Tumgik
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Tamara
Essa é uma mulher que merece um livro, não só um texto. Apesar de ter ido aos seus dois últimos aniversários eu não me lembro se ela tem 35 ou 34 anos e é uma das mulheres mais brilhantes que eu já conheci. Lembra quando se faziam livros e seriados baseados na vida real de uma mulher forte e interessante? Ela seria uma dessas protagonistas que te fazem acompanhar a vida dela e seu dia a dia com fascínio.
Eu a conheci numa fase interessante. Formada em Direito, trabalhando como advogada em Salvador, largou a estabilidade e segurança do emprego pra percorrer o sonho que lhe foi exposto a vida inteira sem que, por muitas vezes, ela percebesse. Voltou para casa dos pais na cidade pequena para estudar Cinema. Quando nos conhecemos ela estava no mestrado, um processo difícil, daqueles que a gente sente transformar a alma. E eu sei disso porque era transparente o tanto que isso a influenciou. Era visível em seu corpo, em suas atitudes, em seus momentos de estafa ou de comemoração, nas expressões faciais extremas que não a permitem esconder muita coisa.
Tamara me ensinou muito sobre minha sensibilidade, minhas inseguranças, minha força e meus objetivos. Ela é uma das minhas influências femininas mais fortes e conseguiu isso em muito pouco tempo. Sua autenticidade não deixa ninguém ficar impassível. Ela é uma mulher segura, que defende suas vontades. O seu ‘não’ é mais forte que qualquer outro argumento e suas desculpas muitas vezes caem no simples e verdadeiro ‘porque eu não quero’. Eu aprendi com ela o alívio de ser sincera comigo, com minhas vontades e meus sentimentos.
Eu gosto de definir Tamara como uma pessoa que não é mesmo para todos. Num mundo em que a gente é muito condescendente em prol dos bons costumes de trato social, lidar com uma pessoa sincera e incisiva é difícil. Mas é muito melhor para nossa mente quando paramos de tentar agradar a todos e somos sinceros conosco. Ela parece flutuar em um patamar mais alto que o das pessoas comum, mais alto que o das pessoas ligeiramente incomuns também, e sua postura é confortável quanto a isso. Ela também sabe que não é para todos e está em paz com isso.
Ela é uma pessoa difícil de conquistar. Geralmente, as pessoas mais difíceis de conquistar são as mais interessantes. São as pessoas que não vão falar qualquer coisa, ou inventar fatos esdrúxulos e desinteressantes para conseguir atenção e companhia. Quando eu pensei que a tinha conquistado eu percebi que não era assim tão simples. Conquistar Tamara não é uma questão de truques ou um ponto realmente alcançável, mas um processo contínuo que deve ser merecido em cada momento que você compartilha com ela. E ainda assim, ela vai ser sincera e te dizer vários nãos por que ela simplesmente não tem vontade de dizer sim no momento.
Lidar com ela me fazia questionar o que eu sou o tempo todo. Pessoas que fazem isso comigo tem um poder magnético sobre mim, afinal não é uma via de mão única. Por mais que não dure, qualquer contato com pessoas assim me fazem saber mais sobre mim, me melhorar ou me aceitar. E na companhia dela eu fiz tudo isso e continuo a fazer mesmo de longe.
Tem várias cenas marcantes de Tamara em minha cabeça que eu colocaria em um filme sobre sua vida. Como a deusa do mar, em Moreré, tão confortável dentro de si e reluzente. Como a escritora apaixonada, executando suas tarefas mesmo em reuniões de amigos. Como a promotora das melhores comemorações de quase-nada. Como a produtora competente e solicitada, exausta, mas feliz. Como a cozinheira alternativa, testando sabores com rigor. Como a advogada fora da área que nunca larga a responsabilidade da profissão. Como a pessoa que me fazia viver a adolescência dos anos 90 que eu sempre sonhei ter. Como aquela que te prendia em qualquer coisa que dizia, pois cada palavra dela é como parte de uma aula importante que você não quer perder, seja sobre política, filosofia, arte, sexo, cabelos, pessoas ou sobre a imensidão bela e indescritível do universo.
Sempre que penso em definir assentos para os poucos que eu colocaria em uma nave espacial para salvar do apocalipse mundial e dar um rolê no espaço ela tem lugar marcado. Solicitado, inclusive, pois sei que ela não me perdoaria se eu fosse para um rolê no espaço e não a levasse.
Eu espero somente continuar merecendo a presença de Tamara. Não tem fórmula para eu ser merecedora, isso depende das vontades dela e de seu interesse, o que é ainda mais fascinante. De qualquer forma, seja muito ou pouco tempo em que nossos caminhos permaneçam paralelos, Tamara abalou meu mundo e meu ser com força absurda e de forma permanente. E eu a agradeço muito pela bagunça.
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Manoela
Um arquivo sobre as mulheres que eu vejo. Eu estava sem conseguir decidir sobre qual falar primeiro, então decidi começar por mim. Apesar de não me ver muito bem, eu me conheço e sou mulher. Brasileira, 27 anos, atualmente perdida em todas as questões da vida. Atormentada pela ansiedade e pelos 30 que se aproximam. Formada jornalista, tentando entender como isso faz parte de minha vida de fato.
A morte de minha mãe me despertou muito intensamente para o mundo feminino. Eu tinha perdido o meu modelo principal de mulher e isso me fez tanta falta que meus olhos abriram para tentar encontrar pedaços dela em todas as outras. Não sei dizer se achei partes dela em outras mulheres, mas achei mulheres incríveis, que devem ser memoradas, adoradas, admiradas e homenageadas.
Estou tentando não cair em apenas um dos clichês comuns quando se fala de mulher, porque todos esses clichês fazem parte de uma profundidade maior do que a própria consciência. Coisa que não pode ser medida por lógica, mas sentida, como quando se deixa afundar no mar, sem luta e sem medo. Pois é nesse nível de profundidade que o feminino existe. Além da própria mulher, além do humano e além do divino. Além do natural e do sobrenatural.
Me entender como mulher é buscar essa profundidade. Mais do que buscar, é compreender essa profundidade. Entender quem eu sou, onde pertenço, e ir além disso. Eu sou uma pessoa confusa e recentemente tenho tentado conviver com a verdade de que sou muito sensível. O mundo real e as coisas concretas não são muito minha praia e eu sofro por isso. Sofro tentando me encaixar numa realidade na qual não acredito ou confio.
Eu gosto de dizer que sou uma bruxa. Gosto de pensar que minha descendência vem de mulheres que não se conformavam com o mundo, como eu. Que tinham uma sensibilidade quase mágica para as coisas. Eu gosto de pensar isso como forma de explicar os caminhos pelos quais me deixo levar e nos quais encontro pessoas maravilhosas. Mulheres maravilhosas. E no fundo, eu não sei logicamente como ou porque isso acontece.
Ainda acho que toda mulher tem um pouco de bruxa e isso vem do feminino. Não necessariamente só para mulheres, mas essencialmente feminino. E parte de minha busca pelo poder feminino vai ser fazer essa breve análise sobre cada uma das mulheres que marcaram minha vida de uma forma ou de outra.
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