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Ladrões de Gado
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ladroesdegado · 8 months ago
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Margarida Guia
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A propósito de um encontro que vai acontecer na Casa da Achada - Centro Mário Dionísio, no dia 14 de Outubro, entre as 18h00 e as 20h00, sobre a Margarida Guia, grande amiga, pessoa maravilhosa e mulher de vários ofícios, volto a publicar um texto que escrevi, poucos dias após a sua morte, em 2021.
A Margarida, de entre os seus vários saberes, e através do seu único ouvido bom, tratava do som, do som que captava nos cafés, nas ruas e nos encontros e que depois arquivava, montava, transformava, oferecia. Tratava do som das palavras que ouvia das nossas bocas, em diálogo, debate e confronto constante, e tratava do som das palavras que dava como resposta, como provação, como dádiva, com amizade e fraternidade. Tratava ainda do som das palavras que recitava, que colocava no ar, quais serpentinas à espera de serem apanhadas.
Em Lisboa, de antenas no ar, a Margarida tinha uma mochila sempre pesada, com equipamento de gravação, cadernos, livros e não sabemos bem o quê. Captava a vida do dia a dia e do dia a dia fazia vida. Falava contigo como gente, como gente que tem coisas para contar, para dizer, que vem de algum lado e que está em trânsito para outro, falava com curiosidade e, tantas vezes, com amor, com uma solidariedade imensa.
Foi na Casa da Achada que conheci a Margarida. Primeiro, em 2009, na abertura da Casa ao mundo. Depois, em 2013, durante a construção do espectáculo da «Kantata de Algibeira», que reuniu, à volta dum texto da Regina Guimarães, uma série de pessoas da Achada, a minha mãe, vizinhos, pessoas mais velhas que paravam nos centros de dia do bairro, pessoas sem abrigo. Foram meses de ensaios, conversas, amizades e a criação dum momento excepcional, não apenas na estreia do espectáculo no São Luiz, ou na sua versão caseira no Largo da Achada, mas em todo aquele continuar frenético de juntar gente com gente a fazer coisas. Não o fez sozinha, mas não conheço outra pessoa que o faria desta forma, tão colectiva e abrangente.
Em Bruxelas, encontrámos a casa da Margarida, seguindo as suas indicações. Avenida de Estalinegrado, Gare do Norte, ruas com nomes em francês e flamenco. Encontrámos a casa centenária, onde dois ou três pequenos andares eram arrendados pela Margarida e pertenciam ao mundo. Vários quartos e divisões, uma cozinha pequena habituada ao uso e desuso, uma sala apetrechada com uma mesa rectangular ao centro onde se reuniam pessoas, amigos, conhecidos, o amigo do amigo, quem precisasse, e uma varandinha. A luz à noite era quente e durante o dia era incrível. A Margarida é incrível, em Bruxelas, em Lisboa, em todo o lado.
Queria saber tudo sobre mim, sobre ti e sobre os vizinhos, sobre quem vivia acolá e ali, quem subia aquelas escadas e sobre quem passava pela porta. E porque pensas isso?, perguntava para saber. Ficava triste e zangada, pegava naquilo, com um murro no estômago, com a maior seriedade possível e um sorriso maravilhoso, e transformava, pensava, usava para algo que aí vinha, que tinha de fazer.
Nos últimos anos, praticamente sozinha, a Margarida acolheu dezenas de migrantes que conhecia no jardim à frente de sua casa ou que sabiam que a sua casa, centro do mundo para muitos, era um porto seguro. A polícia belga arrombou-lhe a porta e a justiça desta Europa tentou julgá-la. Continuou a receber pessoas, a acolhê-las, a gerir a casa e as economias colectivamente. E juntos falavam do machismo, da guerra, do capitalismo, do futuro.
A Margarida Guia olhava para mim e percebia coisas que nem eu percebia. E fazia isso constantemente com toda a gente. Morreu no dia 19 de Julho, de cancro, no hospital. Uma tristeza enorme e profunda, mas não deixaremos cair o que nos deu.
Russian Bill
Sobre o encontro na Achada:
Caroline Lamarche é uma escritora belga que foi amiga de Margarida Guia e sobre ela escreveu recentemente o livro Cher instant je te vois, que foi apresentado ontem na Noite da Literatura Europeia, em Lisboa, com leituras de Marie d'Oliveira de um excerto do livro traduzido para português por Regina Guimarães. Aproveitando a sua estadia em Lisboa, convocam-se todos os amigos da Margarida para um momento de convívio na Casa da Achada, em que vamos conhecer Caroline Lamarche e também Marie d’Oliveira, e em que vamos lembrar a Margarida e abrir mais uma vez a sua Bibliambule, oferecida à Casa da Achada, por sua vontade, após a sua morte em 2021.
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ladroesdegado · 9 months ago
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Fim-de-semana
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- Amanhã, que dia é?
- É sexta-feira.
- É dia de escola?
- Sim, é dia de escola.
- Depois é fim-de-semana?
- Sim, depois é sábado e depois é domingo.
- Iupi! É fim-de-semana! O que vamos fazer?
Com quatro anos, para ela os fins-de-semana são os dias em que há tempo, em que as rotinas são nossas, só nossas, ou nossas e de quem nos quer bem, das tarefas em casa, dos imprevistos e acasos, de ir ao parque sem pressas, de ir ao cinema ou ao teatro, de ler mais do que um livro por dia, de ir a uma manifestação. São os dias em que podemos comer gelado, ou pipocas doces, ou um chocolate. São os dias em que os adultos têm tempo e as crianças também.
Mas:
- Porque não têm tempo, se é fim-de-semana?
- Não sei bem explicar. Porque a vida não nos deixa, porque estamos cansados, exaustos, limitados, as coisas não são como queremos. E este fim-de-semana trabalho, filha, desculpa.
*
Quando eu era criança, o meu pai arrastava a família toda por infindáveis passeios de carro. Víamos, através da janela, sempre a mesma paisagem portuguesa. Sempre a mesma paisagem chata, em tons de verde e amarelo. Durante a viagem, imaginava que as florestas e os campos se enchiam de dinossauros que se comiam uns aos outros. Sempre era mais divertido.
De quando em vez, saíamos para, apressadamente, sempre muito apressadamente, caminharmos por umas ruínas, um castelo ou apanhar caracóis. Não me lembro de gostar de nada.
Mas:
- O que vamos fazer neste fim-de-semana?
E decidimos, colectivamente, o que queremos fazer. Sugiro irmos ao cinema – proposta aceite. Ou sugiro vermos uma amiga – proposta aceite. Ou sugeres ir ao parque – proposta aceite. Ou sugeres apanharmos o comboio para Vila Franca de Xira – se calhar não dá, outro dia. E combinamos fazermos o que quisermos, sempre que conseguirmos.
Russian Bill
Imagem: «Campo de trigo», Vincent van Gogh (1889)
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ladroesdegado · 9 months ago
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Pedaços de referências perdidas nos últimos dias à volta do vento
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Gostava de subir à montanha e, enfim, respirar. Sentir o vento na cara, os pés no chão, o ar que enche os pulmões, pesado, cada vez mais leve. Lá no alto, altera-se a perspectiva, tudo se vê, mas fica uma visão de conjunto que de nada serve sem descer à terra, tocar nas coisas, olhar nos olhos e falar, ouvir, enfim, respirar.
Sentado no deserto, tudo é imóvel. Nada se ouve, os grãos de areia encontram-se imperturbáveis apesar da rotação da Terra e das bombas que caem, todos os dias, em Gaza e no Líbano. De repente, uma brisa estremece os grãos de areia, transformando-se lentamente numa enorme tempestade de areia. De que nos servem os grãos de areia voarem para depois voltarem a pousar no chão, como manda a gravidade? O que mudou?
O negro absoluto que se vê em certas situações, como vi uma vez no Mediterrâneo, próximo da costa da Catalunha, em que os olhos vêem o nada porque a ausência de luz é total, ou quase, perante o céu nebulado e a lua nova. «Hello darkness, my old friend / I’ve come to talk with you again…» cantam, esperançosos, Simon & Garfunkel na minha cabeça.
Ao balcão, peço um café. Devo? Estou tão cansado, se calhar fazia-me bem, mas revolta-me o peito e fico sem conseguir, enfim, respirar. Não é a cafeína, mas é a vida, o mundo desfeito em pedaços, estilhaços afiados, que me sufoca a peito remexido.
No outro dia, não subi à montanha, mas subi a um escadote e pendurei uma faixa com uma frase do Mário Dionísio: «É preciso criar os dias». Mais tarde, cantámos assim: «Se queres passar abraços possíveis, vai lá ao fundo, lá bem no fundo, se queres a voz e o coração (julgas que há em nós), sem sem sentido, sofreguidão».
Já agora, recorro ao Sérgio Godinho, também, sempre, caixa de ferramentas, par de sapatos, manual de sobrevivência constante, para, enfim, respirar:
«Este bairro ao vento É meu desamigo Quero mais eu quero mais Eu bato ao postigo
Tremo e treme o vento Quero de novo O falcão que pousa No meu braço o seu ovo»
Voltando ao deserto, foi no seu último filme, Uma história do vento, que Joris Ivens sorriu perante a tempestade de areia. O seu grande e último objectivo era conseguir filmar o vento. Também sorrio, de vez em quando, apesar de ouvir os tambores da guerra. Sinto o vento na cara, os pés no chão. É andar.
Russian Bill
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ladroesdegado · 8 years ago
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como uma tentativa de destruir um grupo de teatro na faculdade de letras diz muito sobre Trump não ser um fenómeno isolado
A eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos da América deixou muita gente surpreendida. Multiplicaram-se as condenações às primeiras medidas implementadas por Trump, nomeadamente ao fim do Obamacare e às restrições de circulação a pessoas oriundas de sete países de maioria muçulmana
No entanto, esta condenação mediaticamente unânime a Donald Trump, não só das suas políticas, mas também às suas afirmações sexistas e xenófobas, tem vindo a distrair-nos sobre o que se passa ao nosso lado. Não é só Trump que quer construir um muro entre o México e os E.U.A., são também os dirigentes europeus que têm construído diversas vedações e muros que vão aparecendo pela Europa fora, como em Calais, em França, nas fronteiras da Hungria, ou nos vergonhosos campos de refugiados nas ilhas gregas.
Ao mesmo tempo, consideramos que algo como Trump nunca poderia acontecer na nossa Europa civilizada, mas das eleições em França e na Holanda poderão sair como vencedores dois partidos de extrema-direita, a Frente Nacional, com Marine Le Pen à cabeça, e o Partido da Liberdade, com Geert Wilders em destaque.
Talvez seja importante olharmos para outros casos próximos, ainda que de menor dimensão. Falo da Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, eleita em Dezembro de 2016.
Foram duas listas as candidatas à AEFLUL. A Lista M, do MELL – Movimento de Estudantes em Luta por Letras, que propunha uma certa continuidade; e a vitoriosa Lista L, que propunha uma suposta ruptura com o passado. A Lista L, com uma linguagem «jovem», com forte presença nas redes sociais, prometia, no seu programa, «acima de tudo: honestidade, transparência, diálogo e cooperação». Organizou festas, com destaque para a «Queima das Bifas» no Letras Bar, onde também participaram as tunas da Faculdade, que são, simultaneamente, núcleos da Associação de Estudantes. E surgiram alguns apoios, mais ou menos flagrantes: a praxe mobilizou-se em torno desta candidatura.
No início do seu mandato, a Lista L tomou uma medida audaciosa e inesperada: a tentativa de despedimento de José Ávila Costa, encenador do Grupo de Teatro de Letras. No seu comunicado, a AEFLUL refere que «[...] José Ávila Costa é um funcionário pertencente aos quadros e com responsabilidades efectivas e claras de cumprimento perante a sua entidade patronal, pelo que, o processo dado a conhecer no dia de ontem, 07 de Fevereiro de 2017, parte de uma decisão ponderada pela Direcção da Associação de Estudantes atendendo a diversos incumprimentos contratuais e tem em conta, e terá sempre, a boa vontade e o interesse das partes na relação empregador-empregado/empregado-empregador». Essas supostas irregularidades não foram mencionadas pela AEFLUL, mas foram corajosamente esclarecidas pelo próprio GTL, que explicou que Ávila Costa terá ido fazer uma formação, durante uma semana, a Cabo Verde, sem ter previamente avisado a AEFLUL. Outro argumento utilizado pela AEFLUL é a suposta fraca participação dos estudantes no GTL, embora o mesmo tenha 18 participantes. É de referir que a Lista L continha, no seu programa, a seguinte proposta: «Dinamizar e potenciar os grupos de teatro e de outras áreas do interesse dos estudantes».
O fosso da AEFLUL e os estudantes, neste caso, do GTL, é tão grande que nesse mesmo comunicado apresentam uma injusta solução para o problema: o fim do GTL e a sua integração no outro grupo de teatro da AEFLUL, o ARTEC. Esta visão do teatro como se tratasse apenas de um hobby, e não de um trabalho sério e constante, onde cada grupo mantém as suas saudáveis diferenças, é bastante esclarecedora sobre a visão que a AEFLUL tem dos seus núcleos culturais.
As eventuais irregularidades de Ávila Costa deixaram de ser discutíveis por culpa da AEFLUL, que decidiu avançar com o processo de despedimento sem dialogar com o GTL, sem sequer justificar os motivos que levaram a esta decisão tão drástica. Mais: a AEFLUL tentou conduzir este processo à revelia, não apenas do GTL, mas de todos os estudantes, iniciando (e tentando concluir) o processo na semana anterior ao início das aulas.
Felizmente, o GTL mobilizou-se. Tornou públicas as movimentações da AEFLUL, organizou sessões públicas, lançou uma petição e recolheu assinaturas suficientes para a convocação de uma Reunião Geral de Alunos Extraordinária. Ao tomar conhecimento da recolha de assinaturas, a AEFLUL marcou uma outra RGA, a decorrer na segunda-feira, dia 20 de Fevereiro, às 13h, no Anfiteatro III. Nessa RGA será discutida a situação do GTL, mas tem outros dois pontos impostos pela AEFLUL. O primeiro é o seu momento de propaganda, onde a AEFLUL irá mostrar tudo o que fez até agora, neste mês e meio desde as eleições, numa clara manifestação de falta de decoro; o segundo é a «eleição» da Direcção do jornal Os Fazedores de Letras, sem esclarecer que nesta RGA, respeitando os estatutos do jornal, apenas poderão ser apresentadas candidaturas individuais para posteriores eleições.
Sobre o GTL importa que se saiba o seguinte:
- É um grupo de teatro que existe há 50 anos, que começou como uma tentativa de Associação de Estudantes no tempo do Estado Novo, quando as mesmas eram proibidas;
- Foi no GTL que começaram a trabalhar importantes actores e encenadores do teatro português, nomeadamente Jorge Silva Melo, Luis Miguel Cintra e Maria do Céu Guerra;
- José Ávila Costa é encenador do GTL há quase trinta anos, apresentando trabalho regular, novos espectáculos, tendo participado em todas as 17 edições do FATAL – Festival Anual de Teatro Académico de Lisboa;
- O GTL ensaia cinco dias por semana, tratando-se, portanto, dum trabalho sério que envolve muito tempo, quer do encenador, que de todos os seus participantes;
- O GTL encontra-se inscrito para a 18.ª edição do FATAL, encontrando-se o seu trabalho comprometido pelas atitudes da AEFLUL.
Infelizmente, nas redes sociais, vários apoiantes próximos da AEFLUL têm multiplicado os insultos de índole sexual ao GTL – tratando o grupo por «Gays, trans lesbians» – e a outros estudantes. Qualquer semelhança com a presidência americana não é mera coincidência.
A participação atenta e crítica dos estudantes na RGA é fundamental não só para defender e apoiar o Grupo de Teatro de Letras, mas para garantir o normal, honesto e transparente funcionamento da Associação de Estudantes da FLUL. É uma responsabilidade de todos os estudantes.
Para mais informações sobre este processo, poderão consultar a página do Grupo de Teatro de Letras, o comunicado da AEFLUL, o comunicado do MELL, as notícias no i, no Observador e no Esquerda.net.
E não esquecer: a RGA é na segunda-feira, dia 20 de Fevereiro, às 13h, no Anfiteatro III da FLUL.
Russian Bill
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ladroesdegado · 10 years ago
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Choro ou sonho
A Biblioteca do Marquês vai finalmente reabrir. Como café. Mas terá estantes com livros. Ou não tivesse sido uma biblioteca. Em papel de parede, claro. Os livros reais, aqueles com folhas e lombadas e isso, tiram espaço. E aquilo já tem pouco.
Mais uma estação no comboio saudoso deste parque temático em que o Porto se transforma. Gerir cidades para que sejam destinos turísticos é isto, substituir a realidade pela imagem, criar postais ilustrados do que se vai destruindo.
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Sejamos realistas. Um café ajudará muito mais o PIB do que uma bilblioteca. Criará mais emprego. E um café giro, no meio dum jardim, oh tão amigo dos livros, tem um potencial económico ainda mais interessante. Criticar a transformação da biblioteca do Marquês em estabelecimento comercial sem sonhar destruir a economia parece-me tão triste tão triste tão triste que me dá vontade de chorar. E prefiro sempre o sonho ao choro.
Alfredo Bom Ano
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ladroesdegado · 10 years ago
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Convívio
O querer mudar não é mudar. É uma longa e aparentemente interminável espera, cheia de pensamentos e reflexões sobre que decisões e caminhos tomar. Os medos vão tomando formas. Não sabia que existiam deste modo tão explícito, tão claro e tão palpável. Toda uma vida a desprezá-los, aos medos. A contrariar com pequenas vitórias, aparentes pequenas vitórias. Ora, a vida não tem sido mais do um longo e adormecido passeio, em constante cuidados paliativos por aquilo a que se chama «diversão», «lazer» ou «ócio». E álcool. E conversas com o cair e o prolongamento da noite. De vez em quando, música que estremece. Uns picos de humor vão surgindo com o amor, com novas lutas e amizades, mas a dor, a constante dor e aquele aperto que abre no peito, rapidamente dominam o quotidiano.
Há um certo pessimismo. Saber que a revolução não é provável, ainda que o mundo se transforme perigosamente. Há dias, ao ver um mau filme americano sobre a II Guerra Mundial, chorei. «Será que estamos aqui outra vez?». Em certas partes do mundo estamos e não são partes distantes, são aqui perto porque «nós» - europeus, ocidentais, burgueses – participamos nisso. E um certo pessimismo no quotidiano que deveria ser diferente, saber e sentir que as excepções não são excepções de fundo. «Não imaginava que ainda havia sítios assim». Há, sim, mas não é verdade. Estamos assentes em estacas de vidro com medo de ver o nosso reflexo. Os outros é que estão sempre mal, errados, traidores, não fazem nada, mesmo que nós – nós – nem sequer andemos por aí a deambular. Não deambulamos a sério. «O comunismo deve ter como objectivo principal a mudança, o desenvolvimento, do convívio, na maneira como estamos uns com os outros», discursava aqui alguém há dias. Ao ouvir, lembrei-me que me tinha esquecido disso – daquele arrepio de sentir que um momento específico que se está a viver era diferente dos restantes momentos, que estávamos noutra maneira de convívio, um convívio utópico, mas real, ainda que temporário. E desejar e fazer esses convívios, esses estarmos uns com os outros, muitas vezes. Perdemos isso, eu esqueci-me, perdi-me.
Mudar de vida. O tempo é preenchido, ocupado. Inventar outro tempo. «O tempo não sabe nada, o tempo é nossa invenção».
Desejo estar em casa, ouvir um disco. Desejo estar naquela esplanada, ler um livro. Desejo estar naquela tasca, ler o jornal. Desejo aquela festa, aquele concerto, aquele teatro, aquele passeio. Desejo esse acaso, aquela cerveja, essa garrafa de vinho e um café. Desejo aquele jantar, o pão, o queijo. Desejo esse nada para fazer, mesmo que depois arranje que fazer. Sozinho, contigo, convosco. É só isto, para já é só isto. Sentir essa pequena liberdade, arranjar espaço, vontade e força para os convívios utópicos. Aqui e acolá.
Procurar o comunismo, encontrar a anarquia. Coisas assim.
Russian Bill
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ladroesdegado · 10 years ago
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Costumo dizer
Costumo dizer quando o mundo for mundo lá estás tu costumas dizer tão diferente do cá estou eu dito por mim e no entanto cá estou eu costumo dizer quando o mundo for mundo lá estás tu o mundo é mundo não o mundo é coutada não existe foi retalhado vendido comprado recortado comido esgotado transferido transportado e tens caracóis de marrocos nos cafés de lisboa morangos do chile apanhados no chile verdes no chile vermelhos em tua casa sem sabor em casa qual sabor não sabendo a que sabe não se sabe quando não souber morangos que sabem a nada sabem a morangos que sabem a nada e sabes lá já dos morangos que sabem a morangos nem sabes se já soubeste a que sabem lá estás tu a dizer lá estás tu e cá estou eu a dizer costumo dizer quando o mundo for mundo onde é que tens os pés perguntas no mundo respondes esse mundo não é mundo é naco pedaço bocado é couto canto é nada prisão compulsiva de pés e de mãos lama movediça do ter e fazer esbracejas e não sais mal um membro se liberta outro se afunda mas o pensar o pensar é voluntário lodo que te afunda ou estrela que te ala o pensar o pensar é voluntário ser mundo naco sempre sofrer do mundo naco alimentar o mundo naco sofrer por sofrer e por alimentar querer um mundo mundo ser sem pertencer sabes sabes que sabes sabemos que sabes se ninguém quiser não há costumas dizer cá estou eu sou mundo mais que vida comunicação és nada és estatística número peão lama lodo esgoto e a internet é um cabo no fundo do atlântico ou dois metáfora perfeita a nuvem no fundo do mar eis o que és uma nuvem no fundo do mar a condensação num corpo líquido a impossibilidade metáfora perfeita irmã desta efectivo numa empresa de trabalho temporário todos os dias vais para o emprego há quase dois anos que todos os dias vais para o emprego que é trabalho que te emprestam todos os dias todos os dias vais para o emprego há quase dois anos que todos os dias vais para o emprego e tens trabalho não tens emprego costumo dizer quando o mundo for mundo a impossibilidade perguntas sou impossível perguntas o impossível é apenas hipérbole forma de probabilidade o impossível provável o provável impossível tão falsamente perto tão sonsamente afastados és nada lama pedaço número estatística esgoto improvável impossível metáfora de água e vapor diáspora de fome e suor costumo dizer quando o mundo for mundo não haverá centros comerciais Alfredo Bom Ano
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ladroesdegado · 10 years ago
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Entre o “manda quem pode” e o “só sei que não vou por aí”
Vi uma esquerda sedenta de novos Che Guevaras que se ridiculariza ao justificar em vez de analisar.
Vi uma ditadura que se mostra e oficializa, humilhando quem se lhe opõe.
Vi uma ausência completa de discurso sobre estratégias sérias de libertação por parte dos anarquistas.
Vi a facilidade com que o carisma e o populismo fazem da mentira e da manipulação uma coisa quase bela.
As revoluções, as meras (re)conquistas, já não são como antigamente. Isto não significa que sejam menos urgentes. Tão só que nos deixámos ultrapassar pelos tempos e, agora, falta-nos saber como fazê-las.
A experiência do governo grego, mesmo que nos ilumine pouco sobre caminhos possíveis, dá-nos muito material para reflectir. Quero crer que estamos a viver um momento chave das mudanças de paradigma da luta anti-capitalista. Assim, como se diz aqui, acabem os tempos das ilusões.
Alfredo Bom Ano
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ladroesdegado · 10 years ago
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Quem nos interessa
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Perdida na historia do “mito urbano”, pouca gente terá reparado no que foi realmente grave entre o que disse o primeiro ministro à margem da cerimónia dos 75 anos do Portugal dos Pequeninos, no dia 8 de Junho. Passo a transcrever a partir do Público
“Precisaremos também de acolher mais pessoas que ajudem a dar mais dinamismo à nossa sociedade [e de] mais gente que acrescente valor à nossa economia (...). [Há a necessidade de], gradualmente e medida das nossas possibilidades, ir procurando uma politica de migração que nos traga aquilo que nos faz falta”.
Seres humanos tratados como mercadoria utilitária e necessariamente descartável. Numa altura em que ainda se limpam as lágrimas pelas mortes de milhares de refugiados (a quem a União Europeia, para se blindar contra obrigações humanitárias, chama imigrantes), uma formulação deste teor só pode vir dum ser humano que já perdeu esta sua qualidade.
Ter-lhe-á faltado propor que, para poupar nos custos burocráticos, a triagem de quem “nos traga aquilo que nos faz falta“ seja feita em pleno Mediterrâneo: curso superior em engenharia industrial? Pode subir. Não? Desculpe, não é nada pessoal, mas vamos deixá-lo afogar-se. Próximo!
Alfredo Bom Ano
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ladroesdegado · 10 years ago
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Quando for grande, quero ser criança de Portalegre
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(foto roubada daqui)
Há várias formas de encarar o Dia da Criança. A melhor talvez seja o desprezo, sempre pensei. Como outro Dia Qualquer, desses com letra maiúscula, nacionais, internacionais ou mundiais. Porque elas, as crianças, são, sabe-se, um dos alvos preferenciais da publicidade e Dias destes cheiram sempre a oportunidade de negócio. E porque, se há um Dia para não sei quê, é porque esse não sei quê é assim meio maltratado durante os outros 364 ou 365, dependendo do azar. Dias que vê passar com letra minúscula. E isso cheira sempre a Pilatos perfumado de má consciência.
Mas, de facto, nunca me tinha lembrado que seria o dia ideal para tentar roubar o infantil de cada criança, ensinando-lhe o respeito acrítico pela autoridade e por rituais rançosos.
Claro que criança é criança, ainda para mais munida dessa cobertura que é estar num dia em que a maiúscula é sua, e, apelando a toda a sabedoria, sabotou as pretensões da polícia e subverteu o exercício. Devo confessar um certo sorriso de orgulho paternal quando vejo a alegria com que os manifestantes se atiram aos polícias e como estes demonstram querer estar do outro lado.
Uma lição de moral tão impressionante que me leva a dizer – baixinho, para a minha filha não ouvir – Viva o Dia da Criança 2015. Acrescento o 2015, assim tipo colheita especial, por precaução.
Alfredo Bom Ano
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ladroesdegado · 10 years ago
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Afie-se o todos
Um padeiro dizia lá em casa ninguém tem razão ainda assim há espetos de ferro Assuma-se a miséria As, elas suma, do verbo sumir (ou primeira parte da -uma) se, condicional, reflexo a, ela miséria, míngua (ou inópia, diz o Sr. Google) Assuma-se a miséria Elas somem reflexivamente ela inópia Asssuma-se a miséria condicione-se o assuma-se a miséria some-se a suma-uma desconte-se a razão espete-se o reflexo são sete anos de azar e o azar está mal cotado A miséria é azar. E a Zara por trás dum grande homem sobretudo mal cotado há sempre uma grande marca. Marque-se a miséria e ensinem-se os tubarões a comer putos dos que vão aos magotes bolas e músicas bolas duras e músicas feias e pêlos e borbulhas e cara de para lá de Gondomar Importem-se tubarões marque-se a miséria nos putos e os turistas vão a casa do padeiro levar-lhe o pão que trouxeram de casa do ferreiro onde deixaram o espeto de ferro. Espetadores. Com cê. Assuma-se os tubarões Sumam-se os putos as bolas as músicas Importem-se turistas que não se importem que o azar se marque Assuma-se o azar o é assim a vida o sempre assim foi o não chega para todos o nem tanto ao mar nem tanto à terra o contenta-te com o bolo e não desejes a pastelaria os livros estavam errados os amanhãs são mudos Assuma-se a mudez Suma-se a nudez dos sem roupa a escassez de quem fica de fora da conta Conte-se a história do é assim a vida do sempre assim foi do não chega para todos do nem tanto ao mar nem tanto à terra do contenta-te com o bolo e não desejes a pastelaria Reflicta-se o azar Dêem-se sete anos de cotação um produto irrecusável assine já! Assine-se a miséria de cruz Assuma-se a cruz tem que ficar bem no quadradinho centrada no quadradinho sem extravasar os limites do quadradinho e não escreva mais nada só a cruz no quadradinho nem importa o quadradinho os turistas não votam e cruzes todos carregamos cada um a sua diz-se cada um como cada qual e todos por um fio Afie-se o todos. Alfredo Bom Ano
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ladroesdegado · 10 years ago
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Até já
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A CasaViva fecha a 1 de Maio. O único centro social marcadamente libertário do Porto fecha as portas nove anos depois de as abrir. Quase uma década de inconformismo, rebeldia, organização horizontal e acção directa.
Local de culturas que a Cultura não reconhece, ninho de lutas marcantes, espaço de pensamento livre, arena de discussões infindáveis, laboratório de experiências utópicas. Sem isto, fica-se mais pobre. Sem isto e sem as faixas com que, ciclicamente, incomodava a cidade.
Vai-se o espaço. Ficam as pessoas. Talvez se renove o ânimo. O texto com que anuncia o seu fecho termina com um Até já.
Alfredo Bom Ano
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ladroesdegado · 10 years ago
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Porto chama Charlie
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Foi uma, por “incentivo à violência”; foi outra, por “atentado ao pudor” - nas palavras do polícia de serviço – ou por “falta de licenciamento” - de acordo com a Câmara; e, agora, foi outra, por ser “ofensiva para a instituição” (polícia).
A cidade livrou-se do senhor que só dava dinheiros públicos a quem não dissesse mal dele e que processava quem lhe chamasse energúmeno ou FDP. Mas ainda está longe de ser Charlie
Alfredo Bom Ano
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ladroesdegado · 10 years ago
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Béu béu
youtube
Há quanto tempo não andava por esses blogs fora a carregar no refresh. A vida sem facebook traz-me alguma fidelidade a um ou outro blog, como tenho a um ou outro jornal. Neste domingo, fiquei pelo refresh do Interpolação e do L'obéissance est morte (haverá, certamente, por aí outros merecedores). Sabia que depois de ler os respectivos posts e ver o dito vídeo, muito comentário de cão tinhoso por aí viria. A experiência dir-me-ia que falariam de "trabalho", ora o respeito pelo trabalhador (a classe operária, que agora sabemos oprimida, da nova estirpe de barbudos barbeiros), ora o óbvio desemprego de quem se dá ao luxo de pensar, criticar, organizar-se e fazer alguma coisa. Não esperei, no entanto, que o argumentário se mantivesse tão pobre. Sempre focado nestes dois pontos, na ofensa pacóvia ao mulherio, ao desejo de agressão e ao tão gasto "e os ginásios só para mulheres?".
Bom, uma coisa de cada vez. A reprodução de ideias tonhós é algo que já não me surpreende. Há por aí fora uma série de barbeiros - perdão barbershops - com o mesmo conceito "mulher não entra". Uma rápida pesquisa virtual levou-me ao Reino Unido, ao Canadá (com petição para manterem a discriminação) e etc... (a repetição era de tal forma, que não me apeteceu pesquisar mais, deixo isso para quem for mais tolerante à redundância). A moda espalhou-se e o Fábio não deixou o negócio escapar-lhe. É o mercado, está certo.
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O vintage é para hoje, já o sabemos há alguns anos - vende. Os espaços, as cadeiras, os candeeiros, as roupas, os cabelos. Achei que fosse disso que se tratasse neste caso: o mercado pisca o olho ao vintage, o vintage abre a porta ao barbeiro e o barbeiro faz de conta que é como antigamente. "Faz de conta". O vintage sobe à cabeça - não é só o cabelo que se adpta aos produtos e às formas de outras épocas, a cabeça é tomado por ideias bafientas. "Oh, não tens mesmo sentido de humor, é só marketing!" - Mas não, o marketing nunca é só marketing. Como tudo hoje, quer-se atractivo, chamativo, disruptivo, por que não "não entra mulher, mas entra cão"? O marketing é o que pode ser e que deixemos que seja. Ora, como disse no parágrafo de cima, não estamos só a falar de estética, estamos a falar de ideias, não estamos a falar só de marketing (que por si já merecia ir para a valeta)... Falamos de pessoas concretas, com um negócio concreto, com opções concretas e com regras concretas. Todo este "concreto" se lê nos comentários por esses blogs. Este concreto viu-se em empurrões (talvez mais leve, porque "em meninas só se bate com uma flor" - embora por lá também houvesse meninos), viu-se em ataques a câmaras de filmar, viu-se no linguarejar dos muitos funcionários (e clientes), viu-se na porta que se fecha tentando fechar-"nos" lá dentro, viu-se no pau que ergueram e que tentou caçar as cadelas filhas da puta que num minuto entraram, alçaram a perna, ladraram, fornicaram sofás e saíram uivando, até uma próxima vez (?). You may find this acceptable. I may not.
Maybelle Starr
p.s.: considero os ginásios cujos treinos são exclusivos para mulheres um pouco tontos, mas certamente alguém terá bons motivos a apresentar (ou não). Como tal, considero o argumento inválido numa discussão mais séria e profunda que queiramos ter sobre o conceito desta barbearia (perdão mais uma vez, "barbershop").
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ladroesdegado · 10 years ago
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Das eleições na Grécia
Ou o capitalismo, nesta sua fase, apenas sobrevive com doses permanente de austeridade. Ou, como defende a esquerda, nomeadamente o novo ministro grego das finanças, ele apenas sobrevive se lhe for dada uma mão que o volte a fazer sustentável. Facilmente me convenço de que, num mundo globalizado, com o capital a procurar, à escala global, os locais mais aprazíveis, um projecto de Estado Social é impossível na Europa. Por outro lado, facilmente concordo que o capitalismo só é possível com crescimento e que é impossível crescer sob o colete de forças austeritário. Não faço ideia. Por gozo, até gostava de saber. Enfim.
O realismo fez com que, neste momento histórico, reste à esquerda ser social democrata. E à social democracia resta suicidar-se ou salvar o capitalismo. Isto é o que me fica do resultado das eleições gregas. O resto tem piada e alguma importância. Mas isto devia fazer pensar. Digo eu.
Alfredo Bom Ano
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ladroesdegado · 10 years ago
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Com um V na volta
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A pensar no Maçariku.
Russian Bill
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ladroesdegado · 10 years ago
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«Terrorismo anarquista? Jornalismo de estado»
Aqui deixamos a tradução desta reflexão de Andreu Barnils, retirada do jornal catalão VilaWeb.
«Esta manhã acordámos com este título: "Onze detidos em Barcelona contra o terrorismo anarquista”. Realmente espectacular. Porque, pronto, se estamos a falar de terrorismo, onde estão as bombas? Onde estão os roubos aos bancos para o financiamento? Se falamos de terrorismo, onde estão as explosões nos centros comerciais, os sequestros e os torturados? Em lado nenhum, não há. Não há porque, actualmente, na Catalunha, não há terrorismo. E “terrorismo anarquista” ainda menos.
Um dos locais onde a Audiencia Nacional Española enviou agentes da polícia, sob as ordens do juiz Javier Gómez Bermúdez, foi a Kasa de la Muntanya, um centro social okupado de Barcelona. A partir da conta de Twitter iam anunciando o que acontecia: “Mexem em tudo e confiscam todo o material informático, cadernos e material escrito, sem nenhum sentido. Se têm de registar a casa toda poderão demorar horas. A secretaria judiciária da Audiencia Nacional pede mais agentes e ajuda porque senão, ‘poderemos ficar o dia todo’. Diferentes agentes à paisana dos Mossos (polícia catalã) com capuzes registram tudo e gravam tudo em vídeo.”
Esta manhã, na VilaWeb, debatemos qual o título da notícia. Parecia-nos tão incrível esta coisa do “terrorismo anarquista”, que inicialmente pensámos em neste título: "Os mossos entram na Kasa de la Muntanya numa operação contra o 'terrorista anarquista'". Com as aspas queríamos salientar que a mesma acusação já era notícia. Que a Audiencia Nacional Española achava que na Catalunya há terrorismo anarquista e que era algo a salientar. Houve debate, porque na redação havia pessoas que achavam que, mesmo com as aspas, era ir na sua onda, e o leitor podia acreditar no facto de haver terrorismo anarquista. Mas não há bombas, nem roubos a bancos, nem torturados. Finalmente, optou-se por tirar a expressão do título.
No Twitter, este facto criou muita hilaridade e a notícia despoletou (e desculpem a expressão) uma grande quantidade de comentários: “Terrorismo anarquista. Bem-vindos ao 1808”; “Finalmente, com tanto terrorismo anarquista, já não é possível sair à rua. É perigoso para as crianças”; “Foda-se, terrorismo anarquista, hoje não poderei dormir”.
Mas esta manhã, vimos uma outra coisa, e mais preocupante. Vimos como muitos meios de comunicação usaram a expressão “terrorismo anarquista” sem aspas, directamente, achando boa a versão da Audiencia Nacional Española. Hoje na Catalunha há terrorismo anarquista e houve uma operação contra isso, estavam a dizer, sem perguntar-se – oh pecado! – onde estavam as bombas, os mortos, os torturados. Realmente espectacular. Portanto, se alguns esta manhã viram terrorismo anarquista, outros viram jornalismo de estado.»
Russian Bill
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