deepintheorb - Tumblr blog

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eu sou como eu sou

pronome

pessoal intransferível

do homem que iniciei

na medida do impossível

eu sou como eu sou

agora

sem grandes segredos dantes

sem novos secretos dentes

nesta hora

eu sou como eu sou

presente

desferrolhado indecente

feito um pedaço de mim

eu sou como eu sou

vidente

e vivo tranqüilamente

todas as horas do fim.

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ah, e dizer que isto vai acabar, que por si mesmo não pode durar. não, ela não está se referindo ao fogo, refere-se ao que sente. o que sente nunca dura, o que sente sempre acaba, e pode nunca mais voltar. encarniça-se então sobre o momento, come-lhe o fogo, e o fogo doce arde, arde, flameja. então, ela que sabe que tudo vai acabar, pega a mão livre do homem, e ao prendê-la nas suas, ela doce arde, arde, flameja.

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Amo-te tanto, meu amor, não cante

O humano coração com mais verdade

Amo-te como amigo e como amante

Numa sempre diversa realidade

Amo-te afim, de um calmo amor prestante

E te amo além, presente na saudade

Amo-te, enfim, com grande liberdade

Dentro da eternidade e a cada instante

Amo-te como um bicho, simplesmente

De um amor sem mistério e sem virtude

Com um desejo maciço e permanente

E de te amar assim, muito e amiúde

É que um dia em teu corpo, de repente

Hei de morrer de amar mais do que pude

Soneto do Amor Total

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quem quiser nascer, tem que destruir o mundo.

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o espantoso é que o espantoso não espanta mais.

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Fúria nas trevas o vento

Num grande som de alongar,

Não há no meu pensamento

Senão não poder parar.

Parece que a alma tem

Treva onde sopre a crescer

Uma loucura que vem

De querer compreender.

Raiva nas trevas o vento

Sem se poder libertar.

Estou preso ao meu pensamento

Como o vento preso ao ar.

"Cancioneiro"

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only women who have washed their eyes with tears can see clearly.

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“Perhaps it was necessary that I had to bang my head against life in order to return with an insatiable thirst for you and for meaning.”

María Casares, from a letter to Albert Camus, December 1944

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“Tied to one another by the bonds of the earth, by intelligence, heart and flesh, nothing, I know, can surprise or separate us.”

Albert Camus to Maria Casarès, February 1950

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lama de lamento

deixo o copo vazio

minha garganta arde e roga por líquido

contudo permaneço inerte

imóvel, insana.

tento congelar o tempo e consigo

minha mente se estaca nos vácuos

agora vislumbro os espaços vazios entre os murmúrios

e não chego a lugar algum afinal.

meu corpo pesa

de tal forma que torna-se inviável movê-lo

e não movo

os murmúrios voltam a dominar.

o copo continua estático

e a goela abaixo seca.

minha testa adquire um peso desproporcional

as sobrancelhas protestam

os olhos aceitam

e o peso decai neles

já farta a visão

mira o copo e resolve enchê-lo

decide, então, derramar gotas

e não para até completar todo o vazio

uma chuva torrencial

perdura por uma semana inteira, sem tréguas.

gc

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uivo verde

não será mais

nem eu, nunca mais

as almas continuam, pois não há fim

enquanto o globo se espreme até pulverizar.

com suas mãos podres, embebedadas de veneno e pragas

eles espremem a fruta e o suco se mostra

o amargor se alastra

a chuva inicia seu escândalo

as labaredas dançam, a cada segundo mais vibrantes

as cigarras cantarolam o fim

mas o beija-flor não o prevê assim, "o que será de mim? De nós?"

cada gota arranjada uniu-se às chamas

todos, afinal, desfizeram em si

e o ego superou o eco enfim

deveriam adiar o fim?

os papéis dizem "sim"

enquanto os troncos se espremem até pulverizar.

"fuja, corra"

não há espaço por aqui.

gc

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até agora eu tinha chamado de vida a minha sensibilidade à vida. mas estar vivo é outra coisa. estar vivo é uma grossa indiferença irradiante. estar vivo é inatingível pela mais fina sensibilidade. estar vivo é inumano – a meditação mais profunda é aquela tão vazia que um sorriso se exala como de uma matéria.

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a fonte secreta de vossa alma precisa brotar e correr, murmurando, para o mar.

e o tesouro de vossas profundezas ilimitadas precisa revelar-se a vossos olhos.

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ouve-me, ouve o silêncio. o que te falo nunca é o que eu te falo e sim outra coisa. capta essa coisa que me escapa e no entanto vivo dela e estou à tona de brilhante escuridão.

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sou cada pedaço infernal de mim – a vida em mim é tão insistente que se me partirem, como a uma largatixa, os pedaços continuarão estremecendo e se mexendo.

de nascer até morrer é o que eu me chamo de humana, e nunca propriamente morrerei.

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todo caso de loucura é que alguma coisa voltou. os possessos, eles não são possuídos pelo que vem, mas pelo que volta. às vezes a vida volta.

[deepintheorb]

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo

Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho

Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana

Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia

Que contasse, não uma violência, mas uma covardia

Não, são todos o ideal, se os ouço e me falam

Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil

Ó príncipes, meus irmãos

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado

Poderão ter sido traídos - mas ridículos nunca!

E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído

Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?

Eu, que venho sido vil, literalmente vil

Vil no sentido mesquinho e infame da vileza

Argh! Estou farto de semideuses

Argh! Onde é que há gente? Onde é que há gente no mundo?

—em linha reta