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antiantonella · 6 years
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notarichboy.
            Ele havia convidado-a pelo simples fato de terem sido bons amigos no passado. Nada além disso, pois a história que eles tinham havia ficado para trás. Agora era um homem comprometido, amava sua esposa. Diversas vezes havia pego pensando em como seria como a reencontrasse, se os sentimentos viriam à tona e ele precisaria fazer alguma coisa. Muito pelo contrário, o único sentimento que tinha por ela era respeito. Ah, e admiração. Ele achava incrível como ela havia evoluído tanto e crescido, conquistado tudo por conta própria e ainda ter corrido atrás disso desde nova. Na época, ele não entendia muito bem porque ela tinha ido embora, sem nem ao menos se despedir dele. Porém, agora, ele percebia. Sempre fora para o bem dela. Passou a mão sobre a gravata, como fosse um pavão exibindo-se todo. Deu uma risada e a abraçou, passando as mãos pelas costas dela, como quisesse relembrar alguma coisa.
            ❛ — Estou tão feliz que tenha conseguido vir. Imagina o desastre que seria se uma das pessoas mais importantes da minha vida não viesse. O que seria do pobre rapaz de Bordeaux? ❜ Deu um beijo estalado na bochecha dela, com um breve sorriso. ❛ — Você deveria ter voltado, eu ficaria muito grato de você por perto novamente. ❜ Seu sorriso servia como confirmar o que havia dito. Ao soltá-la, a atenção estava toda no menino ali presente. Ele era uma graça, deveria admitir. Estava um legítimo cavalheiro, trajado com roupa social. Aquilo fez Henrich soltar uma risada, antes de estender a mão para Sinclair, como havia sido apresentado. O menino apertou sua mão e aquilo despontou um sorriso bobo em seu rosto. ❛ — Certamente, é um verdadeiro. Aliás, Sinclair, eu sou Henrich. É um prazer em conhecer você. ❜ Proferiu, calmamente.
            Assim que ficou de pé, sentiu uma mão em seu ombro. Olhou para trás e ali estava novamente sua mãe, sorrindo para ele. ❛ — Mère! Lembra-se da Antonella? Ela veio, acredita? ❜ A mulher estendeu a mão para cumprimentar a morena, antes de perceber o menino ao lado dela. Henrich recebeu um olhar, obrigando explicar à ela quem era o jovenzinho ao lado da amiga. ❛ — Mon Dieu! Henrich, ele é a coisa mais linda. Antonella, o seu filho é a coisa mais linda. Meus parabéns! ❜ Seu sorriso era aberto e ela olhava o rapaz atentamente, seus dedos esfregando os fios dele. Sua expressão foi fechando aos poucos, engolindo em seco até que um pensamento maldoso passou por sua cabeça. ❛ — Ele é tão parecido com você quando menor, mon chéri. ❜ Dito aquilo, acenou para Antonella e começou a caminhar em direção oposta, ao encontro do pai de Henrich. O pensamento passou pela cabela do homem, o fazendo calcular as datas. A feição do sorriso foi sumindo, dando lugar a algo meio indecifrável. Os anos não iriam mentir, era impossível que o menino tivesse mais de onze anos. ❛ — Antonella, ele é o meu filho? ❜ Perguntou, por fim.
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                 Ali, entre os braços amigáveis de Henrich, Antonella pôde quase convencer a si mesma de que aquela fora, afinal, uma boa ideia. Talvez não precisasse contar nada, talvez pudesse simplesmente aproveitar uma data tão importante para Henrich sem sequer fazer menção ao que acontecera logo depois que mudara-se para Paris. Céus, era apenas uma adolescente... só queria pensar em sua carreira, não queria nada que a prendesse à pequena cidade de onde viera. Mas com  o cruel teste de gravidez em mãos, rapidamente soube: algo a manteria conectada à antiga vida para sempre. 
                   Não era para ser assim. Não deveria ter que escolher entre quebrar o coração de seu mais prezado amigo ou o seu próprio  --  amor ou carreira?  Fora uma escolha terrivelmente egoísta, mas Antonella era egoísta por si só. A oportunidade de trabalhar na Vogue Paris viera antes do planejado, e os anos começaram a passar, deixando chances de avisar Henrich de que eles agora tinham um filho no passado sem quaisquer escrúpulos. Agora, parecia ter aquela escolha novamente em sua frente; poderia contar, ou simplesmente não fazê-lo. -- Sei que deveria, Henrich, mas confie em mim, meu trabalho cobra muito mais de meu tempo do que o esperado... -- comentou, olhos brilhantes como da garotinha que sonhava com eventos de moda ao redor do mundo, demorando alguns instantes para voltar a si. Foi quando a mãe de Henrich, tão elegante como sempre, surgiu para cumprimentá-la. 
                   -- Madam’ Bordeaux! Nossa... obrigada! Estou tão feliz por rever a senhora, há tantas coisas que gostaria de contar! Mas acho que guardarei as histórias para a festa. -- Antonella teve de conter-se, uma mão descansado em frente ao próprio abdômen enquanto a outra apoiava-se sobre o ombro de Sinclair. Possuía uma coleção de memórias com a mulher, o primeiro grande ícone na vida da garota, que a fez desenvolver um amor maior do que o comum por moda. Mal sabia ela, que anos depois, em um casamento que não era o seu, seria aquela mesma senhora a trazer à tona sua ruína. O comentário da mulher arrancou a cor do rosto de Antonella; as mãos apertaram com excessiva proteção os ombros do filho, os olhos seguindo enquanto a figura elegante afastava-se de si. Mas Henrich continuava ali... parecendo confuso, alarmado, atordoado. E fora ali, naquele exato momento, que percebeu como não havia volta para tudo que fizera  --  não havia volta para toda a mentira que carregara por anos, e nem por ter permanecido ali com a intenção de por um fim em tamanha enganação.
                                                           Antonella? Ele é o meu filho?
                   A voz ecoou em sua cabeça como ecoaria em uma caverna. Engoliu em seco, um, duas vezes, esperando que alguma palavra chegasse aos lábios. Mas não parecia ter jeito. Mais rapidamente foram as lágrimas, que cobriam os olhos contra sua vontade, para somente então conseguir proferir qualquer sentença. -- Eu sinto muitíssimo, Henrich, nunca deveria ter vindo. --  anunciou, rapidamente afastando-se como se fugisse de um grande monstro. Mas Sinclair não a seguiu. Escapou dos seus braços e ficou lá, parado, entre os dois. O garoto não chorou, não falou nada, simplesmente ficou lá. E Antonella já não poderia inventar qualquer desculpa. Todos sabiam o que havia acontecido. Todos sabiam o que ela havia feito. Ela não tinha para onde fugir.
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antiantonella · 7 years
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notarichboy:
      O ar quente saiu de sua boca, fazendo com que ele agradecesse por ter escolhido um lugar mais afastado, perto do mar; assim a brisa que batia aquele horário era refrescante e seus convidados poderiam desfrutar da bela vista. Estava olhando pela janela enquanto apenas os garçons circulavam pelo jardim recém aparado. O hotel havia dito que cuidaria de tudo – e assim fizeram. Ele e a noiva apenas precisaram se preocupar com si mesmos e os convidados, que não deveriam tardar a chegar. Com esse pensamento, se encaminhou para a recepção. Sabia que Nádia não desceria para tal, mesmo que a sua vontade fosse estar perto dela naquele momento.Sua mão correu pelo paletó, antes da mãe se aproximar, arrumando a gravata. Sua cara fora de repreensão e Henrich não segurou uma risada, dando um beijo na bochecha da idosa.
     Como já imaginara, em poucos minutos, as pessoas começavam a chegar. Não tinham feito uma festa grande, que fosse comentada, apenas para um grupo considerável de pessoas que achavam importantes, assim, não teria demais e nem de menos – como a mulher havia reclamado nos momentos iniciais dos preparativos. Com tantos apertos de mãos e conversas demoradas, acabou formando uma pequena fila de recepção, o que queria ter evitado, mas não pode. Assim, os que iam chegando acabaram se perdendo do campo de vista do homem, fazendo-o apressar as conversas e dar tempo somente necessário para os devidos cumprimentos. Logo que a fila pareceu diminuir, seu pai pôs a mão em seu ombro, de maneira que o acalmasse. 
    A última pessoa era seu amigo de infância, que agora também estava casado, tinha duas filhas – lindas, por sinal, uma mulher bastante amorosa. Tudo que Henrich esperava ter um dia. Depois que as três passaram, ele e Bernard continuaram um singela conversa sobre o cotidiano, com o amigo pronunciando frases que assustaria qualquer solteiro. Seu pensamento era de um homem comprometido gora e ele amava a futura esposa, de um jeito que nunca achou que amaria alguém. Enquanto o assunto ia se desenvolvendo, não percebera a presença de mais uma pessoa se aproximando, até que uma voz feminina o chamasse, fazendo com que a sua risada fosse diminuindo aos poucos, até mesmo o sorriso desaparecesse. Bernard a reconheceu também, e a única coisa que fez foi se despedir do amigo e ir de encontro a família.
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      ❛ — O-oi, Antonella. Não posso acreditar que você veio! Espero que tenha sido bem recepcionada pelo hotel. ❜ Fora a única coisa lógica que saíra de sua boca no momento. Em um movimento rápido, virou-se para a dupla e se agachou, dando um sorriso para o menino ao lado dela. ❛ — Olá, rapazinho! E você, como se chama? ❜
                    Antonella moldou-se feito uma massa aos padrões do mundo da Vogue. Era tudo que sempre sonhara, que sempre esperara de seu futuro, e fora atrás dessa boa fortuna que anos atrás partiu. Os figurinos eram fabulosos  --  mesmo aqueles que ela sabia que deveria detonar em questão de dois parágrafos. Tudo era grandioso, e fazer parte de tudo aquilo era também. As pessoas tinham aroma de glória. E os locais pareciam esculpidos nos próprios portões do paraíso. Até nos dias atuais, quando entrava em um daqueles eventos, sentia-se quase culpada. Tinha direito de estar ali? Tinha direito de ter deixado tudo, ter deixado Henrich para trás para acabar parando ali? Naquele momento, já não importava. Nada mais importava. Aquele lugar, aquelas decorações, aquelas pessoas: eram tão grandiosas quanto os eventos de Vuitton e Versace. Porque eram dele, e estar tanto tempo longe de alguém geralmente nos traz ao ponto onde tudo é singular e maravilhoso. 
                       E Henrich, bem... nem mesmo Antonella com seu complexo de Miranda Priestly teria escolhido escolhido melhor traje para a ocasião. Estava deslumbrante, mas exatamente como Henrich estaria. Fácil assim. E era fácil perder o pensamento naquilo, a futilidade de uma escolha de roupas, por ser ela e por ser ele. Depois de tanto tempo, estaria surpresa mesmo é se não se perdesse.     ❝  Eu vim, é claro que vim! Como não viria? Eu...   ❞   falou rapidamente, até que interrompeu o próprio comentário com uma mordida no lábio para simplesmente prosseguir logo depois.  ❝   Estou tão feliz por você!   ❞  completou, deixando que nos lábios brotasse um largo sorriso.  ❝   Não faz ideia, Henri, quis tanto voltar aqui! E pensar que quando volta é porque vai... casar!  Faz muito tempo mesmo, não faz?   ❞
                         Foi quando o rapaz abaixou-se para cumprimentar o filho, seu filho que não sabia ser seu. Antonella encolheu-se minimamente em espanto, mas agiu no sorriso que deveria dar conte de esconder o nervosismo. Ainda não sabia o que faria. Simplesmente chegaria ali, no dia do casamento, para mostrar um filho perdido? Ou voltaria para casa sem dar qualquer explicação, aumentando seu erro, sua culpa, afastando-a de qualquer perspectiva de perdão? E simplesmente aquilo, pensar em ser perdoada, trazia tanto desgosto à sua boca. Como poderia se preocupar com perdão para si enquanto privara-os um do outro? Manteve as mãos firmemente agarradas em frente ao corpo, a voz    ❝   Venha cá, mon coeur, venha com o Henrich.    Esse aqui é o Sinclair, Henri.  Um cavalheiro, não é?   ❞  
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antiantonella · 7 years
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━━━━━━━━━  bad liar.
Nada justifica o que Antonella fez. Nada é fator para esconder de um pai a existência de seu filho. Nada deveria ser. Não há distância, tempo ou pessoa que possa fazê-lo. Mas, por alguma razão, houve. E Antonella sabia que essa razão não era qualquer além dela. A garota nunca sentira dificuldade em escolher suas roupas, muito felizmente por conta de seu trabalho. Escrevia para a Vogue   --  Vogue Paris, merci beaucoup. Naquele dia, encarando seu reflexo em um vidro, sentia que havia algo fora do lugar. Ponderou a posição do vestido, a família de cores, o tecido e caimento. Não havia algo errado. Somente ela, percebeu, aquele rosto simétrico e maquiado que não suportava encarar. Ela estava errada, e nenhuma de suas roupas bem escolhidas esconderiam aquilo. Não dela.
Antes que os pensamentos ficassem visíveis em sua expressão, desviou o olhar do próprio reflexo  --  estava no saguão do local onde ocorreria o casamento de Henrich. Não parecia verdade, mas tudo em sua volta implicava que era; não parecia existir aquele espaço de nove anos entre o antes e o agora. E, naquele momento, Antonella só poderia amaldiçoar o momento no qual percebeu que tinha um filho, um filho de Henrich, e decidiu esperar para contar. O momento estava aqui  --  a coragem, parecia ter fugido. Ainda assim, tomou um suspiro entrecortado e virou-se para chamar o filho.  ❝  mon coeur,  vamos.  a entrada parece ser por aqui.   ❞   anunciou,  curvando-se à frente para segurar a mão do garoto. Passou a andar na direção de uma grande entrada, guiando também o filho. 
Mas, quanto mais se aproximava da porta, mais nítida ficava a figura masculina que estava lá, distraída, falando com alguém sem notar sua presença. Perdendo a linha de raciocínio, Antonella largou a mão do garoto ao seu lado e deteu-se apenas à tarefa de seguir andando sem perder a cabeça completamente. Em meio à confusão interior, não percebeu que o filho se desprendia de si para observar algo em uma das paredes do corredor, ficando um pouco para trás. Quando chegou perto o suficiente para ter certeza de que aquele era Henrich, ouvindo sua voz, sentindo um traço de seu perfume, Antonella não pôde formar qualquer frase aceitável.
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            ❝  henrich!  faz tanto---   tanto tempo, não faz?  ❞  perguntou,  notando que seu filho agora chegava a seu lado,  e  então apoiou sua mão no ombro do garoto, puxando-o para perto de si.   
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