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Crise de desemprego no Brasil tem conexões com mercado aberto e história mundial
“Escorregões” na compra de títulos levaram o país à uma crise quase iminente
Por Caroline Paulart, Marjorie Coelho e Gilberto Stori jr.
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Ledo engano daqueles que creditam a culpa da crise financeira e da falta de empregos apenas à má administração do dinheiro público e políticas públicas insustentáveis. O problema vai além e tem abrangência mundial. Em um país com 13,5 milhões de desempregados, dado apresentado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no final do mês de março, é importante se atentar aos fatos históricos que contribuíram para esse fato.
“Essa grande crise foi causada pelos Estados Unidos, ainda na época da venda das hipotecas, o Sub-prime, que envolveu pessoas que não tinham mais crédito nos EUA para adquirir bens e serviços e dar a casa como garantia. Como todas as hipotecas já foram vendidas, eles então venderam para pessoas inadimplentes no Banco Central Americano, que pegaram empréstimos gigantescos e deram as suas casas como garantia”, é o que conta o economista e professor de Matemática Financeira e Estatística Edmundo Pozes.
Essas casas em questão não foram verificadas, pois a abundância de crédito não fazia com que isso fosse necessário. Os bancos pegaram os contratos dessas casas e colocaram à venda no mercado de ações com titulação de confiabilidade máxima, o chamado “Triple A – AAA”, onde vários países adquiriram os títulos, inclusive o Brasil. “Quando chegou a época de cobrar as hipotecas, não tinha mais recursos, pois as pessoas que estavam devendo não pagaram e entregaram as casas. Houve então uma inundação de ofertas de casas que não valiam nada”, diz.
Ainda de acordo com o professor, o mundo que pagou pelas hipotecas, pois os americanos não devolveram esse dinheiro. Houve uma retirada de recursos do mercado financeiro na ordem de 13 trilhões de dólares. Alguns bancos, empresas de seguros, grandes empresas americanas quebraram e o governo americano deu 3,8 trilhões de dólares para que os bancos não quebrassem mais ainda.
De 2008 até agora os países do mundo todo atravessam essa recessão, pois o dinheiro que estava disponível como crédito foi sacado das contas. Se o Brasil vive hoje uma onda de desemprego, ele é dado principalmente porque não há mais exportação como antes, apesar do dólar variar agora na casa dos R$ 3,20, ainda não existe mercado para os produtos e serviços brasileiros. Essa recessão mundial é a mesma a qual o ex-presidente Lula se referiu como ‘marolinha’ aqui no Brasil, mas na verdade foi um furacão no mundo inteiro.
“É importante saber que são 13,5 milhões de pessoas que procuram emprego ao mês nas agências do SINE em todo o país. Na verdade, a taxa de desocupados no Brasil, que incluem pessoas que acabaram de entrar no mercado e aquelas que já desistiram de uma recolocação está batendo na casa das 20 milhões de pessoas. Isso é muito mais grave do que aparenta ser”, diz o professor Edmundo.
Um dos atingidos pelo desemprego é o motorista Marcelo Cordeiro, 36, que há dois anos não tem um serviço com carteira assinada. “Já fui chamado para três entrevistas de emprego nesse período. O mercado está cada vez mais seleto, e é difícil de conseguir se tornar efetivo. Tive que procurar alternativas para conseguir dinheiro, como vender doces, algo completamente diferente do que eu fazia antes”, conta.
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Segundo dados do primeiro trimestre de 2017, apurados pelo IBGE, o número de pessoas que assim como Marcelo procuram se arriscar no mercado informal, seja na oferta de produtos ou de serviços, já está em 22,2 milhões. O mesmo levantamento mostrou que o número das pessoas que trabalham no setor privado sem carteira assinada apresentou aumento de 531 mil pessoas a mais do que no primeiro trimestre de 2016, ficando em 10,3 milhões.
Em contrapartida, a pesquisa mostrou que a iniciativa privada diminuiu os postos de emprego com carteira assinada em 1,1 milhão, se comparado a março de 2016. Ainda assim, esta é responsável pelo emprego de 33,7 milhões de pessoas, onde 4,1 milhões de pessoas são empregadoras, o que aponta para o saldo positivo de 359 mil pessoas a mais do que foi registrado no início do ano passado.
Segundo o sociólogo César Lima, o trabalho tem uma representatividade muito forte na vida de uma pessoa, já que traz consigo a identidade individual, familiar e coletiva daquele sujeito. “Sem emprego não há estrutura familiar que se sustente com o tempo. O desemprego afeta a estrutura de conivência social do ser humano. Existem hoje direitos que asseguram um sustento ao trabalhador durante determinado tempo, mas aquilo tem fim. Vejo hoje que a sociedade brasileira parece estar deprimida em face da profundidade da crise econômica, política e moral que se instalou particularmente no interior das instituições públicas. ”
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Especialistas desempregados
O desemprego também está presente no nível superior e especialização. “Houve uma restrição por parte das indústrias, que encolheu muito por causa da tecnologia, da robotização e também pela própria concorrência mundial, que diminuiu bastante o número de pessoas. Hoje a economia primária, que é a agricultura aumentou, e na parte que existe uma disposição maior para a oferta de emprego, que é a indústria, existe uma necessidade de investimento”, constata o professor Edmundo. Incisivo, ele ainda acredita que enquanto não houver um aumento na produtividade e maior espaço no parque industrial, essa crise, principalmente com a mão de obra especializada, não irá melhorar.
Já o sociólogo César, acredita que o Brasil passa por uma época de revolução estrutural e informacional das sociedades caracterizadas sob o modo de produção capitalista. “O aumento da produção de riquezas não significa o aumento da oferta de vagas no mercado de trabalho. Não é possível emprego para todos a não ser que a sociedade e o Estado redefinam o próprio conceito de trabalho. Estamos vivendo a crise da sociedade do trabalho, principalmente, o tipo de trabalho industrial com carteira assinada. Contudo, é plenamente possível redefinir a categoria trabalho”, pondera.
Outro obstáculo enfrentado por pessoas com nível superior é a idade. Esse é o caso de Josiane dos Santos, que aos 50 anos possui um extenso currículo como coordenadora e professora acadêmica pedagógica. Em dois anos como desempregada, ela já passou por mais de 20 processos seletivos e não foi aprovada. “A concorrência fica mais acerada por causa da crise, mais a questão da idade também conta muito. Fico surpresa com a visão empresarial de hoje principalmente na educação uma área que quanto mais velho maior sua experiência, hoje já não é mais assim. Poucas instituições pensam assim”, diz Josiane.
Esse é um dos temores da população causada pela Reforma da Previdência, por exemplo, que para a aposentadoria pelo INSS irá exigir 49 anos de contribuição. “Temos que ser sinceros que hoje as empresas já enxergam pessoas com 45 anos de idade como inaptas às mudanças de mercado, apesar delas já estarem maduras, possuírem experiência e um grau intelectual bastante elevado, esses requisitos não são levados em conta. Fico imaginando como uma pessoa irá conseguir trabalhar dos 16 aos 65 anos compulsoriamente, para conseguir desfrutar de apenas sete anos de aposentadoria, visto que a expectativa de vida média do brasileiro é de 72 anos”, explica o economista.
César, o sociólogo, também comenta sobre a Reforma. “O país possui algo em torno de 23 milhões de aposentados. Destes, algo próximo de 20% consome mais de 70% dos recursos da Previdência. Mais da metade dos aposentados recebem até três salários mínimos. Esse valor jamais quebraria financeiramente o atual sistema previdenciário. A contradição está na elite que recebe os maiores salários da previdência é mesma que vive 70 anos ou mais. ”
Situação econômica desfavorável prejudica toda a comunidade
A situação econômica do Brasil não deixa apenas a sua população desfavorecida, mas também influi na falência e pedidos de recuperação de empresas. Segundo dados da Boa Vista SCPC, apesar do recuo de processos de falência abertos em 2017, o número ainda é bastante alto, especialmente na micro e pequena empresa, responsável por 88% dos pedidos de falência. As médias empresas representam a fatia de 11% e as grandes empresas de 1%.
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A recuperação judicial, medida adotada para evitar a falência, foram na pequena empresa de 93%, na média de 7% e não houve registro de grandes empresas. As indústrias lideram o pedido de falência e as empresas de serviços os pedidos de recuperação judicial.
“Na economia chamamos de crises cíclicas, a cada 11 ou 13 anos temos uma crise, que começa na depressão, os primeiros passos para um avanço, crescimento e uma ‘estabilidade temporária’, até a próxima crise, foi assim nos últimos 100 anos”, explica o professor. Ainda segundo ele, no mundo capitalista a região, ou pólo, que se destaca é onde o capitalismo investe, as grandes empresas e o poder econômico se encontram. “Hoje há muito dinheiro sobrando no mundo, só que ele é investido em ações, que geram mais dinheiro de forma mais rápida e rentável. É muito melhor aplicar no mercado financeiro do que arriscar montando ou financiando uma empresa”, conclui.
Assim acontece a concentração de renda em determinada classe, e a má distribuição de renda, o que pode aumentar a criminalidade. Segundo levantamento feito pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), feito ainda em 2016, para cada 1% de aumento na taxa de desemprego, o índice de criminalidade pode subir até 2,1%, sendo esse um reflexo de miséria que a população vive.
A crise e a miséria foram um dos fatores apontados pelo sociólogo para o Brasil deixar de ser atrativo para os imigrantes nos últimos dois anos. “Em geral, muitas pessoas oriundas de países da América Latina e Central têm aportado no Brasil. Os trabalhadores estrangeiros instalados no país, em especial, os haitianos e os bolivianos, são vítimas de muitos preconceitos pois são vistos como ameaça e concorrentes no mercado de trabalho. ” Para ele, ainda, os imigrantes acabam se sujeitando a aceitar vagas de trabalho que os brasileiros não querem desempenhar, em condições adversas.
Porém, segundo a Polícia Federal o número de estrangeiros vivendo no Brasil subiu 160% nos últimos dez anos (2006-2016). O maior número de são de haitianos, bolivianos, colombianos, argentinos, chineses, portugueses, paraguaios e norte-americanos. Ainda assim o Brasil conta com 26 mil pedidos de refúgio em análise, pedidos esses que não param de chegar e contam com a avaliação do Comitê Nacional para Refugiados (Conare), Polícia Federal e também de ONGs que atendem refugiados e são vinculadas ao programa.
“Pode soar perverso, mas analisando a crise que estamos passando, receber toda essa população no Brasil não foi um bom negócio, no aspecto econômico. O gesto foi humanitário, mas isso mexe com toda a estrutura econômica”, alerta o professor Edmundo.
Confira o drama de quem está a procura de emprego:
youtube
https://www.youtube.com/watch?v=2TeWplp2Ck0
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