Escrevo histórias que cutucam feridas, debocham da rotina e expõem o absurdo escondido na vida comum. Não é pra confortar — é pra incomodar.
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Entre o silencio e o susto
Acordar no meio da madrugada é como ser expulso de um sonho e jogado de volta pra realidade nua, fria e sem propósito. São três e vinte e quatro da manhã. Silêncio demais. Luz de menos. E aquele barulho estranho vindo da cozinha que, com sorte, é só a geladeira, mas a essa hora da noite até o próprio coração soa como algo querendo te matar. A casa toda parece diferente. Mais estreita. Mais escura. Como se estivesse te observando, esperando vc se mexer. E, claro, sua cabeça colabora: começa a repassar cada erro, cada conversa, cada “e se” que vc achava que já tinha superado. A madrugada tem esse talento. Ela arranca suas defesas e te deixa ali, vulnerável, suando frio por dentro. E o pior é que nem dá pra gritar. Não tem quem escute. Só vc, o teto, e essa sensação incômoda de que alguma coisa — talvez o tempo, talvez a vida, talvez nada — tá sempre prestes a te engolir.
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“Ser”atípico
Ser atípico é ser o erro de cálculo que ninguém admite, mas todo mundo aponta. É ouvir, desde sempre, que “vc pensa demais”, “vc complica tudo”, “vc devia tentar ser mais leve”, como se fosse uma falha moral não conseguir se interessar por trivialidades idiotas. É ver a manada correndo pro mesmo lado e simplesmente não conseguir acompanhar, não por rebeldia, mas por tédio mesmo. E aí vc passa a vida ouvindo que “precisa se encaixar”, quando, na real, só quer que parem de encher o saco com essa obsessão ridícula por pertencimento. Ser atípico é perceber que o mundo foi projetado pros medianos — e tudo que foge da média é tratado como ameaça ou piada. E quer saber? Que seja. Melhor ser a falha, a exceção, a aberração, do que mais uma peça previsível nessa engrenagem que só gira porque todo mundo tem medo de admitir que odeia a própria rotina. No fim, ser atípico é a única forma honesta de existir. E honestidade, pra maioria, é agressiva demais
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Assuma o risco!
Ser verdadeiro é um baita paradoxo. Vc se esforça pra dizer o que realmente sente, sem rodeio, sem maquiagem, sem aquele teatrinho social que todo mundo adora… e, no fim, ainda ouve que é frio. Que é insensível. Que podia ter “maneirado” um pouco. Como se o simples ato de ser honesto fosse um ataque, uma falta de tato, uma grosseria. E olha… talvez até seja. Porque a verdade não tem embalagem bonita. Não vem com laço nem manual de instruções. Ela só… é. E a maioria das pessoas não tá preparada pra isso. Preferem o conforto da mentira doce à dor do real. E aí, quando vc fala o que pensa, quando não esconde o que sente — ou pior, quando admite que às vezes não sente nada —, já te carimbam: coração gelado. Mas quer saber? Prefiro ser taxado de insensível a ser mais um personagem nessa peça fajuta que é o convívio humano. No fim das contas, a frieza que veem em mim é só a ausência do verniz que eles mesmos escolheram usar
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Tô bem
Superar é uma palavra bonita demais pra um processo tão feio. Parece nome de filme de autoajuda, desses que a gente assiste quando quer fingir que tá tudo bem. Mas, na real, superar dói, arrasta, cansa. E o pior: demora. Só que ninguém quer ver esse bastidor. Então a gente coloca a tal máscara, ajusta o sorriso, responde “tô bem” no automático e segue. Porque admitir que ainda tá quebrado parece fraqueza, parece falha no sistema. E é curioso como o mundo adora que vc se mostre forte, mesmo quando tudo que vc quer é sentar no meio-fio e chorar até alguém te buscar. Só que ninguém vem. E vc aprende que a performance é parte da cura. Finge que esqueceu até quase esquecer de verdade. E aí, de repente, num dia qualquer, percebe que a dor virou só uma cicatriz meio feia, mas que já não sangra mais. Só que até chegar lá, meu amigo… é máscara sobre máscara. Até que uma hora nem vc sabe mais quem é: o que sente ou o que finge sentir
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Outra volta
A vida tem um senso de humor peculiar. Vc passa meses tentando consertar algo que quebra em dois segundos. E quando finalmente aceita que nada vai mudar, pronto: muda. Vira. Dá uma pirueta e pousa na sua frente com cara de "não esperava por essa, né?". E não, não esperava. Porque por mais que eu diga que já vi de tudo, toda vez que acho que entendi o jogo, alguém muda as regras. Às vezes a reviravolta vem suave, como quem senta do seu lado no ônibus e começa uma conversa que muda sua semana. Outras vezes, vem como um caminhão sem freio. Mas o fato é que a vida vira. Sempre vira. Nem sempre pro lado que a gente quer, claro, mas vira. E no meio desse caos todo, eu aprendi a não confiar muito em fases boas nem me desesperar tanto nas ruins. Porque tudo passa. Até o que vc queria que ficasse. Até o que vc achou que nunca ia embora. A vida é mestre em fazer plot twist sem nem avisar que tá gravando.
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Sim-ples
Tem coisa que não precisa ser grandiosa pra ser tudo. Tipo pão com manteiga bem passado, banho quente depois de um dia torto ou aquele silêncio que acontece entre duas pessoas que se entendem sem precisar falar nada. A gente vive perseguindo fogos de artifício, mas às vezes é só uma lâmpada amarela e um café morno que salvam o dia. Tem um conforto estranho nas coisas pequenas. Um jeito quase tímido de dizer: “fica aqui mais um pouco, tá tudo bem”. E eu, que já tentei abraçar o mundo e quase caí pra trás, tô começando a achar que felicidade mesmo é encontrar uma boa posição na cama e esquecer o celular do outro lado do quarto. Não é conformismo, não. É alívio. É parar de esperar o extraordinário e perceber que o que vale mesmo são os minutos que a gente respira sem precisar fingir nada. Talvez a tal paz interior seja só isso: conseguir lavar a louça ouvindo música e achar que esse é, sim, um bom momento da vida.
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Sem sal
Às vezes, no meio de uma conversa qualquer, me bate uma sensação esquisita de que tô falando com uma versão holográfica das pessoas. Elas tão ali, respondem, riem, fazem careta — mas alguma coisa tá vazia. Tipo assistir a um filme com o som fora de sincronia. E eu tento me conectar, de verdade. Mas parece que quanto mais me esforço, mais tudo escorrega pra superficialidade. Como se todo mundo tivesse medo de mergulhar. As palavras andam leves demais, descartáveis. É tudo raso, tudo urgente, tudo com cara de postagem programada. E aí fico eu, com essa mania meio masoquista de querer entender o que ninguém quer explicar. Olho pra alguém e penso: quantos desabafos ela engoliu hoje? Mas, claro, ela só vai me perguntar se eu vi a série do momento e pronto, desconexão concluída. O que eu queria mesmo era poder existir sem precisar entreter ninguém. Ser ouvido sem maquiagem na alma. Mas pedir isso é tipo deixar recado em secretária eletrônica de telefone que ninguém mais usa
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Tempo
Tem dias que eu sinto que o tempo passou por mim correndo e nem se deu ao trabalho de olhar pra trás. Todo mundo tá casando, tendo filhos, postando foto de viagem com legenda de gratidão, enquanto eu tô aqui tentando lembrar se comi hoje. E não é inveja, é só esse sentimento agridoce de que perdi o bonde e agora tô esperando o próximo como se fosse metrô de domingo. Eu sei que cada um tem seu tempo, essas frases prontas de Instagram que a gente finge acreditar. Mas, na real, parece que fui programado pra um outro relógio. Um que atrasa. Um que nunca desperta. Tem gente que nasce pra ser pontual com a vida, e eu… bom, eu chego quando já tão apagando as luzes. Mas ainda assim, mesmo fora do tempo, tem um lado meu que insiste. Que acredita que talvez, só talvez, exista um espaço reservado pra quem vive devagar. Um canto quieto onde não cobram pressa e ainda dá tempo de sentir as coisas como se fossem novidade.
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Significado?
Às vezes eu penso que talvez o grande segredo da vida seja fingir que entendeu tudo antes que alguém perceba que vc tá completamente perdido. Tipo aquele aluno que copia errado, mas entrega a prova com confiança. Eu acordo, tomo banho, como alguma porcaria, olho pro teto e penso: é isso? A vida é mesmo essa sequência de dias medianos empilhados, com umas alegrias curtas, umas dores longas e um silêncio estranho que ninguém fala sobre? E pior: parece que todo mundo se adaptou. Como se estivesse todo mundo satisfeito em existir meio de lado, como figurante da própria história. Eu sei, soa dramático. Mas existe um tipo de cansaço que não tem nada a ver com o corpo — é um tédio da alma. Uma vontade de que algo aconteça, qualquer coisa, pra provar que estar aqui não é só cumprir tabela. E mesmo assim, tem dias em que eu me pego esperando algo mudar do nada, como se o universo fosse um roteirista preguiçoso que uma hora vai resolver dar um plot twist só pra eu parar de reclamar
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