadeiras, às vezes mera projeção de desejos que me oucpam a mente. quando eu era mais nova, era fácil me desligar do mundo e elevar o volume dos pensamentos até de fato esquecer onde estava.
me vem a memória de uma aula de matemática do ensino médio, a primeira vez que me chamaram a atençatençao por estar em outro planeta. e não há nada mais útil do que a capacidade de escapar para outro universo. como sempre, a conclusão é de que é isso que eu preciso: menos preocupação produtiva, mais impulso criativo. como se desconectar do mundo superfluo para se conectar com o que realmente importa?
um drink, um café, uma mesa para um. memórias perturbadoras ou de alegria, igualmente profundas mas de diferentes rotas de acesso. escrever deve se tornar um hábito, uma rotina, uma necessidade quase espiritual para descobrir e revelar quem eu sou.
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americano
2 shots de espresso sobre gelo. não coloquei água gelada apesar de a receita original ser essa. café com aroma de chocolate, essência de avelã e 2 gotas de adoçante. qualquer coisa pra fazer da tarde um momento mais produtivo e escapar do sono pós-almoço-de-quem-acordou-cedo-e-não-dormiu-horas-suficientes.
como fazer o cérebro pegar no tranco? será que meu coração aguenta o 3o café do dia? e a dor de estar sendo obrigada a trabalhar com coisas que não necessariamente vejo propósito?
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possibilidade
todo recomeço carrega em si um nível de glamour. e hoje não foi diferente. a retomada de uma rotina pela qual tenho trabalho, mas que foi interrompida pela pneumonia que me derrubou por uma semana.
ela começa na noite anterior: arrumar o quarto, deixar pronta a bolsa e as roupas para a manhã seguinte, colocar o celular no modo hora de dormir (ou sommeil, se você está numa tentativa desesperada de reviver seu francês para um programa de dupla titulação para o qual você se inscreveu por impulso) e ler um livro até os olhos começarem a fechar. a leitura me deixou vidrada e com muitos sentimentos, mas isso é assunto para outro momento.
6h50 toca o despertador. tenho que fazer um esforço mental para me lembrar que existe um motivo pelo qual estou fazendo isso. o projeto de dia perfeito: academia, passeio com o cachorro, um café da manhã equilibrado, uma manhã de trabalho produtiva. pausa para o almoço e preparo mental para enfrentar o demônio chamado queda de energia da tarde. a solução? uma caminhada rápida com o billie pelo bairro, pra ajudar a digestão, minimizar a dor de barriga que eu com certeza vou sentir e que virou recorrente na minha vida, sentar para a reunião com a câmera aberta fingindo que fui produtiva nos últimos dias (ou enfatizando o que de fato fiz pela manhã, se tudo der certo). pós reunião, mais duas horas de produtividade solo, até o fim do segundo expediente. mais uma caminhada, dessa vez um pouco mais longa, pra tratar o billie como ele de fato merece. voltar para casa e escolher um lookinho que expresse tudo que eu estou sentindo e que não vá me deixar tão desconfortável durante as aulas. caminhada até o metrô, leitura no trajeto (tentando evitar uso de redes sociais), atenção durante as aulas, interações com os amigos, volta para casa para começar tudo de novo.
o projeto é perfeito, mas não comporta espaço para desvios ou problemas de foco, disposição ou sanidade mental. mas é o único caminho para ser perfeita, pra ser produtiva. tudo isso acompanhado de beber o máximo de água possível e controlar toda e qualquer caloria que entre pela minha boca, lembrando sempre do formato que a minha barriga voltou a ter depois de uma vida lutando pelo corpo perfeito.
o glamour do recomeço. o glamour da produtividade. o glamour da exaustão. será que consigo sobreviver a esse dia? pior ainda, será que consigo repetir ele amanhã e depois? será que foi esse ritmo frenético que me fragilizou e facilitou a pneumonia? ou será que é questão de adaptação e de fazer um esforço extra até que tudo isso de fato vire rotina e não exija mais o mesmo nível de preparo mental e emocional, virando parte natural e impensada da minha existência? onde se encaixa o momento para ser eu, pra me expressar e sentir tudo o que sempre explode quando ignoro em nome de uma vida mais funcional? o eu artista massacrado pelo eu trabalhador, coletando angústias que crescem e esperam para virar algo que eventualmente drena as energias ruins e também boas que se produzem pelo atrito emocional. aguardando os próximos episódios de mania e o arrependimento e sobrecarga posterior. viver é complicado demais.
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a cada dia estou mais convencida do poder da moda como forma de autoexpressão. nada é mais satisfatório do que poder escolher todos os dias que versão de mim eu vou querer ser. a escolha de roupas, guiada sempre pela busca de algum grau de conforto e de uma manifestação autêntica de quem eu sou, mas também de quem estou naquele dia: meu humor, meus pensamentos, o tom que quero que a minha imagem passe. a maquiagem que complementa a escolha das roupas, mas que também traduz diretamente o que se passa pela miha cabeça. uma proporção direta: quanto mais pesado o delieador, maior o grau de tempestividade dos meus pensamentos. sem falar no poder transformativo de acessórios para elevar algo que parece básico a outro patamar.
tudo isso pode parecer bobo e superficial, dicas dignas de um editorial de revista teen que ensina sobre proporçproporçoes e regras para montar looks coesos; ou uma prisão estética guiada por tendências, mas é significativamente mais profundo do que isso e tem suscitado reflexões muito interessantes nos últimos tempos.
meu primeiro dia saindo de casa com um bermudão roubado do guarda roupa do meu irmão trouxe concretude a uma série de questionamentos de gênero que há anos povoavam a minha cabeça. consolidada a certeza de que a existência enquanto mulher é limitada e limitante, também emerge a dúvida sobre a minha própria identidade: em que momento deixo de ser uma mulher que não se sente confortável em performar uma feminilidade tradicional para virar alguém que não é, de fato, mulher? essa epifania derivada de vestir uma peça de roupa "masculina" me revela iluminada ou simplesmente limitada? se roupas não tem gênero, quão autêntico é o meu questionamento sobre minha própria identidade?
não ironicamente, a escolha do bermudão foi para a ocasião específica de um show onde, pelo menos na minha cabeça, todos os ouvintes da banda são homens que usam bermudas longas. male manipulator music. quero me misturar ou me diferenciar? o que existe no meio do midwest emo que é tão aberto e sincero, revelando uma sensibilidade e inteligência emocional descolada da masculinidade tradicional, mas que também é tão excessivamente masculina quanto qualquer gênero musical que já conhecemos antes? o que faz do ouvinte de midwest e de outros gêneros de rock triste o mestre da manipulação? vans, bermudas e camisas xadrez. gorros, bonés e óculos de acetato. a imagem do anticristo emocional é um homem branco que gosta de escalas harmônicas e usa uma afinação não tradicional na sua telecaster colorida. e na minha cabeça eles todos adoram bermudões. por que, então, eu quis usar um bermudão também?
se vestir é performar para si e para os outros, e por mais que as minhas escolhas estéticas reflitam o que se passa dentro de mim, a forma com que elas me fazem ser percebida na rua também afetam profundamente o que eu sei ou deixo de saber sobre mime s obre os outros. existe um poder em ser percebida, um poder maior em ser desejada, e outro secreto e propriamente potente em ser objeto de estranheza. piercings, cabelos e maquiagens diferentes dos tutoriais de tiktok. clean girl é o caralho. mas ao mesmo tempo não sou nem de longe tão excêntrica e esquisita quanto eu gostaria de ser. quando éramos crianças ouvíamos a conotação negativa em 'querer aparecer', mas será que isso é tão ruim assim? o poder de se diferenciar gera satisfação pessoal, e permeia a fornteira da verdadeira autenticidade.
me orgulho de quem eu sou e me orgulho de não ser como eles, mas sim pertencente a nós. se existe de fato uma comunidade alternativa, que é em si e ao mesmo tempo homogênea e heterogênea, foi nela em que encontrei conforto. ser como nós, como eles, diferente deles. aparecer e crescer com a percpeçpercpeçao alheia, mas, acima de tudo, com a diversão de ser eu.
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retorno
fiquei doente e passei uma semana trancafiada em casa.
pra quem estava num ritmo totalmente frenético e sendo sufocada pelo peso das novas responsabilidades que aceitei que acolher na minha vida, a doença era só uma questão de tempo. uma gripe mal curada virou uma pneumonia, que gerou manhãs assoando o nariz até deixar a pele ao redor em carne viva, uma tosse insuportável que sacudia um rio de catarro represado no peito, e noites de suadouro e frio extremo acompanhando as oscilações da febre.
a princípio, uma visita ao hospital, desesperada por um atestado de 1 dia e pra algo que me fizesse funcional o suficiente pra voltar a trabalhar. no dia 2, com a temperatura de 39 graus, ficou bem claro que trabalhar não era uma opção que fizesse sentido. foram dois dias passados praticamente inteiros na cama, estourando limites de temporizadores de aplicativos, estragando minha visão com tanto tempo de tela no escuro do quarto, dormindo e acordando enquanto diálogos e episódios conhecidos passavam sem eu nem notar.
em algum momento, em uma tentativa desesperada de me justificar com meu superior, ele me ofereceu a semana para me recuperar, e mesmo já me sentindo melhor, eu aceitei. sabia que esse tempo de pausa era mais do que necessário, e que me ajudaria a recuperar não só a saúde física, mas também a mental, que estava no limite há mais de um mês, com o início do trabalho novo, a realização do fim do namoro baixando, as amizades implodindo e tudo isso revelando uma série de questões internas que ficaram mais incômodas quanto mais elas eram ignoradas.
enfim, mais alguns dias fazendo absolutamente nada. quando meu cérebro saiu do modo sobrevivência e ganhou um pouco mais de clareza, voltei a conseguir raciocinar e ter pensamentos minimamente originais e criativos de novo, de um jeito que fazia tempos que não sentia. passei tardes e noites só apreciando música e navegando por vídeos de conforto no youtube e por posts de estranhos interessantes no tumblr. me senti com 15 anos de novo, da melhor forma possível.
agora, esgotada a semana de descanso e recuperação, a volta aos afazeres. será que estou mentalmente preparada para isso? quanto tempo será que consigo preservar a sanidade de ganhei nos últimos dias e a vontade de ver e viver o mundo de um jeito mais sensível e menos focado em trabalho? espero que a adolescente dentro de mim sobreviva ao retorno forçado à vida adulta.
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hardcore
nos últimos dias, minhas redes foram ocupadas por vídeos incríveis de uma multidão completamente envolvida no último show do turnstile. nunca foi uma banda que eu ouvi ou liguei muito, apesar de saber que era paixão de muitas das pessoas que eu respeito e acompanho pelas opiniões musicais.
os vídeos eram tão poderosos, mostrando pessoas vivendo aquele momento tão intensamente, que me deram até vontade de dedicar um tempo a ouvir a banda direito pela primeira vez. se aquele som fez aquele pessoal se sentir vivo daquele jeito, definitivamente era algo que eu queria viver também.
antes desse pensamento se converter em ação e eu de fato pegar para ouvir o que tinha de tão bom sobre essa banda, fui conquistada por um vídeo que explicava, por a + b, o que tinha de tão sensacional sobre aquilo.
as imagens que circulavam no meu feed eram de um show feito na cidade natal da banda, baltimore (a mesma do all time low, incrivelmente). o homem do vídeo falava que nenhuma banda se mantinha tão fiel aos valores do hardcore quanto eles, e explicava que o show foi feito de forma gratuita num parque, e que arrecadou fundos para uma organização voltada a ajudar pessoas em situação de rua.
além de tudo isso, ele disse algo que me chamou atenção, algo sobre a audiência ser tão parte daquilo como a banda. isso é algo que sai da boca de artistas muitas vezes: 'não somos nada sem nossos fãs', 'isso é sobre comunidade'; mas essa foi a primeira vez que isso realmente fez sentido. as pessoas tocando os instrumentos naquele vídeo eram, de fato, só uma fração da significância daquilo tudo. sem ego, sem culto. todas as (muitas) pessoas que subiam ao palco e se lançavam na plateia faziam isso em um transe 100% embalado pela música e pela energia daquele momento, sem nenhuma vontade de aparecer ou qualquer obsessão parassocial com os caras que estavam dirigindo aquele momento.
parando pra pensar sobre como a música alternativa e adjacente ao rock tem sido sequestrada por delírios egóicos e cultos de personalidade, realmente foi incrível ver o que gente normal com um coração ferozmente bom e sede de comunhão genuína é capaz de fazer.
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produção
essa semana fiquei doente e, por consequência, passei muito tempo dormindo ou deitada num estado meio zumbi. assisti, ou melhor, deixei rolando vários episódios de séries que já vi mil e uma vezes, detonando meus marcadores de tempo de tela e tendo que reajustar os temporizadores dos aplicativos de streaming.
uma coisa que não consegui fazer, porém, foi ouvir música. não sei se pela dor de cabeça, pela falta de movimento, ou pelos ouvidos semientupidos, foi algo que não passou pela minha cabeça, pelo menos nos primeiros dias de doença.
até ontem, quando estava me sentindo levemente melhor e já subindo pelas paredes de tédio e vontade de sair de casa. dei uma caminhada a 2km/h pelo quarteirão de casa, até o mercadinho mais próximo, que nunca pareceu tão longe e, nessa caminhada, coloquei, pela primeira vez no que pareceu uma eternidade, o fone de ouvido que me acompanha na maior parte dos meus dias, aquele grande que reservo pra lugares excessivamente barulhentos.
não sei se foram os dias de ouvidos vazios e limpinhos ou o alívio de poder sair de casa pela primeira vez em dias, mas nada tinha me preparado para a sensação que tive quando dei play no que tinha engatilhado no spotify.
ouvindo uma música que ouço há mais de 10 anos, e que conheço quase até de trás pra frente, ouvi pela primeira vez sons e detalhes de produção que me deixaram arrepiada e deram aquele aperto no estômago que eu sempre amei quando ouvia música, e que fazia mais de meses que eu não sentia. a sensação foi de audição supersônica, absorvendo com riqueza de detalhes uma música que parecia completamente inédita, notando riffs secundários das guitarras que eu nunca prestei atenção, sentindo um baixo embalando meus movimentos de um jeito diferente e até ouvindo detalhes sintéticos que nunca passaram pela minha cabeça antes.
eu, que andei com tanto medo de estar desconectada de tudo, me conectei com a música pela primeira vez no que parece um tempo exageradamente longo. e foi simplesmente maravilhoso.
(atenção ao baixo do 2o verso)
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mãe
em um trecho de 'ghosts', da dolly alderton, a protagonista escrever: "What was it about mothers that lowered a woman's irritation threshold by a meter just from speaking?".
como se não bastassem todas as similaridades com a minha vida (escrevi no meu caderninho que 'ninguém entende melhor do que ela o que é ser uma mulher de quase 30 anos'), essa frase simples me pegou de um jeito particular. realmente... por que o nosso limite da paciência é tão mais baixo com as nossas mães?
no livro, a mãe da nina é egocêntrica, dramática e autocentrada (ou pode ser só porque o livro é narrado em primeira pessoa pela própria nina). ela não poderia ser mais diferente da minha mãe, que é um poço de atenção e que, inclusive, deixa de cuidar de si pra entregar tudo o que tem para os filhos e o marido.
a relação da nina com o pai, assim como a minha, é melhor do que a que ela tem com a mãe. foi assim a minha vida toda, apesar de algo ter mudado quando, ao virar adulta, percebi que muitas vezes meu pai representava parte de um problema que vitimizava tanto à minha mãe quanto a mim. quando essa chave virou e eu passei a enxergar minha mãe não apenas como mãe, mas também como mulher, as coisas mudaram um pouco. minhas partidas em defesa dela quando meu pai estava sendo grosso foram mais recorrentes, minhas conversas com ela mais profundas. criamos um entendimento entre mulheres que foi bonito, mas que tinha seus limites. mulher, sim. mas mãe, antes de amiga.
de qualquer forma, quando as coisas não vão bem, ela é sempre a primeira vítima da minha explosão. minha paciência e disponibilidade são sempre menores do que eu tenho coragem de admitir. explodo à toa e depois sinto um misto horroroso de vergonha e culpa, lembrando de tudo que ela faz por mim e de como, no limite, essa família é o que confere sentido à existência dela.
mas tem algo brutal sobre saber que você é o maior projeto de alguém. algo sufocante, que amarra a garganta em saber que, quando você está triste, gera um senso de incompetência e desesperança em alguém que tem um amor tão visceral por você. quanto desse amor gera um responsabilidade, não de reciprocidade, mas de retribuição de expectativas? o manto maternal esquenta demais e muito rápido, e é como quando você acorda de madrugada, suada e irritada com o calor e joga tudo pra fora da cama. minutos depois você acorda tremendo e no dia seguinte pode até ter uma dor de garganta, mas o impulso de rejeição é tão automático e vem de um lugar de desconforto tão profundo que não tem nada mais que se possa fazer.
o que será que pauta a minha (ou a nossa) impaciência com a mãe? será que filhos também se sentem assim ou é algo predominantemente feminino? o que acresce a essa carga de ressentimento que existe além do peso das expectativas que caem sobre a gente assim que descobrem que o sonho de ter uma menina está prestes a se realizar? a culpa é delas? ou será que é nossa?
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fone com fio
eu fui uma adolescente muito dramática.
provavelmente não mais do que qualquer pessoa de 15 anos que ouvia o que eu ouvia e consumia o que eu consumia, mas ainda assim.
e digo isso com o maior carinho do mundo. todo o drama e toda a dor de se sentir conectada a desconectada do mundo ao mesmo tempo eram algo que me permitia me sentir incrivelmente parte de mim mesma. cada visão despertava um sentimento e cada coisa que ouvia, uma sensação e um pensamento.
eu sinto falta de ser tão permeável quanto eu era 10 anos atrás. romântica. afetada. aberta e fechada ao mesmo tempo.
eu saía na chuva de propósito, celular num saquinho plástico e fone nos ouvidos. sem capuz, sem guarda-chuva, sem nada. o all star de sola de papel que voltava ensopado e era lavado de qualquer jeito no tanque no dia seguinte, pra continuar encardido e encarar o próximo dia de andanças por aí.
eu andava muito. caminhava sempre que tinha algo na cabeça. não sentia dores nos pés nem nas canelas como sinto hoje, mesmo com os calçados mais inadequados de todos. sempre com algum jeans skinny (que, graças a deus, ficou pra trás), uma camiseta preta e um moletom surrado.
nos ouvidos, um fone barato conectado a um celular antiquado, já que o meu primeiro iphone, comprado pelo meu pai com tanto sacrifício, foi roubado da minha mochila com mais ou menos 3 meses de uso. o celular que tinha formato de blackberry, mas era um motorolla, já estava há anos ultrapassado, mas era o que nós tínhamos na época. eu lembro de não atender meus pais quando estava na rua com o meu namoradinho, não para não falar com eles, mas pra ele não ver qual modelo de celular eu tinha. mas nunca saía de casa sem ele e os álbuns que eu baixava e transferia via usb.
a trilha sonora era quase sempre green day. às vezes MCR. e às vezes alguns covers de youtube pelos quais eu me apaixonei em algum momento de 2013. sem whatsapp, só SMS. sem spotify, só uma biblioteca do iTunes. eu ouvia o american idiot do início ao fim no trajeto para a escola. o 21st century breakdown requeria um trajeto um pouco mais longo. não via graça no three cheers for sweet revenge e só gostava do black parade, mas ouvia tudo por inteiro e na sequência.
o celular costumava ficar no bolso, ou até na mochila, se o fio do fone alcançasse sem nenhum desconforto. quando preciso, aumentava o volume pelo controle no lado direito do fio.
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uma moto é uma bicicleta?
assim se concretiza a ideia de um blog aos moldes dos anos 2000. querido diário otário, isso e aquilo têm me deixado perturbada. durmo demais por causa da febre, mas ainda não o suficiente por conta da tosse. minha cabeça dói, mas a dipirona me faz suar demais. o que se pode fazer quando o corpo está em recuperação, e a cabeça pede qualquer tipo de estímulo, mas sair de casa atrasaria a recuperação de uma doença que só evoluiu por conta de uma primeira que não sarou direito?
nostalgia dos anos 2010. voltemos a ter blogs. voltemos a escrever. prestar atenção no mundo de um jeito especial e romantizar um viver completamente sem graça, só pra perceber que a vida é mais tolerável quando temos um lugar pra expor o que pensamos. revisitado à la 2025, faz sentido que toda reflexão seja pública. falsa e mascarada, mas ainda assim uma megaexposição.
faz sentido que o veículo escolhido seja o tumblr. afinal, nada no mundo digital nunca conseguiu ser tão irrelevante e anárquico ao ponto se tornar um lugar sagrado e seguro como este um dia já foi. e segue sendo, diga-se de passagem. novas gerações, que compartilham relatos e informações de forma muito mais rica e criativa do que eu poderia imaginar, ou pessoas de 20 e tantos anos englobadas pela nostalgia e uma recusa em crescer.
mas sinceramente, o que a vida adulta tem trazido é apenas sufoco dos pensamentos. são tantas preocupações terminantemente irrelevantes e distrações horrivelmente deliciosas que não resta espaço pra qualquer manifestação de originalidade. uma vontade que não seja despertada por um vídeo de 15 segundos. uma roupa que não seja influenciada por tendências. sou uma versão vitrificada e vazia, que se preenche e se derrama com o que me mandam preencher. não me toco por nada, e nada me assusta mais do que isso.
então, voltemos ao drama excessivo. voltemos a acreditar que tudo pode ser o fim do mundo, já que essa crença é mil vezes melhor do que a certeza de que ele vai continuar, independente do que aconteça.
abri um novo espaço, não para reblogar e scrollar na lógica tiktok-iana, mas para me manifestar, como tudo deveria ser antes de o algoritmo impulsionar tudo o que não é digno de atenção, mas sim de consumo. estando tão desconectada dessa forma de me expor, que um dia já foi tão familiar, desaprendi a usar pontuação. não vou saber embeddar playlists ou fazer um design html legal. tudo que era fácil e parecia inútil (apesar de divertido) 12 anos atrás hoje é um grande desafio, mas se prova mais importante do que nunca.
não sei mais nada sobre nada. falhei na verificação de 'você é um robô?' porque o puzzle me mostrou motos e pediu pra eu indicar bicicletas e eu simplesmente não soube o que fazer.
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