Tumgik
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Fui criada em família católica e, mesmo não sentindo que pertencia àquele lugar, obrigada a ir semanalmente à igreja, fazer catequese, crisma, apenas por medo (do inferno, quando criança, e dos sermões de meus pais, quando adolescente). Nunca encarei homossexualidade como algo "anormal" ou até mesmo pecado, sabia que eles existiam e não entendia muito sobre, nem mesmo por que minha família dizia sentir tanto nojo quando via um casal de lésbicas se beijando na praça. 
Quando era adolescente, sonhava constantemente em beijar algumas amigas e isso me despertava um calor que jamais sentia pensando em garotos. Na mesma época, tinha uma amiga (virtual) bissexual, e gostava de flertar (mesmo que inocente e platônico) com ela, falando sobre o que ela faria comigo se algum dia nos encontrássemos. Alguns anos mais tarde, tive um relacionamento com um garoto que conheci, escondido de meus pais, e sempre contava para minha melhor amiga (da época) sobre o que fazíamos e tentava parecer empolgada, mesmo não conseguindo sentir nada. 
Depois de um tempo, já na faculdade, me enturmei com um grupo de mulheres que mais tarde descobri serem lésbicas e fui entendendo melhor sobre como era a vida delas. Por um período, reprimi meus sentimentos sobre mulheres, até finalmente me apaixonar e ter um relacionamento com uma. Passei as primeiras semanas negando meus sentimentos a mim mesma, por medo do que enfrentaria no futuro em consequência deles, e apenas alguns amigos sabiam sobre meu namoro. Mas logo depois, a felicidade e o entusiasmo me preenchiam e queria que o mundo soubesse como eu me sentia e quem me fazia sentir tudo aquilo. Não planejava contar aos meus pais, especialmente meu pai, pois imaginava que sua reação seria a pior, mas com o passar dos meses eles foram jogando indiretas, suspeitando de minha "amizade" com minha namorada, até que um dia meu pai me confrontou e acabei contando sobre tudo. Ele me aceitou, por dois dias, até minha mãe dizer que jamais aceitaria isso, que fui influenciada por "aquela vagabunda, oportunista" e que estava morta para ela. Meus pais, especialmente minha mãe, passaram a me ignorar constantemente em casa e me levaram à "Missa da Salvação", onde minha tia me abraçou e disse "Espero que essa sua depressão passe". 
Me desapeguei de meus familiares, sentindo que só precisaria deles até ser financeiramente independente, e o estresse que passava em casa fazia com que não conseguisse passar dois dias sem discutir com minha namorada. Minha mãe quis que eu fosse à uma psicóloga (que tinha certeza que eu apenas namorava uma mulher porque meus pais me fizeram ter aversão à homens). Algum tempo depois, com o término meu namoro, meus pais passaram a agir como se nada tivesse acontecido, mas ocasionalmente fazendo perguntas relacionadas à minha ex. Com o tempo, fui saindo do armário para mais amigos e cortei relações com todos que pudessem ser contra minha orientação sexual, mas ainda, para meus pais, é como se o período em que namorei nunca tivesse existido.
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Eu passei muito tempo sem me "identificar" e isso estava incomodando a minha formação. Eu comecei a ler muito sobre gênero... Nunca me identifiquei com NENHUM, até que uma amiga minha que me ajudou bastante nesse processo de auto conhecimento, me mostrou uma imagem com vários tipos de gêneros e... 
Descobri que sou "NADA", isso mesmo, um nada. Sou agênero e ser agênero é isso. Nunca gostei de "ter" um só gênero... ou dessa ideologia de ser homem ou mulher.
Moro em uma cidade muito pequena e preconceituosa. A minha família não sabe que agênero e "bissexual". Ninguém da cidade sabe do meu verdadeiro "eu". Me sinto preso... Não posso ser quem eu realmente quero.
Sofro de depressão e outras merdinhas e não estou preparada para enfrentar ofensas, preconceitos e humilhações. Talvez, eu seja fraca por não querer lutar, mas é bastante difícil pra mim. No próximo ano faço 18 e quem sabe as coisas estejam melhores e que eu possa me libertar.
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Foi extremamente complicado e sufocante ter que lidar com a nova descoberta, porque desde pequena fui submetida a ter uma vida conservadora, metodica e tradicional. Demorei um tempo para tirar da cabeça a ideia de que iria para o inferno por ser quem sou. 
Hoje em dia sou ativista LGBT/feminista e pretendo ajudar pessoas que passam pelo mesmo que eu. Só minha mãe sabe que sou bi, ela é muito conservadora e tem medo do que a sociedade/família pensaria dela por ela ter uma filha não-hetero.
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Me identifico como gay desde que me entendo por gente, desde muito cedo acho que aos 2 anos de idade tenho lembranças de olhar para os meninos de forma diferente, quando criança eu me sentia atraído por "coisas de meninas" como por exemplo, princesas Disney, cabelos longos, e ficava muito encantado o quão bonito era os vestidos. 
Um filme que marcou muito a minha infância foi O Mágico de Oz, eu ficava imitando a protagonista Dorothy, mas tudo sem ter noção de que estava "sendo gay" por que quando se é criança, esses conceitos simplesmente não existem, só quando você começa a ficar mais velho e notar que o comportamento dos meninos não é tão parecido com o seu. 
Meus pais se separaram quando eu tinha 8 anos e desde então eu moro só com a minha mãe, e em 1998 minha mãe se tornou evangélica e obviamente eu segui os mesmos passos. Desde a minha infância eu sempre cresci no meio evangélico, estudei em uma escola evangélica até formar no ensino médio, e sempre frequentava eventos da igreja e praticamente 99% dos meus amigos também eram da igreja, como consequência disso eu sempre fui um menino muito inocente com relação a sexo. 
Ao entrar na adolescência eu não conseguia entender o que era sentir prazer vendo mulheres peladas e cenas de sexo (sempre achei as cenas de sexo muito desagradáveis de ver) então eu meio que deixava essa questão de lado e me preocupava mais em jogar videogames, animes e etc.  Porém quanto mais velho mais os hormônios vão aflorando, chegou uma época que entre os 16 aos 19 anos essa questão de sentir atração por pessoas do mesmo sexo começou a ficar muito forte, mas por conta da minha inocência com o assunto e da minha religião na época eu não queria nem cogitar a ideia de ser gay, isso era um completo absurdo para mim. 
Chegou uma fase na adolescência que eu sofria muito bullying no colégio pois o maior valentão da sala convenceu a todos a me chamarem de Clô (fazendo referência ao Clodovil Hernandes) e sofria muito com isso, até de professores e do diretor, e durou até quase minha formatura. Então como todo adolescente começa a fase de masturbação, eu não sabia lidar com isso, aliás como eu só conseguia sentir atração por homens esse era um momento meio que obscuro pra mim, não me tocava e me recusava a pesquisar pela palavra "gay" no google, por que achava isso um absurdo, e também não gostava de ver cenas de sexo, apenas nudes masculina e contos eróticos e depois de apenas olhar antes de dormir me batia uma culpa enorme, e eu ficava com a consciência muito pesada e ficava chorando de tanto orar pedindo pra Deus tirar esse sentimento abominável horrível de mim, e isso se perpetuou até meus 19 anos. 
Até então eu nunca tinha ficado com ninguém, quando eu ia em festinhas na época da escola eu ficava muito nervoso quando tentavam me fazer ficar com meninas e o mais engraçado é que eu só tinha amigas. Eu sempre fiz o estilo de heteronormativo, porém era só conversar comigo e descobrir meus gostos meio que estereótipos de gays que logo as pessoas ficavam desconfiadas (isso acontece até hoje). Quando entrei na faculdade com 18 anos eu comecei a pesquisar muito sobre a homossexualidade porque eu não aceitava ser considerado uma aberração se eu não fazia nada de errado, então estudei tudo sobre o assunto e descobri que sou completamente normal e de certo modo fiquei muito aliviado, porém até então eu cheguei num consenso  que eu ia guardar esse segredo pra mim e ia viver como "uma pessoa normal", ia casar com uma mulher e tudo, porém obviamente isso não durou muito e comecei a entrar em conflito interno, mesmo tendo amigos gays e frequentar boates LGBTs eu não me aceitava , até que com 21 eu contei para um amigo muito querido e senti um alivio enorme! Pela primeira vez eu estava sendo eu mesmo e sincero com alguém e não estava sendo julgado por isso, aos poucos fui contanto para os amigos mais próximos e aprendendo e descobrindo que esse "mundo sujo" que as pessoas tanto falavam mal, na verdade era julgado injustamente e que os verdadeiros vilões da história eram os que julgavam. 
Em julho de 2015 depois de ficar muito por dentro das questões de minorias e depois de ficar indignado com o ódio e ignorância do movimento evangélico contra os gays, eu decidi tomar a decisão mais difícil de toda a minha vida: contar para a minha mãe.
A minha mãe é um capitulo a parte, ela é extremamente evangélica e repudia muito qualquer coisa que não seja relacionada ao mundo evangélico, sempre foi muito ignorante com os gays, a ponto de não conseguir ficar perto de pessoas afeminadas e de mudar de canal quando passava algum gay na TV, mas eu cheguei num ponto que eu preferia ser expulso de casa do que engolir toda aquela falsidade. Eu prometi pra mim mesmo que assim que me estabilizasse com um emprego eu iria contar pra ela, e foi o que eu fiz.
Quando resolvi, foi numa tarde de sábado e nem contei diretamente, fui contando aos poucos, ela ficou extremamente mal, começou a ficar branca, passava mal, falava pra ela mesma "eu não mereço isso" e depois de uma conversa longa eu achei que ela tinha reagido e aceitado até de boa, porém no final do dia ela me chamou para uma oração e meio que quebrando a "maldição" que ela disse que herdei dos meus ancestrais e que segundo a bíblia dura até a quarta geração. Depois disso os próximos meses da minha vida foram os mais tensos, com brigas intensas e falas absurdas vindo dela que até hoje me veem na cabeça, como por exemplo que ela tinha vergonha de mim, que ela iria morrer de câncer de tanto desgosto que eu trouxe para ela, e afirmações de que eu não nasci assim e que eu iria me curar dessa maldição e eu tentando explicar pelo menos o que era tudo isso mas ela se recusava tudo em nome de Deus.
Até que um dia as coisas ficaram tão tensas que ela me empurrou e me unhou me fazendo sangrar só por que ela se recusou a ler a definição de homossexualidade. Depois desse dia eu prometi pra mim mesmo que não iria mais brigar com ela pois nenhum argumento meu adiantava. Hoje em dia as coisas estão mais brandas, todas as vezes que vou sair com meus amigos ela me reprime, mas eu tento ignorar. Hoje posso dizer que sou uma pessoa 100% segura com relação a minha sexualidade e que por causa de tudo que passei na minha vida consigo ser muito empático e compreensivo com todas as minorias da nossa sociedade e sempre tenho a mente aberta para aprender e compreender todos, e acho que assim poderemos criar uma sociedade melhor e inclusiva para todos, por isso que apesar dessa luta diária eu me sinto muito privilegiado de ser homossexual e poder sentir isso na pele me permite enxergar e lutar por um mundo melhor.
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Eu me descobri trans com a informação, vendo páginas LGBT+ no facebook e pesquisando. Primeiramente achei que eu era não-binário, mas com o tempo fui reparando que cada dia que passava eu odiava que me tratassem no pronome feminino. Então eu me assumi como trans homem. 
Meus amigos aceitaram numa boa, claro que até hoje eles de vez em quando cometem algum erro, mas eu não levo em consideração. Logo em seguida cortei meu cabelo e fui em algumas festas; nesses dias me descobri panromântico. É lógico que a família percebeu algo de diferente em mim. Então vieram me perguntar se eu era lésbica. Neguei, até porque tenho um pai muito homofóbico e ele disse que me colocaria fora de casa se eu aparecesse com uma garota. As brigas eram constantes, eles alegavam que eu era lésbica e eu sempre negando (até porque sou pan e homem, logo não posso ser lésbica). Quando meu pai me obrigou a deixar meu cabelo crescer, eu resolvi parar de enfrentá-lo. Isso apenas causaria mais desconforto para a nossa relação e eu não tenho 18 anos ainda.
Felizmente, com meus amigos me apoiando, eu sinto que não estou sozinho. Sinto que um dia poderei deixar meu cabelo curto e usar as roupas que eu quiser. Com pessoas que eu confio e com o suporte da comunidade trans, sinto que serei livre, mesmo vivendo na sociedade transfóbica de nosso país. Todo dia eu estou aprendendo mais sobre as diferenças saudáveis do comportamento humano. Todo dia estou quebrando preconceitos que eu achava que não tinha, e descobrindo coisas novas sobre mim.
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Bom, o meu processo de identificação começou lá pelos meus 14 anos, quando a maioria das minhas amigas estavam de namorado, ou, falando sobre assunto de meninos eu sempre ficava meio de lado quando chegava esse assunto, porque, eu sempre soube que era ""diferente"" delas. Mas ao longo do tempo eu fui me descobrindo mais ainda é começando a me aceitar, eu via muitas pessoas comentando na época (pessoas preconceituosas ou até mesmo algumas pessoas da minha família) o quão eles não queria ter filho (a) e eu comecei a me preocupar pela minha família não aceitar. 
Até meus 18 anos eu me guardei da minha família e nunca contei nada, até nessa virada do ano eu decidi finalmente contar para minha mãe, e ela aceitou numa boa, até disse que já sabia, logo depois o resto da minha família começou a me aceitar numa boa. 
Conclusão, eu tinha medo que eles não me aceitarem eu acabaram me aceitando mais que eu imaginaria."
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Descobri o termo "assexual" aos 14 anos e fiquei bem surpresx, porque nossa! Tem um nome para descrever o que eu sinto! Tudo fez bem mais sentido. Contei para uma amiga na mesma hora e ela aceitou muito de boa, mais tarde o resto dos amigos foi descobrindo ou eu mesmo fui contando. Tentei contar para minha tia, achando que ia ter uma reação positiva, mas não rolou, ela disse que eu era "muito jovem". Eu nunca sofri preconceito direto, mas já ouvi frases estereotipadas que machucaram tanto quanto um insulto.
Foi no ano seguinte que eu me descobri nonbinary. Passei uns bons meses tentando achar em que lugar do espectro eu me encaixava, mas decidi deixar os rótulos de lado e ver o que o tempo me reservava. Por enquanto, "agender" serve para mim. Só me assumi como nonbinary para uma pessoa, tirando o pessoal da internet. Já ouvi de uma criança a famosa "você é menino ou menina?", tenho que lidar com binarismos o tempo todo, mas é assim que a gente vai tocando a vida, né?
E é isso.
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Eu nunca tive problemas nem a necessidade de sair do armário com a família na qual eu moro. Moro com minha mãe, meus 2 irmãos e 1 irmã e meus avós maternos. Minha mãe sempre me deixou confortável e nunca foi preconceituosa, assim como minha irmã. Meus irmãos sempre foram homofóbicos, mas eles me tratam com todo o respeito do mundo quanto a isso. Foi algo muito natural, eu nunca precisei contar, simplesmente ela viu que eu era e continuou a me tratar como sempre, apenas sempre perguntando sobre namorados e etc.
Como meus pais são divorciados, eu nunca tenho muito contato com a família do meu pai. Mas acabou que eles acabaram descobrindo por terceiros e foi uma tragédia, fui expulso do almoço e perdi total contato com eles, e minha mãe se sentiu muito culpada por ter contado por ela mesma.
Com meus amigos, no início, eu via a necessidade de sentar e fazer aquele discurso de "Senta aqui, precisamos conversar". Fiz isso com meus melhores amigos, mas depois vi que eu não tinha essa necessidade, que uma vez que minha família e amigos mais próximos sabiam e estavam ok com isso, foi uma naturalidade simplesmente ser como eu sou e responder "Sim, sou gay" para quem quer fosse que me perguntasse.
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Eu tinha 15/16 anos e estava bem na época em que havia começado a sair e a descobrir as coisas. Minha mãe já desconfiava e mandava indiretas sobre a minha sexualidade e eu ficava completamente perdida com as indiretas dela porque eu não tinha me descoberto ainda, até que um dia, um garotinho que eu gostava na época disse que queria ficar com uma amiga minha, e eu já tinha percebido que sentia algumas coisas por essa minha amiga, mas sempre achava que não era nada demais porque eu considerava ela muito importante pra mim por estar me acompanhando num momento difícil que era a separação dos meus pais e toda aquela coisa de BFF de garotinhas de 15 anos que fazem festa do pijama e contam segredinhos uma pra outra. Vi ali uma oportunidade de ficar com ele e ficar com ela. Para minha surpresa me senti muito mais contemplada de ter ficado com ela do que com ele, e passei a perceber meu interesse em mulheres.
Enquanto minhas amigas assistiam "Garota Infernal" e se incomodavam com a cena em que a Megan Fox e a Amanda Seyfried se beijam, eu pensava "poderia ser eu ali no lugar de qualquer uma das duas que eu ficaria bem feliz". Apesar de ficar desconfortável com as piadinhas inconvenientes de alguns amigos, comecei a me aceitar como bissexual, porque meu interesse por meninos não tinha "sumido" completamente.
Depois de ficar com várias meninas, quando entrei na faculdade, conheci minha atual namorada. Como éramos muito próximas antes mesmo de ficarmos pela primeira vez meu pai desconfiou e me perguntou sobre meu relacionamento com ela. Acabei contando que estávamos namorando (mesmo quando a gente nem tinha começado a namorar ainda) e ele não pareceu muito feliz com essa ideia (não parece feliz com essa ideia até hoje, pois ele só se refere à minha namorada com "aquela sua amiga"). Meu pai disse que ele me ama de qualquer forma, e que se eu gosto de garotas também, ele não pode fazer nada para me mudar. Mas deixou claro, com todas as letras, que nunca iria aceitar meu relacionamento. Já com a minha mãe foi mais tranquilo, apesar de às vezes ela demonstrar certo desconforto com o meu namoro. Ela e minha namorada se conhecem e se dão razoavelmente bem.
Não me lembro de ter sofrido algum preconceito (além do meu pai falar certas coisas que me magoam). Acho que o fato de eu ser bissexual contribui para que o preconceito venha de um jeitinho mais ameno. Não costumo me esconder quando estou em um lugar público com a minha namorada e não me importo que outras pessoas estejam nos vendo juntas. As vezes quando leio matérias falando da violência sofrida pelos LGBT eu penso em como eu sou louca de me expor tanto e me dá medo de andar na rua com minha namorada e alguma coisa acontecer com a gente. Mas logo penso que eu não sou obrigada a nada e eu tenho o direito de pegar na mão de quem eu quiser e beijar quem eu quiser, independente da pessoa ser homem, mulher, trans, o que for... ninguém tem nada a ver com a minha vida então foda-se!
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Eu acho que no fundo eu sempre soube que eu era diferente. Eu não tenho certeza do porquê eu levei tanto tempo para me dar conta desse fato, mas no fundo eu sempre soube.
Quando eu era mais nova, uns 11 ou 12 anos, naquela fase em que você começa a ter de fantasiar sobre sua vida amorosa, eu costumava fantasiar sobre garotas. Veja bem, eu sou uma garota, mas eu nunca me toquei que isso significava algo "anormal". Para mim isso nem era algo a se levar a sério, algo romântico, quem dirá que poderia ter algo a ver com a minha sexualidade. Sonhar com garotas, fantasiar sobre beijá-las? Completamente normal, eu ainda gostava de garotos. E eu realmente gostava de garotos, ainda gosto, e eu acho que isso me ajudou mais ainda a enterrar esses sentimentos. É fácil reprimir esse lado 'wow eu sinto atração por pessoas do mesmo sexo' quando você tem a opção de tomar o caminho mais simples. Quer dizer, é fácil por algum tempo, porque ignorar uma parte de si mesmo é algo impossível de se fazer quando você está preso a si mesmo. Mas por um bom tempo eu reprimi esse lado. Era fácil, era prático, e eu evitava ser alvo de situações desagradáveis, principalmente em um ambiente que me sufocava tanto quanto a escola. A maioria das pessoas sempre foram intolerantes, ainda são, e eu tive que aprender com o tempo a lidar com isso, mas na época eu não sabia.
Eu carreguei a minha vida normalmente, certa da minha heterossexualidade e pronta para afirmá-la a qualquer oportunidade que eu tivesse. O que dizia muito sobre mim, mas eu também nunca percebi. O tempo passou e eu conheci pessoas novas, pessoas tolerantes, e a influência dessas pessoas me levou a finalmente me deixar pensar sobre tudo aquilo que eu sentia. Eu me abri um pouco mais sobre aquela parte minha que eu sabia que era diferente, e eu comecei a me tornar ciente de que aquela parte realmente existia, reprimida dentro de mim. Mas eu ainda tinha dúvidas. Isso é, até eu me apaixonar por uma garota. Por algum tempo eu tentei esconder, evitar, e, eventualmente, correr. Mas você não pode correr de si mesmo. Ali, eu tive que aceitar. Eu gosto de garotas. Mas eu também gosto de garotos.
A primeira vez em que eu disse em voz alta que eu era bissexual foi sozinha no meu quarto no escuro. Eu chorei por horas, sem nem ter certeza do porquê. Olhando agora para essa memória eu acho que o medo era do diferente, e também da intolerância. Eu só sei que eu estava assustada, e eu não sabia muito bem o que fazer, então eu recorri a minha melhor amiga. Ela não teve nenhuma reação quando eu contei para ela, ela não levou um choque, ela não teve nojo de mim, ela não tentou se afastar. Ela simplesmente disse que estava tudo bem e a gente continuou a nossa amizade normalmente. Estava tudo bem. Nada de diferente tinha acontecido, não tinha nada de errado comigo, não tem nada de errado comigo. E eu continuei a minha vida, apaixonada por uma garota, escondida de todo mundo e sentindo como se o peso de uma mentira estivesse pairando sobre mim.
Aos poucos eu fui contando para os meus amigos mais próximos, os amigos em quem eu confiava. As reações foram positivas e, eventualmente, eu acabei me declarando para aquela menina que eu gostava. Por mais clichê que isso pareça, ela também gostava de mim. E foi aí que os problemas começaram, porque para poder ter algo com ela, eu precisava conversar com os meus pais. Minha mãe nunca teve problema com esse tipo de coisa, ela sempre me ensinou que todo mundo tem o direito de amar e ser amado e meu pai também nunca mostrou nenhum sinal de preconceito perto de mim. Mas mesmo assim, eu estava assustava, tão assustada. Eu e a garota que eu gostava acabamos nos afastando por motivos não relacionados a esse meu dilema antes de eu ter a conversa com os meus pais. E, ao mesmo tempo que isso me deixou muito mal, também me deixou muito aliviada, porque isso significava que eu poderia passar mais tempo escondendo.
Depois de um tempo, entretanto, a minha mãe começou a perceber que tinha algo de "errado". Ela começou a fazer um bocado de perguntas estranhas e, eventualmente, ela começou a perguntar sobre a minha sexualidade. Mesmo assim, eu não conseguia contar para ela. Aí, um dia, ela ficou bêbada e começou a me interrogar e dizer coisas do tipo: "Ei, você não é lésbica não, né? Porque se for pode esquecer que eu sou sua mãe." E "Se você me aparecer em casa namorando com uma garota, se prepara para arranjar outra casa para morar.". Ali eu entendi que os famosos 'nada contra, apenas não quero que meu filho seja' realmente existem. E aquilo me quebrou tanto que até hoje eu não consigo tirar da minha mente. Eu me escondo até hoje da maioria das pessoas, por medo do que pode acontecer.
É fato de que a abordagem que as pessoas têm em relação a bissexuais é mais 'isso é uma forma de chamar atenção, bissexualidade não é real' do que agressiva, mas eu ainda sinto medo. E me incomoda muito que eu tenha que esconder uma parte de mim e viver como se tudo fosse uma mentira, mas infelizmente essa é a nossa realidade. Só me resta esperar que um dia a mentalidade não só dos meus pais, mas de todas as pessoas, mude.
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Com 12 anos me coloquei a pensar que talvez sentisse atração por mulheres. Chorei o dia todo por isso com medo do que aconteceria comigo, mas com o tempo fui me aceitando. Até que em certo momento da adolescência passei a odiar meu corpo, minha vagina e principalmente meus peitos. Cheguei a pensar que eu poderia ser trans, mas até hoje não consigo ''me encaixar'' em nenhum gênero.
 Ainda odeio o meu corpo, não tanto quanto antes. A reação da minha mãe ao saber da minha sexualidade foi a pior possível: disse que eu era um fardo grande demais para ela carregar. Hoje em dia me faço de hétero, é o melhor que posso fazer por mim, até que eu tenha minha liberdade.
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Eu não posso dizer que sempre soube que era queer. Quando eu era criança, eu dei meu primeiro beijo em uma pessoa do mesmo sexo que eu e achava isso super normal. Porém, nunca contei para ninguém pois, se era normal, para que fazer alarde? 
A medida que eu fui crescendo, me relacionei com várias pessoas do sexo oposto, porém sem ter a satisfação completa. Aos meus 14 anos tive meu primeiro namoro com uma pessoa do mesmo sexo e me identificava bissexual. Após esse término, passei a preferir ficar com pessoas do mesmo sexo e aí veio a dúvida: será que eu era mesmo bissexual ou homossexual?
Eu enfrentei por muitos anos essa dúvida. Um dia, pesquisando mais sobre isso, descobri o termo queer. É fantástico como você se sente depois que se identifica com algo. Meus pais descobriram o que eu era da maneira mais bruta possível, vendo meu celular. Sofri ameaças, fui privada de sair de casa, até deixaram de se comunicar comigo por um tempo. Fui colocada na terapia pois minha mãe julgava que eu era doente, mas na verdade ela acabou me ajudando porque com a terapia eu pude me entender melhor.
Hoje meus pais não falam sobre o assunto comigo, até fingem que isso nunca aconteceu, o que eu pelo menos agora acho melhor. Hoje eu namoro uma pessoa agender que me faz muito feliz e planejo contar a minha família um dia. A pessoa que eu namoro me faz mais feliz do que qualquer outra pessoa independente da orientação faria. E se isso é errado, eu não quero estar certa.
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Fui criado num ambiente familiar de tradição católica, mais especificamente da renovação carismática, sempre soube que gostava de meninos, mas escondia isso de todos e de mim mesmo, passei minha infância participando de retiros espirituais e sempre ouvindo que a homossexualidade ou homossexualismo, como alguns ainda insistem em dizer, era pecado.
Quando tinha 16 anos retornei para a igreja católica e me aproximei de um grupo de jovens coordenado por um padre, em uma de minhas confissões resolvi contar a esse mesmo padre que eu sentia atração por outros homens: foi a primeira vez que verbalizei sobre a minha orientação sexual, nesse momento o padre me disse que eu não era gay e que eu deveria ter passado por algum tipo de abuso sexual na infância por isso sentia atração por outros homens, além disso ele me indicou a procurar ajuda com uma psicóloga católica que realizava um tratamento com homossexuais unindo elementos da psicologia e da igreja católica, segundo o padre, dentro do consultório dela havia um sacrário e ela utilizava técnicas de regressão para curar as pessoas.
Num primeiro momento não aceitei procurar ajuda por não ter condições financeiras, na época (2007), ela cobrava 1.200 reais para realizar o tratamento, com o tempo fui me distanciando da igreja e no ano seguinte comecei a cursar Ciências Sociais, o contato com o ambiente universitário foi fundamental para minha aceitação própria e para criar coragem e contar para minha família.
Em 2009 contei para uma grande amiga que eu era gay, parecia que tinha tirado um fardo das minhas costas, 18 anos com esse sentimento "reprimido" e no momento que eu percebi que poderia ter apoio de outras pessoas para lidar com toda a situação de discriminação as coisas se tornaram um pouco mais leves. Aos poucos fui contando para os amigos mais próximos, não por achar que todo tem a necessidade de sair por aí falando sobre a sua orientação sexual, mas por querer compartilhar isso com as pessoas de quem eu gostava e que faziam parte da minha vida.
As primeiras pessoas da minha família que eu conversei foram minhas irmãs, com elas não tive problemas, muito pelo contrário, sempre me apoiaram muito. Quando resolvi contar para minha mãe a experiência foi um pouco diferente, ela chorou, se culpou e disse que era uma fase e que eu estava sendo influenciado por outras pessoas, respondi a ela que era uma fase que durava 19 anos e que veríamos até quando duraria então, ficamos um tempo sem conversar, mas acredito que tenha sido necessário, hoje em dia minha mãe consegue compreender melhor minha orientação sexual, posso conversar com ela sobre isso tranquilamente. Com meu pai, a conversa partiu dele, ele viu uma foto minha no facebook onde eu estava na marcha das vadias com um cartaz que dizia: "dou o cu pq é meu, se fosse seu eu comeria", não foi uma conversa fácil, meu pai não se exaltou em nenhum momento, mas chorou muito quando disse que eu era gay e que não faria questão alguma de esconder isso, até hoje nunca mais conversamos sobre o assunto, eu não digo nada e ele também não me pergunta.
Em relação a situações de preconceito passei por uma que foi mais exacerbada, estava com amigos e com meu ex namorado num bar e a dona do estabelecimento pediu para maneirarmos, sendo que a única coisa que havíamos feito era ter dado um selinho e eu estava com a mão na perna dele, o mais contraditório dessa situação é que as donas desse bar são um casal de lésbicas e segundo elas não gostariam que o bar fosse rotulado de GLS. Quando trabalhava de educador social passei por uma situação constrangedora também, um grupo de educandos começou a questionar minha sexualidade perguntando se eu possuía mulher, namorada, filhos até o momento que me perguntaram se eu gostava de mulher, na hora fiquei um pouco nervoso e acabei respondendo que eu não tinha obrigação de responder nada sobre minha vida pessoal e que isso não afetaria nossa relação de educador e educando.
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Na verdade, a demora foi em entender "o que eu era". Desde criança eu me apaixonava por menininhas da escola, minha primeira paixão foi na 1ª série e eu tinha por volta de 7 anos. Mas não entendia na época.
Durante a adolescência eu reprimi muito meu desejo por meninas por entender que era algo errado. Sempre me vesti com roupas masculinas, brincava de "brincadeiras de menino" e para muitas pessoas isso era motivo para me chamar de “sapatão” e acredito que foi isso que me fez pensar que era errado.
Aos 15 anos, por conta de um seriado (The L Word) que eu assisti por indicação de uma amiga eu comecei a querer experimentar ficar com meninas. E aconteceu finalmente quando eu tinha 15 para 16 anos. A partir dali pude entender melhor o que eu era e me aceitar melhor. Minha família oficialmente ainda não sabe, porém nunca tentei encobrir nada e creio que no mínimo eles desconfiam.
Meu problema de contar para eles não é nem tanto medo da reação, mas é que eu não sei como fazer isso por não termos um diálogo, por nunca termos falado de relacionamento e sentimentos.
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Bom, me assumir ASSUMIR mesmo, de dizer para os meus pais e sair dizendo sem vergonha na cara nenhuma que eu sou bissexual só foi acontecer ano passado, mas de uma maneira bem estranha eu sempre soube que eu cortava para todos os lados possíveis. De início eu achava que era lésbica, principalmente quando eu tive minha primeira namorada e afins. Mas com o passar do tempo eu fui vendo que apesar de não ter experiência na ala masculina eu ainda gostava bastante dela.
O processo de descobrir o lado das meninas foi bem difícil, porque eu só queria experimentar mesmo, e para uma menina de 12 anos (idade que eu tinha na época) todas as opções eram válidas, até mesmo namorar com a melhor amiga, o que aconteceu, e acabou bem mal. No tempo em que as pessoas da minha escola souberam (eu e ela não éramos nada discretas) muitas começaram a falar mal sobre, e muitas das minhas amigas pensaram que se eu podia ficar com logo a minha melhor amiga, porque não com elas? Então começou todo aquele processo de afastamento de tudo e todos, que veio mais por minha parte, já que eu não aguentava mais todo mundo falando pelas minhas costas.
Tirando essa pequena parte da pré-adolescência eu tive a sorte de nunca ter sofrido outro tipo de preconceito pesado, talvez um pouco quando me assumi para minha mãe, que até levou "numa boa" contanto que eu não saísse me esfregando com todo mundo.
Na verdade, eu luto bastante com a visibilidade da minha sexualidade, porque ser bissexual é quase como não existir, como ser taxada de lésbica ou hétero por conta de quem eu namoro ou me relaciono. Semana passada mesmo tive que ouvir de um amigo meu de longa data que "lésbica e bissexual eram tudo a mesma coisa" junto com comentários sobre fazer orgias de pessoas que estavam ao nosso lado. É como se o tempo todo eu tivesse que escolher entre ser lésbica ou hétero, enquanto eu estou aqui perfeitamente bem sendo bissexual desde sempre. Ou como se eu fosse uma grande puta, cafetina, que vive pegando tudo que se mexe.
E isso não vem só da parte de fora do movimento LGBT, mas muito também dentro dele, já que eu tenho que ficar escutando quase toda vez que "não te imagino com homem" "se assume logo" "bi? aham, sei" só porque estou me relacionando mais com mulheres. E quando eu digo que não sou hétero é pior ainda, porque obviamente só tem uma opção, a que eu sou lésbica.
E NÃO PÁRA POR AÍ, talvez porque eu tenho cabelo curto e não sou muito de vestidos e saias, as pessoas me associam com um menino o tempo todo, e quando sabem que eu sou uma garota sempre, acham que eu sou lésbica. Me irrita porque é como se, pela forma que eu me visto e me relaciono eu já pudesse ser julgada e apontada na rua de qualquer jeito. E muitas pessoas ficam ofendidos quando eu digo que sou bi, como se eu estivesse com medo de me assumir ou algo assim. EU JÁ ME ASSUMI, eu não sou nem 50% lésbica nem 50% hétero, eu sou 100% bissexual e um dia eu espero que todo mundo engula isso e entenda.
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Eu acho que nunca fui uma garota completa. Chorava muito toda vez que cortava o cabelo porque não me sentia nada bem. Queria tê-lo curtinho e masculino, mas nunca me deixaram cortar ele dessa forma. Brigava feio com a minha mãe toda vez que tínhamos que sair porque eu gosto de roupas mais masculinas e soltas, enquanto ela queria sempre que eu fosse vestido como uma garotinha. A barbiezinha dela.
Eu era feminino SIM, mas mais pelo fato de querer me enquadrar na sociedade, e não porque eu gostava. Queria ser alguém "normal". Nunca tive amigos e essa era a forma que eu achava que iria consegui-los. Foi aí que eu conheci meu melhor amigo, o Rapha. Ele é um garoto trans, e na época que o conheci, ele também estava se descobrindo. Eu o conheci como uma menina ainda. Quando ele disse para mim que se sentia na verdade um menino, e me explicou todo o conceito de ser transgênero, eu vi que não estava na verdade sozinho. Entendi de verdade tudo que eu estava sentido. Entendi então quem eu era.
Chorei muito até aceitar minha situação. Eu queria ser "normal". Todos já me odiavam e eu não queria dar mais um motivo a eles. E então meu (hoje em dia) namorado também me disse que era um garoto trans. Ele era meu melhor amigo junto com o Rapha e se sentiu seguro ao contar primeiro para mim. Desabafar. Disse que tinha medo das mesmas coisas que eu. Eu então, pela primeira vez contei para alguém que também me sentia daquela forma. Meu namorado é muito mais valente e enfrenta tudo de cara. Ele vai à luta! E isso me encorajou a dizer para mim mesmo que eu tinha que me aceitar e tentar ser feliz assim, não importa o que os outros pensam.
Chegou uma certa idade na qual minha mãe me deixou cortar o cabelo como eu bem quisesse. Então, pela primeira vez, cortei meu cabelo numa forma masculina. Doei todas as minhas roupas e comecei a comprar outras que me agradassem mais. Roupas masculinas. Eu não pretendia contar aos meus pais como eu me sinto até que fizesse 18 anos, para poder sair de casa. Eu sabia que meu pai, mesmo que demorasse, ia acabar pelo menos me respeitando. Ao contrário da minha mãe, que eu tinha certeza que iria repudiar isso. Eu nunca tive uma boa relação com ela. Sempre fui o seu saco de pancadas e sabia que tudo ia piorar se ela soubesse.
Um mês depois que assumi para mim mesmo que sou um garoto trans, eu resolvi contar ao meu melhor amigo Rapha. E depois para as pessoas da minha nova sala de aula. Todos me apoiaram e passaram a me chamar pelo nome social e a usar pronomes masculinos. Eu fiquei muito feliz com tudo isso. Eu estava finalmente fazendo amizades reais e sendo feliz, apensa sendo quem realmente sou. E não uma "garota forçada". Entretanto, o fato de eu ser trans chegou aos ouvidos da diretora. Ela me chamou em sua sala e eu lembro até hoje suas palavras.
"Seus pais sabem?"
"Não."
"Então, ou você conta para eles, ou eu vou contar. E aliás, você já tem o cabelo curto, haja como uma garota normal para ninguém implicar com você aqui."
Foi a partir daí que tudo começou a ruir. Primeiramente, tive que contar para os meus pais minha situação. Pensei em primeiramente contar apenas para o meu pai. E foi o que fiz. Ele na hora disse "Não importa se você é menina ou menino, vai ser sempre meu bebê." (O que no fim acabou sendo uma grande mentira pois hoje em dia ele tem atitudes transfóbicas.). Eu como um garoto muito emocional, chorei muito. Minha mãe viu e me trancou no quarto com ela. Não me deixou sair até que eu contasse o que estava acontecendo. Eu tive que contar. Na hora ela só fez uma cara feia. Mas uns dias depois me trancou no quarto com ela de novo e me deu um sermão enorme.
Disse que eu estava tomando o caminho errado. Que isso era um erro. Que eu precisava voltar a ir ao centro espírita com ela. Disse para mim que eu não tenho moral alguma. Eu resolvi ignorar tudo aquilo. Eu geralmente ignoro a maioria das coisas que ela diz. Ela tem como objetivo nas palavras me deixar para baixo e me destruir. Dói. Dói muito. Ela é a minha mãe. Mesmo que não aja como uma, ainda sim é. Mesmo que eu não considere ela mais a minha mãe, mesmo que eu diga para mim mesmo que já não ligo mais para nada disso, ligo sim e choro muito ao lembrar de tudo que ela já disse para mim. Na última briga que tivemos, eu ouvi da boca dela as seguintes palavras:
"Eu nunca passei tanta vergonha na minha vida como passo com você. Você é uma vergonha. Eu queria que você nunca tivesse nascido. Você é errada e acha que isso que está fazendo está certo. Mas você tem que se encaixar na sociedade, vestir as roupas que todas vestem, ser feminina! Você nasceu num corpo feminino, tem um corpo feminino e vai para sempre ser uma garota! Você tem que ser um ser humano!"
"Então ser trans não é ser ser humano?"
"Não! Daqui para a frente você vai raspar suas pernas, vai deixar seu cabelo crescer e vai usar as roupas que eu te dou! Vai ser uma menina de verdade! Você acha que alguém vai te aceitar assim?! Você nunca vai conseguir um trabalho. Enquanto todos seus amigos vão estar trabalhando, você vai estar trancada no quarto chorando. Eu saio com você e passo a maior vergonha. Todos dizem 'ah esse é seu filho?' E eu escolho ignorar porque meu filho está em casa! Você é minha filha! Uma garota!"
Entre várias outras coisas do gênero que eu escolhi esquecer.
Procurando apoio familiar, contei minha situação para minha tia e para minha avó. No fim, só a minha avó me aceitou. Na escola, a diretora pega no meu pé e arranja um motivo todos os dias para me dar uma advertência e mandar e-mail para o meu pai. Da para ver nos atos dela que tudo é só implicância por eu ser quem eu sou.
Os alunos geralmente ficam cochichando por aí dizendo "é menino ou menina?"
Tem outros que não são tão discretos, como as garotas de dez anos que pararam na minha frente e disseram "isso aí é uma menina, sabia?"
Meu amigo quando fica bravo comigo usa o fato de eu ser trans contra mim.
"Mas esse triangulo parece isósceles!"
"E você parece uma menina."
Eu tinha o costume de chamar minha gata de "gato" pois eu tratava ela como espécie e não gênero. Do tipo:"Oi, gato!" E minha tia sempre me corrigia com um "é gatA. Ela tem útero, é menina." Como ela sabe eu respondi: "Eu também tenho útero e não sou menina." Ela, que dizia me aceitar respondeu: "Para com isso garota!"
Minha vó, foi a única que me aceitou de verdade na família. Longe das pessoas me chamava pelo nome social. Me tratava como menino e ao invés de me chamar de "Minha princesa", como sempre, passou a me chamar de "meu príncipe". A única pessoa que realmente me aceitou na família e eu não pude aproveitar porque três meses depois que contei para ela, ela veio a falecer.
Tudo que tenho hoje são só os transfóbicos na minha escola e casa. Passo preconceito todos os dias em todos os lugares. Só me sinto bem com meu pequeno grupo de amigos de oito pessoas (sendo apenas uma delas cis e hétero. Incrível, não?) E com meu namorado, que sempre, em tempos difíceis, me dão coragem para continuar. Já pensei muito em terminar com tudo, mas eles sempre me ajudam a superar isso. Eles são a razão pela qual ainda existo. Como o Rapha sempre diz para mim quando minha mãe me diz que não tenho futuro:
"O mundo está mudando. Muitos trans já estão no mercado de trabalho. Muito mais pessoas aceitam LGBTs por aí. Na faculdade onde estudo todos acham que todos somos seres humanos, não importa gênero ou opção sexual. A vida muda. Eu achava que não, mas muda. E vai mudar para você também. Seja forte."
Estou tentando ser forte apesar de tudo, talvez eu realmente consiga. Mas eu não seria nada sem meu namorado, o Rapha, e todos meus outros 7 amigos. Família sanguínea eu não tenho. Mas eu tenho eles.
"Família não termina no sangue, mas também não começa ali. Família está com você em todos os momentos, bons ou ruins." Eles são minha família. Eles são meu futuro. Não ligo mais para o que os outros pensam, minha felicidade não depende dos outros e sim de mim mesmo. Esse exemplo aprendi com o tempo, aprendi com a minha vó, que depois de virar idosa, fez tudo que não fazia porque tinha medo do que os outros iam pensar. Depois de idosa ela cortou o cabelo curto, espetou ele para cima, pintou de vermelho, colocou 4 piercings na cara, 3 furos em cada orelha para os brincos, tatuou sobrancelhas que ela não tinha e foi feliz. E daqui para a frente, vou ser assim também.
Espero que meu depoimento ajude alguém de alguma forma um dia. Espero que o exemplo da minha vó inspire alguém também a ser quem você é. Espero poder voltar aqui algum dia e dizer que tudo mudou SIM. Que nós temos um futuro SIM. Não importa gênero, opção sexual e etc.
Sou um garoto trans gay e orgulhoso disso, independente do que me digam.
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