bla-attitude
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bla-attitude · 19 days ago
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Ela escreveu-me duas palavras nem sei bem porquê. Nunca compreendeu não haver em mim qualquer aderência ao mundo. Considerando que o desejo é uma coisa da alma, terei que realizá-lo sem a presença do corpo. Existe a tentação de me deixar levar pela corrente da vida. Talvez, no fim dela, eu possa escrever uma frase que contenha todo o sentido, sabedoria e impulso que procurei dar-lhe. Isabel de Sá semente em solo adverso (poesia reunida)
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bla-attitude · 22 days ago
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Compromissos, não tinha, mas faltei;
Não prestei juramento, mas traí:
Sentir-se réu alguém, não depende
Do juízo dos outros, mas de si.
É fácil companhia a consciência
Se mansamente aceita e concilia,
Difícil é calá-la quando somos
Mais retos afinal do que se cria.
Um dia tornarei às dores do mundo,
À luta onde talvez já não me esperam,
Antes, seja diferente outra mulher,
Companheira, não de ferros que me ferram.
José Saramago
os poemas possíveisp
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bla-attitude · 1 month ago
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Ir, vir…
Ir. Manhã, ar fresco, paisagem nova.
Vir. Tarde. hora dos poetas, dos que não can-
tam e passam pelas coisas apenas gozando, sur-
preendidos e ternos.
Se em cada lugar da terra eu perdesse a minha
humana essência, aquilo que me iguala ao que é
e ao que foi!
Nesta hora divina, nesta formosa tarde como ser?
Que me tentava?
Não sei.
Terra, luz, ar, amenidade indizível!
Irene Lisboa
um dia e outro dia…
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bla-attitude · 1 month ago
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Acordo
dia a dia mais cedo.
Tenho o relógio ao lado
procuro ver a hora
mas não vejo.
Fecho os olhos
verei daqui a bocado,
não há pressa
a hora não fugirá
está ali dentro presa
29 de Setembro, 2021
Yvette K. Centeno
existir
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bla-attitude · 2 months ago
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II
O teu corpo assim-sim
É uma galáxia compacta, sem saída
Ou entrada, uma espécie
De paisagem do que ficou,
Do que vai ficando
Do clamor das matinas.
És inteiro em partes iguais,
Como quem parte e reparte
E perde a melhor parte, e remendas
O erro com outro erro,
O teu mínimo de existência.
III
O que resta dos dias pardos
Vem bater à tua porta,
Qual mão espectral do destino.
A copiosa escuridão mete-se
A caminho, importuna a clareza do verso.
Sob o detrito da língua
Faísca o fio da espada.
IV
Um coração fechado só abre feridas.
Afinal do que falas?
O que dizes p’lo que fica
Por dizer?
Éramos muito jovens e a vida
Ainda nos desejava
Com muitas madrugadas e
A floração do desejo nas crinas
Marítimas – uma constelação inteira
A colapsar sobre nós.
Nenhuma memória é residência fiável.
Afinal, do que falas então?
Fernando Luís Sampaio
nervo/24
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bla-attitude · 2 months ago
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II
O teu corpo assim-sim
É uma galáxia compacta, sem saída
Ou entrada, uma espécie
De paisagem do que ficou,
Do que vai ficando
Do clamor das matinas.
És inteiro em partes iguais,
Como quem parte e reparte
E perde a melhor parte, e remendas
O erro com outro erro,
O teu mínimo de existência.
III
O que resta dos dias pardos
Vem bater à tua porta,
Qual mão espectral do destino.
A copiosa escuridão mete-se
A caminho, importuna a clareza do verso.
Sob o detrito da língua
Faísca o fio da espada.
IV
Um coração fechado só abre feridas.
Afinal do que falas?
O que dizes p’lo que fica
Por dizer?
Éramos muito jovens e a vida
Ainda nos desejava
Com muitas madrugadas e
A floração do desejo nas crinas
Marítimas – uma constelação inteira
A colapsar sobre nós.
Nenhuma memória é residência fiável.
Afinal, do que falas então?
Fernando Luís Sampaio
nervo/24
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bla-attitude · 2 months ago
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Fez-se do sexo um bicho de sete cabeças. Parece que mais vale morrer violada do que virgem, quando isso é um grande disparate. A castidade é um valor, infelizmente confunde-se castidade com ausência de relações sexuais e de masturbação. O sexo não é porco nem deixa de ser. Nada na vida dá a garantia de ser limpo nu liso inteiro. Nem aquele quartinho em que está o eu, um quartinho que seja seu, porque mesmo o eu é o outro. Às vezes tenho medo de me despir na rua e de falar muito alto. Chamo a isto o sentimento da irrealidade.
Adilia Lopes
irmã barata, irmã batata (2000)
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bla-attitude · 3 months ago
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Encontra-me, Beleza, necessito
que me abraces, sinto-me despovoado,
vem ao meu sentimento descuidado,
que a tua ausência é o único delito.
Tu és inalcançável e eu o maldito,
idêntico latido desolado,
eu por fruto no tempo encarcerado
livre por sombra tu no infinito.
Encontra-me, Beleza, que outra coisa
pode desejar o meu coração cercado
que viver da tua essência, aurora minha.
E que podes, altiva e silenciosa,
desejar no teu frio descampado
senão a forma, fazer-te poesia.
Jesús Lizano
mundo real poético
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bla-attitude · 3 months ago
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Caros amigos, aqui digo amigos No sentido mais amplo da palavra: Mulher, irmã, camaradas, parentes, Pessoas vistas uma só vez, Ou com quem se conviveu toda a vida: Contanto que entre nós, pelo menos um momento, Se tenha estendido um segmento, Uma corda bem definida.   A vocês vos digo, companheiros de um caminho Denso, não poupado a trabalhos, E também a vocês, que perderam A alma, o ânimo, a vontade de viver. Ou a ninguém, ou alguém ou talvez só a um, ou a ti Que me lês: lembra o tempo, Antes da cera endurecida, Em que cada um era como um sinete. Entre nós cada um traz a marca Do amigo encontrado no caminho; Em cada um o rasto de cada um. Para o bem e para o mal Em sageza ou em folia Cada um estampado em cada um.   Agora que o tempo urge apressado, Que as tarefas terminaram, A todos faço o humilde voto De que o Outono seja longo e brando.   16 de Dezembro, 1985   primo levi a uma hora incerta trad. rui miguel ribeiro edições do saguão 2024
editado por gs às 14:00 0 comments 
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Labels: primo levi
08 abril 2025
paul celan / flor
  A pedra. A pedra no ar, que segui. O teu olhar, tão cego como a pedra.   Nós fomos mãos, esvaziámos a treva, encontrámos a palavra, que subia do Verão: flor.   Flor – uma palavra de cegos. Os teus olhos e os meus olhos: vão em busca de água.   Crescimento. folha a folha acrescenta as paredes do coração.   Uma palavra ainda, como esta, e os martelos rodopiam ao ar livre.       Paul Celan sete rosas mais tarde
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bla-attitude · 3 months ago
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A rua comprida que é a rua do mundo passa em volta do mundo cheia de toda a gente do mundo para não falar de todas as vozes de todas as pessoas que jamais existiram Amantes e choramingas virgens e dorminhocos vendedores chulos e homens-sanduíche leiteiros e oradores banqueiros sem tusa donas de casa friáveis com snobs ligaduras de nylon desertos de publicitários rebanhos de poldras do ensino secundário hordas de universitários todos a falar pelos cotovelos e a dar as suas voltas ou a dependurar-se em janelas para ver o que está a dar lá fora no mundo onde tudo acontece mais tarde ou mais cedo se é que acontece E a rua comprida que é a mais comprida do mundo inteiro mas não é tão comprida como parece vai passando por todas as cidades e todas as cenas descendo cada viela subindo todas as avenidas através de todos os cruzamentos através de semáforos vermelhos e verdes as cidades à luz do sol os continentes à chuva as esfomeadas Hong Kongs as Tuscaloosas áridas as Oaklands da alma as Dublins da imaginação E a rua comprida desenrola-se por toda a parte como um enorme comboio de brincar apitando e baforando pelo mundo com passageiros ao rubro e bebés e cestas de piquenique e cães e gatos e todos eles a quererem saber quem será que lá vai à frente na cabine a conduzir o comboio se é que vai o comboio que corre à volta do mundo como um mundo às voltas todos a quererem saber o que haverá à frente se houver e há pessoas que se debruçam e espreitam para longe a ver se conseguem vislumbrar o maquinista na sua cabine de um só olho a ver se conseguem vê-lo relancear-lhe o rosto deitar-lhe o olho no giro de uma curva mas nunca conseguem embora de vez em quando pareçam quase E a rua segue a gingar o comboio segue a disparar com as suas janelas a subir as suas janelas as janelas de todos os prédios de todas as ruas do mundo a disparar através da luz do mundo através da noite do mundo com luzinhas nos cruzamentos luzes perdidas piscando hordas nos carnavais circos dos bosques da noite bordéis e parlamentos fontes esquecidas portas para sótãos e portas por sitiar silhuetas nos lampiões pálidos ídolos bailando enquanto segue o mundo a gingar Mas chegamos agora à parte solitária da rua a parte da rua que dá a volta à parte solitária do mundo E este é o sítio onde se muda de comboio para o expresso de Brighton Beach Este não é o sítio onde se faça alguma coisa Esta é a parte do mundo onde não acontece nada onde ninguém faz nada acontecer onde não há ninguém em lado nenhum ninguém em parte alguma a não ser tu nem sequer um espelho para fazer dois de ti nem vivalma a não ser a tua se calhar e mesmo essa não existe se calhar ou não te pertence se calhar porque tu estás o que se chama morto chegaste à tua estação É favor descer
Lawrence Ferlinghetti mensagens orais
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bla-attitude · 7 months ago
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Sou impermeável às tuas palavras
escorregam por cima de mim, ora querendo
magoar-me ora querendo incitar-me.
Sou impermeável às tuas carícias;
pingam por cima da minha pele
a temperatura neutra.
Perguntas-te porque é que o chão se encheu de água.
Não tenho nada a dizer.
Não tenho nada a dizer.
[O céu estrelado é como as costas de um homem cheias de sinais.
Tu desejando mergulhar na escuridão,
e eles cravando-se nos teus olhos].
Ifigenia Doumi
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bla-attitude · 7 months ago
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Às vezes julgo ver nos meus olhos
A promessa de outros seres
Que eu podia ter sido,
Se a vida tivesse sido outra.
Mas dessa fabulosa descoberta
Só me vem o terror e a mágoa
De me sentir sem forma, vaga e incerta
Como a água.
Sophia de Mello Breyner Andresen
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bla-attitude · 7 months ago
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Levantar-se de um pulo e fugir e voltar a sentar-se sem se mexer, era a isso que se resumia no fundo a sua infância.
Geada, Thomas Bernhard
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bla-attitude · 8 months ago
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Porto. Abril. Tantos de tal… E contínuo a teu lado, Hoje como ontem. Igual A mim próprio: abandonado Por todos, menos por ti. Posto que tão diferente Seja o berço em que nasci Da praia, livre, onde passas Com Sol a pino. Sorriste Alheio às minhas desgraças? Vê: mendigo sou que aceita Mesmo uma côdea de pão, Mas que traz na mão direita A flor que as roseiras dão… Vela pagada ou acesa? – Sei que me podem comprar Tudo, menos a nobreza De sorrir quando há luar… Pedro Homem de Mello eu desci aos infernos (1972)
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bla-attitude · 8 months ago
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Paremos nas aparências, pareces dizer com os teus olhos eivados de noite, sedentários. Falta a este amor que força Do amor? E o falcão voa muito baixo, sob muros. Estar sozinho é o preço duma vida? Um horizonte de mágoa nas estrelas. O silêncio cruza tão distante entre o teu desterro e a minha exclusão. As ruas nocturnas serão nossas alguma vez? É a morte que nos faz viver? Joaquim Manuel Magalhães de súbito
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bla-attitude · 8 months ago
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Viver é ver morrer, envelhecer é isso, enjoativo, tenaz, cheiro da morte, enquanto repetes, inutilmente, umas palavras, cascas secas, vidro partido. Ver morrer aos outros, àqueles, poucos, a quem verdadeiramente amaste, desmoronados, desfeitos, como o fim deste cigarro, rostos e gestos, imagens queimadas, enrugado papel. E ver-te morrer a ti também, remexendo frias cinzas, apagados perfis, disformes sonhos, turva memória. Viver é ver morrer e é frágil a matéria e tudo se sabia e não havia engano, mas carne e sangue, misterioso fluir, querem preservar, afirmar o impossível. Copo vazio, trémulo pulso, cinzeiro sujo, na luz nublada do entardecer. Viver é ver morrer, nada se aprende, tudo é um desapiedado sentimento, anos, palavras, peles, despedaçada ternura, calor gelado da morte. Viver é ver morrer, nada nos protege, nada teve o seu ontem, nada o seu amanhã, e de súbito anoitece. Juan Luis Panero poemas
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bla-attitude · 8 months ago
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segredava-te, do tempo o vão aspecto; existias de noite como a letra de todo o movimento, e das estrelas o céu pintado ao fundo; e distraído, às vezes, confessava amar a tua pele como quem quer dizer-te: não morras nunca mais.
António Franco Alexandre quatro caprichos
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