Trabalho desenvolvido no âmbito da disciplina "Estudos Literários II", ministrada pelo Prof. Fernando Fiorese, 1° semestre de 2017, Faculdade de Letras/UFJF. Discentes responsáveis pelo blog: Anna Macacchero Detoni, Lídia Rocha da Silva e Wallace Fonseca Polidoro.
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Traços na contemporaneidade
O trovadorismo é tido como o primeiro movimento literário em língua portuguesa, e, ainda que para o leitor contemporâneo já pareça envelhecido e distante, seus temas e ideias estão mais próximos do que imaginamos, e ainda aparecem disfarçados na nossa poesia e música da atualidade. Quanto às cantigas de amor, podemos ver traços da sua influência em músicas como “Eu Amo Você” (clique para ouvir), de Tim Maia. Toda vez que eu olho Toda vez que eu chamo Toda vez que eu penso Em lhe dar Ah! Ah! O meu amor Oh! Oh! Meu coração (Pensa que não vai ser possível!) De lhe encontrar (Pensa que não vai ser possível!) De lhe amar (Pensa que não vai ser possível!) De Conquistá-la Nesses versos, é evidente o discurso de amor “platônico”, da “coita”, aquele que em que o eu lírico masculino apenas vê e admira a amada à distância, sem nunca se aproximar, pensando ser “impossível”, e sofre por isso. Quanto às cantigas de amigo, é possível fazer esse paralelo com músicas como “Abandonada”, de Fafá de Belém. Abandonada por você Tenho tentado te esquecer No fim da tarde uma paixão No fim da noite uma ilusão No fim de tudo, a solidão... Apaixonada por você Tenho tentado não sofrer Lendo antigas poesias Rindo em novas companhias E chorando por você... Mas você não vem Nem leva com você Toda essa saudade Nem sei mais de mim Onde vou assim, Fugindo da verdade? (...) Abandonada por você Apaixonada por você Eu vejo o vento te levar Mas tenho estrelas prá sonhar E ainda te espero todo dia... Aqui, podemos criar uma relação com o tema mais típico das canções de amigo, que contavam com um eu lírico feminino lamentando a ausência de seu amado. Além disso, destaca elementos da natureza de acordo com esse sentimento de abandono, assim como as cantigas de amigo geralmente o faziam. Quanto às cantigas de escárnio e maldizer, tivemos uma produção rica, durante a Ditadura Militar, de músicas que criticavam esse governo, tanto de forma velada, com duplo sentido, como as cantigas de escárnio o faziam, e de forma explícita, como as de maldizer. Porém, a primeira foi a predominante, e temos como exemplo “Apesar de Você”, de Chico Buarque. Hoje você é quem manda Falou, tá falado Não tem discussão A minha gente hoje anda Falando de lado E olhando pro chão, viu Você que inventou esse estado E inventou de inventar Toda a escuridão Você que inventou o pecado Esqueceu-se de inventar O perdão Apesar de você Amanhã há de ser Outro dia Eu pergunto a você Onde vai se esconder Da enorme euforia Como vai proibir Quando o galo insistir Em cantar Água nova brotando E a gente se amando Sem parar Quando chegar o momento Esse meu sofrimento Vou cobrar com juros, juro Todo esse amor reprimido Esse grito contido Este samba no escuro Você que inventou a tristeza Ora, tenha a fineza De desinventar Você vai pagar e é dobrado Cada lágrima rolada Nesse meu penar(...) Nessa época, os músicos que se opunham à ditadura podiam apenas criticá-la através de músicas com duplo sentido e críticas veladas, porque havia muita censura. De toda forma, é possível traçar esse paralelo entre as canções satíricas trovadorescas, ressaltando a ironia presente em versos como “Você que inventou a tristeza/Ora, tenha a fineza/De desinventar”. Músicas com críticas mais explícitas apareceram nas décadas de 80 e 90, após a redemocratização, e “Que País É Esse”, da banda Legião Urbana, é icônica dessa época, com seus gritos de “Que País É Esse?/É a porra do Brasil”, remetendo à linguagem de baixo calão que era utilizada nas canções de maldizer. REFERÊNCIAS Anotações dos alunos durante as aulas ministradas pelo professor Fernando Fiorese, na disciplina Estudos Literários II, da UFJF-FALE.
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A Música
Os trovadores medievais tinham conhecimento e formação não só em poesia e retórica, mas como também na arte musical e, por isso, quando falamos de cantigas, consideramos que o texto poético era sempre cantado. O texto era sempre apresentado em uma forma melódica, para uma audiência (geralmente em palácios ou castelos). Para a circulação das cantigas era necessário um bom ouvido e uma boa memória, pois elas eram sempre transmitidas através da oralidade. Ao contrário dos trovadores franceses e provençais, que deixaram poesias líricas musicadas e compostas por eles mesmos, isso não acontece no trovadorismo galego-português. Quase tudo relacionado a produção musical do trovadorismo galego-português se perdeu, com exceção das seis cantigas de amigo do trovador galego Martin Codax, e os fragmentos de sete das cantigas de amigo do rei D.Dinis.

Abaixo um exemplo de uma cantiga de amigo composta por Martin Codax:
Ondas do mar de Vigo, se vistes meu amigo? e ai Deus, se verrá cedo? Ondas do mar levado, se vistes meu amado? e ai Deus, se verrá cedo? Se vistes meu amigo, o por que eu sospiro? e ai Deus, se verrá cedo? Se vistes meu amado, o por que hei gram coidado? e ai Deus, se verrá cedo?
E aqui uma versão cantada dessa cantiga: https://www.youtube.com/watch?v=NZ-V5Rpbdak
Os Instrumentos Na Idade Média, as cantigas eram geralmente acompanhadas de algum instrumento quando cantadas, e alguns desses instrumentos eram: flautas, harpas, instrumentos de percussão, lira e o alaúde.
Abaixo um vídeo mostrando um alaúde sendo tocado:
https://www.youtube.com/watch?v=7goe9JYZJS8
Referências:
SPINA, Segismundo. A lírica trovadoresca. São Paulo: Edusp, 1991.
Cantigas Medievais Galego-Portuguesas. Disponível em: <http://cantigas.fcsh.unl.pt/sobreascantigas.asp#6>. Acesso em 17 de abril de 2017.
Cantigas Medievais Galego-Portuguesas. Disponível em: <http://cantigas.fcsh.unl.pt/intervenientemusica.asp?cdaut=92>. Acesso em 17 de abril de 2017.
Cantigas Medievais Galego-Portuguesas. Disponível em: <http://cantigas.fcsh.unl.pt/versaomusical.asp?cdvm=322>. Acesso em 17 de abril de 2017.
História Geral e Reflexão em Música. Disponível em: <http://reflexaoemmusica.blogspot.com.br/2009/05/musica-medieval_07.html>. Acesso em 17 de abril de 2017.
Anotações dos alunos durante as aulas ministradas pelo professor Fernando Fiorese, na disciplina Estudos Literários II, da UFJF-FALE.
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Cantigas satíricas galego-portuguesas
As cantigas de escárnio e maldizer trazem consigo a intenção de serem cômicas, diferentes dos outros gêneros do Trovadorismo Galego-Português apresentados neste blog. Nelas encontramos abordagens, como o próprio título aponta, que insultam, criticam ou agridam verbalmente outros, explicitados ou não. Ambas tinham como foco ironizar os relacionamentos amorosos, a mulher adultera, os homens covardes, a corte ou até a si. As cantigas de escárnio e a de maldizer são muito próximas nesse aspecto, porém tem algumas poucas diferenças que podem ser facilmente detectadas.
As cantigas de escárnio costumam estar em primeira ou terceira pessoa, pois há certa “delicadeza” em não falar diretamente a alguém, sendo comum o objeto de escárnio fazer parte do mesmo meio social do trovador. O poeta faz uma crítica de forma mais ambígua, ““por palavras cobertas que hajam dous entendimentos” (ou seja, num registro de dupla leitura, o "equívoco", ou hequivocatium, nas palavras do mesmo anônimo autor)”, dessa forma podendo “a carapuça vestir a quem bem lhe servir”. Outro ponto é a linguagem popular utilizada nesse tipo de texto, com um vocabulário de fácil compreensão.
Segue abaixo uma cantiga de escárnio atribuída à Fernão Rodrigues de Calheiros e uma nota retiradas do site Cantigas Medievais Galego-Portuguesas:
“Agora oí d'ũa dona falar
Rubrica: Outrossi fez outra cantiga a outra dona a que davam preço com um peom que havia nome Vela, e diz assi
Agora oí d'ũa dona falar, que quero bem, pero a nunca vi, por tam muito que fez por se guardar: poi[s] molher que nunca fora guardada, por se guardar de maa nomeada, filhou-s'e pôso Vela sobre si.
Ainda d'al o fez[o] mui melhor que lhi devemos mais agradecer: que nunca end'houve seu padre sabor nem lho mandou nunca, pois que foi nado; e, a pesar dele, sen'o seu grado, nom quer Vela de sobre si tolher.
Nota geral:
Entenda-se a rubrica que acompanha esta cantiga: diziam que esta dona tinha uma ligação com um seu criado. É com a ambiguidade do nome do criado (Vela) que joga a cantiga, já que "pôr vela sobre si" significava, em sentido corrente, "pôr-se sob vigilância". A referência ao pai da dona deve entender-se neste contexto: ao contrário do que se passa nas outras famílias, onde os pais velam sobre as filhas e as fazem guardar, aqui é a filha que resolve "pôr vela" sobre si própria. A composição parece fazer, pois, também uma crítica implícita às "liberalidades" paternas.”
As cantigas de maldizer, além de todas as características em comum com a de escárnio já apresentadas, costumam ter em seu enredo uma mensagem direta. Os trovadores deixam claro, através de nome e sobrenome, o objeto de sua sátira. O vocabulário das cantigas de maldizer são carregadas de linguagem “chula”, portanto além de tudo eram também agressivas. Durante a Idade Média as maiores vergonhas eram a falta de honra, dignidade, bravura (por parte dos homens), devoção (já que a religião católica tinha grande influência) e tudo acerca disto, portanto o trovador empenhava-se em expor todas de forma explícita. Podemos encontrar o poeta falando abertamente de todos os temas ao seu redor durante o período que foram concebidas as cantigas e apontando, sem “meias palavras”, para seu “alvo” de zombaria.
Disponibilizamos para consulta uma cantiga de maldizer atribuída à Lopor Lias e uma nota retiradas do site Cantigas Medievais Galego-Portuguesas:
“Airas Moniz, o zevrom, leixad[e] o selegom e tornad'ao albardar: andaredes i melhor ca na sela rengedor; andaredes i mui bem e nom vos rengerá per rem.
Tolhede-lh'o peitoral, apertade-lh'o atafal, e nom vos rengerá per rem: andaredes i melhor ca na sela rengedor; andaredes i mui bem e nom vos rengerá per rem.
Podedes en bafordar e o tavlado britar, e nom vos rengerá per rem: andaredes i melhor ca na sela rengedor; andaredes i mui bem e nom vos rengerá per rem.
Nota geral: Mais uma composição do ciclo que D. Lopo Lias dedica aos infanções de Lemos, esta com característica de referir o nome de um deles, Airas Moniz. Na respetiva nota antroponímica fazemos uma sugestão de identificação desta personagem, mas, dado ser este um nome relativamente comum na época, a título meramente hipotético. Seja como for, o trovador aconselha-o comicamente aqui a ir de cavalo para burro. [...]”
Referências:
MONGELLI, Lênia Márcia. FREMOSOS CANTARES - Analogia da lírica medieval galego-portuguesa, São Paulo, 2009.
Cantigas Medievais Galeco-Portuguesas. Disponível em: <http://cantigas.fcsh.unl.pt/sobreascantigas.asp>. Acesso em 15 de abril de 2017.
Cantigas Medievais Galeco-Portuguesas. Disponível em: <http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=1379&pv=sim>. Acesso em 15 de abril de 2017.
Anotações dos alunos durante as aulas ministradas pelo professor Fernando Fiorese, na disciplina Estudos Literários II, da UFJF-FALE.
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Cantigas de amor galego-portuguesas
As cantigas de amor galego-portuguesas (datadas do século XII até aproximadamente XV) se distingue das cantigas de escárnio/mal dizer e das cantigas de amigo tanto por seu conteúdo quanto pela sua estrutura. As estrofes, que costumam ser quatro, são chamadas de cobras ou coblas e seus versos, que costumam ser três, denominados palavras. Em sua estrutura, diferente dos outros estilos, encontramos refrões, ou seja, estrofes que se repetem e na ausência de refrão vemos estrofes compostas por versos decassilábicos.
As cantigas de amor, em sua totalidade com um eu-lírico masculino, faz de seu conteúdo o tema que lhe nomeia: o amor. Porém diferente desse amor que vivenciamos atualmente, onde a mulher e o homem contemporâneo possuem papéis bem menos distintos e limitados, caminhando de "mãos dadas" para quem sabe uma futura igualdade, durante o período onde são feitas as produções destas cantigas há uma influência muito forte da Igreja Católica na região da Península Ibérica.
Dentro destes princípios cristãos a mulher era vista como um ser puro e intocável, tal como a própria Virgem Maria (uma personagem de grande peso no livro Bíblia Sagrada), pois que acreditava-se que se o homem sucumbisse ao seu desejo de tê-la estaria cometendo um ato pecaminoso, por ser a mulher um ser "sem alma" dada a sua "progenitora" Eva (outra personagem muito famosa na Bíblia). O homem por outro lado era quem estava sempre a espreita desse amor inalcançável e extremamente doloroso, chamado também de coita ou l'amour de loin ("amor distante" numa tradução livre). O homem fora ensinado a se comportar neste período de maneira distinta da qual estamos habituados, o seu crescimento espiritual era a prioridade, por isso, enquanto sofria por esse amor inalcançável, estavam também fortalecendo sua conexão com Deus. Dessa forma temos o "amor cortês" inspirado pelas cantigas provençais, onde o homem servo e normalmente economicamente abaixo da mulher era o “vassalo” dessa dama nobre e na maioria das vezes já casada, chamada nas cantigas de “senhor”. O nome da amada era preservado, pois dentro dos princípios cristãos estariam cometendo o pecado do adultério. Essa relação de vassalagem nada mais é do que uma metáfora para o contexto histórico da Idade Média, período em que são produzidas as cantigas, época em que predominavam os feudos e onde os servos tinham uma distância entre a nobreza, sendo considerados inferiores e até por isso não merecedores de uma relação maior que a simples admiração platônica.
Logo abaixo temos um exemplo de cantiga de amor atribuída a Pero Garcia Burgalês e uma nota retiradas do site Cantigas Medievais Galego-Portuguesas:
Ai eu coitad'! e por que vi
Ai eu coitad'! e por que vi a dona que por meu mal vi? Ca, Deus lo sabe, poila vi, nunca jamais prazer ar vi, per boa fé, u a nom vi; ca de quantas donas eu vi, tam boa dona nunca vi,
tam comprida de todo bem, per bõa fé, esto sei bem; se Nostro Senhor me dê bem dela, que eu quero gram bem, per bõa fé, nom por meu bem! Ca, pero que lh'eu quero bem, nom sabe ca lhe quero bem,
ca lho nego pola veer; pero non'a posso veer! Mais Deus que mi a fezo veer, rog'eu que mi a faça veer; e se mi a nom fezer veer, sei bem que nom posso veer prazer nunca sen'a veer.
Ca lhe quero melhor ca mim, pero non'o sabe per mim a que eu vi por mal de mim,
nem outre já, mentr'eu o sem houver; mais se perder o sem, direi-o com míngua de sem;
ca vedes que ouço dizer: que míngua de sem faz dizer a home o que nom quer dizer!
"Nota geral: O trovador, infeliz, pergunta-se por que quis a sorte que visse a dona que viu, a melhor de todas, pois desde esse momento nunca mais teve qualquer prazer quando a não vê. E pede a Deus que ela lhe conceda os seus favores, embora acrescente que ela nada sabe do seu amor, pois, para a ver, ele esconde os seus sentimentos. Esconde-os a ela e a todos, e escondê-los-á sempre, salvo se perder a razão. Nesse caso, não responderá por si, até porque, como diz o provérbio, um homem louco não sabe o que diz. A cantiga destaca-se pela sua composição muito elaborada, baseada nos dobres repetidos em posição de rima."
A nível de curiosidade trago a seguir uma letra de música do cantor e compositor Chico Buarque. Na letra vemos um casal moderno que já se formou e agora se desfaz, um casal que já confundiu as pernas, um homem que já queimou seus navios, ou seja, "rompeu com o mundo", um vassalo que conseguiu sua senhora e dela já teve tudo, porém não foi o suficiente e então, não da mesma forma, mas ainda sim, existe o sofrimento.
Eu Te Amo
Ah, se já perdemos a noção da hora Se juntos já jogamos tudo fora Me conta agora como hei de partir
Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios Rompi com o mundo, queimei meus navios Me diz pra onde é que inda posso ir
Se nós, nas travessuras das noites eternas Já confundimos tanto as nossas pernas Diz com que pernas eu devo seguir
Se entornaste a nossa sorte pelo chão Se na bagunça do teu coração Meu sangue errou de veia e se perdeu
Como, se na desordem do armário embutido Meu paletó enlaça o teu vestido E o meu sapato inda pisa no teu
Como, se nos amamos feito dois pagãos Teus seios inda estão nas minhas mãos Me explica com que cara eu vou sair
Não, acho que estás se fazendo de tonta Te dei meus olhos pra tomares conta Agora conta como hei de partir
Referências:
MONGELLI, Lênia Márcia. FREMOSOS CANTARES - Analogia da lírica medieval galego-portuguesa, São Paulo, 2009.
Cantigas Medievais Galego-Portuguesas. Disponível em: <http://cantigas.fcsh.unl.pt/sobreascantigas.asp>. Acesso em 08 de abril de 2017.
Cantigas Medievais Galego-Portuguesas. Disponível em: <http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=592&pv=sim>. Acesso em 08 de abril de 2017.
Anotações dos alunos durante as aulas ministradas pelo professor Fernando Fiorese, na disciplina Estudos Literários II, da UFJF-FALE.
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Cantigas de Amigo
A cantiga de amigo é um gênero da lírica medieval galego-portuguesa que parece ter suas origens na tradição da canção na voz de uma mulher. Desta forma, os trovadores apresentam a mulher, a jovem apaixonada, de uma forma erotizada, muitas vezes em um cenário relacionado a natureza (campos, bosques, rios), exprimindo seus sentimentos pelo seu amigo (seu amado). Em geral esses sentimentos são de alegria pela chegada próxima do amigo ou tristeza e saudade pela ausência dele. Eram compostas e geralmente cantadas por homens. Quanto à forma, as cantigas de amigo utilizam refrões e uma forma de construção estrófica chamada de paralelismo, que consiste na apresentação de ideias iguais em versos alternados.
Uma das cantigas de amigo mais famosas, “Ai flores, ai flores do verde pino”, composta pelo Rei D. Dinis, é apresentada abaixo:

-Ai flores, ai flores do verde pino, se sabedes novas do meu amigo! Ai Deus, e u é? Ai, flores, ai flores do verde ramo, se sabedes novas do meu amado! Ai Deus, e u é? Se sabedes novas do meu amigo, aquel que mentiu do que pos comigo! Ai Deus, e u é? Se sabedes novas do meu amado aquel que mentiu do que mi ha jurado! Ai Deus, e u é? -Vós me preguntades polo voss'amigo, e eu ben vos digo que é san'e vivo. Ai Deus, e u é? Vós me preguntades polo voss'amado, e eu ben vos digo que é viv'e sano. Ai Deus, e u é? E eu ben vos digo que é san'e vivo e seerá vosc'ant'o prazo saído. Ai Deus, e u é? E eu ben vos digo que é viv'e sano e seerá vosc'ant'o prazo passado. Ai Deus, e u é?
Nesta cantiga observamos uma donzela aflita pela ausência de seu amado e ansiando pelo seu retorno, conversa com as flores, procurando notícias de seu amigo. O paralelismo utilizado aqui cria uma ideia de intensificação, pois o tempo vai passando, seu amigo não retorna e a donzela fica cada vez mais aflita.
Abaixo um vídeo com essa cantiga sendo cantada: https://www.youtube.com/watch?v=55tM6Vag2sA Referências: Cantigas Medievais Galego-Portuguesas. Disponível em: <http://cantigas.fcsh.unl.pt/sobreascantigas.asp>. Acesso em 08 de abril de 2017. Cantigas Medievais Galego-Portuguesas. Disponível em: <http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=592&pv=sim>. Acesso em 08 de abril de 2017.
Anotações dos alunos durante as aulas ministradas pelo professor Fernando Fiorese, na disciplina Estudos Literários II, da UFJF-FALE.
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Uma introdução ao trovadorismo
O trovadorismo foi um movimento literário que teve sua origem na Idade Média, quando a Igreja Católica retinha grande poder político, econômico e social sobre as nações europeias, e o feudalismo estava em vigor. Os principais responsáveis pela produção das obras dessa época foram chamados de “trovadores”, e sua principal forma de manifestação literária é a cantiga. Os trovadores compunham as letras das cantigas, tocavam instrumentos musicais, e as cantavam principalmente nas cortes de nobres. Eles frequentemente faziam parte da nobreza, ou residiam na corte de um nobre, e temos exemplos de membros da realeza que atuavam como trovadores, como o rei Dinis I de Portugual e Algarve. Podemos tomar o trovadorismo como o primeiro movimento literário de língua portuguesa, ou galego-portuguesa, como é conhecida a língua da época. Na Península Ibérica, durou cerca de 150 anos, entre o final do século XII e meados do século XIV, contemporâneo à Reconquista Cristã, o processo de expulsão do domínio dos mouros sobre as áreas peninsulares e da consolidação de Portugal como nação independente. Suas principais influências musicais são os cantos gregorianos e a música árabe (ou moçárabe), e as literárias são as cantigas de Provença, na França, e as cantigas populares que existiam e eram transmitidas oralmente. As cantigas são tradicionalmente classificadas da seguinte maneira: São dividas entre cantigas de amor, de amigo e de escárnio e maldizer, quanto ao conteúdo temático, e entre cantigas de refrão, de maestria, paralelísticas e de atafinda, quanto à organização estrófica. Outras subespécies de cantigas incluem cantigas de seguir, albas, pastorelas, prantos e tenções. REFERÊNCIAS:
Cantigas Medievais Galego-Portuguesas. Disponível em: <http://cantigas.fcsh.unl.pt/sobreascantigas.asp>. Acesso em 07 de abril de 2017.
Cantigas Medievais Galego-Portuguesas. Disponível em: <http://cultura.culturamix.com/curiosidades/o-que-sao-trovadores>. Acesso em 07 de abril de 2017.
Anotações dos alunos durante as aulas ministradas pelo professor Fernando Fiorese, na disciplina Estudos Literários II, da UFJF-FALE.
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