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deus está nos coletores de dízimo
que passam de mão em mão
tirando o pouco
de quem não tem quase nada
deus é cobra
é tentação
deus está conduzindo uma porsche
e usa malas da louis vuitton
deus é caridade
mas também é ganância
deus é o padre
que alimenta os esfomeados
deus é a fome
que faz roncar os estômagos não privilégiados
deus é o bem e o mal
que está incorporado em cada consciência
deus está em cada mistério
não descoberto pela ciência
deus é a ciência
deus
vestido de diabo
para entreter a plateia
tenta o homem
que vive preso em um eterno
transtorno de deserto de Judeia
deus é o diabo
personificado em metáfora
meio humano com chifres e rabo
é uma inusitada prosopopeia
deus é o universo em chamas
provando ao homem sua onipotência
deus é o homem em chamas
extinguindo-se em prepotência
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“Cat in a cottage window” by Ralph Hedley (1848-1913)
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na Santa Ceia
serve-se o sangue espalhado pela violência
divide-se o pão que padeiro amassou
compartilha-se o corpo de Cristo
feito à imagem de semelhança de um trabalhador
a vida é um mundo de dor
nela habita o sentidor
que consome-se em sentir dor
para a dor que sente
um poema remediador
a dor que não tem remédio
está remediada
se bem dosada
toda dor é um remédio
para uma overdose
basta a dose errada
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contemple a imensidão do céu
da boca de fumo
anjos sem asas
portam armas
almas sem pai
nascem meio abortadas
mães solitárias
tentam completar a metade que falta
mulheres pobres são abortadas todos os dias
quando saem mortas
de clínicas clandestinas
aqui
o paraíso é fiscal
no inferno
um menino raquítico
porta uma ParaFAL
o sistema com o povo na mão
é um bicho feroz
o povo
sem educação
sempre vota em algoz
o ronco dos motores
entram em sintonia com o ronco dos estômagos
de corpos esqueléticos
na frieza do concreto
a arquitetura hostil com lanças de ferro
escancara a fome dos descamisados
que não dói nos estômagos dos homens de terno
a base da pirâmide é de carne e osso
a coluna de sustentação
é vertebral
o povo anda curvado
carrega nas costas
o peso de um sistema desigual
relógios caros
marcam as horas perdidas
na sociedade do atraso
o pobre vende o tempo e não vive
para que o sistema privilegiado
conte o tempo comprado
nos ponteiros de um Patek Philippe
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