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mulheres livres
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bloghermanas · 4 years ago
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OS ANOS 50 E 60
A Carolina de Jesus apresenta uma realidade feminina dentro do contexto em que ela está inserida: o dia a dia da mulher dos anos 50 na favela. Na equação da violência contra a mulher, a constante é a violência e as duas variáveis são: a localização temporal em que essa mulher se encontra e o espaço social em que vive. Uma mulher na favela anos atrás não é a mesma mulher de classe alta na mesma época, mas isso não impede que as duas sofram diferentes tipos de manifestações do machismo. O machismo se manifesta de diversas formas e lugares e analisar uma época inteira se torna um desafio, por isso - em primeiro lugar - vamos analisar a mulher de uma forma geral na época da Carolina e depois voltaremos nossos olhos para o contexto da favela apresentado no livro.
Ser mulher nos anos 50 e 60 é a perfeita imagem da “bela, recatada e do lar”. Viver dentro de casa, servir o marido e cuidar dos filhos é o resumo da rotina da mulher perfeita e ideal. O trabalho era visto como algo relacionado a figura masculina e o sustento de sua família vinha do marido, mostrando a clara dependência a qual eram submetidas. Sair de casa não era uma opção, porque mulher divorciada ou solteira que trabalha era uma ofensa para a sociedade, desse modo, a dependência financeira se manifestava. É claro que as mulheres não se prendiam a esse padrão, mas aquelas que se desviavam dessa vida eram vistas como devassas e outros adjetivos pejorativos. As mulheres tinham duas opções: viviam como a figura feminina ideal ou eram rejeitadas pela sociedade. Todavia, as amarras do patriarcado não começam a partir do casamento ou da perspectiva futura de uma vida entediante. As adolescentes entravam na sociedade em suas exuberantes festas de debutantes enquanto eram expostas como produto para homens de diversas idades. Após isso, a sua vida entrava no ciclo do casamento, filhos e casa.
O maior exemplo de perfil das mulheres eram as revistas da época. Dentro de sua rotina monótona, uma das poucas distrações eram as colunas de revistas e as novidades dentro da alta sociedade. Esse material era recheado de frases motivacionais para confrontar e confortar o público feminino. Alguns exemplos de como era feito esse processo de alienação:
Jornal das Moças: “A esposa deve vestir-se depois de casada com a mesma elegância de solteira, pois é preciso lembrar-se de que a caça já foi feita, mas é preciso mantê-la bem presa.”
Jornal das Moças, 1959: “A mulher deve fazer o marido descansar nas horas vagas, nada de incomodá-lo com serviços domésticos.”
Revista Querida, 1955: “O lugar de mulher é no lar. O trabalho fora de casa masculiniza.”
Muitos acharão um absurdo essas frases, mas muitos ainda conseguem defender essa visão. Essa visão da mulher é a demonstração perfeita da realidade de muitas, porém, essas mulheres da sociedade ainda tinham tempo para ler revistas e talvez questionar o seu papel dentro do casamento, o que não era uma opção para Carolina, por exemplo.
- Imagem via Revista Prosa Verso e Arte
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bloghermanas · 4 years ago
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OS ANOS 50 E 60 PARA CAROLINA DE JESUS
O livro ��Quarto de Despejo” é um diário de Carolina Maria de Jesus, mulher negra, favelada, pobre, imigrante de Minas Gerais, solteira, mãe de 3 filhos, catadora de lixo e escritora. Nele, Carolina relata como são os seus dias morando na primeira favela de São Paulo, chamada de Canindé, evidenciando as inúmeras dificuldades que ela e os moradores de lá enfrentaram na década de 1950. O cenário era de muita pobreza, violência, fome, sexo, alcoolismo e várias outras situações desagradáveis. Carolina batalhava pela sua vida e pela vida dos seus filhos todos os dias, sempre em péssimas condições. Mesmo nas casas compostas por uma família estruturada por pai e mãe, as dificuldades não se tornavam mais fáceis. Aquele que não enfrentava um obstáculo comum entre as outras pessoas, passava por um outro tipo de conflito. E no final, a falta de felicidade entre os moradores se equilibrava na balança.
Diante disso, a favela não era um ambiente agradável para morar, pois naquele espaço, nem mesmo os direitos básicos eram garantidos. Entretanto, a desigualdade de gênero e a violência contra a mulher, também se faziam presentes na vida das pessoas que residiam ali. Em seus relatos, é muito comum o cenário de brigas entre casais, nas quais as mulheres sempre sofriam as piores consequências. Em uma das brigas que o Alexandre teve com sua esposa, foi preciso a intervenção de um soldado, o que desagradou o marido, que direcionou a seguinte fala para o oficial: “—Leva a minha mulher para você! Mulher depois que casa é para suportar o marido e eu não admito soldado dentro da minha casa. Você está interessado na minha mulher?” (Página 83). A maioria das mulheres na favela tinham filhos que não recebiam uma boa base familiar, eram casadas com homens que não as respeitavam e as agrediam. Carolina também menciona como é comum, durante as brigas dos casais, se deparar com as esposas correndo pelas ruas, nuas e pedindo socorro. Cena que as crianças presenciaram desde muito novas e discutiam entre elas, objetificando o corpo da mulher, sem que houvesse ninguém para corrigir e educar sobre a gravidade do que estava acontecendo e o respeito que as mulheres merecem em todas as situações.
- Imagem via Pinterest
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bloghermanas · 4 years ago
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Como já foi mencionado, as condições de miséria eram presentes na vida das pessoas que moravam na favela. Mudar a realidade que os moradores estavam inseridos é demonstrado no livro como uma ação muito difícil por motivos de preconceito, falta de políticas públicas e vários outras razões. Mas ao mesmo passo que isso acontecia, enquanto muitas mulheres lutavam para conseguir viver e alimentar seus filhos, os homens, além de tratarem mal as esposas, não ajudavam nessa luta diária. Muitos eram vítimas do alcoolismo e dessa forma destruíam a vida deles e de todos que estavam ao redor. Carolina deixa isso marcado no seguinte trecho: “eu (...) hoje vários homens não foram trabalhar. Coisa de segundas-feiras. Parece que eles já estão cansados de trabalhar” (Página 68).
Diante dessas situações e de outras que foram presentes na vida de Carolina, ela deixa claro que mesmo diante de tudo que ela enfrenta, prefere continuar solteira e viver mais perto da paz com os seus filhos. Ela tem uma visão muito nítida da gravidade dos fatos que a rodeiam, é muito crítica, tem uma inteligência política, teve pouquíssimo acesso à escola, mas sabe ler e escrever, mesmo com algumas dificuldades. Ela sabe a importância da educação e isso a difere muito das outras pessoas que moram por perto, as quais olham para Carolina com o olhar de julgamento. Então, a vida que ela levou fez com que ela enxergasse fatores, que mesmo diante de alguns envolvimentos amorosos, ela preferisse ficar sozinha, o que fica claro na parte que ela diz: “Eu enfrento qualquer espécie de trabalho para mantê-los. E elas, tem que mendigar e ainda apanhar. Parece tambor. A noite enquanto elas pedem socorro eu tranquilamente no meu barracão ouço valsas vienenses. Enquanto os esposos quebram as tabuas do barracão eu e meus filhos dormimos sossegados. Não invejo as mulheres casadas da favela que levam vida de escravas indianas.” (Página 14)
- Imagem via Pinterest.
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bloghermanas · 4 years ago
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A VIOLÊNCIA NO SÉCULO XXI
O tempo passou, mas a desigualdade de gênero ainda está presente em nossa sociedade, principalmente em regiões periféricas, como na favela, onde as mulheres enfrentam violências, buscam autonomia e formas de sustentar sua casa. O ilustrador Leandro Assis, em parceria com Triscila Oliveira, uma mulher preta, compartilha em seu perfil do Instagram uma série em quadrinhos chamada "Os Santos", que retrata a vida de Ju, uma mulher negra da favela que trabalha como empregada doméstica para ajudar na renda da sua família e enfrenta diversos obstáculos diariamente. As mulheres da favela, além de enfrentarem as estruturas opressoras, também resistem às injustiças e superam as barreiras colocadas pelo preconceito e sexismo. A violência também é bastante vigente no período que estamos vivendo, no Brasil foi necessária a criação da Lei Maria da Penha para defender as mulheres de agressões físicas, mas infelizmente isso não diminuiu a quantidade de casos de violência corporal, feminicídios e estupros. A violência vem a partir da construção desigual entre as mulheres e os homens na sociedade, ou seja, a desigualdade de gênero surge a partir da estrutura social, cultural e política, e, consequentemente, é a base desses atos violentos.
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bloghermanas · 4 years ago
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A CONSTÂNCIA
Diversos cenários apresentados possuem um fator constante: a violência. Apresentada de diversas maneiras, em diversos contextos e tempos diferentes, ela está ali e permeia a rotina feminina. O porquê disso já é questionado e exemplificado: a herança enraizada e estruturada que ainda reflete nos dias atuais. Entender os motivos e olhar para o passado deve nos ensinar a mudar o presente em busca de um futuro melhor. A mudança de pensamento começa em cada um, cada individuo que se permite questionar o que está errado, tentar mudar sua visão e respeitar àquelas que estão a sua volta e as que estão mais distantes ainda. Porém a mudança também deve acontecer no meio legislativo para punir àqueles que violentam mulheres todos os dias. A Lei Maria da Penha, a Lei do feminicídio e a recente anulação do argumento de “legítima defesa da honra” são passos fundamentais para se combater a violência contra as mulheres. Ser a favor das mulheres não são palavras, são ações. Respeitar, denunciar e apoiar quando necessário são ações de extrema importância para a defesa dos direitos femininos tão negligenciados por essa sociedade enraizada no machismo. Raiz é boa e nos ensina muita coisa, e uma delas é que mesmo a raiz, pode morrer.
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bloghermanas · 4 years ago
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A QUESTÃO DE GÊNERO E A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
O OLHAR DE CAROLINA DE JESUS E A CONSTÂNCIA DAS ÉPOCAS
Qual o papel da mulher? Essa pergunta permeia discussões há muito tempo e suas respostas variam com o tempo e com a realidade de cada um. No livro “Quarto de despejo”, Carolina de Jesus mostra esse tema de forma simples, direta, provocadora e normalizada. O que seria o normal para a realidade feminina? Podemos responder essa pergunta nos alicerçando ao ideal do que seria o papel feminino – baseado na liberdade, na igualdade e no respeito -, mas a realidade é presa ao “comum” e ele é apresentado pela autora. O comum é opressor, está presente no cotidiano de diversas formas e independe da época e do contexto. A violência contra a mulher é constante, enraizada e não se mantêm presa ao passado.
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