Don't wanna be here? Send us removal request.
Photo



15 years ago, the final passenger flights of Concorde
38 notes
·
View notes
Quote
O amor é filme Eu sei pelo cheiro de menta e pipoca que dá quando a gente ama Eu sei porque eu sei muito bem como a cor da manhã fica Dá felicidade, dá dúvida, dor de barriga É drama, aventura, mentira, comédia romântica O amor é filme Eu sei pelo cheiro de menta e pipoca que dá quando a gente ama Eu sei porque eu sei muito bem como a cor da manhã fica Dá felicidade, dá dúvida, dor de barriga É drama, aventura, mentira, comédia romântica Um belo dia a a gente acorda e hum... Um filme passou por a gente e parece que já se anunciou o episódio dois É quando a gente sente o amor se abuletar na gente tudo acabou bem, Agora o que vem depois O amor é filme Eu sei pelo cheiro de menta e pipoca que dá quando a gente ama Eu sei porque eu sei muito bem como a cor da manhã fica Da felicidade, da dúvida, dor de barriga É drama, aventura, mentira, comédia romântica É quando as emoções viram luz, e sombras e sons, movimentos E o mundo todo vira nós dois, Dois corações bandidos Enquanto uma canção de amor persegue o sentimento O Zoom in dá ré e sobem os créditos O amor é filme e Deus espectador!
Cordel do Fogo Encantado
0 notes
Quote
O CÓRREGO E A FLOR I Um pouco do meu sangue Escorre nas linhas firmes Da tristeza sem igual, Uma tristeza manchada, Mas brilhante. Aqui é o lugar onde O passado se move Com passos derretendo Em poças de espelho Trazendo a história de um amor Insensato, como as esperanças Existentes nas pupilas Dos cães danados. Desço no porão da morte E o tapete de insetos azuis Acaricia meus pés sujos. O manto de sombra Cobre meu corpo Como o frio dos caixões. São os dias em migalhas Diante das lembranças Do teu corpo. Teu hálito entregue como Doação à minha alma, Recendendo esperança Em cânticos eternos. II Te encontro dentro da esfera E firmo-me em tua ausência Sinto o pulo covarde Do meu coração perdido Por saber que tua mão Não cabia dentro das minhas. Dor dentro da dor, E era apenas você, Mas eu morri demais Para encontrá-la. Este cadáver que adere Sobre os pêlos do peito E faz-me lembrar do Vento caminhando vacilante E trazendo no dorso As tristezas do brilho escuro De todas estações. Já gastei todas minhas vidas No avesso dos dias, E tenho, agora, os ásperos Anúncios da tua voz Amaldiçoando-me pela Débil luz que chega Da estrela morta. Mas tenho fé no amor Que une os humilhados Mendigos do amor. Já gastei todas minhas vidas No avesso dos dias, E tenho, agora, os ásperos Anúncios da tua voz Amaldiçoando-me pela Débil luz que chega Da estrela morta. Mas tenho fé no amor Que une os humilhados Mendigos do amor. III São pedaços que exalam Ilusões petrificadas Em ilusões. Meus antepassados mexem Nas tumbas e erguem para Caminharem através dos corredores Dos ventos presos à escuridão. Minha amada, tu desfaleces, E não posso te conter, Pois meus braços, embora fortes, Estão rígidos pela geadaDe sonhos loucos. Sofro demais e trago as manhãs Da minha adolescência Em que dei às outras mulheres O que sempre foi teu. E o mais doloroso não foi A entrega da carne, Mas das ilusões que seriamVerdadeiras junto a ti. IV A luta é amar, amar até Desamar. . . Amar tudo e todos. Aproximar o ódio do amor, E assim viver abundantemente. A chuva quando cai Transforma-se em flores E, depois, em lâminas para ceifar As mesmas flores. Nossos filhos choram Por perceberem que Sentimos fome de Palavras de relâmpagos. Que a carência do toque Lírico nos faz ser grandes De abandono e solidão Devido à lembrança Do morto sonho. V Sei que a vingança Paira sobre os campos De violetas. Sei que a vingança Paira no fruto Bicado pelos pássaros De asas de fogo. Sei que a vingança Está em teu olhar e Se dará através das invocações Poderosas, inspiradas Pelas feiticeiras que habitam O estômago das matas virgens. Mas o momento se aproxima E te amo! Pois sei que a vingança É tua forma de aproximar O ódio do amor. Tudo sendo engolido Como as distâncias. Sou ruína e ninguém Atreve-se a remover as Pedras, os utensílios e os Soterrados corpos Esmagados que espantam As aves de rapinas. VI Às vezes sinto o galopar Do futuro na tua respiração A quilômetros de distâncias e Na saliva que tua língua traz E entrega ao meu paladar. O futuro certo que se fez No incerto passado. Ah amada, quero dar-lhe Meu sonho em sacrifício, Dizer que não a tenho mais, E ver que tudo naufragou. E as asas da minha alma Foram decepadas e entregues Aos pássaros negros. É chegada a hora... e o tempo Terminou... e continuará sempre. As águas na superfície São agitadas, mas nas profundezas Há uma população de silêncio. Quando solta-se o rugido de ira O peito se esvazia, emudece O interior do ser sofrido. Sou vazio, sou transbordante. Sou dor, sou alegria incontida. Meus joelhos dobram-se, Mas os braços estão erguidos Em busca do infinito. VII Não quero ser tomado pelo sono Quero meus olhos como janelas Abertas para as formas, Cheiros, texturas e sabores. Mas também quero receber A noite, quando vier, Abraçando seu corpo suave e Quente e encontrando minha face Em sua face fria. Entregar-me em seus sonhos Ardentes, descer através de suas Escadas escorregadias Que trazem as sombras... Ah, doce noite dos mortos! Sombras que são seres Com corpos remendados, Implorando quem queira Receber seus sentimentos em Estado de putrefação. A liberdade para partida É desistir desse fardo de sentimentos Que contém esses fragmentos Mortos que causam sofrimentos. Temos que enterrar nossos mortos Esquecê-los sob a terra E cultivar um jardim de rosas Brancas, vermelhas e lilases, E, num canto maior, semear Sementes de trigoPara transformar carne em pão. VIII Naquela morada do passado Onde o sol luarento Dissolvia os telhados de cristais, A muralha de montanhas Oferecia a névoa aos olhos. Só isso posso, Como aquelas montanhas, Te oferecer: - névoa!!! Porque sou incorpóreo. Poderei apenas lhe pagar minha Dívida em sonho, em cantiga, Em estrela, em amor. Ou em amanhecer ou anoitecer. Nada mais posso oferecer. Talvez sejam os últimos versos De névoa que arranco do Meu ventre através da porta Do peito, porque é toda canção Que sei entoar! É um canto em corpo Que existe na ausência Contida no sopro do vento, Que desvirgina as árvores Em sua primeira floração. IX Surge tua forma na noite Em que estou. Tua forma com todas as delicias Do inferno. As veias vibram e a embriaguez Retira os pés do chão. E assim como viciado o suor frio Vasculha o recente e remoto passado. Ainda floresce em cantos, Ainda rompe em correntezas. Tudo parece não existir mais, Porém tantos são os vestígios. Principalmente, o amor em ódio, O leve toque das mãos Que transforma-se em bofetadas. O olhar profundo como pétalas Que transforma-se em punhais mortais. O paladar de néctar Que transforma-se em fel amargo. Eis as provas maiores Da existência desse amor. E isso é tudo. Juntos fizemos um desvio Na rota do destino. Mas nada deixa de existir Os caminhos estão ali Com nossas pegadas Indelevelmente impressas. X Cavo teu ventre com minhas Mãos rudes de lavrador E os filhos que deveríamos ter Estão chorando pela orfandade. Já não posso evitar de virar As costas e partir Com o olhar de marinheiro, Que deixa em cada cais O amor de sua vida, e assim Lamenta, mas é inevitável A partida. Fica para traz a história E surge jazigo de beijos. Só as silhuetas da noite Retorcem em minhas mãos. Tenho que partir... mas... Pressinto que para onde vá Estarás me esperando Para entregar-me o doce Mel do teu sexo. Pressinto o crepúsculo Em cópula com a aurora. Pressinto um adeus Metamorfoseando em dia De festa em que eu, O amante pródigo, Receberei o teu corpo Em banquete. XI As colinas enterradas Nas memórias dos séculos Estão agitadas pelos passos Do presente na avenida Com seus habitantes gigantescos De olhos e bocas retangulares. A luz cinza da cidade Não tirou o brilho profundo Contido em teu olhar Que desvenda as eras mais remotas. Aquela cidade sentia a paz E nos banhava os corpos Com o mais lindo entardecer, Mesmo sabendo da tua partida. Num momento nos disse, Na respirações dos seus prédios, Que prendêssemos na retina Uma parte da nossa história Nas calçadas da suas avenidas. Ficou o sol manchado E na noite e no dia vejo o sofrimento Dos seres metropolitanos que, Naquele dia mágico, deixam Escrito nas intermináveis Paredes do poluído ar Suas dores silenciosas. Passamos rapidamente Com nossa paixão pulsando, Mas ouvimos os soluços dos muros E as esfaceladas sombras dos maltratados mesmo na maior das avenidas. XII As fogueiras ainda estão acesas Trepidando suas chamas ardentes Que incineram a magia do sonho. Dois seres malditos Põem-se a descer pelas ruas Lúgubres e fétidas que conduzem À estação de trem onde O réptil de aço serpenteia. Muito perto dali Encontra-se o domínio Dos coroados de ódio Que carregam seus cetros Com jóias que ferem As peles do corpo e da alma. Olho o tato do teu rosto Que olhou com meus olhos Com olhos de vaga lume Aceitando a direção dada Pelas minhas mãos Imaculadas pelas paixões Que resvalam pelo teu corpo Branco despoluindo A cidade por onde nosso Amor voltava a renascer. XIII Silêncio Preso na cúpula do vácuo. Te perdi outra vez na curva Do espaço e do tempo. Só restou o rouco orvalho Dos teus cabelos, E a sede nos meus lábios pela secura da tua real ausência. Silêncio Linguagem mais precisa De Deus que está afogando Envolto em melodias. Resta-me descodificar Os arcanos antigos Contidos na perfeita união Dos nossos corpos. Silêncio Precipitar mantendo-se inerte Cegar os olhos Para ver o invisível E emudecer os ouvidos Para escutar as músicas das esferas. Compor versos na textura Da neblina do anoitecer Para tornar-se um Deus. XIV Se meu canto é dor A dor é mais tua Que suportou o abandono, Mesmo se cobrindo com Areia movediça que sufocou Teu grito, mas eu percebi a dor e Meus versos perderam a voz. A tristeza é tua E agitou quando teus Olhos apagaram-se Fugindo da luz para Não retirar a mortalha que Revestia o corpo do companheiro Morto, que já não cabe Nestas páginas de branca pureza. Ah, Uma vastidão de tristeza aérea Como um punhal alado Cortando a noite E expulsando os astros noturnos. E a cigarra muda Abandona seu canto após Despedir-se do córrego encarcerado No concreto da avenida, Por querer se manter ao lado Da flor de laranjeira lançada, num dia de sol, Sobre sua margem. XV Meu sonho não deve ser visto Sobre a manhã impercebida Pelos primeiros pássaros. Os versos que ainda componho É o grito preso no vácuo Ou o eco que morreu nas Frestas da montanha. Devo dizer o último adeus Com as mãos decepadas e Os olhos arrancados. Eu que a beijei tantas vezes Em tão pouco tempo. Ainda sinto Tua boca úmida no prazer Sob o céu infinito. A lua está em sua fase Minguante e eu a perdi. Ao longe alguém geme Em plena agonia Como se faltasse apenas O golpe de misericórdia. Ao longe Minha voz procura a brisa Da noite para tocar teu ouvido. Ah, Num inicio de noite, Como esta, a tive em meus braços E rezei usando meus versos Diante do altar do teu colo. E a noite foi dia como O passado foi presente.
Pablo Neruda
1 note
·
View note
Quote
Desejo Desejo primeiro que você ame, E que amando, também seja amado. E que se não for, seja breve em esquecer. E que esquecendo, não guarde mágoa. Desejo, pois, que não seja assim, Mas se for, saiba ser sem desesperar. Desejo também que tenha amigos, Que mesmo maus e inconseqüentes, Sejam corajosos e fiéis, E que pelo menos num deles Você possa confiar sem duvidar. E, porque a vida é assim, Desejo ainda que você tenha inimigos. Nem muitos, nem poucos, Mas na medida exata para que, algumas vezes, Você se interpele a respeito De suas próprias certezas. E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo, Para que você não se sinta demasiado seguro. Desejo depois que você seja útil, Mas não insubstituível. E que nos maus momentos, Quando não restar mais nada, Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé. Desejo ainda que você seja tolerante, Não com os que erram pouco, porque isso é fácil, Mas com os que erram muito e irremediavelmente, E que fazendo bom uso dessa tolerância, Você sirva de exemplo aos outros. Desejo que você, sendo jovem, Não amadureça depressa demais, E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer E que sendo velho, não se dedique ao desespero. Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e É preciso deixar que eles escorram por entre nós. Desejo por sinal que você seja triste, Não o ano todo, mas apenas um dia. Mas que nesse dia descubra Que o riso diário é bom, O riso habitual é insosso e o riso constante é insano. Desejo que você descubra, Com o máximo de urgência, Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos, Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta. Desejo ainda que você afague um gato, Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro Erguer triunfante o seu canto matinal Porque, assim, você se sentirá bem por nada. Desejo também que você plante uma semente, Por mais minúscula que seja, E acompanhe o seu crescimento, Para que você saiba de quantas Muitas vidas é feita uma árvore. Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro, Porque é preciso ser prático. E que pelo menos uma vez por ano Coloque um pouco dele Na sua frente e diga "Isso é meu", Só para que fique bem claro quem é o dono de quem. Desejo também que nenhum de seus afetos morra, Por ele e por você, Mas que se morrer, você possa chorar Sem se lamentar e sofrer sem se culpar. Desejo por fim que você sendo homem, Tenha uma boa mulher, E que sendo mulher, Tenha um bom homem E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes, E quando estiverem exaustos e sorridentes, Ainda haja amor para recomeçar. E se tudo isso acontecer, Não tenho mais nada a te desejar.
Vitor Hugo
0 notes
Quote
Motivo Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta. Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias no vento. Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço, — não sei, não sei. Não sei se fico ou passo. Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno a asa ritmada. E um dia sei que estarei mudo: — mais nada. Cecília Meireles
0 notes
Quote
DAS UTOPIAS Se as coisas são inatingíveis... ora! Não é motivo para não querê-las... Que tristes os caminhos, se não fora A presença distante das estrelas! Mario Quintana
0 notes
Text
O convite
Não me interessa o que você faz pra viver. Quero saber o que você deseja ardentemente, e se você se atreve a sonhar em encontrar os desejos do seu coração.
Não me interessa quantos anos você tem. Quero saber se você se arriscaria parecer que é um tolo por amor, por seus sonhos, pela aventura de estar vivo. Não me interessa que planetas estão em quadratura com a sua lua. Quero saber se você tocou o centro de sua própria tristeza, se você se tornou mais aberto por causa das traições da vida, ou se tornou murcho e fechado por medo das futuras mágoas.
Quero saber se você pode sentar-se com a dor, minha ou sua, sem se mexer para escondê-la, tentar diminuí-la ou tratá-la. Quero saber se você pode conviver com a alegria, minha ou sua, se você pode dançar loucamente e deixar que o êxtase tome conta de você dos pés à cabeça, sem a cautela de ser cuidadoso, de ser realista ou de lembrar das limitações de ser humano.
Não me interessa se a história que você está contando é verdadeira. Quero saber se você pode desapontar alguém para ser verdadeiro consigo mesmo; se você pode suportar acusações de traição e não trair sua própria alma. Quero saber se você pode ser leal, e portanto, confiável.
Quero saber se você pode ver a beleza mesmo quando o que vê não é bonito, todos os dias, e se você pode buscar a fonte de sua vida em sua presença. Quero saber se você pode conviver com o fracasso, seu e meu, e ainda postar-se à beira de um lago e gritar à lua cheia prateada: “Sim!”.
Não me interessa saber onde mora e quanto dinheiro você tem. Quero saber se você pode levantar depois de uma noite de tristeza e desespero, cansado e machucado até os ossos e fazer o que tem que ser feito para as crianças.
Não me interessa quem você é, como chegou até aqui. Quero saber se você vai se postar no meio do fogo comigo e não vai se encolher.
Não me interessa onde ou o que ou com quem você estudou. Quero saber o que o segura por dentro quando tudo o mais fracassa. Quero saber se você pode ficar só consigo mesmo e se você verdadeiramente gosta da companhia que tem nos momentos vazios.
Oriah Mountain Dreamer
1 note
·
View note
Text
Tabacaria
Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto, Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é (E se soubessem quem é, o que saberiam?), Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente, Para uma rua inacessível a todos os pensamentos, Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa, Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres, Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens, Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade. Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer, E não tivesse mais irmandade com as coisas Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada De dentro da minha cabeça, E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo como quem pensou e achou e esqueceu. Estou hoje dividido entre a lealdade que devo À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora, E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo. Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada. A aprendizagem que me deram, Desci dela pela janela das traseiras da casa, Fui até ao campo com grandes propósitos. Mas lá encontrei só ervas e árvores, E quando havia gente era igual à outra. Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou? Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa! E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos! Génio? Neste momento Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu, E a história não marcará, quem sabe?, nem um, Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras. Não, não creio em mim. Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas! Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo? Não, nem em mim… Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando? Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas — Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas —, E quem sabe se realizáveis, Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente? O mundo é para quem nasce para o conquistar E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão. Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez. Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo, Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu. Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda, Ainda que não more nela; Serei sempre o que não nasceu para isso; Serei sempre só o que tinha qualidades; Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira, E ouviu a voz de Deus num poço tapado. Crer em mim? Não, nem em nada. Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo, E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha. Escravos cardíacos das estrelas, Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama; Mas acordámos e ele é opaco, Levantámo-nos e ele é alheio, Saímos de casa e ele é a terra inteira, Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena; Come chocolates! Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates. Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria. Come, pequena suja, come! Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes! Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folhas de estanho, Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei A caligrafia rápida destes versos, Pórtico partido para o Impossível. Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas, Nobre ao menos no gesto largo com que atiro A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas, E fico em casa sem camisa.
(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas, Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva, Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta, Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida, Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua, Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais, Ou não sei quê moderno — não concebo bem o quê —, Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire! Meu coração é um balde despejado. Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco A mim mesmo e não encontro nada. Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta. Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam, Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam, Vejo os cães que também existem, E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo, E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei, e até cri, E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu. Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira, E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses (Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso); Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.
Fiz de mim o que não soube, E o que podia fazer de mim não o fiz. O dominó que vesti era errado. Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me. Quando quis tirar a máscara, Estava pegada à cara. Quando a tirei e me vi ao espelho, Já tinha envelhecido. Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado. Deitei fora a máscara e dormi no vestiário Como um cão tolerado pela gerência Por ser inofensivo E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis, Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse, E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte, Calcando aos pés a consciência de estar existindo, Como um tapete em que um bêbado tropeça Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta. Olhou-o com o desconforto da cabeça mal voltada E com o desconforto da alma mal-entendendo. Ele morrerá e eu morrerei. Ele deixará a tabuleta, e eu deixarei versos. A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também. Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta, E a língua em que foram escritos os versos. Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu. Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas, Sempre uma coisa defronte da outra, Sempre uma coisa tão inútil como a outra, Sempre o impossível tão estúpido como o real, Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície, Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?), E a realidade plausível cai de repente em cima de mim. Semiergo-me enérgico, convencido, humano, E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos. Sigo o fumo como uma rota própria, E gozo, num momento sensitivo e competente, A libertação de todas as especulações E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira E continuo fumando. Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira Talvez fosse feliz.) Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?). Ah, conheço-o: é o Esteves sem metafísica. (O dono da Tabacaria chegou à porta.) Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me. Acenou-me adeus gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da Tabacaria sorriu.
Fernando Pessoa
1 note
·
View note
Text
Soneto da Separação
De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente. Vinícius de Moraes
1 note
·
View note
Text
Soneto da fidelidade
De tudo ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure.
Vinícius de Moraes
0 notes
Text
Não sei quantas almas tenho
Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei. Continuamente me estranho. Nunca me vi nem acabei. De tanto ser, só tenho alma. Quem tem alma não tem calma. Quem vê é só o que vê, Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo, Torno-me eles e não eu. Cada meu sonho ou desejo É do que nasce e não meu. Sou minha própria paisagem; Assisto à minha passagem, Diverso, móbil e só, Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo Como páginas, meu ser. O que segue não prevendo, O que passou a esquecer. Noto à margem do que li O que julguei que senti. Releio e digo: “Fui eu?” Deus sabe, porque o escreveu.
Fernando Pessoa
0 notes
Text
Poema em linha reta
Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, Indesculpavelmente sujo. Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, Que tenho sofrido enxovalhos e calado, Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda; Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel, Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes, Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado [sem pagar, Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado Para fora da possibilidade do soco; Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida…
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia! Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam. Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado, Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca! E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído, Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear? Eu, que venho sido vil, literalmente vil, Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Fernando Pessoa
0 notes
Text
Tabacaria
Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto, Do meu quarto de um dos milhões do mundo. que ninguém sabe quem é ( E se soubessem quem é, o que saberiam?), Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente, Para uma rua inacessível a todos os pensamentos, Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa, Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres, Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens, Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade. Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer, E não tivesse mais irmandade com as coisas Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada De dentro da minha cabeça, E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu. Estou hoje dividido entre a lealdade que devo À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora, E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo. Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada. A aprendizagem que me deram, Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fernando Pessoa
0 notes
Text
Respeito
Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes. Prezo insetos mais que aviões. Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis. Tenho em mim esse atraso de nascença. Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos. Tenho abundância de ser feliz por isso. Meu quintal é maior do que o mundo. Manoel de Barros
0 notes
Text
Difícil fotografar o silêncio
Difícil fotografar o silêncio. Entretanto tentei. Eu conto: Madrugada, a minha aldeia estava morta. Não se via ou ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas. Eu estava saindo de uma festa,. Eram quase quatro da manhã. Ia o silêncio pela rua carregando um bêbado. Preparei minha máquina. O silêncio era um carregador? Estava carregando o bêbado. Fotografei esse carregador. Tive outras visões naquela madrugada. Preparei minha máquina de novo. Tinha um perfume de jasmim no beiral do sobrado. Fotografei o perfume. Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra. Fotografei a existência dela. Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo. Fotografei o perdão. Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa. Fotografei o sobre. Foi difícil fotografar o sobre. Por fim eu enxerguei a nuvem de calça. Representou pra mim que ela andava na aldeia de braços com Maiakoviski – seu criador. Fotografei a nuvem de calça e o poeta.Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa Mais justa para cobrir sua noiva. A foto saiu legal. Manoel de Barros
0 notes