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Luto

Cheguei em casa. Ele ainda estava jogado no sofá assistindo. Eu

sei que eles nunca se deram bem, mas nada justificava ele ter me

deixado sozinha neste momento. Era o meu filho. Meu filho quem

havia sido morto de uma forma horrenda e estava sendo enterrado

naquela tarde.

As pessoas só diziam sobre ter sido um crime cruel, horrível e sem

escrúpulos. Sobre a polícia não ter pistas. Sobre ele ser um ótimo

filho. Sobre como ele tinha um futuro promissor.

No reconhecimento do corpo eu só conseguia chorar e gritar. O que tinham feito com meu filho?

Por que o deformaram dessa forma?

A causa da morte: estrangulamento. Mas o assassino não se deu por contente. Lhe esfaqueou pelo corpo 12 vezes. Cortou sua boca horizontalmente como se quisesse lhe arregaçar a mandíbula. Lhe arrancou os olhos e cortou lhe a face toda. Eu não entendo quem

poderia fazer isso. Meu filho não tinha inimigos.

A pessoa com quem meu filho menos se dava bem era com meu

marido, mas não chegava a ser um ódio, no máximo um ciúme de

sua mãe. Meu marido sempre reclamava que meu filho tentava

disputar minha atenção com ele.

Cheguei e fui direto para o meu quarto. Me tranquei e fiz a única

coisa que me era de meu alcance no momento. Chorei.

Chorei até cair no sono, mas não durava muito. Pesadelos me

assombravam. Eu via meu filho lutando. Via o pescoço nas mãos

do assassino. Via ele tentando fugir. Até vi o corpo do assassino.

Eu sabia que o conhecia, mas eu não conseguia definir quem era.

Eu gritava para parar, mas ele continuava. Socos, pontapés,

facadas e mais socos. Eu o tentava impedir, mas não conseguia

tocar nele. Então eu acordava aos prantos. Chorava. Caia no

sono e o sonho se repetia.

Eu sabia que conhecia o culpado.

No segundo dia sai do quarto, procurei algo para comer,

estava tudo vazio. Fui reclamar com ele por não ter tido pelo

menos a decência de ir ao mercado. Ele apenas me ignorava.

Voltei para o quarto, liguei para a minha mãe, ninguém

atendeu. Tentei minha irmã, ninguém atendeu.

Eu precisava conversar com alguém, mas não tinha forças para

sair de casa.

Cai no sono novamente. Dessa vez sem pesadelos, mas a realidade era doía mais. No espelho do banheiro estava escrito com batom "a culpa é sua". Me espantei ao perceber que era minha letra.

Me levantei, passei pelo quarto do meu filho e não tive coragem de abrir a porta. Uma hora eu teria que abrir, mas não, não agora.

Passei pela sala e o inútil do meu marido ainda estava jogado no sofá assistindo. Nem uma palavra.

A casa estava fedendo. No chão da cozinha haviam larvas.

Senti meus dedos formigarem, olhei para a minha mão e algo se

movia dentro de minha pele. Corri para o banheiro vomitar. Vomitei larvas. Senti algo andando em minha nuca e no meu pescoço. Só

aumentava. Eu devia estar delirando. No espelho vi seres andando

dentro da pele do meu rosto. Estavam em tudo! Havia alguns

dentro das minhas pálpebras procurando uma saída. Outros em minhas mãos. Comecei chorar e só saíram larvas de meus olhos. Tentei gritar e não saia som, somente mais larvas.

Fui correndo para a sala pedir ajuda para ele. Ao redor dele tinham ainda mais larvas, larvas e sangue pelo sofá todo. Seu corpo estava todo ensanguentado com marcas de faca.

Corri para o quarto procurar meu celular para ligar para a polícia. A porta do quarto do meu filho agora estava aberta. Entrei.

Na cama estava eu, estirada na cama. Uma arma em uma

mão, a foto do meu filho em outra.

Sangue em toda volta.

Minha cabeça estourada por um tiro.

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Bilhetes

Minha mãe era dona de um restaurante, então seu horário de

trabalho sempre foi tarde e noite. Desde que meu pai foi morto, era

só eu e ela, então ela tinha que se virar para pagar as contas. Eu estudava de manhã então tinha dias que mal nos víamos, mas sempre dávamos um jeito de ter nosso tempo juntas.

Esse mês estava sendo um bom mês no restaurante, então ela chegava por volta de meia noite. Nos primeiros dias eu a esperei para conversarmos um pouco, mas nos próximos dias o sono começou me vencer. Como eu tinha aula cedo, por volta de onze horas eu já

estava dormindo. A falta de tempo fez nós começarmos a nos

comunicar por bilhetes na geladeira.

No primeiro dia que não consegui espera-la, na porta da geladeira tinha um recado: Limpe seu quarto e os banheiros. Tem comida no microondas. De uma passada na sua avó que ela está com saudade. Hoje chego tarde, mas lhe acordo quando chegar para conversarmos um pouco. Beijos

A noite visitei minha avó como ela tinha mandado, cheguei e limpei tudo. As dez horas eu já estava cansada e já fui para a cama.

Minha mãe não me acordou como disse que faria.

Na manhã seguinte, outro recado na geladeira: “Ontem cheguei meio cansada e logo dormi. Tem dinheiro na mesinha, pode pedir pizza.”

Mais tarde lhe liguei para saber como estavam as coisas, ela me respondeu de maneira grosseira e disse que estava corrida com as coisas do restaurante.

Terceiro dia, outro recado, este porém um pouco mais estranho:

“Acabei me cortando sem querer na lavanderia, limpe para mim. Um cachorro foi atropelado em frente a nossa casa e eu tive que recolher. Está na garagem em um saco preto. Tem uma enxada lá, enterre para mim”. Os bilhetes pareciam cada vez mais ríspidos e dessa vez ela nem me disse o que almoçar ou deixou dinheiro, mas tudo bem, eu dava um jeito.

Fui limpar a lavanderia, aparentemente ela tentou limpar mas não deu tempo suficiente. Aparentemente foi um acidente bem feio porque por mais que ela tenha limpado um pouco, ainda estava tudo

ensanguentado. Fiquei preocupada e liguei para ela para saber se estava tudo bem mas ela não me atendeu. Tudo bem, o restaurante devia estar cheio.

Mais tarde fui enterrar o cachorro como ela havia me pedido, estava em um saco preto e era bem grande e estava sujo de sangue.

Estranhei, mas não tive coragem de olhar.

A noite eu tentei ligar para ela novamente, ela não me atendeu.

Me questionei o que será que estava acontecendo para ela estar assim comigo? Será que eu havia feito algo de errado ou era só a correria do restaurante? Resolvi esperar ela acordada para conversamos, mas acabei dormindo no sofá. Quando acordei, eu estava atrasada, sai correndo, a tarde tentaria ligar para ela de novo ou passaria no restaurante.

Quando voltei para casa, o telefone estava tocando sem parar. Era o gerente do restaurante dela perguntando por que ela não foi trabalhar ontem e ainda não tinha aparecido hoje. Eu lhe disse que não sabia e que iria ver se tinha algum recado na geladeira e logo retornaria. O desespero bateu. Quem poderia saber onde ela estava?

A casa fedia e não fazia o menor sentido pois eu havia limpado tudo ontem. Fui procurar o recado de sempre na geladeira:

“Desculpa o sumiço docinho. Tem uma surpresa para você no congelador.”

Abri o congelador. Vomitei. Chorei. Gritei. Era a cabeça da minha mãe, com os olhos abertos e a expressão de horror. Havia um bilhete em sua testa que dizia:

“Eu tenho certeza que você não vai procurar a polícia. Você limpou a sujeira e enterrou os pedaços do corpo. Você é cumplice. E a próxima”

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Isso não é sobre você

Talvez seja um pouco

Mas tudo que eu tenho buscado é sentir, independente do que seja. E sim, ainda te acho uma pessoa incrível que faz com que todas as outras pessoas não pareçam o suficiente para mim (não que elas quisessem ser). Mas é sobre mim, sobre como eu te coloquei esse tempo todo em um pedestal para sentir que eu estava gostando de uma pessoa pela qual valia a pena todo sofrimento possível.

Mas sempre foi mais sobre mim. Sobre criar a narrativa perfeita na minha cabeça onde eu seria o protagonista sofrendo por alguém que não lhe queria mas que no final teria algum sentido.

Sempre me disse que eu sempre fiz tudo ser sobre mim, mas desta vez estou em meu direito.

Se eu ainda gosto de você? Eu não sei. Se me quisesse talvez todo esse sentimento se desfaria, pois quando eu reparo em seus detalhes e em tudo que eu estou tentando sentir, todo encanto se desfaz.

Mas perceber isso me causa uma certa dor. Como vou aceitar que você não é perfeito? Que tudo é fruto da minha imaginação. E que não vou encontrar alguém como você porque "você" simplesmente não existe.

Como eu vou abrir mão de todas as memórias criadas na minha cabeça que no momento não pareciam grande coisa, mas que agora em nostalgia parecem as melhores coisas que já me aconteceram? Como eu vou abrir mão de você sendo que abrir mão de você é abrir mais mão de mim mesmo que de nós?

Eu ainda não sei como vou fazer, mas eu finalmente entendi que não sobre você.

14 de março de 2022

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Ainda sem rumo

As minhas mãos não sabem para onde vão. Estão perdidas em outros corpos, mas não sabem para onde ir. Em nenhum lugar encontra a textura macia da sua pele.

É, eu tentei. É claro que eu tentaria te esquecer usando outras pessoas. Sim, egoísta, eu sei. Mas hoje você deve até concordar com essa afirmação.

Mas uma hora vai passar.

Você já não é mais 90% do tempo que gasto falando na terapia. Você hoje é um 25%.

Minha terapeuta me fez ver que eu só estava procurando você em outras pessoas. O que me poupou bastante tempo de tentar que seja diferente.

Sabe, o único que me despertou interesse, quando parei para ver, era igual você. Ou talvez eu tenha percebido as semelhanças por gostar de cada pontinho seu (as vezes não, mas tudo bem). Eu até tentei pensar que eu sentia falta de namorar. Quase tentei. Quase tive. Mas desisti no meio do caminho. Igual quase tudo na vida, tu sabe. Desculpa ter desistido

setembro 21, 2021

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um borrão

Me disseram que uma hora deixaria de doer. E sim, é claro que eu queria que passasse logo. Mas não esperava que fosse assim, do nada. E doeu tanto, por todo esse tempo, pra ser assim. Um clique, acabou.

E eu quero falar contigo.

Você quer falar comigo.

Mas temos o que dizer?

Mas penso em me esforçar porque eu sei que amo você.

Eu não quero que você seja só um borrão na minha memória. Só uma lembrança. Só nostalgia. Eu te quero na minha vida.

Mas no momento, não faz falta. E eu nem sei explicar a porra da lógica disso.

Quando doía, eu tava ciente que não queria que parasse para eu não esquecer.

Mas te esquecer também dói. Vai um pouco de mim nas memórias.

Eu acho que nem tô me preocupando com isso ainda. Mas porra, ninguém vai ter tua energia.

E eu sei que a vida tem para mim mais um monte de amores. Seja de anos ou de uma noite. Mas eu também sei que um amor nunca vai ser igual ao outro. E eu sei que definitivamente não quero outro tipo de amor. Eu quero o nosso. Eu quero o que a gente tinha.

Não sei se alguém mais vai segurar minha mão como você segurou.

Também vou terminar isso como termino todas as outras coisas que te escrevo:

Sinto tanto sua falta

(atualizando, não é mais só um borrão)

setembro 21, 2021

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Encosta

Você já tinha me roubado um beijo

Eu só disse encosta o carro. Você desnorteado.

Aquele beijo. Você todo "emocionado" em cima de mim. Já lhe disse que parecia um gatinho.

Eu penso que nunca vou encontrar alguém com sua energia.

Outro beijo, outro sexo, outro riso, outros hábitos, talvez. Mas sua energia não.

Você cantando no carro e me passando o microfone imaginário para eu cantar músicas que eu nem sabia. E eu com minha cara rabugenta que correspondia poucas vezes. Mas sua energia permanecia intacta.

Quando eu já estava dormindo, tu saia do banho e deitava molhado atrás de mim.

Quando me enchia de beijinhos quando eu dizia que estava mal.

O seu peito que eu recostava e ia embora toda a ansiedade.

Eu sei, desculpa. Desculpa é a unica coisa que estou dizendo há tempos.

Sinceramente, é uma droga porque isso estava guardado nos arquivos e eu achei.

E sinceramente, o tempo não tá ajudando como diziam que iria.

CARALHO, como eu sinto sua falta...

setembro 21, 2021

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Gasolina

Eu preciso porque eu não consigo

Eu quero porque eu sei que não deveria Não faz mais sentido estar mas sempre resta a ideia de que tudo vai ser diferente Mas não vai Seremos as mesmas pessoas Mas não as mesmos de quando nos conhecemos Jovens Se descobrindo Descobrindo as nossas diferenças E quando nossas diferenças passaram a incomodar ao invés de entreter? Eu sempre pensando que se há amor, há salvação E você dizendo que amor não sustenta muita coisa Eu acho que você tem um pouco de razão Mas eu também não deixo de ter Amor é chama, é combustível, é tesão, tensão, medo, gasolina para a vida. Eu sei que te trouxe emoção Eu sei que você me trouxe calma Eu sei que não devemos Mas eu sei que eu quero Só mais uma vez

setembro 02, 2021

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Cosmos

Nós nunca fomos o ideal um do outro.

Eu queria alguém que me acordasse de madrugada para nadar pelado e você queria alguém alguém para cantar Spice Girls no carro. A gente não foi o que o outro queria, mas a gente se teve. E foi bom. Talvez a gente não soubesse o que queria. A gente não tinha noção do quanto ia encaixar. Isso nem faz sentido. Gêmeos e peixes. Não estereotipando Porque depois de um tempo eu me mostrei nada geminiano e você nada pisciano Tagarela e fofinho? Com certeza não Você tem a determinação e a calma Eu tenho o medo e a vontade Você me trouxe tanta calma e eu lhe levei a loucura. De uma forma boa... e uma ruim. Passou. Tudo passou. Agora estamos nessa, perdidos no cosmos

julho 30, 2021

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Eu só peço desesperadamente para alguém tirar isso de mim. Meus amigos estão com raiva de ti, mesmo sabendo que não devem.

Eu sei que vai passar, sei que eu mesmo vou tirar. Mas no momento não quero. O que eu quero é você. Eu já estou me preparando para dores maiores e sofrendo por antecipação. Talvez quando acontecer eu nem sinta. Ou sim. O que aceitei agora é sobre minha intensidade. E nem estou ligando de ser o emocionado. Talvez esteja me dando o que sempre pedi, um pouco mais de drama na minha vida. Pelo menos eu voltei escrever. Pelo menos reencontrei meu eu de 18 anos sempre morrendo de amores. Mas dessa vez parece que estou morrendo mesmo.

julho 30, 2021

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A nossa música nunca mais tocou

" A emoção acabou

Que coincidência é o amor

A nossa música nunca mais tocou"

Foi ouvindo Cazuza que isso me despertou. Eu sempre fui de querer morar dentro de um filme, uma música, um poema. Mas nunca soube falar ou agir como se fosse um/uma. Só te mostrei a playlist que fiz para a gente quando nós já tínhamos terminado. Eu acho engraçado, como um monte de histórias que temos pra contar. A "nossa música" era de uma moça que fez para uma namorada. Amanda. Pensando bem, nossas músicas sempre foram mais de você para mim que de mim para você. Eu não sei o que isso quer dizer (ou sei), mas deve significar algo. Eu me lembro de te fazer rir quando estava bem perto de explodir. E gostava do teu cheiro. De você em mim. Eu dizia não mas acabei dizendo sim. Quando ouvi pela primeira vez essa música, eu fiquei apaixonado por ela e então apresentei pra você. Depois para todos meus amigos. Queria que fosse a trilha sonora do romance de todo mundo. Mas foi só a nossa. E isso também deve significar algo. Só não sei o que. Era uma daquelas músicas perdidas de início de carreira. Mas nos descreveu tanto. E a gente nunca foi certo. Sempre variou quem era quem. Mas eu sempre fui mais "Amanda". Essa música, eu não sei o porquê, a cantora tirou de todas plataformas com o tempo. Creio que por ser para uma ex namorada, mesmo ela deixando todas as outras músicas que também eram para ex namoradas. Só restou um vídeo perdido no vimeo, que é quase a deep web.

Salvei ela uma vez, mas perdi.

As vezes lembrava que ela existia e procurava de novo. Com o tempo não procurei mais. Hoje sumiu. E "a gente" sumiu. Restou uns covers mal feitos no YouTube. Só isso. E eu sempre tentando achar um lado poético para as coisas enquanto você racional só aceitando as coisas como elas são. Mas eu sei Que Ainda tem uma copia perdida pelos confins da Internet. Quem sabe um dia eu procure.

julho 30, 2021

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Nós nos conhecemos quando eu tinha 20 anos e ele tinha 18. Nosso romance, se é assim que posso chamar, começou assim como começam todas as historias frustradas de amores no século 21, pelo Tinder.

Se o Tinder tiver alguma outra função além de desgraçar vidas, por favor, me contem, pois até hoje só me serviu para isso mesmo.

Não que ele seja um retrocesso em minha vida, é que... bem, eu me apaixonei... E como todo mundo sabe, se apaixonar é a uma sensação deliciosa que pode ser comparada à um lento e dolorido chute nas bolas.

Não, não é que não tenha bons momentos... mas toda aquela insegurança de não saber se a pessoa sente o mesmo. A insegurança não saber se não vai ter algum empecilho no caminho que torne o relacionamento de vocês um drama digno de novela mexicana. O medo do beijo não ser bom. Ou o sexo ser uma droga. E se o sexo for uma droga? E não me venham com essa historia de que amor supera tudo. Todos sabemos que ele se esgota. E então, o que acontece?

Sem contar o medo do amor da outra pessoa se esgotar antes do seu. Aquela competição de quem não vai fazer o papel de idiota na historia. Enfim, não me digam que vocês gostam dessa sensação. Pois eu? Eu prefiro a morte. E preferi mesmo. Bom... havia preferido, mas não era por amor nem por sua falta.

Nós morávamos longe um do outro, uns 600 km mais ou menos. Então não ia rolar. Mas com o tempo, passamos a nos falar o dia todo e a conexão ia se criando. Tínhamos muito em comum, desde gosto musical à coleções de decepções amorosas. Mas creio que nossa principal união era a falta de alegria.

Passávamos a maior parte do tempo reclamando sobre como a vida era uma bosta e como éramos obrigados a sobreviver dia após dia sem reclamar, pois, como diziam os adultos, tínhamos um teto, podíamos estudar e não passávamos por dificuldades. Mas como todos sabem, adolescentes sempre acham uma razão para sofrer e reclamar. Se está tudo bem na sua vida, tu já olha para aquele boyzinho com cara de "vou desgraçar a sua vida" e diz "quero". Para que as coisas calmas não é mesmo? A gente veio nesse mundo para sofrer e queremos cumprir bem o nosso papel.

Maldito dedo podre que também unia a gente, ou bendito, não sei, precisávamos ter sobre o que reclamar.

Nessa clássica historia de desconhecidos que passam a se falar o dia todo, um dia aconteceu o que todo mundo esperava. Ele disse "eu gosto de você".

Passei alguns dias sem responder, mas respondi. Também gosto de você.

Mais alguns dias sem ele me responder e então ele surge do nada sugerindo que nos víssemos pessoalmente.

Ele, como sempre, mais decidido e independente que eu, decidiu que viria até mim.

Ele era lindo. E eu? bom, eu era mediano. Tinha medo de quando ele me visse pessoalmente não gostasse, ou simplesmente quisesse ser apenas amigo enquanto eu já estava imaginando um futuro juntos. Acho que todo mundo se sente assim. E vocês ainda são capazes de dizer que gostam de se sentir apaixonados?

Marcamos. Tive medo. Fugi. Sumi do mapa final de semana inteiro.

Como já era de se esperar, brigamos, brigamos feio. Ele me chamou das coisas piores que vocês pode chamar alguém, e como ele sabia meus pontos fracos, me deixou no chão. Me mandou ir à merda e me bloqueou em toda rede social qual ele podia. Eu nem fui atrás pois sabia que estava errado.

A vida seguiu. Pensava nele as vezes. Mas tinha novos relacionamentos meio boca e destrutivos para me preocupar.

Um dia, vejo ele como sugestão de amigo no facebook. Ele já havia esquecido tudo e voltamos a conversar.

- Eu já não gosto mais de você.

- Tudo bem...eu senti sua falta.

Parou de me responder. No dia seguinte, havia mensagem dele.

- A vida continua uma merda.

- Por aqui a mesma coisa...

Conversa vai, conversa vem, percebemos que ainda não tínhamos a vontade de viver que a maioria das pessoas parecia ter. Aquele ânimo de "vai tudo melhorar", mas todos nós sabemos que a tendência é apenas piorar. Estar morto ou vivo, tanto faz. Nosso desinteresse pela vida era bem evidente.

Como eu já era mais adulto e seguro, ou pelo menos fingia melhor, fui até a cidade dele. Ele não fugiu como eu fiz. Bebemos, fumamos maconha, transamos e foi ótimo. Uma das inseguranças já superadas.

Ele ainda alterado me diz:

- Eu te odeio, e odeio a minha vida também. Essa merda só piora a cada dia. Daqui 5 anos vou estar afundado em uma merda maior.

- Bom, eu não te odeio.

- Mas não me ama.

O silêncio.

- É uma droga isso de ser obrigado a continuar vivendo para descobrir que daqui 5 anos estaremos mais afundados na merda que hoje.

- Bom, não precisamos.

- Cala boca, você está bêbado.

- Exato, sóbrio nunca teríamos coragem. Você não quer estar aqui. Eu não quero estar aqui.

O silêncio retorna. Dizem que quando duas pessoas estão em silêncio e não se sentem constrangidas, elas já atingiram a intimidade. Eu não estava constrangido, estava pensando sobre isso. Eu nunca tive planos. Eu nunca tive nem vontade de ter planos. Eu estava respirando e mais nada. Não esperava que nada fosse melhorar. Ele me beija e diz:

- Vamos fazer parte do clube dos 27!

- Esperar até os 27? É muito tempo. Podemos formar o club dos 23 e 25.

Estávamos chapados então só conseguíamos rir dessas ideias.

- Isso nem sequer faz sentido.

- A vida toda não faz.

- Eu conheço um lugar alto por aqui. Vamos apenas sentir como é poder fazer. Não precisamos. Só quero saber que posso.

Chegamos. Era um prédio alto que estava em construção. E sem seguranças. Isso era basicamente um convite. Terminamos a garrafa de vinho. Fumamos o finalzinho do beck. Discutimos de como aquilo era uma loucura. Discutimos sobre onde estaríamos em 5 anos. A conclusão foi que não queríamos descobrir.

Talvez fosse apenas a bebida misturada com a maconha e a tristeza. Mas tudo fazia sentido naquele momento.

Ficamos deitados observando o céu. Ele disse que ainda me amava. Eu lhe disse que era a bebida. Brigamos. Também disse que lhe amava.

Sentamos na mureta do terraço. Nós estávamos decididos. Ok, pularíamos no 3.

3,2...1

Eu, como sempre, não tive coragem. Só ouvi uma voz caindo e gritando. Nem sei o que ele gritou, mas na minha cabeça foi.

- SEU COVARDE FILHO DA PUTA.

.

.

.

.

.

Porra!!! Puta que pariu!!! Todos achariam que eu o empurrei. O que eu diria para a policia? Porra, eu deveria ter me matado, caralho.

Subo na mureta novamente. Agora vai! Não! Eu estava sóbrio. Eu não teria coragem. Vai se foder, como eu era cagão, porra.

Desci o mais rápido que eu pude, vi um carro parando perto de onde ele caiu, corri para o outro. Fui para a casa dele pois a chave estava na minha bolsa.

Estava eu no quarto dele sem saber o que fazer. Eu era culpado, eu o incentivei a isso. Como eu poderia viver com essa culpa?

Cadê o resto da bebida? O cigarro? Onde ele guardava os remédios? Eu precisava ficar chapada. Pelo menos essa noite eu não ia lidar com isso.

julho 12, 2017

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Nós somos nosso universo

Me deixa ficar aqui, recostado no seu ombro, enquanto me acaricia os cabelos e me diz que vai ficar tudo bem.

Eu, que sempre fui do mundo, nunca imaginei que um dia meu mundo seria alguém.

A principio, confesso que foi estranho. Aquela sensação de estar rodeado de gente mas a falta de uma fazer me sentir sozinho.

Me assustei.

Neguei, neguei muito.

Mas você, com seu jeitinho de "esta tudo bem" me ensinou que realmente está tudo bem dizer como eu me sinto.

Me mostrou também o céu

as estrelas

seu universo.

E me fez cair lentamente nele.

Não sei se me puxou ou eu quem me joguei.

Só sei que eu quis ir.

Me perdoe pela minha indecisão. Por querer voltar no meio do caminho.

Mas você me entende, sempre tive medo de conhecer outros mundos.

Mas de todos mundos que conheci, o seu é o que ainda me desperta interesse.

O seu é o que me faz querer ficar cada dia mais.

fevereiro 12, 2017

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VAI SE FODER!

Ou fode comigo mesmo. Só não fode com a minha mente. Se quer agarra logo, se não quer, desgruda. Mas decida o que tu quer. Sei que não sou a melhor pessoa para dizer "se decide ai, pô", mas: Se decide ai, pô. Seja ogro ou seja doce de uma vez por todas. Não me trate com carinho pra depois me esquecer. Não me digas "não rola" pra depois ficar me enchendo com "como foi seu dia?". Decide se vai rir ou me xingar, dizer " sai daqui" ou me abraçar, se vai dormir ou vai trepar. Porra, dá pra se decidir? Não fode. Ou fode. Mas com carinho por favor.

janeiro 27, 2015

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Com corda, concorda?

Estou ajoelhado, com os olhos vendados. Sou um condenado e ela me rodeia, respira próximo ao meu pescoço e ri baixinho no meu ouvido. Tira minha venda e é ela, minha companheira de sempre. Ri dos meus medos e me oferece uma dose. VOCÊ É SOZINHO E VAI ACABAR SOZINHO. Ela grita como se quisesse contar ao mundo, mesmo não tendo ninguém por perto. Ri mais alto ainda como se fosse piada. Dá um trago e bafora em meu rosto. Grita e ri. A pior parte era saber que o louco ali era eu. Enche meu copo, me dá seus cigarros, ri da minha cara.Enche meu copo, me dá seus cigarros, ri da minha cara. Enche meu copo, me dá seus cigarros, ri da minha cara. . Tropeço em historias, caio em vazios. Já estou rindo com ela, acompanhado rindo da solidão. O tempo congela, ela me encara. Me oferece uma gilete. Minhas veias se escondem. Me apresenta o precipício. Tive vertigem. Me entrega comprimidos. Tive refluxo. Aponta a arma na minha cabeça e atira. Acordo na minha cama e ela ainda está ali ao lado, acariciando meus cabelos. Já tenho um carinho especial por ela, minha querida Covardia.

janeiro 23, 2015

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Esse papo de amor de novo?

-Eu te amo, Gus. Ele me disse ainda ofegante, com o brilho nos olhos e aquele sorriso tímido que eu lembrava desde a primeira vez que nos conhecemos. -Esse papo de amor de novo Gui? -Como você consegue ser tão babaca? -Me explica como tu consegue amar um babaca? Ele franziu a testa e ficou quieto me olhando. Nós nos conhecemos quando ainda eramos adolescentes. Não sei se viramos amigos por opção ou por falta de opções, mas te juro que hoje em dia eu não trocaria essa franzida de testa por nada. Eu gostava dele, mas não sabia definir se aquilo era ou não amor. Nunca fui bom com definições. - Qual seu problema Gustavo? Qual o problema de dizer que ama alguém? -Tu sabe que eu não acredito nessas coisas Gui. Ele foi se levantando com aquela cara que é de se esperar quando tu diz que ama alguém e a pessoa responde “esse papo de novo”. Já era de se esperar essa reação, mas eu não tinha nada além disso que eu pudesse responder. -Olha, pra mim deu Gus. Chega dessa coisa de “amigos com benefícios”. -A gente não vai mais trepar? -Pra mim era fazer amor, mas já que pra tu é trepar, é isso, não vamos mais trepar. O Guilherme sempre bancou esses carinhas adolescentes que se apaixonam a cada semana por um diferente. Era só dizer “eu te amo” que ele já fazia tudo que tu quisesse.  Uma semana depois ele enjoava e terminava. Se não fosse meu amigo, eu pensaria que ele tem espírito de puta, mas como é meu amigo, eu posso lhes afirmar, o Gui é uma puta do amor. Eu nunca lhe disse que o amava e ele nunca me deixou. -Fazer amor? Amor só existem em livros pra adolescentes que não trepam. Para de bancar o adolescente Guilherme. Você troca de amor a cada semana. -Vai tomar no seu cu Gustavo. -Eu te convidaria pra ir junto, mas tu disse que a gente não vai mais trepar. Ele ficou em silêncio. Era raro conseguir fazer aquele menino calar a boca e já era a segunda vez na noite que eu conseguia isso. Tudo bem que não foi da forma que eu esperava, mas ainda assim ele já era uma vitória conseguir lhe deixar sem saber o que dizer. Ele se levantou e começou se vestir. -Gui? -Que foi Gustavo? -Você tá vestindo a minha cueca. -Cadê a minha? -Sei lá, tu quem sabe ué. -Vou com a sua mesmo. Fica como pagamento já que tu pensa que sou puta mesmo. -E não é? Consegui lhe deixar quieto mais uma vez. Mas dessa vez me senti um pouco mal por isso e tentei consertar. -Ouça Gui, tu sabe que eu gosto de tu. Tu é meu melhor amigo. -Gosta mas não ama. Meu quarto pareceu pequeno pro tamanho do silêncio que se colocou entre nós dois. Ninguém tinha mais nada a dizer, sentir, pensar. Ele sorriu. -Tu fica uma gracinha com a minha cueca. -Já conheço todas suas cantadas Gustavo, e olha, já ouvi melhores. Me levantei, ainda nu, lhe encostei na parede, ele sorriu. Coloquei o meu dedo no seu lábio, passei a mão em suas costas. Meus dedos foram descendo pela sua barriga lisa, com pelos apenas no “caminho da felicidade”. Ele fez aquela cara de safado que ele sabia que eu adorava, me jogou na cama e disse. - Fim da amizade com benefícios. -Meu Deus Guilherme! Quando tempo isso vai durar? Me excita e depois diz que a gente não vai mais trepar? Puta que pariu. -Não sei, mas tu pode ligar pra uma dessas garotas que tu sempre come pra manter a fama de hetero. Quem sabe tenha alguma disponível. Ou termina o serviço ai com a tua mão mesmo. - Eu não finjo que sou hétero. Eu não entendo por que temos que escolher se gostamos de pênis ou de vaginas. Eu não posso gostar dos dois? -Não. Agora estou indo. Nos vemos amanhã. Vi ele saindo do meu quarto com minha cueca e minha camisa. Observei ele vestindo sua calça na sala. Filho da puta, como ele estava lindo. Ele nunca havia me deixado na mão. Ouvir um “não” nunca havia sido tão sexy. Desprezo é excitante. janeiro 12, 2015

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Ele

Ele apareceu quando eu estava sozinho.  Pediu-me um beijo, lhe neguei. Ele roubou. Pediu-me meu amor, lhe neguei. Ele roubou.

Lhe expliquei que eu não entendia muito sobre essas coisas de amor. Ele me disse que não entendia muito sobre as coisas do mundo. Ele me explicou sobre o amor e eu lhe expliquei sobre o mundo. Me ensinou sobre o amor. Lhe ensinei sobre o mundo. Ele me fez amar, eu fiz dele meu mundo.

Ele sumiu.

Foi-se para conhecer outros mundos...

janeiro 11, 2015

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Conselhos para os eus dos passado (e futuros).

1- Não saia pra beber com sua amiga de 16 anos que acabou de terminar com o namorado porque ela vai deixar sua camiseta molhada com lágrimas e suja de maquiagem (ou saia, você também já teve essa idade).

2- Você pode fazer birra por qualquer coisas e ainda querer ser tratado como adulto, mas isso não vai dar muito certo.

3- Acredite, quando sua amiga canceriana lhe toma a garrafa de vodca da mão, ela está pensando no seu bem (e no dela também, porque ela não quer que tu vomite novamente na saia nova dela).

4- Se seu amigo lhe impede de ir falar com aquela moça linda que tu viu dançando por uma boate qualquer por ai perdida nos becos da cidade, é porque ele não quer receber ligações as 3 da manhã de alguém chorando porque ela disse "você é bonitinho, mas não rola".

5- Todos eles tem razão enquanto te tratam como uma criança mesmo tu sempre dizendo que odeia quando lhe tratam como uma criança. Talvez tu seja.  Mas quem disse que existe algo errado em ser criança?

6- Tudo bem ser um velho de 18 anos que implica com tudo e tudo bem também ser um jovem de 60 anos.  Cada pessoa tem seu tempo e seu relógio não precisa ser regulado com os relógios alheios.

7- Quando seus amigos dizem “tu precisa mudar”, eles não esperam isso de ti. Acredite, eles gostam dos seus defeitos também.

8- Quando achar que não tem muitos amigos, dê uma olhada ao redor. E quando achar que tem muitos amigos, também dê uma olhada ao redor.

9- Não se torture por não ser como seus amigos que ficam com três ou quatro por noite. Não há nada de errado em ser como eles, mas também não há nada de errado em ser como você.

10- Quando você achar que encontrou seu verdadeiro eu, tu vai enjoar, ficar confuso e querer se descobrir de novo.

(obs: aos 26 esses conselhos ainda fazem sentido)

novembro 19, 2014