Text

O que eu sou
Um cara sociável, que detesta injustiça e briga pelo outro quando vê algo desigual. Sou eu.
Acostumado a ser intenso e amar apertado, sem perceber que isso sufoca. Sou assim.
Criativo, com pensamento acelerado e bagagem intelectual, isso te caracteriza muito. Pilhado, hiperfocado em demasia, desligado e frio quando as coisas não conseguem ser digeridas: aqui é o outro lado da moeda que te representa.
Ansioso, dramático, risonho, carismático, comunicador, aleatório, roqueiro, corinthiano, idealista, de esquerda, contagiante, ambicioso, altruísta, generoso, rancoroso, medroso, corajoso, sensível, fechado, estressado, pessimista, otimista, inteligente, apegado, humano, sonhador, estrategista, empolgado, ciumento, carente, persistente, inocente, malicioso, conflitante, inseguro, seguro.
Eu poderia ficar escrevendo adjetivos até a folha acabar. Nem todos são bons e nem todos são ruins. É assim como tem que ser: imperfeito e em eterno acabamento.
Colocar no papel é colocar na alma.
Nas horas de tormenta e cegueira da razão, olhar para a letra é encontrar o apavoro e mostrar que o caminho tem mapa, e que na estrada há luz para não se resumir em instantes ruins.
A dualidade que tanto nos machuca é a mesma que também deixa tudo mais belo.
De agora em diante, os adjetivos que me sustentam serão lidos e escritos em tinta. Momentos de escuridão e dor não devem apagar a imensidão que somos, e encarar e acolher cada partícula que me construiu é talvez a única forma de eu reencontrar a minha luz.
Eu sou o Guilherme, o Tostes, o amigo que não desiste. O filho que aconselha e sofre junto. O namorado que apoia e se perde. O tio que ama à distância. O irmão moderno para um lado, pouco conectado para o outro.
Eu sou histórias, e minhas histórias são mais que estrofes: são aprendizados valiosos e cicatrizes que queimam internamente. Este sou eu, todo desajustado e, mesmo assim, com o peito cheio de amor pelo mundo e pelo outro.
Somente por agora (e sempre): que esse amor seja por mim.
0 notes
Text
Para você lembrar
Lembro-me de quando você teve que se provar pela primeira vez. Era cedo demais para ser picado pelo mosquito da inquietude, e você não sabia ao menos ler quando isso aconteceu. Foi em casa que as validações saudáveis deram espaço à competição por ser melhor que todos, deixando de lado um abraço acolhedor e ouvindo o desafiador “você consegue ir além, você pode mais”.
Lembro-me dos dias em que você foi além e, mesmo assim, não foi o bastante - às vezes para quem te cerca e quase sempre para você mesmo. Depois daquela picada inicial, sempre esteve presente aquele sentimento de não se contentar tão cedo; afinal, você notavelmente tinha capacidade de ser ainda maior.
Impossível não lembrar da sensação ao crescer. Você era invencível, e seu corpo e sua mente eram máquinas de última geração. Como você conseguia performar tão bem em universos tão diferentes? A dualidade de suar a pele e treinar a mente de forma exemplar era como heroína e dava um tesão sem igual, ainda mais para alguém que tinha acabado de descobrir de forma concreta o que era gozar e estar em êxtase.
Dificilmente você vai esquecer do ritmo acelerado que sua vida levou. Sua memória trabalha cada dia mais ágil, e o pulsar na veia de alguém que sabia que dava conta de tudo sem esquecer nada era estimulante. Uma sensação de flow que poderia durar para sempre.
Essa mesma capacidade de armazenamento te faz lembrar também das primeiras falhas, ainda simples e com facilidade de correção, que pareciam pouco para o seu processador compreender como ponto de alerta. A ideia nunca foi parar; não era um simples apagão de segundos que faria os planos e as margens de crescimento serem revistos.
Sem tempo para manutenção, as coisas começaram a sair do eixo, lembra? O corpo deu sinais primeiro; você foi forçado a parar com parte do projeto e aprender sobre priorização. O mundo era imenso demais para você conseguir tudo de uma vez. Escolhas foram necessárias para manter viva a sensação que ainda era alimentada diariamente.
Que fantásticos os feitos que foram conseguidos em tão pouco tempo! Lembro-me de te falarem nos corredores sobre sua capacidade de aprender e aplicar, e que isso não podia ficar restrito; você precisava passar adiante. Nesse momento, você quis ensinar, e isso te transformou. Toda a empolgação que ali estava devia ser passada para quem se aproximasse. Talvez tenha sido nesse momento que você teve sua primeira lição de correção.
Não existe cronograma de aplicação igual ao que você teve. O seu tempo é único, e a forma como você foi picado nunca foi semelhante à de ninguém. Aprendizado e ensinamento foram lidos como pressão, sufocamento e falta de amor. Você não sabia o que estava acontecendo; aquilo era o melhor que você tinha para oferecer, e sua compreensão sobre uma leitura diferente era bem rasa. Não havia ali um livro para lidar com essas novas coisas que surgiam, e segurar tudo começou a ficar pesado.
Acontece que, se eu não me engano, você até conseguiu arrumar espaço para aprender esse novo lado da moeda e viu que faltava muita calma para o seu projeto. Que bom que você fez isso! Ali, você teve outra picada, que não se espalhou de forma rápida como a primeira. Acho até que foi por isso que você não se dedicou a isso com a mesma intensidade.
A idade vai pesando para todos; para você não é diferente. A necessidade de compartilhar o teu mundo com um mundo também único era extremamente forte, quase uma colisão interna que fez você perder muitos arquivos guardados em caixas não tão resistentes. Você tentou algumas vezes fazer essa fusão, nunca conseguiu chegar perto de conseguir, e isso já te frustrava e trazia, com o ritmo acelerado, uma melancolia ansiosa que até quem é cheio das ideias aleatórias não conseguia acompanhar.
Certa vez, lembro-me de que, de forma despretensiosa, algo encaixou nessas tentativas, algo que te trouxe um ritmo conflitante e árduo, cheio de afrontamento e segurança que você não quis ir contra; quis, na verdade, sentir e aprender. Sua cabeça, meses após, mudou. Eu vi quando você olhou para dentro da arrumação que havia feito e viu que tinha que reformar algumas coisas e dar mais espaço para essas coisas novas entrarem, e isso mexeu com você. Aos poucos, pela primeira vez, você começou a mover as coisas e encontrou um espaço enorme, tão enorme que se sentiu com medo.
Um dia, me recordo de você me confidenciar que foi tirando tanta coisa e que tinha tanta coisa nova para pôr lá dentro que isso te empolgava. Eu te alertei de imediato, já que presenciei muitos anos acelerados de você e achava prudente deixar algumas coisas guardadas em outro local. Mas compreendo que a sensação de segurança que você sentiu foi estimulante, e me recordo de você dizer que essa era a terceira picada que você tomou e, sem dúvida, aquela era a mais doce e mais generosa que experimentou. Você resolveu se dedicar apenas a este novo projeto de reformulação, e como eu me alegrava em ver sua energia vibrar em tons mais coloridos e raios de luz que eram diferentes daqueles que você já mostrou por aí.
A adrenalina era tão intensa que você, e nem eu, vimos uma coisa básica: a necessidade de manutenção dessa estrutura. Você foi pesando demais e não mediu a estrutura que foi feita lá no começo, e um grande buraco se fez na parede. O pilar de sustentação rachou, as janelas emperraram e não deixavam mais entrar sol e vento para oxigenar o local, e você teve medo de não conseguir reformar a tempo de tudo cair.
Desta vez, foram feitos vários planos para arrumar e expandir; contudo, houve chuva e deslizamento, e piorou ainda mais a estrutura. Da última vez que eu o vi, foi breve. Você estava correndo com o caminhão cheio de concreto e com uma equipe cara de engenharia para conseguir salvar tudo. Meio agitado, você me disse que não tinha como tirar aquelas coisas novas que havia colocado, mas que dava para mudar de lugar e deixar em segurança.
Lembro de ter perguntado sobre todo o resto, e você me disse, meio que gritando: "Tem muita coisa boa lá naquela velharia, estou guardando o que há de melhor e mandando consertar o que vale a pena reparar. Tem uma equipe indo lá ver tudo isso, mas você tinha decidido guardar aquelas coisas novas junto com essas antigas, que foram as mais importantes de todo esse período. Esperava conseguir reformar a tempo de a casa cair."
Ontem, tentei te ligar e você não atendeu. Tinha um recado falando que está muito ocupado e que em breve retornará com novidades, e que espera que sejam positivas.
Deixo então um recado, para você lembrar:
“Respire, sinta e veja tudo o que você construiu. Fico feliz por enxergar que pôr aquela velharia para fora era preciso e sei que isso fará você se sentir melhor. Lembre-se de que você construiu um espaço bastante agradável e foi lindo ver aquelas coisas novas em meio aos tons de cinza que estavam na parede. Espero que você tenha tido tempo para deixar a estrutura mais firme e que tenha conseguido pôr cores mais bonitas para combinar com tudo que você decidiu ficar. Me avise quando tudo der certo e vamos fazer uma viagem de comemoração. Foi muita turbulência de uma vez, quero muito tomar uma contigo e ouvir como foi essa arrumação. Não esqueça de levar as coisas importantes, elas ficam mais seguras junto a você do que guardadas em casa, além de te deixar mais feliz”.
Espero que você ouça, lembre-se de tudo isso e espero por esse momento de braços abertos.
Se precisar de mais alguma revisão ou desejar ajustes de estilo, estou à disposição!
1 note
·
View note