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39 – O mundo de ilusões da internet e da política
Por Morganna la Belle
Psicanalista
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Nestes tempos de mentiras, ostentação, exibicionismo e cultura do narcisismo, não se deixe enganar por fotos de pessoas ricas em carrões e iates, exibindo um corpo perfeito e afirmando serem conhecedoras da solução para todos os seus problemas.
A Internet já foi uma terra de ninguém, mas hoje ela é a terra do mais esperto.
Não se sabe mais o que é verdade e o que é pura enganação nas redes sociais.
Não se sabe mais o quanto de fotoshop, filtros ou inteligência artificial há em cada texto, foto ou vídeo a que somos expostos diariamente.
Nunca na história da humanidade a nossa mente esteve tão dispersa. Se algo nos chama a atenção na televisão ou na Internet, antes que possamos terminar a leitura ou visualização já aparece outro conteúdo que nos chama mais a atenção e imediatamente pulamos para ele. E assim vamos nos condicionando a fazer isso em todas as áreas da nossa existência, inclusive nos relacionamentos com as pessoas. Nossa vida nunca esteve tão fragmentada.
Então, a solução encontrada para ser notado na Internet é falar, escrever, exibir vídeos ou fotos os mais apelativos possíveis. Isso quando não se parte para o bizarro, para o ilícito e para a violência. Hoje, mais do que nunca, é preciso chocar para capturar a atenção das pessoas.
Meu amigo e minha amiga, não acredite em dinheiro fácil, isso praticamente não existe. Você terá sim que trabalhar duro para construir um patrimônio e dar uma vida digna para si mesmo e sua família. Viver é difícil, quem diz o contrário está apenas enganando você.
E o pior é que essa estratégia nefasta já foi transferida para a política.
Hoje, na maioria das vezes, o político que vence não é aquele mais bem preparado, aquele que apresenta bons projetos para melhorar a saúde, a educação, a economia, a segurança pública. Vence aquele que apela mais, aquele que consegue causar mais comoção, aquele que esbraveja mais, aquele que mais domina as redes sociais, aquele que dissemina mais ódio e discriminação, aquele que usa a religião para conseguir votos, aquele que dá voz aos habitantes do esgoto da humanidade.
Tenha filtro, tenha discernimento, não entregue seu tempo, seu dinheiro ou seu voto a pessoas que estão querendo apenas enganar você para se darem bem!
Aquela promessa que se apresenta hoje a você como sendo uma grande facilidade pode se tornar uma dura realidade em um futuro bem próximo.
E, para ser justa e dividir a sua humanidade comigo, concluo dizendo que você deve desconfiar até mesmo deste texto que acabou de ler.
Eu afirmo que ele é fruto das minhas experiências e compreensão da realidade atual e que não foi escrito por nenhuma inteligência artificial, mas como você pode ter certeza de que é verdade?
Quer interagir com a Morganna la Belle? Visite meu site e blog: https://rainhamorgannalabelle.wordpress.com/
Vou adorar conhecer você!!!
Sinopse
Nestes tempos onde mentir parece ser a coisa mais normal do mundo, cuide da sua saúde mental e física e não se deixe levar pelas promessas enganosas dos golpistas da Internet e da política! Eles estão mais perto de você do que pode imaginar!!!
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38 – A Justiça do Trabalho deve ser extinta?
Por Morganna la Belle (Morganna.jus Consultoria Jurídica)
Pós-graduada em Direito Material e Processual do Trabalho
Pós-graduada em Direitos Humanos
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1 – A criação da Justiça do Trabalho
A Justiça do Trabalho, na forma de instituição jurídica, é fruto de uma necessidade de intervenção do Estado rumo à resolução de conflitos de ordem trabalhista, por meio da aplicação de leis que regulamentam a prestação laboral, contribuindo assim para conservar a paz social.
Para se falar sobre a criação da Justiça do Trabalho se faz necessário primeiro abordar o Direito do Trabalho porque sem este, aquela, como instituição, não existiria.
A história nos conta que o trabalho na antiguidade era considerado como uma atividade subvalorizada e exclusiva do escravo ou do servo. Mesmo quando, pelas necessidades do sistema capitalista, o trabalho passou a ser remunerado, vários conflitos surgiram da relação entre tomador e prestador de serviço.
Como marcos que influenciaram a criação e o desenvolvimento do Direito do Trabalho, podemos citar a revolução industrial que teve início na Grã-Bretanha em 1760. Tal acontecimento teve seus aspectos positivos, tais como o desenvolvimento tecnológico e o aquecimento da economia da época mas também trouxe aspectos negativos, com a subvalorização da mão de obra, desemprego, trabalho infantil e condições de trabalho desumanas, só para citar alguns. Foi aí que surgiram, de forma mais organizada, os embates entre trabalhadores e tomadores de serviço por meio greves, piquetes, negociações coletivas e outras manifestações.
Já a Revolução Francesa em 1848, com seus ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, e também o Manifesto de Marx e Engels, de 1848, promoveram uma maior conscientização da necessidade de se humanizar mais as relações entre capital e trabalho.
Em 1891, a encíclica Rerum Novarum, do Papa Leão XIII, influenciou o pensamento jurídico da época, no sentido de promover maior proteção aos direitos do trabalhador.
No ano de 1919 contribuíram também neste sentido a Constituição alemã de Weimar e a criação da OIT – Organização Internacional do Trabalho.
Já em território pátrio, de acordo com o jurista mineiro Maurício Godinho Delgado, embora a Lei Áurea não tenha, obviamente, qualquer caráter justrabalhista, ela pode ser tomada, em certo sentido, como o marco inicial de referência da História do Direito do Trabalho brasileiro.
A Justiça do Trabalho brasileira foi devidamente criada e organizada em 1939, através do Decreto-lei n. 1.237. Tal estrutura foi sofrendo modificações através dos anos até chegar à estrutura que temos hoje, com três graus de jurisdição, quais sejam:
- Tribunal Superior do Trabalho (TST);
- Tribunais Regionais do Trabalho (TRT’s) e
- Varas do Trabalho.
Este ramo especializado do poder judiciário ainda conta com o Conselho Superior da Justiça do Trabalho, que é um órgão encarregado de supervisão administrativa, orçamentária, financeira e patrimonial da Justiça do Trabalho de primeiro e segundo graus.
Já o Direito do Trabalho, considerado este como sendo o arcabouço de normas de ordem material e processual que regulamenta a prestação laboral, foi efetivamente regulamentado em 1943, através do Decreto-Lei Nº 5.452, que criou a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Tal ato normativo foi assinado pelo então Presidente da República Getúlio Vargas, em 1º de Maio de 1943. Junto a isso existem as leis esparsas que regulamentam matérias trabalhistas específicas e também o Código de Processo Civil, que tem aplicação subsidiária em questões processuais.
Por fim, mas sem a pretensão de esgotar o tema, a Constituição de 1988 garantiu aos trabalhadores vários direitos tais como salário-mínimo, jornada máxima de oito horas por dia, descanso semanal remunerado, férias com pagamento de 1/3, horas extras, aviso prévio, pagamento de adicional em trabalho insalubre, perigoso ou penoso, licença-maternidade e paternidade, 13º salário, proteção contra a dispensa sem justa causa e também o benefício do seguro-desemprego.
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2 – Ampliação e posterior restrição da atuação da Justiça do Trabalho brasileira
2.1 – A Emenda Constitucional 45 de 2004
No ano de 2004, a Emenda Constitucional 45 promoveu a reforma do judiciário e, no âmbito justrabalhista, ampliou a competência da Justiça do Trabalho para julgar todas as relações de trabalho e não mais apenas as relações de emprego. Também instituiu a competência do ramo juslaboral para julgar ações de dano moral ou patrimonial, desde que decorrentes das relações de trabalho.
Trouxe, outrossim, novidades quanto à instauração de dissídios coletivos e determinou a instalação da justiça itinerante.
Não obstante as grandes celeumas doutrinárias que surgiram logo após, tal ato legislativo na época se caracterizou como um grande avanço para o trabalhador, sendo que movimentou magistrados, advogados e funcionários federais da Justiça do Trabalho no sentido de entender o alcance da referida norma e as implicações práticas de sua aplicação.
2.2 – A reforma trabalhista de 2017
2.2.1 – Panorama geral
No ano de 2017 o trabalhador se viu diante de um retrocesso quanto à garantia de alguns direitos tão duramente adquiridos ao longo dos anos. A Lei Nº 13.467, de 13 de Julho de 2017, alterou a Consolidação das Leis do Trabalho e outras leis trabalhistas para atender aos interesses de poderosos empresários, banqueiros e políticos interesseiros.
2.2.2 – Pontos negativos
Em que pese ter trago algumas mudanças positivas para o trabalhador, a reforma no geral foi muito maléfica para a classe laboral, trazendo vários retrocessos, tais como:
– A contribuição anual ao sindicato deixou de ser obrigatória. Aparentemente benéfica para o trabalhador, essa mudança, na verdade, teve como finalidade o enfraquecimento dos sindicatos dos empregados, através da supressão da sua maior fonte de renda.
– Quitação anual de obrigações trabalhistas perante um sindicato já enfraquecido.
– Não mais serão consideradas como integrantes da jornada de trabalho atividades como descanso, estudo, alimentação, higiene pessoal e troca de uniforme.
– Extinção do direito às horas In Itinere.
– Formas de supressão das horas extras por meio de banco de horas e negociações diretamente entre empresa e empregado.
– Intervalo para refeição de 30 minutos mediante acordo. Se não for concedido ou for concedido parcialmente, o empregado terá direito ao acréscimo de 50% da hora normal de somente o tempo não concedido.
– Prevalência da negociação coletiva sobre a CLT com relação a alguns direitos. Isso envolve, entre outros pontos, a prorrogação de jornada em ambientes insalubres, comprometendo a saúde do trabalhador, mediante acordo coletivo com um sindicato já enfraquecido, como já exposto alhures.
– A criação da chamada “pejotização”, que nada mais é do que a prática de forçar o trabalhador a abrir uma microempresa e ser contratado como autônomo, sem direitos trabalhistas básicos. É a inversão do princípio trabalhista da primazia da realidade sobre a forma, validando-se a fraude.
– Deixou de ser obrigatória a homologação do sindicato no caso de rescisão contratual envolvendo empregado com mais de um ano de contrato. Agora o empregado deve conhecer de direito do trabalho para não ser prejudicado no ato da extinção do contrato laboral.
– A mulher agora pode trabalhar em ambiente insalubre. Não passa de uma estratégia para o empregador forçar o pedido de demissão da funcionária gestante.
– Prazo de apenas 30 dias para que a mulher, após demissão, notifique a empresa de que está grávida. A gravidez muitas vezes é percebida apenas no segundo mês de gestação, sendo essa mais uma maneira de se evitar a licença maternidade e estabilidade da funcionária.
– Pagamento de honorários de advogado e de perito, mesmo sendo a parte reconhecidamente pobre. Este ponto em especial, por ter atingido muito a Justiça do Trabalho, será melhor desenvolvido mais abaixo.
2.2.3 – Alguns pontos positivos ou controversos
2.2.3.1 – Acordos de dispensa
Ponto que merece destaque foi a novidade trazida pela Lei 13.467 e que ainda vem causando controvérsias doutrinárias. Trata-se da permissão da rescisão do contrato de trabalho por comum acordo.
Não há de se negar que a prevalência do negociado sobre o legislado nos acordos de dispensa contribuiu para fragilizar os sindicatos e a própria justiça trabalhista, uma vez que concede muita autonomia ao empregador para realizar acordos diretamente com o empregado, negociando parcelas rescisórias como aviso prévio e multa sobre o FGTS e ainda permitindo a renúncia ao benefício do seguro-desemprego.
Porém, insta considerar que a regulamentação de tais acordos pela lei pode não ser de todo negativa. Tal prática sempre aconteceu entre empregado e empregador porque muitas vezes o empregado quer pedir demissão mas ao mesmo tempo não quer abrir mão de parcelas rescisórias próprias da dispensa desmotivada. Ambos então, não raras vezes, recorrem ao expediente de “fazer um acordo” onde o empregado pode pedir demissão e não é de todo prejudicado economicamente. Tal prática, antes da reforma trabalhista de 2017 era considerada fraude, mas agora é considerada legítima porque foi regulamentada pela lei em comento.
2.2.3.2 – Trabalho intermitente
Uma das maiores inovações da Lei 13.467 foi a regulamentação do trabalho intermitente por meio da alteração do art. 443 e §3º da CLT. Tal regulamentação validou juridicamente essa modalidade de contrato de trabalho, onde o funcionário alterna períodos de inatividade com períodos de atividade laboral.
Isso fez com que lhe fossem garantidas verbas como férias proporcionais com um terço, décimo terceiro salário proporcional, repouso semanal remunerado e adicionais legais, além de também regulamentar as parcelas devidas em caso de rescisão contratual. Antes da reforma esse tipo de trabalhador tinha muito pouco amparo jurídico.
Agora, a argumentação falaciosa de que o trabalho intermitente regulamentado geraria mais empregos não se concretizou. Ocorreu o que juristas sérios já haviam previsto, ou seja, certa insegurança jurídica nas relações trabalhistas e previdenciárias. Isso porque a incerteza quanto ao rendimento mensal, muitas vezes bem aquém do ganho de um empregado celetista tradicional, faz com que muitos desses profissionais de trabalho intermitente não contribuam com o mínimo exigido pela Previdência Social. Pergunta-se então o que será desse tipo de trabalhador quando precisar se aposentar.
2.2.3.3 – Parcelamento das férias em até 3 vezes
Com a reforma, agora o empregado pode parcelar suas férias em três períodos, desde que atendidos alguns requisitos.
2.2.3.4 – Garantia de condições iguais para empregados terceirizados quando os serviços forem executados nas dependências da empresa que contrata o serviço.
Esta sim, foi indubitavelmente uma conquista para o trabalhador terceirizado, que agora tem igualdade de direitos em termos de alimentação, transporte, atendimento médico ou ambulatorial, treinamento adequado e também às mesmas condições sanitárias, de medidas de proteção à saúde e de segurança no trabalho, além de instalações adequadas.
2.2.4 – A questão da sucumbência
Ponto que merece destaque é a questão da sucumbência no processo trabalhista. Como exposto acima, a Lei 13.467/2017 determinou que o ônus da sucumbência, tanto de perito quanto de advogado, fossem suportados pelo autor da ação, via de regra o empregado, mesmo se beneficiário da justiça gratuita e desde que atendidos certos requisitos. Essa foi mais uma estratégia dos representantes do capitalismo predatório para fragilizar, esvaziar, desconstruir e, por fim, sucatear a Justiça do Trabalho brasileira.
Como consequência dessa artimanha legislativa, verificou-se uma substancial diminuição de ações na Justiça do Trabalho, pelo fato de ser mais vantajoso para o advogado os acordos entre patrão e empregado feitos em seu próprio escritório onde o trabalhador, sem a presença de um magistrado trabalhista ou de um representante do sindicato, ficava à mercê dos argumentos de causídicos que estavam preocupados apenas com o próprio bolso. Some-se a isso as inverdades disseminadas entre os trabalhadores, veiculando entre si a notícia de que “se perder vai ter que pagar”, mesmo se não tiver dinheiro para tal.
Em reação a isso o STF, em 20/10/2021, por meio da ADI 5766/DF, cujo resultado foi recepcionado pelo TST, então fixou que se a parte é beneficiária da justiça gratuita ela não tem que pagar honorários periciais ou sucumbenciais, mesmo se for perdedora na ação.
A ADI 5766/DF, portanto, deu novo alento à Justiça do Trabalho que, mesmo com a restrição orçamentária que sofreu a partir do governo Michel Temer, segue cumprindo sua função social.
3 – Em defesa da Justiça trabalhista
Existe mesmo um excesso de ações na Justiça do Trabalho?
Para responder a esta pergunta devemos recorrer aos números.
Em 1º e 4 de Maio de 2024 ocorreu a 21ª edição do Congresso Nacional de Magistrados da Justiça do Trabalho (Conamat).
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Neste evento foi debatido, dentre outros temas, os desafios e perspectivas do Judiciário trabalhista frente aos desafios modernos. Tal tema, obviamente, não poderia deixar de ser abordado sem levar em consideração os crescentes ataques que a Justiça do Trabalho vem sofrendo, principalmente nos últimos anos.
Nesse contexto o ministro do STF Luís Roberto Barroso, baseando-se em um estudo da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), apresentou o cenário estatístico do judiciário trabalhista referente ao ano de 2023.
Para o fim a que se propõe este estudo, nos interessa verificar que em 2023 aconteceram 27,7 milhões de extinções de contratos de trabalho no Brasil, sendo que foram ajuizadas 1,8 milhões de reclamações trabalhistas. Isso perfaz o percentual de apenas 8,4% de contratos de trabalho que foram objeto de ação judicial. Em resumo verifica-se que, de 100% das extinções de vínculo laboral examinadas, apenas 8,4% foram levadas ao judiciário trabalhista. Isso em termos gerais porque uma ínfima parcela de ações judiciais se refere a contratos de trabalho ainda vigentes.
Mas, se alguns ainda acham alto este número, passemos às estatísticas do Conselho Superior da Justiça do Trabalho. Considerando os anos de 2015 até 2022, verifica-se que o número de ações ajuizadas que tiveram como resultado a constatação de descumprimento de leis trabalhistas e consequente ganho total ou parcial de causa pelo trabalhador perfaz o total de 74%. E não estão sendo computadas aqui as ações que não tiveram o mérito apreciado, por motivo de algum defeito técnico no processo. A mesma estatística ainda mostra que em apenas 9,2% dos casos o trabalhador não tinha nenhum direito e, portanto, perdeu a causa. Portanto, em 74% das vezes o trabalhador tinha razão em procurar o judiciário trabalhista.
Considere-se ainda que várias extinções de contrato de trabalho não são levadas ao judiciário pelos mais variados motivos, tais como o medo do empregado de ficar com o “nome sujo”, o desconhecimento de seus direitos ou a dificuldade de acesso ao judiciário, dentre outros.
Para concluir, registre-se que dos 82 milhões de processos em tramitação em nosso país no ano de 2023, apenas 6,6% pertenciam à Justiça do Trabalho. Todos os demais processos pertenciam a outros ramos do Poder Judiciário brasileiro. Então, seria mesmo a Justiça do Trabalho a que mais onera os cofres públicos?
4 – Em defesa do empresariado
É inegável a dificuldade de ser empresário no Brasil.
A burocracia imposta pelo Estado, a alta carga tributária e outras pelejas diárias fazem com que praticamente qualquer empreendedor iniciante não consiga se estabelecer facilmente. Até mesmo os veteranos convivem diariamente com o fantasma da insegurança do mercado, mudanças para pior na política e outras coisas que fazem com que o empreendedor tenha que estar conectado com o trabalho 24 horas por dia o que, não raro, gera até mesmo transtornos de ordem mental.
E então vêm as ações judiciais trabalhistas. Como acima exposto, a grande maioria delas com razão de ser. Mas existe uma parcela de reclamantes trabalhistas e de advogados que podem sim, fazer da vida do empresário um verdadeiro inferno. São os chamados reclamantes profissionais e os advogados litigantes de má-fé.
O reclamante profissional é aquele trabalhador (pelo menos ele se denomina assim) que vive de ajuizar ações na justiça trabalhista, se aproveitando de uma falha qualquer do empregador durante o seu acerto rescisório, inventando as mais variadas mentiras e torcendo para que ocorra a revelia, que é quando o réu não comparece na audiência inicial e se presumem verdadeiros todos os fatos alegados na inicial. É a famosa prática do “se colar, colou”. Consultando o sistema informatizado de uma das comarcas do TRT da 3ª Região, verificou-se um total de 75 ações atribuídas a um único reclamante. Segundo relatos dos servidores locais, o mesmo muitas vezes comparecia alcoolizado nas audiências. Não faltavam advogados para apoiá-lo e ele continuou nessa sanha reclamatória até o advento da reforma trabalhista de 2017. A exemplo da infame representação classista, que foi abolida da justiça do trabalho pela Emenda Constitucional nº 24 de 1999, é necessário que se crie mecanismos legais mais rígidos com o fim de cercear tais abusos.
Outro problema de difícil solução é a figura do litigante de má-fé. Ele é mais comum do que se pensa na advocacia trabalhista e existe desde a época das Juntas de Conciliação e Julgamento. Advogados fizeram verdadeiras fortunas se valendo de expedientes escusos na seara trabalhista, desde a interposição da ação até o trânsito em julgado da sentença. Esses rábulas distorcem os fatos na petição inicial, convertem os valores reais devidos ao empregado em cifras astronômicas, tumultuam o processo, distorcem os valores durante a liquidação da sentença, impugnam o que não tem que ser impugnado e não descansam até tiraram o máximo de dinheiro do empregador reclamado.
Nesse contexto, a indústria do dano moral também merece destaque. No auge dessa prática nefasta, valores altíssimos eram pleiteados por qualquer motivo. Pervertendo-se um instituto jurídico que visa garantir a dignidade do trabalhador no contexto laboral, de forma a inibir práticas que possam lhe causar sofrimentos físicos ou psíquicos, o que se via antes da reforma era uma enxurrada de ações com as mais absurdas mentiras com o fim de locupletar ilicitamente advogados e reclamantes.
E, mesmo com as modificações na CLT feitas pela Lei 13.467/2017, verifica-se que tal prática ainda continua acontecendo, embora em menor escala.
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5 – A justiça precisa ser cega
Tanto a força de trabalho do empregado quanto o empreendedorismo do empresário são sustentáculos de um país próspero. O progresso não advém apenas do capital ou apenas do trabalho, mas sim da junção de ambos.
O Brasil não chegará nunca a ser considerado um país de primeiro mundo enquanto suas leis solaparem direitos trabalhistas básicos ou dificultarem a vida do empresariado. É necessário que se estabeleça um equilíbrio, à semelhança do sistema de pesos e contrapesos que sustenta os três poderes.
Não é suprimindo direitos do trabalhador que o empresário vai conseguir resolver os seus problemas. Por outro lado, não é demonizando o patrão e ajuizando lides temerárias que o empregado vai se realizar profissionalmente. No final, quem perde é a nação como um todo.
Para que se crie uma lei trabalhista, é necessário que se faça não apenas uma análise econômico-financeira dos conflitos entre capital e trabalho, mas também precisam ser considerados os aspectos sociológicos e humanitários entre todos os envolvidos. E, antes de tudo, é imprescindível que se faça uma reforma política no país. Políticos, via de regra, não resolvem problemas. Pelo contrário, eles criam os problemas e depois se apresentam como os salvadores da pátria. Que tal eles antes suprimirem alguns de seus próprios direitos, reduzirem seus próprios salários e abrirem mão de tantos privilégios antes de apresentarem projetos de leis querendo aumentar impostos ou extinguir direitos de outras classes?
Segundo dados do IBGE, após a reforma trabalhista houve um aumento do desemprego. Seria isso um problema apenas de quem está desempregado? Não, o problema é de todos, uma vez que afeta também a previdência social. Se a previdência entrar em colapso, quem depois irá tapar o rombo e equilibrar as contas?
Ainda segundo o IBGE, a reforma de 2017 também causou o aumento do trabalho informal, seja através de empregados que laboram indevidamente sem carteira assinada ou de pequenos trabalhadores autônomos. Tanto um quanto outro, via de regra, não contribuem para a INSS porque não possuem renda suficiente para fazê-lo sem comprometer o sustento de sua família. Esse é o tipo de trabalhador que a elite selvagem quer denominar “empreendedor”.
Considere-se ainda que Brasil é um dos países onde mais se registra trabalho escravo ou análogo à escravidão em todo o mundo. A Justiça do Trabalho, o Ministério do Trabalho e o Ministério Público do Trabalho têm desempenhado um trabalho louvável no sentido de resgatar tais pessoas que laboram em condições degradantes em favor do enriquecimento de criminosos que se arvoram empresários.
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Em sua essência, a Justiça do Trabalho é sim um ramo do judiciário comprometido com o social e possui funcionários que podem servir de exemplo de como o funcionalismo público deve ser.
Quanto à magistratura trabalhista, a prática do dia a dia nos mostra que existem sim aqueles juízes, desembargadores e ministros do ramo juslaboral que têm uma visão alinhada com a justiça social e com a busca da verdade real, mas percebe-se também que um excesso de vaidade ainda mancha a classe.
Será mesmo que o juiz do trabalho é o único tipo de magistrado que se encontra apto a definir o que é certo e o que é errado nos conflitos entre capital e trabalho? Deve mesmo um juiz do trabalho oferecer resistência às mudanças legislativas ou julgar de forma contrária à jurisprudência do Supremo Tribunal Federal? Em quê os atuais embates entre os juízes trabalhistas e os ministros do STF envolvendo trabalhadores por aplicativo, trabalhadores motoristas, trabalhadores médicos e advogados e servidores públicos celetistas estão contribuindo para a pacificação social e para a segurança jurídica na sociedade?
Pensamos que os debates acadêmicos, as obras doutrinárias (artigos, livros e outros), os fóruns na Internet e outros meios utilizados para que se expresse pontos de vista contrários às leis ou súmulas dos tribunais superiores são muito válidos para que o ordenamento jurídico pátrio possa evoluir. Afinal, sabe-se que a lei é viva e está em constante mutação e evolução. Mas insurgir-se contra dispositivos legais vigentes ou súmulas vinculantes através de sentenças e acórdãos que expressam o inconformismo do magistrado em relação à norma, não contribuem em nada para a segurança das relações jurídicas. Não cabe ao juiz gostar da lei, cabe ao juiz aplicar a lei.
A consequência disso, como se vê na prática, é a interposição de mais e mais recursos até que o processo desemboque na corte maior, onde a sentença fatalmente será reformada, onerando ainda mais a justiça e causando a um dos litigantes expectativas que serão frustradas depois de um longo tempo de espera.
4 – Conclusão
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Não, a Justiça do Trabalho não deve ser extinta. Isso porque ela é fruto de uma conquista social e uma vitória da classe trabalhadora hipossuficiente. Um empecilho ao avanço predatório do capitalismo selvagem. A Justiça do Trabalho deve ser melhorada, assim como todas as instituições públicas no Brasil, a começar pelo executivo e legislativo, que devem dar o exemplo antes.
Ao contrário da classe política brasileira, a Justiça do Trabalho foi evoluindo através dos anos e continua a evoluir. Institutos como a representação classista e a efetivação de funcionários sem concurso público já foram a muito tempo abolidos.
Percebe-se hoje um maior comprometimento com questões sociais delicadas dentro da própria instituição e em contextos trabalhistas externos, tais como a inserção do excluído digital, a proteção à mulher, o combate ao racismo e a inclusão de pessoas LGBT+.
Seus servidores federais, apesar de constantemente achincalhados por políticos sem escrúpulos, são funcionários sérios e comprometidos com o trabalho que realizam e respondem civil, criminal e administrativamente por qualquer ato ilícito que possam cometer. Tais políticos querem apenas encontrar um bode expiatório para as dificuldades orçamentárias que eles mesmo criam, tudo com a finalidade nefasta de manterem seus próprios privilégios. Ademais, concursos são muito democráticos. Basta se dedicar aos estudos e se submeter às provas quando são abertos.
E os magistrados trabalhistas são altamente competentes e conhecedores da lei. Em relação à sua atuação, nossas ressalvas foram registradas acima, sendo que nos colocamos à disposição para futuros debates.
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37 - Freud e a Descoberta da Sexualidade Infantil
Por Morganna la Belle
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Sigmund Freud (1856-1939) viveu na chamada época vitoriana, onde a repressão sexual era imposta com base em uma moral excessivamente rígida. Porém, a história nos conta que tal rigidez e cobrança moral, comuns àquela época, estavam aliadas a uma grande hipocrisia e falso puritanismo. Essa, contudo, era a situação de Viena e de grande parte da Europa naqueles tempos. Em consequência disso, qualquer ato sexual que envolvesse algo fora de uma relação física envolvendo um pênis e uma vagina ou mesmo que tivesse como protagonista uma pessoa em fase de vida anterior à puberdade, era tido como algo anômalo, perverso ou sujo.
E foi então que, através de suas investigações e práticas clínicas, Freud chegou à descoberta de que o ser humano na verdade é erotizado desde o seu nascimento. Mas a erotização infantil acontece de forma diferente nos primeiros anos da vida do indivíduo. Ela se dá de forma parcial e não integral, envolvendo determinadas partes específicas do corpo conforme a idade, além de não se direcionar a um objeto externo com fins de cópula sexual. Seria, portanto, diferente da sexualidade plena que aflora na puberdade, onde o sujeito busca um objeto sexual fora de si mesmo com fins de prazer e procriação. Mas as teorias do criador da psicanálise causaram grande alvoroço na comunidade científica da época, que considerava a infância como uma fase pura e inocente, portanto não maculada por desejos carnais de ordem sexual.
Considere-se ainda que, mesmo que a ciência daquele tempo se arvorasse independente da religião, na verdade ainda era influenciada por ideias judaico-cristãs ortodoxas, impostas pela igreja desde a idade média.
Freud então teve a coragem de romper com as ideias arcaicas e puritanas predominantes com relação à sexualidade humana e afirmou que a libido existe desde o princípio da vida e se desenvolve até chegar à sua plenitude na puberdade.
E, além disso, observou que existe uma divisão do desenvolvimento psicossexual em cinco fases básicas, porém não rígidas, cada uma com suas características próprias e zonas erógenas específicas.
E, mais do que expor esta descoberta, ainda afirmou que a fixação em determinados estágios psicossexuais relacionados a cada uma das três primeiras fases poderia ensejar desordens patogênicas de cunho neurótico na vida adulta da pessoa.
Com base em suas descobertas verificou-se então, posteriormente, que o papel dos pais e dos cuidadores das crianças, considerando cada fase do desenvolvimento libidinal, poderia fazer crescer um indivíduo saudável ou, contrariamente, gerar traumas e recalques que mais tarde dariam ensejo a sintomas neuróticos ou até mesmo psicóticos.
Então, através da obra Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade, publicada em 1905, o pai da psicanálise assim dividiu as fases da sexualidade, que estariam atreladas ao desenvolvimento psíquico e sexual do indivíduo:
Fase oral
Idade aproximada: De 0 a 2 anos
Zona erógena: Boca
Nesta fase o bebê busca o alimento através do seio materno. Sendo assim, o ato de levar a boca ao seio está ligado ao instinto de se alimentar. Mas ocorre que, além do alimento, o bebê procura satisfazer sua libido por meio do contato de sua boca com o seio da mãe. E isso ocorre principalmente quanto, já tendo saciado sua fome, continua querendo manter este contato com a mama.
Quando a mãe, na ocasião, percebe que já cumpriu seu dever de nutrir o filho, ela normalmente passa a lhe negar o contato como o seu seio até que o bebê realmente tenha necessidade de alimento de novo, quando o processo de amamentação volta a se repetir. O bebê então tem, muitas vezes, a necessidade de levar o polegar à boca para continuar satisfazendo sua libido de forma auto erótica. Processo semelhante ocorre quando também passa a levar outros objetos à boca. Enfatize-se que a boca do bebê, além de ser sua zona erógena específica nesta fase, é também sua principal forma de conhecimento e contato com o mundo exterior.
Quando a criança apresenta fixação neste estágio psicossexual, passa a apresentar características como roer unhas, falar muito além do necessário, roer canetas etc. Mais tarde, na vida adulta, tal fixação poderá se converter no vício de fumar, alcoolismo e compulsão alimentar, só para citar alguns. Formas de sublimação, no entanto, são possíveis como o incentivo à criança para que experimente o canto, instrumentos musicais de sopro ou a oratória.
Torna-se importante então que os pais ou cuidadores do bebê saibam impor limites à criança, mas sem que haja repressão rígida dos hábitos orais próprios da fase em que se encontra.
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Fase anal
Idade aproximada: de 2 a 3 anos
Zona erógena: Ânus
Esta fase, juntamente com a posterior, são as que mais costumam causar algum tipo de espanto ou constrangimento nos pais. No caso em comento, especificamente, o ato da criança de brincar com as próprias fezes pode ser no mínimo desagradável de ser constatado pelos seus pais.
A criança nesta fase começa a ser educada quanto à higiene íntima. Descobre então que possui controle sobre seus esfíncteres e então passa a sentir um certo poder ligado a este controle. Passa a expressar sua libido por meio do prazer ligado à retenção e expulsão de suas próprias fezes.
E, não raro e conforme a sua vontade, usa este controle adquirido para agradar ou mesmo contrariar seus cuidadores porque percebe que pode reter ou expulsar suas fezes onde e quando quiser.
A fixação neste estágio psicossexual pode fazer brotar no futuro sérios desvios de caráter ou mesmo o desejo pela prática de algumas determinadas parafilias sexuais.
O prazer no ato de reter as fezes pode fazer nascer na pessoa uma personalidade avarenta e espírito de acumulação. Porém, caso este ato envolva algum desconforto ou mesmo sofrimento, pode fazer desenvolver um adulto com tendências masoquistas.
Já a fixação na sensação de poder expulsar suas fezes em lugares impróprios pode levar o adulto a ter personalidade controladora, que utiliza de subterfúgios sujos para conseguir o que quer, além de inclinações sádicas.
Porém, a repressão rígida por parte dos pais ou cuidadores nesta fase pode fazer gerar outros problemas futuros, como prisões de ventre crônicas na fase adulta.
A sublimação pode ocorrer com o incentivo à pintura e escultura, remetendo ao ato primitivo de a criança brincar com os próprios excrementos.
Fase fálica
Idade: 3 a 5 ou 6 anos
Zona erógena: Falo ou clitóris
É considerada por vários estudiosos como a fase crucial para o desenvolvimento sexual saudável do indivíduo. Nesta fase tem nascimento o Complexo de Édipo nos meninos ou Complexo de Electra nas meninas.
A libido na fase em questão é direcionada ao órgão genital, mas ainda de forma auto erótica, ou seja, sem que haja a busca do sujeito por um objeto sexual externo a si mesmo. A masturbação pode se tornar recorrente, podendo fazer gerar repressão por parte dos pais ou cuidadores, sendo que tais atos repressivos podem fazer gerar recalques que se converterão em neuroses no futuro.
Nenhuma criança escapa de vivenciar o Complexo de Édipo, seja ele masculino ou feminino. E a resolução positiva ou negativa deste conflito é que vai fazer gerar um ser humano adulto sexualmente saudável ou com problemas de ordem psicossexual.
O Complexo de Édipo nas crianças do sexo masculino, via de regra, se manifesta por meio da canalização da energia sexual do menino no desejo por sua mãe e na vontade de eliminar seu pai que foi, em sua fantasia, transformado em seu rival. Ele admira o pai e ao mesmo tempo tem inveja dele e quer afastá-lo. Com o passar do tempo, o menino percebe que não há como rivalizar com seu pai e que, caso persista em seu intento, acabará por perder o amor do seu genitor. Então desiste de qualquer intenção sexual com sua mãe e passa a canalizar sua energia libidinal em atos de socialização próprios da próxima fase.
Tem nesta fase também a ocorrência do que Freud denominou angústia da castração (kastrationsangst). O garoto passa a temer que seu pênis seja cortado por seu pai, como castigo por desejar a sua mãe.
Em casos de não resolução do Complexo de Édipo, o indivíduo pode passar a desenvolver uma personalidade excessivamente narcisista e egocêntrica pela sua vida adulta, por nunca ter superado o fato de que não pôde ter sua mãe quando quis. E pode dar azo ainda a dificuldades de relacionamento com mulheres quando chega na adultez, preferindo continuar na “barra da saia” da mãe enquanto puder, ao invés de sair da casa dos pais e buscar constituir sua própria família.
Já o Complexo de Electra faz a menina desejar o pai e rivalizar com a mãe. Como percebe que não tem pênis, a garota então quer suprir a falta dando um filho a seu pai. A resolução de tal complexo é bem semelhante à resolução do Complexo de Édipo, com a menina compreendendo afinal que não pode persistir nesta intenção, até porque poderia perder o amor de sua própria mãe.
Torna-se então muito importante nesta fase delicada que a mãe ou o pai não promova qualquer incentivo a essas fantasias infantis próprias da idade. Usar expressões adultas inapropriadas se referindo ao filho do sexo oposto como “hominho da mamãe”, ou “namoradinha do papai” pode ser bem contraproducente para uma resolução saudável do Complexo de Édipo ou de Electra. Além disso, sob o ponto de vista psicanalítico, não se recomenda nesta fase partilhar a cama de casal com os filhos.
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Período de Latência
Idade: De 6 anos até a puberdade
Zona erógena: Não há uma específica
Em Psicanálise o período de latência consiste em um hiato no desenvolvimento psicossexual do indivíduo. É uma fase de socialização, de necessidade de pertencimento a algum grupo com o qual a criança se identifique.
Freud não considerava o período de latência como uma fase psicossexual, mas sim um intervalo onde a atividade sexual é canalizada para atividades sociais tais como a construção de amizades, atividades escolares e recreativas em grupo, prática de esportes e coisas do gênero.
Como não há impulso sexual dirigido a alguma zona específica do corpo não há de se falar em fixação ou regressão a esta fase, sendo a mesma considerada, como acima exposto, um intervalo na evolução psicossexual da criança.
Fase Genital
Idade: A partir da puberdade
Zona erógena: Órgãos genitais
Aos 11 ou 12 anos de idade a criança chega à puberdade. Passam a ocorrer, então, alterações hormonais que produzem resultados no corpo, no emocional e na mente da criança que está entrando na fase da adolescência.
Essa idade marca também a fase psicossexual genital, que é considerada o corolário, o produto final de todas as anteriores.
Ao contrário das fases anteriores, por ser a fase genital considerada como definitiva, não é vista como prejudicial a fixação do indivíduo em algum ponto da mesma.
E nesta fase, inversamente ao que ocorre nas antecedentes, o sujeito busca a satisfação do seu impulso sexual por meio da cópula, tendo necessidade, assim, de um objeto externo a si. E, fazendo uma diferenciação com a fase fálica, com fins não apenas de prazer mas também de procriação, caso consideremos uma sexualidade heteronormativa.
Importante considerar que, como acima já evidenciado, Freud viveu em uma sociedade extremamente conservadora, onde muitas das práticas sexuais da época eram classificadas como perversões ou desvios. Sendo assim, inclinou a considerar como perversão ou inversão qualquer prática sexual que não fosse direcionada a alguém do sexo oposto na forma de coito envolvendo um pênis e uma vagina. Não seriam admitidos como normais, por exemplo, outras formas de coito, tal como o anal, e mesmo o sexo praticado entre pessoas de um mesmo gênero. Então, pela visão de Freud o “invertido”, denominação que deu ao homossexual, não poderia chegar à fase genital se for ela compreendida estritamente em termos de sexo “normal”. Tais compreensões foram fruto de uma época específica e foram, obviamente, sendo revistas a medida em que foram surgindo novas concepções a respeito de sexualidade e gênero.
Judith Butler, em sua obra Problemas de Gênero, por exemplo, invoca Lacan e Luce Irigaray reformulando Freud e postulando que a diferença sexual não é um binário simples. A experiência transexual masculina, exempli gratia, parece subverter a norma da angústia da castração da fase fálica, considerando que o “homem” (na verdade, mulher) transexual não deseja conservar seu pênis, mas sim extirpá-lo porque na verdade deseja ter uma vagina e todos os outros atributos femininos.
Mas reflexões à parte e adentrando no campo prático, é importante frisar que a fase genital requer uma atenção especial por parte dos pais ou cuidadores. Considerando que o adolescente, na busca desse objeto sexual fora de si mesmo precisa se relacionar mais com o mundo, impõe-se aos pais uma considerável responsabilidade in vigilando, uma vez que o adolescente não tem a vivência necessária para antecipar certas formas de perigos do mundo moderno. A questão do consumo exacerbado de álcool e do uso de drogas tem tornado doentia a sociedade hodierna.
Os pais, portanto, devem acompanhar de perto - mas mantendo uma certa distância estratégica -, sobre o tipo de amizades e relacionamentos em geral com os quais seus filhos estão envolvidos. Não deve reprimir de forma muito castradora, mas não deve também entregar ao filho uma mensagem de permissividade total. O antigo ditado “prenda sua cabrita porque meu bode está solto”, além de machista e de reduzir a mulher ao estado de objeto sexual, carrega um grande potencial para problemas futuros de ordem comportamental e até mesmo judicial.
O papel dos pais, a princípio, é de cuidador e orientador por meio de diálogos saudáveis mas também de disciplinador, se for realmente necessário e para o bem maior de seu filho ou filha.
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Conclusão
De todo o exposto, podemos depreender que a descoberta da sexualidade infantil foi uma das maiores contribuições de Freud para as ciências da mente, sendo tal teoria considerada um dos pilares da Psicanálise.
Importante também reconhecer e ressaltar sua coragem em defender essa ideia frente à comunidade científica da época, desafiando o conservadorismo vigente na Viena de 1905.
E, não menos relevantes, foram suas descobertas sobre a ligação da fixação em estágios das três primeiras fases com sintomas neuróticos na fase adulta. Freud verificou, em suas vivências clínicas, que sintomas mentais e físicos das neuroses estavam muitas vezes conectados à regressão a estágios das fases oral, anal e fálica.
No entanto, considere-se que a mente humana é por demais complexa para que se aplique as teorias de Freud sobre a sexualidade infantil como se fosse uma fórmula matemática no sentido de se diagnosticar tal ou qual doença.
Tais fases não são estanques ou rígidas em suas características e consequências. De par com isso, as teorias de Freud foram sendo revistas por outros estudiosos que o seguiram e são objeto de estudo e questionamentos até hoje. Não há dúvida de que tais pressupostos teóricos permanecem bem embasados e relevantes em sua essência, desde que foram descobertas pelo criador da Psicanálise, mas não quer dizer que não possam evoluir ainda mais na medida em que as ciências da mente forem também evoluindo.
Freud disse que a Psicanálise, como ciência, não está pronta e acabada. Essas palavras permanecem atuais mesmo nos dias de hoje.
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36 – O Atendimento On-line em Psicanálise
Por Morganna la Belle
Psicanalista
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1 – O surgimento das clínicas online
Com o advento da pandemia da COVID-19, no ano de 2020, verificaram-se também a modificação de hábitos de vida, com o fim de se adaptar à difícil nova realidade que se impôs ao mundo.
Considerando ainda as medidas profiláticas de restrição de contato físico entre as pessoas e também as exigências impostas sobre o isolamento social, algumas atividades que antes eram vistas como necessariamente presenciais tiveram que sofrer adaptações.
Aumentaram então o teletrabalho, também chamado de home office, a frequência de videochamadas para falar com parentes e amigos, as compras através da Internet e até atividades físicas que antes eram feitas em academias passaram a ser conduzidas por um instrutor em uma tela de celular. Por conseguinte, a medicina e os atendimentos psicológicos também tiveram que se render à nova realidade do mundo.
Importante ressaltar que algumas clínicas de medicina e psicoterapia já ofereciam o atendimento online antes do período pandêmico, mas foi por causa da quarentena do coronavírus que essa forma de interação entre prestador e tomador de serviços realmente se consolidou e se aperfeiçoou.
Por fim, com a descoberta das vacinas, a pandemia passou a ficar sob certo controle em 2022, mas a nova forma que as pessoas descobriram de viver e se relacionar parece que veio mesmo para ficar.
2 – O que é o atendimento online em Psicanálise
Primeiro considere-se que o cerne deste estudo envolve a forma de psicoterapia criada por Sigmund Freud em 1896. Por conseguinte, iremos nos ater unicamente ao atendimento online em Psicanálise embora, para fins de comparação, possamos também abordar en passant outras formas de psicoterapia.
O atendimento online em Psicanálise se traduz basicamente na transformação do atendimento presencial tradicional, envolvendo psicanalista e paciente no consultório, pelo atendimento remoto via videoconferência.
Já existem plataformas digitais criadas exclusivamente para atendimentos online, como a plataforma e-Psi do Conselho Federal de Psicologia. E em se tratando de telemedicina, já participamos de atendimento médico utilizando simplesmente o aplicativo WhatsApp.
3 – Pontos positivos do atendimento online
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De acordo com pesquisas feitas com foco neste assunto, verifica-se que está havendo uma boa aceitação dessa nova forma de interação entre psicoterapeuta e paciente. Isso se deve muito ao fato de terem se apresentado facilidades quanto a essa maneira de condução dos trabalhos terapêuticos. Em outras palavras, o surgimento de fatores que antes eram impeditivos à continuidade da terapia presencial podem ser facilmente superados com o setting virtual.
Vejamos alguns desses benefícios da terapia on-line:
3.1 – Sem fronteiras
Como exemplo do exposto no primeiro parágrafo acima, podemos citar a mudança de um paciente para o exterior, sem que essa pessoa domine a nova língua. As sessões de terapia podem seguir normalmente por meio da clínica online com o mesmo analista. Também no caso de mudanças do paciente ou do psicanalista para locais dentro do próprio país, quando o paciente não quer mudar de terapeuta. Por fim, mas não esgotando o assunto, outras formas de limitação de deslocamento devem também ser levadas em conta, como no caso de limitação de locomoção em razão de problemas de saúde.
Todas essas dificuldades podem ser contornadas, graças à tecnologia da transmissão de imagem e som à distância.
3.2 – Economia de dinheiro e tempo
Podemos também ver como ponto positivo o fato de se evitar gastos extras por parte do cliente, pelo motivo de não mais ser necessário o deslocamento do paciente até o consultório, sabendo que tal gasto via de regra é considerável. E, em caso de uso de veículo próprio, considere-se ainda a dificuldade quanto a lugares para estacionar que normalmente ocorre nos grandes centros.
Mas não apenas a economia de dinheiro deve ser enfatizada, mas também a economia de tempo. Considerando a rotina que é imposta às pessoas hoje em dia o tempo se tornou, mais do que nunca, precioso como ouro.
3.3 – Assuntos difíceis se tornam menos difíceis
Também merece destaque o fato de que alguns pacientes têm dificuldade de tratar certos assuntos frente a frente com o terapeuta, principalmente quando envolvem desejos tidos como inconfessáveis ou experiências de cunho sexual. Mencione-se também pensamentos e sentimentos considerados vergonhosos ou condenáveis pela moral em geral. O fato de o contato com o terapeuta se dar de forma digital e não física pode facilitar muito para que o analisando se abra e exteriorize o que se passa em seu interior.
4 – Pontos negativos do atendimento online
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Embora haja atualmente muitos entusiastas de tudo o que envolve o mundo digital, já diz o velho adágio que nem tudo é perfeito.
Quais seriam então os pontos que poderíamos considerar como negativos nessa nova forma de se conduzir uma psicoterapia?
Pensamos que somente a prática em cada caso em questão poderia apontá-los. Porém, podemos nos antecipar e considerar alguns, de forma genérica:
4.1 – Custo e limitações da tecnologia
Vamos começar considerando algumas necessidades e limitações próprias do mundo digital, tais como a obrigação de pagar por uma boa Internet, bem como as eventuais quedas de conexão.
Terapeutas adeptos do modo on-line reconhecem que uma queda de conexão na transmissão em um atendimento on-line pode prejudicar em muito uma sessão, dependendo da fase em que a mesma se encontre. Como exemplo, podemos citar que todo o trabalho anteriormente feito até que conteúdos recalcados do inconsciente do paciente finalmente estejam emergindo para o consciente poderia ser perdido, total ou parcialmente, em razão de uma interrupção causada por esse tipo de problema técnico. Desafortunadamente, paciente e psicanalista talvez tenham que voltar à estaca zero nesse tipo de situação. Isso porque, em atendimentos on-line, uma interrupção na transmissão de imagem e voz também acarreta, via de regra, a interrupção da conexão estabelecida entre analista e analisando naquele momento específico.
4.2 – O settinig terapêutico virtual
Também se faz necessário que o paciente disponha de um lugar onde poderá participar da sessão sem que haja interrupções, como se estivesse mesmo em um consultório. De acordo com pesquisas feitas com psicólogos que atuam de forma digital, essa talvez seja a maior dificuldade enfrentada pelo paciente. Isso porque muitas pessoas não dispõem em sua residência de um lugar que tenha a privacidade necessária para que consigam a imersão no atendimento psicológico. Nesse contexto foram relatadas demonstrações de inquietude do paciente durante as sessões online, em razão do temor de serem ouvidos por outras pessoas da casa. Também foi relatada a percepção de tensão na fala, que não raras vezes se transformava em cochichos, dificultando assim a escuta por parte do psicanalista.
Tais detalhes não são sem importância uma vez que podem, de acordo com a frequência com que ocorrem, tirar o foco do objetivo principal da terapia.
4.3 – Limitações quanto a algumas formas de terapia
Pensamos que formas de psicoterapia como a Psicologia Formativa de Stanley Keleman sofreriam limitações consideráveis nessa abordagem online. Isso porque ficaria prejudicado o diálogo somático que é o centro dessa forma de terapia.
Foram também relatadas certas dificuldades por profissionais que atuam em análise comportamental.
Já quanto à Psicanálise, assinale-se que a interação presencial entre analista e analisando também envolve a observação por parte do psicanalista de manifestações somáticas do paciente que são indicativos de processos inconscientes em ação. A postura do corpo do paciente ao adentrar e ao sair da sala, a forma de se deitar no divã, a maneira como move as mãos e braços, o posicionamento das pernas e outras manifestações do corpo ajudam o psicanalista a detectar a resistência, a transferência e outros princípios básicos da terapia freudiana. E a boa visibilidade de todos esses indicativos se torna limitada em uma tela de smartphone.
Por fim, comungamos com o entendimento de que nada substitui o calor humano e a troca de energia que acontece quando as pessoas se encontram presencialmente em um mesmo ambiente.
5 – Quando a tradição deve ser seguida
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Existe em Psicanálise um tipo de ritual ortodoxo, ou seja, procedimentos do processo analítico que devem ser seguidos porque já comprovaram a sua importância e eficácia com o passar do tempo. Tais procedimentos se iniciam desde quando o paciente procura o psicanalista em busca de ajuda e se desenvolvem até a formação do par analítico.
Estou me referindo ao ambiente adequado, à anamnese, à entrevista e ao contrato analítico. Contudo, abordaremos também o pagamento, a frequência e duração das sessões e o uso do divã,
Vejamos, então, cada item especificamente:
A – O ambiente adequado
Pesquisando na Internet, podem ser encontradas várias opções e sugestões para a montagem de um consultório psicanalítico, desde a antessala até o local onde a análise se desenvolve, envolvendo ainda a decoração e os objetos considerados essenciais, tal como o divã.
Em se tratando de atendimento online pensamos que alguns elementos devem ser suprimidos e outros mantidos. Como exemplo, devemos considerar que o paciente não deve ver o analista em meio a um local que denote desorganização ou extravagância, até porque isso poderia tirar o foco e a atenção do paciente ou no mínimo causar uma má impressão. Então, um ambiente de cores suaves e neutras, talvez com livros em uma estante, seria de muito bom tom. O psicanalista deve estar confortavelmente sentado e ter uma visualização boa da tela do aparelho de transmissão. Deve atentar sempre para a aplicação de regras de ergonomia na montagem de seu consultório, mesmo em se tratando de atendimento remoto.
Mas agora, o que antes seria uma preocupação apenas do analista passa a ser também do analisando. Ele também precisa de um local onde possa se acomodar confortavelmente sem comprometer a visão da tela do celular ou computador e onde também não haja interferências. Quanto à decoração e aos objetos ao seu redor, isso pode dizer muito ao analista sobre a personalidade do paciente.
B – A anamnese
A anamnese é um tipo de investigação prévia sobre o paciente, onde o analista obtém suas primeiras impressões e estabelece um juízo a respeito de ser ou não tal forma de terapia a mais adequada a um paciente específico.
Ela se dá através de perguntas feitas pelo psicanalista à pessoa que está procurando a psicoterapia.
Deve ser bem detalhada, contendo a qualificação completa do paciente, seus hábitos, gostos, medos, fobias, outras enfermidades de que padece e etc.
Também serve para que o terapeuta veja se já conhece o paciente, o que poderia ser motivo para encorajar a pessoa a procurar outro analista.
Quanto à doença em si, verifica-se as queixas e sintomas relatados pelo indivíduo. Sabe-se que a Psicanálise não é a melhor forma de terapia para se tratar pacientes psicóticos que, s.m.j., necessitariam de tratamento medicamentoso.
Esclareça-se ainda que essa coleta de dados deve ser transcrita para um formulário, sendo que essa ficha deve ser arquivada pelo psicanalista, independente de decidir prosseguir com o tratamento daquele paciente específico.
O psicanalista que trabalha online não pode abrir mão dessa importante fase da terapia porque é através da anamnese que se evitam muitos problemas que poderiam surgir a posteriori.
Por fim, salvo em caso de absoluta impossibilidade, é importantíssimo que a anamnese aconteça de forma presencial.
C – A entrevista
Agora é hora de o paciente falar mais, sem muita intervenção por parte do psicanalista.
Tal etapa se segue após a anamnese, a qual vimos no tópico acima e também deve ocorrer presencialmente.
O analista deixa o indivíduo falar e anota tudo o que lhe pareça ser relevante. Deve apenas fazer uma ou outra pergunta pontual.
Importante ressaltar que a entrevista, assim como a anamnese, deve ser feita face a face. Não se deve utilizar nesta fase as estratégias de posição relaxada e de costas para o analista. Isso porque a análise de fato, onde se utiliza o método da livre associação, na verdade ainda não começou e isso tem que ficar claro para o paciente em questão. Some-se ainda a isso que o psicanalista já poderá tirar algumas conclusões a respeito daquele paciente analisando sua forma de olhar, trejeitos, tiques e outros elementos que poderão lhe auxiliar a formar a sua convicção.
Pode até ser que o próprio paciente mesmo conclua, através da entrevista, que aquele analista ou aquela forma de terapia não sejam o ideal para o seu caso.
Também a entrevista não pode ser, de forma alguma, suprimida da clínica de psicanálise online.
D – O contrato analítico
O contrato analítico é um acordo tácito, correspondente à relação psicoterapêutica entre analista e analisando.
Como em quase todo contrato civil, envolve direitos e obrigações para ambas as partes.
Normalmente, o contrato analítico se formaliza durante ou logo após a entrevista, mas deve ficar claro para o paciente o momento em que se realiza.
Tal ferramenta, embora não seja física, tem o condão de incutir na mente do analisando que a partir daquele momento ele está assumindo um compromisso consigo mesmo e com o seu analista, no sentido de fazer tudo ao seu alcance para se chegar à cura. Por isso não pode de forma alguma ser ignorado na psicanálise online.
E – Frequência e duração das sessões
Como em sessões à distância o paciente não tem que se preocupar com deslocamentos e tempo despendido até o consultório, pode-se considerar a possibilidade de um aumento no número de sessões por semana. Mas isso também depende de outros fatores tais como a situação financeira do paciente, é óbvio. Porém, considere-se que é uma interessante alternativa em casos de maior gravidade.
F – O pagamento
Deve se definir com o paciente o valor dos honorários psicanalíticos, bem como se o pagamento se dará por sessão, por semana ou por mês.
Nos dias atuais existem ótimas ferramentas digitais que permitem que o paciente faça o pagamento onde quer que se encontre.
Mais uma vez se verifica aí a comodidade das relações on-line.
G – O uso do Divã
E quanto ao divã? Como proceder em face da impossibilidade de uso desse importante e tradicional símbolo da Psicanálise?
Com sabido, Freud foi o primeiro terapeuta a usar e reconhecer a importância do divã em um consultório de psicanálise. A título de informação histórica, tal objeto lhe foi dado de presente pela sua paciente Madame Benvenisti, em 1890.
O divã é um instrumento que propicia o relaxamento e a fala livre por parte do analisando, sem que seja acareado ou submetido a olhares invasivos ou constrangedores por parte do terapeuta. E isso acontece em muito pelo fato de o psicanalista se posicionar atrás do paciente, e não frente a frente, o que favorece a desinibição. É onde o paciente se deita e passa a livre associar através da fala.
E como adaptar isso na terapia online?
Pensamos que uma forma de ajustamento seria o paciente se colocar de forma confortável, sentado em uma cadeira ou outro móvel que lhe permita o relaxamento. Pensamos que uma cama não seria o ideal, para evitar que o paciente se sinta relaxado demais e passe a ter que lutar contra o sono.
Quanto à interrupção da comunicação visual direta entre analista e analisando, existe a opção de o paciente não olhar para o psicanalista na tela ou mesmo de desligar a câmera do aparelho enquanto livre associa. O analista, no entanto, deve estar sempre olhando para o paciente na tela, atento a qualquer detalhe que possa contribuir para o bom desenvolvimento da análise.
6 – Resistência, transferência e contratransferência online
Segundo o sítio eletrônico PePSIC, Portal de Periódicos Eletrônicos de Psicologia, ocorreu em 2012, na Cidade do México, o XVII Foro Internacional das Sociedades Psicanalíticas (IFPS).
Neste evento foi abordado, dentre outros tópicos, sobre a instalação da transferência e contratransferência no decorrer das sessões de psicanálise telepresencial. Autores como Carlino, Hanly e Casariego afirmaram que tais fenômenos se desenvolvem normalmente no espaço virtual.
Carlino denominou de presença compartilhada a conexão que se estabelece entre analista e analisando em um atendimento on-line. “Cada participante sente a presença do outro; embora não haja presença física quando este ambiente de encontro e contato é alcançado, não se percebe a ausência do outro, nem se tem a impressão de que o outro está longe durante este contato (CARLINO, 2011, p. 104).”
Para citar outra fonte, verifica-se também que em matéria de autoria de Audrey Furlaneto, publicada no site O Globo, em 22-05-2021, Rodrigo Ventura, mestre e doutor em Filosofia e Psicanálise, afirma que “por mais que algumas limitações sejam evidentes, como a ausência do corpo físico, percebe-se que a presença também se dá à distância.”
Sendo assim, conclui-se que, s.m.j., nesse espaço compartilhado, onde se estabelece uma espécie de ponte entre analista e analisando, a transferência, a contratransferência e a resistência oportunamente se apresentam, assim como nos atendimentos presenciais tradicionais.
7 – Conclusão
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Estando a tecnologia cada vez mais presente na vida das pessoas, não é de se estranhar que hoje os consultórios virtuais sejam a regra. Aquilo que antes era para ser uma alternativa passageira para os tempos de quarentena e isolamento social hoje se tornou a diretriz predominante. Psicoterapeutas adeptos das escolas ortodoxas estão tendo que se adaptar à nova realidade, se quiserem continuar a concorrer em pé de igualdade com os terapeutas mais heterodoxos no já concorrido e cada vez mais crescente mercado psicoterapêutico.
Contudo, em determinadas fases do tratamento, é patente que não se pode abrir mão do atendimento presencial porque isso poderia comprometer o processo de cura. Não raras vezes, quando necessário, o interagir com o outro de forma presencial pode fazer toda a diferença.
A verdade é que, com relação a esse assunto, ainda temos mais indagações que certezas. Será mesmo realmente satisfatório o resultado terapêutico on-line? Apenas o tempo poderá nos dar tal resposta.
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35 – O mecanismo psíquico da transferência
Por Morganna la Belle
Psicanalista
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Se fosse preciso concentrar numa palavra a descoberta freudiana, essa palavra seria incontestavelmente inconsciente.
LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da Psicanálise
1 – O que significa transferência em psicanálise?
A transferência, em psicanálise, pode ser explicada como sendo o deslocamento de sentimentos e experiências que um indivíduo vivenciou com alguma pessoa do passado, normalmente na fase da infância, para a figura de uma determinada pessoa do presente. Tal processo se dá de forma inconsciente.
Esse mecanismo mental, embora seja utilizado pela psique humana desde sempre, desde que o ser humano passou a interagir entre si, foi identificado e conceituado apenas por Freud em suas vivências clínicas e pesquisas sobre o psiquismo humano. É, portanto, uma das maiores contribuições do pai da psicanálise para as ciências da mente, com o fim de identificação de transtornos mentais e a consequente busca de tratamento e cura para tais transtornos.
Importante esclarecer ainda que a transferência não é um recurso utilizado pela mente apenas no ambiente analítico. Tal mecanismo também pode ser observado em outros contextos como, por exemplo, que envolvam a relação entre aluno e professor.
2 – Tipos de transferência
Como se sabe, a descoberta do inconsciente é uma das maiores contribuições de Freud para as ciências da mente. Pode-se considerar então que, como o mecanismo da transferência se dá de forma inconsciente, a descoberta de tal processo tenha sido um desdobramento de sua descoberta principal, que são as instâncias do aparelho psíquico, expostas em sua primeira e segunda tópicas.
Em A Dinâmica da Transferência (1912) Freud identificou a transferência positiva sublimada, que é quando o paciente projeta no analista sentimentos amistosos, até mesmo de admiração e, por conseguinte, se engaja em um espírito de cooperação no sentido de buscar o entendimento do que está causando a neurose. No entanto, identificou também a transferência erótica, que é quando o analisando desloca para a figura do analista pulsões libidinosas recalcadas. E, por fim, Freud detectou também a transferência negativa, que é quando o paciente projeta no analista sentimentos hostis. Considere-se no entanto que, independente do tipo de transferência, é formado um vínculo entre analista e analisando. E é justamente a partir deste vínculo, seja positivo ou negativo, que o analista pode encontrar o fio de Ariadne da questão.
3 – Transferência x Resistência
Ainda de acordo com o clássico de Freud de 1912, as reações do paciente que se manifestam de acordo com o tipo de transferência que se apresenta durante o processo analítico seriam a cooperação e a resistência. A primeira estaria ligada à transferência positiva e a segunda às transferências erótica e negativa.
A cooperação por parte do analisando faz promover uma grande evolução no tratamento porque estabelece um profícuo vínculo de confiança entre analista e analisando. Sendo assim, sentimentos recalcados e aspectos mnemônicos reprimidos passam a emergir com mais fluidez para o consciente. E tudo isso seria potencializado pela utilização do método da associação livre.
No entanto, a resistência faz com que o paciente se ponha a focar na transferência em si, através de seus aspectos libidinais ou mesmo hostis e passe a resistir ou negar que material inconsciente aflore até o consciente. Porém, paradoxalmente, como o analista passou a ser o objeto de tais sentimentos eróticos ou hostis recalcados, pode o terapeuta, através de um meticuloso trabalho de interpretação, trabalhar no sentido de identificá-los e fazer com que ocorra a lembrança pelo paciente do material inconsciente reprimido. A partir daí teria início o processo de cura ou, pelo menos, de maior controle sobre a neurose.
A transferência, portanto, é considerada por alguns estudiosos como uma das principais ferramentas a ser utilizada para se chegar à causa das neuroses. E, como entender o que causa a doença mental é fundamental para que se possa confrontá-la, fazendo cessar os sintomas causados pelo distúrbio em questão e promovendo então a cura do paciente, pode-se dizer que a transferência é de vital importância para o tratamento e cura de alguns transtornos mentais.
4 – Os sentimentos
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Ponto muito importante a ser considerado nos estudos sobre a transferência chamada positiva é o tipo de sentimento que é projetado na figura do analista pelo analisando. Freud descobriu, em suas práticas clínicas, que alguns pacientes passavam a nutrir certo tipo de afeto por ele. Com a evolução deste processo de interação entre ele e tais pacientes, observou que o sentimento inicial de admiração e afeto poderia se transformar em um tipo de amor. E esse amor, em seu entendimento, embora projetado a partir de uma figura do passado, era transferido para uma figura do presente sem perder sua característica de puro e verdadeiro.
Ao ser questionado na época sobre a legitimidade deste amor, Freud insistiu na autenticidade de tal sentimento, que surge do mecanismo da transferência. E, indo mais longe mostrou que, embora tal amor possa evoluir para a eroticidade, ele não temia isso porque assim o vínculo entre analista e analisando se tornaria ainda mais forte, podendo proporcionar a partir daí elementos para a cura do paciente. Freud, portanto, procurava até instigar tal amor.
Fez então uma interessante analogia com a evocação de demônios, prática ensinada em grimórios antigos como a Goétia. Freud publicou em 1915:
Instigar a paciente a suprimir, renunciar ou sublimar suas pulsões, no momento em que ela admitiu sua transferência erótica, seria, não uma maneira analítica de lidar com elas, mas uma maneira insensata. Seria exatamente como se, após invocar um espírito dos infernos, mediante astutos encantamentos, devêssemos mandá-lo de volta para baixo, sem lhe haver feito uma única pergunta. Ter-se-ia trazido o recalcado à consciência, apenas para recalcá-lo mais uma vez, num susto (Freud, 1969/1915, p. 2013).
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Fausto evocando um demônio do inferno
Interessante essa analogia, considerando que Freud era avesso ao misticismo e esoterismo, sendo essa justamente uma das causas de seu posterior rompimento com Carl Gustav Jung. A comparação, no entanto, ilustra bem sua visão a respeito da importância do vínculo afetivo promovido entre psicanalista e paciente através do mecanismo da transferência.
5 – A visão de Lacan
No entanto, os sucessores de Freud, em especial Jacques Lacan, não compartilharam da mesma opinião do mestre. Em 1964, o próprio Lacan publicou em seu livro Os Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise que o amor projetado pelo paciente no analista é um “falso amor”, uma “sombra de amor”, embora pudesse muito bem ser legítimo em sua origem no passado. Esta visão do sentimento, embora publicada na década de sessenta, ainda é a versão mais aceita até hoje.
Porém, muito importante enfatizar que, embora Freud instigasse tal vínculo afetivo, fazendo dele um poderoso aliado na sua investigação sobre a causa das neuroses de seus pacientes, ele era radicalmente contra o psicanalista se envolver sexualmente com seus pacientes. Ele afirmava que a ponte que fora construída entre a mente do analista e a do paciente seria destruída com a satisfação física de desejos eróticos, frustrando então qualquer possibilidade de cura.
6 – Os casos Bertha Pappenhein e Sabina Spielrein
Isso nos leva então a dois exemplos muito interessantes, envolvendo duas pacientes famosas, sendo o caso de Bertha Pappenhein e o de Sabina Spielrein. O primeiro envolveu Joseph Breuer e o segundo Carl G. Jung.
Bertha Pappenhein, nascida em Viena, ficou conhecida pelo pseudônimo de Anna O. quando foi tratada pelo médico vienense Joseph Breuer, contemporâneo de Freud.
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Bertha Pappenhein
O caso Anna O., pela sua importância na época, é tido como a inspiração para a criação da Psicanálise por Sigmund Freud. Embora Bertha Pappenhein tenha sido inicialmente paciente de Joseph Breuer, ela foi depois encaminhada a Freud, justamente por ter aflorado nela o mecanismo da transferência em relação ao seu primeiro terapeuta.
Ela era de ascendência alemã e judia. Na casa dos 20 anos de idade, ao ter que lidar com dificuldades inerentes à doença terminal de seu pai, desenvolveu um quadro de neurose, sendo mais especificamente diagnosticada com histeria. Tal distúrbio mental causava nela vários sintomas nervosos e físicos. Foi então levada para ser tratada por Joseph Breuer, médico vienense que gozava de muito boa reputação.
Entre 1880 a 1883 Joseph Breuer utilizou hipnose e outros desdobramentos com o fim de tratá-la, sendo que passou a documentar seu histórico clínico como caso Anna O., justamente para preservar a identidade da paciente em questão. Porém, no desenrolar do tratamento clínico, quando aflorou na paciente o processo da transferência, ela então desenvolveu um estado de gravidez psicológica e afirmou em seus delírios que o filho era do Dr. Breuer. O médico então, temendo maiores problemas com sua família e com a sociedade de Viena, abandonou o caso e encaminhou a paciente a Freud.
Freud então passou a tratá-la, sendo que da relação entre Bertha e Breuer e posteriormente entre Bertha e Freud nasceram o conceito de catarse, a expressão cura pela fala e alguns dos outros fundamentos da nova ciência que seria chamada de Psicanálise.
Interessante constatar que Joseph Breuer pertencia ao mais alto escalão de médicos vienenses de sua época e, mesmo com toda sua experiência e conhecimento, não foi capaz de lidar com a manifestação do fenômeno da transferência em Bertha Pappenheim, o que nos leva a fazer a consideração de que o psicanalista precisa ter uma base bem sólida para lidar com determinados casos.
Já o caso de Sabina Spielrein teve um desfecho bem diferente, mas não menos importante para a história da Psicanálise.
Em 1904 Sabina Nikolayevna Spielrein, de família russa e judia, foi encaminhada ao sanatório onde Carl Gustav Jung prestava serviço como médico, sendo também considerada acometida de histeria.
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Sabina Spielrein
No desenvolvimento da relação clínica entre fräulen Spielrein e o Dr. Jung surgiu também o mecanismo psíquico da transferência. Porém ao inverso do que fez o Dr. Breuer, Carl G. Jung tornou-se amante de Sabina. A relação entre Jung e Freud já estava abalada, sendo que isso contribuiu ainda mais para o rompimento entre ambos que se daria mais tarde. Isso porque, como exposto acima, Freud era rigidamente contra o envolvimento sexual entre psicanalista e paciente. No entanto, mesmo com a relação adúltera entre ambos – Jung já era casado nessa época -, o tratamento teve êxito graças ao próprio método de Freud.
Sabina Sipirelrein a posteriori tornou-se uma das primeiras psicanalistas mulheres da história e, após voltar para a União Soviética em 1923, foi uma das criadoras do chamado Berçário Branco, um jardim de infância em Moscou que tinha o objetivo de tratar crianças.
7 – A evolução do conceito de transferência
A concepção de transferência passou por várias renovações a partir de Freud, conforme foram evoluindo também outros conceitos psicanalíticos e psicológicos.
Através dos casos acima expostos, podemos verificar então que não existe fórmula tão rígida em psicologia ou psicanálise que deva ser estritamente seguida para se conseguir a cura do paciente. Isso por causa da complexidade da mente humana, principalmente em sua instância inconsciente. Pensamos que não deve o psicanalista abandonar o paciente por causa das dificuldades do caso, mas também não deve se aproveitar da fraqueza da pessoa em tratamento para se render aos seus impulsos eróticos.
Seja como for, o radicalismo de Breuer e a fraqueza de Jung frente ao fenômeno da transferência talvez tenham contribuído para que estes casos se tornassem referências históricas no mundo da Psicanálise, o que nos leva a concluir então sobre a importância da transferência na história das ciências da mente.
Embora, com o passar do tempo, o mecanismo mental da transferência tenha sofrido várias modificações em sua concepção, ela ainda é utilizada como uma poderosa ferramenta pelo psicanalista para chegar ao inconsciente da pessoa que está em busca de tratamento para restabelecer a sua saúde mental.
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blogdamorgannalabelle · 6 months
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Amo o mundo feminino desde pequeno, mas nunca tive coragem de me assumir, hoje tenho família sou casado e com 42 anos, eu já li e pesquisei bastante sobre tudo um pouco, mas nunca tive coragem de seguir adiante com a feminização total. Como perder o medo e conseguir a coragem que me falta ?
Estou aberta as suas perguntas sem restrições.
Oi, amor!
Respondo a você com uma pergunta: O quanto a feminização total é importante para você? Você disse que tem família e filhos. Como eles lidariam com isso? Você de fato se sente uma verdadeira mulher em seu interior e precisa mesmo se mostrar ao mundo como tal? Se for assim, cabe a você buscar a sua felicidade como mulher e não deixar que ninguém te impeça de ser feliz. Temos exemplos de pessoas que fizeram uma transição em idade madura, como a Coronel Maria Antônia e a advogada Márcia Rocha. As duas viveram como homens boa parte da vida delas, se casaram e tiveram filhos antes da transição. Mas por outro lado, se você não se sente segura ou mesmo convicta de que quer viver como mulher, então é melhor que espere mais e só faça quando tiver a certeza de que realmente quer isso. Se algum dia essa certeza vier, pode estar certa de que a coragem surgirá. Espero ter ajudado. Bjos da Morganna
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blogdamorgannalabelle · 7 months
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34 – O que é ser psicanalista?
Por Morganna la Belle
Psicanalista
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Se fosse preciso concentrar numa palavra a descoberta freudiana, essa palavra seria incontestavelmente inconsciente.
LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da Psicanálise
1 – Definição de psicanalista
Psicanalista é uma pessoa com formação em Psicanálise, metodologia psicoterapêutica e de investigação da mente, criada no final do século XIX pelo médico austríaco Sigmund Freud (1856-1939).
O psicanalista não se confunde com psicólogo ou psiquiatra, embora haja relação entre as respectivas ciências, por se trataram todas de métodos de prevenir ou de tratar distúrbios mentais, ou seja, de se promover a saúde mental.
2 – O que faz um psicanalista?
O psicanalista conduz a pessoa a uma melhor compreensão de si mesma. Para isso analisa pensamentos, fantasias, sonhos, desejos reprimidos, esquecimentos e outras formas de comportamento.
Um dos principais objetivos da psicanálise é fazer emergir lembranças de fatos da vida do analisando que estão escondidas na camada do aparelho psíquico denominada inconsciente, que é aquela parte da nossa mente que não temos acesso.
O terapeuta formado em psicanálise também analisa os mecanismos de defesa do ego, que são processos psíquicos inconscientes dos quais a pessoa se vale para fugir da angústia e da frustração, fantasiando a realidade ou dela fugindo.
Freud descobriu que o nosso inconsciente muitas vezes se manifesta de forma sutil. Lembranças reprimidas ao longo da vida muitas vezes se exteriorizam no cotidiano do paciente através de sintomas físicos prejudiciais, atos de autossabotagem, depressão, ansiedade, ataques de pânico, e etc. O papel do psicanalista é justamente fazer com que esses conteúdos reprimidos se revelem e sejam integrados ao consciente.
No decorrer das sessões de psicanálise, quando o conteúdo obscuro do inconsciente irrompe à mente consciente, ocorre muitas vezes um processo de resolução do conflito interno, gerando, em consequência, a cura.
Sabe-se que as pessoas têm histórias de vida diferentes, sendo que cada um constrói a si mesmo à sua maneira, de acordo com seus modelos de vida, suas experiências e até mesmo seus traumas. O psicanalista se adapta conforme o momento e a pessoa, procurando desconstruir certezas que impedem que o paciente tenha uma melhor compreensão de si mesmo.
No decorrer das sessões de psicanálise não só o analisando se transforma, mas também o analista. A psicanálise tem justamente essa finalidade, que é de conduzir a pessoa a um maior conhecimento de si mesma. E, para que isso aconteça, muitas vezes se faz necessário construir um olhar diferente para que se possa ver com mais clareza.
O psicanalista também analisa a mente coletiva com a finalidade de entender as mudanças sociais de comportamento, tais como o aumento da drogadição, a iniciação cada vez mais precoce na vida sexual, o vício em aparelho celular, a violência crescente relacionada à política e tantas outras manifestações difusas e coletivas.
3 – Algumas técnicas básicas da Psicanálise
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Dentre as várias técnicas utilizadas pelo psicanalista para estabelecer uma conexão com a mente do paciente, podemos citar as que se seguem.
. Associação livre
Na associação livre o analista permite que o paciente fale livremente, raramente o interrompendo. Isso faz com que o analisando possa aos poucos ir trazendo ao consciente aqueles aspectos reprimidos do inconsciente.
. Atenção flutuante.
Técnica utilizada pelo terapeuta para alcançar uma atenção mais abrangente, considerando a fala, gestos, sinais, aparência física e tudo o mais que possa levar a uma melhor compreensão do analisando.
. Abstinência.
Postura assumida pelo psicanalista no sentido de não se envolver emocionalmente com o paciente, mantendo uma certa distância para que possa perceber melhor o psiquismo do mesmo.
. Neutralidade.
Atitude do psicoterapeuta de saber separar suas próprias crenças e opiniões daquilo que o analisando entende como sendo a verdade dele.
. Busca da verdade.
Compromisso assumido pelo psicanalista no sentido de utilizar todos os recursos da psicanálise para se chegar à verdade. Isso porque, por mais dolorosa que seja à primeira vista, apenas a verdade cura e liberta.
4 – Algumas condições para ser um bom psicanalista
A Psicanálise é uma profissão livre, reconhecida pelo Ministério do Trabalho em Emprego e amparada pelo Decreto nº 2.208/97, Decreto 2.494/98, Lei Complementar 147/2014 e pela própria Constituição Federal.
No entanto, não basta pagar e receber um certificado. Se for clinicar, o psicanalista irá trabalhar com pessoas e com toda a complexidade que lhes é inerente. Então, algumas outras condições devem ser observadas, tais como as que se seguem.
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. Procurar um bom curso de formação em psicanálise, de preferência oferecido por uma escola com reconhecimento e tradição.
. Estudar com afinco, inclusive outras disciplinas que não fazem parte diretamente da psicanálise mas que com ela têm relação. A psicanálise apresenta uma vasta literatura, desde Freud até autores mais atuais. Um psicanalista nunca deve parar de estudar para não ficar defasado em seu conhecimento.
. Desenvolver o respeito à diversidade humana. Cada pessoa é um ser humano único, não há outro igual, por isso o psicanalista não pode discriminar, recriminar ou julgar.
. Conhecer a si mesmo antes de se propor a analisar o outro. Para isso a autoanálise é requisito obrigatório na formação em psicanálise.
. Cuidar de si mesmo antes de querer cuidar do outro.
. Desenvolver a resiliência para aprender a lidar com situações difíceis no setting analítico.
. Desenvolver a paciência dentro do ambiente analítico, respeitando o tempo de cada coisa e não deixando os problemas pessoais interferirem na comunicação com o analisando.
. Ter consciência, de antemão, que a mente humana não é um brinquedo, mas sim um poderoso propulsor que pode levar o indivíduo tanto às aturas do conhecimento e da realização quanto ao próprio inferno na terra.
. Saber que não sabe. Ao contrário do dito popular, nem Freud explica tudo.
. Aprender a pensar mais, falar menos, escutar o triplo.
. Caso queira fazer da psicanálise uma profissão, cultuar desde cedo a ética profissional e o silêncio, no sentido de não revelar nomes ou qualquer fato que ocorra em uma sessão de análise, salvo quando a lei expressamente o determinar. Isso porque o analisando precisa ter confiança no profissional que escolheu.
5 – Considerações finais
Não é papel do psicanalista diagnosticar doenças. Rótulos são muitas vezes perigosos e podem direcionar uma pessoa a um caminho nefasto que talvez ela não tivesse trilhado se não fosse de certa forma sugestionada.
O papel do psicanalista é analisar, e tudo é passível de análise, inclusive o próprio psicanalista.
Na verdade nós não temos a capacidade de realmente entender a dor do outro. O papel do psicanalista é fazer o outro entender a sua própria dor e de aprender a lidar com ela.
O psicanalista não pode ser amigo ou ter qualquer vínculo afetivo com o analisando. No entanto, pode ser o profissional que irá conduzi-lo rumo a uma melhor compreensão de si mesmo e, por consequência, a uma vida mais plena e menos suscetível de ser tão afetada pelas mazelas humanas.
Coisa que talvez nem o amigo com a melhor das boas intenções conseguisse fazer.
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blogdamorgannalabelle · 7 months
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33 – A desunião LGBTQIAP+
Por Morganna la Belle
Psicanalista
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1 – Vai entender!
No exercício da prática da psicanálise clínica posso afirmar que alguns tipos de comportamento que o ser humano reproduz ao longo das gerações é mais difícil de se conseguir compreender do que se nos propusermos a entender o comportamento dos animais considerados por nós como seres irracionais.
É o caso, por exemplo, dos conflitos fúteis que nascem entre pessoas pertencentes a uma mesma classe ou grupo e que faz com que os objetivos maiores que essa coletividade se propõe a atingir fiquem ainda mais difíceis de se concretizar.
Como, eu me pergunto, em uma classe tão perseguida e discriminada como a comunidade LGBTQIAP+, ainda se encontra tempo e espaço para conflitos banais e guerrinhas ridículas envolvendo uns contra os outros?
Sinceramente não sei. Conflito entre egos, talvez. E, como solução, pensam alguns que basta acrescentar mais uma letrinha na sigla ou criar mais uma bandeirinha que tudo está resolvido. Sinto dizer-lhes, não está. Mas não está mesmo!
2 – Nós contra eles, mas eles são nós mesmos!
A seguir, apresento alguns exemplos desse tipo de desentendimento inútil. Mas há muito mais!
Gays x Bissexuais
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Alguns gays afirmam que os bissexuais não se definem, que são confusos quanto à própria sexualidade. Esse tipo de gay parece se achar especialista em sexologia e então se mete a analisar e julgar a sexualidade das pessoas bi. Parece que para eles a sexualidade tem que ser uma opção rígida, definitiva e imutável na vida de uma pessoa.
Já alguns bissexuais, quando estão na sua fase “homem”, dizem não gostar de gays, principalmente dos que apresentam trejeitos. Ou seja, não é legal dar o c…, mas se for dar, tem que dar igual macho.
Haja paciência, não é mesmo?
Gays x Gays
Essa é ainda pior!
Gay higienizado contra gay queer.
Gay (não muito gay), politicamente correto e de extrema direita conservadora, contra o gay (gay mesmo).
É simplesmente lastimável, baixo, um gay apoiar qualquer homofóbico que esteja no poder. Ou você é gay ou não é, bicha oportunista! Não tem meio termo. E ser um estilista, esteticista ou qualquer profissional de beleza famoso não te torna melhor do que aquele gay negro e pobre que mora em uma favela. Pode ser que este último tenha muito mais caráter, integridade e honra do que você!
E depois ainda se beneficiam de direitos conquistados através da luta dos homossexuais ativistas, daqueles que colocaram a cara a tapa. Direitos tais como a adoção de filhos por casais gays, a obrigação de os cartórios realizarem casamentos de pessoas do mesmo sexo, o reconhecimento de que também se constitui família a união de pessoas do mesmo sexo, a despatologização da homossexualidade, etc. não foram conquistados sem que houvesse muita luta por parte daqueles que não se fecharam confortavelmente em sua própria bolha.
Transexuais x Não-bináries
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Algumas mulheres transexuais e homens transexuais afirmam do alto da sua cátedra “trans” que as pessoas de gênero não-binárie não se enquadram na categoria de pessoas transgênero. Ora, e quem exatamente se enquadra na categoria transgênero? O próprio termo transgênero, por ser um termo guarda-chuva ou hiperônimo ainda não está claramente definido quanto às classes que engloba. Não há ainda uma uniformidade de pensamento quanto a isso, o que existe hoje é simplesmente a opinião de alguns estudiosos e o achismo de algumas pessoas que nem sabem explicar direito o significado do prefixo “trans”. Acham que tudo se resume a cisgênero e transgênero ou nem sabem a diferença entre transgeneridade e transexualidade.
Travestis x Crossdressers
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Essa eu levo para o lado pessoal porque me entendi crossdresser durante muito tempo na minha vida.
Muitas travestis se consideram sim, criaturas superiores às crossdressers. Apontam o dedo para as CDs, afirmando que não passam de falsas travestis que se vestem de mulher simplesmente quando lhes convém e ainda por cima às escondidas. Têm certa raiva de as crossdressers normalmente terem preferência sexual por mulheres (como se isso fosse um defeito). E se revoltam porque as CDs não se expõem e por isso dificilmente sofrem transfobia. Mas se esquecem que o homem crossdresser não tem a necessidade e nem quer viver em tempo integral no feminino, simplesmente porque gostam também de serem homens e de serem tratados como homens na maior parte do tempo. O crossdressing é apenas uma parte de sua vida e de forma nenhuma a mais importante.
Por outro lado, muitos homens crossdressers fazem piadinhas sobre “travecos” em rodinhas de amigos no bar, sendo que, escondidos entre quatro paredes rebolam diante do espelho usando peruca, calcinha e salto alto. E isso às vezes de bigode, peito e pernas peludas. Tal tipo de hipocrisia e discriminação eu nunca pratiquei em minha fase de fetichista transvéstico, termo psicanalítico para homem que tem a compulsão de se vestir de mulher. Nunca fiz porque sempre admirei as travestis, mesmo sabendo que muitas zombariam de mim se soubessem que eu cultivava práticas crossdresser.
Sabiam, queridas travestis, que o Dr. Harry Benjamin (12/01/1885-24/08/1986), eminente sexólogo alemão e grande precursor em tratamento dos transtornos da identidade de gênero, criou uma escala onde há graus de travestilidade?
Sim, estimadas irmãs travestis, de acordo com a classificação do Dr. Harry Benjamin há 3 classes de travestilidade, sendo que as crossdressers poderiam se enquadrar nos tipos I e II. Eu mesma, quando em minha fase estritamente crossdresser, me enquadrava na classe de Travesti Fetichista, ou Tipo II. Então, vocês querendo ou não, de acordo com o famoso sexólogo, a crossdresser é sim uma travesti. Olha só, então eu sempre fui uma travesti!!!
Mas há um recurso a ser usado por quem não comunga com as teses do erudito sexólogo. Em Direito chamamos este recurso de “jus esperniandi”, ou seja, você tem o direito de espernear, caso não concorde.
Mas também podem ficar à vontade para apresentar trabalhos acadêmicos refutando a aludida tabela do Dr. Benjamin. Pode ser que eu passe a concordar com a tese científica que você apresentar.
Podem então perceber como não há apenas e simplesmente preto e branco no nosso mundo transgênero?
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Aqui a situação se inverte. Algumas mulheres trans, notadamente as que fizeram cirurgia de redesignação sexual (antigamente chamada de cirurgia de mudança de sexo) se arvoram mais fêmeas e femininas do que as travestis porque as travestis conservam seus pênis entre as pernas. É ruim quando se está do outro lado do dedo que aponta, não é, queridas irmãs travestis?
Mas, queridas mulheres trans, sinto lhes informar que vocês não são superiores às travestis. Vocês apenas fazem parte de uma categoria diferente! Não façam com as travestis aquilo que as mulheres cis fazem com vocês porque vocês bem sabem o quanto dói.
E as travestis, parece que com o intuito de se defenderem e se colocarem no mesmo nível das mulheres trans, estão agora querendo divulgar o termo “mulher travesti”. Como assim???
Qual seria exatamente a diferença entre uma mulher trans e uma mulher travesti? Confesso que ainda não alcancei esse alto nível de intelecto para conseguir entender isso. Travestis, até onde sei, são uma categoria própria de pessoas transgênero, não são homens nem mulheres. E não são inferiores por causa disso.
É muita confusão neste meio, todo dia nasce uma identidade nova sem qualquer fundamento científico que a legitime. Aí querem impor tal identidade através da força e passam a dar murros em ponta de faca.
Travestis x Travestis
Essa também é ótima!
Sabe-se que a transexualidade é um estado puramente interno. Um homem biológico, para ser considerado uma mulher trans, deve de fato se sentir uma mulher, mesmo que seu corpo ou a sociedade em peso pareçam contradizer isso. E esse sentimento é tão forte e tão vívido que será mais fácil mudar a sua genitália do que arrancar tal convicção de dentro de si. Sentem-se sim, uma alma feminina dentro de um corpo masculino. Em situações de disforia de gênero grave, algumas não conseguiam nem olhar para o próprio pênis antes de se submeterem à cirurgia de redesignação sexual. Há também até casos de tentativa de automutilação, quando a disforia se tornou tão insuportável que arrancar o próprio órgão masculino ou mesmo morrer parecia ser menos sofrível do que viver em um corpo que não condiz com a identidade de gênero. Mas há algumas mulheres trans que não sentem a necessidade de fazer qualquer mudança corporal porque, como afirmado, o sentimento de ser mulher é puramente interno.
Mas e as travestis? As travestis, estritamente falando, se identificam com o universo feminino e normalmente fazem tudo para viver neste universo, mas não se consideram exatamente mulheres. Não possuem esse sentimento de que são mulheres. Sabem que não são mulheres. Se tivessem tal sentimento, não seriam travestis, mas sim mulheres trans. É como se pertencessem a um terceiro gênero, sendo esse gênero ainda indefinido. É como se a própria palavra travesti também correspondesse a um gênero, contradizendo o binarismo normativo existente.
Então é muito hilário, para não falar lastimável, ver uma travesti querendo se fazer passar por mulher trans. Isso porque é mais sofisticado. Afinal, a palavra travesti carrega o estigma da marginalidade e da prostituição perante a sociedade.
Então, em vez de lutar para afirmar a sua identidade (essa sim, uma identidade já consolidada através dos tempos), preferem se fazer passar por algo que na verdade não são. E são muitas dessas aí que, depois, criticam as crossdressers.
Outra situação que parece piada é o fato de muitas travestis serem metidas a estabelecer e delimitar a sexualidade da própria classe. Travesti só pode gostar de homem. Se gosta de mulher, não é travesti. Pelo amor da Deusa, onde está escrito isso?
O sentimento de ser mulher trans ou travesti não está necessariamente atrelado à orientação sexual da pessoa. São coisas totalmente distintas. Uma travesti ou uma mulher trans pode sim, sentir atração sexual por mulheres sem que isso comprometa a sua identidade de pessoa transgênero. Da mesma forma, um homem trans também pode se sentir sexualmente atraído por outro homem. Qual o problema?
Ligar a identidade de gênero de uma pessoa à sua genitália é justamente a arma mais utilizada pela nossa sociedade machista heteronormativa desde a colonização cristã patriarcal, que tenta a todo o tempo nos desumanizar e nos reduzir a aberrações da natureza!
4 – E enquanto isso…
E enquanto isso os políticos e religiosos conservadores pisam, escarnecem, criticam, condenam, negam direitos e cospem em toda a comunidade LGBTQIAP+. Tudo com base em uma chamada ideologia de gênero que não passa de uma ficção criada por políticos interesseiros, hipócritas e de mal caráter, que querem se eleger defendendo a chamada pauta de costumes. Uma pauta que eles bradam zelar por ela, mas bem sabemos que muitos desses bravos defensores dos bons costumes são, na verdade, clientes fiéis de prostitutas, travestis e garotos de programa. Isso quando não estão também envolvidos com pedofilia e efebofilia! Como foi veiculado pela mídia nem faz tanto tempo, um político aí de extrema direita, “cidadão de bem”, gravou vídeos fazendo sexo com adolescentes.
E, enquanto isso, travestis e mulheres transexuais não podem usar um banheiro público feminino porque são consideradas estupradores. Sim, mulheres estupradores, no masculino mesmo!
O país que mais consome pornografia trans é justamente o país onde mais se mata transexuais e travestis no mundo.
Para a classe dominante masculina patriarcal, é imprescindível que se mantenha uma rígida divisão entre os gêneros.
E o que estamos fazendo para mudar isso? Ainda muito pouco, principalmente se nós continuarmos perdendo tempo lutando contra nós mesmos.
O Brasil é um país gigante que pode ser referência em termos de inclusão social. Mesmo que países poderosos como os Estados Unidos ainda destilem o veneno da LGBTfobia, nós temos potencial para sermos um diferencial, para ainda sermos um exemplo para o mundo!
Já ouvi depoimentos de líderes religiosos que afirmaram que passaram a propagar suas doutrinas espiritualistas no Brasil porque aqui as pessoas têm uma maior propensão à espiritualidade. Que então nossa espiritualidade nos faça reconhecer que a inclusão das minorias excluídas e marginalizadas faz parte do sentimento de caridade, de fraternidade e de amor ao próximo.
Vamos nos respeitar mais. Vamos nos unir para fazermos a diferença!
5 – E quem é Morganna la Belle, para estar escrevendo isso?
Um ser humano antes de tudo. Nasci no sexo masculino, tenho cromossomos XY, minha preferência sexual são as mulheres, mas transito entre os dois gêneros. Minha expressão de gênero varia conforme minha vontade e conveniência. Isso mesmo, conforme minha vontade e conveniência!
Nasci assim e não tenho obrigação nenhuma de me enquadrar em uma identidade pré definida que melhor me convenha. Por outro lado, também não vou ficar criando identidades sem qualquer fundamento para me atender especificamente. Sou, antes de tudo, eu. Tão-somente eu.
Sou uma esfinge. Mas se você não me decifrar eu não vou te devorar.
Mas, caso você se incomode muito, e queira me condenar por eu não me definir e determine que eu preciso me definir, pode me incluir no + da sigla LGBTQIAPMXNYZ+. Para mim não faz a menor diferença.
Sou simplesmente eu mesme e não estou preocupade com os rótulos que queiram colar em mim. Isso porque a essência da pessoa pré existe ao gênero, assim como pré existe também à própria noção de identidade.
Me encontrei assim e sou feliz assim!
Respeito toda a diversidade existente no mundo LGBT+, mas da mesma forma não posso concordar com a hipocrisia, guerrinhas sem sentido entre as categorias, e com a criação sem limites de rótulos, letrinhas e bandeirinhas que estão ocorrendo de uns tempos pra cá. Penso que isso não está levando a nada. Pelo contrário, está até sendo contraproducente por confundir tanto a cabeça de quem não é desse meio, como bem já me posicionei antes (https://rainhamorgannalabelle.wordpress.com/2022/08/17/28-lgbtqiapn-da-ate-preguica-de-escrever-isso/).
Lembremos que as leis que tanto precisamos e pleiteamos que sejam aprovadas para nos dar mais direitos serão na maioria das vezes redigidas justamente por quem não é LGBT+. Vamos procurar ver pela perspectiva deles também, auxiliá-los a nos compreender. Penso que, ao final, seremos nós mesmos(as) os maiores beneficiados(as).
5 – Vamos acabar com esse nós versus nós!
Estão vendo como no meio LGBT muitas coisas ainda são nebulosas? E o que a sociedade heteronormativa homotransfóbica quer é justamente isso, dividir para conquistar. Não vamos facilitar o trabalho deles!
Como bem disse Judith Butler, em sua famosa obra Problemas de Gênero – Feminismo e Subversão da Identidade (Rio de Janeiro, 2021, 21ª edição, editora Civilização Brasileira), “A matriz cultural por meio da qual a identidade de gênero se torna inteligível exige que certos tipos de ‘identidade’ não possam ‘existir’”. Em outras palavras, se Deus não criou as identidades transgênero, tais pessoas que se dizem pertencer a elas não deveriam nem existir, quanto mais ter qualquer direito. E isso também vale para as orientações sexuais que não sejam heteronormativas.
Estamos todos no mesmo barco, amores. Portanto, rememos todos juntes em uma mesma direção para chegarmos aonde precisamos!
Ah, e se alguém disser que as bandeiras apresentadas nas fotos não são as certas para essa ou aquela classe, podem ir se entender com a Wikipédia porque foi o site que utilizei como fonte. Afinal, parece que nem nisso há uniformidade de pensamento entre nós…
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32 – As pessoas trans e a angústia da passabilidade
Por Morganna la Belle
Psicanalista
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1 – Introdução
Então, amores, já se perguntaram por que sair em público “montada” é uma experiência tão marcante mas ao mesmo tempo tão atemorizante para a pessoa transgênero, principalmente nas primeiras vezes?
E você já parou para analisar toda a carga de sofrimento que a chamada passabilidade pode trazer para a vida de uma transexual, travesti ou crossdresser?
As respostas a este tema tão delicado para as pessoas trans e para os profissionais da saúde mental nós vamos ver mais à frente mas, para isso, vamos antes abordar rapidamente alguns conceitos básicos, visando a uma melhor compreensão do contexto.
Vamos então a eles?
2 – Conceitos básicos
Identidade de gênero
Gênero com o qual a pessoa se identifica, que pode estar ou não em conformidade com o seu sexo biológico. Atualmente há controvérsias sobre a quantidade de gêneros que existem, contrariando a concepção binarista comum de que existem apenas o feminino e o masculino.
Sexo biológico
É o sexo de nascimento definido e baseado no código genético da pessoa, que pode ter cromossomos XY (masculino) ou XX (feminino).
Expressão de gênero
Basicamente é como a pessoa expressa ao mundo a sua identidade de gênero. Isso inclui comportamento, vestuário, expressão corporal, formas de se comunicar etc.
A expressão de gênero, contudo, nem sempre está atrelada à identidade de gênero da pessoa. Convencionalismos culturais, repressão familiar, não aceitação de si mesmo(a) ou até mesmo leis homotransfóbicas ainda existentes em algumas partes do mundo podem impedir que a pessoa consiga expressar para a sociedade a sua verdadeira identidade de gênero.
Passabilidade
Termo criado no meio trans, travesti e crossdresser. É a condição de a pessoa ser reconhecida como pertencente ao gênero com o qual se identifica que é, via de regra, oposto ao seu sexo biológico.
Montada
Termo normalmente ligado ao universo crossdresser. Significa estar produzida como mulher, utilizando vários recursos e truques para alcançar uma expressão de gênero o mais feminina possível.
Transgênero
Trata-se de um hiperônimo ou termo guarda-chuva que abrange algumas classes como transexuais, travestis e pessoas de gênero considerado não-binário. Alguns estudiosos incluem também outras classes, não há uma rigidez ou uniformidade estabelecida quanto a isso.
Crossdresser
Crossdresseres são homens, na sua maioria heterossexuais, que apresentam compulsão em se vestir de mulher.
Travesti
A palavra travesti é mais comum em países de língua latina, como todos os da América do Sul, Portugal e Espanha. O termo se refere, via de regra, às pessoas que não se sentem como homens nem como mulheres, mas sim com se pertencessem a um terceiro sexo. Via de regra têm os caracteres sexuais secundários femininos, mas possuem pênis.
Mulher trans
Entender-se uma mulher trans é antes de tudo um sentimento puramente interno, uma vez que não é necessário, a princípio, efetuar qualquer mudança corporal a fim de se estabelecer uma coerência física com tal sentimento.
Tais indivíduos, portanto, podem ou não desejar fazer cirurgia de redesignação de sexo, procedimentos de feminização ou se submeter a terapias hormonais. Tudo vai depender, via de regra, de haver ou não disforia de gênero mais ou menos grave.
Cada caso é único, assim como cada pessoa é única no mundo.
Homem trans
É o inverso de mulher trans, ver item acima.
Não-binárie
Pessoas de gênero não-binárie são aquelas que não se sentem pertencentes a nenhum gênero em particular, assim como podem possuir mais de uma identidade de gênero dentro de si. Estou também incluindo aqui variações de gênero tais como agênero, gênero fluido, poligênero e outras. Algumas transicionam livre e naturalmente, frequentemente ou não, entre essas identidades. Enfatize-se que tal sentimento é puramente interno e se liga ao sentimento de pertencimento a este, depois àquele, a todos ou a nenhum gênero em particular. Tal sentimento pode também se traduzir na forma com que ele ou ela se apresenta no mundo, ou seja, na sua expressão de gênero.
Colocados estes conceitos, vamos então retornar ao tema deste estudo.
3 – A ambiguidade da passabilidade
Quando uma pessoa transgênero, seja ela transexual, travesti ou crossdresser se produz de acordo com o gênero com o qual se identifica – que via de regra é oposto ao seu sexo biológico – e tem a coragem de se expor ao mundo pela primeira vez, ocorrem muitas coisas a nível inconsciente que a pessoa muitas vezes não consegue perceber.
Expor-se na rua ou em lugares públicos, normalmente implica ter contato com outras pessoas. E essas pessoas, por motivos diversos, têm reações diferentes ao ter contato com a pessoa transgênero.
Se a mulher trans, a travesti ou a crossdresser tiver boa passabilidade, ela é considerada como sendo pertencente ao gênero com o qual se identifica que, como dito acima, é o oposto do seu sexo biológico. As pessoas a veem assim e a aceitam assim, como sendo algo absolutamente normal. E isso faz gerar um empoderamento da identidade de gênero na pessoa em questão.
Mas a palavra passabilidade carrega também uma conotação de falsidade, uma vez que ser “passável” implica em se passar por algo que não se é. Veremos isso mais adiante.
Como já disse no Guia Definitivo para a Crossdresser que quer sair em Público “Montada”, de minha autoria, “...quebrar o bloqueio e sair de casa produzida como uma linda mulher é uma das mais incríveis experiências pela qual uma crossdresser pode passar. É mesmo indescritível o mundo de sensações que acontecem, só vivenciando mesmo para saber!” (https://rainhamorgannalabelle.wordpress.com/2022/04/18/23-guia-definitivo-para-a-crossdresser-que-quer-sair-em-publico-montada/)
E isso também vale para travestis, mulheres trans e homens trans, neste último caso devendo apenas mudarmos a frase “produzida como uma linda mulher” para “produzido como um homem másculo” ou algo similar.
E esse empoderamento da identidade de gênero gera um incentivo para que a pessoa fique cada vez mais segura de si, até mesmo cada vez mais ousada, sendo essa quebra de tabus uma verdadeira realização de seus desejos mais recônditos trazidos desde a mais remota infância, desde que se entende como ser humano e pertencente a este ou àquele gênero. Ocorre uma explosão de sentimentos e a pessoa nas primeiras vezes até se emociona de felicidade depois da experiência. E talvez seja o primeiro passo para uma transição de gênero, no caso das pessoas que queiram iniciar esse processo.
No entanto, se impõe falar de outra situação, onde nem tudo são flores. É o caso das pessoas transgênero que não têm boa passabilidade, sendo muitas vezes o caso das crossdressers.
Como proceder neste caso?
Meu conselho é: imponha-se ou fique em casa!
Este conselho não é baseado em teorias psicológicas rebuscadas, livros de auto ajuda ou em certa petulância de minha parte, mas sim depois de três experiências pelas quais passei e que envolveram a passabilidade.
Permitam-me então relatá-las.
1ª experiência
Por duas vezes eu mesma meio que travei em uma saída em público.
A primeira vez foi quando fiz uma produção meio chamativa. Não era indecente ou vulgar, mas não tinha como passar despercebida. Adoro o estilo gótico e no dia em questão eu fiz uma produção bem dark. Vestido curto e jaqueta da confecção Dark Fashion, ambos pretos, sendo que as botas over the knee de couro croco da Schutz deram o acabamento final. E o colar de pentagrama de prata no peito me fez parecer ainda mais bruxa. Bem, não por acaso meu nome é Morganna mas o resultado foi que muitos olhares se voltaram para mim. Meio que não aguentei a “pressão” e tratei de ir embora mais cedo. Mais tarde, já em casa, me senti uma covarde por ter recuado por tão pouca coisa.
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Poderia ter aproveitado o passeio, ido às lojas que eu queria, feito as compras que tinha planejado, mas preferi fugir simplesmente porque estavam olhando para mim mais do que o normal.
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2º experiência
A outra vez me fez aprender uma preciosa lição. A de que, pelo fato de as mulheres trans, travestis e crossdresseres não serem mulheres biológicas, isso faz com que a insegurança de sair faça parte da vida de muitas de nós. Se não conseguimos passar uma imagem de mulher com um belo corpão, ficamos inseguras. Penso que isso acontece com muitas de nós. E não temos a necessidade de ter um belo rosto feminino e um corpo curvilíneo só para atrairmos homens ou para afrontarmos algumas mulheres invejosas, mas pela própria insegurança em si. No fundo muitas vezes temos medo de parecermos bizarras. Temos medo de sermos lidas pelas pessoas simplesmente como um macho vestido de mulher.
Neste segundo caso estou me referindo ao dia em que me senti meio “reta” em um vestido. Eu tinha feito uma bela maquiagem e o vestido era muito bonito, azul-marinho, da marca Principessa. Junto com as botas de cowgirl eu fazia o estilo Beth Dutton, da série Yellowstone. Porém, pelo fato de o vestido ter um corte meio solto, tive a impressão de que as curvas do meu corpo não se destacavam de jeito nenhum. Bem, passei despercebida entre as pessoas, talvez como uma mulher comum, mas não me senti empoderada e isso me desagradou um pouco. Achei que o passeio estava meio sem graça e também tratei de ir para casa mais cedo.
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Mas, neste último caso em especial, confesso que tive também o medo de ter minha passabilidade comprometida. Já sou alta, mas reta? De jeito nenhum! Aí pude sentir o drama das que saem a público sem serem “passáveis”. Mas então percebi que eu mesma não estava observando o passo 18 do guia que eu própria havia escrito, que diz: “...esse negócio de ‘passabilidade’ dificilmente se aplica a uma crossdresser. Isso porque normalmente a crossdresser ostenta traços masculinos, mesmo maquiada. Até mesmo as travestis e transexuais, que são pessoas que provocam modificações em seu corpo por meio de terapia hormonal, cirurgias plásticas, silicones e próteses são muitas vezes traídas pelo tamanho das mãos e dos pés, pela voz, pelo pomo de adão proeminente etc. Quanto mais uma crossdresser… “
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Uma boa maquiagem pode fazer maravilhas no seu visual.
Simone de Beauvoir, famosa filósofa existencialista francesa, disse queninguém nasce mulher: torna-se mulher.
Então, repito, imponha-se ou fique em casa!
Desde então, pelo fato de ter mudado minha mente nesse aspecto, não tive mais problemas dessa natureza, mesmo quando saí sem fazer uma produção linda e maravilhosa.
Porém, toda essa segurança que adquiri, um dia foi posta à prova, no terceiro caso que vou expor.
3ª experiência
Como já relatei outras vezes, nasci biologicamente homem, mas me entendo como não-binárie e transito entre os dois gêneros, sendo que minha expressão de gênero ora é masculina, ora feminina. Mas em meu trabalho, que é em uma área muito conservadora, sou obrigada a ter uma expressão de gênero masculina, ou seja, me vestir como a sociedade espera que um homem se vista. Bem, mas isso é para inglês ver, porque muitas vezes há uma calcinha por debaixo de minhas roupas masculinas!…
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E, como em qualquer trabalho, tenho colegas homens que se dizem mucho machos, daquele tipo mesmo que está sempre com alguma piadinha homotransfóbica na ponta da língua.
O caso em questão ocorreu quando eu estava no shopping center de minha cidade em um dia de semana à noite. Lindamente produzida, eu passeava distraidamente olhando as vitrines e, de repente, me vi frente a frente com um homem que é meu colega de trabalho, caminhando em minha direção com a esposa do lado. Ele é do tipo que descrevi acima, tipo machão.
E o que aconteceu?
Nada. Passei por ele normalmente, sem me preocupar se ele iria me reconhecer ou não. Não reconheceu. Confesso que fico bem diferente em uma produção feminina, acho que apenas minha mulher me identificaria e mesmo assim porque ela sabe da minha condição, conhece bem meu rosto e corpo e se lembraria das roupas femininas que tenho guardadas em meu closet.
Mas o que isso me mostrou foi que cheguei a um nível em que não estou mais preocupada com a opinião dos outros. Não permito que convenções sociais ou baboseiras religiosas me impeçam de viver minha identidade e minha subjetividade. Ou seja, hoje eu sou muito mais eu e, graças a isso, muito mais feliz!
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No começo eu ficava assim, apreensiva ao sair em público.
Então, meus amores, queridas crossdressers, travestis e transexuais, sejam vocês mesmas!
4 – A naturalidade como solução
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A busca obsessiva da passabilidade é um dos maiores motivos do aumento da disforia de gênero e de todo o sofrimento que vem junto. Por isso há quem defenda, como o Dr. Martins da clínica Transgender Center Brazil(em “Podcast com Mc Trans / Transgender Center Brazil, no YouTube), que a pessoa transgênero não deve buscar a passabilidade, mas sim a naturalidade. Isso significa buscar ser o mais natural possível, levando-se em conta as limitações individuais de cada pessoa transgênero. Há rostos tão masculinos que nenhuma clínica de feminização conseguiria deixar cem por cento feminino. Por isso devemos apenas buscar ser o mais naturais que a natureza nos permite dentro do gênero com o qual nos identificamos, sem enveredar por uma disforia patológica e sofrível, o que poderia levar a outros transtornos mentais tais como depressão e ansiedade.
Se você não é lida como homem ou mulher e isso o/a faz sofrer, talvez o melhor seja buscar ajuda profissional para aprender a se aceitar como você é.
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Psicoterapia vai te ajudar a se conhecer melhor.
Se eu tivesse uma fada madrinha eu pediria um rosto e um corpo como os da Aghata Lira, a simpatia da Léo Áquila, a inteligência da Rita Von Hunty e a eloquência da Erika Hilton.
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Mas eu sou apenas Morganna la Belle. Então o melhor que posso fazer é procurar ser a melhor versão de mim mesma.
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Vou adorar conhecer você!!!
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31 - A síndrome de Burnout e a cultura do narcisismo
Por Morganna la Belle
Psicanalista
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1 – O que é a Síndrome de Burnout?
Você está sentindo falta de ânimo, estresse constante, insônia, dificuldade de concentração, baixa auto estima?
Seu ambiente de trabalho possui uma cultura de cobranças de metas difíceis de se alcançar, alta competitividade, falta de cooperação entre os colegas e talvez até assédio moral?
Bem, pode ser que você esteja com Síndrome de Bournout e nem saiba!
A Síndrome de Burnout, também conhecida como síndrome do esgotamento profissional, é uma doença que já foi registrada pela OMS e CID-11. Trata-se de um distúrbio psíquico ligado ao ambiente de trabalho, sendo que é mais comum do que se pensa. Tal patologia leva a um esgotamento físico, mental e emocional, promovendo um estado de stress permanente, afetando a vida do indivíduo como um todo. É também uma doença sorrateira, entrando na vida do trabalhador de forma quase imperceptível a princípio.
2 – Estágios
Segundo os estudiosos Herbert Freudenberger e Gail North, a Síndrome de Burnout apresenta 12 estágios, cada um deles com características próprias. Tais estágios, contudo, não são estanques, sendo que você pode até não passar por alguns deles e mesmo assim ser diagnosticado com Burnout. São eles:
1º – A compulsão em você provar a si mesmo e aos outros que pode atingir as metas da empresa.
2º – Trabalhar mais e mais, como se isso fosse a única coisa que você tivesse que fazer na vida.
3º – Quando você passa a deixar suas necessidades pessoais em último plano. Você acha que não precisa mais dormir, comer, interagir com seus amigos. Lazer? E você lá tem tempo pra pensar nisso?
4º – Você começa a perceber que há algo errado na sua vida. Contudo você não quer parecer fraco perante os outros, não é mesmo? Então, mergulha mais ainda no trabalho!
5º – Ocorre uma distorção maior de valores, mais grave anda do que o exposto no terceiro estágio. Você não tem mais tempo para almoçar com sua família, nem que seja nos finais de semana. Na hora das refeições, o celular está sempre ao lado do prato e você não sabe se come ou se digita mensagens no WhatsApp. Dormir é perda de tempo e sexo também é. Você não consegue mais dar comida nem a um peixe no aquário, que dirá cuidar daqueles que seriam seus entes queridos!
6º – Negação do problema que está vivendo. Não, não há nada de errado com você, o problema é sempre os outros. Você é o todo poderoso, todos deveriam aprender com você! E todos percebem que aumentou muito a sua disposição de mandar qualquer um para o inferno!
7º – Afastamento. Você começa a achar que o álcool é um companheiro muito melhor do que pessoas. E dizem que certas drogas causam um certo bem estar, ajudam a aliviar o stress… Você pensa: Sem problemas, eu conseguirei parar com isso quando quiser.
8º – Ocorrem mudanças explícitas de comportamento e você não dá a mínima para a reação dos outros. As pessoas, principalmente as mais próximas, percebem mais claramente que há algo errado com você. Mas não, isso é apenas inveja ou recalque delas, não é mesmo? Afinal, todo mundo te inveja e quer o seu lugar.
9º – Despersonalização. Você não consegue mais dar valor nem a si mesmo, quando mais às pessoas à sua volta.
10º – Vazio interior. O vazio que você já sentia agora se expande drasticamente. E vale tudo para preenchê-lo, inclusive afundar de vez em uma vida de álcool, drogas e promiscuidade sexual, além de outras práticas ou hobbies autodestrutivos.
11º – Depressão. Nada adiantou, você trabalhou tanto, abriu mão de tanta coisa, perdeu tanta coisa, não era para você agora se sentir o máximo? Mas não, você agora passa por profundas fases de tristeza e as fugas já não conseguem mais aliviar isso. Importante salientar que a depressão da Síndrome de Burnout não é a mesma comumente conhecida e tratada pela psiquiatria, mas pode também estar de mãos dadas com ela.
12º – A instalação da síndrome de Burnout propriamente dita, podendo levar a um colapso mental, emocional e físico.
3 – Outros sintomas ligados à doença
Além dos sintomas acima descritos, podem ocorrer ainda os seguintes distúrbios em qualquer um dos doze estágios:
- Lapsos de memória;
- Pessimismo patológico;
- Baixa auto estima, principalmente quando não consegue cumprir metas ou prazos;
- Ansiedade constante;
- Bipolaridade ou variações intensas de humor;
- Sintomas de ordem física como dor de cabeça, enxaqueca, cansaço crônico, pressão alta, arritmias cardíacas ou palpitações, insônia, dores articulares e/ou musculares, problemas gastrointestinais e outros.
Tais problemas, no entanto, podem ser sintomas de outra doença que não a síndrome de Burnot. Por isso é tão importante consultar um médico para se obter um diagnóstico correto.
4 – O Burnout e a cultura do narcisismo do mundo moderno
O filósofo polonês Zygmunt Baumant (1925-2017) nos legou o conceito sociológico de modernidade líquida. Embora para Baumant tal fenômeno tenha surgido após a segunda guerra mundial, a verdade é que ele continua bem atual. Para fins deste estudo basta dizer que tal conceito se refere basicamente à superficialidade da vida do homem moderno. Embora tenhamos ganhado em termos de longevidade, as gerações mais recentes não cultivam mais, via de regra, relações sólidas e nem se dedicam mais a valores tão nobres, como faziam as gerações passadas. É tudo muito superficial e descartável, hoje as pessoas se casam já pensando em se separar, por exemplo. Os interesses também mudam rapidamente, tendo em vista o bombardeiro de informações e a publicidade apelativa dos dias atuais.
Mas o problema é que tal fragilidade em termos de relacionamento ocasiona muitas vezes um desrespeito em relação ao sentimento de cada um. Como exemplo podemos citar o luto. Quando perdemos uma pessoa importante em nossas vidas, é necessário um tempo para que nos adaptemos mental, emocional e até fisicamente. E isso é um processo que não acontece da noite para o dia. O luto nos ensina sobre a fragilidade e a  finitude da vida. Nos ensina também que o amor, no final, é mais importante do que acumular coisas materiais. Mas hoje em dia simplesmente não temos mais tempo o luto. Isso porque somos cobrados a voltar rapidamente à nossa vida profissional “normal” e ostentarmos ao mundo aquela imagem de pessoas bem-sucedidas e realizadas profissionalmente. Mas o nefasto é que este individualismo competitivo e narcísico causa enormes danos ao nosso psiquismo, muitas vezes envolvendo a instância inconsciente da mente, aquela parcela que não temos acesso. E lá na frente a cobrança acontecerá, fazendo com que surjam distúrbios psíquicos, tais como a depressão e a síndrome de Burnout, objeto deste estudo. Estudos já concluíram que as gerações futuras serão gerações depressivas. E depressão, quando não tratada, pode levar ao suicídio.
O culto exacerbado ao eu e o individualismo competitivo são considerados pela sociedade moderna como algo normal e até mesmo incentivado. O ter e o ser são sinônimos de sucesso e a espiritualidade é vista como fraqueza e perda de tempo. E vale tudo para se transmitir esta imagem para a sociedade, mesmo que seja se matar de trabalhar para adquirir e ostentar coisas que muitas vezes nem precisamos.
E nesse processo funesto, as redes sociais, que deveriam promover uma aproximação saudável entre as pessoas, na verdade ajudam a fomentar essa cultura da aparência, fazendo com que vivamos em uma sociedade do espetáculo. Mas essa superficialidade e cultura da futilidade com o tempo geram um enorme vazio interior, culminando em exaustão mental, emocional e física porque a vida, sem objetivos mais nobres, acaba por se tornar sem sentido. Por isso o grande aumento da procura de consultórios de psicanalistas, psicólogos e psiquiatras nos últimos tempos.
5 - Como evitar a Síndrome de Burnout e ter uma vida mais plena
A partir de quando o indivíduo é diagnosticado como sendo acometido pela Síndrome de Burnout, não há o que fazer senão seguir o tratamento proposto pelo médico e psicólogo. Devo enfatizar que as terapias médica e psicológica não se excluem, mas são complementares entre si.
Mas o que fazer para evitar a síndrome de Burnout?
Quanto a isso, posso dar algumas dicas, sendo elas:
A – Aprenda a equilibrar trabalho e lazer.
Dinheiro é bom, mas o trabalho não existe apenas para que possamos adquirir riquezas materiais. Lembrem-se que o lazer é tão importante quanto trabalhar. A diferença é que o direito ao lazer deve ser conquistado pelo esforço do trabalho, mas o lazer é um merecimento que não deve ser deixado de lado.
Não abra mão de conviver com seus pais e avós se ainda os tem em sua vida porque você não sabe por quanto tempo ainda os terá. Na grande maioria das vezes eles não querem seu dinheiro, mas apenas sua presença na vida deles.
Da mesma forma, as fases pelas quais passam os seus filhos acontecerão apenas uma vez na vida. Eles requerem cuidados na infância, direcionamento e paciência na adolescência e conselhos até mesmo em sua fase adulta.
E não deixe também de sair e viajar com quem você gosta. Mas quando o fizer, limite ao máximo o uso do celular ou mesmo deixe o aparelho em casa. Nada mais ridículo do que um casal em uma mesa de pizzaria ou lugar similar, mas cada um “fuçando” ao mesmo tempo o aparelho celular em vez de estarem conversando e interagindo entre si. Essa é mais uma doença dos tempos modernos. Lembre-se que cada momento da sua vida é único e não voltará jamais.
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B – Cultive boas relações.
Ter bons amigos é essencial em nossa caminhada na vida. Em muitas das vezes nossas vitórias se devem também ao auxílio de bons amigos.
Bons amigos são aqueles que nos apoiam e incentivam, caminhando junto conosco quando trilhamos boas veredas, mas também são os primeiros a nos mostrar os erros quando os cometemos. E não fazem isso para nos criticar, mas sim porque se importam conosco e não nos querem ver caindo em algum abismo.
Caminhando com bons companheiros, nossa caminhada se torna mais leve e as chances de alcançarmos o sucesso aumenta muito mais.
C – Pratique exercícios físicos.
A prática de exercícios físicos promove a liberação de endorfina no organismo. A endorfina é o hormônio da felicidade, prazer e bem-estar, sendo que isso é um poderoso aliado contra o stress, tristeza, ansiedade e irritabilidade causados pela Síndrome de Burnout.
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D – Cultive valores mais elevados.
É preciso dar para receber. Mesmo que seja um sorriso ou um bom dia, sempre temos algo que podemos dar.
Muitas vezes pequenas gentilezas fazem toda a diferença na vida das pessoas que nos cercam. Assim fortalecemos nosso caráter. E uma pessoa de caráter forte está mais preparada para vencer os reveses da vida quando eles surgirem. E eles surgirão, mais cedo ou mais tarde, porque isso faz parte de nossa própria condição humana neste mundo.
Seja grato pelo que você já conquistou na vida em vez de ficar lamentando sobre aquilo que não possui. Tenho certeza que você pode enumerar diversas coisas em sua vida pelas quais pode ser grato. Poder respirar, enxergar, ter liberdade são apenas pequenos exemplos.
Lembre-se ainda que você pode conquistar todo o dinheiro do mundo mas um dia você perderá tudo. E, na grande maioria das vezes, as heranças deixadas se tornam objeto de brigas e disputas judiciais entre os herdeiros depois, que muitas vezes não dão o devido valor aos esforços de seus pais.
E se existir mesmo uma vida após a morte como pregam as religiões, você não levará nada de material, mas apenas os seus sentimentos e as memórias daquilo que fez neste mundo. E quais memórias e sentimentos seriam esses se a morte o levasse hoje?
E – Procure ajuda de um profissional da saúde, se necessário.
Caso sinta algum dos sintomas acima descritos, não espere até que a situação chegue a extremos para tomar alguma providência.
Não há vergonha nenhuma em procurar um psicanalista, psicólogo ou psiquiatra ou mesmo todos eles. E isso pode muito bem ser feito de forma preventiva.
Eu, Morganna la Belle, sempre digo para mim mesma: Eu sou o meu maior patrimônio. Seja você também o seu maior patrimônio e invista em si mesmo!
Pensamentos suicidas:
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Disque 188
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30 - O tchutchuca do centrão e a “evangélica” oportunista
Por Morganna la Belle
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Jair e Michelle Bolsonaro, mas que casal afinado hein! Tudo a ver um com o outro, afinal o mal caratismo parece unir as almas afins. Realmente, parece ser mesmo verdadeiro o ditado de que semelhante atrai semelhante!
Muita gente viu, via internet ou televisão, o episódio do dia 18 de Agosto, quinta-feira, quando o presidente do nosso país agarrou um youtuber pela gola da camisa para tentar tomar o celular do mesmo, após ter sido chamado de “tchutchuca do centrão” e outros adjetivos nada elogiosos.
Bem, para começar e a título de informação, esta expressão “tchutchuca do centrão” não é nova. Foi usada pelo político Kim Kataguiri em 2021, quando disse em plenário: “…é tudo tchutchuca do centrão!”, referindo-se já no ano passado ao famoso clã Bolsonaro.
Devo salientar que não achei de bom tom o youtuber ter xingado o presidente da República de “safado”, “covarde” e “vagabundo” porque penso que, além de configurar crime de injúria, são xingamentos muito vagos e genéricos. Mas  “tchutchuca do centrão”, esse sim é bem específico. Foi mais uma vez imputada ao nosso chefe de Estado a vergonha de ter se rendido ao grupo político que hoje domina a agenda do Congresso Nacional. O centrão, como se sabe, é um conjunto de partidos políticos sem ideologia definida (e sem honra também), cujo objetivo é manter relações próximas com o poder executivo para, através da troca de favores e tráfico de influência, auferir vantagens cada vez mais vantajosas.
Bem o fato em comento só mostrou que o falso mito está bem nervosinho. Afinal, as últimas pesquisas do Ipec e do Datafolha não estão nada favoráveis a ele. E, mais uma vez, assim como quando foi chamado de “noivinha do Aristides”, perdeu a compostura e apelou feio. Como eu mesma disse em meu artigo https://rainhamorgannalabelle.wordpress.com/2022/07/19/27-joaozinho-deve-mesmo-ser-joaozinho-a-vida-toda/, só sei que onde há fumaça há fogo…
Já com relação à primeira-dama, suas atitudes me causam náuseas. Eu a achava uma bela mulher, porém para mim, com o tempo, ela acabou se tornando feia porque “A sua beleza interior é o que te faz linda” (adoro esta frase, só não sei de quem é a autoria). E o que essa mulher definitivamente não tem é beleza interior.
A falta de empatia com o sofrimento dos desfavorecidos e das minorias em geral fazem Michelle ser mesmo digna de ser esposa de Jair Bolsonaro. Como eu também já disse no artigo acima citado, o atual presidente tem grande apreço por qualquer um que seja “terrivelmente evangélico”. Mas não exatamente porque gosta deles mas porque são sua base de votos.
A primeira-dama do Brasil disse, no dia 07 de Agosto deste mês, em um culto religioso na cidade de Belo Horizonte e ao lado se seu marido que, antes do atual presidente e ela, esse casal angelical, chegarem ao Palácio do Planalto, o local “era consagrado a demônios” mas atualmente é “consagrado ao Senhor”.
E além de intolerância religiosa também demonstrou preconceito racial quando criticou, apenas 2 dias depois, o ex-presidente Lula por ter recebido um “banho de pipoca” de uma mulher praticante de religião afro, deixando claro em suas redes sociais o seu repúdio a religiões de matriz africana, afirmando ainda que “Lula já entregou a sua alma para vencer essa eleição.” Ou seja, no entendimento dela, as religiões de matriz africana são coisa do diabo.
Definitivamente, ao contrário do que dizem os nossos juristas, o Brasil NÃO é um país laico. Pelo menos não na prática.
Porém tais disparates religiosos provocaram a reação da Frente Inter-religiosa Dom Paulo Evaristo Arns por Justiça e Paz, entidade que agrega religiosos de várias vertentes. Em nota de repúdio, a entidade então afirmou, no dia 09, que Michelle Bolsonaro estaria fazendo uso de “um maniqueísmo fundamentalista e perigoso, característico de regimes fascistas”.
Os religiosos também declararam que “Essa mesma estratégia foi utilizada no passado para legitimar perseguições religiosas destrutivas e promotoras de mortes. O resultado dessas declarações não pode ser outro senão fomentar a desagregação da sociedade através do medo e colocar em risco a luta internacional de mais de um século por diálogo e cooperação inter-religiosa e ecumênica”.
E também deixaram claro que as falas de Michelle repetem “uma antiga prática excludente, beligerante e preconceituosa que, conforme demonstrado pela história, usa a divindade para tornar o semelhante um inimigo desumanizado, ligado a forças nefastas e que podem inclusive ser alvo de violência de forma legitimada”.
Bem, isso me afeta diretamente porque eu, Morganna, sou produto das bruxas que não conseguiram queimar na Idade Média. Sim, sou praticante de bruxaria desde a tenra idade. Me identifico com o culto da grande Deusa e já faz tempo que me afastei de deuses solares ou masculinos.
Sou admiradora sim, do Cristo e de tudo o que Ele ensinou. Posso seguir muitos dos seus ensinamentos, mas não me considero exatamente cristã. É que me recuso a deixar um livro escravagista, etnocêntrico, sexista e que glorifica um deus sanguinário e vingativo, como é caso do velho testamento da bíblia cristã, reger minha vida. Posso respeitar, mas não sou obrigada a aceitar e seguir tal doutrina religiosa. E não vou gastar palavras aqui citando exemplos de versículos infames do antigo testamento porque não é o foco deste artigo, mas deixo claro que eu poderia citar vários se quisesse.
O que eu lamento profundamente é que as falas de Michelle contribuem em muito para que seja mantido o racismo estrutural que relega a população negra brasileira a um lugar de marginalidade, subserviência e inferioridade na sociedade porque, de acordo com as falas dela, nem a religião que trouxeram da África presta. É coisa do demônio. Lembre-se que a Ku Klux Klan também dizia coisas semelhantes nos Estados Unidos para justificar a tortura e o assassinato das pessoas de pele negra. No entanto, a primeira-dama afirmou mais de uma vez que seu marido é o escolhido do Senhor, o colocando no lugar de Jesus Cristo. Já ele, o Jair Messias Bolsonaro, associou Cristo à posse de armas, quando disse em 15 de Junho deste ano que Jesus “não comprou pistola porque não tinha naquela época.”
Fique aí então a reflexão para todos nós. Nestes tempos terríveis em que policiais matam um cidadão que era doente mental em uma câmara de gás improvisada e que uma pessoa é assassinada simplesmente porque comemorava o seu aniversário com uma festa tendo o ex-presidente Lula como tema, que cada um, de forma DEMOCRÁTICA, tire a conclusão que achar mais acertada.
Eu já tirei a minha.
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29 - Feminismo dividido
Por Morganna la Belle
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Mulher, seja você quem for, não pense que apenas a sua biologia, história de vida, maternidade ou fé religiosa definem o que é ser mulher ou estabelecem os limites do que é o feminismo.
Existem muitas mulheres diferentes de você e que são mulheres, quer você aceite ou não.
Então, sugiro que respeite as diferenças porque não precisamos mais de um feminismo dividido! E é sempre bom lembrar que o machismo continua aí, firme e coeso.
Se você quer limitar o conceito de mulher ao papel de fêmea e mãe, então você já está contribuindo também para reduzir a mulher, e consequentemente você mesma, ao papel de objeto sexual que este machismo tanto quer.
Seja a mulher que você é mas permita que as outras também sejam as mulheres que elas são porque se perdermos nossa força, nem mesmo a Santa Maria da Penha poderá nos ajudar quando precisarmos.
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28 - LGBTQIAPN+: Dá até preguiça de escrever isso!
Por Morganna la Belle
Ativista LGBTI+
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Bem, amores, como devem saber, estão sempre acrescentando letras na sigla LGBT+.
Agora é LGBTQIAPN+. Concordo em gênero, número e grau com o acréscimo da letra “I” porque as pessoas intersexo já sofreram até mesmo mutilações em seus corpos por causa do “achismo” médico. Mas eu acho que, se continuar assim, daqui a um tempo a sigla vai ser:
LGBTQIAPNCDEFHJKMORSTUVWXYZ, ou seja, todas as letras do alfabeto latino. E tomara que também não inventem de colocar letras gregas, hebraicas ou em cirílico.
Então eu pergunto: Será que isso é mesmo necessário? Para que o sinal de “+” então?
A mais nova letra, o “N”, significa não-binárie. Bem, surpresa! Me identifico há anos como não-binárie e já me sentia representada pela sigla LGBT+ porque o “T” representa a toda a diversidade de gênero que não é cis. Nunca me senti excluída. Sempre me senti excluída é da sociedade conservadora que ainda teima em impor suas ideias ultrapassadas em pleno século XXI.
Então, será que ficar aumentando letras e dificultando a memorização e a pronúncia da sigla não estaria sendo contraproducente? Será que conseguiremos ampliar nossos direitos aumentando letras na sigla?
Será que conseguiremos que nossos projetos de lei que estão parados há anos por causa das mentes retrógradas dos políticos religiosos conservadores e outros imbecis vão ser colocados em votação porque aumentou mais uma letra na sigla?
Continuam sem solução, dentre outros sérios problemas, a criação de lei específica para punir o crime de homotransfobia e a criação de dispositivo legal que permita o uso de banheiros públicos pela pessoa de acordo com o sexo com o qual ela se identifica.
Gente, tudo o que não é heterocisnormativo já está representado pelo sinal de “+”. Há mesmo necessidade dessa sopa de letrinhas? Talvez estejamos apenas nos desviando dos verdadeiros problemas.
Bandeiras e símbolos diversos eu até posso compreender porque diz respeito mais a nós mesmes. Porém não acho uma boa ideia dificultar para a pessoa leiga, principalmente os mais antigos, a identificar nossa comunidade por meio da memorização de um emaranhado de letras (já são 9) e consequentemente reconhecer nossos direitos.
Nem todo mundo tem disposição ou tempo livre para ficar pesquisando e tentando entender o significado de cada letra. Penso que simplificar, ao invés de complicar e confundir, é sempre o melhor caminho para se chegar onde quer.
Basta de nos tornarmos motivo de chacota para a sociedade!
Já exitem palhaços demais nesse grande circo chamado política brasileira.
We’re not a joke!
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27 – Joãozinho deve mesmo ser Joãozinho a vida toda?
Por Morganna la Belle
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Em discurso proferido neste dia 13 de Junho de 2022, na cidade de Imperatriz, estado do Maranhão, o presidente do Brasil, Sr. Jair Messias Bolsonaro, para cair nas graças da população evangélica afirmou o seguinte:
“O que nós queremos é que o Joãozinho seja Joãozinho a vida toda. A Mariazinha seja Maria a vida toda, que constituam família, que seu caráter não seja deturpado em sala de aula.”
Sim, ele tem grande apreço por qualquer um que seja “terrivelmente evangélico”. Mas não exatamente porque gosta deles mas porque são sua base de votos.
Bem, para começar eu me pergunto: O que esse indivíduo sabe a respeito do que é ser uma criança trans? Ou o que sabe a respeito de qualquer tema LGBTI+? Já se dignou alguma vez a tentar entender algo sobre esse assunto tão complexo? Ele e tantos outros “homens de Deus” e “cidadãos de bem” apenas extraem trechos de um livro religioso para fundamentar sua ignorância e sobretudo intenções eleitoreiras e sede de poder enquanto está escrito na própria constituição que vivemos em um país laico.
Sempre sustentei e continuo sustentando que ser religioso não é a mesma coisa que ser espiritualizado, portanto Deus me livre desses tais homens de Deus e cidadãos de bem!
Na ocasião o senhor presidente também defendeu ser necessário impedir a tramitação de projetos de lei que não sejam conservadores. Embora não tenha exemplificado, sabemos de alguns: O uso de banheiro público pela pessoa de acordo com o sexo com o qual se identifica, a criminalização específica do crime de homofobia ou transfobia (hoje enquadrados pelo judiciário na lei do racismo, para suprir a omissão legislativa) e tantos outros.
Lembrando ainda que, em 2011, quando era parlamentar da Câmara dos Deputados do estado do Rio de Janeiro e para aplacar a sede de sangue LGBT de seus apoiadores, o Sr. Jair Messias afirmou:
“Seria incapaz de amar um filho homossexual. Não vou dar uma de hipócrita aqui. Prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí.”
Essa foi a pessoa que elegemos como presidente da República, o mais alto cargo que um cidadão pode chegar em termos de funcionalismo público.
É a mesma pessoa que estava passeando de jet sky em Santa Catarina enquanto os desfavorecidos perdiam tudo nas enchentes que assolaram a Bahia no ano passado. Também foi o mesmo que disse que a culpa era de quem construía casa em barranco.
Não faz muito tempo disse em uma de suas lives preferir estandes de tiro a bibliotecas. Essa eu tive que ver para crer.
Recentemente o senhor presidente também afirmou em Orlando, em mais um encontro com evangélicos (de novo eles!), que a economia no Brasil “vai muito bem”. Deve ser então delírio coletivo 33 milhões de pessoas não terem o que comer neste ano de 2022, segundo pesquisa da Rede PENSSAN.  
Nem preciso relembrar as falas de descaso com as vítimas da pandemia da COVID-19, o que contribuiu para torná-lo pessoa desprezível perante as autoridades internacionais.
Bem, sem fugir do assunto em questão, mas na qualidade de psicanalista, deixe-me agora falar, en passant, sobre um determinado distúrbio da mente. Sabiam que a psicopatia é um transtorno mental que atinge mais pessoas do que se tem notícia? Segundo especialistas, alguns dos sintomas que o psicopata apresenta são a megalomania, o egocentrismo, o hábito contumaz de mentir, a tendência a sempre atribuir a culpa a outrem, a impulsividade, a falta de emoção e a total falta de empatia para com o sofrimento dos outros.
Não estou de forma alguma diagnosticando o Sr. Jair Bolsonaro como doente mental até porque, além de que seria extremamente antiético e presunçoso de minha parte, sei que a psicopatia é de difícil diagnóstico até para os médicos psiquiatras. Além disso, como bem disse Nietzche, devemos ter cuidado para não nos tornarmos os monstros que combatemos. Apenas estou afirmando que o Sr. Messias apresenta alguns dos sintomas da doença. E isso é de clareza meridiana, só não vê quem não quer ver.
Se realmente existe carma coletivo eu sempre me questiono: O que nós, brasileiros, fizemos para chegar a este ponto? O que plantamos lá atrás para estarmos hoje colhendo frutos tão amargos? Pessoas precisando procurar comida no lixo para matar a fome, os excluídos continuando excluídos do mesmo jeito… Enquanto um indulto presidencial é dado a uma persona non grata como o deputado ogro careca que quebrou a placa com o nome da Marielle Franco, símbolo da resistência negra e feminista.
Gostaria de dizer ao Sr. Jair Messias Bolsonaro que se ele nos julga anomalias doentias a ponto de ser preferível que morrêssemos, como se referiu a seus próprios filhos, mais doentes ainda são, sem dúvida, aqueles que veem nos outros sinais de loucura que não veem em si mesmos, parafraseando Liev Tolstói.
Finalmente, para sintetizar, concluo que ele então continua se preocupando em atacar a população LGBTI+ ao invés de se preocupar com a fome que assola o lar de tantas famílias brasileiras. Sendo assim, me seria aprazível fazer ao “mito” uma célebre pergunta formulada por Freud: Sr. Presidente, o quanto de você existe naquilo que você tanto odeia? Será que ter sido chamado de “noivinha do Aristides” foi mesmo apenas uma brincadeira sem qualquer fundamento feita por uma cidadã? E se foi apenas uma brincadeira, foi mesmo necessário o senhor ter chegado a uma reação tão extrema e desproporcional a ponto de acionar a Polícia Federal? Não sei, mas sei bem o que quer dizer o velho ditado “onde há fumaça, há fogo”.
Michel Foucault, em A Arqueologia do Saber, 2005, disse: “Não me pergunte quem sou e não me diga para permanecer o mesmo.” Sim, nasci “Joãozinho” mas hoje sou, com muito orgulho e dignidade, Maria (ou, mais precisamente, Morganna). Formada em Direito e Psicanálise. Transgênero. Minhas contas estão todas pagas. Faço doações aos menos favorecidos todos os meses. Também recolho impostos mensal e anualmente para ajudar a pagar o salário astronômico do cidadão que hoje exerce o cargo de chefe de estado em nosso país, aquele que deveria ser o mais alto exemplo de funcionário PÚBLICO.
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26 – A Maior Lição de Cristo
Por Morganna la Belle
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Eu não sigo padres, pastores ou livros arcaicos ditos sagrados, mas corrompidos pela mão humana. Se for para seguir alguém eu prefiro seguir Aquele que disse que simplesmente devemos nos amar uns aos outros. Não está escrito em nenhum lugar da própria bíblia do cristianismo que Ele alguma vez tenha censurado ou condenado alguém por questões de gênero. Ele nunca excluiu ou discriminou qualquer pessoa em razão de sexo, etnia, aparência, crença ou orientação sexual. Podia abraçar fraternalmente um leproso, uma mulher adúltera ou mesmo uma prostituta. Inclusive, muitos dos que andavam com Ele eram pessoas marginalizadas pelos religiosos da época. Sim, estou falando d’Ele mesmo, aquele que ficou conhecido na história como o Cristo. Ele sim, especificamente Ele, eu sigo incondicionalmente.
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25 – A Diversidade Humana
Por Morganna la Belle
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Que bom que a grande natureza nos fez todos diferentes. Isso mostra que você é único! Você é especial! Sua alma é como um diamante, às vezes um diamante bruto. Então, encontre esse diamante que existe dentro de você, faça nele todo o polimento necessário e depois mostre todo o seu brilho ao mundo!!!
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