soldados da poesia, escravos da beleza
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Muro
Os dias escorrem, as noites caem, plácidos, esquálidos, outonais. Jornadas sem adjetivos, concisas, cínzeas, plúmbeas, como uma parede chapiscada de argamassa, sem adornos, sem quadros: desprovida de aberturas, de olhos, de bocas. Mouca, surda, muda. Diante dessa parede, quibla ateística, a que se dirigem os escarros dos que em nada creem, nada resta a fazer a não ser contemplar outros muros: da Mauá, de Berlim, da Cisjordânia, da fronteira de um’outra América… Muro de Sartre, talvez. E, de olhos fechados, selar os lábios como quem cola um envelope para o Nada, de uma correspondência sem destinatário, sem conteúdo, sem código postal…
#poesia#lardepoetas#textos#autorais#usem a tag lardepoetas em suas autorias ♡#poemas#poesia autoral#muro#muros#silêncio
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Brancas Horas De Cínzeas Manhãs
Acordo com o chispar de um camundongo numa cozinha que teria sido de mãe, uma coxa muscúlea repousa arrimada à minha, delas nascem, desse conúbio casual, curetes e cabiros, que se põem a dançar pela penumbra diluculada de tulipas luminosas… Refujo à luz, à rotina que me aguarda, já com o gosto amargo do café, arábico até ali, sem a colherada de açúcar de um tímido sorriso…Cirrosa a boca tumulada de saliva e nidor… Nada além de palavra murchas, como plantas secas… Rabujice vizinhando com as horas e olhadas na tela fria do celular, à falta de computador, computo as putativas ameaças beluínas em sua clausura domesticada. E de más escolhas, dubitativo, inerte quedo, de quedas passadas instavelmente erguido. Jarras que me faltam à mesa, colmas de jorros lácteos, espumosas de úberes musais…Dedos em suas asas, bigodes de leite, alviflavos, a encimar sorrisos larengos, enquanto escorrem minutos como gotas de mel sobre manteiga e eu beijo palavras recém-nadas, e proferem-nas, hissópicos latilabros novamente jovens e ainda meus, e ouvem-mas delicadas orelhas, como minúsculos níveos pires, a postos ao café das primas obras …
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Clepsidra
Sem uma história para viver, sem escrever história alguma, o uso supérfluo das palavras apenas lambuza o que se pode ver. Sobram frases, mas sem sentido. Ab-reativo movimento, movo vento, catártico, emético, escavo cáries desobturadas, busco a consciência do que doi permanecente na inconsciência. Para quê!? Para desencobrir, para não seguir repetindo. Faço isso comigo, ou brinco de terapizar o adversário ou o comparsa da vez? Ambos os dois, onde não cabe o nós, onde não temos cabida, cabimento, cabiscaída a face que contempla e arrosta. Escrevo para lapidar, ambíguo, prolixo e refratário, hermes trismegisto, hermético, na impotência de sua omnipotência, lapidárias estetizações e infligidas penas, pedras em fundibulárias mãos… Escrevo, para não ler com clareza. Falo, antes para não me ouvir, do que para ser ouvido. Para ser olvido, fadado ao oblívio da incomunicabilidade. Não comungamos de uma mesma fala, de uma mesma falha, mesmerizados a princípio, rotamos por sulcos de antigos atoleiros, rodando por impérvias trilhas, distanciando-nos do que é real. Algara algares algaravia, pouco nos importa o que dizem que elas, talvez, digam! Pés esparramados no chão, plantas, folhagens, canteiros sem cultivo…
Escritos apodacríticos, aqueles vertidos em carregadas tintas com o escopo de provocarem derramamento de lágrimas, que não seja por emoção, mercê de algum fármaco ou poção capaz de irritar os olhos de quem os veja. E é esse o meu constructo, ou meu voler nolente, ou meu xadrez. Massacres de influencers, violência não gratuita, como a dos filmes de ação, violência discursiva e odienta, a poesia como um impedimento, alfétena, do árabe al-fitna, discórdia, cizânia, volúpia de contender, disputando primazias, por narrativas e versões. Ninguém pediu, ou pede, minha, ou tua, ou vossa maldita opinião. Nem os fatos fátuos, factóides, factícios, testemunham qualquer niquilidade midiático-mesocrática, nem desbotam ou tinturam imagens editadas, como parcéis parcializados num mar de acontecimentos. Dessas e de outras postagens, não há nada além de embuste e vaidade, sem talento ou emoção. Corpos de influenciadores e de influenciados digitais, remotamente colgados por fateixas e arpéus pelos flancos das avenidas principais, enforcados em suas próprias tripas e músculos, nem mesmo seus corpos pertransidos por catanas e khandjares, lograriam desconectar-nos da rede, da teia, da web, do canglorejar deste pregão infernal. Não vou debater opiniões com opiniastas exibicionistas digitais, nem clarimostrar idéias. Nada. Nem tentar poetizar o que sobrou de tudo nas dobras do silêncio, no som indistinto que se quebra como ondas nas janelas resguardadas de nosso frio interior. Há poeira do deserto em tuas pálpebras, e já não reconheço o teu olhar, nem és o mesmo a ocupar um corpo ou leito de rio, uádi, wadi, curso de água que secou, já distante a estação das cheias. O deserto sim é o mesmo, esse não desmente a si mesmo, perdura na dureza das estações, desfaz as mesmas miragens que inspira. E lava-se com ventos e areia, em adustas, pudicas abluções. Purifica-se em seu abdesto de poeira, antes de cada oração que oramos. Há poeira do deserto em tuas pálpebras cansadas de imagens e sonhos. E teus olhos já não são os teus. As febres passam como sezões. E o tremor ficou apenas nos dedos a tocarem pianos invisíveis, imperceptíveis crêmbalas, náblios encantados… Pletórico, sempre em demasiadas tintas, carrego o texto, borro o contorno caricioso com que o sol cairela sua chegada e sua partida… E, contudo, ainda há poeira em teus lábios, a polvilhar palavras doces como confeitos, jamais ditas. E, quiçá, sequer pensadas, um dia… Há, também, um matiz de alperce adamascando o poente, um tom que não sei pintar para teus olhos verem, sem que saias daí, sem que precises pervagar pelo deserto. Ainda haverá grúmulos de fina areia nos bigodes cor de fumo, ainda haverá grânulos de areia na barba cor das dunas. Psamítica, dúnica, aurisamítica barba de um deus solar, ali também, cravejada de berilos, haverá vestígios da tempestade de areia que foste tu em meus desertos, onde jamais afundaste as abarcas, em que pese ao pesar de jamais teres chegado…
#poesia#lardepoetas#textos#autorais#arte#usem a tag lardepoetas em suas autorias ♡#poesia autoral#areia#relógio de areia#clepsidra
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Veludo Grená
Gato a dormir, o açucareiro aberto, xícaras em que esfria o café nosso de cada dia, despojos de guerra, farelos de pão como ornato, sobre o oleado arranhado da mesa, e, como uma pira patriótica ou patricida, o indefectível cinzeiro com suas vítimas matinais imoladas: tabaco crioulo, cigarros brancos, pontas de estrelas do mar, baganas, cinerário de estrelas decaídas, farrapos de sonhos. E, no desfiar do tempo em ócio, nosso estúdio de rádio psico-estéreo. E nós dois, astronautas locutores, nadamos no medo oceânico da existência, enquanto cantores esgoelam-se por nós, heróis de outras galáxias… Quem orará por nossas horas de ópio e covardia? Com seus terços e rosários, sob revoadas de corvos negros? Com vozes de três oitavas e meia, gritos e falseteios de tenor. Screamos e guturais viscerando lentíssimo breakdown. Ao fundo, na caixa de som, a tarde exausta adormece nosso sono residual… em meio a um tiroteio verbal, granadas explodem seus grenais, sua cor grená adormecida enfim, sob escuros olhos orientais…
#poesia#lardepoetas#textos#autorais#amores#poemas#arte#usem a tag lardepoetas em suas autorias ♡#poesia autoral#metal#improviso
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As Cem Palavras
Atirei pedras na superfície das águas, turvei-as, fiz ondículas, cachos, estremecimentos; lancei palavras como pedras lépidas a lapidar estátuas, arremessei não só as pedras primeiras, mas as que excediam à demolição, apedrejei a pétrea enervação das diferenças, desconstruí os sonhos que fizeram de mim, cuspi no escultural retraimento da diversidade, vi no diverso a adversidade, nôminas e adversias para afugentar indesejáveis sensibilidades. De lapidar prosápia, e todo prosa, agrados às Musas e oferendas fiz, embalde, no entanto. Da poesia escorrida, estanquei a água e água parada estagna-se em banal literatice. Da fonte ao brocal, a água deixa de ser alma e, civilizada, contida em gomis e jarras, serve às medidas do homem. O amor não dista de tal imagem. E, da argila ou creta com que é modelado, conserva as digitais de seu artesão. Digo isso, atreito a minha gana exibitória, digo-o por dizer de mim. Não mais do Outro afinco-me a descrever. Eu sou, supino ao luar, a lua que almejo, e o que vejo é por onde velejo meus olhos lunares, lunetas lunáticas esplenéticas linfáticas… O crescente nitiargénteo que sequer ora vislumbro, é-me como a lúnula óculo-celeste de um negro olho oriental a pairar sobre níveo, léteo rio, opalescente de pérolas da Philístia. Algo que invento, sem ao menos contemplar. Só porque me soa bem! É tal qual suporte de noturna jóia, seu engaste, plinto, soclo ebúrneo, essa foice de prata, ceifadora de estrelas, quarto crescente, diadema de Diana, lasca ungueal recém cortada do dedo indicador da favorita do serralho. Alba luna, rara safira branca, de exótico nome por muito poucos conhecido. Telésia, parônima de telese (vontade), ou leucossafira, símbolo de pureza. Pedras preciosas quisera fossem os vocábulos todos que emprego e desfiro, eu, apedrejador oratório, colecionador de raridades esquisitas. Torturador dos ouvidos alheios a mim. E eis-me a fingir que estou sob o embruxo de lua cenográfica, vagas imagens de táurida Iphigênia, Salambô, Turandot, ou de otomana hanim. Sou o que narro, enquanto uma chuvinha sovina escorrega das escarcelas cerúleas. Não me é grado contar horas, moedas, Narrador de mim, um pouco ávido, um tanto avaro. Sou, também, o que conheço do que invento, e o que invento do que conheço. Aferro-me àquilo que desejo conhecer, conservar, relembrar. Sou essas cem palavras, desusadas muito embora, que deixei de contar, para, por fim, ao dar-tas, deixar-te sem palavras.
#lardepoetas#autorais#poesia#textos#usem a tag lardepoetas em suas autorias ♡#poesia autoral#arte#amores#palavras raras
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Palavras que morrem
Fico por aqui, do que não ouso publicar. Só que não. Não fico, finco estacas, cerco glebas, geiras, quintas e, em amanhos cotidianos, forçuradamente, planto palavras em doida fulva espíguea messe. Eitos, leiras, almácegos, alfobres, vessadas, hortos, pomares, vergéis, veigas, pastiçais, pastos, glebas, hortas, eiras, exidos, montados, herdades, almoinhas, almunias, alquerias e sítios, e granjas, e quintas, fazendolas, estâncias, terras plantadas, cultivadas, agro e pecus, e o olhar humano sobre o verde amarelado derramado como azeite. E não tenho mais o que falar. Respiro-te sopro de vida regougo de dor, pesadelo e insônia, gatos enquanto isso apostam carreiras pelas canchas do corredor, e velo-te a ler, sem a luz de um velador, desvelo atenções incômodas, desatento de outras mais necessárias, sigo, impreciso, o que já nem bem persigo, temo e respiro o ar pesado da indecisão. O arrependimento mora ao lado da desatenção, é ele quem peca por retardo, e eu peco por pêco, fraquejo, canso da liça, desisto antes de a verdade ter sua hora. Insisto, não no que deveria, mas somente quando tenho certeza de que não vale a pena, por custar pouco. Custam-me os custos, logrando-me com ganhos pífios, enquanto aferro-me às perdas e danos. Tudo para nada, ou quase. Permanecer no quase alivia a espera, abranda o baque. Não tenho coragem para virar a chave, testar o motor, virar a página, medir o erro em toda sua extensão, durante o declínio dominical, ver os campos alourados de sol, de cima dos altos, dos cimos, dos picos… onde o louro Febo se esconde.
Para que ler, se a atenção já está quebrada?
Soa falso mesmo o silêncio, e as palavras, faladas, caladas, não dizem o quero dizer, ou ouvir. E as que ouço, sincopadas por silêncios graves, não amadurecem suas mensagens, são acerbas, verdes, ácidas. Ou sem sumo. Nem bem encobrem o que outras, engasgadas, teriam a explicar ou velar. Não são límpidas, nem explicam nem revelam. Torcem-se no esforço de uma contenção, entre o pudor e o constrangimento, quase fossem uma ameaça. Tenho medo de as provocar, por desgraça, ou acidente, essas palavras que não chegam aos lábios. Podem romper cordas frágeis, arranhar mesmo o ar que as contém, ou asfixiarem com sua toxicidade um vislumbre sequer de harmonia. Podem matar, sendo piedosas. Libertar, sendo cruéis. Ou, ainda, embaraçarem, adiarem a dor de adeuses e desistências. Nesse entretanto, tréguas e impasses estrangulam expectativas. A frustração recobre de mofo qualquer gesto de ternura. E o olhar esquivo assassina a fala. Suspicaz, prevenido. O diálogo é um crime em sua forma tentada, um atestado de óbito virtual. Um mal-estar que é mau, só por estar, estares, estar, estarmos, estardes, estarem, neste infinitivo pessoal conjugado na dor dentária de bocas cerradas, a rilhar, no bíblico ranger de dentes, inconfessáveis blasfêmias. Blandícia suasória, em verdade, vomitivo ineficaz, assim qualquer tentame . Deus, como digerir essas hostilidades cordiais, tal estrumeira perfumada artificialmente, essa decepção mal contida pela gratidão? Falar torna-se perigoso, quando se teme o que se nos cala. Quando o receio rói o sopro da palavra que apenas brota, torna-se o pensamento mais e mais esquivo e cauto.
Manhã sobressaltada, neuropática, nela, suado, sestroso, vou-me acomodando ao lado do desconforto, lentamente…
A agulha arranha o sulco e o tango já terminou
O silêncio é um roedor. Infesta porões e sótãos. Desfia o que os sentimentos tecem. Desfaz as palavras, estraçalha a violência dos sons. Raides, razias, zunir de mosquitos, falas articuladas em metralhas - desfá-los todos, o silêncio em suas pegadas, como insetos esmagados de encontro a vidraças sujas. O silêncio, contudo, é um bunker. Uma defesa, um reparo anti-aéreo-vocabular. Protege-nos de perdigotos, de vozes esganiçadas, de toques de notificação, jaula solitária onde dão seus bufidos nossas feras, interiores e alheias. Justificativas são inúteis, expletivas, reafirmam o próprio erro, a queda no alcapão de nossas culpas. Pôr um tango no toca-discos, para ouvi-lo, sozinho, sentado na melhor poltrona da sala-de-estar. Sozinho é que se há-de ouvi-lo, pois fala do inevitável, da solidão que se arrasta como móveis pesados na madrugada, do cálice de cinzano, e de não se poder escapar da própria sombra, da cauda, da cola, do rabo. Somos nossas próprias armadilhas. Alfabetizar-me na língua dos sinais silenciosos, aprender a ler na fumaça dos cigarros que respiro, mas não fumo. Nas cinzas que não lanço, mas recolho. É disso que preciso. Foge-se do que é indecifrável, por isso tagarelar é tão fácil. Como uma especialidade de tortura. As palavras poluem-me quando as ouço no retorno de minha voz aos meus ouvidos. Mais do que o acossamento em teus olhos, elas fazem-me calar…
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Chavear
No escuro do quarto, de olhos abertos, leio.
Leio olhos chaveados pelo sono,
Tão alheios em seus covis de estrelas,
Sequer o perfume de seus segredos chegará
Ao meu olfato tão próximo e discreto,
Silêncios incomunicáveis partilham o mesmo ar,
Pensamentos são ladrões que se insinuam
Pelo sinuelo dos sonhos, no afã de desvendá-los.
Do sono alheio ignaro, conformo-me,
Porém, dôo-me por não olfatá-lo insone,
É que, longes as almas, apenas jazemos corpos!
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Escárnio
Onze estrofes bárbaras, de onze versos versados, malvestidos, malvertidos, de amor e raiva malguardados, raspados do fundo de um cibório dourado, absconso no subterrâneo de uma igreja românica, a qual, em mais priscos evos, houvera sido um monóptero helênico. Lá, em um abditório de argento, gemado de safiras, inda jaz em poalha cinza o que fôra rábido, e o que fôra amor, morto sem ar, sem redamor; sequer em pó. Apenas a arqueologia poderá encontrar vestígios da beleza criada? Livros que se quase desfazem quando dessigilados? Falsas relíquias, pátina a criar efeito de falsa antiqualha? Velharias de briques, pechisbeques de feira, fanfreluches de mascate. Mercado das pulgas cerâmico-literário. É domingo, a manhã já está madura, não fiz desjejum de meus amores, guardei a raiva para destemperar a fome. Não colhi os frutos da ira, nem os pomos da paixão. Fui frugal e fui piegas. E banal. Deixei esfriar o café, por vezes crebras. Minha internet interior caiu mais de uma vez. E não me conecto em nenhuma rede. Também, nelas não caio. Nem peixe, nem pescador. Pouco importa o barulho no andar de cima, seu arrastar de almanjarras, de sua cozinha o estrelouçar, o fracassar de talheres e caçarolas, os odores, os enxurros, seus escorros. São uma família. E eu não tenho nenhuma família. Nem daquelas de madeira, ou bronze, sagradas-famílias. Santas ceias, sim. Tenho duas, em casas duas. Dualístico. Meus ágapes não possuem discípulos. Sou meu próprio Judas, muito embora não me venda. Rasgo a teia, não caio na web. Invisto contra as big tecs, quase fosse um cavaleiro andante, sedentário e quixotesco, na triste figura, tão somente. Combatendo influencers, profligando fake news, ou mendazes doestos, despejo as cinzas de minha lixívia. E cuspo palavras esquisitas nos esgotos antissociais. Peixes de Salambô nas vascas internáuticas … Atentai ao significado primevo do vocábulo esquisito. Ide aos dicionários, postadores e blogueiros. E sede felizes, na adipsia de saber que é vossa sede! Vinde ao meu aprisco: verrumosas verrinas, catitas catilinárias dar-vos-ei, em repasto a vossa egestosa curiosidade!
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Buraco da Fome
Comeste-o? Comi-o. Comemo-la,
Comei-la, mas ela voltará, conjugando-nos.
Como tudo que se teve e nos faz falta,
A fome retorna com suas prestações,
Cobradora mais cruel do que a Culpa,
E do que o desejo. Este rebuça-se em véus,
Ela, porém, recobre-se de andrajos.
Por quem somos mais miserandos:
Pelo príncipe luxurioso, ou p’la mendiga trapeira?
A mesma boca dos prazeres ádito e confessora,
Só é constante no escancaro da desnutrição.
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Tranquilo ei posa...
* Tranqüilo, ele repousa
Dorme. E quem dorme? Ao lado do sono,
Inda não desfeito, no relevo das cobertas,
Direito no leito, estendido, num canto,
Ao lado, o receio ofega, incerto do toque,
Do desconforto. No lado esquerdo, importuno,
Jaz um carinho tímido ou um acossar de fera,
Um despertar sereno, ou o moto sísmico
De um gigante. Dorso de cordilheira,
Movimento de marés, resbunar felino,
Tratantices de menino ao gazeio d’aulas,
Acordou um discóbulo que fendeu o sol.
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Gatos
Gatos coleando entre as louças,
Colubrinos, esgueiram-se garbosos,
Indiferentes a ralhos, fariscam
pão, manteiga, farelos esparsos,
E miram, atentos a meus movimentos,
Sugerem meiga afeição, e, logo,
Dão-me as costas, pulam ao chão,
Eu, no entanto, persisto em idéias,
Estico a dor, esfolo o desejo,
Custo a calar, mas, como os felinos,
Brinco de caçar as sombras.
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Manhãs
Manhã, loura filha da rósea aurora,
Engatinhas pelos cantos do quintal,
Nas vidraças, rastros de luz dedilhas,
Migalhas de pão sobre o oleado,
Palavras digito às migalhas,
Não mais se escreve, nada é dito,
Erros de caracteres, café gelado,
E um corretor que desconhece verbos,
Na segunda pessoa do singular,
Singularidade infensa às desinências,
E tu, a ti que invoco, númen tutelar?
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Se uma palavra há a adir-se ao estado poético, essa seria saudade. Saudade do eterno e permanente, do constante. Saudade de nós mesmos, daquilo que sonhamos, das primícias de enamoramento e de tudo que, na vida, não se conserva. Inconformar-se com a precária persistência da Beleza é o que nos impele a inventá-la. E, assim agindo, perpetuamos o perecível, brincando de heróis, de deuses, de criaturas teriomorfas… Talvez, só resida, só demore a poesia no que se veja ou ouça, esgotando-se ela, por cansaço ou quebra de magia, no trajeto até à fala, ou no mero intento de reduzi-la à escrita. Pássaro rebelde, ou criança cigana, o amor foge de quem o busca conter incontinenti…
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Eu não sabia o quão forte eu era, até que eu tive que perdoar alguém que não estava arrependido, curar feridas que outras pessoas me causaram e aceitar as desculpas que nunca pediram.
Iran Gonçalves
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Recupero um pouco do meu rosto no canto de teu olho. Um vestígio, uma identidade que se encontra. Sorrio, e meu sorriso é um remendo, um cerzido de teus dentes trazendo de volta meu beiço atrevido. Sou um vampiro que renasceu, sem sangue, mas com sede. Mas o que quero é brindar a boca quente, o hálito de um dragão. Fumo a fumaça que lanças na minha cara que se encosta na tua, como a querer esquecer-se de si e das ruas. Sou eu a fugir das ruas, antes de delas tirar-te, eu, a subtrair-me das sarjetas, das praças, dos becos. Eu deixando de errar atrás de sombras, traços, imagens. Encontro a porta, o portão da solidária cantina, onde a xepa é distribuída. E ali bati cabeça pro santo, muro das lamentações, dervixe mendicante. E te agarrei. E fisguei-me em meu anzol, rasguei a rede, tentei esquentar o brilho frio e distante das estrelas, refiz o percurso juncado por marmitas de plástico e restos de comida. De migalhas de orgulho, de miragens intuitivas, e frases sutis, lancei-me ao ímpeto. E reconheci sinais, decifrei ideogramas e hieróglifos. Exorcizei palavras. Cobri o desejo já frio com o cobertor da ternura e parti para o frio da tarde e da manhã do outro dia. Temi a noite alheia e também a minha. E mergulhei nos teus olhos e só eles me foram noite e manhã e tarde e todas as estações na invernosa estância de meus verões passados. Esqueci deles, fiquei em tuas palavras, elas foram os barcos em que naveguei e navego. Ouço, mais do que falo. Calo como a sombra sobre a terra, como tuas pálpebras a velar e a melar a dor em doçura. Não são mais necessárias tantas palavras, deslizo a vista, surfando em tuas recurvas pestanas, quase como se fosse eu uma lágrima tua. De ti saída, como uma pomba escura a pousar à minha janela. É assim que tenho a dizer outras coisas que, por enquanto, são apenas hálito morno a soprar entre nossas narinas, segredos de nicotina. A poesia se acanha diante do amor. Estilo e forma vacilam. Frases quentes, curtas, faladas baixinho e bem de perto é que nos dizem sobre sorrisos lunares e pássaros noturnos.
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AK-47, Chanel n. 5, belezas extintas, Lua sobre Damasco, neve nas cumeeiras de Praga, cinzeiros cheios, uma taça de Cinzano, Maria Callas em 1952
Sinto-me empobrecido de expressões, sem via expressa que conduza a uma comunicação verdadeira, desprovido de lucidez, nauseado com o circundante e frente à redundância de mim. Nada parece tapar, pudentemente, ao menos, encobrir o constrangimento e o patético de meras coincidências, slides, takes, cenas fragmentadas do cotidiano que, casualmente, envenenam, ou entorpecem, meus afetos, revirando-os do avesso, como casacos arrancados às pressas, em um súbito e insuportável acaloramento, e lançados, já ei-los como desafetos, sobre uma cadeira. Ritmos acelerados, quantidade metralhada de palavras, assuntos de remoto interesse a interlocutores sonolentos, lucidez embriagada com sua pirotecnia informativa, tombo de bibliotecas sobre desavisados comensais e fodam-se ouvidos moucos e compreensões tardas, tédios narcotizados. Como as pessoas vão-se desligando da história corrente, descurando de suas bagagens culturais, sem se preocupar com seus conhecimentos minguantes? Pessoas minguadas… o patético, os patetas, por tudo…
Talvez, nada mais haja a ser dito: a não-correspondência acanha, constrange. Quase quando, ou onde, haja uma sutil procura, um esgueirar de olhos, um toque apenas esboçado, e, a estrangeira murada mirada, em resposta ou despiste, quase não adulta, nem mesmo humana, antolha (ou antoja) pudenda e acossada. Com um fitar carregado de hostilidade ainda dócil, indecisa, como que após uma ofensa, porém rebuçada em olhos fundos, símile à primeira encarada de um pitbull atrás de uma cerca não muito segura. A sede e o deserto; talvez, servisse-me como um bom título para o presente capítulo. Seja-me adequado. Justo quando tento descrever a inadequação de minhas posturas! Julgo que, se as pudesse rever filmadas, delas envergonhar-me-ia acerbamente. O alvo colimado, a explicação, está bem além da vergonha… Na ipseidade do antagonista, no que nos é desconhecido, em sua ambígua complexidade. E, com fulcro mais profundo, sem coima ou coita de dicastérios morais, estreme de freima ou acossamentos ético-posturais, poderia deixar passar, rolar, como águas. Limpas ou lúridas, escorrem por igual…
A eternidade estende-se por detrás de um portal ignoto, e é contínua e constante, encerrando as possibilidades não acontecidas. Nela, recupera-se a tranquilidade de não ter pressa nem receios de que acabe, ou se interrompa… E alisam-se horas, centúrias, como se fossem um gato adormecido, no deslizar macio dos sentidos.
Gangorreias-me, para cima, para baixo, anábase, catábase, anaforias, cabiscaimentos, atraído, repelido. Tuas pernas, um viaduto sobre as minhas pernas. De concreto, venado por pesados vergalhões, pesam, graníticas, vias sobre vias, caminhos e descaminhos, pesam e sobrevoam, cavalgam a rodovia, formam um anel viário. Teu corpo, enlaçado, correia e rebenque, ao meu, em poses adormecidas, modorreando num entorpecimemto diluculado, auroral, é vigor, e é cansaço, navegado por desejos e dores, estua sonhos velhos rejuvenecidos, recorda do que poderia ter sido, de promessas e de passadas possibilidades, traz em cada músculo a história de vidas não vividas, fetos sem fatos, vasos sem terra ou plantas, nascituros a quem faltou o ar, posto que poluído. E morituros, no afã de apressar ou adiar o desate do fio, da velha parca atroz, átropos, com sua tesoura a cortar o cordão da parca existência de cada um. Mesmo dos futuros mais promissores agasalhados no regaço remoto dos passados, sempre a precária indecisão escondendo um outro roteiro, outro filme, uma vida no limbo, paralela,feita só de verde e azul, ausente o sangue, o sol. Sem amarelo, sem vermelho, mas com tonalidades encantadas, cloróticas, ciânicas, suaves, pois descarnadas… Nesses livros jamais publicados, nessas edições deletadas; nessa dimensão paralela, uma história diversa transcorre em potencial: flutuam belos poemas rascunhados apenas, o número de meu telefone garatujado em uma tirinha amassada audaz, finoriamente posta em uma moça mão de ganimedes. Lá, uma Pepsi também é servida com elegância. E declarações de amor jorram sem entalos ou engasgues. Ou gaguejos, ou balbúcies. Ali, a coragem precípite, salvando ou danando, escreve, com caracteres negritados, capítulos, evangelhos, grimórios apócrifos, proscritos, banidos. Porque, talvez, a felicidade seja derivada do risco e da vertigem: incompatível, portanto, com a realidade. Quiçá, seria na supra-realidade, no surreal, que uma nova formatação de nós mesmos encontraria a combinação perfeita, a melhor versão - a performance optimizada, de guerreiros optimates…
Mistagogo e psicopompo, mais vocábulos escabrosos pinçados de leituras superficiais, ensartados em aranzéis pseudo-literários, fabulários e engrimanços tediosos, que cumprem a vanitosa missão de não dizer nada, pois que não há o que dizer, nem a quem. Afirmo, nego e, logo, renego a negação. Mas não reafirmo, nem a idéia, menos ainda ao ideador. Em menoscabo, tudo resume-se. Mistagogo, iniciador místico. Toda a iniciação é dolorosa. Uma dor odorosa, fumigada de poesia… Psicopompo, condutor de almas, ascendendo-as às próceras esferas; ou, descendendo-as às ínferas landas. Seres teriomorfos, teodicéias, cosmogonias. Absolver Deus pelo horror de suas criaturas. Fazê-lo uma divindade ociosa, um criador enfarado. Atribuir toda a feiúra a um Antagonista. Antanagogicamente. Tudo isso é velho, e profuso. Refiro estes temas porque me está sendo lugente, dificultosa a abordagem de assuntos que me afetam de imediato. É bem mais simples escrever em um modo casquilho, loução. Ir fundo na prospecção psíquica, sondar almas, é tarefa ingrata. Os resultados nunca compensam. Desatenção e decepção são a cara e a coroa de uma moeda carcomida. Conquanto gasta, ou fora de circulação, é-lhe atribuído algum valor. De sua cunhagem, pouco se inferirá a despeito do quanto se investigue. Investigo-me pouco, revestido, recoberto de preciosos tecidos lingüísticos, em que as palavras são bordadas com esmero. E, só ao espelho é que se cospe à própria cara, aquando se cogita em barbeá-la.
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