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AFTER: Capítulo 13
Pedro conseguiu cessar minha preocupação, tendo a certeza de que não perdi nada que me prejudicasse. Tentei tirar da cabeça os pensamentos sobre Pedro e Lucas serem meios-irmãos, batendo um papo com ambos e jogando conversa fora. Fiquei na cafeteria até as 19:00, e Pedro resolveu me acompanhar até meu alojamento. Ficamos em silêncio até a metade do caminho, até tomar a iniciativa de voltar o assunto sobre ele e Lucas, mas sem parecer desesperada demais para tirar minhas dúvidas.
- Confesso que fiquei surpresa. Sobre você e o Lucas. - Rimos, e enrolo meus braços em volta dos seus pelo vento frio que se abate entre nós.
- Muita gente acha que estou brincando, mas não iria inventar algo assim. Minha mãe ama muito o Sr. Teles, e não posso interferir, entende? - Faz uma expressão triste, e estreita seus olhos para olhar os meus. - Por mais que sejamos de mundos completamente diferentes, e ele me trata como se eu fosse seu pior inimigo, eu sinto pena dele. Por um lado, sei o porquê ele é do jeito que é. - Abaixa a cabeça.
Fico meio desnorteada, e penso onde está a mãe dele, e como tudo isso aconteceu. Meu coração parece acelerar quando penso na questão dele ter sido abandonado quando criança, e ficou sob a proteção do pai. Pedro pergunta se estou bem, e afirmo que sim. Ele me convida a sentarmos na grama do Campus para aproveitar a noite.
- Você sabe o porquê a mãe dele se divorciou do Sr. Teles? - Pedro torce o nariz e se ajeita para me olhar melhor.
- Olha, a minha mãe me disse que o Sr. Teles sofre muito com o comportamento rebelde do Lucas. Os dois têm um relacionamento péssimo, e o Lucas sempre evita de conversar com ele, sempre é ignorante, e quando mudei-me para a casa dele, vi coisas que nem gosto de lembrar. A briga dos dois eram horríveis. - Meu coração fica apertado, e fico observando Pedro ficar meio constrangido de lembrar. Nunca imaginara que Lucas guardava esse sentimento sobre seu pai, na verdade, imaginava o contrário.
- Mas por quê o Lucas é assim? Não sei, é meio estranho ele guardar tanto rancor assim. - Pedro dá um sorrisinho de lado, e ajeita seus óculos.
- Respondendo sua pergunta, a mãe do Lucas mora na Inglaterra e o Sr. Teles meio que havia a abandonado. Ele bebia demais, e sempre tratava a mãe do Lucas com violência, e meio que ele cresceu com esse rancor. Mamãe havia me contado, e tentei até impedir dela se casar com ele, mas sei que o Sr. Teles mudou e está tentando consertar o estrago. Lucas é do jeito que é, porque ele carrega um ódio desde pequeno, e sei como deve ser difícil perdoar e tentar esquecer. - Pedro toca em meu ombro e esfrega delicadamente, e me percebo que estava chorando.
Limpo as lágrimas o mais rápido que posso, e abro um sorriso de canto. Agora me sinto um pouco idiota por julgá-lo duma forma tão fria, mas eu não pude saber o quê havia por trás. Sei que por mais que as pessoas sejam ruins ou fazem maldades, nunca devemos julgá-las sem saber o passado delas. Amanhã tentarei dar uma chance, e me esforçar para ser a melhor pessoa que ele possa confiar. Afinal somos amigos, não somos?
- Obrigada por ter me contado. - Sorrio, e nos levantamos para tirar um pouco da grama em nossas roupas.
- Olha Amanda, se você está se aproximando dele, ou vocês estão se tornando amigos, eu não vou te julgar, só quero que tome cuidado e que não se machuque. - Sorrimos, e dou um abraço em despedida.
Chego em meu quarto, deparando com Maisa dormindo em sua cama, e tento parecer mais cautelosa possível para não acordá-la. Pego uma toalha, o pijama e escova de dentes para tomar banho, e passo 99% do meu pensamento voltado ao Lucas, imaginando como foi difícil para ele, e nossas histórias não são tão diferentes. Passei por algo assim quando meu pai saiu de casa, deixando minha mãe com a total responsabilidade em cuidar de mim.
- Nossa, você me assustou. Pensei que foi sequestrada. - Maisa me pega de surpresa acordada, escolhendo um filme na Netflix.
- Ah, me desculpa, eu estava na biblioteca. Pedro estava me ajudando com as aulas que perdi hoje. - Falo enquanto escovo meu cabelo, e faço uma trança de lado.
- Tudo bem, está afim de assistir um filme comigo? Se estiver cansada, tudo bem. - Me preparo para me deitar, e aceito assistir um filme com ela, mas primeiro programo meu alarme para não perdê-lo outra vez, e entrar em outro colapso.
O filme é sobre um alemão que se envolve em uma amizade com um judeu que está num campo de concentração, onde seu pai é o comandante. Observo Maisa chorar no final, e sorrio ao perceber que pessoas tatuadas têm sentimentos, e isso é só a aparência. Me preparo para dormir, e confesso que não vejo a hora de sair com Lucas amanhã.
Felizmente ouço o alarme tocar, e com animação, ajeito-me para as aulas um pouco melhor do que nos outros dias e Pedro me manda uma mensagem de texto dizendo para que eu o encontre em frente a Universidade. Enquanto cruzo o corredor, torço para me esbarrar com Lucas, mas isso não acontece, então sigo em direção em me encontrar com Pedro.
- Bom dia, flor do dia! - Brinca, e me entrega um café. - Trouxe um cappuccino, caso goste. - Sorri.
- Amo cappuccino, obrigada. - Sorrimos, e seguimos para a sala. Somos os primeiros a entrarem na sala, e o professor nos elogia por sermos pontuais. O resto da aula foi de tirar dúvidas, e tive uma participação maior nessa aula do que normalmente, e Pedro sempre dava um complemento.
A primeira aula finaliza, e sinto um pequeno arrepio em meu corpo. Não sei se é apenas entusiasmo com a aula, ou sobre ver o Lucas lá. Saio com o Pedro comentando sobre as dúvidas que tiramos, e me deparo com Lucas sentado no mesmo lugar de sempre; costas relaxadas, uma camisa azul-escuro e uma calça skinny, e como sempre, preta. As tatuagens pareciam estar um pouco ofuscadas pela cor forte da camisa, mas fico tão apreensiva que viro alvo de sua atenção.
- Bom dia. - Sua voz grave faz eu tomar um pequeno susto, e ele ri de mim. Sua gargalhada é muito boa de ouvir.
- Bom dia. - Tento não parecer tão nervosa, então evito de olhá-lo.
Lucas, eu e Pedro estávamos sentamos na mesma mesa, e minha atenção seria comprometida com o professor a minha frente, e o Lucas do lado. Resolvo comentar algumas coisas com Pedro, assim me livro do incômodo e me sinto mais á vontade. Ele me olhava ás vezes, e o assunto sobre o livro torna-se mais difícil de prestar atenção, então resolvo trocar dúvidas para me sentir menos sufocada. Nunca pensei que sentar ao lado de Lucas seria tão desafiador. Ele é desafiador.
Quando a aula acaba, Lucas e Pedro chamam-me ao mesmo tempo e fico um pouco perdida. Pedro se sente incomodado, e se despede com medo de alguma coisa, então despeço-me dele e fico praticamente sozinha com Lucas na minha frente.
- Como você consegue ser amiga desse idiota? - Revira os olhos, jogando a alça da mochila nas costas.
- Ele não é um idiota, aliás, é seu meio-irmão. - Lucas arregala os olhos, e quando percebo da merda que soltei, coloco a mão na boca rapidamente, rezando para não morrer naquele momento. Ele está totalmente irritado, e seu rosto não nega. Que merda Amanda!
- Você não sabe de porra nenhuma, tá me ouvindo? - Grita, fazendo um eco enorme ao redor da sala, e sai da minha frente pisando firme. Fico estática, sem conseguir mover um músculo, mas eu não posso deixar que ele saia assim, eu preciso me explicar. Mas e se o Pedro ser prejudicado porquê falei? Não quero que algo aconteça por minha causa.
Consigo avistar Lucas indo em direção ao estacionamento, e pego ele pelo braço. Seus olhos parecem armas carregadas miradas para mim, prontas para puxarem o gatilho, mas não desvio. Preciso tentar reverter a situação, não deveria ter soltado de uma vez.
- Ele contou, não foi? Filho da puta! - Grita, e logo sinto uma pequena raiva surgir dentro de mim, mas quero evitar. Não quero acabar gritando com ele, tornando-se uma competição de quem grita mais.
- Sim, mas não faça nada com ele, por favor. - Pego em seu braço forte, mas ele se solta de mim.
- Você deve parar de se intrometer! - Segue andando na minha frente, pegando as chaves do seu carro.
- Lucas, para de ser imbecil, aliás somos amigos e... - Seu rosto está a pouco centímetros do meu, e consigo ouvir sua respiração acelerada. Seus olhos fitam os meus sem desviar, e meu corpo se enche da adrenalina. Só o tipo de adrenalina que ele pode me causar.
- Não. Somos. Amigos. - Diz pausadamente, como um sussurro. Abre a porta do seu carro, e jogando a mochila para o banco passageiro.
- Mas, e o passeio? - Minha voz está fraca, e minha visão parece distorcida. Não posso acreditar que estou passando por mais uma humilhação.
Ele ri, e vira-se para mim com um olhar mais grosseiro do que pude receber.
- Não tem passeio, ou caralho que for! - Entra no carro, e sai dali em alta velocidade.
Não consigo me mexer, meu coração quase sai pela boca, minha cabeça dói e estou em choque. Quero de alguma forma dar um soco em mim mesma, mas ao mesmo tempo dar um soco no Lucas por ele ser daquele jeito. Por mais que eu saiba um pouco do que ele passou, não consigo evitar a vontade de ir atrás dele e falar poucas e boas, eu não tenho culpa de nada. Só quero parar de sempre brigar com ele, nunca entender esse jeito bipolar, e estragar tudo pela minha boca grande.
- Amanda! Vem participar da conversa com a gente. - Maisa está com Roberto e um moreno tatuado que não tinha visto antes. Abro um sorriso forçado, jogo a bolsa na minha cama e me junto com eles. - Não lhe apresentei o Elias, meu namorado.
- Prazer, Amanda. - Sorrimos, e apertamos as mãos. Ele era realmente muito bonito, e suas tatuagens são menos numerosas que as da Maisa e Roberto, mas ainda sim são coloridas.
Roberto me dá um beijo na bochecha, e pergunta como estou indo nas aulas. Comenta também sobre como estou bonita, e faz uma comparação da cor dos meus olhos serem parecidos com os de sua namorada, Lucy. Fico a maior parte em silêncio ouvindo eles conversando, mas resolvo me juntar para tentar tirar o Lucas da minha cabeça. Ouço a porta se abrir do quarto, mas ignoro para ouvir a história do Elias quando conheceu a Maisa pela primeira vez para mim, e seus olhos brilhavam. Queria saber se os olhos do Felipe brilham quando fala de mim, e me sinto meio péssima por não ter ligado para ele, ou ter enviado uma mensagem.
- Lucas? - Maisa cita seu nome, e logo percebo sua presença atrás de mim. Não posso acreditar! Todos ficam em silêncio com os olhos fitados no Lucas, enquanto sua visão está totalmente fitada em mim. Ele parece meio irritado, mas esboça um sorrisinho de lado, mordiscando a argola do piercing em seu lábio inferior.
- Eu e Amanda vamos sair. Está pronta?
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AFTER: Capítulo 12
O dia seguinte começou sem o costume do alarme tocar, e percebo que perdi as duas aulas hoje. Fico no desespero e não paro de ligar para o Pedro, e enviar mensagens para ele inúmeras vezes, até que ele me responda e fale do que perdi.
Céus Pedro, eu perdi as aulas! :(
Como foi?? Oq perdi?? Por favor, me responde.
Pedro??
Eu preciso saber se não estou ferrada!
Fico zanzando pelo quarto, até que a Maisa entra no quarto um pouco estranha. Seus cabelos estão desgrenhados, e o batom borrado. Olho para sua situação, e não consigo desviar meu olhar. Lembro-me de ontem, grosseiramente fui quando soltei aquelas palavras, e me envergonho na hora.
- Não foi para aula? - Sorri de canto, e joga a mochila na cama.
- Eu perdi a hora. - Fico totalmente focada na telinha do celular, esperando Pedro me responder. Sinto a presença de Maisa ao meu lado, e toca delicadamente em meu ombro com dois toques, e encaro seus olhos cansados e com o delineado borrado em suas pálpebras.
- Olha, eu... Eu não queria falar do seu amigo daquele jeito. Sei que fui totalmente escrota, e... Nunca sabia que vocês eram chegados. - Abaixa a cabeça, esfregando os olhos com força. - Deus, como eu estou horrorosa! - Seus dedos ficam borrados com o delineador e solta um riso.
- Tudo bem, eu não devia falar daquele jeito. Você, o Roberto e o Matheus não são escrotos também. O Lucas é. - Rimos, e ela me dá um pequeno abraço. Sei que ela não está fingindo, pois ela sempre foi legal desde o momento que nos conhecemos. Posso confiar nela, talvez.
- Ok, eu vou no banheiro tirar essa maquiagem. - Ri, e sai do quarto. Meu celular vibra, e era finalmente o Pedro.
Parece que descansou bem hahahaha! brincadeira.
Me encontre no campus, estou indo para a cafeteria!
Você não perdeu muita coisa, fica tranquila :)
Apesar do Pedro me aliviar um pouco, me sinto inútil por perder as aulas. Pego uma roupa confortável, e calço as sapatilhas de dedos para aliviar do pouco do calor que faz o quarto iluminar-se todo pelo sol que irradia-se lá fora. Nem precisa acender as luzes. Digo a Maisa que vou sair, e saio correndo para encontrar-me com Pedro na cafeteria que deve estar me esperando enquanto fico enchendo minha cabeça com paranoias. Meus passos seguem rápidos e firmes pelo corredor, até me esbarrar cruelmente com alguém.
- Mas que porra... Ah, não. - Lucas olha-me enquanto tento me ajeitar do esbarrão em seu ombro. Aqueles olhos frios são a primeira coisa que fito, e logo me arrependo.
- Ah não. - Repito, ajeitando meus cabelos, e seguindo meu caminho. Sinto seu olhar em mim, e tento apressar meus passos. Logo sinto sua presença ao meu lado, tentando acompanhar meu ritmo e continuo tentando ultrapassá-lo.
- Ei, tá com pressa? - Ri enquanto reviro os olhos, e faz um estalo com a língua. Observo seus braços cobertos de tatuagens e sua camisa preta fosca, com alguns rasgos. Seu humor parece menos ignorante, e ele parece se divertir com meu silêncio. Mas não vou me fazer de surda, se é para bater de frente, eu bato.
- Sim, estou com muita pressa. Por quê? - Paro no meio do caminho cruzando os braços. Um sorriso atravessa seu rosto, e suas sobrancelhas se arqueiam. Faço a mesma coisa, e ele ri abaixando a cabeça.
- Eu quero conversar com você. - Seus olhos negros voltam a me fitar, e sinto um incômodo nada legal dentro do meu estômago.
Quanto menos espero, solto uma risada alta e alguns alunos me encaram. Ele fica estático, e dá um revirar de olhos, enquanto exprime seus olhos dos raios de sol em seu rosto. Conversar? Ele seria a última pessoa no mundo que eu quisesse conversar, depois da humilhação que passei. Nem sei por quê ainda estou parada de frente com essa casca de ignorância e sem nenhum pudor.
- Me poupe, Lucas. - Continuo a andar, mas sinto um aperto em meu braço. Eu tento me soltar, mas ele é forte demais.
- Eu tenho algo importante para te falar. - Assim que me aquieto, ele se solta de mim e acompanha meus passos. Sei que deveria estar longe, mas não consigo fingir a tamanha curiosidade de saber o quê ele quer me dizer. Estou totalmente aflita.
- Seja breve. Eu tenho que encontrar com alguém. - Deixo claro, até ele tentar adivinhar em sua própria mente quem seja. Ele abre um sorriso de canto, ainda com os olhos exprimidos por causa do sol que, pelo seu azar, reflete em seu rosto.
- Deixe eu adivinhar... Pedro? - Faz uma expressão angustiante, e respondo um sim com a cabeça. - Saquei.
- Tá mas, o quê quer me dizer? - Finjo estar sem total interesse, mas meu coração diz o contrário. Nossos passos estão lentos, calmos, e mesmo que eu esteja por um lado aflita com as aulas, eu preciso saber o quê ele quer. Eu preciso.
- Eu sei que talvez... Bom, com certeza eu tenha sito um idiota por ter dito aquilo pra você lá na república, te humilhei. Você não merece. - Ele para em minha frente, com as mãos enfiadas nos bolsos de sua skinny, e eu uma estátua que não consegue acreditar no que ele acabou de me dizer. Ele está se desculpando? Sério?
O silêncio permeia entre nós, e ele não consegue olhar nos meus olhos. Fico digerindo cada sílaba que saiu de seus lábios, e meu coração parece que vai sair pela boca. Será que levo em consideração? Será que eu realmente posso acreditar em suas palavras?
- Porra, fala alguma coisa. - Grunhiu, um pouco suplicante. Estávamos prestes a atravessar uma rua, e o sinal volta a ficar verde.
- Eu... Eu não sei, huh. Tá, já passou, nem tava me importando. - Solto as palavras como se fosse um vômito, e ele parece um pouco inacreditado. - A gente tava de cabeça quente, esquece.
Tudo o que eu mais pedia naquele momento era que aquele Lucas não mudasse. Aquele jeito vulnerável, arrependido, e inocente era novo para mim, e ao mesmo tempo tão tranquilo. Mas percebo que logo sua expressão muda num passe de mágica, e agora ele parece bravo. O sinal fica vermelho, e Lucas atravessa rapidamente antes de mim, e vou atrás dele tentando entender o quê diabos aconteceu em questão de segundos, e agora o Lucas que eu mais detesto volta á vida.
- Lucas! O que foi? - Puxo seu ombro para que ele se virasse, e agora ele quer me fuzilar apenas com os olhos. Meu corpo fica eletrificado, e agora não consigo pensar direito. Não consigo pensar, não consigo me controlar, não consigo ser eu mesma quando estou com Lucas. Ele me causa um efeito de raiva, tristeza, felicidade tudo ao mesmo tempo.
- Eu nem sei o porquê tive a coragem de te pedir desculpas. Você que devia me pedir. Você que me beijou. - Fico totalmente assustada como ele tem a audácia de me fazer a vilã da história. Agora eu sou a assediadora? O que ele quer dizer?
- C-Como é? - Ele solta um riso baixo, e me irrito como ele é insensível.
- Você pediu para que eu falasse aquilo de você. Saiu do meu quarto chorando, e ainda fui atrás de você. Teve a coragem de sair com seu namorado, e quando tento dar mais uma chance de vim me desculpar, você finge que não se importa? Incrível como se engana. - Engulo em seco, enquanto seus olhos diabólicos estão esperando alguma reação minha. Tento engolir o choro e tomo postura.
- Talvez eu esteja me enganando, assim não perco meu tempo me sentindo um lixo por sua causa. - Minha voz está trêmula, e ele suspira. Suas mãos esfregam seus cabelos, e solta alguns palavrões de seus lábios onde não consegui entendê-los.
- Podemos... Huh. Podemos voltar do zero? - Ele está totalmente enfurecido e tão desajeitado, que talvez ele nem saiba do que está falando.
- Começar do zero? Que merda você está falando? - Altero minha voz, já cansada disso. Por quê tive que me encontrar com ele? Por quê não podia somente ignorá-lo, e seguir minha vida normalmente?
- A gente podia recomeçar, sei lá, não aumenta o tom comigo! - Ele grita junto, enquanto viramos atração para alguns idiotas do outro lado da rua.
- Eu não quero nada, isso aqui não tem jeito! - Aponto para nós dois, e ele tenta segurar um dos meus braços. - O quê você está fazendo?
Lucas me puxa para uma viela, e me coloca contra a parede, e nossos lábios estão poucos centímetros um do outro. Nossas respirações estão totalmente descompassadas, e meu corpo fica totalmente em chamas pelo toque de suas mãos agarrando meus pulsos acima da minha cabeça.
- Tem sim. A gente tem jeito, Amanda. - Ele sussurra em meu ouvido, e minhas costas involuntáriamente se inclinam em resposta. - Eu sei que você quer.
- Lucas... Para... - Minha respiração faz das minhas palavras saírem cortadas, e nossos olhares se encontram, e percebo o quanto ele está querendo mais do que eu. Minhas bochechas estão quentes, e sinto um alívio quando sinto suas mãos soltarem meus pulsos, e eu finalmente tocar em seu pescoço frio e macio. Suas mãos logo seguram cada lado de minhas ancas, e as apertam.
- Me diz, você reage assim com ele? Ele te dá essa eletricidade como eu dou apenas com meu toque? - Seus lábios beijam o lóbulo da minha orelha, e minhas costas dão outra arqueada. Meus lábios estão entreabertos, e não sei como isso me faz sentir tão bem, tão... desejada.
Balanço a cabeça negativamente, enquanto sinto o molhado de sua língua em minha orelha, fazendo círculos. Sinto um incômodo no meio de minhas pernas, e não consigo fingir a satisfação de fazê-lo se excitar por minha causa. Ele solta alguns gemidos, e se solta de mim rapidamente. Fico inebriada pelo o que acabara de acontecer, e ele está encostado na outra parede me olhando.
- Porra... Você é muito gostosa. Seu namorado não tem ideia do quanto devia tomar cuidado. - Ri, e dou um tapa em seu braço. - Quer sair comigo hoje?
Olho para ele um pouco desconfiada, e ele dá mais um riso. Como gosto de vê-lo daquela maneira.
- Onde? Vai me assassinar não, vai? - Rimos, e ele dá um empurrão leve em mim.
- Não, sua boba. Mas quem sabe. - Dá uma piscadinha, e dou um outro empurrão em seu corpo. - É segredo. Você só vai adivinhar amanhã. Fechado? - Estende a mão tatuada para mim, e fico alguns minutos tentando confiar nele, mas acabo dando a mão.
Olho as horas, e já perdi quarenta minutos. Mando uma mensagem para Pedro dizendo que ainda estava indo, que havia acontecido um imprevisto, e Lucas fica em silêncio me olhando um pouco confuso. Olho para ele, e saímos da viela tentando disfarçar que nada havia acontecido. Como você mente para si mesma, né Amanda?
- Um encontro como amigos, amanhã. Eu te pego no seu quarto, depois das suas aulas. - Lucas dá uma piscadinha, e se afasta um pouco. Acho que é isso. Faço que sim com a cabeça, e sigo meu caminho de chegar na cafeteria um pouco chateada comigo mesma. Tava querendo um beijinho? Até parece!
- Ei! - Ele grita, e me viro pra ele sem entender. - Não quer que eu te acompanhe até a cafeteria? - Sorri um pouco sem graça.
Caminhamos sem dizer nada um ao outro, mas estava odiando o silêncio. Após aquilo na viela, das coisas que ele me disse, nem parece que somos os mesmos agora, parecendo estranhos e sem intimidade nenhuma. Mas tenho que parar com isso. Agora somos amigos. Bons amigos. Chegamos na cafeteria, e já avisto Pedro com Milena reunidos na última mesa do salão. Fico na porta, esperando ele se despedir.
- Então... Tchau, amiga. - Brinca ele, e dou risada.
- Tchau, amigo. - Ele ri do meu desconforto, e se afasta enfiando as mãos no bolso. Segue andando da maneira rebelde, e fico admirando até ele sumir de vista. Mas que merda Amanda! Que merda acabou de acontecer!
Entro na cafeteria desajeitadamente, quando pego Pedro e Milena discutindo com uma brincadeira de cartas.
- Não, eu não apelei! - Pedro se defendia, meio irritado.
- Apelou sim! Você um mentiroso, sabia? - Pegou as cartas da mão dele, e jogou na mesa. - Você joga sujo.
- Talvez você jogue sujo, hã? - Pedro abre um sorriso, e recebe cartas na cara jogadas pela Milena.
- Oi gente, me desculpem a demora. Aconteceu uma coisa e... - Sentei-me com eles, e recebo os sorrisos mais gentis de ambos.
- Tudo bem, girl! Estávamos passando o tempo jogando, e o Pedro é totalmente podre. - Olha pra ele com um sorriso irônico.
- Tanto faz, eu nem gosto desse jogo mesmo. Mas então, parece que não veio sozinha né? - Meu corpo fica paralisado, e finjo um sorriso forçado.
- Hã, quem? - Faço-me de desentendida, e Pedro deu de ombros olhando para a Milena.
- Não precisa ficar assim, a gente não vai falar nada. Ele foi pelo menos legal com você? Porque sendo meio-irmão do Lucas, é como um jogo de sobrevivência. - Ri, e logo fico desnorteada. Lucas e Pedro são meio-irmãos? O quê?
- Como é? Meios-irmãos? - Milena estranha a forma como fico, e chama minha atenção.
- Sim, o Pedro é filho da mulher que vai se casar com o pai do Lucas. Estão até marcando o dia do casamento. - Sorri, e Pedro fica indignado.
- Sabe, eu devia falar, não você. Mas é verdade, a sortuda da minha mãe logo vai casar com o pai do Lucas, e é isso. Nada de interessante. - Ri, e me entrega um copo de café. - Comprei esse café para você quase agora, quando você me enviou a mensagem.
Pedro e Milena continuam a conversa, enquanto minha cabeça tenta encaixar as peças. Ao mesmo tempo que não há sentido, entendo o porquê Pedro sabia como me aconselhar sobre o comportamento de Lucas, e como ele é perigoso para mim. Agora tudo faz sentido.
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AFTER: Capítulo 11
Mamãe me levou para fazer compras, e fazer um corte novo em meu cabelo para esta “ nova etapa “ como ela chama. Felipe não parava de me elogiar, constantemente me beijar e estar de mãos dadas comigo. Sei que ele quer o máximo se desculpar pelo imprevisto, e acho um amor da parte dele; só que uma parte de mim não esquece do beijo, de quando o Lucas cita meu nome e aquelas mãos frias passando pelo meu corpo...
- Eu ainda estou muito preocupada com você! - Minha mãe escancara cada ponto do meu quarto, principalmente o canto da cabelo-cor-de-fogo.
- Eu vou ficar bem. Confie em mim. - Abracei-a, e seu coração palpitava num ritmo fora do comum. Sei como ela se sente. Se o Felipe não tivesse contado pra ela que fiquei bêbada, nada disso teria acontecido.
- O que eu lhe disse? - Enxuga um pouco das lágrimas, arqueando as sombrancelhas.
- Sem festas, pessoas tatuadas, bebidas alcóolicas e sexo. - Enquanto as citei como um talismã, minha mãe concordava e em seguida, beija minha testa.
- Isso. Te amo. - Dá um tchauzinho com a mão, e segue para a porta.
- Também te amo. - Vejo-a sair, e gritar que esperaria Felipe no carro.
Estar sozinha com Felipe me dá arrepios, e rapidamente sinto suas mãos em minha cintura. Seu beijo é calmo, amoroso e bom; as cenas do Lucas vêm como flashbacks em minha cabeça, e minhas mãos agarram o tecido do suéter de Felipe com força, fazendo nossos corpos colidirem e nossos beijos se tornarem mais vorazes. Não sei a causa para tanta necessidade dessa energia que me atiçou com o Lucas, quero senti-la com Felipe também. Ele é meu. E o Lucas não é meu.
- Ei, ei. - Se afasta um pouco assustado. - Tudo bem?
- Ahn, o quê? - Fico desnorteada.
Ele ajeita o tecido do seu suéter um pouco bagunçado, e arruma os cabelos. Tento caçar algo para olhar, não quero ver que ele me ache uma neurótica, ou qualquer coisa do tipo.
- Nada, só... Você nunca agiu antes comigo assim. - Sorri um pouco preocupado. - Tenho que ir.
- Ok. - Ele se aproxima novamente, e me dá um beijo na testa. Dizemos que nos amamos, e ele sai. Finalmente ele sai.
Tento recuperar minha respiração, e tiro aquele vestido sufocante rosa em meu corpo. Visto uma saia longa confortável, uma camisa social e uns sapatos de couro. Vou para a biblioteca hoje, preciso estudar com as aulas que tive, adoro mergulhar mais nesse mundo literário, principalmente quando é sobre o seu livro favorito. Como eu disse a mim mesma, vou voltar a minha vida normal, sem festas, tatuados mal-educados que mudam de humor toda hora, e cervejas.
Ah, vou ligar para o Pedro.
Fico sentada sobre a beirada da cama, esperando Pedro me atender. No fim ele não atende, então resolvo mandar uma mensagem.
Bom dia Pedro, queria um café e alguns estudos literários.
Pode me encontrar? A.
Volto a minha missão de me preparar, arrumo meus cabelos e arrumo os livros e alguns cadernos para anotações. Meu celular vibra, e é Pedro.
Desculpe não lhe atender. Estou na biblioteca agora!
Me encontre, P.
Fico feliz por ele já estar lá, e saio na pressa para comprar dois cafés e correr direto para a biblioteca. Faço uma pequena inscrição para obter a carteirinha para um acesso mais fácil quando eu querer pegar algum livro, ou ter um tempo maior de estudos, e encontro Pedro acompanhado com uma garota em uma mesa lá no fundo da gigantesca sala.
- Bom dia. - Ambos olham para mim, e Pedro se levanta para me abraçar.
- Bom dia flor do dia! Muito obrigado. - Entrego o café para ele, e dou graças a Deus que a garota já esteja com um.
- Estão estudando? - Fico apreensiva de estar atrapalhando os dois, e logo a garota solta uma risada baixa.
Ela era simplesmente diferente, e linda. Cabelos curtos, estilo descolado, mas não tem tatuagens ou um comportamento parecido com alguém que conheço. Seu sorriso é muito bonito, e muito simpático.
- Oh não, eu só vim encher o saco dele. Sou Milena, já que ele não tem o senso de me apresentar à você. - Rimos, enquanto nos cumprimentamos.
- Ei! - Ele brinca aos risos.
- Sou Amanda, muito prazer. - Nos sentamos, e coloco meus livros e meus cadernos em cima da mesa.
Pedro retira alguns cadernos, e pega outros no lugar. Ele tem o exemplar do livro O Morro dos Ventos Uivantes e me lembro da estante de livros do Lucas, e de quando ele gritou comigo, depois queria saber um pouco mais de mim e... Ah! não, foca nos estudos e na sua vida Amanda.
- Tudo bem? - Pedro passa as mãos em frente dos meus olhos, e ri. - Estava tendo um deja vú?
- Não eu... Estava só pensando. - Tento tirar o Lucas da minha mente, e começo a me lembrar da história de Heathcliffe e Catherine.
- Ok, onde paramos na atividade? Hum, beleza. - Rimos da confusão de Pedro, e Milena dá um tapão em seu ombro de brincadeira.
- Vocês fazem literatura juntos? - Assentimos, e ela toca em meu ombro com uma expressão triste. - Sinto por você. Eu sei que ele é irritante.
- Oh, não enche. - Pedro a empurra de brincadeira, e fico rindo da situação. Eu tenho que fazer amizade com pessoas assim. E são eles.
Milena me disse que queria fazer medicina, mas seu coração seguiu a psicologia, e está muito feliz com a escolha. Conseguimos estudar um pouco, mas a maior parte do tempo ríamos, e brincávamos um com o outro. Finalmente me sinto acolhida com pessoas como eu, e estou recuperando o meu eu novamente. Sei que agora as coisas vão caminhar no caminho certo. Pedro quis me acompanhar até meu quarto, e já estava de tarde. O sol se despedia com uma vista linda no horizonte, e estava ótimo para dar uma saída para aproveitar a brisa.
- Milena é incrível. - Pedro sorri, com as mãos enfiadas nos bolsos.
- Ela é. Me ajudou em muitas paradas. - Comenta, como se lembrasse de algumas coisas. - Poderíamos sair nós três um dia.
- Seria ótimo, preciso de companhias agradáveis. - Pedro me olha um pouco desconfiado, e sei que preciso me explicar.
Contei a ele sobre a festa, e o Lucas. Pensei que não deveria, mas contei. Ele me ouviu, e disse apenas para que mantenha cuidado com ele, pois ele é um garoto que não serve para ser uma boa companhia, só com quem ele quer; fiquei me questionando como ele sabe assim do Lucas, sendo que os dois nem se encaram na sala. Mas evitei a pergunta.
- Onde a mocinha estava? - Maisa brinca quando me vê entrando no quarto.
- Estava estudando com Pedro. - Não queria conversas, lembro do que minha havia me dito. Sem festas, pessoas tatuadas, bebidas alcóolicas e sexo.
- Ah, o garoto estranho? - Solta uma gargalhada, pegando algumas roupas do seu armário.
Não entendo a forma como ela o chama, e a risada. Por mais que eu queira ficar calada, resolvo perguntar:
- Por quê “ estranho” ? - Faço aspas com os dedos, e ele se vira com um sorriso cínico.
- Ele é meio cafona, certinho demais. O Lucas não perde tempo de mexer com o coitado. - Ri mais uma vez.
Ouço Lucas, e minha pele se arrepia. Não sei se é algo bom, mas agora sei o quanto Pedro estava certo. Lucas é uma péssima pessoa.
- Olha, o Pedro é um garoto muito bom, gentil e inteligente. Vocês não têm o direito de julgar ele só porque ele não é um tatuado, ignorante que nem vocês, que só sabem festejar e saberem de mais nada. Não sabem fazer algo de melhor do que julgar? se ele é estranho, problema dele, pelo menos ele não é um mal-educado, bipolar e escroto!
Maisa fica de olhos arregalados para mim e deixa uma peça de roupa cair no chão. Fico me questionando se fui muito rude, mas falei o que estava intalado na garganta. Não aguento ver pessoas julgando outras sem conhecer, e se aproveitarem disso. Maisa pega a roupa de volta no chão, e não me olha mais.
- Hum, eu... Eu vou passar a noite na casa do Elias, ele é um garoto bem legal. - Coloca a alça da mochila nas costas, e me dá um tchauzinho com a mão.
Fico estática quando ela sai, e após uns minutos volto a realidade e me ajeito para dormir um pouco. Minhas costas estralam, e meus pés também. Fico pensando se não fui muito ignorante e desagradável fazer com que Maisa Roberto e Matheus fossem classificados como mal-educado, bipolar e escroto. Eles não são assim; o Lucas é assim.
Me enrolo na cama, e fecho os olhos tentando não pensar na possibilidade da minha culpa se tornar algo maior do que minha razão.
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AFTER: Capítulo 10
Os lábios de Lucas estavam macios e gelados, e seu hálito era de menta quando sua língua entrava em minha boca. Meu inconsciente trava uma constante batalha contra meu consciente, e meu corpo fica enrijecido com a forma e a rapidez como tudo fluiu até agora.
- Relaxa um pouco. - Sua voz sobressai ofegante, e suas mãos pesam sobre meus ombros.
De repende sinto sua mão entrar em meus cabelos, e puxá-los com força; solto um grunhido de dor, mas logo esqueço quando ele puxa meu corpo para o meio da cama, e ele se deita ainda com os lábios nos meus, sem nenhum meio de interrupmento. Minhas pernas ficam afastadas em cada extremidade de suas ancas, e meu peso está sobre ele duma forma que chego na questão de parecer desconfortável, mas esqueço esse pensamento.
O que está fazendo? meu subconsciente entra em alerta vermelho, e Lucas envolve meu corpo no seu duma forma mais violenta, e suas mãos sobem até a barra do meu cardigã e o retira; jogo a peça em algum lugar do quarto, e volto a beijá-lo. Sinto sua excitação em minha barriga, e faço um movimento que nem eu mesma pensei em fazer.
- Amanda.. - Ele ofega em meu ouvido, e arrepio-me com a forma como ele cita meu nome como se precisasse de mim.
Suas mãos insinuam subir até a barra da minha camisa, e sinto que realmente é a hora de parar. O que eu estou fazendo? penso comigo mesma, e rapidamente tento me mover apressadamente em cima dele para que eu possa ter espaço.
- Lucas.. - O chamo.
Minha pele se arrepia com suas mãos geladas prensando-me pela cintura, e mesmo que esteja bom, eu preciso parar. Tudo isso está muito errado aliás, não entendo o motivo pela qual o beijei, talvez fosse o álcool ou a adrenalina que eu precisasse no momento de raiva.
- Lucas! - Grito, e seus olhos negros me encaram assustados, e me levanto rapidamente de cima do mesmo. Pego meu cardigã e visto, arrumo meus cabelos, limpo minha boca e tento segurar as lágrimas que estão precisando sair de meus olhos.
- Mas que porra. - Grunhiu, e se levantou ajeitando seus cabelos. Não consigo olhá-lo, parece que esse ato custará minha sensibilidade, por isso tenho que ir.
Caminho até a porta, e paro instantaneamente. Uma parte de mim diz para que eu fuja, mas a outra pede para ficar. Viro-me diante dele, e sua expressão é definitivamente crua. Parece que quer me matar, ou gritar para que eu saia da sua frente.
- Acho melhor... Acho melhor você ficar longe de mim. Eu não queria... Você sabe. - Sua atenção em mim faz as minhas palavras saírem atropeladas, e minha visão sempre fica vulnerável aos seus. Olho para ele, e desvio o olhar novamente.
Um sorriso aparece em seus lábios, e em seguida solta uma gargalhada alta e tão cruel que meu corpo não se move e minha visão se embaça lentamente com as lágrimas que se aglomeram em meus olhos. Sua expressão é divertida, como se estivesse assistido um filme de comédia.
- Meu Deus, você é tão ingênua. - Em segundos, a raiva está de volta em seu rosto. - Você pediu por isso. Não venha dar uma de convencida. - Riu novamente, e encosta-se na estante cruzando os braços e as pernas dando um suspiro.
Saio daquela porta totalmente arrasada, tenho que sair dessa república o mais rápido que posso. Para meu azar cruzo com Roberto, e quando ele me vê questiona se estou bem; o ignoro, e continuo a correr até a saída onde possa finalmente respirar. O vento gelado é a única coisa que me faz parar de soluçar, e pego meu celular para ligar o GPS onde eu possa achar um ponto de ônibus para o alojamento.
Ando alguns kilômetros, e finalmente acho um ônibus disponível. Acho um lugar no fundo do ônibus, tento recompor minha respiração e tentar calcular tudo o que aconteceu hoje. Como eu sou idiota! as lágrimas rolam em meu rosto novamente, e penso em como o Felipe deve estar preocupado enquanto eu estava beijando Lucas, e esfregando em cima dele. Sou uma péssima namorada, ele nunca faria isso comigo se os papéis se invertessem; ele me ama, e sempre mostra esse sentimento quanto pode.
Mas isso nunca vai acontecer. Esse episódio vai passar, e minha vida voltará ao normal.
Passo no 7-Eleven para tomar um café, e volto para o alojamento ignorando os bêbados de plantão de ficam zanzando pelo corredor. Pego as chaves para abrir a maçaneta, mas ela já estava aberta. Ignoro a possibilidade de alguém ter entrado no quarto, ou até mesmo Maisa não gosta muito de trancar a porta quando sai. Entro rapidamente, e quando me viro, Lucas está sentado na minha cama brincando com um barbante em seus dedos. Seus olhos negros me encaram e seu corpo fica de pé.
- Onde você estava? - Grita, totalmente furioso.
- O quê está fazendo aqui? - Grito na mesma altura, e seus olhos se fecham por alguns segundos. Ele dá três passos em minha direção, mas eu o impeço. - Não se aproxime!
A situação de Lucas é um tanto penosa, seus olhos estão vermelhos, a camisa amarrotada e os cabelos desgrenhados. Não quero pensar que ele estava preocupado comigo, deve ter beijado algumas garotas depois que fui embora.
- Rodei todo esse lugar para te achar, e não consegui. Sair no meio da madrugada é perigoso. - Sua voz fica baixa, e ele não conseguia me olhar. Parece que o jogo virou não é mesmo?
- Eu peguei um ônibus, e se eu saí no meio da madrugada ou não, não é da sua conta! Você não se importa se eu tivesse morrido, ou fosse sequestrada por bandidos! - Grito involutáriamente, e ele fica estático.
- Claro que eu... - Algumas batidas na porta são ressoadas, e uma voz furiosa atravessa a porta chamando-me. Ah não. É minha mãe.
- Amanda! Abre essa porta agora! - Repete ela, e as batidas são ressoadas novamente.
Apresso-me em pegar o braço de Lucas e tentar escondê-lo. Meu coração está acelerado, e cada vez que ela me chama, o desespero aumenta.
- Estou indo! - Respondo, procurando algum lugar para que ele se esconda. Já que ele é magro, conseguiria se esconder no armário. Puxo-o até lá, mas ele me impede.
- Eu não vou me esconder. - Ele cerra os dentes, e fico aflita.
- Você precisa. - Sussurro, e ele se solta de mim e se senta novamente em minha cama como um menino emburrado.
Rezo antes de abrir a porta, e dou de cara com minha mãe e Felipe do lado. Ele está envergonhado, e tento manter a postura.
- Sim? - Esboço um sorriso, e minha mãe suspira e me empurra para entrar em meu quarto.
Antes que eu impeça, ela vê Lucas sentado em minha cama e Felipe me olha sem pensar duas vezes.
- O quê essa coisa está fazendo na sua cama? - Grita, apontando para ele como se fosse algum objeto.
As palavras não conseguiam sair de minha boca, e vou em sua direção para levá-lo até a porta. Lucas não demonstrava medo, e olhava para minha mãe e Felipe com autoconfiança; se ele imaginasse o quanto minha mãe está o odiando, o olhar dela já teria o fulminado. Felipe está emburrado, mas é o tipo que não consegue ameaçar.
- Ele está de saída. Estávamos resolvendo sobre uma atividade da aula de Literatura e já terminados. - O levo rapidamente, mas ele me detém.
- O que eu disse pra você Amanda? Sabia que não era uma boa ideia dividir um quarto com uma louca tatuada, que dá nisso. Já falei para ficar longe desse tipo de...de... coisa! - Cruza os braços, estufando o peito. Felipe não diz nada, mas está me julgando só pela forma como me olha.
- Olha aqui senhora, me respeita sacô? - Dou um chute em sua canela, e ele se contêm.
Minha mãe me puxa pelo braço, e puxa o ar fazendo uma cara feia.
- Meu Deus, você andou bebendo? - Se afasta de mim, e balança a cabeça negativamente. - Não posso acreditar, você precisa tomar um banho, vamos sair. - Ajeita o colar de pérolas em seu pescoço.
- Sair? - Não quero sair, principalmente para ouvir poucas e boas da minha mãe durante o caminho.
- Vamos para a cidade, comer alguma coisa. Você precisa tirar essa hálito de cerveja da sua boca, precisamos ter umas conversinhas. - Sem meu consentimento, minha mãe faz alguma caça ao tesouro no meu armário, e tira um vestido rosa que fazia um ano que não usava.
- Tá, eu vou tomar um banho. - Pego o vestido, e algumas peças íntimas, minha toalha e escova de dentes. Lucas está me olhando duma forma um pouco triste, e Felipe o encara com raiva.
Lucas me acompanha até o banheiro coletivo sem dizer nada, e penso em me despedir fazendo algo, mas só digo: tchau. Tomo um banho rápido, o que nem deu para pensar em tudo o que aconteceu, e volto para o quarto. Penteio o cabelo e o deixo solto sem nenhum cacho, e vou com eles para o estacionamento sem dizer nada, só ouvindo minha mãe explicar o quanto está preocupada comigo e que me ama muito.
As mãos de Felipe tentam cruzar os meus dedos, mas não o correspondo. Odeio ser assim, tão fria, mas foi um erro dele em chamar minha mãe. Por quê ele tem que ser tão chato a ponto de colocar minha mãe no meio das coisas? Ás vezes penso que ele gosta de fazer isso para me prejudicar, mas sei que ele fica muito preocupado. Mas mesmo assim, ele tem que parar de fazer isso.
- Filha, você tem que focar nos estudos e procurar um estágio. Precisa comprar um carro, precisa ter suas coisas e seu dinheiro. Não posso ficar mandando dinheiro na sua conta bancária toda semana, uma hora você vai ter que se virar. Amadurecer. - Fala enquanto mastiga um pedaço de torta, enquanto brinco com o garfo e penso em quão estranho o Lucas é. Como ele totalmente cruel, e depois tão indiferente.
- Amanda? - Felipe chama minha atenção tocando em minha mão.
- O quê foi? - Respondo um pouco grossa, e percebo que minha mãe tinha saído.
Felipe se ajeita na cadeira ao meu lado, e olha para ambos os lados um pouco apreensivo.
- Olha, eu não queria ter chegado nesse ponto. Mas você estava estranha, bêbada, e eu achei que não poderia dar conta sozinho. - Encolhe os ombros, e fica perdido.
- Felipe, foi covardia sua. Minha mãe não tem nada haver com tudo isso. Você tem que parar de colocar minha mãe em tudo. - Felipe abaixa a cabeça e assente. - Mas, eu entendo você. Só para de ficar sempre cuidando de mim como se eu fosse uma criança.
Felipe me rouba um beijo, e espero uma adrenalina preencher meu corpo, mas nada acontece. Minha mãe volta e continua falando de como está ficando de saco cheio do emprego, e que precisa de produtos de beleza para comprar na TV, senão sua pele vai ficar toda enrugada e feia. Comenta sobre uma concessionária boa onde eu possa comprar um carro bom, mas não muito caro e me entrega um número de telefone de um amigo que faz um bom preço.
Fomos num shopping da cidade, e minha mãe anda na frente discutindo com alguém no telefone. Felipe e eu ficamos atrás, e paro a caminhada para abraçá-lo e beijá-lo vorazmente. A adrenalina que tanto preciso não aparece, e causo um atrito em nossos corpos ao puxá-lo pra mais perto.
- Ei, tem gente olhando. - Ele fica envergonhado, olhando alguns idosos experimentando uns óculos em um quiosque.
- Dane-se. - Rimos, e o beijo da forma mais selvagem que posso. Felipe toca em minha cintura com força, mas é para me afastar.
- Ei... - Ri de cabeça baixa, e brinca com minhas mãos.
- O quê foi? Não posso beijar meu namorado? - Presto atenção em seus movimentos.
- Não, claro que não, só estou achando estranho esse seu jeito. É a saudade? - Sorri de canto.
- É, é sim. - Puxo para um abraço, e ele me dá um selinho.
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AFTER: Capítulo 09
Uma parte de mim pede para não ir, mas a outra está dizendo que sim; estou enrolando meus cabelos com o babyliss na frente do espelho e rezando para que tudo dê certo. Vou tentar ser mais comunicativa, e acho que comecarei pelo Thiago, ele parece ser um cara bem legal também. Só não entendi aquele lance das flores, mas vou ignorar. Visto uma calça, uma camisa que mostra meus braços, por isso coloco um cardigã por cima. Odeio meus braços finos, e fico imaginando eles com um monte de tatuagens assim como o da Maisa. Seria horrível, e rio de mim mesma com esses pensamentos estranhos, e sem sentido.
- Estou bonita? - Ela está usando um vestido mais bonito dessa vez, com um salto agulha e os cabelos em um rabo de cavalo.
- Está sim, mas parece que está frio lá fora. - Ela ri de mim, e me arrependo do que falo. Ultimamente estou virando uma comediante e nem sei.
- Tudo bem, não se importe comigo. Já ouviu aquela frase que piriguete não sente frio? - Riu mais ainda, e não me controlo de rir junto.
Maisa pede para que eu use um lápis bege nos olhos, e acabo aceitando. Se a Amanda de ontem me visse agora, iria contestar, mas estou feliz com o resultado; me sinto bonita, por mais que pareço natural comparado com a maquiagem pesada que Maisa usa.
- Vamos, não quero perder nada dessa festa. - Dá uns pulinhos, e pego minha bolsa em caso de que precise de algo.
Dessa vez, a presença desagradável de Lucas não me assombra enquanto estamos indo de carona no carro de Roberto para a república. Fico muito surpresa quando ele me elogia, dizendo que estou bonita; bom, já é um bom começo para essa noite. Chegamos na república, e a aparência de pura bagunça não muda. Há mais gente do que na festa passada e estou com um frio na espinha.
- Vem, você vai estar comigo a festa toda. - Maisa puxa meu braço, e me leva até o grupo sentando no mesmo sofá.
- Você veio, que bom. - Thiago põe o braço ao redor do meu pescoço, e fico um tanto corada. - Quer uma bebida, ou outra coisa?
- Quero uma coca, por enquanto não quero beber. - Rimos, e ele me leva até a cozinha. Ouço Maisa brincar para que não me roube dela, e a risada dele é muito boa de ouvir. Sento-me em um dos bancos em frente ao balcão, enquanto ele pega uma garrafa de coca e tira a tampinha de metal para mim.
- A gente não tem só cervejas aqui. - Rimos, e ele me oferece alguns chips - Você é americana mesmo?
- Sim, mas meus avós são britânicos. - Thiago parece surpresa, e dá uma olhadinha para o grupo sentado no sofá.
- Lucas também é britânico, odeia quando a gente brinca com o sotaque dele. - Começa a rir, e tento fingir uma risada também. Nunca percebi que ele tinha um sotaque, acho que minha raiva por ele ficou tão grande, que nem reparei.
Thiago fala sobre ele, dizendo que faz engenharia civil e gosta muito de como está evoluindo intelectualmente. Depois de comer, eu e ele voltamos para o grupo que conversava sobre um assunto que não consegui entender, e Lucas está sentado com a cabelos-cor-de-rosa novamente.
- E aí Amanda, tem namorado? - Ela pergunta para mim, o que faz a atenção ser somente eu.
- Sim, tenho. - Respondo orgulhosa, e ela olha para Lucas com um sorrisinho. Ele abaixa a cabeça e bebe um gole de cerveja do seu copo.
- Quanto tempo juntos? - Roberto pergunta curioso, e ignoro o olhar de Lucas em mim.
- Um ano. Estamos muito felizes. - E estamos mesmo. Somos um tipo de casal que todos adoram, simplesmente porque não brigamos e sempre entendemos o lado do outro sem questionamentos e dúvidas.
- Que bom, mas queremos saber... Já transaram? - Tinha que ser a cabelos-cor-de-rosa. Maisa a repreende a chamando pelo nome que é Eduarda.
- Não. - Os olhares arregalados de todos parecem que estavam vendo um filme de terror. Pra quê tanto susto? Já tivemos umas apalpadas lá e cá, mas nunca transamos, só depois do casamento.
- Você tem um namorado, e nunca transou? - Eduarda dá um empurrão no Lucas, e ele constesta um “ deixa a garota, porra “, e lá no fundo agradeço ele por ter me... defendido? mas isso não quer dizer que quero ser amiga dele, ao menos que ele queira. Bom, deixa isso pra lá, estou aqui para me divertir, e não criar perguntas e dúvidas na minha cabeça. Mas não deixo de sentir uma extraterrestre no meio deles agora.
- Isso é bom, Amanda. Sabe, saber se guardar. - Roberto dá uma piscadela para mim, e Eduarda revira os olhos.
Pedi para Thiago me servir uma cerveja, quero ficar mais á vontade. Bebo um gole e outro, e já me sinto mais animada para curtir o som do rock alto, por mais que eu deteste. Aproveito a distração da Maisa para ir lá fora, e mandar uma mensagem para Felipe que estou numa festa e que estou bem. Volto novamente para dentro, e não encontro mais Maisa e sim só Thiago e Roberto conversando.
- Tudo bem? - Roberto ri enquanto sento-me no meio deles, e esboço um sorriso sincero.
- Sim, tem mais cerveja? - Thiago fica um pouco assustado, mas não comenta nada. Dou um gole exagerado, e começo a tossir.
- Calma aí, vai acabar vomitando. Precisa acostumar seu organismo. - Roberto sorri para mim, e percebo o quanto ele é bonito. Como um cara desses não tem namorada? Fico na esperança de perguntar, mas vou parecer muito cara de pau.
Minha cabeça começa a rodar, e meu estômago começa a reclamar. Tento não parecer estranha, e digo que vou no banheiro. Thiago pergunta se quero companhia, mas recuso. Por quê estou me sentindo assim, talvez a cerveja não vá com a minha cara.
Entro no banheiro, fecho a porta e coloco minha cabeça na privada. Espero algo acontecer, mas a sensação de vomitar não vem, então encosto no box e resolvo checar as mensagens no meu celular.
Festa? Que festa? Você digitou tudo embaralhado aqui, não consigo entender.
Amor, me responde. Está aí?
Droga, vou falar com a sua mãe. Você não parece bem.
Deus! se ele falar pra minha mãe, vai ser um caos! preciso dizer á ele que não precisa, mas estou fraca o suficiente pra isso. Deixo o celular de volta bolsa, e ouço algumas batidas na porta.
- Já estou indo! - Grito de volta. Tento me levantar segurando-me na parede, e reclamo da dor de cabeça que se intensifica.
E as batidas na porta tornam-se mais fortes, e bufo.
- Já estou indo! - Abro a porta com força, e me deparo com Lucas. O quê?
Ele está me olhando de cima á baixo, e morde a argola do seu piercing no lábio inferior. Arqueo as sobrancelhas para que ele me responda logo, mas estou com a paciência no espaço; dou um empurrão nele, e sigo um caminho da qual nem sei. Sinto um aperto forte em meu braço, viro para encará-lo. O quê ele quer?
- Você está bem? - Pergunta, com a voz baixa.
- Estou sim, obrigada! - Puxo meu braço de volta, e continuo a seguir meu caminho.
- Porra, espera aí! Você vai acabar desamaiando. - Ri, e não entendo o por quê de tudo isso. Uma hora quer me irritar, e outra quer se legal. Sei que ele está falando a verdade, e preciso me sentar.
- E o quê quer que eu faça? - Não quero perguntar onde ele quer me levar, mas preciso dele antes que eu caia do nada no meio dessa gente.
Lucas me leva para seu quarto, e de uma forma bruta me pede para sentar na cama. Observo ele beber um gole do seu copo, e me entrega.
- Eu não quero cerveja! - Exclamo, e ele revira os olhos.
- Isso não é cerveja, é água. Não bebo. - Persiste em me entregar o copo, e acabo aceitando. Enfio o dedo antes para ver se é água mesmo, vai saber que ele quer me drogar? Ouço sua risada irônica, e bebo.
Lucas está sentado no tapete de frente para mim, e suas tatuagens parecem mais fortes e obscuras do que nas outras vezes.
- Por quê suas tatuagens são bizarras? - Seus olhos estreitam os meus, e ele estica os braços para os observarem.
- Não são bizarras quanto você. - Deixo o copo brutalmente em cima do cômodo-mudo, e me levanto. Por quê ele tem que ser assim?
- O quê foi? - Ele se levanta atrás de mim, impedindo que eu abra a porta - Só estava zoando com você.
- E você adora né? Por quê me odeia tanto? - Grito, e sinto vontade de chorar. Por quê quero chorar?
Seus olhos ficam indecifráveis, e seus lábios movem lentamente. Percebo que está indefeso por um momento, mas logo sua expressão muda.
- Porque você é estranha, certinha demais! Não devia estar nessa festa, não percebeu que não é o lugar pra você? - Ele grita, e a sua voz são como facadas em meu peito. As lágrimas escorrem dos meus olhos, e tento segurá-las o máximo que posso.
- Você não sabe o que eu sou! Meu pai é um bêbado que fugiu de casa, e minha mãe é uma neurótica que sempre quer fazer da sua filha uma santa! Não é só porque você é todo tatuado, perigoso e popular que tem o direito de me julgar! - Sento-me de novo na cama, e me encolho. Estou cansada de ser classificada como a certinha, e inocente. Cansada das pessoas sempre opinar sobre a minha vida, sem saber da história por trás da imagem “ perfeita “ que mina mãe sempre impõe.
Lucas senta-se do meu lado, e fica quieto. Devia estar longe, bem longe dele, mas estou fraca e zonza demais para andar. Nem sei porquê estou tão emotiva assim, acho que foi em relação ao meu pai.
- E-eu, é... Desculpa. - Encaro a forma como ele não consegue me olhar. Rio da forma como ele é mentiroso, e seco as lágrimas.
- Desculpa... - Repito, e rio ainda mais - Você gosta disso né? - Ele franze o cenho.
- Do quê? - Fica irritado, mas não altera a voz.
- De ver o pior das pessoas. - Minha voz está embargada, e seu hálito de menta fica em evidência em meu rosto.
- Que idiotice. - Revira os olhos, e encara suas mãos.
Fico o observando, e pensando o quanto ele me fez meu corpo estar cheio de adrenalina, raiva, tristeza, tudo ao mesmo tempo. Ele está me olhando neste momento, confuso e um pouco bravo. Mas bravo por quê? eu devia estar totalmente brava agora, e bater nele até não sobrar mais nada do que resta.
Mas ao contrário disso, eu o beijo.
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AFTER: Capítulo 08
A manhã de sábado me faz acordar cedo e ligar para Felipe. Deveria ser hoje que seria meu primeiro dia na Washington Central, mas minha mãe estava tão neurótica que quis apressar as coisas. Faço umas três chamadas, e ele não me atende; deve estar no treino de futebol para um campeonato contra o time de outro colégio, e não devo atrapalhá-lo. Assim que ele ver minhas chamadas, ele irá ligar-me de volta rapidamente. Fico deitada calculando meu horário para hoje, já que não terei aula e Maisa entra no quarto agitada.
- Bom dia, hoje vai ser demais. Vamos para a república hoje, vai ter mais uma festa. - Maisa pega desesperadamente algumas roupas do seu armário, e as coloca numa mochila.
Mais uma festa? O quê esse povo gosta tanto de uma festa? Dessa vez eu não irei ir, e também dessa vez não irei me comprometer; só fui daquela vez para cumprir o trato, e para fazer amizades. Mas parece que fiz o contrário disso, e recebi uma cerveja gelada na roupa que até agora está manchada. Sei também que há outras coisas incluídas para que meu azar fosse maior, mas não irei citá-lo.
- Desculpe, mas não vou. Se divirta com seus amigos tatuados, e estranhos. - Percebo que sua reação é triste, e mudo de estratégia - Você é a mais legal deles. - Ela sorri.
- Tudo bem, mas seria muito bom se você fosse. - Senta-se no meu lado, e fico mais vulnerável para analisar suas tatuagens, e o quanto elas são coloridas e infantis. Sus braços ficam finos para tantas delas, e minha curiosidade de perguntar como é a sensação de fazer tatuagem fica evidente, mas ela não se importa.
- Ei, eu posso saber se você ficou chateada com alguma coisa? - Sua expressão fica preocupada, enquanto tento não olhar para seus olhos que parecem totalmente intimidadores.
- Hum... Não. - Coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha. Ela cerra os olhos, como se percebesse que estou mentindo.
- É o Lucas, né? - Meu coração acelera. Me sinto em um infinito labirinto, e sinto minhas bochechas corarem. - Ele é um babaca quando quer. - Completa.
- Ele só me deixa furiosa, nada de mais. - Me levanto, e fico em pé em sua frente tentando não olhá-la. Estou me sentindo uma palhaça, olhando para minhas mãos e torcendo para que ela mude de assunto.
- Olha, eu juro que vou parar de deixar ele entrar na hora que quer. Infelizmente ele tem a cópia da chave do nosso quarto, e devia ter entregado para Roberto mas... Já era. - Como é? Então ele tem a liberdade de entrar aqui na hora que quer, e eu sou obrigada a tolerar? Tento suprir a raiva que cresce em mim, e apenas concordo.
Maisa diz que irá passar a noite na casa de alguém, mas ela não cita nomes. Continuo deitada, pensando no quê irei fazer no resto do dia, menos estar nesse quarto isolada. Poderia chamar o Felipe para ele dormir aqui, mas sinto que ele não vai poder. Meu celular vibra em cima do criado-mudo, e rapidamente atendo a ligação de Felipe e matar a saudade de ouvir sua voz.
“ Bom dia amor. Me ligou três vezes, aconteceu algo? “ fico aliviada em ouvir sua voz no outro lado da linha.
“ Aconteceu nada, eu só... Estou com saudades. “ Rimos por alguns minutos, e ficamos em silêncio.
“ Bem, é... Eu também amor, muito. O quê vai fazer hoje? “ agradeço a ele por me perguntar, e me ajeito na cama.
“ Eu não sei, estou pensando em sair um pouco, ou assistir um filme com você. “ mordo o lábio, torcendo para que ele aceite. Seu suspiro é pesado do outro lado da linha, e exprimo os olhos.
“ Amor, é... Estou no meio do treino agora, e só vou sair daqui umas cinco. O campeonato é daqui a uma semana, precisamos estar bem preparados. “ minha excitação cai para abaixo de zero, e deito na cama de uma forma bruta.
“ Hum, tudo bem. “ tento não demonstrar desapontamento em minha voz, e digo por fim “ Eu te amo “
“ Também te amo. Não fique triste, conseguiu fazer amigos? “
Passamos alguns minutos conversando, e digo que estou totalmente azarada nesses primeiros dias na wcu. Não comento sobre a festa com ele, sei muito bem que ele irá contar para minha mãe, e ela ficará me dando lições de moral, como sempre faz. Ficamos na briga de quem desliga primeiro, e no final ele ganha, então encerro a chamada e volto a me deitar completamente confusa sobre o quê irei fazer hoje.
Canso do tédio de estar no quarto procurando alguns filmes na Netflix, e tomo a decisão de sair sozinha para comer alguma coisa. Ultimamente meu apetite tem caído bastante, e minha mãe começou a fazer várias barganhas para que eu volte a comer como antes. Sucos naturais, saladas, e várias outras coisas estranhas já comi para agradá-la, mas continuo comendo pouco e não sentir a fome por muito tempo.
Vou numa lanchonete do campus mesmo, e peço um sanduíche duplo e um café preto. Fico na fila na espera do meu pedido, e sou surpreendida por alguém que chama-me num sussurro. Olho para trás e encaro uma baixinha de cabelos-cor-de-rosa; eu me lembro muito bem dela.
- Amanda, está sabendo de hoje? - Sorri, e suas roupas não mudam; uma saia de pregas, e uma blusinha preta com rendas.
- Não, eu não estou sabendo de nada. - Fico assustada da forma simpática que está sendo comigo, sendo que ontem quase me matou por ter visto ela e Lucas prestes a estarem num ato sexual.
- Vai ter uma festa super imperdível, e você tem que está lá. - Esboça outro sorriso, e um garoto moreno tatuado aparece do seu lado.
- Ah sim, beleza. - Não sei porquê respondi daquele jeito, e ela se retira com o garoto moreno. Pego meu pedido, e me sento nas últimas mesas para pensar a respeito dessa festa; eu não quero ir, não quero passar aquele papelão de novo. Também nem sei onde fica essa república, a minha colega de quarto não está disponível para me levar, então é melhor para todos eu não ir.
Começo a pensar sobre minha necessidade de ter um carro, já que todos os adolescentes da minha idade tem um. Por isso não culpo das pessoas rirem de mim quando as digo que pego ônibus, sei que é meio estranho. Quero ir na cidade com Felipe para ele me ajudar em escolher um carro bom, e de bom preço, que seja confortável e que facilite minha rotina. Assim posso visitar os parentes, e passar os finais de semana com eles, principalmente em datas comemorativas. Termino de comer meu lanche, e volto para o alojamento com novas ideias na cabeça.
- Maisa? - Assusto-me ao vê-la tirando algumas roupas da sua mochila, com uma expressão irritada.
- Desculpe, eu voltei porque odeio a forma como alguns homens acha que somos. - Sua voz está alterada, e me sinto constrangida.
- Quer conversar? - Sei que não somos chegadas, mas é como forma de agradecer a preocupação que ela teve em relação ao Lucas.
Em questão de segundos, a garota durona se torna uma criança de dez anos chorando em meus braços. Fico apenas passando a mão em sua cabeça, dizendo que realmente homens são idiotas, e machistas. Ela cita que há um cara que ela está saindo, e seu sentimento é recíproco; mas as intenções dele são totalmente o contrário.
- Quer saber? - Enxuga o rímel misturado com as lágrimas de seus olhos, saindo de meu colo. - Eu vou nessa festa, e vou beber muito. - Sorri e sem pensar duas vezes, devolvo o sorriso.
- Espero que melhore. - Devia pedir que ela ficasse, mas não somos amigas á esse ponto para fazer esse pedido.
Ela encara-me um pouco solitária, e pega em minhas mãos.
- Sei que você já deu a resposta, mas eu queria que você fosse comigo. - Faz bico, e fico sem reação. - Por favor.
Agora me sinto sem saída. Eu não sei o quê fazer o resto do dia, e não quero ficar aqui sem fazer nada, assistir filme, pensando nas aulas e nos horários, por mais que eu goste. Também prometi estar completamente longe de gente tatuada e maluca, mas estou consolando uma delas que, por mais do visual agressivo que ela aparenta, seus sentimentos são como de uma garota com o coração quebrado. Bom, talvez eu esteja julgando demais. Por quê não dar mais uma chance? Preciso conhecer pessoas diferentes, e fazer amizade com elas, e Roberto é um garoto totalmente simpático.
Suspiro, olhando em seus olhos marejados e suplicantes, e respondo:
- Tá bom, eu vou.
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AFTER: Capítulo 07
Lucas ficou calado o trajeto inteiro, enquanto Maisa especulava sobre a festa da noite passada, do quanto estava bêbada e que não se lembrava de nada. Queria lembrá-la de quando ela dançou em cima de uma mesa, esfregando o traseiro num garoto qualquer, mas prefiro ficar quieta.
- Ainda vai para aula? - Deita-se na cama, tirando o salto dos pés, enquanto me visto desesperadamente para não perder tempo. Preciso de um tempo para um café, e me preparar totalmente para estar energizada durante a tarde para estudar conversar com Felipe.
- Sim, não pretendo perder nenhuma aula. - Calço os sapatos, e faço um rabo de cavalo.
Despeço-me de Maisa, e tento atravessar o alojamento o mais rápido que posso. Peço um café e uma torta na mesma lanchonete que ontem, e sento-me numa mesa mais reservada que tinha. Ao mesmo tempo que estou comendo e bebendo, fico olhando as horas e agradecendo pelo tempo que ainda resta.
- Bom dia, que bom te ver aqui. - Procuro a voz que ressoa perto de mim, e Pedro sorri acenando com um café na mão e um prato de croissant em seu antebraço.
- Bom dia. Precisa de ajuda? - Observo ele se ajeitar na cadeira á minha frente, jogando a mochila no chão. Ele ri de minha preocupação, e nega com a cabeça.
- Fui garçom há pouco tempo, então tenho um bom equilíbrio. - Rimos por um bom tempo. Pedro é um cara legal, preciso estar mais próxima dele e mais longe de gente tatuada que fez da minha noite a pior de todas. Quando me lembro dos flashbacks de ontem, engulo uma boa dose de café, e me arrependo da quentura que atravessa minha garganta. Pedro fica preocupado mas logo ri de mim.
- Vá com calma! - E voltamos a rir novamente. - Passou a tarde toda estudando, como você havia me dito?
Desejaria no fundo do meu coração para dizer que sim, mas estaria mentindo.
- Não, eu... Eu fui para uma festa ontem. - Suspiro.
Pedro não parece surpreso, e então esboça um sorriso de canto.
- Você foi na república? - O encaro surpresa. - É, todo mundo fala dessas festas que acontecem lá. - Revira os olhos.
- Você já foi em uma? - Rapidamente ele nega, como se fosse algo absurdo.
- Não é minha praia. Não que eu tenha preconceito com tatuados, já sou da família de um. - Seu sorriso se desfaz, e minha curiosidade começa a me cutucar. O quê será que ele está falando?
- Bom, então você já conhece eles. Eu sou colega de quarto da Maisa, ela é uma tatuada com cabelos-cor-de-fogo. - Pedro ri da forma como a classifico, e ele diz que sim.
- Ela é amiga do meu meio-irmão. - Diz um pouco sem jeito - Bom, sem querer ser um pouco chato... Tenha cuidado com eles.
Prometo a ele que vou estar longe o possível deles, e fomos para a aula. Pedro me contou que sua namorada está vindo nesse final de semana para visitá-lo, e o nome dela é Tamiris. Ela faz dança, e parece que ela está se alistando para dançar balé em uma academia muito aclamada de Nova York. A primeira aula seria Sociologia e sentamos no mesmo lugar juntos.
Após a primeira aula, minha ansiedade para a aula de Literatura Britânica está a mil. Não sei porquê, mas me apeguei muito ao professor e de como ele faz da aula ser maravilhosa. Digo ao Pedro o quanto eu estava animada, e ele só ri de mim e agita-se comigo até chegarmos na sala.
Mas minha animação logo se dissipa.
- Olha só, bom dia. - Lucas sorri, observando-me atentamente até eu me sentar na fileira que fica ao seu lado.
Não vou respondê-lo, não quero dar bola para um mal educado desses. Então agora sei o que ele faz, e é Letras. Ele ri da forma como eu o ignoro, mas não consigo deixar de olhar as tatuagens em seus braços, a camisa preta que fica totalmente bem nele. Por quê estou o olhando?
- Bom, vamos começar o semestre estudando um livro super magnífico que é considerado um dos maiores romances do século XIX. O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Brontë. - Começo a comemorar internamente com Pedro, e sinto o olhar de Lucas me causar arrepios.
Me lembro de quando peguei o exemplar desse livro no quarto de Lucas, e ele o tomou de mim furioso. Seu humor repentino, o modo como me olhou. Não entendo o quanto ele me odeia, mas não quero pensar nessa questão; estou em uma das melhores aulas do mundo, e não quero me distrair com esse idiota que não sabe ser educado, ser calmo e muito menos ser agradável em companhia.
- Essa aula foi demais! - Comento com Pedro quando toca o sinal.
- Como todas as outras, nada de mais. - A voz baixa e desagradável ressoa atrás de mim, e Lucas arquea as sobrancelhas.
- Para você. - Respondo com um tom alto, e ele ri mordendo o metal da argola em seu lábio inferior.
Pedro parece estranho com a presença, e Lucas o encara irritado. Ele não demora para se despedir, e queria acompanhá-lo. Não acredito que Lucas acabou de estragar minha companhia, agora estou sozinha com esse tatuado que não tem bom senso. Passo por ele pisando firme, acelerando meus passos e rezando para que ele não esteja atrás de mim. Quando chego em meu quarto sã e salva, agradeço por estar sozinha e me troco.
Deixo meu alarme tocar até seis e meia para que eu deixe de estudar, e dormir um pouco. Estou me sentindo exausta, acho que foi por causa da cama meio dura lá na república. Preciso fazer outros amigos que não sejam malucos, e que são não sejam tatuados. Queria alguém que gostasse de estudar, é pedir demais? Passar a tarde comentando sobre as aulas, tomar um café; Pedro é um garoto que foi único que não me julgou pelas minhas roupas, e agradeço por isso.
“Amanda, estamos indo para uma festa e não para a igreja” bufo, e coloco o travesseiro em meu rosto.
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AFTER: Capítulo 06
Fico sem respondê-lo, e sua ação bruta de tomar o livro da minha mão e colocá-lo de volta na estante me fez acordar do transe.
- O quê está fazendo no meu quarto! - Grita, e as veias de seu pescoço estão aparentes.
- E-eu... Não sabia que era seu quarto! - Me assusto da forma como o respondo, mas me sinto bem. Ele merece saber ser menos grosseiro, e responder as pessoas da forma como merecem.
Lucas ri de uma forma irônica, e percebo que sua fúria ameniza.
- Então você entra no quarto dos outros, assim? Que tipo de educação sua mãe te deu? - Ele se ajeita na beirada da cama, esticando suas pernas.
Como é? Com que direito ele tem de constestar sobre educação? O garoto foi totalmente mal educado comigo até agora, não sabe responder de uma forma normal, e ainda quer questionar algo? Sacanagem. Acho que sua mãe não deu uma surra suficiente quando ele era criança, e se tornou essa coisa que é chamada de gente.
- O gato comeu sua língua? - Franze o cenho. Sinto um cheiro de cerveja presente entre nós, e chego na conclusão que esse cheiro vem dele. Ou de mim?
- Você não sabe o que é educação. Nem a pratica. - Estou completamente irritada, e completamente confusa.
Lucas fecha a cara, e se levanta da cama. Suas tatuagens estão vulneráveis pela camisa branca de algodão, e seus músculos estão enrijecidos. Fico me perguntando como alguém se sente tão bem á vontade com essas coisas no corpo, que aparentam ser tão grosseiras e assustadoras. Mas de alguma forma, com ele são tão... diferentes? atraentes? não sei, só sei que quero manter o máximo de distância dele.
- O quê faz Amanda? - Sua expressão é amena, e fico paralisada novamente. Hã?
Minutos atrás estava irritado, depois irônico, e agora quer puxar assunto? Que sem noção. Tento processar todos os humores que ele havia demonstrado num passe de mágica, e seus olhos ficam repreensíveis na espera de minha pergunta.
- Letras. Eu faço Letras. - Engasgo, e ele ri. Que graça é essa que ele tem comigo?
- Deu para perceber. Você tem cara de que gosta de livros. - Apoia o antebraço em um dos cômodas da estante, e seu rosto está perto. Seu cheiro é um tanto similar a de menta, e sua respiração está alta.
- E você, faz o quê? - Sua expressão muda, e ele se retrai bruscamente.
- Não te interessa. - Responde. Só estou tentando ser legal.
Cansei de estar aqui, preciso ver como Maisa está. Talvez ela esteja acordada, ou precisa de mim para algo. Sem pensar duas vezes, passo por ele rapidamente e me dirijo á porta. O seu olhar está tão intenso, que fico corada.
- Já vai? - Sei que ele está tirando uma comigo, mas não vou dar corda.
- Sim, foi um prazer Lucas. Tenha uma boa noite. - Abro a porta violentamente, e a fecho da mesma forma. Minha respiração está acelerada, e minha vontade é de correr pra longe.
- Boa noite, Amanda. - Sua voz ressoa através da madeira, e pigarreio.
Fico alguns minutos ao lado de Maisa, enquanto ela parece imóvel. Tento não pensar em caras mal educados, tatuados e que mudam de humor repentinamente. Preciso organizar minhas coisas para as aulas de amanhã, mas estou no meio de uma festa com pessoas estranhas, bêbadas e que certamente não sabem da palavra: responsabilidade. A porta se abre, e fico assustada se é alguém desconhecido, ou um casal carregado de hormônios para fazerem sexo.
Mas é apenas Roberto segurando umas cobertas.
- Está tudo bem aí? - Sorri, posicionando os cobertores numa cômoda.
- Está sim. Só uma pergunta... hum... Quanto tempo dura essas festas? - Roberto solta uma gargalhada, e faço o mesmo.
- Até o amanhecer. Por quê? - Dá uma piscadela. Amanhecer?
Fico paranóica, e começo a imaginar o quanto isso dar atrapalhar minha rotina que tanto planejei para amanhã. Preciso pegar um ônibus para ir embora, mas será que ainda há disponíveis nesse horário?
- Roberto, eu preciso ir embora. Não posso continuar aqui até ficar claro. - Fico andando para todos os lados, mordendo a unha. Realmente essa noite não foi ao meu favor.
- Ei, relaxa. Alguém leva vocês pela manhã, durma aqui. - Sorri de canto, e cobre Maisa com uma das cobertas.
- Mas eu não trouxe escovas de dente, nem roupas. - Roberto tenta me acalmar, mas ele está se divertindo da minha situação.
- Não tem problema, vá dormir e você sairá com Maisa bem cedinho. Há alguns idiotas indo embora da república, vai ficar mais á vontade. - Mesmo que isso me assuste, aceito ficar até amanhecer e pego uma coberta com ele. - Quer ficar em outro quarto?
- Sim, por favor. - Peço, preciso estar sozinha por enquanto.
Roberto me disponibiliza um dos quartos vazios, e agradeço ele por estar sendo legal comigo. Me recolho na cama meio dura, mas que dá para tirar um bom cochilo; sei que minha cabeça vai criar várias paranóias, mas fico na esperança de me esquecer de tudo o que ocorrera por enquanto, assim eu posso analisar tudo com calma amanhã.
Acordo desesperadamente na expectativa de ir embora, e procuro Roberto para que ele possa nos levar. Os copos estão jogados em todos os cantos, e tento não pisar neles enquanto desço as escadas. Sem pensar que nada podia melhorar, dou de cara com Lucas catando a bagunça segurando uma sacola de lixo em uma mão, e outra empurrando os copos em cima do balcão da cozinha.
- Bom dia. - Seus olhos estreitam os meus, e os revira.
- Bom dia princesa. - Solta uma gargalhada, e fico um tanto surpresa como o som que sai dela é gostosa.
- Aonde está Roberto? - O tateio pelo restante da sala.
- Aquele filho da puta? Foi embora. - Sem olhar para mim, continua jogando as coisas no lixo rapidamente.
- Tem linha de ônibus disponíveis á essa hora? - Lucas joga a cabeça para trás e encara-me irritado. Fico esperando o próximo insulto sair de sua boca.
- Você não cansa de perguntar? - Dou de ombros, e continuo investigando a sala, nem sei do que estou fazendo, devia ajudá-lo.
Maisa desce as escadas, sem precisar tropeçar em seus próprios pés.
- Bom dia, como estão? Estou exausta. - Lucas não dá ouvidos, e continua sério tirando os papéis higiênicos pindurados nos móveis.
- Precisamos ir embora, vamos pegar um ônibus. - Maisa apoia as mãos em meus ombros, e me contorço para não reclamar de seu cheiro.
- Ônibus? Claro que não, vamos de carona. Lucas, por favor? - Dá um sorriso para ele, que no mesmo momento, deixa o saco de lixo no chão e tira as chaves do bolso.
- Que esses filhos da puta arrumem o resto. - Comenta baixinho, e me assusto com seu linguajar.
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AFTER: Capítulo 05
Passaram-se duas rodadas, e a terceira foi para Roberto e o garoto das flores que chamava-se Thiago.
- Verdade ou Consequência? - Roberto faz uma expressão perigosa, e todos dão uma risadinha.
- Verdade. - A maior parte do grupo o xinga de cagão, e ele se defende mostrando o dedo do meio.
Minhas mãos ficam soadas, e fico as esfregando na orla do vestido. Lucas está agarrado com a cabelos-cor-de-rosa, e parece meio entediado? irritado? não sei. Mas mesmo assim, não me importo.
- É verdade que mijou sangue quando tinha quinze anos? - Todos riem alto, e Thiago revira os olhos.
- Eu tinha uma doença tá? Seus filhos da puta. - Jogou uma almofada no Roberto que pedira desculpas.
- Não sabia que Thiago ficou menstruada. - Lucas se diverte da situação, e seu sorriso se escancara.
Tento focar na brincadeira quando o assunto é substituído pelo giro da garrafa, e a atenção de todos viram-se para mim. Sou eu?
- Verdade ou Consequência, Amanda? - Thiago sorri para mim, e fico meio sem jeito.
Lucas fica olhando-me constantemente, e sinto meu corpo entrar em colapso. Todos esperam minha resposta, e um comentário ressoa pelo espaço:
- Com certeza é verdade. - Lucas sussurra para a cabelos-cor-de-rosa, o que a faz rir.
- Consequência. - Respondo estufando o peito. Lucas fica surpreso, e sua expressão é um tanto engraçada.
- Beleza, hum... Te desafio a beber um gole de cerveja. - Engulo em seco, e pego a garrafa gelada em minhas mãos.
O cheiro é horroroso, como alguém consegue beber isso? Imagino um tanto de bocas que bebeu nesta garrafa, e meu estômago revira-se novamente. Vejo a impaciência das pessoas em meio a comentários, e expressões.
- A gente não tem o dia todo, querida. - A cabelos-cor-de-rosa faz alguns rirem, e tento ignorar.
Lá vamos nós. Jogo o líquido goela á baixo, e ele desce queimando minha garganta e faço uma careta. Alguns ficam na expectativa, e outros agradecem por eu finalmente cumprir a ação.
- Amanda, sua vez. - Thiago permite que eu gire a garrafa, e rezo para que caia em alguém legal.
- Tá de brincadeira. - Ouço o comentário de Lucas, e percebo que a garrafa aponta pra ele. Ai.
Limpo a garganta após o gosto árduo da cerveja, e seus olhos estreitam os meus com desânimo.Queria nem perguntar quais das opções ele escolheria, já partia para espancá-lo. Esqueço esses pensamentos, e volto para a realidade:
- Verdade ou Consequência? - Ele solta uma risadinha, e volta a ficar sério em questão de segundos.
- Consequência. - Fita-me com aqueles olhos negros, e minha cabeça começa a pensar num desafio. Mas fico sem criatividade.
- Hum... Dasafio você... Hum... A tirar a roupa durante o jogo todo. - Lucas reage como se não ligasse, e tira a camisa.
Não consegui disfarçar a curiosidade sobre suas tatuagens. Há uma trepadeira em sua barriga, e dois pássaros abaixo de sua clávicula. Seus músculos ficam enrijecidos quando traz de novo a garota dos cabelos-cor-de-rosa para si, e finjo não estar olhando para eles. Não sei porquê me sinto tão estranha agora, parece que a sala toda vai rodar. Preciso sair daqui antes que vomite em alguém.
- Onde você vai? - Maisa questiona-me preocupada, enquanto procuro a saída para o jardim.
- Quer que eu te acompanhe? - Thiago grita em seguida, e tento mostrar que eu estava bem.
O ar fresco faz minha cabeça parar de doer um pouco. Acho um muro alto para que eu possa me sentar, e mandar uma mensagem para Felipe; não sei se estou bêbada agora, mas estou eletrizada pelo efeito do álcool.
Oi. Estou com saudades. Mando a mensagem tentando segurar o choro. Não devia estar aqui, devia estar no meu quarto estudando, e não em meio á milhares de adolescentes bêbados, e malucos.
- Ai, meu Deus, me desculpe. - Um garoto lamenta olhando para meu busto. Ah não. Agora estou fedendo a cerveja. - Me desculpa mesmo.
Agora preciso me limpar. Ultimamente estou completamente azarada com roupas, e agora estou no meio de uma festa, fedendo a cerveja. Vou achar um banheiro no andar de cima, antes que seja tarde demais. Volto para a sala, e parece que a brincadeira idiota havia acabado. Ultrapasso um grupo de pessoas sentadas nas escadas, e me deparo com um corredor enorme com quartos em divisão á cada extremidade. Abro a porta de um quarto na esperança de que seja o banheiro, mas me arrependo no momento que vejo a garota cabelos-cor-de-rosa em cima do mal educado chamado Lucas.
- Deus, me desculpe. - Minha voz ressoa mais desesperada que o normal, e ambos olham para mim. Lucas aparentemente não expressa nada, mas a garota está prestes a me matar. - Eu estava procurando um banheiro, achei que fosse este.
- Sinto muito querida, mas não é um banheiro. Agora vaza. - Fico estática, que nem consigo me mover. - Vaza!
Fecho a porta com rapidez, e fico tentando não bater em mim mesma. Sabia que seria um papelão, mas fui teimosa e quis vim pra esta festa inútil. Continuo á procura do banheiro, mas sou surpreendida por Roberto no meio do caminho. Ele parece estar se divertindo, mas ao mesmo tempo preocupado.
- Ei, acho que você deveria ver isso. - Me puxa pelo braço, e me conduz para a sala.
Maisa está em cima de uma mesa, dançando com outras garotas sensualmente. Roberto está se divertindo com os outros, e finge jogar dinheiro em cima dela, reproduzinho um show de striptease. Um cara sobe na mesa junto com outros dois, e Maisa esfrega o traseiro em um deles, o que me faz quase tampar os olhos.
- Amanda, você está aí!- Maisa se joga em cima de mim, totalmente mole.
- Você está bem? - Pergunto pra ela, quando sua expressão muda.
- Eu acho que vou... Está tudo rodando, eu... - Seu corpo amolece mais do que o normal, e chamo Roberto para que ele ajude.
- Vamos levá-la para um dos quartos lá em cima. - Roberto pega em seu outro braço, enquanto subimos as escadas.
Deixamos Maisa dormir como um anjo, e Roberto ri da situação. Diz que ela tem uma fraqueza por bebidas, e sempre causa um mico nas festas. Gosto da companhia de Roberto, ele parece ser um ótimo amigo.
- Você vai ficar para cuidar dela? Se não quiser, eu fico. - Ele diz quando vai para a porta.
- Pode deixar, eu fico. Mas só uma pergunta, onde é o banheiro? - Rimos, e ele diz que é do outro lado do corredor. Ótimo.
Encontro o banheiro na maior pressa possível, e agradeço que não tem ninguém. Pego meu celular, e Felipe me mandou umas quatro mensagens.
Oi amor. Também estou com saudades.
Amor? Oiiii?
Está tudo bem? Me responde.
Eiiiii!
Para que ele não fique preocupado demais, mando uma mensagem dizendo que está tudo bem. Lavo o rosto, e tento tirar a mancha da cerveja do meu vestido, mas piora ainda mais, então desisto. Volto para os quartos e entro em um aleatório, e me surpreendo com um armário cheio de livros. Não sei de quem seja, mas tem bom gosto. Pego um exemplar de O Morro dos Ventos Uivantes e começo a me aprofundar em Catherine e Heatchcliff. São um dos maiores clássicos de romances do mundo.
Fico perdida na história, e não imagino que há uma segunda pessoa ali. Sua presença fica mais evidente, e quando levanto meus olhos, e lá está ele. Lucas. Seus olhos fuzilam-me como se eu fosse a última pessoa que ele queira viva agora. Fico sem reação.
- O quê está fazendo no meu quarto?
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AFTER: Capítulo 04
Antes da aula começar, tomo um café no 7-Eleven e sigo o fluxo de pessoas até a sala onde minha aula de Literatura Britânica começa. Sento ao lado dum garoto de óculos, e espero que ele não se incomode; seu sorriso é bonito, e agradeço por não avistar tatuagens em seu corpo. Finalmente conheço alguém normal como eu.
- Quanto tempo demora para a aula começar? - Arrisco de questioná-lo, e sua atenção para mim é um tanto intimidadora.
- Não demora tanto, já começa. - Seu sorriso fica mais evidente, e tiro meus materiais da bolsa. - Sou Pedro, e você?
- Amanda. - Demos um aperto de mãos, e rimos da situação um tanto séria.
Acho que arranjei um novo amigo. Pedro é muito atencioso, e conversamos até a próxima aula e nos despedimos no caminho. Minha próxima aula é Sociologia, e não vejo a hora de descobrir como será a dinâmica da aula e de como será o professor.
- Olá de novo. - Encontro-o sentado no mesmo lugar, e rimos.
- Olá de novo. - Repete ele, um tanto surpreso. Sento-me ao seu lado, e prosseguimos com o assunto enquanto todos se preparam para a aula.
O dia foi cansativo, mas estou feliz pelo resultado; as aulas são bem melhores do que imaginava, e já estou ansiosa para amanhã. Entro em meu quarto, e encontro a garota cabelos-cor-de-fogo se ajeitado para sair. Céus. A festa que eu prometi ir.
- Amanda! Já estou me preparando, vamos sair daqui á quinze minutos. - Não consigo entender como ela consegue vestir esse tipo de roupa; seios quase á mostra, salto anabela e as coxas totalmente nuas.
Não sei como vou respondê-la, mas não quero ir. Nem sei por quê disse que ia, acho que quis afrontar o mal educado que duvirada de mim. Odeio estar no meio de gente, e odeio imaginar a banguça que será se eu estiver junto; sou totalmente desajeitada, e vou estragar tudo. Por isso, quero passar a noite com meus livros, ligar para o Felipe e matar as saudades. Vai ser bem melhor assim.
- O quê foi? - Sua expressão está preocupada, e percebo que por mais do visual grosseiro, ela é bem cautelosa.
- Hum, eu não sei se quero ir nessa festa. - Sento-me na beirada da cama, e a vejo se aproximar; seu corpo é bem bonito, e entendo o lado dela querer mostrar isso com esse pano que, infelizmente, é considerado um vestido.
- Bom, eu acharia muito legal você ir. Conhecer gente nova, e também se enturmar. Vou te levar para conhecer meus amigos, eles são muito legais. - Seus dedos ajeitam a mecha do meu cabelo para trás da orelha. Imagino o quanto deve ser assustador os amigos de Maisa; tatuados, malucos que bagunceiros.
Sinto uma pontada de esperança. A primeira coisa que queria fazer quando chegasse na faculdade era fazer amigos, me enturmar. Por mais que esse convite de uma garota tatuada com uma roupa parecendo uma miniatura seja totalmente uma coisa que minha mãe detestaria, me faz perceber que seria lamentável eu recusar. Não custa tentar. Levanto-me da cama, e abro o meu armário.
- Vou tentar me arrumar o mais rápido que posso. - Ela dá pulinhos, e avisa que a carona já estava chegando. Carona?
Optei por um vestido bege, e largo. Arrumo meus cabelos, deixando-os ondulados e soltos. Passo um rímel, e calço minhas sapatilhas. Sei que Maisa está achando meu visual estranho, mas não sou o tipo dela; dá vontade de arrancar esse vestido de seu corpo, e tampá-la por inteiro. Mas não vou fazer isso, por mais que fique agoniada.
- Estou pronta. - Pego meu celular, e coloco numa bolsinha.
O carro estava nos esperando no campus, e Maisa os cumprimenta da forma mais horrorosa possível. Fico sem jeito quando entro no carro, e o som pesado no rádio começa a fazer meus ouvidos zunirem. Quando olho para o retrovisor, me arrependo na hora quando vejo o mal educado.
- Me desculpe não ter me apresentado. Sou Lucas Roberto, mas todos me chamam de Roberto. - Seu braço tatuado estica-se para mim, e sorrio quando aperto sua mão.
- Sou Amanda, muito prazer. - Realmente gosto desse Roberto. Pelo menos ele não é um carrancudo como o Lucas.
Quando não posso esperar nada para piorar, o rosto de Lucas vira-se para mim e me deixa desnorteada.
- Sabe Amanda, a gente está indo para uma festa, e não para a igreja. - Dá um sorriso de canto, e se vira novamente.
Não posso me irritar nesse momento, estou indo para uma festa na missão de me divertir e não passar raiva. Tento engolir o bile em minha garganta, e Maisa manda com um grito estridente para Roberto dirigir aquele carro. O som horrível de heavy metal faz minha cabeça doer, e rezo para que o restante da noite seja ao meu favor.
O carro para em frente a uma república. Meu estômago começa a revirar, e saio do carro junto com todos. Lucas é o primeiro a desaparecer, e agradeço por isso; assim não vou encontrá-lo facilmente no meio dessa bagunça. Há papéis higiênicos em todo o jardim, e copos vermelhos adormecidos no chão; algumas pessoas bêbadas, atropeçando com os próprios pés, e tento me esconder na Maisa, e quando ela percebe, solta uma risadinha um tanto boa.
- Vamos te apresentar para a galera. - Pega em minha mão, e Roberto nos segue atrás.
O cheiro de cerveja me faz torcer o nariz, e o som alto me deixa um pouco tonta. Fomos até um grupo sentado num sofá enorme, e todos eles eram tatuados, e com cabelos coloridos. Certamente minha paranóia estava certa. São tudo da mesma espécie.
- Gente, quero apresentar minha colega de quarto, Amanda. - Todos sorriem e me cumprimentam em uníssono.
- Olá Amanda, faz o quê? - Um garoto moreno vem do meu lado, e suas tatuagens são menores que as do restante.
- Faço Letras. - Todos tentam segurar o riso.
- Legal, e eu curto flores. - Riu, e eu fico um tanto confusa. Flores?
Olho ao redor da sala, e tudo parece uma orgia de pura bagunça, cerveja, e pessoas bêbadas caídas no chão. Acho que estou numa amostra grátis da visão do inferno.
- Quer uma cerveja, eu pego pra você. - Roberto sorri, apontando para a cozinha.
- Eu não bebo, obrigada. - Recuso, o deixando confuso e um pouco surpreso.
Estava começando a me sentir á vontade, mas tudo muda quando Lucas se aproxima com uma garota de cabelos-cor-de-rosa.
- Estou perdendo algo? - Joga-se no sofá, e a garota senta-se no seu colo.
- Não, mas chegou na hora certa. Amanda, já jogou verdade ou consequência? - Maisa pergunta para mim animada, e fico tentando entender que jogo é esse.
- Não. É sobre o quê? - Todos riem, e fico corada.
- Bom, é assim: a gente gira a garrafa, e vai apontar para alguém. A pessoa que girou a garrafa tem direito de perguntar: verdade ou consequência? daí a pessoa escolhe uma dessas opções. E dependendo delas, você faz uma pergunta, ou um desafio. - Roberto me explica, e finjo que entendo de cara. Mas preciso ver como acontece.
Todos se agrudam em uma roda, e fico entre Roberto e Maisa. Outras pessoas tatuadas entram na brincadeira e meu estômago revira-se ainda mais.
Ainda estou rezando para que essa noite esteja ao meu favor.
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AFTER: Capítulo 03
O dia seguinte amanhece ensolarado, e sou atraída a me levantar pelo alarme. A garota tatuada dorme tranquilamente do outro lado, e agradeço por não tê-la acordado com o barulho. Tenho uma hora para me ajeitar para a primeira aula do dia, e vou começá-la tomando um banho rápido e bem fresco, sem me importar que o banheiro seja coletivo, por mais que me dê frio na espinha. Pego escova de dentes, toalha e a roupa que vou usar para as aulas, e deixo o resto para fazer aqui no quarto.
Tento ser cautelosa o máximo que posso quando saio do quarto, e corro para o banheiro na pressa de encontrar um box vazio. Na sorte, entro em um rapidamente e deixo minha roupa pendurada. O jato de água demora para cair, e fico neurótica imaginando um assassino entrar na cortina com uma faca na mão. Arrasto meu corpo debaixo no chuveiro e aproveito o morno da água me molhar por inteiro; a sensação é gostosa, e me faz esquecer dos pensamentos ruins por enquanto.
Sem pensar duas vezes, enrolo-me na toalha com voracidade e xingo quando a roupa cai no chão totalmente encharcada. Preciso sair daqui na correria sem ser vista, e faço a ação num completo desespero; me escondo dos olhares assustados de alguns, e de outros elogios nada legais sobre minha situação.
Fico aliviada quando encontro meu quarto.
Encosto-me na porta e tento me recompor. Nunca senti tanta adrenalina em questão de minutos, e assim que abro meus olhos, sinto outra adrenalina vir com tudo quando há um garoto tatuado em cima da cama da garota cabelos-de-fogo.
- O-O quê está fazendo aqui? - Minha voz está desesperada e ofegante.
Seus olhos estreitam os meus, e me recordo rapidamente dele. Era o garoto mal educado que nem deu um simples olá como seu amigo fez. Sinto o sangue ferver em minhas veias, quando ele abre um sorriso torto. Que sorriso.
- Não vai me responder? - Fico estática, sem conseguir mover um músculo. Minha mão aperta fortemente o tecido felpudo da toalha, constando que ainda estou vestida, e não pelada.
- Desencana, garota. - Sua voz é baixa e firme. Certamente estou ficando mais convencida que ele é mal educado. Não consigo acreditar que minha colega de quarto tatuada deixe garotos entrarem de livre e espontânea vontade aqui. Mas isso vai mudar. Ah se vai.
Dou um suspiro, e ando até meu armário. Pego uma calça, uma blusa e um cardigã. Meus olhos observam o garoto disfarçadamente deitado, e suas tatuagens são realmente sombrias. Seu corpo é magro, e sua atenção para a a tevê e evidente. Não teria problema me trocar aqui, mas quero que ele não tenha facilidade de me olhar.
- Pode virar, por favor? - Minha voz sai trêmula, e ele olha para mim.
Ele suspira, e se vira. Graças a Deus.
Coloco minha calcinha e o sutiã rapidamente, depois a calça e a blusa. Fico com os olhos grudados nele, e ele permanece virado. Depois, coloco meu cardigã e dou uma arrumada no cabelo.
- Posso virar agora? - Pergunta ele impaciente.
- Pode. - Reviro os olhos, e pego meu babyliss.
Mesmo que meu nevorsismo esteja completamente me consumindo, tento ignorar a presença dele. Faço uns cachos bonitos, e passo um rímel. Estou pronta. Dou uma olhada nas horas, e não passou nem trinta minutos.
- Bom dia. - A garota cabelos-cor-de-fogo entra no quarto um pouco confusa. - Ai, Deus. Me desculpe pelo Lucas.
Então o mal educado tem nome. Não quero xingá-lo, ou ter um ataque de fúria na frente dele, por isso dou um sorrisinho.
- Tudo bem. Eu já estou de saída. - Pego minha bolsa, e tateio uma forma de escapar desse constrangimento. Preciso de um café.
Quando estou indo para a porta, a garota me interrompe:
- Amanda, tem planos pra hoje? - Sem dar atenção no olhar constrangedor de Lucas, fico pensativa.
- Sim, vou passar a tarde estudando. Por quê? - Ouço-o dar uma risadinha. Que idiota!
- Eu estava querendo que você fosse numa festa com a gente hoje, vai ser bem legal. - Ela sorri adoravelmente.
- Desculpe, mas eu não posso. - A risada dele torna-se mais evidente.
- Acha que ela vai aceitar ir numa festa com a gente? Olha pra ela. - Apontou para mim, e me visualizo rapidamente.
Não sei o porquê esse cara me odeia tanto, mas talvez eu esteja sendo pessimista demais. Ele deve ser assim com todo mundo, começando pelo fato de não saber cumprimentar as pessoas, o que é uma ação simples e muito bem ética.
- Fica quieto, Lucas! - Ela o repreende. - Mas, por favor, pense com carinho. Já que você é...
- Quer saber, eu vou sim! - Ambos se assustam com minha resposta involutária.
- Que legal! Quando você voltar das aulas, a gente se prepara. - Deu uns pulinhos, enquanto Lucas revira os olhos.
- Ok. Tenham um bom dia. - Sorrio, e me retiro.
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AFTER: Capítulo 02
Meu coração acelera quando paramos em frente ao campus. O alojamento é enorme e bem movimentado, alguns eram calouros e outros veteranos. Sou a primeira a sair do carro, enquanto Felipe e minha mãe tiram as malas, e as carregam enquanto nos aproximávamos do alojamento. Sinto alguns olhares em mim, e espero que sejam bons; ou eu esteja ridícula, e nem estou percebendo.
- Ai meu Deus, minha filha numa universidade. Estou muito feliz. - Minha mãe enxuga algumas lagrímas com cuidado por causa do rímel.
- Mãe, eu sei que a senhora está orgulhosa, mas precisamos ir logo. - Ela faz uma cara feia, e dá um sorriso depois. Sei que estou sendo um pouco chata, mas não vejo a hora de ver o meu quarto.
Cruzamos o bloco A, e finalmente consigo encontrar o andar. Felipe está cansado de tanto subir escada e descer, e minha mãe está reclamando do cabelo e dos pés inchados.
- Bom, finalmente chegamos. - Deslizo a chave na maçaneta, e abro a porta com um ruído estridente.
O quarto é pequeno, mas bem bonito. Há duas camas em cada extremidade, e uma garota deitada em uma delas. Assusto com os pôsteres de bandas grudados na parede, tatuagens, cores escuras e algumas frases de efeito. Minha mãe está de boca aberta, e Felipe parece confuso.
- Ah, olá. Desculpem não vê-los antes, seja bem-vinda á wcu. - A garota tira o fone dos ouvidos, e se ajusta na cama. Seus cabelos eram cor de fogo, curtos e bem lisos. Percebo que Felipe está olhando para seus seios, e dou um chute em sua canela.
- Eu sou Maisa, e você? - Ela vem até mim, me abraça e fico sem reação.
- A-Amanda. - Torço para que ela me solte, e assim ela faz.
Minha mãe está de braços cuzados, olhando a garota com desdém. Peço em mente que ela disfarçe, mas o constrangimento só piora. Quando percebo, dois garotos tatuados entram no quarto rapidamente.
- Está pronta? - Um garoto loiro de piercing na sobrancelha a chama, puxando o celular do bolso. - Prazer. - Olha para mim e sorri.
Estou tão assustada e ao mesmo tempo surpresa, que só sorrio e balanço a cabeça. Felipe aproxima-se de mim ainda mais, e os encara com desconfiança; quando dou por mim, sei que ele está olhando outro garoto encostado na parede, mexendo no celular. Seus cabelos eram negros, curtos, e há uma argola no lábio inferior. Suas tatuagens eram escuras, diferentes da Maisa e do outro garoto que são coloridas.
Felipe percebe que estou o olhando demais, e desvio o olhar.
- Bom, eu vou indo. Muito prazer te conhecer Amanda, conversamos melhor depois. - Veste uma jaqueta de couro, e retira-se.
Sinto um pouco incomodada pelo garoto não ter me cumprimentado, mas nem me importo. Ainda é o primeiro dia, e não posso passar raiva.
- Vou mudar você de quarto. - Minha mãe fala assim que há só nós três no quarto.
- Não, mãe. Está tudo bem. - Sei que tatuagens, e o comportamento nada educado fez minha mãe enlouquecer.
- Também acho melhor, amor. Mas é só uma opinião. - Felipe levanta as mãos para se defender.
- Você não vai ficar perto desses... desses... Malucos! - Pigarreou. Dá quatro passos até a porta e pega minhas malas de volta.
- Mãe, por favor, vai dar muito trabalho me mudar de quarto. Eu sei que eles são diferentes, mas eu vou conseguir lidar com isso. Por favor. - Sua expressão irritada ameniza, e solta um suspiro. Acho que consegui dessa vez.
Enquanto deixo minhas malas perto da minha cama, minha mãe me aconselha sobre tatuados, festas, e drogas. Finjo ter entendido todas elas, mas minha mente está um turbilhão. Quando minha mãe se despede e sai, fica só eu e Felipe.
- Vou sentir saudades de você. Vou tentar estar sempre presente, e te encher o saco. - Rimos, e o abraço para sentir seu perfume pela última vez.
- Quando estiver livre, me visita. - Dou um beijo em seus lábios, e ele sorri.
- Claro que vou. - Escutamos o grito de minha mãe. - Bom, já vou. Antes que sua mãe me mate. - Ri.
- Tudo bem, te amo. - O acompanho até a porta.
- Também te amo. - Sorri, e solta minha mão lentamente até se retirar.
Estou completamente sozinha agora, e não sei se começo a me preparar para amanhã, ou organizar meus hórarios. O dia foi cheio, e o cansaço está me pertubando para que eu me deite e me sinta mais disposta no dia seguinte. Tiro algumas roupas da mala, e coloco-as no armário. Aproveito para vestir uma calça de moletom, e uma camiseta. Seria bom se minha colega de quarto tatuada estivesse aqui, assim eu poderia ter alguém para conversar.
Mas tomara que o dia seguinte seja bem melhor.
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AFTER: Capítulo 01
A universidade nunca esteve tão perto quanto agora. Fico deitada, contando as ripas de madeira e repetindo os horários das aulas sem parar; pode parecer neurótico, mas gosto de estar sempre lembrando meu cérebro sobre coisas das quais não posso esquecer. Escuto minha mãe fazer um barulho enorme lá embaixo; deve estar tão nervosa quanto eu.
- Amanda, vamos logo! - Sua voz está alterada, e impaciente. Debruço-me na cama, tentando me lembrar dos horários outra vez. E quando termino, estico os pés e saio da cama.
O jato de água desce frio, e meu corpo arrepia. Não sei como está o tempo lá fora, mas preciso de algo gelado para me fazer acordar totalmente. Penso nas aulas, em como minha vida irá mudar daqui pra frente. Irei ter menos tempo para outras coisas, como minha família, namorado e uma vida despreocupada de uma adolescente de dezenove anos.
- Amanda! - Minha mãe grita novamente, e sei que sua impaciência está cada vez no limite.
Saio do banheiro e não perco tempo de me vestir. Ligo o babyliss, e faço alguns cachos para mantê-lo volumoso e diferente do meu estilo habitual; cabelo liso e sem graça. Quero que meu primeiro dia seja maravilhoso, e quero começá-lo por mim. Calço minhas sapatilhas e desço depois de visualizar meu quarto e me lembrar das memórias inesquecíveis que guardo com ela.
- Você está linda. - Felipe me abraça, e seu perfume exagerado faz minha cabeça doer instantâneamente.
- Você também. - Dou um beijo em seus lábios macios, e seu sorriso se intensifica.
Felipe e eu estamos juntos faz um ano, e ele está incrível; camisa social azul, calça jeans e mocassim. Sempre foi vaidoso consigo mesmo, e isso atrai muitas garotas. Mas ele sempre mostrou que seus olhos só estão virados para mim.
- Precisamos ir, o caminho vai ser longo. - Paranoica, minha mãe ajusta o vestido e dá mais uma olhada no espelho da sala. - Felipe, me ajude com as malas, por favor.
Enquanto ambos levam as malas para o carro, dou mais uma ajeitada nas roupas e no cabelo. Não estou indo para um concurso de beleza, mas quero estar bonita para a wcu e todos que nele estão.
- Queria muito ir com você, mas estar no terceiro ano ainda é difícil. - Felipe agarra-me pelos braços, e dá um cheiro em meu pescoço.
- Ano que vem você vem comigo. Seria muito bom fazermos a faculdade juntos. - Retribuo o abraço, e seus lábios colam nos meus por uns segundos; minha mãe repreende e nos chama para entrar no carro.
Felipe e eu devíamos fazer faculdade juntos, mas com alguns imprevistos, ele ainda está no terceiro ano. Por outro lado, estou me sentindo vulnerável por entrar na universidade sozinha, mas sei que será bem melhor para o meu amadurecimento. Felipe é muito acolhedor, e sei muito bem que se ele entrar comigo eu vou me esconder na sombra dele, e não farei nenhuma amizade.
E a pergunta persiste: será que conseguirei fazer amigos sozinha?
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AFTER: Prólogo
Amanda tinha uma vida completa. Sua nova vida em uma universidade seria mais uma etapa que concluíra em sua carreira, e o apoio de seu namorado e sua mãe era o suficiente. Uma garota esperta, sã de suas próprias vontades depara-se com um garoto tatuado, rebelde e mal numa situação inesperada e depois dele, ela sabia que não seria mais a mesma.
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