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Pensamentos de uma personalidade borderline.
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8ou800 · 2 years ago
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CAPÍTULO 2
Meados de 2006
Gabriel e Tom se conheceram na época da findada rede social Orkut. Começaram suas conversas em determinado fórum de uma comunidade, se adicionaram como amigos virtuais e logo tornaram-se best friends forever. Gabriel morava em São Paulo, Thomas no Rio Grande do Sul, portanto nunca existiu uma presença física, no entanto, seus encontros virtuais eram recorrentemente diários.
                Heterossexual, da idade de Tom na época, cheio de problemas existenciais – como os do amigo -, mas de um tato e carisma indescritíveis. É inarrável a forma como Gabriel colocava os outros acima de seu próprio eu, da mesma maneira como Thomas fazia, e faltam palavras para descrever a conexão que os dois tinham e a maneira como Gabriel protegia o outro, o acalentava e o deixava, a cada conversa, um pouco menos infeliz.
                Naquela época, Thomas era muito atacado, tanto presencial quanto virtualmente, por ser gay. Gabriel metia-se com toda pessoa que lhe dirigisse homofobia, chegando a adicionar colegas de escola de Tom para colocá-los em seu devido lugar. Isso, além de muitas outras coisas, faziam Tom se encantar com Gabriel. Com tanta compreensão e carinho, logo Tom confessou ser apaixonado por Gabriel. Mesmo heterossexual, o amigo tratou deste assunto da melhor maneira possível, dizendo que o amava também, de forma tão intensa quanto Tom o amava.
                Foram anos de companheirismo, conversas depressivas e muito amor envolvido, até que, certo dia, algo terrível aconteceu a Thomas, que narrou o fato ao seu melhor amigo, o Gabriel. Como ambos já estávamos cansados do mundo, das pessoas, do fato de simplesmente terem que viver, acabaram por fazer o maior pacto de amizade conhecido: a combinação de um suicídio duplo, marcando data - dali a uma semana-, horário e maneira (medicamentosa, menos dolorida e eficaz, uma sugestão de Tom). Continuaram desenvolvendo a ideia durante toda a semana que se seguiu, escrevendo cartas de despedida e gravando vídeos.
                Chegou o dia D. Os dois melhores amigos mantiveram contato até ingerirem os farmacêuticos e beberem a vodka. O mundo ficou turvo e pararam repentinamente de conversar. Gabriel faleceu naquele dia, vítima daquele plano. Thomas foi covarde demais para continuar, na hora em que a morte se aproximou. No fundo, ele desconfiava que aquilo tudo nunca daria certo e que, ao menos, chamariam a atenção de amigos e familiares. Um mero pedido de ajuda, de socorro. Para Gabriel, o plano deu certo (ou errado, dependendo do ponto de vista). Para Tom, não.
                Desde aquele fatídico dia, sua vida nunca mais foi a mesma. De muito infeliz, foi para um estágio de infelicidade jamais experimentado pela raça humana. Perdeu seu melhor amigo, aquele que lhe conhecia como ninguém e sempre o amparava, independentemente da situação. Ele era seu único amigo. O resto que Tom possuía, eram relações rasas de bebedeira e festa. Thomas obviamente sentiu-se culpado por todo o acontecimento, e a família do amigo o culpou muito também. Não é como se ele o tivesse matado, mas era como se ele o tivesse matado.                 Gabriel também vivia em constante estado de infelicidade e, por diversas vezes anteriormente, já tinha tentado suicídio. Em diversos momentos Tom sentia que era o maior culpado por ter encorajado o amigo a tanto. Ao mesmo tempo, sentia-se o maior covarde, também, por não ter levado o plano adiante e ter acabado como Gabriel, talvez, até junto de Gabriel, só que em outro plano, um plano superior onde nada nem ninguém poderia os deter.
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8ou800 · 2 years ago
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POEMA DA AMIZADE INTERROMPIDA
Em memória do meu grande amigo Fabrício Turatti, falecido no dia 28/04/2023, aos 29 anos.
Morri um pouco junto contigo Todo belo momento perdido Tudo que tínhamos para viver As conversas vendo o sol nascer Repentinamente foi baldado E agora encontro-me frustrado Me é áspero aceitar tanta dor Tua partida tirou muita cor Dos meus dias já antes nublados Que agora tornaram-se mais complicados Aqueceu-me com dua alma bondosa Teu sorriso é uma lembrança saudosa Vivemos uma vida em uma semana A morte é horrenda e deveras profana E se eu pudesse voltar no tempo Faria de tudo por mais um momento Ao teu lado, meu querido Foi um prazer te ter como amigo Demasiado breve mas foi insano Uma conexão nesse lugar mundano Te agradeço pelos momentos vividos Tu jamais será esquecido Gutto Fürst - 02/05/2023
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8ou800 · 2 years ago
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Border
Coração border Sempre em desordem Congela e queima Cura e envenena
É oito, é oitocentos É turbilhão de sentimentos Atrás do que não pode ter Atravancando o ofício de viver
Ama demasiado Mas sempre acaba frustrado Porque na verdade Nunca há reciprocidade
Coração e mente Formam uma corrente Para incessantemente Perderem-se novamente
Gutto Fürst - 04/08/2022
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8ou800 · 2 years ago
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CAPÍTULO I
Março de 2023
A beleza do local não surpreendeu a Thomas perante memórias das fotos que ele e a mãe haviam visto no site da clínica. Um gramado verde era serpenteado por ladrilhos em uma passarela até a entrada da porta de ferro. Um muro branco e mesquinho acompanhava o caminho com uma estátua de gesso de uma mulher nua na parte frontal direita do concreto. Podia-se ver, olhando mais à esquerda, uma pequena capela, ladeada por dois anjos concretados, um em cada lado da porta, e uma cruz na parte superior da mesma. Aquilo já não lhe agradou, pois não achava que saúde mental deveria se envolver muito com religião.
                Ao passarem pela porta, foram muito mal recepcionados por uma jovem que parecia atarefada demais para atendê-los com o decoro esperado. A mulher remexia em papeis com uma mão, enquanto segurava o telefone com a outra e sussurrava para que aguardassem um pouco, tudo ao mesmo tempo. Após cerca de dez minutos, ela finalmente conseguiu dar a atenção necessária, provendo de forma quase robótica as regras básicas da clínica psiquiátrica.
                - Não são permitidos cordões de calças, bermudas ou casacos. Não são permitidos calçados com cadarços. Desodorante aerosol e fio dental não entram de forma alguma. Bermudas somente abaixo dos joelhos e camisetas largas e confortáveis. Não entram na clínica perfumes, removedor de esmalte ou qualquer outra coisa contendo álcool. Telefone celular fica confiscado na recepção ou em casa com os familiares. Ligações duas vezes por semana, no sábado e no domingo com duração de dois minutos. – Disse ela, sem dar qualquer pausa e tempo para que Thomas processasse aquele tanto de informação.
                Depois da verificação dos seus pertences e de um abraço desanimado em sua mãe, estranhando a falta de uma revista corporal – como foram feitas nas suas outras cinco internações anteriores em diversas clínicas -, Thomas adentrou o ambiente que dava acesso à ala masculina da clínica. Sentou-se quieto em uma cadeira posta a uma mesa de plástico para esperar trazerem seu almoço, pois havia chegado bem na hora da refeição. Alguns pacientes vieram se apresentar e o cumprimentaram, mas todos estavam estranhamente zonzos e cambaleantes.
                - Oir. Meu nomre éééé... Tobias. – Proferiu um rapaz aparentando ter cerca de uns trinta anos, mas que não passaria de jeito algum em um exame anti dopping, levando em conta sua feição cansada, voz irregular e estado de confusão, que mal o permitiam falar direito.
                - Prazer. – Thomas respondeu, percebendo que o moço até que era bonitinho e bastante simpático, apesar de seu estado de moleza. – Me chamo Tom.
                Terminando a refeição – que era basicamente arroz, feijão, abobrinha e um ovo cozido –, Thomas foi chamado para uma sala de procedimentos para que lhe aplicassem uma injeção na nádega. Estranhou o protocolo, que nunca havia sido realizado em suas estadias nas demais clínicas, mas foi sem argumentar ou questionar o porquê daquilo tudo. Em cerca de vinte minutos, já estava igualmente zonzo como os outros pacientes do local.
                Não demorou muito para o levassem ao seu quarto, que era um ambiente de observação com cinco camas, dois banheiros, e uma câmera exposta na parede. Foi deitar-se assim que adentrou o recinto, sem sequer guardar seus pertences no armário que o destinaram, pois estava absolutamente grogue da injeção recém aplicada. Thomas dormiu um sono profundo até ser acordado por um técnico de enfermagem para tomar a medicação da noite. Um comprimido branco e pequeno, diferente da medicação que tomava lá fora.
                - O que é isssssso? – Perguntou, meio tonto e com dificuldade para se expressar corretamente. – Qual remééédio é esssse?
                - Não te interessa. – Foi a resposta extremamente grosseira do técnico de enfermagem.
                Engoliu, então, o remédio com um copo d’água e voltou para o quarto para terminar seu sono recém interrompido. Tudo pareceu estar turvo e ele mal conseguia manter-se sob as duas pernas.
Acordou pensando que o segundo dia seria diferente, que toda a dopagem e frieza do primeiro dia eram apenas protocolos de inicialização para novatos. Mas foi tudo absolutamente igual no dia seguinte. Comprimido branco na manhã, tarde e noite e uma moleza e sonolência sem fim. A indiferença e contempto dos funcionários foi a mesma do dia anterior, também. Eram todos tratados feito animais andando em uma fila para o abate.
                A comida não era de todo ruim, constatou, até descobrirem que ele era diabético e passarem a dar bolacha água e sal e chá sem gosto algum em todas as refeições por não possuírem uma dieta especial para este tipo de enfermidade.
                O refeitório era na parte de baixo da clínica, sem rampa de acesso alguma, então eles mesmos, os pacientes, tinham que levar Felipe, um cadeirante, pra baixo e pra cima a todo momento, já que os técnicos de enfermagem encontravam-se, na maior parte do tempo, ocupados fazendo fofoca e mexendo em seus celulares.
                Mesmo cambaleante e tremelicando o tempo todo, Thomas conseguiu manter algumas conversas com outros pacientes. Nenhum deles lhe interessou muito, realmente, exceto por Tobias, a quem havia se apresentado no dia anterior. Eram, em sua maioria, histórias insubstanciais de problemas familiares, alcoolismo e vício em cocaína. Algumas tentativas de suicídio. Descobriu, no entanto, que todos eram tratados com o mesmo medicamento que ele: Diazepam, um remédio barato que não ajudava em transtorno algum, só causava sonolência e impotência de agir.
                A rotina era maçante e o tempo não passava. Quando não estavam comendo no refeitório, estavam no pátio fumando. Passou a fumar cerca de cinco carteiras de cigarro por dia por ser uma das únicas coisas a se fazer naquele lugar. Os livros que levou, um total e oito, de nada lhe serviam, pois estava desconcentrado, sonolento e impotente na maior parte do tempo.
                As sessões de terapia ocupacional ou sequer a presença de algum psicólogo eram praticamente inexistentes e, quando apareciam, eram rasas ao extremo: terapia em grupo de cinco minutos, pinturas em desenhos pixelados de qualidade horrível impressos em algum aparelho pré-histórico e quase sem tinta etc. etc. etc. Um dia, Thomas chegou até a pegar um desenho de Pokémon para pintar, mas guardou-o no armário e nunca mais se lembrou disso.
                Nenhum dos quadros clínicos dos pacientes se assemelhava ao dele, de personalidade borderline. Havia um esquizofrênico, Hugo, que acreditava ter sido concebido sem sexo – como se o anjo Gabriel tivesse lhe enviado para sua mãe, uma Virgem Maria-, e também tinha a absoluta certeza de que um político local havia implantado um chip em sua pele para matar a ele e à sua família.
                Todos os pacientes – borderlines, esquizofrênicos, bipolares, alcóolatras e adictos -, eram tratados da mesma forma: com Diazepam, injeções debilitantes e, caso houvesse qualquer questionamento quanto ao tratamento, horas amarrados em um colete com faixas em uma cama, fazendo as necessidades ali mesmo, berrando por comida e água.
Seu médico psiquiatra era o tal dr. Simon, um homem beirando quase sessenta anos, de barba rala e aparência cruel, destacada por um óculos no rosto, metálico como suas palavras.  As consultas com ele eram raras, breves e extremamente grosseiras. Como dono da clínica, era o único “médico” que atendia ao plano de saúde de Thomas. Tornava-se tudo que ele tinha, e era no que deveria depositar suas esperanças para conseguir melhorar.
                Na primeira consulta, alguns dias depois de dar baixa na clínica, já notava-se a malevolência e arrogância do dr. Simon. Tratou Thomas como se este fosse um lixo orgânico de banheiro muito repugnante. Negou-se a mudar sua medicação para algo efetivo pois, segundo ele, Thomas era apenas um “drogadinho fresco e vagabundo de merda”. Estando dopado demais de Diazepam injetável e em comprimidos para se defender de tamanha ofensa, ele simplesmente saiu do consultório ao ser mandado pelo médico, cerca de noventa segundos após ter adentrado a sala.
                A crueldade e malevolência do chamado doutor só foi se expandindo nas próximas consultas. Thomas começou a guardar o Diazepam debaixo da língua e depositá-lo no lixo do banheiro conforme foi percebendo a ineficácia daquele tratamento de dopagem exacerbada, sem considerar em momento algum a patologia que ele tinha. Sendo assim, acabou por desenvolver um pouco mais de sobriedade para argumentar com o vilão Simon, por meados da terceira consulta.
                - Não estão me alimentando direito. – Começou ele, observando a recorrente cara de desdém do dr. Simon. – Vocês não têm uma dieta para diabéticos?
                - Cuide dos seus assuntos e pare de reclamar de tudo. – Disse rispidamente o doutor. - Se quer fazer do seu jeito, arrume dinheiro, construa a própria clínica e se interne nela. – Completou, dispensando Thomas logo em seguida.
                Naquele lugar deplorável, a maioria absoluta dos pacientes eram do dr. Simon e cerca de noventa e oito por cento destes o detestavam tanto quanto Tom. Atendimentos absurdamente insultuosos de um minuto e meio e nenhum amparo ou uma luz que desse perspectiva de melhoras. Ninguém fazia ideia alguma de como um ser desumano como aquele havia conseguido seu diploma, e cogitavam que ele o havia comprado em algum site barato, tal qual o AliExpress.
                As ligações para sua mãe eram raras e sempre aconteciam depois de ser um “pé no saco solicitante” (palavras do dr. Simon) com as enfermeiras. Lhe davam dois minutos, vigiados de perto pelos funcionários. Sempre que começava a reclamar do atendimento que estava recebendo, a ligação caía e não havia uma nova chance de realizá-la.
                Thomas fez inúmeras solicitações para a troca de psiquiatra, mas nenhum atendia ao seu plano de saúde, que pagava mal e não era muito bem quisto pelo doutor Crueldade. Foi exatamente isto que Thomas disse a ele por meados da quarta consulta, quando este o mencionou uma proposta de alta.
                - Entendo que meu plano paga pouco, que você deseja rotatividade de pacientes e que prefere quem paga de forma particular.
                - É exatamente isto. Portanto, você está de alta hoje mesmo. Pode se mandar da minha sala. – Simon respondeu, assinando na mesma hora um papel de alta médica.
                - Eu não posso receber alta agora. – Começou, com ar implorativo. – Eu não estou pronto.
                - Quem decide isto sou eu. – Respondeu o médico, sem sequer olhar para Tom. – Agora dá o fora do meu consultório.
                E foi assim que, depois de treze dias de um tratamento precário e ineficaz contra seu transtorno, Thomas foi basicamente “expulso” e “demitido” da tão cruel e extremamente rasa clínica do doutor Simon.
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8ou800 · 2 years ago
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My day to day schedule
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8ou800 · 2 years ago
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8ou800 · 2 years ago
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Is this rEjEcTiOn? 🙃
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8ou800 · 2 years ago
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Please
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8ou800 · 2 years ago
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Love you Marsha
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