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Aither
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Molded in ice
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aithertheeizi · 4 years ago
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A Guarda do Vento
A velha lenda conta a história de um povo há muito extinto que tinha por necessidade canalizar o vento. Tudo na pequena cidade era movido por essa força sazonal.
Muito antes da extinção, a cidade só funcionava na estação dos ventos, quando as pás dos moinhos giravam, as turbinas eólicas ligavam e os pequenos barcos aéreos eram impulsionados pela brisa suave e morna do oeste. No resto do ano, entretanto, as pessoas viviam reclusas em suas casas, condenadas à miséria e aguardando novamente a chegada dos ventos.
Mas um dia, um novo senhor ascendeu ao comando da cidade. Estava decidido a vivenciar os dias de glória não só em uma estação, mas durante o ano todo e foi assim que nasceu a Guarda do Vento.
Era uma honra sem igual ser escolhido para trabalhar neste prestigiado projeto. Somente os mais dignitários membros da sociedade foram escolhidos. O governante tinha uma oratória impecável e traçou a eles os seus pontos para criar uma tubulação de ar comprimido que faria o vento circular pela cidade em tempo integral durante todo o ano.
Mas ele falhou.
Os ventos do oeste não podiam ser entubados, canalizados ou controlados. Embora fosse uma brisa suave e morna, eles também eram selvagens.
Revoltado com o próprio fracasso, o governante abandonou a cidade. A guarda se desfez e o ambicioso projeto foi abandonado. A cidade teria voltado ao seu ritmo normal se não fosse por uma mulher.
Aella não desistiu de seu sonho de transformar a cidade num lugar melhor. Ela dedicou a vida ao projeto que os outros abandonaram. Ignorou os cochichos e até mesmo os insultos.
Mas os anos de tentativas valeram a pena. O fracasso não durou para sempre. E chegou o dia em que Aella finalmente deu vida à Guarda do Vento e transformou o lugar onde morava em um centro eólico próspero e único.
E quando sua vida chegou ao fim, seu corpo caquético não foi enterrado, como era o costume da cidade. Em vez disso ele foi impulsionado pelos ares, num cortejo fúnebre que a levaria até a borda da terra, rumo ao infinito — que era o seu lugar.
Ela deixou de ser conhecida como fracassada, e passou a ser chamada de Aella Zelosa, a Domadora do Vento.
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aithertheeizi · 4 years ago
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Mr. Cubas
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aithertheeizi · 4 years ago
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Jazigo
Aella sentiu o corpo vacilar, a respiração falhar e o coração interromper seus batimentos por alguns instantes. Parte da montanha onde viveu quase toda sua vida havia cedido, a casa onde cresceu e onde viu o irmão dar seus primeiros passos, falar suas primeiras palavras e até mesmo manifestar seus poderes, também estava destruída. Por mais que o cenário fosse desolador, não foi a pior coisa que ela encontrou.
Os corpos de Aureta e Typhoon foram aprisionados num imenso cristal transparente manchado com o vermelho do sangue deles e erguidos do chão por um elaborado sustento de gemas preciosas. Aella tentou de tudo para livrá-los daquela prisão de escárnio, mas suas habilidades não eram páreas para desfazer o que o antigo rei de Dyamond havia feito. Seus pais estavam condenados a passar a eternidade naquele jazigo como um troféu e uma lembrança de que ninguém podia desafiar o Senhor do Inverno.
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aithertheeizi · 4 years ago
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Últimas palavras
Eu sei que já se esqueceu de mim há muito tempo. Mas eu vou continuar lembrando do que fizemos juntos, por nós dois. Eu estava com saudades, Alfea é muito quente. Não sei se chegou a ir lá quando era mais nova, mãe, mas não acho que seja o tipo de lugar que você gostaria. Pode ser porque eu só tenha te visto aqui onde é frio, mas ainda penso que você era feliz aqui.
Aella está se fazendo de durona, como sempre, mas tenho certeza que ela está muito triste agora que você também a esqueceu. Me sinto mal por ela. Não sei o quanto da sua mente ainda funciona, mas se ainda tiver um pouco de você aí, poderia dizer algo legal a ela. Diga que a ama, ela precisa disso, ainda mais agora que o papai também nos largou de vez.
Falando nele, eu fiquei sabendo de uma história que ele traiu algum rei de Dyamond. É verdade? Foi por isso que eu vim... vou perguntar ele. Ah, e eu não estou sozinho. Tem uma fada, Cassiopeía, somos... namorados, mas isso meio que é um segredo. Ela veio comigo. Talvez eu a traga aqui mais tarde pra conhecer você, mas agora eu preciso ir. Deixei ela sozinha com Aella e isso é perigoso. Aella não é nada discreta.
Ah, mãe, eu falei muito. Tem algo pra me dizer também?
Aither aguardou, mas Aureta estava com os olhos fechados e, embora não estivesse dormindo, sequer se moveu sobre a cama.
Até mais, mãe.
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aithertheeizi · 4 years ago
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To the ocean belongs the @oceandiamond
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aithertheeizi · 4 years ago
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Uma viagem à Lua
Se os humanos foram até a Lua em um ônibus, por que Aither não poderia ir em um trem?
Afinal, todos sabem como os trens são mais seguros e ecológicos, portanto, aquela era uma ideia razoável. E mesmo assim parecia impossível, afinal, os trens precisavam de um trilho para andar e, obviamente, um trilho até a Lua era idiotice.
Por sorte, Aither não embarcara em um trem comum, ou teria descido várias estações atrás tomado pelo tédio do movimento previsível sobre a linha férrea. Não, longe disso. Ele subira — quase sem querer — em um trem desgovernado, um daqueles que se movem loucamente por aí, fora dos trilhos lineares.
A vantagem de um trem desgovernado é exatamente essa: você não sabe onde ele vai parar. Todos os destinos são possíveis; até mesmo a Lua.
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aithertheeizi · 4 years ago
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"Deixei-o nessa reticência, e fui descalçar as botas, que estavam apertadas. Uma vez aliviado, respirei à larga, e deitei-me a fio comprido, enquanto os pés, e todo eu atrás deles, entrávamos numa relativa bem-aventurança. Então considerei que as botas apertadas são uma das maiores venturas da terra, porque, fazendo doer os pés, dão azo ao prazer de as descalçar. Mortifica os pés, desgraçado, desmortifica-os depois, e aí tens a felicidade barata, ao sabor dos sapateiros e de Epicuro."
Memórias Póstumas de Brás Cubas
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aithertheeizi · 4 years ago
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A última dança
Typhoon estava na janela observando enquanto os dois partiam. Ele suspirou pesadamente, estava muito velho e cansado para lidar com o que estava por vir, mas era inevitável. Os ventos nunca mentiram para ele e naquele dia não seria diferente. Ele caminhou de volta para a sala da casa, onde Aella chorava copiosamente no sofá.
— Aella, não precisa ficar assim — Typhoon sentou ao lado da filha e a abraçou. O afeto repentino do pai a fez chorar ainda mais. Ela nem se lembrava mais da última vez que ele havia feito isso. — Eu sei que está triste agora, mas vai melhorar. Eu sinto muito, mas ainda preciso te pedir um favor hoje. O último.
Aella concordou enxugando as lágrimas e oferecendo ao pai um sorriso triste, mas sincero. Typhoon sentiu uma pontada de culpa, mas prosseguiu com o que tinha a dizer.
— Preciso que vá até Garganthua. Quando ainda trabalhava na corte, ouvi sobre um homem que mora lá e que talvez possa ajudar sua mãe. — Ele fechou os olhos e respirou fundo. — Eu nunca quis acreditar, acho que estava devastado demais pra ter esperança, mas ver Aither e aquela garota pode ter aberto meus olhos. Ele estava mentindo, mas Aella acreditou em cada palavra do pai. Estava desesperada por se agarrar em qualquer sinal de esperança, ainda mais depois de um dia tão desastroso quanto aquele. Ela concordou com a tarefa e Typhoon lhe deu os detalhes da missão de última hora. Com sorte, ela levaria muito tempo na cidade e quando voltasse... bom, tudo estaria resolvido.
— Eu cuido da sua mãe — disse o homem. Aella vislumbrou um brilho novo no olhar marejado do pai e concordou em silêncio. — E não se culpe tanto, filha. Você cuida muito bem de nós.
Aella partiu e Typhoon se despediu com um sorriso parcialmente coberto pela sua barba espeça. O homem trancou a porta pelo lado de dentro — não que isso fosse adiantar alguma coisa —, fechou as cortinas e foi até o quarto da filha.
Ele sabia que ela e Aither estavam trocando correspondências desde que ele se mudara para Alfea e não foi difícil encontrá-las. Aella era muito organizada e deixou todas as cartas dentro de uma caixa em cima de sua cômoda. Typhoon se arrependia agora de não ter sido o pai que os filhos precisavam e mereciam, mas era tarde para fazer qualquer coisa e sem coragem de ler o que Aither relatava à irmã, ele queimou as cartas na lareira.
— É pro bem deles... — disse às paredes como se precisasse justificar para si mesmo suas decisões.
Em seguida ele foi até o quarto onde Aureta dormia e se sentou na cama ao lado da esposa. Ela parecia tranquila, fazia semanas — talvez meses — que não a via, mas ela continuava bela a seus olhos. O tempo sequer pareceu ter algum efeito sobre ela já que tinha a mesma graciosidade de quando os dois se conheceram. Ele, por outro lado, era só a sombra do que fora um dia.
Typhoon nunca se considerou digno de Aureta e seu maior arrependendo sempre foi sua falta de atenção à mulher. Ela lhe dedicara a vida, protegera-o de um rei tirano mesmo que isso custasse sua sanidade. E ele, afogando-se no próprio sofrimento, só percebeu que tinha o maior tesouro do mundo quando o fim chegou.
Fizera tudo para proteger a família, menos ser parte dela. Abandonou todos quando precisaram dele e foi fraco e covarde quando deveria ter sido forte e corajoso.
— Aureta... — ele chamou enquanto acariciava o rosto dela. — Espero que um dia possa me perdoar. Eu fui um marido terrível e um pai detestável.
A bailarina girou o corpo sobre a cama e seus profundos olhos negros encararam o marido. Aureta pegou a mão dele e apertou entre as suas. Ela sorriu e se levantou. Havia anos que ela não usava seus poderes, mas naquele instante, ela fez uma brisa suave envolver os corpos dos dois e eles flutuaram acima da cama do quarto.
— Typhoon — ela respondeu — Dança comigo?
Ele estava engasgado demais para responder qualquer coisa e aceitou o convite dela só com um aceno. A esposa foi quem o guiou. Typhoon estava enferrujado demais, mas apesar de sua mente fragilizada, Aureta não esqueceu os passos e ainda conseguia se mover com graciosidade.
— Querido... — sussurrou Aureta — Eu acho que estou grávida.
Typhoon preferia estar morto do que reviver este momento. Aureta estava presa em suas lembranças da última vez que os dois dançaram em um baile de máscaras.
— Não, Aureta — ele respondeu com paciência, seguindo os passos aéreos dela — você não está grávida.
— Eu queria te dar um filho — ela soltou uma das mãos de Typhoon e o rodopiou no ar.
— Você já me deu dois filhos.
— Mesmo? — ela sorriu como se ele tivesse inventado — Onde eles estão?
Typhoon retribuiu o sorriso dela, embora o dele fosse um tanto mais triste. Não valia a pena contar a Aureta a verdade. Ela não acreditaria e se acreditasse, bem... dentro de poucos instantes isso não importaria mais.
— Estão por ai — respondeu. — Voando como passarinhos.
Aureta riu dessa vez nostálgica com a piada interna deles e Typhoon a acompanhou. Os dois se abraçaram começando uma dança mais lenta. O homem fechou os olhos e deixou que as lágrimas caíssem agora — um choro que estava entalado na garganta há quase duas décadas — e Aureta o consolou.
O casal estava tão concentrado um no outro que não ouviram os estrondos começarem abaixo deles. Sequer notaram o chão tremer — já que flutuavam — e não se importaram quando as estalagmites preciosas destruíram o assoalho e as paredes.
Typhoon soube — desde o momento que contemplara os olhos cinzas em sua sala de estar — que seria só uma questão de tempo até serem encontrados. Ele abraçou o seu destino e abriu os olhos só para que pudesse contemplar Aureta uma última vez.
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aithertheeizi · 4 years ago
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A tempestade de Aella
Se Aither havia saído temperamental como o pai, Aella era a própria definição de calmaria, como a mãe. Não que ela tivesse tido muitas oportunidades para se expressar; na verdade, ela sequer pôde fazer muitas escolhas durante a vida.
Aella era só uma criança de dez anos quando teve que crescer. Abandonar o lúdico e cuidar de pais atormentados foi só uma das coisas que ela precisou fazer para sobreviver. Cuidar do irmão caçula foi outro desafio. Afinal, que criança de dez anos é obrigada a se tornar mãe?
E ela fez tudo que pôde para cuidar dos pais e criar Aither. Ela viveu — e ainda vive — uma vida de sacrifícios. Por mais que seu interior esteja machucado pelos segredos que esconde, pelos sonhos que ignora e pelo medo que sente, por fora ela é confiante, alegre e disposta.
Mas no fim de uma visita inesperada, Aella se permitiu ser um pouco tempestade.
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aithertheeizi · 4 years ago
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aithertheeizi · 4 years ago
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we are dying
since we arrived
and we forgot to look at the view
live intensely
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aithertheeizi · 4 years ago
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She put the Ocean in my eyes
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aithertheeizi · 4 years ago
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"If you're not scared, then you're not taking a chance. If you're not taking a chance, then what the hell are you doing anyway?"
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aithertheeizi · 4 years ago
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Uma ideia estapafúrdia
É claro que, na hora que ele teve a ideia, sequer pensou se ela era boa ou ruim. Aither não era do tipo que analisava as consequências antes de agir.
Ele colocou a mochila sobre os ombros e partiu.
Não se perguntou se o que fazia era certo ou como outras pessoas reagiriam. Não houve nem tempo para apreciar o mar — que estava vendo pela primeira vez — e muito menos para se arrepender de todo o alvoroço que causara.
Mas no fim daqueles dias loucos, enquanto pensava sobre o que havia feito, ele se lembrou que uma ideia estapafúrdia podia ser sinônimo de loucura, mas que nem sempre as loucuras precisam ser ruins — e essa com certeza não havia sido.
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aithertheeizi · 4 years ago
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My diamond
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aithertheeizi · 4 years ago
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"When tempest tossed, embrace chaos."
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aithertheeizi · 4 years ago
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Uma andorinha só não faz verão
Ok, se uma andorinha não era suficiente, quantas seriam? Aither começou a contar os pássaros que voavam perto de sua casa. Era primavera e a neve já estava derretendo em alguns lugares, mas ainda fazia muito frio.
— Contado os pássaros? — perguntou Aella.
— Quero saber quantas andorinhas precisa pra fazer verão.
Aella gargalhou da inocência do irmão. O garoto de dez anos ouvira ela usar a expressão mais cedo com um comerciante na cidade e certamente a guardara. — Deixa de ser bobo, Eizi, não tem andorinhas por aqui.
— E é por isso que é sempre inverno?
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