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Das descobertas da maturidade
Depois de velha – e de alguns surtos – entrei pro time das pessoas que fazem terapia. E notei que alguns papos que aparentemente não levam a nada, na verdade, levam a um espaço profundo, que a gente nunca tem vontade de mergulhar por conta própria.
Normalmente esse espaço é um lugar inabitado há muito tempo, com cheiro de mofo, mato crescido e bichinhos caminhando e fazendo ninho. Tem brinquedos quebrados espalhados, bonecas sem cabeça, bicicletas enferrujadas. Costuma cheirar mal, aquele cheiro de madeira apodrecida, de umidade, de canto abandonado.
Mas hoje, durante a terapia, mergulhei sem querer em um desses espaços. Em uma conversa aparentemente inofensiva para entender minha ansiedade, minha psico me questionou de onde vem a cobrança que eu coloco em mim. Típico dos psicos, saquei que ela tentava fazer a "jornada pela mente", remontando à minha infância. Embarquei na dela...
Pressupondo o comum, me perguntou se meus pais me impunham metas de notas na escola que me fizessem perseguir o inalcançável. Aí me dei conta que isso nunca ocorreu. Meus pais nunca me cobraram notas. Pelo contrário, costumavam me pedir pra deixar os livros e ir me divertir. Sempre fui nerdinha, sempre precisava tirar as melhores notas, sempre precisava me dedicar mais. Sempre precisava. Mas ninguém me exigia. Só eu.
Ops. Foi quando percebi que a cobrança sempre veio de mim mesma para mim mesma. Sempre me esforcei pra alimentar minhas próprias metas inalcançáveis. Quem determina a altura do sarrafo sou eu. E sempre foi.
Neste momento a psicóloga, essa sórdida criatura que espreita enquanto espera você derrubar a sua própria ficha, deu um sorriso. Eu vi.
Assim que a ficha caiu me veio à cabeça a minha Síndrome do Impostor, que eu carreguei em boa parte da vida adulta. Aquela sensação de que tudo o que você é e todos os bons lugares por onde você andou foram fruto da sorte. Que tudo aconteceu – em sua vida pessoal ou profissional – não teve a ver com o seu empenho e talento. Simplesmente aconteceu porque você é uma pessoa de sorte e que, mais dia menos dia, vai ser desmascarada. E vão saber que você é uma farsa. Cobrança, cobrança, cobrança.
A essa altura do campeonato você, que é uma pessoa esperta, já entendeu como uma coisa levou à outra, né? Tudo é interligado na nossa personalidade e formação, nada é por acaso e nos descobrir é uma conquista libertadora.
Pois foi nesse momento que entraram as descobertas da maturidade. Agora, mais velha, já venci a Síndrome do Impostor. Sei que erro e acerto, e sei que tento acertar mais do que errar. Digo para mim mesma que, quando eu me dedico, posso ser muito boa no que faço. Não sou uma farsa, reconheço meu esforço, trabalho e talento, assim como reconheço todos os privilégios que eu tenho e tive para percorrer o caminho que eu percorri.
Outra descoberta tem a ver com a relação com o outro. Sempre tive pavor de magoar as pessoas, de deixar um gosto amargo na boca de alguém sem saber. Agora, madura, percebo a bobagem que é isso. Porque se eu magoar alguém, certamente eu vou saber. E posso me desculpar, e podemos nos entender, se for o caso. Não tem como eu ficar me punindo porque alguém "pode achar" que eu sou outra coisa. Ou porque a pessoa se magoou porque ela criou uma persona para mim na qual eu não me encaixo. Isso não é problema meu. Minha terapia eu faço – ela que cuide dos próprios fantasmas.
A maturidade me trouxe o discernimento de não pirar com o que os outros pensam sobre mim. A Síndrome do Impostor tem muito disso ("vão descobrir que eu sou uma farsa"). Mas, agora, já não me interessa mais. Como eu sei que quem coloca o sarrafo sou eu, eu entendo até onde eu posso ir sem me machucar. E eu posso escolher as pessoas pelas quais vale a pena eu me machucar – ou não.
Ainda assim, não é uma tarefa fácil conviver com essa autocobrança patológica, mesmo sabendo de onde ela vem. "Qual desses lobos você tem alimentado com mais frequência?", me perguntou a psico. "Depende do dia. Depende do quanto eles gritam por comida", foi o que respondi. Todo dia é um novo desafio.
Por isso que eu sempre digo: façam #terapia. Mergulhem nesse buraco de vez em quando. Tape o nariz e entre nesse espaço abandonado, com cheiro de mofo e brinquedos quebrados. Se quiser e achar que vale a pena, pode até pensar em uma reforma. Passar uma demão de tinta, jogar fora o que não servir mais, reciclar o que ainda tem jeito. Mas com ajuda profissional, seja como for, você terá uma corda para te puxar de volta.
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Quando a perspectiva de vida muda
Eu preciso usar esse espaço para desabafar.
Desabafar sobre como a vida da gente (ou pelo menos o que a gente espera dela) pode mudar em um minuto.
No dia 30 de outubro, perdi uma grande amiga. Uma das pessoas mais doces que já passaram pela minha vida.
Tendo a atrair gente elétrica, acelerada. Mas a Denise era diferente. Era meiga, falava baixinho, estava sempre calma, sempre alegre. Menos no dia em que nos despedimos, no último dia de serviço dela comigo. Ela tinha conseguido um emprego em uma revista e precisava ir. Mas chorou quando se despediu. Eu também chorei.
Ela foi trabalhar em outro lugar mas acabamos nunca nos afastando. Depois, ela foi para Londres, e ainda assim nos falávamos pelo Facebook sempre. Quando voltou da Europa, nos encontramos, combinávamos de almoçar vez ou outra. E sempre piscava a luzinha dela no bate-papo do Facebook.
Quando comecei a tocar minha agência de comunicação, sempre mantive quatro pessoas com quem eu gostaria de trabalhar junto de novo. A Denise, a Flávia, a Melissa e a Débora. Quando surgisse uma chance, queria convidá-las.
Todas estavam muito bem empregadas. Menos a Denise, logo que voltou de Londres. Assim, se surgisse uma chance, eu a chamaria.
E a chance surgiu. Para atender a Bienal de Arquitetura. E tinha que ser pra já. Apesar dela estar trabalhando em outro lugar há pouco tempo, resolvi chamá-la. Quem sabe não estivesse de férias, sei lá :)
No dia 29 de outubro, tentei encontrá-la. Mandei recado pelo facebook, onde lia um recadinho de meia hora atrás que dizia algo assim: "unhas, depilação, cabelo. Dia mulherzinha".
Ainda assim, deixei o recado lá. Tinha perdido minha agenda do telefone, e junto tinha ido o telefone da Dê. Sou o último recado que consta no mural dela, antes das centenas de condolências.
Movi todos os meios, todos os amigos e conhecidos em comum, pra falar com a Dê. Consegui o telefone dela, mas não atendia. Insisti o dia todo.
No final do dia, por volta das 19h30, ela me ligou. A voz dela e a breve conversa que tivemos não vão sair nunca da minha cabeça. Ela disse que estava trabalhando e não podia aceitar, porque às vezes trabalhava no final de semana. Ok.
E ela disse "vamos marcar de jantar qualquer dia, pq a gente tá mega enrolada e se marcar almoço não vai rolar nunca". Rimos e ficamos de marcar o jantar.
No dia seguinte, de manhã cedinho, recebo uma ligação do Tomas, meu ex-chefe e amigo. E ele me pergunta, seco: "Gisele, o que aconteceu?". Fiquei calada, não sabia do que ele estava falando. "Recebi um recado no celular dizendo que a Denise morreu".
Fiquei em choque. Só podia ser engano. Pedi para ele confirmar o número que tinha passado o recado. Era o número da Cris, a amiga em comum que tinha me ajudado a conseguir o telefone da Denise poucas horas antes.
Gelei.
Dessa hora em diante, a sequência de acontecimentos mudou muita coisa na minha vida.
Acho que nunca senti um baque tão grande pela perda de alguém. Nem quando morreram minhas avós - porque estavam velhinhas, uma estava doente. Por mais que doa, vc sabe que, uma hora ou outra, esse dia chega.
Mas a Denise tinha 25 anos. Flor da idade, cheia de planos. E foi a primeira vez que perdi alguém tão próximo, tão jovem e de maneira tão brutal.
Um acidente de carro ainda mal explicado, em que uma criatura pegou o carro de uma médica do estacionamento do Sabará e saiu pra balada.
Chovia no momento. Uns dizem que uma carreta perdeu o controle e fez um L na pista, atingindo o carro. Outros dizem que o cara que estava com o carro da médica fez uma ultrapassagem proibida e jogou o carro da Dê debaixo da carreta.
Difícil saber o que aconteceu.
Mas, dentro de mim, alguma coisa mudou. A morte passou a ser uma hipótese muito real. Desenvolvi um medo gigante de dirigir. Mesmo porque não adianta vc ser prudente se o cidadão que vem no sentido contrário não o é.
Ainda não consigo acreditar no que houve. Não acho que a ferida vá cicatrizar tão cedo. Ainda entro no facebook e procuro a bolinha verde da Dê no bate-papo. E ela, agora, não fica mais online... Mas ainda parece uma história que não acabou.
E a gente faz o que? Pede justiça? Justiça de quem? Reclama com Deus?
A verdade é que algo mudou dentro de mim, na minha perspectiva de vida. E passei realmente a questionar o que é importante ou não.
Não perco mais tempo com pessoas que não significam nada para mim. Ao contrário, quero dedicar um tempo cada vez maior a quem eu quero bem, e a quem me quer bem, e viver com eles todos os dias que me restam, e que restam a eles. Seja uma semana, sejam décadas.
O tempo é curto, está correndo, e uma hora acaba.
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Mãe
Neste Dia das Mães, vou usar um texto do Drummond que eu li para a minha mãe quando minha avó morreu.
Perder a mãe deve ser dessas dores que não dá pra explicar. Por isso, curto a minha mãe a cada momento, sempre.
Dou beijo, abraço, faço cócegas. E hoje será mais um dia desses, cheio de cócegas e risos e beijos e abraços.
Agora, além de ter mãe, sou mãe. E isso muda a perspectiva de tudo. Então, deixa-me curtir meu dia :)
Para Sempre - Drummond
Por que Deus permite que as mães vão se embora? Mãe não tem limite, é tempo sem hora, luz que não se apaga quando sopra o vento e chuva desaba, veludo escondido na pele enrugada, água pura, ar puro, puro pensamento. Morrer acontece com o que é breve e passa sem deixar vestígio. Mãe, na sua graça, é eternidade. Por que Deus se lembra - mistério profundo - de tirá-la um dia? Fosse eu Rei do Mundo, baixava uma lei: Mãe não morre nunca, mãe ficará sempre junto de seu filho e ele, velho embora, será pequenino feito grão de milho.
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Santos, eterno.
Parabéns ao meu amor, meu Santos Futebol Clube.
Já é um senhorzinho de 99 anos. Mas parece que para ele o tempo não passa.
Parece que foi ontem o ataque dos 100 gols. Parece que foi ontem o time de Pelé, Coutinho, Pepe. Parece que foi ontem que parou uma guerra, que ganhou o mundo. Duas vezes.
Parece que foi ontem que lançou os Meninos da Vila I. Depois os Meninos da Vila II e III.
Parece que foi ontem que vi meu pai roendo unhas ao lado do rádio. Que comecei a me identificar quando via camisetas alvinegras pela rua. Que o coração começou a bater no ritmo do bumbo.
Parece que 1995 foi ontem. 2002, 2004, 2010. Tudo ontem!
Nesse tempo de torcedora, passei de tudo. Orgulho, raiva, decepção, alegria, êxtase. Os sentimentos embaralhados. Chorar de alegria, rir de nervoso, xingar amando. Rezar como se Deus tivesse algum poder sobre fazer a bola entrar no gol ou não.
Passei de tudo nesses anos. Só não passou o amor. Antes, só aumentou. Cada dia mais!
E sabe por que tudo parece que foi ontem? Por que ele faz 99 anos, mas não envelhece? Não adoece, não perece? Não aparenta a idade quem é eterno.
(A charge foi gentilmente cedida pelo grande RPN!)
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Blogagem Coletiva em repúdio ao mau jornalismo esportivo!
Nós, blogueiros e torcedores santistas, estamos coletivamente por meio deste texto postado de forma conjunta em nossos espaços virtuais de discussão, deixando claro o nosso repúdio e nojo com a maneira que está sendo tratada a possível saída do jogador Paulo Henrique.
Estamos enojados com a enxurrada de notícias que não se concretizam da saída do jogador para o Sport Clube Corinthians Paulista. Não pela possibilidade da transferência acontecer, e sim pelo grande número de “furos” noticiados de forma irresponsável.
Não temos a pretensão de ensinar alguém a fazer jornalismo. Temos a intenção sim, de pedir aos jornalistas ou não que trabalham no meio que sejam, minimamente, éticos e profissionais.
Quantas vezes as notícias de saída do jogador já foram desmentidas por procuradores do jogador, pelo assessor do jogador? Quantas vezes o jogador “esteve negociado com o Corinthians” e veio publicamente desmentir tal notícia? Quantas vezes, na saída de campo, os repórteres e outros profissionais deixam de abordar detalhes do jogo, para falar em transferência do atleta?
Não somos bobos. Todos sabemos que, assim como nós, jornalista veste camisa e torce para time A, B ou C. O que, na função de telespectadores e ouvintes, não nos interessa. O que nos interessa é a veracidade do que é noticiado e a forma que isso é tratado.
Estamos cansados de “tivemos a informação”, “uma fonte contou”, “um ex-diretor do clube disse”. Que informação? Que fonte? O jornalismo preza pela proteção da fonte, porém, preza também pela apuração dos fatos de forma correta. E seja na faculdade de jornalismo, seja na vida, vamos aprendendo que sempre é necessário ouvir os dois lados da situação.
Porque o “sim de Ganso” é destaque nos sites, capa de jornal, tema central de discussões de programas de rádio e TV e a resposta do presidente do clube vira canto de página e rodapé de programa? Resposta esta que é a mais importante, pois devemos lembrar aos nossos nobres jornalistas que, o jogador Paulo Henrique Ganso tem contrato vigente com o Santos até o ano de 2015 e que nessa relação profissional, o jogador só sai mediante pagamento da multa, conforme valores estipulados em contrato.
Trocando em miúdos. De nada adianta o jogador se acertar com presidente de clube A ou B, se o clube não pagar a multa. Creio que não precisamos lembrar disso a alguns dos nobres jornalistas, pois eles detêm essa informação até com mais detalhes que nós.
O que nós, blogueiros torcedores do Santos EXIGIMOS é ética.
Exigimos que o jornalista, antes de escrever uma matéria, esqueça que ele tem no coração um time e lembre que ele tem nas mãos o poder de formar opiniões. Esqueçam se eles têm desavenças com essa gestão do Santos e simpatia pelo antigo presidente – e não reputamos a ele nenhuma culpa sobre os incidentes, que fique claro – e lembrem que são profissionais pagos para noticiar de forma correta e verdadeira. Isso nós como leitores, ouvintes e telespectadores EXIGIMOS de vocês e dos veículos que os contratam.
Pois lembrem-se vocês que, o torcedor, baseia-se na opinião escrita e falada por vocês para formar a opinião dele. E se, vocês jornalistas, distorcerem um fato, formam opiniões distorcidas, que não são condizentes com a verdade. Até quando vocês, na função de formadores de opinião, irão continuar gerando um clima de insatisfação e de desconfiança do torcedor com um atleta, com informações que não se confirmam?
Em um momento do país onde vemos a violência banalizada, inclusive no esporte, exigimos que haja a responsabilidade na publicação de uma notícia e na formação da opinião do torcedor.
Exatamente por entendermos esse momento nós, blogueiros, estamos pedindo a todos os torcedores santistas, para que não promovam qualquer tipo de protesto, retaliação ou cobrança excessiva ao jogador Paulo Henrique Ganso, mesmo que esteja havendo uma tremenda irresponsabilidade na divulgação de notícias informando a possível saída.
Pedimos para o torcedor santista que, enquanto o jogador vestir a camisa do Santos que ele seja tratado como profissional que é. Que receba os aplausos e as críticas quando merecer e não pelo que for imputado a ele. Já que ele, em nenhum veículo, disse até o momento que jogaria pelo Corinthians, pelo contrário.
Pedimos também ao torcedor santista que repudiem veículos que, sempre em vésperas de jogos decisivos, têm aparecido com notícias vinculadas a saída de jogadores. Desde o ano passado vivemos isso com o Neymar e agora de forma mais abrupta com o Paulo Henrique. Há veículos que tem tratado o assunto de forma séria, seja em rádios, seja em televisão aberta ou fechada, seja na internet. Procurem estes veículos, informem-se com outros torcedores santistas sobre quem está tratando o futebol de forma ética. Certamente, o torcedor chegará a conclusão e saberá distinguir os bons e maus profissionais.
Sabemos do tamanho do recalque que há de alguns profissionais de comunicação e veículos em ter que admitir que o Santos Futebol Clube é gigante e ultrapassou as fronteiras da cidade, do país. E vemos, no trabalho de alguns deles, que esse recalque vira distorção e mau jornalismo.
Respeitamos o direito e a opção profissional do atleta, caso ele deseje e decida sair do clube. Queremos apenas que ele continue cumprindo com suas responsabilidades enquanto atleta do Santos Futebol Clube e que, se desejar sair, que seja pela porta da frente.
O torcedor do Santos Futebol Clube não agirá de forma imbecil nem contra o jogador, nem contra os péssimos profissionais a quem nos referimos nesse texto. Somos diferentes.
“Uma mentira pode dar a volta ao mundo... enquanto a verdade ainda calça seus sapatos”. - Mark Twain .
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Sobre bullying e o assassino do Rio
Sempre fui a mala da classe. CDF, como se chamava na minha época.
Não me conformava em tirar qualquer nota que não fosse um A.
Não puxava o saco de professor, mas devo admitir que era, sim, esperta.
Nunca fui de florear caderno, minha letra é péssima até hoje e não mantinha as aulas completamente anotadas. Mas prestava muita atenção no que o professor falava, compreendia e não precisava - exceto raras vezes - mergulhar nos cadernos antes das provas.
Eu simplesmente aprendia as coisas. Era boa nisso.
Havia meninas boas em esportes. Eu era uma boa jogadora de handball. Só. Havia as meninas bonitas, as populares, as engraçadas.
Eu não era nenhuma dessas. Eu era boa nos estudos.
E foi aí que começou meu sofrimento na escola. Enquanto criança, apanhei das meninas chamadas populares. Apanhei, fui ridicularizada e nunca revidei. Não sei exatamente porquê, mas nunca revidei.
Tinha bronquite mas, mesmo assim, elas me jogavam na grama molhada, para ver eu piorar.
Não "ficava" com os meninos porque os achava idiotas. E muitos eram, mesmo. E transformaram-se em homens idiotas, também.
Reunião de pais era meu suplício! As professoras se rasgavam em elogios para mim e diziam para as mães das outras que elas estavam devendo. Adivinha o que acontecia no dia seguinte...
Minha defensora era minha irmã mais velha, a Paula. Muito inteligente, a Paula nunca foi de tirar grandes notas. Ela tirava o essencial para passar. Era o jeito dela.
Nunca foi reprovada, pelo contrário. Passou pela faculdade de engenharia melhor do que eu passei em jornalismo, sem sequer uma DP. Eu ainda fiquei em DP em projeto, depois de me desentender com um professor.
E a Paula era a engraçada da turma. A encrenqueira, aquela que só tinha amigos meninos, e todos a adoravam. Eu, inclusive.
Pois eu apanhava calada enquanto a Paula se pegava de tapa com as minhas agressoras.
Sempre foi assim. Com isso, fui me afastando da "turma". Guardei uma amiga dessa época. Só. Até hoje, meus amigos contam-se nos dedos de uma mão. E o resto não faz falta.
E porque eu lembrei disso agora? Ora, não está óbvio?
Agora está na moda falar em bullying. Palavra recente.
E eu, como vítima que fui, não venho aqui defender quem sofre o tal do bullying. Pelo contrário.
Sofri porque não tinha forças para revidar. Apesar da minha irmã dizer que eu precisava deixar de ser otária, só compreendi isso mais tarde.
Hoje acho que deveria ter revidado. E é o que tento passar ao meu filho!
Digo a ele que procure não começar uma briga. Não bata antes, mas também não apanhe!
Não agrida ninguém! Mas, se uma outra criança agredi-lo, primeiro fale à professora. Se não resolver e a agressão tornar a ocorrer, devolva sem dó. E deixe a diretora me chamar.
Não sei se estou certa ou não na recomendação. Mas não quero vê-lo passar o que eu passei.
De toda forma, aprendi a me defender, mas nunca pensei em sair por aí atirando em quem me humilhou. Por isso, não joguem no tal do bullying a culpa pelo terrível acontecimento no Rio.
Aquelas crianças foram mortas por um maluco que iria fazer isso de qualquer jeito. Nós é que ficamos arranjando motivos para compreender uma mente como aquela.
Ele só precisava de uma razão, e ela podia ser qualquer uma: religiosa, o bullying, um espinho no pé, qualquer uma. Cabeça doente não tem explicação.
Agora, sinto pelas mães que tiveram seus filhos arrancados e nunca entenderão o porquê. Não têm um vilão para caçar, já que o algoz está morto. Não têm justiça a pedir, porque simplesmente não havia o que ser feito para impedir. Não há quem culpar.
Difícil dizer se o rapaz era mau ou louco. Mas "normal" certamente ele não era. Não fosse louco, talvez fosse incapaz de controlar seus instintos.
Sim, porque temos instintos, somos animais. Psicanalistas já disseram que basta ser humano para ser assassino em potencial. A única trava que temos é que somos animais com consciência. E é aí que o bicho pega.
Talvez seja necessário, apenas, que tenhamos mecanismos de reconhecer essas pessoas antes que elas façam essas loucuras. Deve haver algum indício, rastros na internet, comportamentais, que indiquem que são pessoas que precisam de cuidados. E sejam observadas antes. Mas isso foge do que sei, que fique para os estudiosos do assunto.
De toda maneira, seja pelo motivo que for, mães estão enterrando seus filhos hoje. Eu sempre digo que mãe e pai não nasceram para enterrar seus filhos. Não é a ordem natural das coisas. E, por isso, a dor deve ser tão incomensurável.
A elas, não digo nada. Porque não adianta dizer, não há o que ser dito. Guardarão seu luto quietas, ao coração faltará um pedaço até o resto de suas vidas. E não há o que mude isso.
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E não é que vai ficar pior do que tá?
Tiririca lidera as pesquisas para deputado federal em SP.
Ok. Não sei se é pior ler isso ou saber que o Maluf também "tá lá" com o palhaço.
Agora, recapitulando.
Ouvindo diariamente o horário político na hora do almoço já vi que na zona cabe de tudo. A fauna é bastante diversificada.
Tem o que "tirou o imposto do SEU sapato", com ênfase. Tem o candidato das academias de ginástica. Tem o candidato dos passarinheiros - afinal, chega do Ibama pegar no seu pé!
Tem o Batoré (paaaara, ô), tem o Kiko (ou o Leandro, sei lá) do KLB. Tem a Simony dizendo que é mulher e mãe de família... E tem o Maguila, para dar porrada em não sei o quê...
E tem os de sempre, e não sei o que é pior...
Isso fora a Mulher-Pera e a outra, cujo número é qualquer-coisa-meia-nove e o slogan, "vote com prazer". E a que aprendeu tudo com o Enééééas!
É todo mundo querendo tirar uma lasca, afinal a bagunça é institucionalizada. A bandalheira pode, a ridicularização do chamado "processo democrático" pode, só não pode chamar vossa excelência de palhaço, porque daí é quebra de decoro!
Fica cada vez mais evidente que as pessoas realmente sérias não querem sujar as mãos, e querem é distância da política. Os que existem são poucos, e difíceis de identificar.
Pensei que as redes sociais fossem cumprir um pouco esse papel, de mostrar o caminho para quem tem dúvidas. Mas eu, por exemplo, continuo com uma interrogação na cabeça!
Isso me lembra aquela frase do Luther King: "o que mais preocupa não é o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem-caráter, dos sem-ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons."
Nota de rodapé: soube que Waldemar da Costa Neto está "estrategicamente colocado" para entrar pelos votos do Tiririca. Palhaços somos nós...
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Os políticos e as fraldas devem ser trocados frequentemente, e pela mesma razão.
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