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PIROMANCIA
A luz quente e forte irradiava por todo o lugar. Demorei para abrir os olhos, na tentativa de me acostumar com a claridade daquele sol jovial. Quando consegui definir a visão e perceber o que me rodeava me veio o primeiro pensamento: onde estava?
Ao meu redor havia um céu azul límpido, muito verde e árvores frondosas. Passei a mão pela cabeça tentando alinhar os pensamentos e me assustei. Meu cabelo antes cortado bem curto e tingidos quimicamente de loiro natural, estavam impressionamente na altura dos ombros e bem revoltos. Calma, calma, calminha.... Respira e expira. Conte até 10.
Precisava de um cigarro. Passei a mão pelo corpo atrás de algum bolso, mas.... Nua.... Estava como vim ao mundo, completamente nua, no meio do mato e sem.… cigarro? Aquilo não estava acontecendo comigo. Quem fez isso? Fui sequestrada? roubada? estuprada? Não conseguia me lembrar. Olhei ao redor como se a explicação estivesse no chão, ou quem sabe na loucura, só estava atrás de algum cigarro mesmo.
- Vejo que já começou a apreciar a paisagem...
Me assustei com a aparição repentina da pessoa, dei um grito abafado e acabei pulando de tanta surpresa. Um homem angelical, com feições femininas e meio baixo surgiu do nada. Ele estava vestindo uma túnica branca, sorria complacentemente e parecia muito bem colocado naquele lugar, enquanto eu... pensei em xingar, mas não saiu.
- Q... Q... Q... – Não consegui construir uma frase conexa.
- Desculpa, vim lhe guiar por esse local sagrado. Já percebeu o seu privilégio?
- Quem é você? – A frase enfim saiu definível por entre meus lábios.
- Sou o anjo zelador do jardim, é claro. – Estava começando a perder a paciência.
- Isso aqui é um jardim? – Falei com certo desdém, por que aquilo estava bem longe do que conhecia como aqueles lugares bem cuidados. Parecia uma selva livre e sem planejamento.
- Este é o jardim do éden... – Interrompi sua explicação com minha risada debochada.
- Você deve estar brincando comigo. Que palhaçada é essa? - O lugar que eu sempre achei que seria mandada direto é para o inferno e agora vem essa piada de mal gosto... - Jardim do éden? Francamente...
-Trouxe roupas caso queria tampar suas vergonhas.
- Só carrego orgulho, obrigada. Eu quero saber é como eu saio daqui. – Gritei enquanto começava a caminhar para longe do tal anjo e na busca de uma rua, casa ou qualquer coisa que me remetesse a civilização.
Caminhei um bom tempo até que comecei a gritar por ajuda. Depois de tanto esgoelar percebi que os únicos seres que apareciam eram os animais. Vi todo tipo de animal - lógico que quando surgiu na minha frente um leão, um elefante e até rinoceronte - eu sai correndo, mas eles não pareceram interessados em mim. Surpresa de não ter sido morta ou comida, comecei até a apreciar aquele bonito lugar com inúmeras aves coloridas e muita vida. Será que era verdade o que ele tinha dito?
Caminhando cheguei no muro, ou uma espécie dele, que na verdade era uma relva fechada e cheia de espinho que parecia uma parede. Ele parecia ter uma grande extensão e seguia para dentro das árvores. Fui seguindo na tentativa de ver até onde iria.
Ao longe fui avistando uma clareira que se abria para uma fenda que se esguia no meio do muro natural. Corri para lá, feliz em ter uma perspectiva de saída daquele local. Quando me aproximei, vi que era uma abertura larga e no seu meio uma espada enorme que estava cercada de fogo. Não conseguia crer no que estava vendo. Fiquei um tempo admirada que aquela história poderia ser real. E agora como iria sair dali se aquela espada não parava de girar ameaçando cortar minha cabeça.
Estava matutando formas de atravessar, quando ouvi um movimento do outro lado da abertura. Da paisagem inóspita que tinha, apareceu uma mulher altiva, de pele queimada, três vezes maior que eu e um pouco mais velha. Ela me encarou, como se esperasse que eu falasse algo.
- Oi, tudo bem? Estou tentado sair. Como você conseguiu? – Meio sem graça perguntei e fiz minha cara de por favor e piedade.
- Eu escolhi é claro, minha filha.
- Fácil assim? – Já estava impaciente com o modo de falar das pessoas daqui, pois primeiro aquele “anjo” e agora ela?
- Não, não foi fácil, mas foi preciso. – Pude ver que seus olhos encheram de lágrimas.
- Parece que você sente falta daqui...
- Não da forma que você pensa. É um encargo muito grande a verdade, a vida e as ações. Não reclamo. Sei que cumpri meu propósito.
- E qual foi?
- De tomar minhas decisões, de ter a oportunidade de escolher, de gerar vida e de crescer. Eu sou sua mãe... – Minha cabeça girava rapidamente. Estava de frente da pessoa que eu pensava ser. Então eu realmente estava no jardim do éden. Aquele anjo safado realmente estava falando a verdade.
- Mas que raios está acontecendo aqui?
- Preste atenção, minha filha, você está tendo a mesma oportunidade que eu. Escolha sabiamente. Escolha o desenvolvimento e o progresso.
- Olha não quero ser grosseira, mas a vida é uma droga. Não sei o que você fez de bom para você me dá palpite não. Suas escolhas definiram toda a disgraça que caíram nas mulheres desde então. Eu não te culpo, é claro, mas você tem que entender que se eu puder eu vou fazer do meu jeito.
- Só existem dois jeitos. Eu escolhi não apenas por mim, mas por você meus filhos. Eu sei que os percalços e o que isso cobrou, mas é vale a pena e isso eu posso lhe garantir. Então escolha a oportunidade de errar, de sentir e de amar. Você entendeu?
Queria dizer que não havia entendido. Cheguei mais perto, num impulso automático que foi interrompido pelo movimento da espada que chiou e soltou fagulhas de fogo. Sim, a espada proibitiva existia! Aquele tempo que passei estudando a Bíblia me serviram para alguma coisa.
- Então você está aí? Estive lhe procurando.
O anjo apareceu novamente, tão silenciosamente quanto da primeira vez. Olhei novamente para o outro lado, mas ela já não estava mais lá.
- O que você quer?
- Não seja rude. Quero lhe mostrar o pomar do jardim, pois vejo que já conheceu bastante sozinha.
- Sim, sou uma mulher independente.
- Isso não quer dizer que não possa ter ajuda.
Fui sendo praticamente levada por ele, que segurava 'gentilmente' meu braço. Aquilo foi me dando nos nervos.
- Estou sabendo que para sair daqui só preciso fazer uma escolha. O pomar que você fala é onde estão as árvores que a bíblia cita.
- É sim, e como você ficou sabendo disso? – Ele não parecia tão surpreso assim.
- Não importa. Sim ou não?
- Nada é tão simples e toda ação tem sua consequência, então aja com sabedoria. – Cento e dez palavrões perpassaram em minha mente, porém nenhum conseguiu escapar para responder ele.
Chegamos no meio do pomar. O número de árvores era enorme, porém no meio delas era possível ver aquilo que só é descrito na bíblia. No meio existia 3 fiapos de água que cruzavam o jardim seguindo até perder de vista e entre elas existiam duas árvores. É impossível descrever elas. Uma era toda colorida, com todas as cores da primavera e outono em uma arvore só, e a outra era dourada refulgente, como nunca tinha visto em toda a minha vida. Fiquei sem respirar e tentando entender como aquilo era tão bonito, tão sagrado e me senti mais deslocada do que tudo.
- É aqui que o maior acontecimento da história da vida aconteceu ... – ele começou a narrar. – É que você terá a oportunidade de .... – Eu estava encaixando as coisas na minha cabeça como se fosse um quebra cabeça complicado demais. – Portanto, é preciso que entenda que isso é mais que emblemático é a oportunidade...
Ele nem chegou a terminar o que ele falava tão efusivamente. Uma risada ecoou por entre as árvores. Com um ar carrancudo e com minha curiosidade aflorada, viramos buscando de onde havia saído. Dentre as sombras saiu uma mulher majestosa, nua e com um ar levemente zombeteiro.
- Olha só o que temos aqui... – Ela olhava diretamente para mim.
- Quem é você?
- Não seja insolente. Olhe bem para onde você se encontra. Seja qualquer uma das minhas facetas, sou superior. – Ela ralhou comigo e me assustei com seu ar arrogante, mas não deixei transparecer.
- Como você entrou? – Tive que perguntar.
- Como entraria se nunca deixei esse lugar? – Ela riu.
- Isso não importa para mim. Quero apenas sair daqui.
- Algo que você percebeu que não é tão simples.
- Estava justamente explicando, antes de ser bruscamente interrompido por ... – o anjo bem que tentou continuar.
- Cala a sua boca. – Mandou imperiosamente para o ser celestial que se afastou.
Ela gentilmente me abraçou e me colocou de frente para a arvore dourada. Ela pegou uma folha e foi até o primeiro córrego. Com a folha ela pegou um pouco de água e me disse para beber. Quando eu vi aquelas gotas de água, senti sede. Sorvei o líquido das plantas.
Então eu lembrei.... Lembrei dá dor de ser humana, de ser mulher e de existir. Me lembrei do frio, do calor e da sensação que era o medo, a raiva e o desgosto. Lembrei das limitações que carregava e como me sentia fraca perante elas. Olhei pedindo ajuda e ela estava rindo.
- O que você fez comigo? – Nem conseguia ficar em pé.
- Tudo o que você está sentindo virá se você escolher a mortalidade novamente. E agora que você se lembrou a disgraça que é a humanidade. Quem gostaria de sofrer, ser humilhada, assediada e até violentada todos os dias. Agora você está diante da possibilidade de sobrepujar as fraquezas, sensações humanas e até a morte.
- Você é o diabo?
- Aquela serpente velha e egoísta? Não! Eu sou aquela que sobrepujou os desígnios estabelecidos. Eu sou aquela que decidiu permanecer sobre a luz e suas sombras. Agora você tem a chance de ficar também, entende? Apenas tem que comer do fruto dourado e tudo vai dissipar. Coma e o jardim será seu também.
- O que você pensa que está fazendo? – O anjo voltou e começou a reagir. Não parecia nada feliz. – Você não pode intervir de novo.
Eles começaram a discutir. De um confronto de opiniões começou a inflamar e assustar os animais. Era possível escutar ao longe os gritos. Fui melhorando e me afastando. Já sabia como eu iria acabar com aquilo. A discussão demorou um bom tempo até que eles deram por minha falta.
- Cadê a menina?
- Não era para você tomar conta dela?
- Que barulho é esse?
Um barulho começou a inundar o jardim. Correria, zombarias e tropeus eram ouvidos em todo lugar. Os animais pareciam desesperados. Uma névoa surgiu dentre as folhagem.
- Mas que fumaça é essa?
- Está vindo dali!
Me alcançaram quando eu estava colocando fogo em mais uma árvore.
- Onde você arrumou isso?
- Você ficou louca?
- Peguei emprestado o fogo divino daquela maldita espada e agora veremos se preciso fazer alguma escolha. – Gritei histericamente, enquanto mostrava metade do jardim pegando fogo e se aproximando do pomar.
Geraldo Henrique Júnior
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SOBRENADANTE
Decidi dormir cedo naquela noite. Precisava descansar para as obrigações que me aguardavam no outro dia. Preparei minha cama, afofei meus travesseiros, tomei meus remédios, e por fim, deitei.
O sono não vinha e mesmo assim me mantive firmemente concentrado, com o quarto escuro e as luzes apagadas, para conseguir pelo menos relaxar. Pensamentos chatos da rotina que me aguardava começaram a rodar minha mente. Não deixei eles permanecerem.
Comecei a ficar naquela extensão viva que estava sobre a cama. Me conectei com meu dedão do pé, movimento tão natural para mim. Fiquei naquela conexão e lembrei que existiam pessoas que não tinham mais isso. Meus pés pediam uma atenção melhor. Como estava destratando meus pés. Que vergonha! Eles que sustentavam todo esse meu corpo orgulhoso.
Logo já estava acariciando meu corpo, minhas mãos e meu cabelo. Percebi que tinha um hematoma na minha perna que devo ter conseguido ao acertar desajeitadamente a perna em alguma quina. Nem sei quando pode ter acontecido isso. Como posso ser tão displicente assim?
Aquele carinho e atenção comigo, ajudava a recordar da minha própria importância. Esse sentimento é tão genuíno e verdadeiro. Estava aquecido e feliz.... Algo que não sentia faz muito tempo. Me abraçava e o calor aumentava.
Até meu sexo queria atenção, então o satisfiz. Deixei levar as vontades do meu corpo, penetrando lugares que não havia percebido ainda sobre mim.
Comecei a entender todo o complexo astrofísico e divino que havia em mim. Deixei todo o universo que habitava em mim pulsar. Todas as dimensões orgânicas e atômicas se tornavam nítidas e latente.
Na medida que o prazer aumentava, aumentava meu conhecimento sobre todo esse espaço que ocupava. Deixei estrelas brilharem, que antes estavam apagadas e esquecidas.
Vi planetas solitários e um que era especial, ele tinha vida. Verde, intensa e selvagem. A sua fauna era constituída de árvores imensas que não paravam de crescer em direção aos céus.
Nesse planeta os rios não paravam de correr ao mar e havia chuvas intensas e vigorantes. Eu amava aquele planeta. Era vivido a passividade e inocência. O ar puro era quase transcendental.
Amei aquela existência e quanto mais a intensidade vigorava, maior era o desenvolvimento e desabrochar dele. A vida produzia fauna, flora e continuidade. Via suas raízes firmarem e buscarem aos céus e meu grito de amor em resposta ao seu chamado.
Enquanto tudo se aquietava, um buraco negro se aproximava. Escuro, silencioso e mortífero. Minha respiração ofegante percebia ele sugar lentamente a luz que rodeava. Aos poucos, ele engolia, com sua boca sem fim, toda aquela existência. Observa sem ação serem engolidas estrelas, cometas e luas.
Quando chegou naquele planeta amado, eu já estava mais calmo. Foi uma despedida estranha, contida e dolorosa. Derramei duas lágrimas e um leve suspiro. Não podia fazer nada. O vazio voltou a reinar. Não gostava da parte em que a solidão fazia companhia em meu leito. Virei de lado e fechei os olhos, esperando um novo impacto, uma nova chance ou retornar para um renascer diferente: como a fênix, como um sol ou como algo divino.
Geraldo Júnior
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O pássaro azul
há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo, fique aí, não deixarei
que ninguém o veja.
há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas eu despejo uísque sobre ele e inalo
fumaça de cigarro
e as putas e os atendentes dos bares
e das mercearias
nunca saberão que
ele está
lá dentro.
há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo,
fique aí, quer acabar
comigo?
quer foder com minha
escrita?
quer arruinar a venda dos meus livros na
Europa?
há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou bastante esperto, deixo que ele saia
somente em algumas noites
quando todos estão dormindo.
eu digo, sei que você está aí,
então não fique
triste.
depois o coloco de volta em seu lugar,
mas ele ainda canta um pouquinho
lá dentro, não deixo que morra
completamente
e nós dormimos juntos
assim
com nosso pacto secreto
e isto é bom o suficiente para
fazer um homem
chorar, mas eu não
choro, e
você?
in Textos autobiográficos, de Charles Bukowski, páginas 478/9. Tradução de Pedro Gonzaga. Porto Alegre, L&PM Editores, 2009.
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RADIADO DO RIO-MAR
Andei perdido por um tempo.
Gostei de não ter destino definido.
É bom seguir fugindo das linhas impostas.
E nesse ritmo frenético que tudo se move é fácil se acostumar em ser levado pela correnteza. O que eu não sabia é que o mundo dá voltas...
Olha onde estamos novamente.
Fico nervoso e minhas mãos tremem.
Você sente o mesmo?
Encaro os sentimentos que carreguei comigo
Já te culpei por tudo
Senti e tive ódio
e te amei
Agora consigo enxergar
Você tem o sorriso mais lindo
E o olhar mais perdido que encarei
Queria te ajudar e nem sei como
Onde vai menino do rio?
As canções são sobre você? Escute as novamente comigo...
Vou acompanhar o seu destino
O meu é tão indefinido
Não se preocupe comigo
Menino
Moleque
e bandido
Tive que brigar com Iemanjá por ti
Ela queria te levar pro fundo do seu rio
Não leva não rainha, por favor.
Esse é meu abrigo
Esse é meu destino
Geraldo Júnior
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QUERENA
Levantava com o sol. Preparava o café. Colocava o chapéu e dava de comer aos bichos. Tinha galinha e alguns cavalos. Eles eram minhas companhias. Colhia verduras e legumes. Era ativo e energético ainda para a idade que carregava. A velhice cobra dos anos trabalhados e forçados dos joelhos e das costas.
Hora de lavar o rosto e as mãos para preparar o almoço. É ruim cozinhar para um. Triste comer sozinho. Perco a fome logo. Pego o chapéu e decido ir até a praça que fica no meio da cidadezinha.
Ando devagar. O sol castiga. A respiração é abafada. Não demoro muito e chego lá. Na praça tem árvores que são mais velhas do que eu e que dão uma sombra gostosa. Os bancos são velhos e gastos, mas acomodam os pensamentos do velho.
Vejo que em um banco está um jovem, sento do lado dele.
- Boa-tarde!
- Oi! – Vivem de mal humor esses jovens de hoje.
- Não lembro de você na região...
- Sou sobrinho de dona Jandira. Estou passando uns dias, mas logo tô voltando para a cidade.
Eu entendo. Ninguém quer mais ficar muito tempo na roça. Esses jovens desaprenderam o contato com a terra e com a vida. A perca do vínculo com o sagrado não se perde deixando de ir à igreja, mas deixando de dar valor na natureza.
- Tenho um filho mais velho que você que mora na cidade. Ele já é casado, tem dois filhos. Menino bom, mas está longe para eu ir visitar. Deixa eu te mostrar ele.
Pego a fotografia surrada e velha que carrego para todo lugar. Mostro para ele, que espia um pouco e acena a cabeça. Acho que ele não se interessou. Olho a fotografia e vejo meu coração ardendo de orgulho e saudade. Guardo no bolso com cuidado.
O menino acende o cigarro.
- Quando tinha sua idade eu também fumava. Não sei pra quê... parei em 74 com isso. Graças aos céus meu filho nunca fumou. Isso não faz bem para saúde não. Isso não é de Deus.
Ele virou um pouco de lado. Será que ficou chateado?
- Você já foi no rio? Antes de ir embora voc�� tem que ir lá. Era bom na minha juventude, ele era cheio e vários garotos morreram afogados. Agora não tem metade da quantidade de água que tinha. E nem a quantidade de jovens... todos acabam indo para a cidade atrás de emprego.
- Difícil né? – Ele não sabe o quanto.
A cidade parece que morre sem jovens. Só fica os velhos, o marasmo e o tempo cobrando da gente aquilo que já vivemos.
- Deixa eu te contar uma coisa, eu e a dona Jandira já fomos noivos. – Ri em lembrar disso. Tempo bom! – A gente tava prometido um para o outro, mas aí eu conheci a minha esposa Madalena. Ele se mudou com o pai para fazenda que hoje é do senhor Manoel. A gente ia namorar no pé do rio escondido. Quando a cidade soube ....
Cai na gargalhada sozinho. O menino tinha ido embora. Até engasguei sem graça. Senti falta de Maria. Saudade é o pior sentimento!
Coloquei o chapéu de volta. Fui para casa. Me entreti aguando as plantas e ajeitando a horta.
O tempo passou e o dia se foi. Era noite. Me arrastei para dentro da casa. No escuro é sempre pior lidar com a solidão. Lavei o rosto e as mãos. Orei por aqueles que se foram e deitei.
Geraldo Júnior
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PENHA
Era conhecida na vizinhança por ser “a menina que jogava bola com os meninos”. Minha mãe ficava preocupada com que as pessoas pensavam e toda vez me colocava de castigo, na primeira oportunidade eu fugia. Depois de pular o muro, pegava o tênis do meu irmão, fazia um coque no cabelo, amarrava o vestido entre as pernas e corria para alcançar a molecada.
Quando minha mãe me pegava, era uma surra na certa e depois era colocada de castigo. Tinha que tomar banho, lavar os cabelos e ajudar ela nas costuras. Eu detestava. Se pudesse gostaria de ser como meu irmão e os meninos da rua. Minha mãe falava: - Você é uma mocinha e tem que se comportar como uma.
Não sei quando foi que parei de jogar bola. Não consigo me lembrar o momento em que comecei a preocupar com a minha aparência. Sei que quando me dei conta estava eu tentado ser amiga de outras meninas. Nunca foi fácil para mim. Era uma garota simples do interior que queria ter amizades na escola. Segui os passos das meninas mais velhas.
Comecei a usar vestido florido, passar batom rosa nos lábios, ir à missa nos domingos, e a visitar a feira nos finais de semana com as meninas para falar de garotos e roupas. Nos períodos festivos eu cantava no coral e ajudava minha mãe nas tarefas domésticas, enquanto meu irmão e meu pai trabalhavam. Me faltava algo nessa rotina.
Certo dia, soube que o dono da mercearia estava procurando uma moça para trabalhar. Perguntei pela vaga. Ele falou que se eu quisesse poderia começar no outro dia. Fui falar com o meu pai e ele disse que não, pois era muito nova para trabalhar ainda. Fiquei com raiva pelo tanto que fazia dentro de casa. Preferia trabalhar fora.
Todo domingo de manhã eu acompanhava minha mãe para a igreja. Quando tudo acabou o padre veio até mim e falou que tinha um rapaz que queria muito se apresentar para mim e minha família. Fiquei sem graça. Quem é? Descobri que era um dos moços mais velhos que se mudaram recentemente para a cidade. Todas as moças da minha idade já estavam prometidas. Chegou minha vez.
Ele não era bonito, mas era educado. Vivia falando da cidade grande, se vestia bem e meus pais gostaram dele. E no final das contas era isso que importava, né? Quando dei por mim estavam pensando em casamento e preparando meu enxoval. Quando perguntava como me sentia sobre aquilo tudo, apenas sorria. O que mais eu poderia dizer?
Continuei com os estudos e me dedicava para alcançar boas notas. Fiquei muito chateada quando ele me disse que teria que me mudar com ele para a cidade. E os meus estudos? Ele disse que poderia continuar lá em uma escola melhor. Eu me animei. Era um sonho poder ir para outra realidade, diferente da que estava acostumada.
Então veio o casamento. Tudo foi simples. Teve uma cerimônia com familiares e com alguns amigos. O padre usou palavras tão lindas que naquele momento tive a certeza que estava fazendo a coisa mais certa da minha vida. Seria chamada de senhora. Que coisa linda, agora era como minha mãe.
Fomos para casa. Era estranho estar na casa que você não cresceu. Quando chegamos era de noite e estava com receio. Ele sorrindo me mostrou a casa e me levou para o quarto. Esse é o nosso quarto, ele disse. Não sabia o que dizer. Me encolhi ao seu toque enquanto ele tirava meu véu e meu vestido.
Estava frio e fui pegar a camisola. Queria estar bonita e atrasar um pouco até que o nervosismo passasse. Foi quando senti suas mãos firmes me segurando. Seu peso ficou sobre mim e suas mãos foram me acariciando. Tentei pedir que fosse devagar e que... Não consegui me mexer. Uma dor forte veio e tentei empurrar ele. Não consegui. Comecei a chorar e ele nem escutou o meu pedido para parar. Acho que ele nem se importou. Fiz a única coisa que me veio à mente, eu orei.
Na minha cabeça foram horas que passei naquela situação. O sangue fluiu entre as minhas pernas e ele apenas me beijou e sorriu. Ele estava orgulhoso. Tirou os lençóis da cama e jogou num canto do quarto. Queria dizer para ele que tudo aquilo que foi jogado tinha sido cuidadosamente bordado por mim e pela minha mãe, mas me calei.
Fui para o banheiro, devagar e toda dolorida. Me lavei com água quente e sabão. Chorei sozinha e me perguntei se minha mãe passou por aquilo. Será que era normal? Pensei em Maria, a mãe de Jesus, e entendi o quanto ela era sortuda por não ter tido que passar por aquilo. Cuida de mim, por favor. As dores continuaram e não consegui dormir, mas fiquei caladinha ouvindo o ronco do meu marido. Não sabia disso nele.
Aos poucos fui me adaptando as rotinas domésticas. Tentava arrumar toda a casa para poder ficar livre durante o dia. Comecei a desejar voltar para a escola. Era nova e poderia recuperar logo as matérias. Decidi falar com meu marido e pedir para ele. Seu grito foi tão alto quando comecei que me encolhi. Mulher minha não anda sozinha. Não teve discussão. Não tive reação.
Será que foi a partir desse momento que tudo deslanchou? Eu não sei. Sei apenas que ele começou a reclamar da minha comida. Será que eu não conseguia fazer as coisas direito? Falou do modo que eu passava suas roupas. Sua mãe não te ensinou a fazer as coisas direito? Às vezes ele jogava as coisas ou esmurrava a parede, mas logo ele se acalmava e me tratava bem. Ficava esperando esses momentos tranquilos quando seu humor estava melhor.
Logo veio a notícia que estava grávida. Foi uma festa. Que alegria. Meu pai e minha mãe vieram nos visitar. Fui tratada e paparicada como uma rainha. Tudo que pedia era atendido. Me sentia gorda, cansada, enjoada, mas todo esse carinho compensava.
Quando meu menino nasceu, eu pensei que teria que me desdobrar e virar várias de mim. Ficava entre atender as necessidades da criança: dar de mamar, dar banho e fazer dormir; e as vontade do marido. Tinha que limpar a casa, fazer comida e ainda estar preparada para quando ele chegasse do trabalho. Ele reclamava de tudo. Não aguentava o choro do bebê. Não aguentava meus pedidos pelas coisas que precisavam em casa.
Parece que as coisas não estavam indo bem. Tente conversar com ele. Fui mandada ficar quieta, pois não entendia nada. Eu assenti e me calei mais uma vez.
O dias iam passando e o cheiro de álcool começou a aumentar em suas roupas quando ele voltava da rua. Todo dia o horário que chegava era mais tarde que o anterior. Perguntava o motivo dele demorar e me deixar sozinha e ele brigava. Para tentar amenizar a situação relevava e o acalmava para não acordar o bebê. Nem percebi quando começaram os tapas e xingamentos. Foram aos poucos e eu estava mais preocupada para que tudo volta-se ao normal, mas nem sabia onde isso se encaixava.
Tentei falar com minha mãe. Precisava de conselho, de como agir. Não sabia o que precisava de mim para que essa situação melhorasse. Ela apenas me disse para obedecer a meu marido e tentar ser uma boa esposa. Não era o que estava fazendo? O que fazia de errado?
Certo dia ele chegou muito nervoso e começou a gritar. Fui conversar com ele e sua mão foi direto no meu rosto. Fui pega de surpresa e cai no chão. Os chutes vieram em seguida. Nem soube como me defender. A última coisa que me dei conta foi do choro do bebê. Dessa vez não consegui me levantar para acalentar ele.
Acordei no hospital. Tudo tão branco, tudo doía, nem conseguia respirar. Dois policiais entraram e me perguntaram o que aconteceu. Comecei a chorar. Poderia responder, mas o que seria de mim?
Ele me encaravam, dois homens, esperando minha resposta que era tão longa que ficou engasgada na garganta.
- Cadê meu filho? – perguntei.
- Fique tranquila senhora, ele está bem.
Analisando tudo que passei, me perguntei: Será que está mesmo?
Eles insistiram: - De quem é a culpa senhora pelo que lhe aconteceu?
Chorando respondi: - A culpa é de todos!
Geraldo Júnior
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ONOMATOPOESE
Como uma sina semanal procurava sentar nos últimos bancos, orava baixinho e tentava ser comportado. Meu nome era dito como exemplo pelos adultos. As crianças não tinham paciência com o meu jeito, acredito que era precoce a ponto de ser afastado das brincadeiras. A simplicidade também não colaborava para ter oportunidades e aberturas entre as divisões internas e políticas. Eu fazia parte da casta baixa - da menos esperada, porém aquela que mais precisava de atenção.
Entre as paredes brancas, os abraços eram calorosos e os afagos quentes eram os melhores. Apesar de ser minha casa e considerar todos minha família, me sentia deslocado e perdido. Tudo que acontecia parecia ser longe e distante para mim.
Quando a música era tocada e os hinos entoados esquecia de tudo. Meu coração se elevava junto com todas as vozes. Meus problemas eram esquecidos e me sentia pertencente. Sabia a letra de todos os hinos e cantava com alegria e gratidão. Quando o hino acabava tudo que era ruim voltava.
Quando terminava e todos se levantavam para se cumprimentarem e trocarem uma ou duas palavras, buscava ficar distante. Ficava nos fundos olhando as imagens, quadros e o jardim. Lugares silenciosos e tranquilos.
Até que ele, em um desses momentos, me chamou. Falou que tinha percebido o quanto eu gostava de música e se eu queria aprender a tocar nela. Nunca fiquei tão feliz. Então ele prometeu me ensinar.Fui seguindo ele até o fundo onde ficava todos os instrumentos guardados.
Ele era tão bom e estava tão grato. Tinha uma mistura de saber que fui notado e a chance de aprender algo que gostava. Fui elogiado por ser um bom garoto. Fui abraçado e acolhido, mas tinha algo estranho em tudo aquilo. De primeiro eu não quis notar. Como poderia duvidar de meu líder, irmão e pai. Como?
A cada vez que ele chegava perto meu coração batia, será que era amor? Toda vez que ele falava perto do meu ouvido sentia gelar meu corpo, será que isso era pecado? Quando ele apertava minhas roupas com suas mãos quentes, ficava com medo.
Até que um momento ele me mandou ajoelhar. Eu obedeci. Faria tudo que ele mandasse. Olhei para o alto e vi o homem santo que ele era. O que estava acontecendo?
Pelo menos ele parecia feliz. Isso deveria ser algo bom. Não parecia, mas... Ele abriu suas roupas e me indicou o que fazer. Enquanto seu corpo arqueava e enrijecia, ele me abençoava. Suas mãos me falavam coisas boas.
Mas quando estava acabando e sorvendo o mel. Quando o calor do seu corpo parecia fogo do inferno, percebi que ele colocava uma maldição em mim. Soube que havia perdido meu nome ali. Foi naquele instante que percebi que perdi algo que eu não sabia o que era, mas que sentiria falta pelo resto da vida. O único exemplo que veio em minha mente foi Madalena, mentalizei todas as pedradas que a vida me daria.
Ele pediu para eu não contar para ninguém. Para que eu faria isso? Tinha perdido tudo ali e para que diria isso para alguém? Olhei para o alto e vi a imagem santa olhando para mim, acho que ela chorava. Eu lancei um olhar questionador e acusador: e agora? Já sabia a resposta. Sabia qual era meu lugar e como fui colocado naquela situação. Vi uma sucessão karmática de culpas e reprodução de violências que um dia chegou até mim.
Abri a porta para sair e olhei novamente para a imagem. Esperei uma resposta. Esperei um conforto. Ela ficou muda, assenti e fechei.
Geraldo Júnior
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NUVENS NEGRAS
Normalmente eu não deixo transparecer. Finjo que está tudo bem, coloco aquele sorriso falso ou cínico nos lábios e continuo em frente. A caminhada é árdua e sofrida. Fui avisado do preço, pois antigos mostraram o exemplo. Minha imaginação me protegeu das condenações internas e externas desse mundo. Imaginava lugares e cenários bonitos para suportar o que me cercava. Chegou a hora de parar de protelar o enfrentamento do que está diante de mim. A realidade dura precisa de um posicionamento adulto o bastante, mas antes é necessário soltar os sentimentos guardados.
Olho para dentro de mim. Me exponho e me deixo levar pelas memórias. Eu sinto uma dor no peito e a deixo crescer. Eu sinto luto, raiva e eu pena. Eu lembro de situações e como elas viraram em laços desfeitos, mortes sem nomes, promessas vazias, no crescimento da violência e em discursos sanguinários. E dói. Eu a deixo agir no meu corpo. Esse sentimento tem nomes, tem história e condutas. Eles vão de encontro a tudo que eu achava impossível. Vejo ela se materializar e matar a esperança que habitava em mim.
Imagino os seres celestes olhando essa balbúrdia toda que existe aqui embaixo e deixando acontecer livremente. E os níveis de loucura, burrice e selvageria continuam a proliferar de formas inimagináveis. A impotência persiste. Procuro entender - no meio disso tudo - as diferenças ideológicas, sociais e até emocionais que cada um possui. Contudo, não consigo entender a perca da empatia, caridade e compaixão. Queimem as bíblias! É mais fácil assim, eu garanto.
Somos todos levados pelo esgoto e lama. Os sentimentos mais podres acabam se acumulando e levados de barriga pela enganação e manipulação. Foi Mariana, Brumadinho e minha terra e minha pátria. Vai a igreja que eu montei em mim. Um templo lindo que eu destruo e queimo por não suportar a direção que o gado santo vai. Eu guardei a estrutura que me mantém. Ainda tenho forças para isso. Fui acusado de burro, inocente, pecador e alienado. Meu mundo foi invertido na tentativa vã de me agarrar aos últimos vestígios humanísticos.
Sinto pelos meus irmãos, por aqueles que nasceram e que irão nascer. Esse é o momento que digo para mim mesmo que não tem mais jeito. Não posso trocar de lugar com ninguém e também acredito que não suportaria. Sei que sou privilegiado e os tiros que rondam não são para mim. Eu sei!
Minha certidão comprova a terra simples que nasci, mas nada se compara com os que vivem na seca e fome estrutural. Seguimos pela regressão do que é sagrado. Os signos consagrados e suas leis divinas foram esquecidas. Como o inferno já possuía meu nome eu não liguei, até hoje. Minha lamúria vai por aqueles que lutaram, idealizaram e sonharam por um mundo melhor. Minhas lágrimas são por aqueles que perderam a vida por acreditarem no melhor e no bom que existe. Meu ódio vai por não ser como eles. Sou fraco. Menino estúpido.
Canalizo tudo e ponho no papel. Amanhã é um novo dia. Um círculo vicioso se reinicia com sangue para uns e glórias para outros. Todos temos uma parcela de culpa. As contas um dia serão reivindicadas. Visto o meu orgulho, o sentimento que derrubou muitos de cima. Encaro o meu lado mais indigno e sustento meus melhores e piores lados.
Da cegueira coletiva que conduz ao comportamento atual me ponho em oposição. E chegará o dia que precisarei erguer as espadas da minha verdade, mas hoje é o dia de apenas sentir as dores dessa existência barata. O pior está por vir. Eu sei e eles sabem também. Guardarei meus livros, meus discos e meus amigos antes que tudo vire cinza. Antes que tudo acabe pela covardia.
Geraldo Henrique Jr.
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O que deixarei no caminho? https://www.instagram.com/p/BqvO4yAnPTy/?utm_source=ig_tumblr_share&igshid=1heed9vgwrzud
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Antes do dia partir... https://www.instagram.com/p/Bp7HXQvHvG5/?utm_source=ig_tumblr_share&igshid=o9dox3l1p1ze
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filho de MARIA
Nasci no período de convergência de todas as mudanças tecnológicas. Tive a oportunidade de ter em minha casa o bolachão, a fita, ver a chegada do CD e carregar com muita felicidade o MP3. Minha mãe gosta de brincar que minha babá foi a TV. Por meio dela, eu tive acesso a mundos que eram impossíveis até para minha imaginação infantil.
Em minha casa, tocava vários estilos de música que variavam entre o Rock, Pop e até a MPB. Minha mãe curtia Cindy, Cher e tantas outras cantoras que cresci me declarando eclético. Mas a Madonna sempre me fascinou de maneira especial.
Enquanto crescia e me sentia estranho dentro de meu corpo e no ambiente que estava inserido, ela me confortava. A Madonna não tinha medo de se expressar. Utilizava o seu próprio corpo e se apropriava de sua existência num mundo que não me aceitava e nem a ela. Ela virou minha heroína.
Minha mãe também era fã dela e quando criança copiava seus passos e me mostrava suas histórias em que sonhava em ser uma superstar. Não sei onde ela deixou esse sonho, mas eu cresci com raiva da minha mãe ter se subjugado e ter aceitado as condições que vi serem impostas a ela. Eu idolatrava a cantora e odiava o fato que minha mãe se perdeu de quem ela gostaria de ser.
A minha revolta era silenciosa e infantil. Não conseguia compreender a aceitação dela e de suas escolhas que também me afetaram. Esperava uma reação, um grito ou um pedido de socorro, mas era em vão. Eu me fechava e recusava diálogos com ela. Me recusava a olhar pra ela. Tive raiva dela.
O amadurecimento chega a porta e com ele a realidade da vida são mostradas. Em momentos de dor nos aproximamos de quem realmente nos ama, e foi dessa forma que comecei a ouvir minha mãe. Conheci sua história e seus temores, que mesmo como filho eu não tinha ideia. Minha mãe me contou o que ela suportou por mim. Vi um pouco de cada mulher nela um pouco de cada Maria. Algumas levaram pedras, outras foram queimadas, existem aquelas que enfrentam o sistema e existem aquelas que lutam a cada dia pra sobreviver.
Aos poucos fui entendendo as batalhas e as cicatrizes que lhe marcaram. Se pudesse eu teria dado minha vida para que minha mãe tivesse a oportunidade de viver numa sociedade diferente. Aprendi a entender como a reprodução da violência ocorre e de que forma ela afeta a vida das pessoas. Não é fácil entendermos a realidade e o enfrentamento diário de cada um.
Continuo fã da Madonna. Ela foi a mulher que abriu o caminho para gays - como eu - e mulheres - como minha mãe - para buscarem seus direitos, mas hoje minha heroína é minha mãe que dentro de casa ela representa toda a força e garra da mulher brasileira vítima do sexismo e machismo dessa sociedade.
Geraldo Júnior
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#atenta https://www.instagram.com/p/BmUSeBCHE9B/?utm_source=ig_tumblr_share&igshid=19n41ttvcq5se
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#dreams #fleetwoodmac https://www.instagram.com/p/BmPn2y9HZy4/?utm_source=ig_tumblr_share&igshid=1lgypv7qtcuz2
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É hora de recarregar. #strong #power https://www.instagram.com/p/BmPN98anSx7/?utm_source=ig_tumblr_share&igshid=1y0yzt0pisb9c
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Deixa a luz do sol entrar. #beautiful #sunshine https://www.instagram.com/p/BmMii-CHSYO/?utm_source=ig_tumblr_share&igshid=zyerii3sv4bo
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