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julidamuseo · 1 year
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Resenha de SCHEINER,Tereza. Museologia e apresentação da realidade.  XI Encuentro Regional del ICOFOM LAM,Equador,2002. p. 96-105
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A importância da imaginação na construção da realidade: como os museus afetam os sentidos do homem e o fazem sonhar com aquilo que ele nunca presenciou
Tereza Cristina Moletta Scheiner,museóloga brasileira nascida no Rio de Janeiro,é professora e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio (PPG-PMUS) da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro,UNIRIO,em parceria com o Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST). Presidiu o ICOFOM de 1998 a 2001 e foi vice presidente do ICOM de 2010 a 2016. Criadora e consultora permanente do ICOFOM LAM e é uma das principais responsáveis pela difusão do pensamento no campo museológico,tanto no âmbito da América Latina,como no internacional. 
Tereza Scheiner apresenta,no decorrer do texto,a chamada “Nova teoria do Museu”,onde este não é mais pensado apenas como instituição,mas também como fenômeno em sua pluralidade de representações. Sendo assim,as exposições e suas narrativas despertam os sentidos do visitante,não visto apenas como um objeto de estudo,mas como um agente que recebe,processa e repassa a informação,num desenvolvimento contínuo que está permanentemente em construção. 
Transitando através da linguagem e da semiótica,como uma forma de relacionar a memória de cada indivíduo com o seu próprio eu e com o Outro,as narrativas expográficas são um caminho muitas vezes de mão dupla,necessitando de cuidados na hora de se explorar seus recursos,suas diferentes linguagens e formas de se trabalhar aquilo que se quer guardar e o que se quer esquecer. 
Para Montpetit (1992),expor é essencialmente um ato comunicacional. A exposição é um movimento natural do museólogo,que através da semiótica,da filosofia,da arquitetura e do design,constrói uma cadeia de sentidos com aquilo que representa,em suas variadas formas de abordagem,privilegiando o que foi conservado e pesquisado,sendo um produto intermediário de exercício da memória. Intermediário porque nem as exposições,nem os objetos e muito menos suas narrativas falam por si só,mas necessitam do principal elo ligação que o mundo material tem com o imaterial: o homem. É nessa relação,muitas vezes não mútua -por que não depende apenas daquilo que foi informado,mas daquilo que é absorvido,interpretado e imaginado pelo seu observador-que se faz a presentificação da memória,interpretando o passado através dos objetos e das narrativas e ligando o presente com a mente humana que interpreta através das coisas que ele próprio vê,pois o olhar é o primeiro passo para a construção do imaginário. 
Existe toda uma cadeia operacional entre o homem e o objeto,não é apenas uma ligação linear,mas um ciclo que conta com a participação daqueles que fizeram o objeto,os que fizeram a exposição,os que trabalharam com o público,os que visitam o museu,os que não visitam o museu mas falam e escrevem sobre as exposições. Se valendo da interdisciplinaridade,o Museu não apenas é o lugar de coisas,mas um recorte de mundo,onde a imersão,a instância de impregnação dos sentidos se desenvolve,de maneiras infinitas,com delicadas nuances e sutis trocas simbólicas entre o espaço expositivo e o corpo humano. Esse controle de articulações entre forma,espaço,tempo,som,luz,cor,objeto e conteúdo,mobiliza os sentidos do visitante no plano cognitivo e motor,e constitui numa poderosa ferramenta na manipulação do real e do imaginário. 
A autora utiliza propositalmente a metáfora “degustar”,para sugerir que toda exposição deveria ser saboreada ponto a ponto,despertando os sentidos à uma instância profunda de aprendizado,compreendendo-os junto à construção do conhecimento. 
Tereza Scheiner cita os estudos de Gestalt,que comprovam a importância das experiências multidimensionais no processo comunicacional,transformando o espectador em participante ativo.  Porém,é preciso ter cuidado,tanto com o espetáculo produzido pela exposição,quanto pela reflexão excessiva,impedindo a apreensão do objeto pelo sujeito,impossibilitando-o de ver o mundo exterior como algo onde o olhar possa deter-se. O despertar dos sentidos,iniciando pelo olhar e transitando pelo toque,pelo som ou pelo cheiro,é capaz de fazer com que o visitante experimente concretamente o verdadeiro conhecimento,partindo da informação e elaborado pela emoção,transformando-se em vivência. 
Partindo da ideia de que toda a exposição é uma representação de mundo, os museus dedicados às artes moderna e contemporânea foram os primeiros capazes de trabalhar a exposição como processo ou como obra aberta. Em países norte-americanos,principalmente,os recursos expositivos como cenários,dioramas e ambientações,eram tratados como verdadeiras pinturas ou fotografias, e os objetos eram apenas elementos do contexto porque o que realmente importava era a associação perante à informação. 
A partir dos anos 60,com as mudanças das estruturas do pensamento museológico e as teorias de museu integral,tudo passou a ser objetificado,e o conceito de exposição alargou-se para incorporar o conjunto de casa,vilas,fazendas e algumas comunidades,reafirmando o caráter social e plural do Museu. Já nos anos 90,uma nova epistemologia do conhecimento,como menciona a autora,permite que se perceba o Museu como um evento,um acontecimento,uma eclosão da mente ou dos sentidos,dados no instante,no momento da relação. Tereza Scheiner defende que os museus construam estratégias narrativas,integrando passado e presente,sem que se comprometa o papel ético do museu.  
A linguagem é uma das grandes chaves para a narrativa expográfica, auxiliando na percepção e captação dos sentidos,pois toda a exposição é uma forma de argumento cultural. A imaginação é extremamente importante para o processo comunicacional do museu, nos permitindo transitar para além da materialidade. 
O caráter onírico dos museus e de suas narrativas marcam a vivência dos indivíduos,porque é através do olhar,dos objetos e de suas narrativas sempre construídas ideologicamente,que o homem pode sonhar com o que o mundo foi um dia,mesmo que ele apenas testemunhe no tempo presente,o recorte de um passado que ele lá não estava,e essa possibilidade de sonhar com o que foi e trazer para o que é,transforma simples objetos em mundos imaginários onde o homem se auto conhece e reconhece o outro. 
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julidamuseo · 4 years
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julidamuseo · 4 years
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Linhas da querentena
Hoje eu não acordei bem. Dormi após as três horas da manhã e minha cabeça agora despertou girando. Eu odeio acordar e ver que ainda não escapei dessa realidade massante do dia a dia em lockdown. Tenho saudades de morar em uma casa com quintal e ver os animais correndo pelo gramado, ver minha mãe estendendo as roupas no varal e pegar minha bicicleta pra ir até a padaria. Memórias da minha adolescência que insistem em me assombrar. Agora eu sou adulta, pago minhas contas e posso ingerir remédios tarja preta a hora que quiser. Tem dias que eu gostaria de não existir. Não de morrer, mas de evaporar do mundo. Que ninguém mais saiba que eu existo, será que é possível chegar em um nível de existência tolerável? Nada mais tem feito sentido. Tento todos os dias me concentrar em alguma tarefa específica, e agora com o retorno da faculdade, ainda que no formato videoconferência, já derrama uma gota de esperança no meu dia- a- dia. 
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julidamuseo · 5 years
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Especial Francisco "Xico" Stockinger no MARGS
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julidamuseo · 5 years
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Memorial da América Latina
São Paulo
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julidamuseo · 5 years
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Retratos
Fundação Iberê Camargo
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julidamuseo · 5 years
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Fundação Iberê Camargo
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julidamuseo · 5 years
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Iberê Camargo
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julidamuseo · 5 years
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Las Cajas Es(pañolas)peciales
 A Guerra Civil que assolou a espanha entre os anos de 1936 e 1939, pouco antes da eclosão da II Guerra Mundial, deixou mais de 1 milhão de mortos e incontáveis desaparecidos durante os três anos. Mas nada foi tão bem protegido, guardado e valorizado quanto as obras artísticas guardadas no Museu do Prado (dentre outras inúmeras obras de outras instituições) que foram transportadas para um abrigo, que apesar de já ter sido edificado, foi cuidadosamente aprimorado para que guardasse todo esse patrimônio nacional. O documentário  Las Cajas Españolas, de Alberto Porlan, exibido em 2004, nos mostra a epopeia onde pessoas comuns, aliadas à artistas, políticos e militares viveram para transportar pinturas, esculturas, objetos valiosos que ficavam na capital espanhola, na mira da destruição dos bombardeiros, até um local especialmente desenvolvido e dentro de receptáculos projetados apenas para que não corressem o risco de qualquer arranhão. “Podem Existir outras repúblicas, mas o patrimônio artístico é insubstituível.”
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julidamuseo · 5 years
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Para guardar (n)a História
O Museu Julho de Castilhos procura reproduzir os aposentos do general o qual dá nome à instituição. Um dos objetos mais curiosos é a sua máscara mortuária. Não era incomum que pessoas ilustres, militares, reis, nobres e pessoas ligadas à igreja tivessem um molde feito a partir de seu rosto assim que morressem. Isso garantiria que suas reproduções artísticas (pinturas, esculturas) pudessem ser reproduzidas tendo fidelidade às suas características do jeito que deixaram este mundo.
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julidamuseo · 5 years
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Com uma paisagem de tirar o fôlego, o Parque Nacional de Aparados da Serra foi sem dúvida o lugar mais lindo que já tive a oportunidade de visitar desde meu ingresso no curso de Museologia 💕
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julidamuseo · 5 years
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“(...)a partir do momento em que conseguimos preencher alguma necessidade, surge uma necessidade nova, gerando um ciclo em forma de “bola de neve” que não tem fim. Como o mercado sempre nos sugere algo mais requintado, aquilo que já possuímos acaba ficando invariavelmente com uma conotação decepcionante.” (Lipovetsky, 2007b, p. 23)
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julidamuseo · 5 years
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O Museu Desmiolado
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julidamuseo · 5 years
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Imortal após a vida
Muitos são os mitos e lendas contados através dos tempos, por diferentes povos em busca do segredo da imortalidade. Nas fábulas japonesas, basta comer a carne de uma sereia. Para os nórdicos, bastava comer as maçãs douradas do pomar de Idun, a deusa da primavera, para que a juventude e a vida fossem eternas. Mas para Miguel Calmon, uma importante figura política brasileira da República Velha, no início do século XX, bastava ser de uma família nobre e ter uma esposa dedicada. Muito dedicada. Sobrinho do Marquês de Abrandes, de quem herdou o título, Miguel Calmon du Pin e Almeida vinha de família nobre, da oligarquia cacaueira na Bahia. Formou- se engenheiro ainda muito jovem, casou- se com Alice da Porciúncula, esta pertencente à oligarquia Rio Grandense. A vida de Miguel parece ter sido totalmente dedicada à vida pública, fato que lhe deu inúmeros títulos, medalhas, diplomas, insígnias, presentes, ou seja, uma infinidade de objetos que a esposa guardava e organizava com o maior zelo, dentro de seu palacete, no bairro carioca do Bota Fogo. Quando Miguel Calmon faleceu, em 1935, logo após a Revolução de 30, Alice procura pelo sobrinho, afilhado do casal, Pedro Calmon, historiador em atividade no Museu Histórico Nacional, para um ato benevolente, generoso e no mínimo intrigante: doar a coleção de objetos, documentos, livros e até mesmo mobília e utensílios de cozinha, para fazerem parte de uma exposição dedicada ao marido, dentro do MHN. Gustavo Barroso, diretor do museu na época, foi o responsável por consolidar essa doação tão peculiar e transformá- la num verdadeiro símbolo da nobreza, do requinte, do bom gosto e do progresso, em uma época onde a mentalidade escravocrata e higienista das grandes cidades ainda perdurava. A fórmula para o sucesso foi simples: Construir uma sala chamada Miguel Calmon, preenchê- la de objetos escolhidos e organizados milimetricamente, criar uma narrativa patriótica de devoção à nobreza e aos “Homens da Sciencia” como os verdadeiros heróis da nação, um modelo a ser seguido pelo povo para que pudessem buscar a verdadeira cidadania. O privado se tornaria público. Não um privado que viesse do cotidiano, dos afazeres diários de um homem comum. Mas sim um privado que mostrasse a verdadeira essência de Calmon: um homem público. Com a riqueza que havia na coleção, com toda a documentação, bibliografia e fotografias que compunham a sala Miguel Calmon, ao lado de coleções dos grandes monarcas brasileiros, foi possível imortalizar um homem que já não vivia mais entre os mortais.    Ver: http://www.reginaabreu.com/site/index.php
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julidamuseo · 5 years
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O real e a realidade
Propor uma reflexão sobre a realidade pode parecer um pouco vago, disperso, ou até mesmo superficial. De qual realidade estamos falando? Qual é o ponto de partida para essa reflexão? Até onde a minha realidade é realmente a realidade? O papel dos museus dentro desse tipo de reflexão guarda no silêncio dos seus objetos uma voz que transcende ao testemunho humano. Como se pode enxergar qualquer que seja narrativa sem estar dentro dos olhos de quem as presenciou, registrou ou pesquisou? Um fato histórico nada mais é do que a compreensão da vida em um determinado lugar no tempo e no espaço, porém, dentro dessa definição que propus, não podemos nos esquecer de que tudo o que é registrado, antes mesmo de o ser, é perpetuado muito antes pela interpretação. Vejam bem: Eu posso dizer que um relógio marca as horas, ao mesmo tempo em que posso criar, em cima desse objeto, uma história que dependerá não apenas desse objeto, mas da minha leitura sobre ele. Posso dizer que o relógio é o aprisionamento voluntário das asas humanas - somos reféns do tempo, antes mesmo de termos consciência de sua existência. E não importa a quem esse relógio pertenceu, ao material o qual foi fabricado, ao seu valor, seu significado ou seu formato (analógico ou digital). Um relógio é um relógio. São os olhos humanos que depositam os significados e é dentro do museu onde esse significado é consumado. Bem, é o que se espera. O problema todo consiste nos olhos e na mente do observador. Os museus transformaram- se, ao longo de suas existências, muito mais do que num centro de exibição, ou de pesquisa, mas também num centro de reflexão e interpretação humana. 
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julidamuseo · 5 years
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Museu Catavento
Um dos locais mais bonitos que visitei neste final de semana foi o Museu Catavento (Catavento Cultural), localizado onde ficava a antiga prefeitura da cidade de São Paulo, no Palácio das Indústrias bem no centro da cidade. O espaço cultural tem como objetivo ser um local interativo, que instigue crianças, jovens e adultos a conhecerem a ciência e questionar conhecimentos básicos e valores sociais, através de exposições interativas e divertidas. 
Embora pareça se tratar de uma propriedade onde certos nobres viveram ou um lugar criado para ser algum órgão governamental, o Palácio foi inaugurado com o objetivo de abrigar exposições sobre indústria, agricultura e pecuária, quando a cidade de São Paulo tinha apenas 100 mil habitantes. Construído entre 1911 e 1924, o local estivera abandonado a partir de 2005, quando a então prefeita Marta Suplicy transferiu a sede da prefeitura para o Edifício Patriarca, no Palácio do Chá. Chegou a abrigar 800 famílias em situação irregular, ficando conhecido como “Faixa de Gaza”. Com a sua reinauguração, em 2009, o local abrigou o Espaço Cultural e Educacional Catavento, e em menos de 6 anos de existência já havia atraído mais de 2 milhões de visitantes. A arquitetura de época enche os olhos, com seus detalhes e sua organização. Destaco a entrada do centro, com uma reprodução de “Lucy”, a avó da humanidade, nossa primeira ancestral comum. Algo que me impressionou muito também foi o jardim, com o Borboletário circular, com triângulos formando o “casulo” que me lembrou muito a “estampa” do Louvre. Além da exposição de longa duração, o catavento também conta com atividades mediadas interativas, com horários marcados na entrada do museu, e vale muito à pena serem vividas. Um local maravilhoso para quem deseja passar um dia agradável, divertido, educativo e instigante, seja com a família, com amigos ou sozinha. 
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julidamuseo · 5 years
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As coisas engolem as coisas
Apertam, empurram, pisam
Apagam outras existências
Têm a sua própria apagada.
E o homem engole tudo.
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