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Crônicas, contos e outros de Aramis Merki II (ou Aramisinho Paulista - futuro #7 do Timão)
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aramismerki-blog · 8 years ago
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Adverso
Você tem Hiroshima nas mãos E poesia de Cecília no braço  A Andaluzia tem respaldo nas tuas espaldas E o barro de Nefertiti modela o teu dorso A chuva quer te beijar, noite branca A terra quer te comer, lua adversa Você Vai virar vácuo E o espaço tratará de te apagar qualquer vestígio
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aramismerki-blog · 8 years ago
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Gambá punk
O vizinho de Rato, apelidado Gambá, nascido em Curitiba, se identificava como punk aos dez anos de idade. Morava com a avó, Dona Julieta, a uma quadra da toca da família Rato. 
Rato gostava muito de Gambá. Passavam tardes andando de bicicleta pela cidade. Iam até o Distrito Rural só para pedalar numas estradas de terra. Punk que era, Gambá roubava pacote de balas ou lata de Coca-cola nos mercados e uma vez cuspiu sem motivo no patinete de outro vizinho, o Julianinho. Para Gambá, havia motivo: Julianinho era um grande playboy otário. Rato gostava muito da personalidade de Gambá. 
Jogavam video game às vezes, mas preferiam ficar fora de casa. O Gambá tinha várias fitas k7 gravadas por ele mesmo, repletas de Ramones e Stooges, e uma com Planet Hemp e Raul Seixas. 
Dona Julieta preparava o jantar no começo da noite. O prato que Arturzinho (como a vó Gambá chamava o neto) mais gostava era o chamado Frango Arrepiado. Ele sempre convidava Rato pra comer o Frango Arrepiado, uma torta de frango coberta com batatas-palha causando o efeito arrepiado. A comida preferida de um punk de dez anos não poderia ter outro nome e aspecto.   Em um domingo, o Gambá passou cedo pela frente da casa de Rato, ao lado de dois adultos, com o cabelo penteado e uma camisa de botões e mangas curtas. Parecia feliz, mas um tanto mais tranquilo do que normalmente. 
Após o almoço com a família e antes de passar o Corinthians na TV, Rato deu uma voltinha de bicicleta pela rua, só para observar aqueles dois carros parados na frente da toca dos Gambás. Não viu nada de mais. Seguiu em frente, virou na rua à esquerda, viu no terreno vazio um homem de regata branca, jeans rasgado nos joelhos, cabelo castanho muito liso e oleoso nos ombros. Fez a volta, passou novamente pelo cara. Na rua de casa, Rato cruzou com o Gambá, que disse:  – Aí, Rato, viu um cabeludo por aí? É meu tio. Ele também é punk. – Tem um cara ali na frente do terreno na outra rua. Deve ser ele.  Gambá acelerou a passada com uma cara feliz. Rato foi pedalando ao lado dele.  Na esquina, Gambá disse: –  A vó Julieta fez Frango Arrepiado pro almoço. Meu tio adora Frango Arrepiado, que nem a gente. Quer almoçar lá? 
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aramismerki-blog · 8 years ago
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Memórias de um ratinho
Rato era desleixado quando moleque, sempre foi, ainda é. Não que não gostasse de cortar o cabelo, mas postergava o máximo que podia. Em média, ia a cada três meses. Para comparar (e havia quem comparasse), o primo Augusto, da mesma idade, ia mensalmente. Os pais nunca lhe tolhiam os fios revoltos, embora se encabulassem com comentários desdenhosos de colegas e vizinhos. Sem mais nem menos o Rato decidia ir ao salão de Ivanir, ao lado da loja da mãe, na rua comercial do bairro. Só sentava na cadeira, escutava Ivanir dizer "Quer estilo Surfistinha, né?" e esperava. Educadamente aceitava o corte Surfistinha, e que lhe lavasse a cabeça, e que finalizasse com gel NY Looks. Agradecia, pegava uma balinha no balcão, a conta a mãe acertaria depois. Saía feliz, confiante, sentindo-se galã como o Rodrigo Santoro.
A manicure do salão – que vivia em cima da loja da mãe de Rato – tinha uma filha chamada Fernanda. Rato sempre trocou olhares com Fernanda. Desde bem criança, época em que passava as tardes com a mãe para não ficar sozinho em casa. Um pouco mais velho, andava de bicicleta pelo bairro todo, jogava bola na pracinha e ajudava na loja de vez em quando, e sempre que cruzava com Fernanda a olhava. Cumprimentava-a com o olhar, talvez até a beijasse com o olhar, recitasse poemas de Mario Benedetti que ainda não conhecia com o olhar. Mas não dizia uma palavra a Fernanda.
Após uns quatro meses sem aparar o "ninho de pombo", Rato foi ao salão. Ivanir foi quem fez a comparação com a residência pombal quando Rato chegou. Ele sorriu sem graça como sempre fazia para um adulto que lhe dirigia a palavra. Gostava tanto do Surfistinha quanto do Ninho de Pombo. Sentia vontade de dizer às pessoas maiores, sobretudo aos colegas de trabalho do pai, que eles não tinham nada a ver com o jeito que o cabelo dele estava. Apenas sorria sem graça.
Como sempre, Ivanir fez seu trabalho caprichadamente. Surfistinha impecável, NY Looks brilhando, Rato pegou três balinhas e ia saindo quando viu Fernanda. Autoestima também brilhando, como um Rato Santoro, falou com naturalidade: – Cortei o cabelo. Fernanda respondeu de pronto: – Surfistinha, né?  Pareceu para Rato que ela iria comentar mesmo que ele não dissesse nada. Surgiu nele uma malícia que desconhecia, então disse: – Você gostou?  – Gostei! – depois Rato avaliaria que aquilo foi como uma cena de Malhação. Cabeção e Myuki. Antes que o silêncio chegasse a constranger, Fernanda disse com malícia natural que Rato não esperava:  – Eu gosto mais quando parece uma arvorezinha bagunçada.
Uns meses depois, perto da páscoa, com cabelo bagunçadíssimo, mas confiança dos tempos de Surfistinha, Rato presenteou Fê com um Sonho de Valsa antes de entrar no salão de Ivanir. Sentou em frente ao espelho, sorriu para a piadinha sobre sua “juba desgrenhada” e disse que queria um corte no estilo Ninho de Pardal.
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aramismerki-blog · 8 years ago
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Pulmão
Nuvem - massa densa caos completo chora não vem nada de mais mas vem mais que você pensa que eles pensam as balanças pesam Guarda-chuvas cansam viram arames retorcidos que vão pro lixo Céu baixo, bicho Olho fixo, atento ao chão paralelo ao rio rasgado no som trompete Marvin gaye a 40 e queria estar a mais de mil
Vento, sopro de deus, toca o trompete trump, topete, temer, treta tratrá, repete Volta o jazz, depois de acabar as sete voz rouca do lugar que entoa em falsete
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aramismerki-blog · 9 years ago
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Cervical
Eu sei que você sempre enlaça os dedos no pescoço da mulher com quem está transando. Sem força, somente firmeza.
Sei como ri escandalosamente quando o Homer enforca o Bart. Te impressiona pois ele fecha as duas mãos como se estivesse segurando um braço. Você sorri calado quando vê a imagem de Lampião decapitado, eu sei. É o pior sorriso que existe.
E todo mundo sabe que no sítio da sua avó você ajudava a sacrificar os frangos. Você adora contar de que maneira. Pelo pescoço.
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aramismerki-blog · 9 years ago
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François e Rincon se conheceram na fronteira de Alianthea e Coantara. Fizeram uma sinfonia de cordas e tambores. Sinfonia em dois. A composição se estendeu por semanas. Um pouco em um país, um pouco no outro. A música os transportava. Passaporte era o amor pelo som. Viajaram o mundo. O período que passaram juntos está registrado. E até o chá que Rincon preparava pode ser ouvido para aquecer a noite.
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aramismerki-blog · 9 years ago
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Olhos de iceberg
Sala de aula à meia-luz. O conjunto de lâmpadas próximo ao quadro apagado, o outro conjunto, a metade de trás, aceso. O aluno sentado perto do interruptor foi quem fez o favor. A luminosidade pouca é para que se assista ao vídeo que o professor rodará no projetor. Ele abre o navegador, pesquisa o que deseja exibir, encontra. Clica no play.
Uma manifestação que aconteceu no Rio de Janeiro. Filmagem amadora, câmera nervosa, ninja. Vertiginosa. E não pela instabilidade do cinegrafista, que corre para chegar perto de dois policiais militares que agridem uma garota no chão. A vertigem foge um pouco do enquadramento, mas está lá, em chutes e golpes de cassetete contra uma pessoa que estava protestando. Estava protestando, foi abordada violentamente e caiu no chão. Uma garota de dezenove anos, estudante. Que poderia ser uma professora, ou um professor. Poderia ser um menino de onze anos, batedor de carteira. Poderia ser tanta coisa. Como pode uma coisa dessas? Grande provocação essa do professor. Repete o vídeo de um minuto e meio e se encaminha a uma cadeira. O vídeo ainda mostra os policiais dando um sacode no cinegrafista que, persistente, segue gravando a truculência.
Os olhos azuis gelados do provocador estão na plateia de alunos. Silêncio na sala toda após o término da exibição. Senta a cadeira giratória voltada para a turma, olhando arregaladamente, o pescoço rijo e os ombros um pouco erguidos, os lábios se apertando. O indagador, em silêncio, provoca. O provocador indaga em silêncio. É a sua maneira de começar a aula sobre documentário para uma turma de estudantes de jornalismo. Cada um da sala reflete sem verbalizar resposta à pergunta não feita. Algumas pernas ansiosas se mexem e levam a cadeira de rodinhas no ritmo, ligeiramente de um lado para o outro. 
Os olhares vertiginados correm a sala e trombam duramente nos azuis congelados. Que desmoronam como um iceberg derretendo.
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aramismerki-blog · 9 years ago
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Museu do barro espiritualizado
Estava no aperto de um mochileiro sulamericano na zona do euro. Mesmo assim quis porque quis ir ver múmias, esculturas, pedras, barros etc na Ilha dos Museus de Berlim. Paguei lá uns 16 euros (suficiente para 4 ou 5 refeições de viajante solitário) para visitar o Neues Museum. Fui, voltei, li todas as plaquinhas de informação. Para fazer valer o investimento, diria que esgotei aquele prédio que quase foi destruído num bombardeio aéreo durante a segunda guerra. O banheiro era limpíssimo e silencioso. Enquanto pude, me livrei da mochila de 15 quilos, seguramente guardada nos lockers do museu, e alimentei a alma com conhecimento sobre pré-história e antiguidade.
Subi as escadas para conhecê-la. Haviam peças antes da sala exclusiva em que ela era o centro. Demorava em cada artigo, só para alimentar a expectativa. Que nem quando eu estava estudando e prometia a mim mesmo um chocolate ー  só depois de terminar todos os exercícios. Absoluto controle e calma para postergar o prazer. Como comer pipoca doce de uma em uma ao invés de encher a boca.  
E aí então, ao seu recinto. À volta, paredes de tecido negro. Iluminação pouca e direcionada. Esperei os três visitantes que estavam lá saírem. (Como ela não é cercada de gente como a Gioconda? Bem fizeram em botá-la na última sala, quase escondida). A segurança, senhora de seus 45 anos, permaneceu plantada. Compartilhei com ela o meu momento junto do Busto de Nefertiti. Menáge à trois alemão, egípcio e brasileiro. Sem som ambiente, sem odores, sem nenhum contato. Uma congelada redoma de vidro conservando o olhar enfeitiçado da escultura perfeita. A memória não fixou os desgastes da pintura. Mas fixou, gravou, tatuou o pescoço esguio. Entendi Drácula e quis chupar sangue daquele barro.        E aí tempos depois encontrei o João Antônio confessando numa carta:
“(...) fui algumas e seguidas vezes no Museu Egípcio, onde está, perene e incrivelmente espiritualizada, a cabeça de Nefertiti. Há uma harmonia naquele rosto, coisa rara, momento raro. O pescoço é extraordinário também. O artista que esculpiu devia estar apaixonado por aquela mulher. “
Pois então, três apaixonados ー  o escultor, JA e eu. Apaixonados por Nefer. Certamente são mais.
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aramismerki-blog · 9 years ago
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Calcanhar
A voz da Adriana Calcanhoto tem uma sombra trêmula Por que eu gosto de morder o calcanhar do meu sobrinho bebê Elencar mentalmente canibal, antropófago, pedófilo, podólatra O chamo secretamente de Tobillos e acho isso péssimo
Fevereiro vai tramar uma tempestade de aniversário Se Ferreira Gullar tem a cabeça de uma escultura Nós vamos assistir ao futebol de chinelo dos meninos Escrever corajosamente sobre os tendõezinhos descalços
O seu cabelo também é curto e aponta para a direita  A gente treme as cordas vocais em conjunto Eu gostaria de presentear com uma pedra ou uma concha Não com disco do Milton Nascimento e livros de poesia
O cabelo do Gullar ou da Calcanhoto? ou o teu O meu? São cortinas entre um portal e dois mundos Os ossos e músculos são moles naquele pé de bebê Para eu arranjar na boca e me esconder nas franjas
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aramismerki-blog · 9 years ago
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Haraquiri no Iguatemi
Alice pediu para ver plantas de verdade. Eu só conhecia jardins sintéticos.
Caminhamos por concreto, por ladrilhos, porcelanatos. Foi com muita vergonha que apontei para o pequeno campo de golfe na praça central do shopping. 
Em um estacionamento, junto a parede, uma porção de terra com espadas-de-são-jorge despontando. Eu nem havia visto. Alice caminhou dramaticamente, empunhou uma folha e enterrou em si.   
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aramismerki-blog · 9 years ago
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Às voltas da praça preguiçosa - Crônica de sábado à tarde
"[...] E quando vai à rua, à maneira de um poeta, Ele sabe aureolar a coisa mais abjeta, Sozinho e sem rumor, como um rei se introduz Nos hospitais da mágoa e nas mansões da luz!" O sol, de Charles Baudelaire 
Se numa tarde o sol brilha e não esquenta muito, na medida apenas para dourar o musgo das calçadas, o dia serve bem para treinar a estranha esgrima que é observar as figuras da cidade. O sábado, no período vespertino, converte o Centro num marasmo. Os mundos da razão e do desejo são os mesmos, a lotérica em que se paga contas é a mesma em que se sonha com prêmios milionários. Mas lotérica nenhuma está aberta agora. A Praça XV é como uma grande velha esparramada no sofá. Forte, sim, entendida de muitos assuntos, mas que está, ali sob a Catedral, somente dedicada à preguiça. As mesas de cimento estão ocupadas por homens jogadores de carta e dominó. Tomando as latas de Skol que compram na esquina, parecem estar no quintal de casa. As mulheres varredoras da Comcap, trabalhando a essa hora de sábado, parecem, também, estar no quintal daqueles homens.
Um cano cospe água no Edifício Otília Eliza e dois cidadãos, um idoso e um rapaz, debatem o problema. Ao lado, na janela azul do restaurante, um velho debruçado igual às estátuas namoradeiras. O prédio seguinte é a imponente construção que abriga nada menos que a Superintendência do Patrimônio da União, evidentemente fechada no final de semana.
Em frente, ao meio-fio, começa o esboço de vida importante: um furgão com janelas vendendo sanduíches. Na lataria, entre outras coisas estão pintadas as palavras burger e gourmet. Outro automóvel, com paleta e gourmet inscritas, está ao lado vendendo picolé, seguido por uma bicicleta equipada com um barril (chopp artesanal, segundo a faixa presa no guidão).  Ninguém comendo búrgueres ou chupando picolés. Mas há sim vida importante por ali. Meia dúzia toma o chope, outra meia dúzia apenas existe sem consumir nada. O motivo de reunião está no prédio ao lado da Superintendência, onde uma lousa explica em caligrafia sinuosa que acontece A Feira de Artes.
Pelas janelas da Feira, saem músicas brasileiras. A dúzia que toma um ar ou cerveja balança a cabeça timidamente. Quando toca Anunciação, de Alceu Valença, as varredoras do outro lado da rua riem alto de um dos jogadores de carta que parece o cantor pernambucano. Ao som de Tim Maia, um senhor com a camisa do Avaí que assiste ao dominó dança de braços abertos.
Um rapaz estaciona seu New Beetle numa vaga apertada. “Bom que sábado não tem que pagar pra parar na rua”, diz cumprimentando o cinquentão de óculos, despenteado, que fuma sozinho a uns metros da Feira. O sujeito que pegava a brasa do cinquentão naquele instante, com faro para negócios, solta: “Mas pelo menos tu paga o valor de moto com esse carrinho aí! Hahaha!” Apesar dos dentes muitíssimo brancos, o rapaz do New Beetle sorri amarelo. Ainda assim, o sujeito oferece seu serviço: “Ô, doutor, deixa que eu cuido aqui pro senhor. Para o senhor ir ali tranquilo, eu cuido aqui, pode deixar”. O rapaz tenta falar algo, embasbaca-se, e o cinquentão o interrompe, diz que não precisa, que estão ali na frente mesmo, agradece. O sujeito se retira, “claro! beleza, senhor, beleza”, e em um segundo some pela Praça XV.
Uma moça muito branca, de cabelo muito preto, com a boca pintada de azul, tira fotos com o celular. A Feira de Artes ocupa um prédio cor de café com leite, as janelas e a porta são muito grandes, cor de chocolate. A moça não consegue capturar o edifício inteiro sem os furgões e o pequeno carro do rapaz. Reclama disso com uma amiga e encosta na parede café com leite, olha para baixo com o celular na mão e espera ser fotografada. Colocar fotos da Feira na internet dá direito a descontos.
Talvez quem goste de artes não coma hambúrguer nem picolé. As barracas sobre rodas preparam a retirada. De cerveja em bicicleta o pessoal das artes gosta. Mas o barril está chegando ao fim e agora expele muita espuma.
Uma mulher com seus cinquentões de idade e um rapaz, mais novo, com rabo de cavalo, ambos muito discretos, desde o começo da tarde vão à lanchonete da esquina comprar Skol, abastecem seus copos que deveriam ter chope e voltam sorrindo para A Feira de Artes.
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Foto: Florianópolis Antiga
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aramismerki-blog · 9 years ago
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Dois pairando sobre a via rápida
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A muitos pés de altitude, distante de qualquer ponto de referência, é difícil notar a rapidez com que se desloca. Voar rasante, próximo à terra, torna a velocidade visível. Para dias de cabeça nas nuvens, andar de bicicleta, para mim, é voar baixo. É botar os olhos no horizonte e manter atenção no trecho a ser percorrido. Criado o hábito, pode ser um jeito diferente de flanar, concentrado em observar a si, fatigar os músculos, tipificar sujeitos da memória e buscar a importância dos caminhos.
O mangue, o aterro, o shopping. Inviável atravessar as vias de automóveis velozes para alcançar a ciclovia vazia. Sobra a alternativa suspensa: passar sobre a via.
Infinitos carros abaixo da passarela. É fácil esquecer que aquelas máquinas são conduzidas por gente. Parecem monstros automatizados e desalmados. Uma multidão deles em movimento, em ambos os sentidos.
Pairando, pedalei pela passarela. Cruzei com uma alma só como a minha. Um homem velho, cabeça coberta por um boné, agasalho largo, tênis em péssimo estado, debruçado no parapeito observando as casas respeitáveis da Trindade. Vigiava alguém? Pensava em se jogar? Não vi sua expressão, mas senti na atmosfera que seus pensamentos voejavam.
Na estrada, na calçada, na ciclovia, na pista não se pode parar, pois atravanca-se o caminho dos outros. A cidade é trânsito e alguém parado é suspeito. Lá em cima, espiando o (seu?) bairro quieto, o homem intrigou-me. Saí da passarela, sentei entre o mangue e a ciclovia, setenta metros às costas do velho que olhava a Trindade. Os poucos ciclistas que passaram suspeitaram de mim, parado ali.
Ele levou um tempo para sair dali. Desceu a rampa muito devagar. Adentrou a Trindade. Eu o segui, a pé, carregando a bicicleta, bem distante e quase parando atrás de árvores e postes. Fazíamos o trajeto que leva a minha casa.
Uma cobra chamada Lauro Linhares. Na cabeça, a universidade, no rabo, a penitenciária. Ou o contrário? Um  taxonomista dos tipos do asfalto viu e escreveu a alma das ruas. Lauro Linhares, arriscaria eu, tem alma coral, diversa e disfarçada, venenosa qual a serpente.  
O velho deslizou por ali. Entrou numa das transversais em direção ao morro. A três quarteirões do meu prédio. A calçada acidentada tem musgo, tem santinho de político. Casas mais, outras menos cuidadas. Aguardei ele se distanciar. Ia lento, com as mãos no bolso. A gola do agasalho preto e o boné quase o escondiam totalmente. Um pedacinho da nuca grisalha era o que via, além do mistério quase materializado.
Sabia que haveria logo adiante uma entrada à esquerda, que dá noutra rua pela qual se retorna à Lauro Linhares. Mal pensei, subi na bicicleta, pedalei para ultrapassá-lo e ver seu rosto. A ideia era dar a volta no quarteirão e seguir com a investigação. Só pude mirar por um segundo e meio, portanto não sei quanto da imagem que tenho é real e quanto é imaginada. Um rosto enrugado e rosado, barba grisalha espetada, olhar vazio. Pedalei rápido. À esquerda, à esquerda, à esquerda, mais uma. O velho deveria estar lá, a uns duzentos metros, mas não havia ninguém além de mim por ali.  
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aramismerki-blog · 9 years ago
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Sevilla: cidade sinestésica
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Sinestevilla - Sevilla, cidade sinestésica
* Entremeado por poemas de João Cabral de Melo Neto
“Sevilla tiene un color especial”, declara a canção, ritmada na guitarra espanhola e que frequentemente sai da boca de turistas que nem falam o espanhol. A fama do verso é tamanha porque tem base na realidade. O grupo Los del Río (autores também de Macarena - que é um bairro sevillano), teve mirada precisa e sensível, pois traduziu o que todos os olhos dizem quando veem a capital andaluza. Quando é primavera, a sinestesia e a liberdade poética permitem trocar color por olor (traduz-se aroma, odor). O olor especial se deve às ruas muitíssimo arborizadas com naranjos, que se enchem de frutos alaranjados das copas ao chão, e estes exalam um cheiro doce e cítrico que oscila de intensidade a cada lufada de vento.    Alguns guias turísticos trazem a informação, não comprovada mas bem plausível, que Sevilla é a cidade com mais pés de naranjos do mundo. O guia que me disse isso azedou um pouco sua credibilidade quando abriu uma das tangerinas de la calle e ofereceu para que eu provasse. Elas são extremamente amargas, eu tive que cuspir e me babei em frente às colegas canadenses com quem recém havia travado uma charla.
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  Cidade Cítrica
Sevilha é um grande fruto cítrico, quanto mais ácido, mais vivo.
Em geral, as ruas e pátios arborizam limões amargos.
Mas vem da cal de cores ácidas, dos palácios como das taipas, 
o sentir-se como na entranha de luminosa, acesa laranja.
Sobre outras frutas, só que comestíveis, e sobre amizades entre jovens viajantes: ¡Gracias, España, por el tinto de verano! No calor mediterrâneo refresca-se com vinho tinto, refrigerante de limão e as frutas suculentas possíveis, cortadas em pequenos pedaços. Tudo junto e bem gelado. A forma clássica de servir é numa grande bacia, com uma concha para capturar as frutinhas. Por cerca de quatro Euros, alguns hostais descolados oferecem este elixir de Baco e de Carmen Miranda à vontade. Não raro, intercambistas e nativos aparecem nestes open tinto de verano. E é daí que vem a relação do drink com as canadenses do passeio turístico. A combinação de altas quantidades de tinto com o calor andaluz pode calhar numa amizade, tal qual Sevilla, com um color especial.
 *         
Sevilha andando
Só com andar pode trazer a atmosfera  Sevilha, cítrea, o formigueiro em festa que faz o vivo de Sevilha. 
Ela caminha qualquer onde como se andasse por Sevilha Andaria até mesmo no inferno em mulher da Panadería.
Uma mulher que sabe ser mulher e centro do ao redor,  capaz de na calle Regina ou até num claustro ser o sol. 
Uma mulher que sabe ser-se e ser Sevilha, ser sol, desafia o ao redor, e faz do ao redor astros de sua astronomia.
*
O clima da cidade é comparável ao do interior do nordeste brasileiro. A média pluviométrica anual é semelhante à da mesorregião do sertão pernambucano (de onde saiu Severino de Morte e vida severina. O autor, João Cabral de Melo Neto, escreveu sobre a secura e as cores de ambos os lugares). Céu quase sempre limpo, fincada na planície mediterrânea, admirar Sevilla do alto sempre vale a pena. Seguramente concordariam os católicos que tomaram o sul da Espanha do domínio árabe no século XIII. Para eles, valia tanto que até incrementaram o minarete da mesquita de Ishbilliya (nome da cidade quando muçulmana) com mais alguns metros ao transformá-la em Catedral de Sevilla. Pelo gosto de observar os horizontes cercanos ao rio Guadalquivir e por deferência católica, até 1992 não havia construção mais alta que a torre da igreja, chamada Giralda. O único arranha-céu da cidade, La Torre Pelli, tem a absoluta antipatia de moradores e visitantes. Toda obra verticalizada que surge reacende uma certa lei não-escrita que diz ser proibido construir edifícios mais altos que o Giraldillo. Giraldillo, perdão por não tê-lo apresentado antes, é o nome da estátua de bronze que coroa o topo da Catedral. Em tradução livre significa cata-vento. Sua pontinha fica a 104 metros do chão. Os guias contam que a origem desde apelido, foi a má instalação da peça, em 1568; meio solta, ela girava em seu próprio eixo. A despeito do decoro religioso, andaluzes também têm forte tradição piadista e não perdoaram. Informação para turistas: o topo da Giralda se alcança através de rampas. A torre da mesquita foi construída desta forma, os católicos mantiveram. O motivo, dizem os guias engraçadinhos, é que assim era possível para viajantes como Quixote e Sancho Pança subir a a torre no lombo de seus cavalos e burros. Hoje em dia, nada de tração animal. Visitantes tem que gastar as panturrilhas.  Em um dos últimos postos de observação, voltado ao Patio de los Naranjos (que possui as mais antigas árvores de Sevilla), vê-se um telhadinho forrado de moedas. Não há registros de superstição relacionada a isso. O que se sabe é que é coisa de turista besta. Um ruim de mira é capaz de perder uns bons níqueis até acertar.
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O ferrageiro de Carmona
Um ferrageiro de Carmona, que me informava de um balcão: "Aquilo? É de ferro fundido, foi a fôrma que fez, não a mão.
Só trabalho em ferro forjado, que é quando se trabalha ferro; então corpo a corpo com ele; domo-o, dobro-o até onde quero.
O ferro fundido é sem luta, é só derramá-lo na fôrma. Não há nele a queda de braço e o cara a cara de uma forja.
Existe grande diferença do ferro forjado ao fundido; é uma distância tão enorme que não pode-se medir a gritos.
Conhece a Giralda em Sevilha? Decerto subiu lá em cima. Reparou nas flores de ferro dos quatro jarros das esquinas?
Pois aquilo é ferro forjado. Flores criadas numa outra língua. Nada têm das flores de fôrma moldadas pelas das campinas.
Dou-lhe aqui a humilde receita, ao senhor que dizem ser poeta: O ferro não deve fundir-se, nem deve a voz ter diarreia.
Forjar: domar o ferro à força, não até uma flor já sabida, mas ao que pode até ser flor se flor parecer a quem o diga."
Submergir em Sevilla pode ser caro e seguro ou não tão seguro e gratuito. O jeito caro de mergulhar e sentir 100% do corpo em contato com a cidade é ir a uma casa de banho turco. A gratuita, e por conhecimento empírico não tão segura é nadar no rio que cruza o Casco Antiguo (região central), atravessado por pontes seculares como a de Triana e modernas como a del Alamillo (do arquiteto Carlos Calatrava) e protegido pela árabe Torre del Oro, o famoso rio Guadalquivir. São poucos os que ousam entrar nesta parte do rio, os praticantes de piraguismo (canoagem)  são a maioria, e ainda assim não se banham. Não há esgoto, mas há tráfego naval. No verão difícil de suportar, alguns muchachos de barrio se aventuram perto de um velho píer. Às vezes até saltam da ponte próxima à okupa em que fica a rádio comunitária Radiopolis. Fala-se que, em certo verão, um grupo de brasileiros e italianos fizeram dali sua praia. Nem de barrio, nem da okupa, mas um tanto desocupados e bem relacionados com os muchachos e com a rádio. Sem o costume de dormir na siesta, o “Guada” era o destino nas tardes absurdamente quentes. Embora desafiados pelos espanhóis de 13/14 anos, nunca tivemos coragem de pular de cima da ponte.
O Guadalquivir foi o destino de muito do ouro explorado na América. O atual Archivo de Índias funcionou como uma bolsa de mercadores do século XVI até 1785, quando tornou-se o centro de documentação das expedições ultramarinas. Ler As Veias Abertas da América Latina muda a forma de encarar o prédio do Arquivo, a Catedral e qualquer obra suntuosa em território ibérico.    
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Passar para a margem oeste pela ponte Isabel II é ir para o bairro que já foi dos ciganos, dos marinheiros, dos operários. Pode ser que até um morador não saiba qual é a ponte Isabel II. Mais fácil usar o nome do lugar ao qual a ponte leva: Triana. A personalidade é forte do lado de lá. Há quem se defina como trianero ao invés de sevillano. Pode-se ver e tocar no orgulho trianero  em quase toda construção de Sevilla. Numa praça, é sentar num banco de concreto e recostar-se, pronto - é o corpo-a-corpo com a mundialmente famosa cerâmica dos ateliês de Triana.  Os azulejos hechos en Triana seguem padrões geométricos, espécie de mosaico, referência total à arquitetura mudejar (da época da ocupação muçulmana). A palavra azulejo, diga-se de passagem, tem origem no vocábulo árabe que significa pedra pequena.
Desafio nível facílimo: achar um local com estátua católica, azulejos árabes e cercado de casas judias. Em qualquer praça do bairro Santa Cruz você estará cercado de elementos destas três religiões. Aproveite para comprar um sorvete e curtir a brisa que os becos sabiamente canalizam.
Sevilla é sentimentalmente intensa, para todos os sentidos. O paladar deseja vida longa aos bares com montanhas de guardanapo usado (sinal de movimento, e se há movimento é porque agrada aos clientes). E vida eterna aos bares que trazem, na camaradagem, porçõezinhas de azeitonas para acompanhar a caña (copo de cerveja). Três vivas para as azeitonas! Viva a cerveja Cruzcampo, nunca Alhambra. Bem que poderia cair azeitonas do céu no lugar dos naranjos. Para os ouvidos, o desafio da fala rápida e cantada do povo andalú. Para a alma, o flamenco. Arrepia acompanhar a guitarra, o cante e o baile, mesmo que seja numa brincadeira de amigos embriagados na Alameda de Hércules. A expressão artística do espírito dramático da Andaluzia. Entre Beatles e um pop rock espanhol, só pra descontrair, uma música gitana que faz chorar um estudante brasileiro que porventura está na roda.
*
Cidade de Nervos Qual o segredo de Sevilha? Saber existir nos extremos como levando dentro a brasa que se reacende a qualquer tempo.
Tem a tessitura da carne na matéria de suas paredes, boa ao corpo que a acaricia: que é feminina sua epiderme.
E tem o esqueleto, essencial a um poema ou um corpo elegante, sem o qual sempre se deforma tudo o que é só de carne e sangue.
Mas o esqueleto não pode, ele que é rígido e de gesso, reacender a brasa que tem dentro: Sevilha é mais que tudo nervo.
                                                         ***
A você que chegou até aqui, tenho um pedido. Ajude a manter em pé o La Carbonería, no bairro de Santa Cruz, taberna icônica de Sevilla, um raro local que apresenta espetáculos de flamenco regularmente e não cobra pequenas fortunas. A ameaça vem do proprietário, que se recusa a renovar o contrato de aluguel. De longe ou de perto, o que podemos fazer é pressionar. Assinar este abaixo-assinado é uma das formas. Pelos espaços culturais, pelo flamenco. Assinem!
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aramismerki-blog · 9 years ago
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19 de agosto de 2015
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Foge pra debaixo da saia Claro que é macho Jurubeba, diz o cronista Com h, desde Homero Se correr o lobisomem pega Machinho compreensivo Foge como se fosse pro colo da mãe Pra fugir do mundo Vai pra debaixo da saia Todo emaranhado no cabelo das pernas e do sexo Dono do mundo quando embriagado Poeta pidão por beijo e amor Pianinho que nem Martinho Voz limpa de 1972 Áspero e emotivo E doce que nem Pedro Luis e Ney Certamente um relacionamento abusivo Em linda poesia de coração vagabundo No ritmo irregular de um cardiopata Todas as promessas do mundo Todas sinceras
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aramismerki-blog · 9 years ago
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26 de maio de 2015 - e-mail
“Você é um capítulo incoerente na minha vida.” Recebeu em um e-mail. Ele que se aproximou. Envolveram-se. Realmente não tinham a ver um com o outro. Ambos sabiam disso. O mundo via. Capítulo incoerente: agora, para ele, era isso. Há uma semana tinha falado à melhor amiga que era um “lance meio aventura”, ela ficou sabendo. Agora é capítulo incoerente.   Eram dez linhas no e-mail. Um monte de lugar-comum, inclusive o destacado acima. Este foi o único que a fez realmente pensar. Pois só merece capítulo da vida coisa com importância. A resposta, uma frase, digitada após uma garrafa e meia de vinho com a companheira de apartamento: Se este é um capítulo, meu deus, que livro bosta
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aramismerki-blog · 9 years ago
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11 de maio de 2016 - carta
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Ser extremo. Estou agitado e escrevendo em pé, que nem o Hemingway fazia. Fumando na janela, com o computador no parapeito. Quando estou numa conversa empolgante fico desse mesmo jeito. Não gosto de ficar parado. Pra revisar, depois, será outra coisa. Agora é o fluxo. [O ritmo flui bem demais nestas sentenças curtas. Tem energia em tudo que eu escrevo aqui, mas a verdade é que não tem propósito. Energia tem, de sobra, mas não há foco neste bloco de texto que chega como turbilhão. Consigo derrubar o leitor. É o objetivo? Pode ser. Mas tem propósito? Não enxergo. Não me vem a mente.  Isso apavora, impacienta, fode a vida.]  Outro cigarro já está queimando. Acomodo-o no cinzeiro para buscar mais café na cozinha. Coloco o computador de volta na mesa. São uma e meia e estou tomando café, puta que pariu. Amanhã será mais um dia ruim.  Mas ah!, veja só... eis que encontrei propósito pra tudo isso aqui enquanto estava lá pegando mais café. Tinha pensado nisso durante a tarde: vou me mudar pra outra cidade e concretizar o que projetei pra minha vida: ser um escritor. Sim, tal qual Arturo Bandini. Vou para minha Los Angeles, terei meu agente, alcançarei destaque de estrela ascendente com o meu O cachorrinho riu. E o sucesso será questão de tempo. Com a grana do começo quero dar presentes para a família, questão de gratidão. Mas serão poucas visitas, pois ser famoso ocupa tempo. Novos amigos vão sempre querer minha companhia, a maioria das vezes por interesse, não sou bobo e sei disso. Viagens, hotéis e o caralho.  Porra, parece que não quero ser escritor, quero ser rockstar. E existe escritor-estrela assim? Vai existir. Do tipo inteligente, charmoso e avesso à grande mídia - pois destes bad boys que são intrigantes que eu quero ser. Aparecer em TV por assinatura tudo bem. Talvez dê pra chegar lá. Dá sim, eu tenho tudo na minha cabeça. Que nem o Bandini. Mesmo sonho americano, lá no horizonte.  Imaginar, projetar, planejar cada detalhe é tão bom quanto realizar, eu acho. Sei do que tô falando. Porque o meu conto, assim como O cachorrinho riu do Bandini, foi muito republicado, curtido e elogiado. Das realizações, esta me põe como futuro escritor de sucesso. Dos sonhos, já me vejo com tudo que quis.  Eu ainda não mudei de cidade. Ainda não mergulhei para a viagem sem volta em busca do meu objetivo. Quando eu for, amiga, espere por boas notícias. Talvez eu suma por um tempo, mas fique tranquila que ressurgirei. E no futuro vou dizer em entrevistas que escrevia pra você de madrugada, fumando e tomando café, ao invés de estudar. Considero muito a sua amizade. Nunca esquecerei do seu apoio com o meu primeiro conto. Você foi quem me disse que ele era o meu O cachorrinho riu e que eu era como Arturo Bandini. 
Muito obrigado, continuarei te escrevendo. 
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aramismerki-blog · 9 years ago
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2.016
2015 foi o ano que não escrevi nada. Nestes tempos de aplicativos para aumentar produtividade e otimizar tempo, de artigos sobre procrastinação e do tão inacreditavelmente épico marketing digital. Produtores de conteúdo, blogs e vlogs. Autopublicações, e-books. Nem meia palavra. Abstêmio. Celibatário. Mudo. Ano sabático. Eis que uma das dez dicas para escrever o artigo perfeito para o seu blog diz para ser extremo na escrita. Penso, por três segundos, em introduzir uma extremidade da caneta no ouvido e esmurrar a outra, pra usar de tinta o sangue que escorrer - apenas pra ser extremo extremo na escrita. Só penso momentaneamente. Não faço, não escrevo. E as rugas, os musgos, a ferrugem incrustam na mão. Grilhão da falta de hábito. Até deixei de mandar cartas. Era uma bela forma de se colocar em forma. Crônica de paixão adolescente, poesia erótica, aforismos satíricos, e um quase resumo de cotidiano, de banalidades e saudades. Quis esculpir nas palavras e, como desculpa, voltei a te escrever. Essa argila que eu não tocava há tempo, esse torno que não mais girava. Agora tenho nas mãos um arremedo, mas esta arte ainda não é. Escrevo, não envio. O barro volta ao seu monte disforme.
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