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Franziu o cenho e negou com a cabeça, os lábios curvados para baixo. “Nada disso. Sou corrupto. Onde está o seu pincel?” Olhou para as vestes do príncipe, tentando procurar o objeto pendurado em algum lugar. Cillian era mesmo um pouco sujo quando se tratava de apostas, tendo se enfiado em maus bocados em alguns dos jogos de azar em que se envolvia. Na época, era jovem e inconsequentemente demais para se importar com os prejuízos e agora utilizava apenas do blefe para conseguir o que queria. Estava pronto para negar o convite para fazê-lo se enfiar na brincadeira, mas os sobrinhos de Cillian eram seus maiores inimigos. Em instantes, as crianças se agarraram no tio e fizeram reverências ao príncipe antes de tratá-lo como se tivessem a mesma idade, perguntando quais eram os doces favoritos do mesmo e se ele também comi até a barriga doer. Fay, sua favorita, segurou os dedos do príncipe para perguntar se podia ter uma maçã caramelada de chocolate. “Não toque em Vossa Alteza, querida.” Cillian puxou a menina para perto de si, quase enciumado, e suspirou derrotado com a artimanha do outro em conquistar os pequenos. “Estou mais que acompanhado, como pode ver.” Sorriu com certo desdém, mas não estava verdadeiramente incomodado. Enquanto podia passar um tempo com os sobrinhos que pouco via devido a distância, aproveitaria cada segundo. Se fosse agradá-los às custas de Vincent, melhor ainda! Esticou o braço para o lado, aprovando a ida das crianças para a tenda das comidas, que logo tomaram o caminho com celebração e falando mais do que as cordas vocais permitiam. Também espero que Vincent fosse à frente para andar logo atrás dele, um sinal de respeito que geralmente era feito com a realeza e que Cillian tinha aprendido bem quando fora aprendiz de Auberön. “Está tendo problemas com seu dragão?” Não sabia o que ele queria conversar e só conseguia pensar no mais óbvio. “Posso tentar ajudar com isso. Tive um desafio e tanto quando tentei domar Void. Ele, teoricamente, não era um dragão disponível.” Os olhos se maravilharam ao falar do próprio dragão, o qual não poupava palavras, mesmo para alguém que não tinha afinidade, para elogiar.
O príncipe estava acostumado a ver os changelings sempre esperando apenas o pior dele — afinal, era o que ele normalmente estragava mesmo. Por que diabos desperdiçaria sua simpatia com bárbaros? Nunca teve problemas com isso; podia ignorar facilmente tudo o que eles pensavam. Contudo, ficar marcado como sequestrador logo pelo homem que agora ele precisava conseguir a bênção de repente se tornou uma pedrinha em seu sapato. O príncipe ergueu as sobrancelhas, mas não se ofendeu, reagindo como se a possibilidade nunca tivesse passado por sua cabeça. ── Oras, não seja tão rancoroso! Achei que já tínhamos deixado isso para trás. ── Queria, é claro, levar como leveza o suficiente para fazer o acontecido parecer apenas um detalhe insignificante. Uma história engraçada que eles relembrariam nos jantares em família que o príncipe certamente se enfiaria no meio depois que se casasse com Tadhg Barakat. ── Eu vim em paz, certo? Até me ofereceria pra te ajudar a ganhar nisso aí usando magia, mas sei que você é um homem íntegro demais para aceitar isso… ── Comentou, observando a determinação de Cillian para humilhar o pirralho naquele jogo sem qualquer julgamento, embora eles existissem no fundo da mente. Que tipo de lição ele estava querendo dar para o pobre garoto? Que não se podia ganhar tudo na vida? Imaginava que o tal sobrinho devia sofrer muito nas mãos do professor, o que o fez lamentar um pouco por ele, mas de repente se deu conta de como o moleque podia servir a seu favor, e a orbe negra que flutuava atrás dele cintilou com mais intensidade. Talvez fosse difícil comprar a aprovação de Cillian, mas as crianças sempre eram muito mais fáceis. O bigode loiro se desenhou num sorrisinho quase santo, com o príncipe rapidamente desviando sua simpatia para o garoto que seria seu caminho para obter o que ele queria. ── Não sabia que estava acompanhado. Nesse caso, que tal passar nas tendas de comida e eu compro doce para a criançada enquanto conversamos?

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Ergueu as sobrancelhas e assentiu repetidas vezes. “Especialmente em Melian, pelo menos agora. Estamos brigados.” Franziu o nariz sem muito esmero. Não escondia muitos segredo de ninguém e Alec sabia da relação de Melian como qualquer outra pessoa. Eram unha e carne, Cillian faltando tratá-la como uma criança que precisava ser protegida à todo custo e também colocando-a à prova o tempo todo. Naquele momento, não era como definia a relação. A tensão entre eles era por um mal entendido súbito que o fazia mal, e não queria ser ele a ir atrás. Melian precisava reconhecer a própria soberba também. “E você? Bateria se fosse Melian?” Devolveu a pergunta, curioso para entender de onde vinha aquele interesse. Deu uma risada divertida, aceitando o tapa que transformou o riso em algo nervoso. “É claro que estou com medo! Não conhece minha fama com superstições?” Outra coisa que não escondia. Cillian tinha um pavor e confiança que se misturavam confusamente sobre presságios e teorias, o que o fazia receber todos aqueles pretextos com mais intensidade. Foi sua vez de retribuir o tapa. “Mas o que mais poderia acontecer comigo, não é?” Murmurou. “Tenha você um pouco de compaixão. Agora é a hora perfeita para usar o deboche de idoso que vocês usam contra mim só por serem uns sete ou oito anos mais novos. Amadores.”
ALEC FICOU estático por dois instantes, concordando internamente com a colocação de Cillian que lhe amargava a boca. Era o que faziam: derramar sangue próprio e de outros. Era o que ele detestava fazer. O Changeling também tinha sua cota de crendices supersticiosas para acreditar, e provavelmente dormiria mal por muito tempo aguardando que a profecia se realizasse. Ao menos teria um destino. "Bateria na pessoa à frente se fosse alguém... Hm... Como Melian Eorl?" Uma sobrancelha se ergueu, a lufada de ar escapando dos lábios em descrença à própria situação. Mesmo após todas as ameaças (por parte dela), das brigas físicas e dos hematomas, não conseguia desferir golpes contra a jovem. Preferiria encarar Torin de modo menos turvo, quando novamente se encontrassem em outra vida. Ou no Sonar. Mas, Alec tinha mais com que se preocupar: o tapa de Cillian ardendo as costas da mão. Ainda não era o suficiente para arrancar uma expressão facial que não a de neutralidade forçada, apenas para fazer o coração bater em antecipação do próximo. "Faz sentido quando você não quer me deixar ser o único azarado da noite. Tenha um pouco de compaixão." Sem aviso, a mão cortou o ar na direção alheia, estalando um tapa ligeiramente mais forte. Talvez fosse melhor acabar com aquilo rápido. "Ou tá com medo?" Blefou.
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Cillian assistia às atrações sem muito deslumbre. Já tinha estado em outras edições do circo e, daquela vez, tinham se superado no tema. Estava exausto de acompanhar cultos a deuses khajols e apresentações artísticas sem muito capricho. Os artistas pareciam movidos à fogo para um novo espetáculo e tinha que admitir que estavam fazendo um bom trabalho, embora não muito inovador. Sua maior expectativa era para o ato final, prometido um grande ensaio de guerreiros. Quando Kadaj se aproximou, cutucando a onça com a vara curta — o pai do rapaz a quem protegia —, Cillian deu uma risadinha baixa. “Tem um panteão que tem um comentário engraçado sobre isso, sabia? Pão e circo, ou algo parecido.” Aproveitou a acidez para colocar um pouco da própria para fora, achando que cabia bem naquilo tudo. Em uma semana, estavam lutando contra monstros e, na outra, estavam no circo e reconstruindo Wülfhere. “Desde que devolvam meu castelo de volta, estou satisfeito, mas espero que mandem os cozinheiros de Hexwood para nós também. Não é empolgante saber que vamos voltar a ter nosso próprio lugar? Sem os lençóis chiques, carnes todos os dias…” Suspirou enquanto os acrobatas voavam no ar, cruzando os braços e apoiando-se na coluna mais próxima. “O que mais pretende fazer hoje além de segurar o príncipe Vincent no colo, hm?”
@inthevoidz
tenda principal 📍
prompt: semana que vem da pitty. "ainda temos tempo até tudo explodir. quem sabe quanto vai durar."
Os gritos de euforia e surpresa que as pessoas davam parecia até encenado. Kadaj, que estava de pé logo perto da saída da grande tenda, analisava as atrações de longe, apenas porque seu instinto primordial era o de nunca descansar. Ele, como Jeremy, também tinha a função de averiguar a segurança de Vincent, por isso mantinha-se minimamente alerta para protegê-lo. Era sua obrigação, afinal de contas, já que o próprio Imperador sequer deu as caras até então e nada o havia informado sobre sua ausência. Qualquer que fosse a ocasião ou emergência deste, o soldado tinha de estar à postos. Foi quando viu a figura já conhecida e seu semblante iluminou-se rapidamente. Um rosto amigável para apaziguar a conturbação mental de sempre. "Temos tempo até que as coisas explodam, dragões queimem tudo e crianças novas descubram habilidades que jamais viram antes." Zombou ante os acontecimentos que os levaram até ali. Perguntava-se, então, o principal, que bem na hora vocalizou à Cillian: "Será que vai durar por muito tempo essa paz? Acho que não. Nunca dura, não é? Mas, desejaria não ser engolido por um monstro marinho maior do que a própria Zelaria." Atrás do outro, a atração do grupo de guerreiros não entretinha nem mesmo um pouco Kadaj. Sua própria existência girava em torno de guerras que pareciam nunca acabar, que entretenimento tiraria disso?
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A dramatização de Josephine apenas o fazia concluir que ela era uma verdadeira filha do teatro, ainda que fosse uma dançarina e não atriz. As coisas artísticas caíam bem a ela como se tivessem sido feitas para serem apreciadas pela pessoa certa, e ela fazia jus àquele conceito que ele tinha por conta própria. Ergueu as mãos como se estivesse se rendendo, os lábios levemente franzidos para baixo. “Não se preocupe, Josie. Em troca de boas moedas de ouro, guardo segredo. Estou precisando de um pouco de dinheiro agora que perdi tudo para os palhaços de pernas de pau.” Foi a sua vez de rir um pouco, denunciando os próprios vícios e divertimento naquela noite. Todos tinham o direito de se divertir e não sabia se o que tinha levado Josephine a beber era o gosto em saber o que era a liberdade fora das paredes grossas do castelo ou alguma razão em particular. Vindo dela, esperava que fosse a segunda opção. Ela era exemplar quando se tratava de ser uma princesa e ele duvidava muito que houvesse desejos fora da etiqueta. Ele suspirou, os braços caindo ao lado do corpo enquanto apontava para si mesmo com as mãos. “Sempre conheci as cores, só não encontrava no meu armário. Já menti uma vez que era daltônico para constranger um colega de Wülfhere.” Deu de ombros, tendo pouco pesar e achando graça na própria atitude infantil. Cillian sempre tinha desculpas excelentes para as vestes escuras: era mais fácil de disfarçar do fogo do dragão e da fuligem que perseguia os changelings como se eles fossem também feitos de carvão. Rolou os olhos, mas o sorriso permaneceu nos lábios. “Foi ideia minha, mas espero que ela aprove. Sigrid é louca por roupas, cores… Acho que assinei meu testamento de morte que era contra o mundo da moda nobre agora, não é?” Assim como o todo resto, Cillian sorria, como nunca tinha feito antes. Não estava nem um pouco incomodado em se vestir como um dos nobres para agradar a amada e parecer mais apresentável ao lado dela, e ela merecia ser bem vista de todas as formas. Na verdade, estava empolgado com sua nova realidade.
Cillian gargalhou das bochechas que ficaram tão vermelhas quanto amoras, a cabeça balançando para os lados com veemência. “Porque eu posso. Qual seria a graça se eu não pudesse acabar com você quando não está usando a coroa?” Aquele era um nível de intimidade que tinham secretamente. Em público, Cillian provavelmente sequer se dirigiria a ela de alguma maneira, mesmo que respeitosa, preferindo sempre se calar e fingir que não estava vendo ninguém após as reverências usuais. Agora que estavam apenas os dois sem o protocolo imperial, podia se largar com uma velha amiga. Para deixá-la menos enfezada, pagou duas moedas para um dos vendedores que carregava diversos copos de vinho de rosas em uma tábua presa ao corpo, estendendo um a ela. “Mas ofereço um pouco de paz só para não acabar na prisão.” Deu uma piscadinha rápida antes de dar um gole leve no copo, respirando fundo uma vez. “Não posso culpá-la por nada. Estou feliz em saber, na verdade. Em alguns momentos penso que ela pode se trancar e esquecer que ainda existem coisas boas além das que a família dela fingiu que eram.” Era fácil criticá-los e Josie não era cega, sabia que as doutrinas nobres eram tão cruéis quanto pareciam, especialmente para mulheres. Por Cillian, Sigrid poderia beber todo o álcool do mundo que estaria ao lado dela para oferecer água depois. “Faz muito tempo que ela não visita a senhora Briarsthorn, Josie. Estou esperando o momento em que a velha sentir falta.” Mordeu o lábio com a menção da mais velha, sendo um tanto antipático quando o assunto era sua presença ou simples existência. Ela era a culpada de boa parte da angústia deles, e Cillian se sentia egoísta em querer afastar Sigrid da mulher, mas não via opções melhores. “Por que estamos falando tanto de mim? Sua vida amorosa não está tão empolgante também? A essa altura, devia ter recebido pelo menos vinte propostas de casamento dos belíssimos lordes.” Debochou com a memória fresca de quando ele e o príncipe herdeiro tinham feito um ranking dos piores aos melhores, não tendo sobrado muitas boas opções.
Não sabia o que tinha a possuído, mas o impulso de se rebelar contra as amarras da coroa a vinha consumindo desde a morte da mãe. Era como se o choque a tivesse feito despertar para o óbvio: estava desperdiçando sua vida entre as paredes do palácio, sem conhecer nada do mundo, como se a oportunidade de viver não lhe pudesse ser arrancada a qualquer momento. Talvez também quisesse fugir da sensação de vazio que a partida da Imperatriz tinha deixado: por muito que nunca tivesse realmente a conhecido, era como se estivesse de luto pelo que poderiam ter significado uma para a outra. O fato de que o pai não respondia suas correspondências havia mais de uma semana tinha sido o empurrão final: se seria deixada por conta própria, se daria ao luxo de fazer o que desse na telha. Cada gole do vinho tinha o doce gostinho de uma liberdade que nunca tinha experimentado antes. Aquela era sua primeira vez bebendo, e certamente entendia o apelo: a adrenalina de fazer algo proibido a estava intoxicando antes mesmo que o álcool fizesse efeito. ── Não há nada de errado em viver! ── Interrompeu sua bebedeira para se defendeu das acusações de Cillian, soando escandalizada ao levar a mão livre ao peito. A menção das vestes alheias a fizeram inspecionar melhor o traje, notavelmente diferente da fantasia de assombração habitual. Não era o mais vibrante dos azuis, mas era melhor que o preto constante, e talvez tivesse um significado. Quiçá implicasse que o Methusael por fim estava se libertando do luto. ── Você descobriu as cores! Estou orgulhosa. ── Elogiou, pousando o caneco de bebida sobre o balcão para poder o aplaudir dramaticamente. ── A escolha foi sua ou de nossa amiga em comum? ── Veja bem, não o queria subestimar, mas confiava muito mais no bom gosto de Sigrid, e em sua habilidade de ser boa influência.
A menção de sua perseguição a fez franzir o nariz, as faces aquecidas pelo rubor da vergonha. Sem precisar se preocupar com a etiqueta enquanto estava disfarçada, aproveitou a oportunidade para o dar um tapa no braço em resposta. ── Eu não te persegui! Eu era só uma adolescente, por que você precisa ficar lembrando disso? ── Quis que a terra se abrisse e a engolisse ali mesmo, a lembrança embaraçosa ameaçando a consumir. Há muito tinha deixado as ambições românticas de lado, fosse com ele ou qualquer outro cavaleiro. Seamus a tinha ensinado que cada coisa – ou pessoa – tinha seu devido lugar, e aquele simplesmente não era o seu. Ao menos podia desviar o foco para Sigrid, sabendo que Cillian morderia a isca da distração. ── Você pode culpá-la? Ela está feliz, deixe-a celebrar. Os deuses sabem que ela merece um pouquinho de alegria depois de tudo o que tem passado. ── Imediatamente se lançou em defesa da Briarsthorn, tendo acompanhado o abandono de Rá em primeira mão. ── Talvez você tenha que levá-la para casa mais tarde. Para a sua, já que Valeriel a mataria se a pegasse bêbada. ── Um brilho travesso se acendeu em seu olhar ao fazer a sugestão, como se quisesse deixar claro que sabia. Sua própria falta de sucesso no amor não a impedia de viver indiretamente através de uma de suas melhores amigas, e de se divertir em dar um empurrãozinho para garantir um final feliz para aquela noite.
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Não tinha resposta certa para a pergunta de Tadhg. Quem? “Todo mundo.” Respondeu sem o menor pesar. Já era fato que sua família tinha problemas com várias outras, sendo praticamente banidos de muitos lugares, assim como Cillian era por associação. Incomum seria se as pessoas os vissem com bons olhos àquela altura, e ele também tinha representado bem a reputação que lhe fora dada por herança. Precisaria traçar uma linha imensa de batalhas e brigas de seus familiares para chegar a uma resposta redonda e não sabia por onde começar, a maior parte dos registros sendo ocultados ou propositadamente alterados. Se pedisse para que um dos rivais antigos contasse as histórias, acabaria com a porta batida em sua cara e uma espada atravessada em seu pescoço. “Vai ver. Tente procurar por alguma informação mais sucinta do que as que tenho.” Apesar das palavras imperativas, o tom de voz era de súplica, beirando o desespero. Era tão injusto que ele tivesse a própria história tirada das mãos por arrogância, mas quem queria criticar se até há alguns anos era o retrato cuspido das pinturas de seus antepassados? Suspirou pesadamente, balançando a cabeça para os lados. “Não sei o que aconteceu com ela e se é Erianhood agindo. Me parece ser, só não parece ter uma boa razão.” Estava com a pulga atrás da orelha, se perguntando se Ethel estava devocionando os deuses khajols ao invés de Erianhood e, mesmo assim, a deusa nunca tinha sido cruel. Torceu os lábios com a sugestão. “Vai ser pior. Os meninos Hrafnkel podem ser boa coisa. Sigrid os adora e Ethel se dá muito bem com eles, mas os pais é que são o problema.” Os conhecia bem para falar com prioridade e remorso, principalmente a matricarca da família. “Se sabe o que Gydda Hrafnkel fez com a própria filha, pode esperar o pior para Ethel.” A ideia o atormentava, mas não podia se meter quando ela tinha um noivo que podia controlar a própria família. Ele franziu o cenho rapidamente, se voltando para Tadhg com um sorriso no canto dos lábios. “Acho que pode parar de chamá-lo de engomadinho agora que o seu é pior ainda.”
(...)
Sentados na mesa, o jogo virou completamente. Quando a Madame começou a falar, parecia ser outra língua. Cillian não entendia metade das referências e quais eram os verdadeiros pontos, mas aos poucos, as peças pareciam se encaixar em sua mente. A maldição, a verdade que vinha herdada de sua família… Algumas respostas óbvias só estavam sendo confirmadas e esclarecidas para que não restassem dúvidas, e não o levavam a qualquer conclusão. Por onde começaria e o como quebraria a maldição? As cartas eram ambíguas e o faziam pensar em mais de uma possibilidade. O coração de Cillian estava batendo rapidamente, ecoando nos ouvidos enquanto tentava se atentar nos dizeres da cartomante que parecia envolvida demais com suas previsões, até se divertindo. Que pirraça, queria dizer, segurando a própria língua porque era temeroso às consequências de pessoas com dons inimagináveis como aquele. Cillian cruzou os braços sobre a mesa, analisando as figuras desenhadas e deu de ombros. “Você não pode afirmar que eu não tenho coragem. Essa é a única coisa que quero em anos, Madame.” Respondeu baixo, a sobrancelha se erguendo quando mencionou sobre a escuridão. Ela estaria falando sobre o Sonhār? A dimensão era inacessível há muito tempo e ele não acreditava que teria uma chance de ir atrás. “Me mostre o escuro. Quero andar.” Falou com toda a certeza no mundo, ainda que o coração batesse errado para avisá-lo que não estava preparado.
A cartomante bateu as unhas sobre a mesa antes de pegar uma carta de fora do monte embaralhado, uma de moldura prateada com o fundo completamente preto. “Basta olhar e pensar um pouco.” Ela apontou para o vazio, e ali ele focou. Os olhos escuros como a pintura estavam densos enquanto ele começava a assistir o mar saindo de dentro da carta, as ondas fazendo um barulho tranquilo enquanto o som da música do lado de fora ficava mais alto. Os olhos de Cillian se fecharam antes que ele apagasse sobre a própria cadeira, e não estava mais no circo.
Cillian estava em outro lugar, confinado dentro da própria mente.
O que pareceu durar horas foi, na verdade, minutos dentro da tenda da cartomante, que já embaralhava as cartas outra vez como se esperasse por outro cliente. Procurou pela figura de Tadhg, completamente desorientado e ofegante. Não falou uma palavra sequer, segurando na mão do amigo com força, sentindo os próprios dedos gelados só pelo calor que o outro emanava. Cillian ficou estático por alguns segundos, segurando com força os dedos de Tadhg antes de soltá-los subitamente e se levantar. “Vamos embora.”
Tadhg não era exatamente a pessoa certa para ajudar com o problema particular de Cillian. Não tinha acesso aos acervos privados dos escribas, e tampouco entendia o suficiente de magia para compreender como uma maldição como a dele funcionaria. Se sentia impotente frente ao obstáculo, sensação que tinha se tornado ainda mais aguda ao perder diversos capítulos da vida do outro enquanto estava na prisão. O comentário por ele feito sobre a mina dos Methusael era sua única oportunidade de se fazer útil: se nada sabia a respeito do castigo que até hoje o punia, era talvez o maior especialista do reino quando o assunto era derramamento de sangue. A revelação sobre os negócios escusos lhe deixava com uma conclusão óbvia. ── Você sabe quem eles mataram? Devíamos começar por aí. ── A vingança era a mais óbvia e mais lógica das explicações, e montar uma lista das famílias khajols com quem tinham um histórico era, em sua opinião profissional, a melhor e única maneira de determinar a origem da maldição. ── Posso ver o que os Sangue de Ferro sabem. ── Não fazia parte da guilda de mercenários, mas tinha um convite vitalício, e mais de uma fonte de informação em suas fileiras. Uma viagem à capital poderia revelar mais peças do quebra-cabeça que tentavam montar: de acordo com sua experiência, rezar para Erianhood certamente faria pouco para os ajudar. ── Ela me contou sobre o episódio no palácio. Parece que estamos todos amaldiçoados. ── De certa maneira, via os dedos esmagados e que agora se curavam de forma torta como o seu castigo, pois lhe roubavam a coisa que mais amava fazer. Já não podia tocar seu alaúde ou o piano de Makaela. Ironicamente, o ferimento não afetava suas atividades profissionais, já que para matar era ambidestro. ── Você acha que o casamento com o engomadinho vai ajudar? ── Temia que a associação com a família nobre a que o homem pertencia só fosse a colocar em uma posição pior, mas sabia que o dizer para a própria Ethel seria falar a ouvidos surdos.
Uma vez dentro da tenda de Madame Madge, a atmosfera se transformou. Nunca tinha ido ao teatro, mas a decoração exagerada era exatamente o que esperaria de um cenário montado nos palcos da capital. Tudo ali parecia calculado para contar uma história, e para convencer. Se seu primeiro encontro com a mística tivesse sido naquele ambiente, não teria acreditado em uma palavra do que ela havia dito, mas a tinha conhecido na noite anterior enquanto caminhava com Vincent. Havia apenas uma cadeira diante da mesa da vidente, e Tadhg parou de pé ao lado de Cillian como um guarda – ou um encosto. Os olhos da mulher buscaram os seus em silêncio, como se questionasse se o outro homem sabia de seu segredo. Assentiu positivamente para o confirmar. Já não tinha nada a esconder dele, por muito que não fosse o assunto daquela consulta. Conforme as cartas eram embaralhadas, se permitiu pousar a mão sobre o ombro do amigo, o lembrando que não estava sozinho.
Conforme as cartas foram dispostas sobre a mesa, as seguiu com os olhos, sabendo apenas o suficiente sobre as possibilidades para não interpretar figuras como O Diabo e A Morte no sentido literal. Com o indicador, a vidente bateu contra a primeira das cartas três vezes. "Ah, Cillian Methusael. Você me pede um caminho para quebrar suas correntes, e eis o que as cartas me dizem: essa maldição não começa com você, mas só você pode terminá-la." Com unhas longas e pintadas de vermelho, a mulher passou para a carta seguinte, deslizando o dedo sobre os adornos que a ornamentavam como se pudesse sentir o que tinham a lhe falar. "O Diabo mostra que você está preso a algo, e que a resposta não está fora de você. Está dentro. Você sabe que o que herdou foi mais do que ouro." Quando voltou a atenção para a carta da Morte, a viu assentir como se tudo fizesse perfeito sentido. Só para ela, pensou, mas nada disse em voz alta. "Não é possível escapar sem renúncia. O peso que você carrega está em seu nome." Ao alcançar a sacerdotisa, a mulher sorriu pela primeira vez desde que tinham chegado ao lugar. "Já tem a resposta consigo, só não teve a coragem de enfrentá-la ainda." Precisou conter o engasgar de uma risada de escárnio, pois as palavras intencionalmente ambíguas não faziam sentido algum para ele. A última das cartas era A Lua, e Madge o estendeu um olhar conspiratório para o tranquilizar que não o representava desta vez antes de a explicar. "Você está perdido entre o legado, a intuição e o medo. Só vai sair disso se tiver coragem de andar no escuro por um tempo."
Aquela trambiqueira estava falando sério? Se "prever o futuro" era tão simples quanto oferecer um punhado de palavras vazias, Tadhg tentaria sua própria sorte para ganhar dinheiro fácil. Não lhe cabia quebrar o silêncio, e foi preciso morder a língua afiada para não destilar todo o deboche de um cético contrariado ao ouvi-la terminar o monólogo sem uma única conclusão objetiva sobre o que o amigo precisava fazer. Buscou pelo rosto de Cillian, tentando interpretar sua reação. Todo aquele lenga-lenga significava algo para ele?
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Pelos dizeres de Melian, era fácil dizer que ela não sabia da metade da história, mas não ousou dizer uma palavra sequer enquanto ela discursava. Mesmo com certo receio e mágoa envoltos da changeling, ele tinha um nível de tolerância e de receptividade completamente parciais em relação a ela. Todos os medos que ela compartilhava eram justos e, ainda, não eram nada novidade para ele. Ele já tinha passado por todo aquele processo antes, desde o receio da família de Sigrid até a recusa dela. Podia dizer de olhos fechados que estava tranquilo sobre tudo aquilo porque confiava em Sigrid e no que estavam construindo juntos. Melian não entendia porque não sabia, e ele não podia julgá-la por isso. Quando ela finalmente terminou, ele respirou fundo, olhando para os cantos para tentar vê-la sem atrapalhar o artista — por experiência própria, não queria lápis arremessado na cabeça por ter mudado de pose. “Já passei por todas essas fases, Melian. Não conheci Sigrid há poucos meses… Conheci ela antes de me casar com Makaela.” Admitiu em voz baixa, um pouco menos tenso quando notou que a tenda da caricatura não estava cheia de pessoas curiosas e desesperadas por algum entretenimento. “Eu me casei com Makaela por causa dela, se quer saber. Fui eu quem recusei a ideia de amor por um casamento tradicional e respeitável para os changelings por querer tanto me tornar um dirigente, e você sabe o final da história.” A morte de Makaela, em sua mente, era total responsabilidade dele, de sua maldição e de sua arrogância desesperada por cada vez mais poder. “Não acho que a família de Sigrid pode me ferir de alguma outra forma que já não tenham feito antes, e ela também não está disposta a correr o risco. É tão difícil acreditar que ela praticamente me pediu em casamento?” Não conseguiu esconder o sorriso, o polegar coçando o anel escuro que usava desde o casamento dos pupilos do imperador. Era quase estranho se imaginar não usando ele porque era um lembrete de Sigrid e do que ela realmente queria. Ainda precisava de um tempo, mas faria o desejo mais profundo de ambos se concretizar. “Sabe que sinto muito por tudo que aconteceu com Lucian e que tentei fazer alguma coisa a respeito. Não quero apagar essa história, mas tenho esperança de que toda a loucura do imperador sirva de alguma coisa. Espero pelo melhor desde aquele outro circo dos horrores.” Mencionou a festa que acabou na morte da imperatriz, e mesmo com todos os acontecimentos, Seamus Essaex tinha levantado uma bandeira a favor de changelings e khajols juntos. “Tadhg está mais seguro do que você pensa, e eu também. Também me importo com você e te perdoo mesmo sem ter pedido perdão devidamente.” Deu um riso curto. “Só preciso que confie em mim dessa vez. Prometo que não vai precisar pensar em agir de alguma forma.”
Melian engoliu em seco, o barulho do lápis era como um timer. Sabia o que deveria falar, já havia pedido desculpas milhares de vezes para Lucien sobre este mesmo tópico, mas Lucien não estava ali e todos os seus medos se concretizaram. Não poderia tolerar que isso acontecesse com mais alguém assim como não poderia mais manter aquela situação de desavença causada por si mesma. Até mesmo ela sabia quando passava da linha. "Eu não tenho problema com vocês ou com o relacionamento." Começou, mesmo com todo seu discurso ensaiado ainda era difícil colocar tudo em palavras, em especial depois de tudo que aconteceu. "É só que... Céus. Todo o resto é uma merda." Virou-se para Cillian, não esperando uma reação, apenas por que era mais confortável falar assim, como um lembrete de que ele ainda estava seguro. "O que acha que vai acontecer quando a família dela quiser um casamento e ela se recusar por que te ama?" Melian nunca duvidou do amor que tinham, assim como nunca duvidou que Zara amava Lucien no passado. Mas sua experiência e sua vida já havia a lembrado que eram pessoas de segunda classe vezes demais para não pensar nisso. " Tenho medo de que façam com você o mesmo que fizeram com... Com Lucien." Falar do irmão em voz alta era doloroso e isso se refletia na voz de Melian, um dos poucos tópicos que ela não conseguia disfarçar com a dose de humor ácido de sempre. "Ele não fez nada de errado, mas está provavelmente apodrecendo em uma masmorra no fim do mundo." Ao menos era isso que ela sabia sobre ele. Ela passou a olhar novamente para o artista tomando alguns segundos para recompor o tom e não acabar gritando novamente. "Já faz quatro anos e eu não tenho sinal dele, eu não pude fazer nada o dia que levaram ele... Eu estou com medo de te perder também... Porque no fim, é isso que nos resta... Podem fingir que nos aceitam, mas sabe que nunca vai acontecer de verdade. Depois do casamento, que selaria a união, jogaram o Taghd direto na masmorra, nem tinham provas, ele estava acabado..." Mais uma vez a loira parou, pela primeira vez seu Seon completamente quieto em sua mente, enquanto ela tentava parecer o menos alterada possível. " Não vou suportar não poder agir novamente... Mesmo que não me perdoe, porque eu sei que não mereço... Eu gostaria que soubesse que me importo, da mesma forma que você foi o único que se importou comigo por muito tempo."
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Ouviu atentamente e sabia quais eram os sinais de tudo aquilo. Devotos de uma deusa da natureza, ter a natureza morta com a mera presença não era coisa boa. Cillian tentou procurar na mente por alguma explicação para o que vinha acontecendo, mas nada parecia justo o suficiente. Estar de casamento marcado com um khajol não era novidade nenhuma entre os changelings, e Ethel também era uma das melhores pessoas que conhecia, sem a capacidade de fazer mal por livre e espontânea vontade. O próprio poder que ela havia desenvolvido em toda aquela bagunça mágica era reflexo do que ela era. “Sinto muito.” Murmurou, sem fazer rodeios sobre não parecer algo tão grande como era. “E Erianhood não responde a nenhuma prece, não é?” Era mais uma reclamação que pergunta. “Queria poder ter respostas mais sucintas para as flores murchas, Ethel, mas nós dois sabemos que matar um jardim inteiro só por respirar não é algo positivo. Com a falta do cálice, parece mais difícil ainda saber por onde começar.” Bufou. Queria perguntar a Vincent se ele tinha algum acesso com as dimensões que os changelings cultuavam, entretanto, sentia-se contrariado em perguntar coisas de grande confiança para o príncipe que nem chegava a ser um amigo próximo. Só o tolerava por ora. Olhou para trás, vendo as tendas do futuro sendo deixadas ao longe e se recordando de um rumor. “Você visitou aquela Sala dos Espelhos, por acaso? As pessoas estão falando alguma coisa sobre esse lugar, algo divino.” Não queria causar falsas expectativas, mas tudo valia a tentativa. Talvez Ethel pudesse encontrar algum sinal em uma brincadeira perversa dos artistas circenses, mesmo que fosse para confortá-la falsamente. Honestamente, preferia aquilo a vê-la tão desanimada.
“Será que algum doce é capaz de adocicar você por dentro?” Reclamou quando ela ficou mais amarga de repente. Não a julgava por estar irritadiça, entretanto, era, sim, coisa para se confortar. Eles sabiam do histórico amoroso de Ethel que não era nada promissório e tampouco cheio de sucessos. Detestava Eirik por ser quem ele era, mas o adorava por ter visto em Ethel o que qualquer pessoa devia ver também. Ambos sabiam onde estavam se metendo quando decidiram cruzar suas vidas com khajols e quais eram as consequências, algo para o que não precisavam se cegar. “A mulher Hrafnkel já conta como grande coisa. Não acho que vá conseguir muito de Gydda e Thorbjorn. Pelo meu mínimo conhecimento, são as piores pessoas que vai conhecer. Pergunte a seu noivo.” Não conseguiu evitar a cutucada no homem que estava ausente, mas Cillian sabia dos rumores e do histórico que tinham com sua família. Thorbjorn ainda tinha um pouco de civilização, e Gydda era… desprezível. Era melhor que Ethel não se misturasse para o próprio bem. Ele suspirou, dando de ombros. “Gostaria de pensar que sim, só me parece muito punitivo para algo tão comum. Quando é que changelings não se casaram com khajols antes, Ethel?” A pergunta o fez rir baixo por um curto tempo. Não era porque era mal visto até há pouco tempo que as pessoas deixavam de fazer. Eram vários os changelings filhos de feiticeiros em Wülfhere, mesmo que não fosse um número tão grande. “A não ser que você tenha se afastado dela por causa de tudo o que é novo… O que não aconteceu, certo?”
Dentre todos os pontos que desejava ser capaz de traçar uma ponte até o amigo, sentir-se no pior lado de uma maldição era um que definitivamente não valia a partilha. Cillian sempre havia se mostrado um tanto resignado ao próprio destino, mas Ethel ficava contente em vê-lo ao menos um pouco mais otimista; nem precisava de seu olhar eternamente atento para perceber que muito disso vinha como consequência da influência de Sigrid em sua vida – também encontrava certo conforto em saber que, finalmente, ela mesma se via no caminho de uma relação menos turbulenta com a khajol. “Aconteceu somente uma vez, mas ao contrário das velas se apagando durante o Yule, isso é quase impossível de descartar como mera coincidência.” Estava inquieta, agitada, o que se fazia perceptível na maneira com que suas mãos tremiam de forma esporádica e intermitente, mesmo pousadas relaxadas sobre o colo como estavam. “Fui convocada para discutir assuntos oficiais com o Conselho Militar antes de voltarmos a Hexwood, imaginei que seria algo relacionado à renovação da minha dispensa para mais um ano de Estudos Complementares. A reunião foi tranquila, no final das contas, mas foi em um jardim do Solar que isso aconteceu. Bastou que eu parasse um minuto para admirar as rosas para que todas murchassem bem diante dos meus olhos. Se isso não é sinal de má sorte, sinceramente não sei o que mais seria.”
Tal como o ocorrido na virada do ano, aquilo vinha lhe tirando o sono com mais e mais frequência ultimamente; a esse ponto, ousava assumir que seu olhar ficaria para sempre acompanhado das olheiras arroxeadas que marcavam o rosto feminino. Talvez fosse uma coisa boa que não tivesse topado com Eirik nos últimos dias; a parte vaidosa e insegura de si gritava que sua aparência estava horrenda o bastante para afastar qualquer intenção de romance. “E isso tinha o intuito de me confortar? Como se não soubéssemos que os únicos membros da família que estarão sequer interessados em me dar as boas vindas nasceram no mesmo dia.” Ainda era melhor do que nada, é claro, até porque valorizava muito a amizade cultivara paralelamente com Freyja, antes de sequer saber que ela e Eirik dividiam a vida. “Não que aprovação familiar seja tudo, pelo menos tenho a preferência do noivo dessa vez.” O comentário teria soado mais leve e bem-humorado caso Ethel estivesse no seu correto e habitual estado de espírito, mas pelo menos assim podia dizer que tentou amenizar o clima. “Você não pensa que as coisas podem estar relacionadas, não é? Acha que Erianhood esteja me punindo por seguir os passos de minha mãe, depois de todo o mal que a escolha dela fez à nossa família?” Sequer sabia sobre a própria história com riqueza de detalhes, mas uma vez traçado, o paralelo havia tomado raízes e crescido como erva daninha na mente da mulher.
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Olhou para as próprias vestes para entender o que havia de especial nelas, e ele sabia que estava um pouco diferente. Não estava em um dos campos cheios de dragões onde precisava usar a roupa mais neutra possível para amenizar tecidos queimados deteriorados e tampouco com a falta de vida que sempre vestia. O azul ainda era escuro, uma de suas cores favoritas, mas era azul, fora de seu padrão. “Vou tentar procurar alguma parecida com essa na minha paleta de cores, ou no meio dos seus vestidos.” O sorriso convencido se manteve no rosto com a provocação. As portas que revelavam um armário quase vazio agora eram repletas de vestidos que pareciam aumentar a cada dia e ele não se incomodava, mas esperava que ficasse ainda mais cheio. Poderia ter fingido estar ofendido, e o que conseguiu fazer foi deixar um riso baixo e sem vergonha escapar. Não era novidade que ele se empenhava muito nos jogos e Cillian não era totalmente honesto, vez ou outra apostando nos próprios blefes. Seria mentira dizer que não trapaceava, mas com Sigrid não usava tanto daquela tática. Na verdade, sempre tentava perder para fazê-la jogar e, infelizmente, a mulher só era bem ruim para os padrões dele. Preferia mentir a dizer aquilo, uma verdade oculta que ambos sabiam e era melhor manter como segredo. “Às vezes, sim. Pensei que fosse um ótimo mentiroso durante os jogos. Agora estou preocupado.” Coçou a nuca com uma falsa decepção, tratando de voltar a mão para ela rapidamente. Não queria perder o calor do corpo contra o seu por mais nenhum instante naquela noite. Assentiu sobre a sobrinha, que tinha mudado bastante desde que Sigrid soubera dela. Fay era um tanto marrenta, enciumada e até difícil de lidar, ainda sendo sua preferida dentre os sobrinhos. Vendo daquela forma, ela parecia ter muitas semelhanças com Sigrid. “Mais um dois anos e ela vai te passar na altura.” Falar sobre o assunto de visitar era inadequado com uma Sigrid embriagada, e ele queria evitá-lo de qualquer forma. Quanto mais pudesse adiar aquele encontro familiar, melhor, ou pelo menos ele pensava que era. Temia muito como as coisas poderiam sair e como os familiares sem um pingo de noção e etiqueta poderia tratá-la, mesmo que ela fosse uma mulher com os punhos de ferro. Onde pudesse protegê-la, o faria, especialmente contra os seus.
Apoiou o queixo no topo da cabeça dela, ficando igualmente pensativo. Parecia mais complicado falar no assunto da magia de Sigrid quando não sabia como ele se manifestava além do que ela demonstrava, e também parecia errado criar falsas esperanças quando ele nem tinha certeza do que se tratavam seus sonhos e sinais pelo jardim. “Ainda é um poder, um assustador.” Murmurou. Por mais deslumbrante que achasse o leopardo, ainda o temia ocasionalmente. Sentia que aquela versão de Sigrid era traiçoeira e letal, e estava certo, embora soubesse que o tempo bastaria para se acostumar com a figura felina que estava eternamente marcada em sua vida. “Não faço ideia de quanto tempo faz que começou porque não sou muito adepto ao sono, como você deve ter notado.” Roçou a barba contra o rosto dela, imaginando que aquele comportamento já tinha sido percebido. “Provavelmente desde que comecei a dormir de verdade?” Deu de ombros. “Pensei que fosse por causa do perfume. À noite, quando você não está, o cheiro invade cada canto da casa. Parece que está te procurando.” O sorriso foi sutil e ele gostava daquele romantismo, de pensar que o lugar também sentia falta de Sigrid como ele. Entretanto, não era mentira. Quando Sigrid estava, tudo era normal. Quando não, as flores pareciam querer achá-la de alguma maneira, presas no solo de seu jardim sem ter muito para onde ir. “Não sei ajuda em algo, mas continuei a fazer as oferendas por você no altar. Pensei que pudesse valer a tentativa mesmo que seus deuses aparentem gostar muito.” Era difícil admitir aquilo por se sentir um pouco traidor de Erianhood, fazendo oferendas para… Ele nem sabia para quem, apenas seguia o mesmo ritual de Sigrid no altar improvisado em sua casa. O mantinha intacto, sempre com algum objeto e comida similares aos que ela colocara da última vez. A intriga pessoal não o tranquilizava, mas sabia o quão importante tudo aquilo era para a pessoa que mais amava na vida, o que bastava para que tivesse coragem de revelar. As mãos traçaram as costas dela em um afago terno, e ele se manteve sorrindo quando o elogio surgiu subitamente. “Sou?” Aquilo explicava as fungadas esporádicas que recebia no pescoço, nos cabelos, no peito… Uma mania de que ele amava ser vítima. Os dedos ficaram um pouco tensos no carinho. “Visitei a maior parte das atrações, por incrível que pareça. Não pensei que fosse ser tão adepto ao circo como fui esse ano.” Confessou. “Já visitei a tenda do futuro vezes o suficiente para não querer ir de novo. Sabe que acredito em tudo o que dizem, e foi pior ainda quando a cartomante me tirou desse plano.” O que ele dizia a Sigrid tinha um peso enorme, um sufoco que ele ainda não tinha conseguido lidar e, por isso, tinha se afogado nas outras atrações e futilidades. A visão que a cartomante tinha dado a Cillian, porém, tinha tudo a ver com Sigrid, e ele se coçava para dizer a ela cada detalhe mesmo que parecesse errado quando ela estava cheia de álcool nas veias. “Posso esperar que fique sóbria para conversar sobre isso.” Garantiu, já sabendo o que viria a seguir: Sigrid o torturaria com um simples olhar de curiosidade e, como sempre, ele cederia.
As palavras de Cillian sempre faziam Sigrid rir, mas naquela noite estava rindo um pouco mais. Talvez mais alto do que de costume, o álcool deixando tudo mais divertido. Ou então era a saudades dele cumprindo seu papel — Sigrid não sabia dizer, mas estava sorridente enquanto recebia carinho e felicidade. "Não precisa matar ninguém, te garanto." Queria poder dizer que ele nunca mais precisaria disso, mas a guerra ainda existia, mesmo longe daquela pequena bolha de alegria. Ela, no entanto, queria manter as coisas leves. "Estou reclamando de dormir." Confirmou. "Pior: dormir sem você! Mas aceito sua sugestão de visita e use essa roupa, por favor." Parecia com as vestes que ele usava quando o conheceu, o que fazia com que revisitasse memórias queridas e que o corpo esquentasse quando lembrasse de todas as vezes em que tinha pensado em beijá-lo ainda naquela época. Ele estava muito bonito, mas Sigrid sabia que ele ficava muito mais belo sem peça alguma. Não que fosse algo que diria em voz alta; já tinha deixado o recato de lado, mas não queria provocá-lo demais quando não seria possível saciar o desejo ali mesmo. "Acho que você é muito bom em trapacear. Aposto que sempre trapaceava quando jogávamos." Bem, Sigrid não era boa com cartas e as vezes se distraída fácil, então era bom implicar e colocar a culpa em sua suposta desonestidade — dificilmente admitiria sua derrota. "Fay? Há algum tempo não ouço dela. Quero visitá-la também, deve estar enorme." A conhecia bem pelas cartas do irmão de Cillian, mas ainda não tinha visto pessoalmente. Estar com ele era uma oportunidade para visitar os outros membros da família que lhe eram queridos e que em breve seriam família dela também.
Um comentário, no entanto, a fez ficar um pouco tensa nos braços dele. Pensativa, com as sobrancelhas curvadas na expressão típica de confusão. "Não foi eu. Não tenho mais poder algum além de me transformar em um leopardo." Até mesmo a transformação era um grande mistério e quando mais pensava, mais confusa ficava. A bebida parecia deixar a cabeça pesada, as pernas leves e os membros moles. Queria derreter ali, ao mesmo tempo em que se esforçava para continuar de pé. "Você tem sonhado com rosas também? Tem muito tempo? Por isso começou a acontecer comigo uns dias antes do ataque. Estive pesquisando, mas rosas estão associadas a muitas coisas, assim como estrelas de oito pontas. Também deixei oferendas, mas se for alguma divindade, ainda não deu grandes sinais." A possibilidade deixava Sigrid animada e agitada, pensando que poderia ser seu retorno khajol: o abandono de Rá parecia ter tirado uma luz de sua vida, mas havia sido o bastante para descobrir que não precisava do deus para brilhar. As pessoas ao seu redor pareciam fonte de luz o suficiente para acariciar o espírito e aliviar os fardos. A jovem abaixou a testa no peito de Cillian, fechando os olhos para inspirar o cheiro dele e esperando que trouxesse alguma claridade para a mente nublada. "Você é tão cheiroso." Murmurou, inspirando fundo. O tecido também era fofo, deixando os olhos ligeiramente pesados. "Pensei em ir na tenda do futuro. Ouvi dizer que tem algo assim. Você já visitou? O que fez além de jogar?" Estava curiosa os momentos dele, assim como animada com a possibilidade de compartilhar sobre os seus. Mais ou menos, na verdade. Literalmente sentia-se derreter e dentro de si tentou invocar a força do leopardo para se manter de pé. Isso apenas fez com o peito ressoasse de uma forma baixa e profunda, semelhante a um ronronar. Não sabia que era capaz daquilo, mas parecia adequado, visto que compartilhava sua identidade com um felino.
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A carta de Madame Madge levou Cillian a um lugar que ele detestava. A praia era um de seus piores lugares para estar, e em contrapartida, sempre fora o paraíso de Makaela. O mar era tão azul e cristalino que parecia ser de mentira. Não haviam algas nas areias finas e nem gaivotas ao redor. Era apenas o mar, a areia, as palmeiras e o sol prateado, que não deixava o dia amarelado, mas em um tom quase pacífico demais para que ele pudesse achar que já tinha estado ali antes.
Seus pés estavam descalços, embora ainda utilizasse a camisa azul e a calça preta que tinha vestido para o circo. Ao longe, pôde ver a figura que o atraiu de imediato: a toalha estendida e a mulher de cabelos crespos bebendo um refresco diretamente da garrafa, a mesma se enchendo sozinha assim que ficava vazia pelo conteúdo que era bebido. Os passos foram cansativos até o ponto, a areia deixando as pernas pesadas conforme pisava mais. Após alguns minutos de caminhada, se sentou ao lado dela na toalha, sendo recebido por um sorriso que ele conhecia bem e que tinha amado por muito tempo. Ainda amava.
“Você não morreu, querido.” A voz de Makaela foi como um soco no estômago, porque ele tinha se esquecido do tom natural, ficando apenas o adoecido em sua mente.
“Parece que morri.” A contrariou, passando as mãos pelas coxas cobertas pela calça e aceitando a bebida que lhe foi oferecida. Quando bebeu o refresco, não tinha gosto de absolutamente nada, o que trouxe uma careta para seu rosto. “O que é isso?”
“Não é para você. Não pertence a esse lugar e, por isso, não tem graça. Aposto que não consegue ver os pássaros e os golfinhos pulando.” Ela riu tranquilamente enquanto olhava para o horizonte, e ele seguiu o olhar sem enxergar coisa alguma. De fato, não pertencia mesmo, ou nem estaria em uma praia. “Quem foi que te mandou?”
“Uma mulher… Onde é que estou, Makaela?” Perguntou, querendo se sentir ansioso e sendo neutralizado de todo sentimento possível quando começava a ficar nervoso. Apesar de estar com o coração cheio de carinho por ver a esposa ali, sabia que algo estava errado.
“Não estamos em um lugar muito distante de sua mente, Cillian. Eu é que fui chamada até aqui, mas quis me trazer comigo. Ainda não gosto de suas tavernas horrorosas. Esse hábito é seu com ela.” Makaela disse sem o menor rancor ou ciúmes, apenas enfatizando a atividade que pertenceu à juventude de Cillian e Sigrid, onde passavam noites indo de taberna em taberna para descobrirem todas as bebidas e comidas que existiam. O olhar de Cillian ficou baixo. “Estou feliz que finalmente se despediu desse sofrimento. Já era tempo.”
“Isso é coisa da minha mente ou você está dizendo por querer?”
“Os dois. Por que me chamou?” Ela perguntou, voltando-se para ele outra vez com a expressão séria.
Cillian explicou tudo o que estava acontecendo, desde Void falando consigo e confirmando sua maldição até o circo, onde estava com a cartomante tentando descobrir um vão entre sua maldição e sua liberdade para tudo aquilo, completamente relacionado com sua família. Makaela mordeu o lábio, sabendo exatamente o que ele queria perguntar.
“Não foi por sua causa. Meu destino já estava traçado para a morte com ou sem você, querido. Aconteceu que… A maldição quis adiantar o processo para tentar te fazer enxergar. Teria acontecido com Sigrid também, mas a morte dela não tinha sido prometida como a minha. Estava em meu sangue.” Ela disse com a voz tão doce que o fez se sentir mal. Não era justo que alguém tivesse sofrido por causa dele, mas fazia sentido. Cillian já tinha falado com Makaela sobre algumas mortes inesperadas em sua família, todas causadas por doenças sem cura e sem relatório algum. Era esperado que ela tivesse herdado algum gene, só não era certo que ela tivesse sofrido tão cedo por causa dele. Pensou naquilo e Makaela parecia ter lido sua mente. “Aconteceu o que precisava acontecer, Cillian. Naquela época, você era apenas mais um dos seus. Se martirizar por isso é prolongar um sofrimento em que você já colocou fim. O ovo caído de Void não é sua praga, mas sua família é. O sangue derramado por Methusael pode encher um rio.” Ela enterrou os pés na areia enquanto falava, voltando o rosto para o sol como se quisesse absorvê-lo.
“Makaela… Se eu…” Começou a gaguejar, mas as palavras não saíram.
“Sigrid não é o alvo, mas a chave. Deve pedi-la em casamento. Não estou abençoando, se quer saber.” Ela deu um riso divertido, embora não demonstrasse qualquer rancor. “A vida dela não vai correr nenhum risco se você o fizer. A de seus filhos, provavelmente. Você precisa quebrar a maldição antes desse tempo chegar.”
“Sou estéril.” Bufou com um rolar de olhos, e o que recebeu de resposta foi uma gargalhada tão familiar e gostosa que fez Cillian sorrir junto. Sentia falta dela, ao mesmo tempo em que ela parecia estar no lugar certo.
“Você vai encontrar a resposta. Ela está mais perto do que imagina, e quando ela vier, não pode trair sua própria intuição.” Ela garantiu, colocando a mão sobre a dele, mas não se tocaram de verdade. Makaela era um espírito que passou transparente contra sua carne. Ele estava incerto, embora ela nunca tivesse a fama de ser mentirosa. Confiava cegamente em cada palavra que ela tinha dito. Cillian respirou fundo, tentando guardar cada palavra em sua mente.
“Vou te ver outra vez?” Perguntou antes que ela balançasse em negativa com a cabeça.
“Quero que me deixe partir para sempre. E diga a Tadhg que se ele continuar tocando as notas erradas em meu piano, vou fazer com que os dedos dele caiam, um por um.” Como se soubesse da energia de Tadhg por perto, o mencionou como se estivesse ali também. Cillian procurou os olhos dela uma última vez, a boca aberta para enchê-la de mais perguntas que a garganta não proferia, um efeito do próprio ambiente de não deixá-lo fazer algo fora do propósito. “Adeus, querido.” Cillian pensou que seria afagado por um instante, e Makaela apenas o tocou na testa e o empurrou com tanta força que ele se viu sentado diante de Madame Madge e Tadhg outra vez.
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Apesar do deboche, Cillian ficou estático com a previsão como se tivesse sido sua. Para um homem com aprendizados o suficiente para muitas vidas, ele ainda tinha um probleminha com aquele tipo de magia, ilusão… Fosse o que fosse, ele odiava. Não gostava de nenhum vidente e tampouco de deuses do futuro, sendo os seus mais criticados do mundo khajol. Poderia contar aquilo a Alec, mas preferia engolir a própria língua para não atrair mais má sorte ainda. “Acha que não dá para ser pior? Consigo pensar em mil maneiras. Seu sangue derramado e o dos outros, já não fazemos isso o tempo todo?” Tentou aliviar a situação, embora também pudesse enxergar vários maus bocados em que ele poderia se envolver por conta da previsão. Engoliu em seco, apoiando as mãos sobre a mesa sem muitas expectativas. Alec já tinha o suficiente para se preocupar agora que tinha lido as cartas na noite anterior, e por outro lado, Cillian era egoísta para não querer o mesmo para si. Que tivesse duas, então. Rapazes mais jovens tinham o direito de experimentar o que era de ruim da vida também! “Os dois sairmos com leituras ruins é pior ainda. Isso não faz o menor sentido.” Estreitou os olhos para ele, negando com a cabeça repetidas vezes antes de dar o primeiro tapa, sem muita força. “Com quem jogou ontem para ter perdido? Achei que seus reflexos e força eram melhores que o de muita gente.” Não fazia muita noção de quem fazia parte do círculo de amizades dele e esperava que ao menos tivesse passado pela humilhação perto de alguém próximo. Cillian preferia pegar fogo a ser azarado na frente de um desconhecido, e conhecido também. Preferia pegar fogo a ser azarado de qualquer jeito.
COMETER O mesmo erro duas vezes só podia significar que, em algum nível, Alec era burro. A boca se torceu para baixo numa careta desagradável, e um grunhido de insatisfação reverberou no peito--- havia perdido a brincadeira (horrível) no dia anterior por não querer poder estapear Melian. Não queria ficar sonhando com Torin lhe repreendendo e não era do tipo que achava justo competir em força com a Eorl. Porém, hoje, lá estava ele, caminhando sem rumo e jogando conversa fora com Cillian, quando caiu na mesma cilada. "Mas que..." O Dirigente da Infantaria havia descoberto da pior maneira o quão angustiante o tal jogo Tapa Não Dói podia ser para alguém como ele: medroso. DOÍA, SIM. Era impossível não querer retirar a mão. Tinha que lutar contra todas as sirenes da cabeça piscando ao mesmo tempo, como se o corpo não conseguisse fazer a distinção entre um tapa e uma ameaça à própria vida--- ainda mais quando a outra pessoa subia o tom. "Não leve pro pessoal..." Ele imitou a voz do amigo, puxando o cós da calça para que pudesse se sentar com mais facilidade. Também não queria discutir com os palhaços mascarados... por Erianhood, como eram esquisitos. "Ontem. E eu perdi, minha leitura foi: derramarás sangue próximo para chegar ao destino final. E o teu também será tomado." Ele bufou. Mais um motivo para alimentar a paranoia crescente... pelo menos poderiam dizer qual destino final era esse. "Se bem que não dá pra ser pior do que isso." Num suspiro, Alec reganhou a concentração e colocou a mão esquerda sobre a mesa. Era a menos afetada por cicatrizes e a menos dolorida. Obviamente, usaria a direita para bater. Agora encarava Cillian diretamente. "Vamos jogar. Você começa, não tô a fim de perder hoje. A gente pode equalizar, uma leitura ruim pra mim, outra pra você."
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Não estava procurando por ninguém em particular — estava, mas não vinha ao caso — quando se deparou com Josephine pegando a maior opção dos recipientes para enchê-lo de vinho de rosas, bebida que Cillian não apreciava tanto. Era chique demais, imperial demais, pouco robusta para o gosto dele que sempre fora acostumado com algo mais forte. Também tinha o fato de que estava cada vez menos interessado em beber desde que tivera sua época nublada de álcool, que o impedia de pensar por tempo demais, sendo um remédio e veneno ao mesmo tempo. Quando ela bateu de frente consigo, só a reconheceu pelas vestes muito características e pelo leve feixe de luz que invadiu o capuz. Se buscasse na memória, não teria uma recordação sequer da princesa bebendo alguma coisa, mas não era como se prestasse muita atenção naquilo. “Só se assusta quem é pego fazendo algo de errado, tsc. O que te fez não me perceber? É por que estou usando azul?” A provocou sem preocupações, sabendo que tinham intimidade para tal e sem o uso dos nomes corretos reservados à realeza. Se ela queria ficar escondida, podia poupar a verbalização. “Não faço ideia do que está falando. Nem te conheço.” Entrou no pequeno teatro com um meio sorriso torto no rosto, pegando seu próprio copo de rum aquecido, bem menor que o dela. “Mas é claro que vou julgar. Tenho o direito de fazer isso depois de toda a perseguição no passado.” Mais uma vez, Cillian não deixaria passar a oportunidade de envergonhá-la. Tinham uma boa relação, amigável demais para um changeling contrariado quando o assunto era o império e uma princesa que não tinha nada semelhante com o mundo dele. O comentário sobre Sigrid, obviamente, o fez franzir o cenho. Não o incomodava saber que ela estava bebendo e trocando as pernas de lugar, apenas a preocupação em não tê-la visto naquele estado há muito tempo, sabendo que provavelmente haveria uma boa razão para a situação: divertimento excessivo ou uma pedra no sapato. “Vou ter problemas com isso.” Murmurou. “Minha noiva geralmente detesta beber. Não sei se me preocupo com uma tragédia ou se fico aliviado com alegrias exageradas.” Teve vontade de perguntar com quem ela estava, onde e provavelmente marcharia atrás, mas precisava se controlar antes que fosse tarde demais e acabasse mais protetor ainda, fora o ciúme sutil de que ela estava tendo aquele momento. Sem ele.
⠀( … )⠀SETTING: com @inthevoidz na fila das bebidas.
A adrenalina de ter escapado ainda corria em suas veias. Pegando a capa de uma amiga emprestada, tinha conseguido dispensar o guarda em meio à multidão – um primeiro sucesso nas tentativas de liberdade após o fracasso da anterior. Sabia que não tinha muito tempo antes que sua sombra a encontrasse, e estava decidida a fazer cada segundo valer. Encolhida sob o pesado veludo preto e tentando o melhor para esconder o lilás de seu vestido, Josephine se enfiou na fila das bebidas. Nunca sequer tinha provado álcool antes, e para tudo havia uma primeira vez. Com um caneco de vinho de rosas em mãos, tinha acabado de pousar um par de moedas sobre o balcão da barraca quando sentiu uma presença sobre seu ombro. Deu um pulo ao sentir a presença e, pensando ser sua escolta, estava prestes a erguer as saias e correr. Foi então que percebeu que as vestes escuras em nada se pareciam com o uniforme da guarda imperial, e foi com o rosto de Cillian que deu de cara ao erguer o olhar. Que maldição – que faro era este que os changelings pareciam ter para a pegar fazendo o que não devia? Ao menos sabia que o Methusael não contaria de suas escapadas aos quatro ventos. ── By the gods, you nearly gave me a heart attack. ── A repreensão veio antes mesmo que ele tivesse a chance de abrir o bico, ainda que acompanhada de uma cortesia em reflexo. Com certo desespero, levou a bebida à boca e deu um largo gole, como se tivesse medo que o mais velho fosse arrancá-la de suas mãos antes que tivesse a chance. Foi com tanta sede ao pote que precisou limpar o queixo após se dar por satisfeita. Sabia que o professor seria o último a ter o direito de a repreender, mas ainda tinha medo que acabasse por usar seu nome e atrair atenção. ── Se alguém perguntar, você não me viu a noite toda. ── O instruiu, olhando para um lado e para o outro como uma fugitiva. ── E nem pense em me julgar – sua noiva está muito pior!
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As duas últimas coisas que queria para aquela noite eram ter uma caricatura sua e ter a conversa com Melian. No início, tentou ser compreensivo e digerir os sentimentos dela que pareciam facas afiadas tiradas do meio de chamas, mas até mesmo Cillian tinha um certo limite para a paciência. Não a culpava por se preocupar e sim pelos xingamentos, pela falta de confiança e pelo controle que ele julgou que ela gostaria de ter sobre sua vida. Para ele era ridículo, já que mal ficava sabendo da maior parte das coisas que ela fazia, sempre tendo notícias após o ocorrido, como o ataque monstruoso ao lado de Zara que era uma khajol como Sigrid. Sentado no banco para o desenhista começar os rabiscos, não pôde fazer muito — tinha um certo respeito por artistas já que ele mesmo tinha o dom com lápis, ainda que secretamente seu. Respirou fundo com os olhos tediosos, mirando em um ponto da parede de tecido qualquer. “Você nunca me escuta.” Rebateu como um adolescente mimada, entretanto, Cillian falava sério. Melian raramente seguia seus conselhos ou apenas os aderia quando já tinha feito a parte errada. Quando tentou falar um pouco mais sobre Sigrid, foi calado por dezenas de pragas verbais, como se precisasse mesmo de mais. A expressão final era minimamente respeitosa, e vinda dela, era grande coisa. No fundo, também não queria ficar em uma briga. Escutaria, diferente dela. “Quando o desenho acabar, seu tempo também acaba.”
Starter fechado para @inthevoidz
A chegada de um evento sempre era animador. Para a changeling isso normalmente era sinal de travessuras. Ela era boa em pregar peças e trapacear nos jogos, mesmo que agora Zara quase que implorasse para não fazer. Era algo sobre não sujar o nome dos Byearne. Mas não era por Zelo que Melian passava entre as brincadeiras sem sequer olhar. Ela tinha uma intenção bem clara, encontrar Cillian, ele certamente estava em algum lugar daquele festival. Desde que teve uma explosão com ele não haviam se falado, ele estava bravo e com motivo. Melian sabia que havia passado da linha e não tinha ideia de como e se conseguiria concertar isso, mas ao menos tentaria falar com ele. Com tanta gente festejando ela demorou mais do que o esperado, na fila das caricaturas. Por alguns segundos hesitou, Cillian nunca havia ficado realmente bravo com ela, nem mesmo com suas piores atrocidades planeadas. O que trazia ela para um cenário novo, queria se desculpar e fazer que tudo voltasse ao normal, mas não havia mudado sua forma de pensar sobre o assunto. Não seria uma conversa fácil e a loira termia que não conseguisse terminar sequer um frase, mas não tentar seria pior. Quando notou que ele entraria na tenda de palhaçadas ela correu o mais rápido que pode, sem deixar espaço para qualquer tipo de questionamento, entrou ao lado do moreno o puxando-o pelo braço e o fazendo se sentar no banco ao seu lado para o desenho. "Preciso que me escute." Começou, sentindo o coração pesar no peito. Sua voz séria, sem o tom de desafio embutido não era algo normal de Melian, mas demonstrava a seriedade do que tinha que falar. "Por favor."
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Desconfortável era pouco para descrever Cillian naquele momento. Com a cabeça nublada de problemas, não tinha palavras exatas para confortar Ethel, aceitando o próprio destino como ele aparentava querer ser. Nem sempre as superstições eram corretas, embora ele mesmo fosse um devoto delas desde que se tornara refém de sua maldição. Não fazia ideia de que a brincadeira geraria uma revelação terrível ou teria a deixado vencer — o que mais de ruim poderia acontecer com ele, afinal? Toda a sua má sorte já era arrastada por ele mesmo e o pouco da boa estava protegido a todo custo. “Sabe o que acho disso tudo.” Respondeu baixo, não querendo dizer a afirmativa tão claramente. “Mas o futuro muda o tempo todo, não é?” Tinha ouvido falar a frase em algum lugar e precisava concordar que nem toda a sua condenação tinha feito justiça. A revelação de Ethel fez com que ele franzir o cenho, tendo ali uma novidade. Para Cillian, ela estava vivendo uma paz além do esperado, prestes a se casar com alguém que a amava de verdade, ao contrário de seu irmão. “O que quer dizer com flores murchando? Literalmente?” Não tinha reparado já que era especialista em deixar suas próprias flores morrerem, agora salvas por Sigrid. Aquilo, sim, era mau presságio. “Desde quando isso tem acontecido?” Saber a origem ajudava na resolução e ele tinha poucas informações para poder lidar e compreender sobre a situação dela.
O riso que ele deixou escapar saiu quase amargo demais. “Bem-vinda ao meu mundo.” A autodepreciação não era nada forçada ou cega, e ela sabia. “Não acho que o imperador saiba da sua existência, Ethel… Com todo respeito. Se quiser que eu me envolva, tem chances de ter sua morte mais rápida do que espera, isso sim.” Suspirou, se juntando a ela no banco. Não era exatamente mal visto, mas perto da nobreza? Agora que sabia que tinha o sobrenome declarado pelo ódio de khajols e nobres, o que também o ajudava a entender melhor sua própria história, não queria arriscar. Justificava a maior parte da rivalidade gratuita que tinha, inclusive com o noivo da melhor amiga, e ele nem sabia se era possível resolver uma carga que não era sua e, infelizmente, tinha feito jus para dar seguimento. Até certo ponto, já que Sigrid era exceção absoluta. “Vai ter tempo de planejar e enfeitar o seu casamento com seus novos parentes. O que estivera acontecendo, não pode ser tão ruim… Certo? Ou tem algo que eu deveria saber?”
COM QUEM: @inthevoidz
O timing do evento era oportuno; ainda que Seamus Essaex não estivesse à vista em canto algum, proporcionar a entrada cativa de todos os alunos de ambas as instituições mais fundamentais do império era a jogada certa para aumentar a moral depois dos acontecimentos recentes. Com distrações por todos os cantos, o evento com certeza comprava, se mais nada, pelo menos um pouco de tempo, que talvez fosse mais precioso do que qualquer moeda em circunstâncias atuais. Ethel, por sua vez, estava grata pela oportunidade de mergulhar no lúdico e esquecer de suas próprias questões por um final de semana; diante de maus presságios e sinais de infortúnio espalhados aqui e a ali, voltava a se questionar se era mesmo capaz de lidar com tantas bolas curvas. Com as palmas doloridas e o humor azedo, Ethel seguiu Cillian para fora da Tenda do Futuro como se não tivesse sido ela mesma a sugerir a atividade. É claro que, se houvesse lido as letras miúdas da dinâmica, teria passado longe da atração – as mãos de uma cavaleira deveriam ser capazes de suportar mais do que alguns tapinhas e não se preocupava muito com as moedas que pensava que poderia perder caso se acovardasse na brincadeira, mas jamais teria dado chance ao azar se soubesse que era isso que estava em jogo. Era um pensamento terrivelmente supersticioso e talvez ela estivesse traçando ligações somente por estar ativamente preocupada com fenômenos recentes, mas acrescentar castigos de tarot à lista de presságios ruins certamente não faria bem algum. “Você acha que alguma dessas previsões pode ser verdadeira?” Por motivos evidentes, os tais futuros eram abrangentes e vagos, sem entregar qualquer detalhe específico – eram feitos para se aplicar a uma imensidão de situações e indivíduos, afinal. Ainda assim, Ethel encontrava bastante dificuldade em se conectar com seu lado positivo naquele momento. “Como se não bastasse flores murcharem na minha presença, agora preciso me preocupar com má sorte sistemática.” Está certo que o fenômeno somente tinha ocorrido uma única vez, mas o simbolismo de ter algo que tanto amava se voltando contra si pesava toneladas sobre os ombros de Ethel. “Acha que o Imperador aprovou alguma lei dizendo que eu estou proibida de ser feliz? I should be thinking about wedding gowns and getting along with my in-laws, not curses and misfortune.” Bufou ao se acomodar sem cerimônias em um banco próximo à tenda, se sentindo completamente fora de seu elemento na demonstração dramática. “Se for o caso, por favor use de sua influência política para revogar esse absurdo.”
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Escasso de respostas, Cillian sequer poderia se gabar de ter feito algo. Seu tempo livre tinha sido afundado em pesquisa sobre a própria árvore genealógica e tinha alguns pergaminhos que o colocariam na prisão caso fossem descobertos em sua posse. Adiava a leitura do conteúdo temeroso do que poderia encontrar, e soava egoísta falar em voz alta. Tadhg havia passado por maus bocados e Cillian não podia se colocar na mesma posição de sofrimento ou empecilhos e, por isso, decidiu guardar a verdade e as reclamações para si. A última coisa que precisava era soar como uma besta fútil para a pessoa que mais se importava com o bem estar. “Não fiz nada porque não sei muita coisa, mas descobri que a mina de ouro de minha família é muito mais sangrenta que o contado de verdade, sem um pingo de piedade por khajols.” Quanto mais pensava no assunto, mais parecia próximo de chegar a uma coisa óbvia. Cillian era o primeiro, provavelmente único, que tinha contato com khajols diretamente e de maneira muito maior que um simples acordo. Seu tio e vizinho, Benjen, era possivelmente a única pessoa e ele tinha sido o oposto do que Cillian era. Benjen Methusael tinha se apaixonado por um khajol em dado momento de sua vida e, na primeira oportunidade, escapou do delírio de amor. O assunto nunca foi bem comentado e Cillian tinha certeza de que o amado de Benjen já tinha padecido há muito tempo, provavelmente em uma das brigas entre as famílias. A frieza de Benjen o tinha livrado da maldição, e se ele tivesse trazido um pouco mais de ternura para dentro do próprio peito, poderia ter livrado Cillian. Ou não. De qualquer maneira, Cillian não tinha feito a associação de que era pela fraqueza a khajols que sua maldição invadira o sangue. “Fale por você.” Murmurou, não muito certo de que Erianhood era ignorante à beça. “Mas, se quer saber, Ethel não tem tido sorte também. Acho que ela pode enlouquecer a qualquer minuto.” Tinha percebido alguns sinais na mais nova e a preocupação agitada, e evitava tocar no assunto com ela para não ter uma crise acidental.
Teria provocado de volta quando o viu sorrir, mas aquele gesto fez o coração de Cillian se aquecer e não incendiar por uma briga típica. Tadhg estava de volta, e ele se sentiu mais completo outra vez. Andou atrás dele, sem se incomodar com os maus olhados por estarem burlando a regra básica da fila e tirou as moedas do bolso para oferecê-las antes de serem cobrados indevidamente. Dinheiro não era problema, mas mesmo Cillian tinha um pouco de respeito com a própria fortuna que não fora facilmente adquirida. A sala privativa era toda decorada com símbolos de magia que ele não entendia bem, além dos deuses do futuro pintados de formas esquisitas, em outras carnes que não eram humanas. Franziu o nariz para os detalhes, desinteressado nas divindades que considerava traidoras e infiéis, antes de se sentar diante da Madame que sequer levantou o olhar das cartas para vê-los ali. “Só uma tiragem, por favor. Preciso de um caminho para resolver uma questão.” Falou antes que ela pudesse se dirigir a Tadhg primeiro, imaginando que a energia dele deveria despertar curiosidade depois de tanto sufoco. Trocou um olhar rápido com o changeling para ter certeza de que os termos estavam acordados e a mulher começou a embaralhar as cartas ao mesmo instante que uma fumaça de incenso subia do mais absoluto nada. Aos poucos, as figuras foram colocadas sobre a mesa: O Diabo, A Morte, A Sacerdotisa e A Lua. Os arcanos menores vieram em seguida e Cillian teve a péssima sensação de que estava tendo respostas que odiaria saber o significado. “Difícil quebrar essa maldição, hein?” Madame Madge comentou, espalhando mais cartas pela mesa. A resposta mal humorada de Cillian veio com um suspiro e um sorriso amarelo para Tadhg. “Cedo para me arrepender?”
Ainda que tivesse recuperado sua voz, não estava particularmente inclinado a jogar papo furado com qualquer um, e sua cara de poucos amigos estava funcionando para manter as pessoas afastadas. Cillian, é claro, era a exceção, pois conhecia sua carranca o suficiente para não permitir que o intimidasse. Tadhg tinha um caneco de rum aquecido em mãos quando o amigo o alcançou, o segundo da noite, e o álcool circulando em suas veias ao menos o deixava mais tolerante ao desconforto. Notou a direção em que caminhavam antes mesmo que Cillian anunciasse suas intenções. Conhecendo as tendências dramáticas do mais velho quando o assunto era sua maldição, decidiu acompanhá-lo para garantir que não entraria em parafuso caso recebesse uma notícia ruim.
Tadhg não era uma pessoa de fé, mas acreditava fielmente no destino como uma força constante e inalterável – motivo pelo qual tendia a evitar os místicos como a praga. Em sua humilde opinião, a vida era mais confortável na ignorância, mas o irmão de criação parecia ter uma perspectiva oposta, e uma necessidade de saber com certeza que era completamente diferente da sua. O probleminha de Cillian era uma pedra em seu sapato, mas não a ponto de torcer para que tivesse o mesmo fim que a pobre Makaela. ── E o que você tentou para resolvê-lo? ── Perguntou conforme caminhavam, depositando o copo vazio sobre um barril qualquer de modo a ter as mãos livres. Sabia ter perdido um ou dois capítulos durante a sua prisão, e não era como se estivesse em condições de fazer muitas perguntas até recentemente. Ouvi-lo falar sobre pedir Sigrid em casamento o gerava um desconforto que ia além do desafeto por ela: era leal à primeira esposa de Cillian, e a ideia de ver seu lugar ocupado lhe parecia uma heresia. Engoliu todo e qualquer comentário negativo a respeito pois queria que o outro fosse feliz. ── A Ethel entrou na sua cabeça, foi? Você sabe que a deusa nunca foi de responder nossas preces. ── Naquilo eram parecidos, tendo passado pelo desespero que faria qualquer um rezar por um milagre somente para ser ignorados. Quando por fim o homem anunciou suas intenções de maneira clara, não conseguiu conter o sorrisinho que estampou seu rosto ao ouvi-lo admitir a própria covardia. ── A prata é sua. ── Deu de ombros, indicando com o queixo para que fosse em frente. Em seu idioma, aquilo significava que o seguiria até o inferno.
Tomou a iniciativa de abrir as cortinas da barraca, dirigindo um olhar afiado aos que aguardavam sua vez junto à entrada. Se iam fazer aquilo, Tadhg não se prestaria ao papel de esperar. Usaria de intimidação para passar na frente da fila, tática que parecia funcionar ainda melhor agora que tinha fama de assassino em todo o reino.
#⠀ 𝐢. ⠀ 𝐟𝐢𝐥𝐞 𝐮𝐧𝐝𝐞𝐫⠀ ﹕ ⠀ interactions .#with tadhgbarakat.#tudo veio do google o resto vc me ajuda bjs#VI QUE CARTA DA MORTE É COISA BOA
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ONDE: Tiro ao Alvo
COM: @princetwo
Chegava a ser cômico ver Cillian com espingardas de pressão nas mãos e dentro de vestes que não eram do seu usual. Usava um azul escuro e brilhante que ficava mais aparente quando a luz batia, e era possível notar já que o brinquedo era quase preto. Estava distraído tentando estudar o movimento dos patinhos já atingidos diversas vezes para não errar um tiro sequer, torcendo para pegar a maior pelúcia que tivesse por ali. Não estava muito interessado em tê-la para si, mas tinha visto a sobrinha namorar o objeto por vários minutos enquanto passavam diante da brincadeira antes do irmão mais velho querer pirraçá-la e ganhar no lugar.
Pronto para entrar na fila outra vez depois de uma jogada de teste, se deparou com quem vinha considerando seu espírito obsessor o encarando sob o bigode cor de areia. "Não estou disponível para sua carruagem, Alteza." Precisou se livrar de um novo sequestro o quanto antes, não querendo desaparecer de novo e ainda receber broncas por não ter contado sobre o que havia acontecido para os demais. Podia admitir que estava um pouco feliz por Tadhg, mas ainda era difícil digerir o príncipe, principalmente depois do tal Jeremy tê-lo puxado pelo pescoço para o transporte privativo. "Estou muito ocupado tentando ganhar uma foca de um garoto de doze anos que, por um acaso, também é meu sobrinho."
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COM: @deaths-treasurer
ONDE: Museu de Curiosidades
Era incomum ver museus agitados. A maioria das pessoas falavam alto e comiam no lugar, mas devia ser típico do próprio circo. Todas as obras expostas estavam protegidas com vidro ou magia, ou ambos em um mesmo espectro. Algumas bizarrices chamavam sua atenção e outras com certeza o assombrariam durante o sono — e, ah, como era bom conseguir dormir outra vez, mesmo que por algumas horas. Parou ao lado de Cassian para admirar a mesma obra que ele: uma espécie de esqueleto de dragão do tamanho de uma lagartixa. "Quais as chances de isso ter sido criado e não encontrado?" Pergunto enquanto tentava ler mais informações, entretanto, o cartão de explicação parecia incompleto.
O olhar desviou para outra figura ao lado, um esqueleto minúsculo de cavalos de três cabeças. Será que eram, na verdade, obras de algum escultor famoso que passara despercebido? Cillian era uma negação com aquele tipo de arte, preferindo mais os desenhos e pinturas. "A pior parte é saber que eu daria um lance se fosse um leilão depois de uma dose ou duas. Acredita que tenho bebido cada vez menos?" Confessou ao amigo de longa data, já que alguns drinks tinham sido um interesse em comum entre eles. Estava cada vez mais disperso do álcool e não o incomodava totalmente. A careta se abriu mais quando viu um bebê gigante com presas de leão logo acima. "Isso já é demais. Não sabia que o circo era dos horrores."
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A postura de Sigrid quase o fez rir e, no lugar do gesto, deixou um sorriso largo entre as bochechas do changeling. Não se contentava com os beijos e afeto que recebia, sempre querendo mais e nunca ficando completamente saciado. O perfume misturado com o álcool de rosas parecia cair perfeitamente bem com a amada, embora estivesse com uma pulga atrás da orelha. Sigrid geralmente não bebia por qualquer motivo e duvidava muito que tinha sido apenas coagida. “Acabaram te forçando também? Quem vai ser o primeiro a ser riscado da minha lista?” Continuou na diversão sem tentar se preocupar muito com as razões além daquele momento. No fim, estava entusiasmado com a primeira vez em que saíam juntos, em público, mesmo que não tivessem ido até a festa na companhia um do outro. “Não acredito que está reclamando de dormir.” Devolveu com outro riso, sabendo bem qual era a comoção. “Fico com saudades de você mesmo quando estamos juntos, Sigrid, mas foi bom ter me dito isso. Estava mesmo pensando em algum plano para escapar para o seu quarto em uma noite ou outra. Deve bastar, não?” A provocou mais uma vez, retribuindo o beijo com outro enquanto a puxava para mais perto, se aquecendo no calor do corpo dela agora que a noite caía mais fria e não o protegia tanto com as vestes mais simples, nada parecidas com as pesadas de seu guarda-roupas usual. Estava um tanto diferente até para o próprio gosto ao mesmo tempo em que estava contente por arriscar algo. Precisava mudar muita coisa.
“Sei que vou ter todos os momentos que eu quiser depois, apesar de que não vou perder a chance de tentar te acompanhar.” Sabia que a passaria na bebida com pouco esforço, entretanto, não roubaria o momento dela. Sigrid estava se divertindo e parecia feliz o suficiente para fazê-lo se sentir da mesma forma. Também não andava tão interessado em bebidas, se controlando cada vez mais com o temor leve de cair na tentação de não parar depois de certo tempo. Franziu o cenho, tombando a cabeça levemente. “Não é você quem está fazendo crescer todas aquelas rosas? Pensei que tinha feito um elixir novo para as plantas. De vez em quando também sonho.” O jardim de Cillian estava mais colorido do que jamais esteve, o chalé parecendo uma casa aconchegante de um camponês com quase tanto dinheiro quanto a nobreza. A beleza do lugar tinha sido renovada e remetia a Sigrid por todos os cantos, e fazia sentido para ele acreditar que tudo vinha dela. Os sonhos eram novidade já que ele não tinha tempo de sono de qualidade há muito tempo, e até estranhava quando se maravilhava com algum sonho que esquecia rápido ao longo do dia por não ter mais afinidade com os mesmos. Vez ou outra, rosas apareciam nos cantos de seus cenários e as associava à nova visão de seu lar. Aparentemente, não era o único. Olhou para a mesa abandonada, dando de ombros. “É difícil ganhar de especialistas em trapaças. Sempre acho que sou bom até me deparar com velhos amigos.” Sorriu torto, sem disfarçar o apreço que tinha por aquelas jogatinas. “Mas ganhei uma coisa na brincadeira de tiros. Fay quis muito uma foca gigante e precisei errar várias jogadas até conseguir.” Mencionou a sobrinha que ela conhecia bem por se corresponder com seus irmãos por tanto tempo.
ONDE: Roda Gigante
COM: @sigridz
Velhos hábitos eram difíceis de serem abandonados e ali se deparava com dois: jogos de azar de cartas e cigarrinhos enrolados com um tabaco velho. Não sabia como havia parado ali, mas estava sentado sobre o banquinho em uma mesa improvisada com dois mímícos que tinham abandonado o posto para incitar os visitantes a apostar. Fã de um bom jogo, é claro que Cillian caiu no golpe atrativo e ali estava, com o montinho de moedas sobre o suporte e as cartas sujas nas mãos, dividindo um único cigarrinho com os mímimos que sujavam a seda de batom barato e vermelho. Temia que sua boca ficasse suja e o pensamento só ocorreu quando viu o brilhante do vestido reluzir contra a magia da roda gigante, o encarando do outro lado com um sorriso estranho no rosto. Abandonou as cartas na mesa com um sorriso amarelo, ficando de pé rapidamente. "Foi um prazer, cavalheiros." E deixando as moedas para trás contra os protestos dos artistas, andou na direção de Sigrid, não antes de tomar o último gole de seu rum quente de chocolate para tirar o cheiro e o gosto da boca.
Como usual, Sigrid era mais bonita que qualquer coisa que ele veria naquele circo, e as atrações eram impecáveis. Ela conseguia se destacar ao olhar dele contra tudo, sendo um deleite e enchendo as íris escuras de um doce que nem mesmo ele tinha percebido ainda. Esticou as mãos, há muito sem as luvas e exibindo o anel dado por ela, para segurar as dela. "Acredita que fui coagido a participar de uma jogatina contra a minha vontade? Dizem que negar pedidos de mímicos dá azar. Existem pessoas que ficam sem voz pelo resto da vida." Brincou com um sorriso, entregando a própria culpa de que não havia resistido. Ela o conhecia bem e precisava saber de seus defeitos e fraquezas agora que ele tinha uma certeza absoluta: poderia pedi-la em casamento. Só não sabia quando, mas o faria. A ideia fazia com que ele sorrisse mais ainda e as bochechas doíam com o gesto. Se aproximou para deixar um beijo sobre os lábios e, quando o fez, franziu o cenho. "Parece que sua atração favorita foi a tenda de bebidas." Achou divertido ver aquele toque alcoólico porque sabia bem que ela não era adepta aos drinks. "Não sei se vou conseguir dormir sabendo que perdi esse momento histórico."
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