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leolepri · 8 years
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O 8 de 90
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Puede ser... Que algunos te recuerden bien Que algunos te recuerden mal Que alunos no recuerden nada ("25 Horas" – La 25)
Itália 90 é a primeira memória que tenho de uma Copa do Mundo. Durante o mundial realizado no México em 86 eu tinha apenas dois anos e minha vida se resumia em dormir e comer, com algumas pequenas variações entre as duas tarefas. Mas em 1990 não. Quando a seleção de Lazaroni entrou em campo para o primeiro jogo diante da Suécia, no auge da sabedoria que a vida me brindava aos cinco anos de idade, eu já precisava cumprir com certas responsabilidades.
Talvez a maior delas era fazer corretamente o número oito durante o início da alfabetização. Eu simplesmente não conseguia desenhar as voltas necessárias para que o lápis laçasse o maldito número. Eu não entendia a dinâmica do traçado, mas a tarefa precisava ser feita e meu truque preferido era rascunhar no papel dois números três espelhados. Ou então, para não ser descoberto na minha engenhosa solução, algumas vezes fazia um círculo maior embaixo e outro, um pouco menor, por cima deste. É óbvio que não passava desapercebido pelo olhar apurado da freira do colégio católico onde estudava. Ela sempre conseguia identificar a trampa no meu golpe pretensiosamente perfeito. Na minha inocência infantil, eu não entendia como, mas ela, atenta, descobria. No final eu terminava escravo daqueles cadernos de caligrafia fazendo um sem-fim de oitos (como o próprio número sugere caso desenhado na horizontal).
Oito também foi o número que Claudio Paul Caniggia utilizou na Copa de 90. Hoje, analisando o conjunto da obra, a escolha parece materializar um número de camiseta pouco comum para um atacante igualmente incomum. E aquele sim era um oito que transgredia todas as regras particulares com as quais eu tentava enfrentar o mundo: era um oito meio... "aquadradado". Eu sempre tinha olhado para o oito, e acho que ainda mantenho essa visão, como um número puxando mais para o redondo, algo gordinho se um dia tivesse que personificá-lo. Mas aquele oito estampado na camiseta da seleção argentina era quadrado! Confesso que foi um baita choque para mim, e tenho a certeza absoluta que para a freira do colégio também.
À época ainda era uma informação com a qual eu não sabia exatamente como lidar, mas aquela seleção argentina era a atual campeã mundial e Cani o melhor amigo de Maradona. Aliás, há quem assegure que ele só foi à Copa de 90 por exigência do próprio Diego, que pressionou o técnico Bilardo pela convocação (El Narigón nunca nutriu simpatia por Caniggia). Eu também não sabia quem era Maradona, Caniggia ou Bilardo. Eu não sabia onde ficava a Argentina e ignorava o fato de que eles eram rivais para chamarmos de nossos. A única coisa que eu sabia é que eles eram perigosos. Pelo menos era o que escutava meu pai dizendo nas conversas pós-jogo dos adultos. A fértil imaginação de uma criança sugeria seres com sete cabeças, cinco olhos ou doze braços. Quem sabe? Eu nunca tinha visto um argentino na vida e não sabia se lá eles eram diferentes de nós. O lugar soava muito distante, praticamente inalcançável para mim e minhas pernas ainda curtinhas. Tudo absolutamente normal para uma criança que circulava no universo limitado pelos parentes e amiguinhos do recreio. Qualquer coisa que extrapolasse esses domínios era imediatamente considerado algo extraterrestre.
O dia daquele Argentina 1 Brasil 0 em 1990 é também o dia da minha primeira importante lembrança de uma partida de futebol. Eu me lembro perfeitamente como o passe de Maradona, quase caído, rompeu as nossas linhas e fez parecer que aquela bola segue sua trajetória ainda hoje, vencendo pernas e qualquer outro obstáculo. Eu me lembro perfeitamente como um sujeito de cabelos loiros compridos, presos desordenadamente por uma espécie de tiara, deu um dribe eterno em Taffarel, a nossa última barreira, e chutou a meia altura estufando as redes de um gol tristemente desguarnecido. E eu me lembro perfeitamente de tudo que veio logo depois disso; o meu pai nervoso, levantando do sofá aos insultos e abandonando a sala para não assustar as crianças que assistiam ao jogo sentadas no chão.
Dessa forma fui apresentado a Caniggia, o jogador cuja imagem preenchia todos os estereótipos que os brasileiros ainda mantêm dos argentinos. Mas para mim, Cani sempre se pareceu mais aos caras das bandas de rock que minha irmã já escutava naquela época, e que eu viria a escutar anos mais tarde. Sem saber, aquele gol serviu como preparação para os anos de bonança que chegariam carregados em talento e taças. Claro, porque tudo passa a ter outro valor se primeiro se aprende na amargura de uma derrota. Curiosamente a vida me deu amigos argentinos, os melhores que tenho. E nenhum deles tem sete cabeças, cinco olhos ou doze braços. Frustrante, mas alguns nem mesmo ostentam os mullets, as cubanitas ou o cabelo do Cannigia, que nesta semana completou 50 anos.
É o tempo nos outra lição, provando que a idade também chega para os vilões da nossa infância. Mas pensando bem, não deveria. Não deveria porque isso nos faz recordar que os anos também não esperam por nós e a única coisa de valor que resta são mesmo essas lembranças. No meu caso as lembranças e também, ou principalmente, o fato de que hoje, aos 32 anos de idade, eu posso fazer o oito do meu próprio jeito, sem correr o risco de sofrer com a ditadura de um caderno de caligrafia.
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leolepri · 8 years
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Dos heróis, o improvável
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Ele nasceu para aquele chute.
Só que ainda não sabia.
Precisou passar toda uma vida longe dos festejos.
Enquanto os companheiros se perdiam em abraços eternos, ele já estava lá, do outro lado da linha que divide o campo. Parado, preocupado, reprimindo qualquer exagero desnecessário. Mãos na cintura cobrando atenção eterna à marcação. Logo os contrários darão uma nova saída e a primeira coisa a ser feita é DEFENDER PARA RECUPERAR. 
Quando vacilava e deixava o impulso se sobrepor ao trabalho de 5, corria para participar daquela montanha humana de alegria. Claro que só o fazia com os os olhos esbugalhados de preocupação. 
Vagou por aí roubando bolas, mas nunca se reservou o tempo necessário para curtir a ideia de ter o objetivo do jogo em posse própria. Pronto deixava o prêmio da estafa com alguém más piola, alguém mais credenciado a um lance de desequilíbrio. 
Ele nunca soube ocupar o espaço gigante reservado ao protagonismo. Pelo contrário; suas melhores participações aconteceram quando decidiu incorporar o legítimo papel do vilão que distribui pancadas a diestra y siniestra.
Precisou errar muito. Precisou correr muito. Precisou sofrer muito antes de arriscar um chute no momento em que era o menos indicado a fazê-lo. 
Lembrou da vida que viveu até ali, até o minuto 49 de um jogo impossível.
Largou a certeza que já estava escrita e emendou um chute no ponto final ditado pelo destino.
Que zapatazo!
Faturou o maior prêmio que a loteria do futebol pode pagar; permitiu La T voltar à primeira divisão argentina passados 12 anos.
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A façanha de Guiñazú é coisa de cinema.
A do Talleres é de romance.
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leolepri · 8 years
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La plaza y la pizza
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(Imagem: Diario El Pais)
- Pizzería, buenas noches.
- Buenas. Me gustaría una grande. Mitad fugazzeta, mitad jamón con morrones.
- Dale. La dirección?
- Llevala al Centenario.
- Bueno. Vos trabajás ahí, maestro?
- A veces los domingos…
- Pero me imagino que estas en la cancha ahora, no? Sos de la seguridad del estadio?
- En realidad no. Te estoy ordenando el pedido por adelantado.
- Bueno… entonces a qué hora te llevo la pizza?
- A eso de las nueve más o menos… del día 29 de mayo.
- Vos me estás cargando, amigo?
- Ojalá que no.
  Ninguém pode afirmar que foi assim, mas ninguém tem o direito de negar essa ilusão.
Fato é que o diálogo entre Eduado Espinel, técnico do Plaza Colonia, e o atendente da pizzaria realmente aconteceu em algum momento. E na noite do último sábado o treinador, acompahado por sua comissão técnica, foi até o estádio Centenario receber o pedido que era muito mais do que desejo por uma grande de fugazzeta.
Era uma promessa. Se o Plaza não fosse rebaixado, ele desfrutaria de uma zapi no meio de campo do estádio mais emblemático do continente.
Se isso já parece loucura suficiente para exigirmos uma estátua em mármore de Espinel no centro histórico da turística Colonia del Sacramento, imagine só que este sujeito não pôde escolher dia melhor para pagar a tal promessa que na véspera do jogo mais importante da vida do modesto clube de respeitosos 99 anos.
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(Imagem: Twitter Plaza Colonia)
O time estava em Montevidéu concentrado para o duelo que faria contra o Peñarol. Eles acostumados ao protagonismo, esboçando o itinerário da primeira vuelta no Campeón del Siglo, a casa nova inaugurada no início do ano. O Plaza com aquela ilusão quase infantil de querer conhecer o caminho dessa tal vuelta que os grandes falam.
Mas se de ilusão se trata, já sabemos que ninguém pode nega-la.
Quem diria que esse time chegaria até aqui com chances de campeonato? E quem dira que esse louco de apellido Espinel comeria sua pizza no gramado do Centenario?
Quais as chances?
Porque o Plaza chegou à primera como quem já estava indo embora. O clube teve de organizar uma pollada para arrecandar os fundos necessários para cobrir os gastos de se disputar a principal divisão do futebol local. Cozinharam 400 frangos e mandaram os garotos das divisões de base pra rua vender o almoço dominguero.
Já seria difícil o bastante manter a categoria tendo o orçamento mais baixo entre todos os times da primeira divisão, quem diria o título então. São cerca de 65 mil dólares para cuidar de TUDO; salários, categorias de base, infraestrutura, contas, funcionários… Diego Forlán sozinho recebe o DOBRO do montante todos os meses em sua conta corrente.
Uma equipe formada por jogadores que precisam completar a renda mensal com outras atividades. Apenas o futebol não é o suficiente para sustentar as famílias. Aí tem um que é carpinteiro, outro que faz um servicinho como pintor, outro que enche uma laje…
O artilheiro chega para treinar pedalando sonhos em cima de uma BICICLETA e vestindo a campera da seleção argentina. German Rivero trabalhava com o pai na outra margem do Rio da Prata, no país vizinho. Ficou dez meses sem jogar futebol até atender o chamado do Plaza.
O Plaza… este time que não vendia nem mesmo 40 ingressos por jogo no ano passado. “Os próprios atletas se encarregavam de vender entradas para os familiares. Aquele que vendesse mais de cinco já garantia a titularidade”, brincou um dirigente.
E só de pensar que no domingo de chuva e frio na capital charrúa, foram muito mais de 40 os que viram os patas blancas vencerem o Peñarol e conquistarem o Clausura uruguaio.
A incredulidade foi tamanha que os três principais diários esportivos do paisito não puderam encontrar palavras diferentes para titular o tamanho do feito. Os três estamparam na manhã seguinte: CAMPEÓN DEL SIGLO.
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(Imagem: www.futboluruguay.com)
Será tudo isso verdade?
Tudo. Menos o sabor da pizza.
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leolepri · 8 years
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El adiós de un grande
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(Imagem: Telefe)
- Diego!!! Tenés que compartir los juguetes con tu hermano. Qué pensas? Sos el único nene por acá?
Foi assim que Doña Mirta ensinou a um pequeno Diego Milito o grandioso conceito de cumplicidade. Genioso que só, o garoto não queria – e nem nunca quis mesmo após tantas broncas –emprestar a bola de CAPOTÃO para o irmão Gabriel, apenas um ano mais novo, arriscar alguns chutes no quintal de casa 
- Vos sos más especial que él? – finalizou a mãe deixando Diego pensativo. Ele não se achava mais especial que o irmão, mas aquela bola era dele, oras… 
Tempos mais tarde, outra lição de conceito semelhante. Dessa vez foi o pai quem se indignou em um asado dominguero qualquer. 
Diego brigou com o irmão pela última cucharada de dulce de leche e, no calor da REFREGA, desferiu um ardilioso pontapé na direção de onde quer fosse no corpo esguio de Gabri. 
- Diego, por Dios! No seas egoísta! No sos el único al que le gusta el dulce de leche, pibe. 
Ele olhou para o lado e viu a ironia estampada em forma de sorriso no rosto de Gabriel. A típica postura provocativa de quem, ao não ser observado, se sente vingado por ver o outro ser repreendido. 
- El postre no fue hecho sólo para vos! Aprendé con eso. – Dessa vez Diego mastigou amargura e o irmão ficou com o que restava do doce de leite.
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Como foi costume nos anos que se seguiram, Diego aprendeu que não era o único Milito da família. Ele tinha esse irmão a quem acusava, durante as discussões pelo controle remoto, de ter traído a paixão do avô e preferido jogar no lado errado de Avellaneda. 
Porém, ao pisar no gramado do Cilindro pela última vez como jogador profissional de futebol, e mais de duas décadas depois da última briga com o irmão por um pedaço de pizza na geladeira, um agora emocionado Diego escutou algo que apenas serviu para confirmar aquilo que ele já desconfiava (e ao mesmo tempo desmentir tudo que seus pais haviam lhe dito até então).
Isso porque…
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“MILITO HAY UNO SOLO, OH OH OH…." 
Este é apenas um conto em homenagem a Diego Milito, que neste fim de semana se despediu de su gente e do futebol. Gracias, Principito.
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leolepri · 8 years
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Anime-se e solte o corrimão
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Imagem: Ovación
Nós nunca saberemos se algum dia faremos história. Pode ser, e essa hipótese soa muito mais provável, que caminhemos a vida toda preocupados em jamais tirar as mãos do apoio seguro que nos oferece o corrimão. Cabeça baixa, olhar fixo nos degraus. Rebanhos inteiros atentos simplesmente na manutenção de um ritmo cardíaco estável, sem viver o risco das GRANDES OSCILAÇÕES EMOTIVAS. 
Porém, no FRIGIR DOS OVOS, a verdade absoluta diz que nenhum ser vivente está conscientemente - e suficientemente - preparado para construir história. Ou ser a própria HISTÓRIA, em uma riqueza de detalhes que acariciariam o surreal rivalizando com a mínima dose de racionalidade opressora. 
Tudo isso (ou nada disso) só pra dizer que Marcel Novick tampouco havia se animado à prática do exercício do DESAPEGO e DESPRENDIMENTO. Ele nunca tomou para si a coragem necessária para retirar as mãos do corrimão dessa coisa sorrateira que alguns chamam por aí de VIDA. O volantão rústico, com muito mais esforço do que talento em todas as duas pernas que possui, jamais perdeu a atenção naqueles que desfilavam habilidade diante de seus olhos, esfregando simpáticos movimentos de malabarismo naquela FUÇA BARBADA.
Novick acostumou-se ao amargo hábito de correr atrás dos talentos e das gambetas sem solução. Manteve-se fiel ao seu propósito existencial: o de ser um eterno COADJUVANTE (os dedos no quadro sobre o famoso sorriso de Mona Lisa).
No último domingo ainda no vestiário, ao encorpar o uniforme CARVÃO E OURO mais pesado do futebol mundial, nem FLERTOU com a possibilidade de tentar mudar o rumo das coisas. Tudo sempre foi verdade absoluta com a qual não se discute. Não imaginou que enquanto amarrotava a camiseta pra dentro do calção, estava ao mesmo tempo dando VOO LIVRE para a capa de super-herói que trazia costurada nas costas. A mesma que soube luzir naquela tarde chuvosa no estádio Centenario.
Se o leitor duvidar, peço que esfregue os olhos e repare bem. Mantenha a visão sedenta concentrada no monitor. E se ainda assim for difícil percebe-la, leve a mão ao peito mais ou menos na altura do coração. Aí sim, e apenas assim, será possível enxergar o tremular da capa aurinegra durante o salto de Novick.
Ali, espremido entre duas torres NACIONAIS, o nosso pequeno gigante soltou as mãos do corrimão e foi ele próprio A HISTÓRIA de um domingo qualquer.
Confira o gol ( na voz de um narrador albo) que deu o empate ao Peñarol aos 94 MINUTOS no clássico contra o Nacional.
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leolepri · 8 years
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La cinemateca sudaca: Hijos Nuestros
O cinema argentino, feliz proprietário de dois oscars, acaba de sacar a la luz mais uma obra futbolera. Hoje estreia em Buenos Aires o filme Hijos Nuestros, uma história feita sobre e para o San Lorenzo de Almagro.
Misturando diversos elementos típicos da cultura argenta, a história aborda a vida de um ex-jogador frustrado que dirige um táxi pelas ruas da capital para ganhar a vida. Fanático pelo Ciclón, ele participa de uma missa religiosa bem particular, com canções de cancha entoadas no tradicional tom sacerdotal (um dos pontos altos da película e com a benção de um tal Pancho lá do Vaticano).
O romance também retrata coisas mundanas da dura vida real; a amargura, o romance, a desilusão e o sorriso em prol das causas mais simples.
La cinemateca do La Gambeta recomenda!
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leolepri · 8 years
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Zagueiro-Zagueiro
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“Ele ruminava bronca”, comentavam nas tribunas. 
Nunca participava das rodinhas de bobinho com os companheiros de time. Não queria ser feito de bobo nem de brincadeira.
Os colegas de equipe desconfiavam se ele seria capaz de fazer cinco embaixadinhas sem deixar a bola cair. Nunca alguém reuniu coragem suficiente para lhe perguntar isso, mas provavelmente estavam certos na suposição.
“No me gusta hacer malabares con la pelota como si fuera un payaso de circo”, disse certa vez (numa das poucas em que falou qualquer coisa).
Nos dias prévios aos jogos não cortava o cabelo, não fazia a barba e não tomava banho. A esposa reclamava bastante da última, mas só para as amigas. Jamais para ele.
As chuteiras ainda eram as mesmas do dia que estreou pelo Barracas Central. Remendadas, levavam barbantes no lugar dos cadarços convencionais. Não gostava dos modelos novos. Achava que vinham com os cadarços curtos demais.
Ele preferia dar o nó firme em cima do peito do pé para depois aproveitar a sobra do barbante e dar outras duas voltas ao redor dos tornozelos. Não gostava de sentir a perna frouxa nas divididas. 
Carrancudo, pisava no gramado e a primeira coisa que fazia era procurar os rostos dos rivais de turno. Enquanto alguns contrários tocavam o gramado e faziam o sinal da cruz, ele os encarava olhando lá dentro como quem jura roubar a alma do outro. 
Só depois disso partia para o próprio aquecimento. 
Os companheiros alternando turnos de exibicionismo explícito de talento no meio de campo; trocas de passes estilosas, de ombro, cabeça, costas e o raio que o parta. Ele caminhando sozinho para atrás de um dos arcos onde os Quero-Queros faziam ninho no chão.
Olhava para o casal de pássaros e recebia dos miradas de vuelta com aquele ar de rivalidade de quem se encontra todos os domingos. Contas pendentes, insultos de ambos os lados e clima de tensão entre pássaros e o defensor central do Barracas. 
Sem dizer qualquer palavra ou mover um só músculo da face, tomava impulso e disparava correndo na direção dos bichos. Concentrado, não desviava a trajetória nem um centímetro.
Ao se aproximar pisando firme, obrigava os Quero-Queros a baterem asas e voarem para longe, abandonando uma cria piando desesperada no verde césped.
O filhote era poupado. Afinal, ele era apenas um zagueiro e não um monstro.
No domingo seguinte, a mesma coisa. Os companheiros lá longe, trocando passes cheios de estiloso, e ele correndo atrás das aves. No outro domingo, igual. E no outro. E no outro. E no outro. Assim por diante. 
Certo domingo, ele fez tudo como estava acostumado.
Chegou no clube e não trocou palavras com ninguém. Vestiu-se num canto afastado dos demais e subiu para o campo. Camisa dentro do calção, duas voltas do barbante no tornozelo, barba de uma semana, encarada nos rivais e tomou rumo para aquele lugar atrás do gol.
Fitou os pássaros e correu na direção deles.
Rápido, violento, decidido.
As aves não se mexeram.
Elas paradas, ele perplexo.
Deteve a corrida e ficou ali, olhos esbugalhados.
Não refletiu nem por dois segundos.
Fez meia-volta e mudou a trajetória. 
Correu para o vestiário e se aposentou. Este é apenas um conto sobre a história de confiança do Zagueiro-Zagueiro e também dos Quero-Queros.
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leolepri · 8 years
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A alma do negócio
Já não é novidade que as propagandas televisivas argentinas são PRODUTOS INFLAMÁVEIS em época de competição envolvendo la selección.
Então segue mais uma, a nova do canal TyC e que aborda Copa América, Donald Trump, intolerância, Zabaleta, América do Sul, muro...
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O roteiro escolhido pelo canal remete a um modelo de sucesso. 
Para a Copa de 2014, o canal fechado escolheu o Papa Francisco como condutor principal de uma narrativa que ilustrava aquilo que os argentinos quase conseguiram conquistar aqui no Brasil.
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leolepri · 8 years
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Esa es mi mamá
Lembram do Frascarelli?
Ou melhor, lembraram da Doña María, a simpática mãe do goleiro reserva do Peñarol que ligou para uma rádio uruguaia pedindo a saída do titular (Guruceaga) para a entrada do filho?
Então, no próximo dia 15 de maio será o dia das mães no paisito. Um supermercado local lançou uma campanha lembrando aos filhos coisas que nuestras mamás fazem e que... nos dão um poquito de verguenza, che.
Y bueno... la que se mandó Doña María también tendría que estar, claramente.
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leolepri · 8 years
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Nos pasamos un poquito...
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Parece coisa de ficção científica, de teoria da conspiração.
E deve ser mesmo. Pelo menos um pouquinho.
O Tigre, inspirado sabe-se lá onde, anunciou que os sócios do clube que QUISEREM poderão implantar um CHIP no corpo que vai conter os dados do cidadão para acelerar a entrada no estádio em dias de jogo.
Sim. O parágrafo acima é completamente verídico. Inclusive já há a primeira cobaia, o primeiro torcedor a ter passado pelo procedimento (no mínimo) questionável. Ezequiel Rocino, secretário geral da instituição, inseriu a tecnologia debaixo da pele e já voltou a correr normalmente em sua rodinha dentro da gaiola. 
O dirigente disse que o clube não irá carregar no CHIP nenhuma informação além daquelas que o próprio sócio escolher divulgar no momento da inserção do corpo estranho no próprio corpo humano (???)
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Segundo ele, trata-se de uma prova piloto e o sócio precisaria apenas aproximar a parte do corpo onde está localizado o CHIP perto da catraca e a mesma será liberada, isso caso o ratinho de laboratório esteja com as contas em dia no clube de Victoria.
Medida pra lá de polêmica, uma vez que se trata de um clube modesto e que não possui nem mesmo estacionamento para os ônibus das delegações em seu estádio.
O próximo passo será a marcação feita por códigos de barra na nuca dos sócios para facilitar o ingresso na academia do clube.
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leolepri · 8 years
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O futebol nas alturas
A Libertadores tem lá suas coisas.
E a altitude é a mais particular entre todas.
Futebol em Quito, Bogotá ou La Paz automaticamente remete imagens de jogadores sem fôlego, cambaleando do jeito que podem em direção ao banco de reservas para mendigar uma mísera porção de ALENTO dos cilindros de oxigênio.
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Diversas são as maneiras que os times utilizam para tentar combater, ou pelo menos diminuir, os efeitos da altitude. O tal "soroche", como os peruanos costumam chamar o mal da montanha, é o fantasma que assusta quem chega para jogar a 3.600 metros acima do nível do mar.
Em conversa com o blog, Pablo Escobar, meia do Strongest que também passou por clubes daqui (é paraguaio naturalizado boliviano), confirmou a dificuldade daqueles que não estão acostumados às características do jogo na altitude: "Já vi alguns jogadores sofrendo com falta de ar por causa da falta de oxigênio, um pouco tontos também. Mas isso faz com que o ritmo de jogo fique mais lento."
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  Do chá do Zetti ao viagra de Bauza
Julho de 1993. La Paz, Bolívia.
A seleção brasileira tinha acabado de conhecer o seu primeiro revés em uma partida de Eliminatórias; 2 a 0 para a Bolívia del "Diablo" Etcheverry. Zetti, o reserva de Taffarel, foi para o doping e... surpresa! O exame apontou a presença de cocaína na urina do goleiro. A FIFA logo se manifestou e suspendeu ele e também o lateral boliviano Rimba, outro que foi pego no exame pelo mesmo motivo.
Quatro dias depois, ficou comprovado que ambos tomaram um chá oferecido pelo hotel e preparado com folha de coca. A FIFA retirou a suspensão e os jogadores puderam voltar ao futebol.
Segundo o Dr. Alexandre Soeiro, médico cardiologista do INCOR, a folha é apenas um estimulante que "camufla" os efeitos da altitude e só. "A folha de coca funciona para tirar esse mal estar, aliviar a dor de cabeça e o enjoo, mas em termos de rendimento esportivo ela não interfere em absolutamente nada. Além disso, sua presença seria considerada doping."
Zetti que o diga.
Julho de 2014 La Paz, Bolívia.
O San Lorenzo está no tramo final de uma caminhada que seria histórica. O segundo jogo da semifinal levou o time, então treinado por Edgardo Bauza, a uma visita à capital boliviana. Mesmo após um ESTRONDOSO 5 a 0 na partida de ida, no Gasómetro, Bauza não quis arriscar e, junto com a equipe técnica e fisiologistas do clube, preparou uma espécie de coquetel a base de SIDENAFIL (em doses mais baixas), o popular Viagra.
O Dr. Alexandre explica que o medicamento se trata de um vasodilatador que atua também no sistema arterial pulmonar e pode melhorar a capacidade respiratória do jogador. Mas faz uma ressalva importante; "Não há nenhum trabalho clínico atestando um melhor desempenho atlético com o uso do SIDENAFIL."
Já para o Dr. Páblius Staduto, fisiologista do CEFIT (Centro de Estudos de Fisiologia do Exercício e Tratamento), o uso de pequenas doses do medicamento pode acrescentar certo ganho. "O VIAGRA apresenta um efeito interessante sobre o desempenho respiratório, pois diminui o esforço para respirar dos atletas quando jogam na altitude. Ele diminui a pressão exercida sobre o sistema respiratório."
Para Pablo Escobar, o importante é a postura adotada pelos times visitantes: "Eu já escutei que alguns times usaram o VIAGRA, mas acho que não dá muito resultado. Os times têm de vir aqui e jogar sem medo."
 "Los buenos son buenos, arriba y abajo"
Março de 2008. La Paz, Bolívia.
Teoricamente (e apenas teoricamente) a partida com Maradona e o presidente Evo Morales era algo em benefício das vítimas das enchentes que ocorreram no começo daquele ano. Pelo menos esse era o discurso oficial, confirmado inclusive pelo então viceministro de deportes boliviano (e também ex-jogador), Milton Melgar.
Mas havia outro sentido em tudo que acontecia ali, no gramado do Hernando Siles. Em dezembro de 2007, a FIFA havia decidido proibir jogos de futebol realizados acima de 2.500 metros do nível do mar. Maradona se manifestou contra a decisão e organizou o futebolzinho diretamente com o presidente Morales.
"Bolívia no va a moverse y pide el máximo respeto a la práctica del deporte en ciudades de altura, como en este caso aquí en La Paz. Por eso, creemos que hoy es un día fundamental, es un día importante porque comienza el gran movimiento boliviano ante la persistencia de la FIFA y decirle al mundo que no nos vamos a mover. Queremos que el fútbol nos una a todos los hombres de este planeta, y queremos reclamar la solidaridad de los países sudamericanos. Única forma, única manera de hacer universal la práctica deportiva, única manera de mostrarle al mundo que los buenos son buenos, arriba y abajo."
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Com estas palavras (e provavelmente com o punho cerrado), o narrador boliviano iniciou a transmissão do jogo que terminou em vitória do time de Maradona por 7 a 4 com três gols dele. El Pibe começou seu discurso mencionando as vítimas do desastre, mas logo depois mandou o recado que tinha vindo dar: "Yo con 47 años y el presidente, no sé tendrá menos, hemos demonstrada para la FIFA que se puede correr adentro de esta cancha. Ustedes tienen que jugar donde nacieron, hermanos, y eso no lo puede prohibir ni Diós,y menos Blatter."
O Dr. Alexandre Soeiro confirma que não há limitações para a prática esportiva na altitude. "O coração automaticamente se limita. O único problema é que o sujeito vai cansar mais rápido, mas o coração não é um limitante. O limitante é a pouca quantidade de oxigênio no ar."
Teoria também confirmada pelo Dr. Páblius; "Os riscos estão relacionados à situação de mal estar, além da fadiga intensa, falta de ar, tonturas e dor de cabeça. Em riscos maiores, edema pulmonar e edema cerebral pelo mal de altitude. Eles só não são maiores porque os atletas são muito bem avaliados previamente para riscos desta natureza."
Por isso, até os treinamentos precisam ser adaptados, como conta Pablo Escobar; "É diferente, é mais lento porque os jogadores demoram mais tempo para se recuperar depois dos jogos. É diferente dos lugares onde não há altitude. Mas, além disso, não há nada de anormal. Só o ritmo de jogo que fica mais lento."
 "Nosotros, los argentinos, no le tenemos miedo a la altura"
Abril de 2009. La Paz, Bolívia.
A frase foi dita ainda naquele fevereiro de 2008, mas quis o destino que Maradona voltasse a visitar La Paz em março de 2009, agora como técnico da seleção argentina que buscava uma vaguinha na Copa do Mundo de 2010 (algo que só viria na última rodada, contra o Uruguai e... Pasman, LA TENÉS ADENTRO).
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O resultado foi vexatório; 6 a 1 para a Bolívia. Na coletiva de imprensa, os jornalistas argentinos até tentaram questionar Maradona sobre a possibilidade de a altitude ter influenciado no resultado catastrófico. Mas Diego, em nenhum momento, esboçou colocar a culpa nos 3.600 metros do estádio Hernando Siles.
"Não é bom eu dar conselhos para quem vai vir jogar aqui...(risos) Mas se jogar sem medo vai ser melhor, porque nunca aconteceu nada grave por aqui. Além dos atletas ficarem um pouco mais cansados, não passa disso. Meu conselho é para que eles venham e joguem bola sem medo", aconselhou Pablo Escobar.
Maradona jogou sem medo.
 "La pelota en la altura no dobla"
Daniel Passarella eternizou a frase em 1996, depois da derrota da seleção argentina para o Equador em Quito.
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E se há algo em que concordam doutores e fisiologistas, é que o método mais acertado para minimizar os efeitos do "soroche" é o tempo de aclimatação ser o necessário (algo completamente impossível de acontecer). "Chegar um ou dois dias antes não muda nada. O processo de adaptação pode geram algum mal estar, desconforto, por isso os times escolhem levar o atleta para a cidade com altitude horas antes do jogo, para que os atletas não tenham tempo de sentir o baque", explicou o Dr. Alexandre.
"Chegar ao local da partida horas antes do seu início caso não tenham tempo de aclimatação. Apesar da mudança brusca em pouco tempo pode evitar o mal estar causado caso chegassem com um dia de antecedência, por exemplo.", completou o Dr, Páblius. 
Obviamente os jogadores dos times locais são conscientes da carta que têm na manga, principalmente no segundo tempo. "A gente quer ganhar rápido, né? (risos) Quanto mais rápido, melhor. Mas a gente sabe que o desgaste natural em se jogar na altitude existe e também tentamos tirar algum proveito disso", revelou Pablo Escobar. 
Vantagem boliviana
Os especialistas também concordam ao afirmar que os times locais possuem vantagem quando jogam na altitude. Para o Dr. Alexandre; "Sem dúvida nenhuma. Eles estão acostumados e têm as hemácias adaptadas ao tipo de oxigênio disponível no ambiente. Em termos de rendimento, o jogador que está adaptado à altitude leva vantagem com certeza." O Dr. Páblius destaca os mesmos detalhes, com a mesma veemência: "Sim, apresentam! Devido a melhor adaptação a esta diferença do aproveitamento do oxigênio no ar respirado. Eles tem uma quantidade maior de celulas sanguíneas o que auxilia no transporte de oxigênio para os músculos."
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leolepri · 8 years
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Quando nasce o futebol
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Um garoto de apenas 5 anos nos deu mais uma prova de que o futebol... de que o futebol... de que o futebol é isso mesmo. Uma frase incompleta ecoando em reticências eternas.
Talvez não tenha sido apenas obra do garoto, mas algo de caso pensado, em comunhão com el viejo. Porque através daquelas letras, escritas com certa dificuldade por alguém que ainda percorre o início da alfabetização, é sensível aos olhos o pensamento do poeta. 
O velho poeta uruguaio.
Eduardo Galeano, que há um ano decidiu colocar ponto final na obra-prima de sua vida, decidiu porque os poetas são aqueles que podem escolher o momento da morte, valeu-se do caderno do menino para assinar outra história futbolera.
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Kevin Molina, torcedor do Huracán, decidiu escrever uma carta para Patricio "Pato" Toranzo, o jogador do Globito que teve parte dos dedos do pé esquerdo amputados depois do ônibus do clube sofrer um acidente na Venezuela, em fevereiro deste ano.
Diz a cartinha:
"Hola Pato, soy Kevin Molina, tengo 5 años y te quería contar que hoy estoy contento porque ya sé que estás bien. Te quiero ver otra vez jugando así haces muchos goles con todos tus amigos. Y si necesitás dedos para tu pie yo te doy los míos porque no quiero jugar a la pelota, yo quiero boxear y vos los necesitás." 
Quando nasce o futebol? Ninguém pode definir com precisão, mas a paixão é sempre prematura. 
De certo, apenas que o sentimento chega ainda na tenra idade, quando somos capazes de oferecer nossos próprios dedos para que outros façam os gols que sonhamos festejar.
Muito obrigado, Kevin.
E obrigado por tudo, Galeano.
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leolepri · 8 years
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O gol que sumiu
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Antes de receber a bola, Díaz se certificou de que o gol estava lá. E ele jura que estava.
Enquanto aguardava o árbitro colocar um ponto final na reclamação dos rivais, aproveitou a confusão para escolher, sigilosamente, o canto de segurança da batida. Precisava fazer isso agora, quando ainda não era o protagonista do lance que estava por vir. Aproveitou para repassar mentalmente todos os movimentos a seguir; da corrida para pegar um bom embalo até a batida firme na bola.
Perdeu o foco no ritual ao ouvir a arquibancada explodir. Atenção exclusiva na arquitetura única de um estádio que, sabe-se lá como, insiste em ficar de pé, com torcedores amontoados uns sobre os outros. Toda aquela massa em aspecto uniforme cantava mais agora, justo quando Díaz tinha a chance de lastima-los.
Os olhos passearam hipnotizados por aquelas centenas de cabeças. De onde estava, a escassos onze metros do gol, só conseguia ver os rostos enfurecidos gritando em um tom de ameaça para qualquer mortal que tentasse cometer o equívoco de chutar contra o gol do Boca.
Baixou a vista e procurou novamente pelo gol. Encontrou, mas parecia um pouco menor agora, coisa de um metro a menos para cada lado. Mas ainda estava lá. Ele jura que estava.
Tentou não fazer caso a essa impressão diminuta. Devia ser apenas uma ilusão de ótica. Voltou a se concentrar nos procedimentos da cobrança perfeita.
- Seis pasitos para tras, pongo las manos en la cintura, respiro un par de veces, cuento hasta cinco y arranco la carrera. Me tomo un buen impulso, apoyo el pie izquierdo al lado del balón y golpeo al rincón derecho del arquero. Simples así, imposible de atajarlo – estava convicto do que deveria ser feito.
Quis conferir o canto escolhido, mas desta vez o gol parecia muito menor. Não apenas as duas traves tinham diminuído o espaço horizontal, mas também o travessão havia encolhido a área vertical de acerto do batedor. O gol mais parecia um arco de futebol de salão naquele gramado imenso. Ele ainda estava lá, Díaz jura que estava, mas era ridiculamente menor.
Numa rápida mirada, vagou pelos rostos dos companheiros de time. Nenhum aparentava surpresa ou qualquer sinal de desconformidade com aquilo. Tudo estava normal para eles, mas para Díaz algo estava muito errado.
Acomodou a bola na marca do pênalti e balançou negativamente a cabeça para os lados, como quem amaldiçoa o próprio destino e se pergunta o por quê. Achou que estava ficando louco. Foi aí que tudo piorou. Olhou para e frente e o gol não estava mais lá. Ele jura que não. Havia desaparecido completamente. Nem trave, nem travessão e nem as redes. Nada. Do outro lado da bola, apenas o goleiro Orión, parado, esperando a definição sem sentido do batedor. E atrás dele, uma torcida que cantava e cantava e cantava…
- Fueron ellos! Ellos afanaron el arco! – pensou.
Díaz perdeu a concentração e, confuso, só recuou para o goleiro.
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Um conto sobre o “Día que La Bombonera Atajó un Penal”.
Boca 3x0 Atlético Rafaela - 02/04/2016
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leolepri · 8 years
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O sonho da casa própria
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Sim, o Peñarol finalmente tem um lugarzinho para chamar de seu. 
Inaugurou o estáio Campeón del Siglo, antigo sonho carbonero tantas vezes protelado, despertando atenção de muita gente por aqui pelo custo total para alcança-lo: US$ 40 milhões (R$ 146 milhões). Ou, trocando em miúdos, singelos 13% daquilo que foi gasto na construção da Arena Corinthians (R$ 1,1 bilhão), por exemplo. 
Barato? Sim, talvez. “Um preço justo” provavelmente deve ser a melhor avaliação para a obra. O tempo de entrega foi outro fator que impressionou bastante: pouco mais de 2 anos desde que o primeiro trator vagou por ali.
Insistindo em comparações, o estádio tupiniquim que foi palco da abertura da Copa do Mundo de 2014 tardou 3 anos em realizar-se. Mas também não está totalmente sem razão aquele que disser que ainda parece inacabado.
A admiração pela economia na hora de quebrar o porquinho – que a princípio não é investigado por qualquer esquema fraudulento de CAIXA 2 - não deve ser o ponto fundamental nessa discussão, ou então algo que norteie o pensamento (e o senso) comum, exclusivamente.
Até mesmo porque o segredo do Peñarol não está no cofre, mas sim na pedra fundamental; fisicamente cravada naquele imenso terreno em Carrasco mas, em sua essência, o coração do novo estádio continua pulsando apertado lá, na tribuna Amsterdam do velho Centenario. 
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Porque o Peñarol ergueu uma obra preocupado em obedecer o famigerado padrão FIFA mas, principalmente, preocupado em atender ao padrão HINCHA e o jeito sudaca de torcer. Cadeiras? Sim, elas existem. Mas ainda há muito mais concreto para quem prefere permanecer em pé atrás dos gols jogando junto com o time. 
Pensando nisso, vale a pena repassar por outras obras ao redor do continente. São vários os clubes que estão a ponto de estrearem a casa nova, ou que deram um importante passo na reforma da COZINHA.
La Nueva Olla
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A pretensão do Ciclón del barrio Obrero é grande: construir o estádio mais moderno do Paraguai.
Para isso, as obras aproveitaram a antiga estrutura de concreto da Olla Azulgrana (estádio General Pablo Rojas) e projetam capacidade para aproximadamente 38 mil torcedores. Para atingir essa meta, a novidade fica por conta da construção da doble bandeja no setor norte.
O arquiteto responsável pela reforma explicou, no começo deste ano, que espera entregar o estádio em meados de Abril. A obra começou em junho de 2014 e estava prevista para ser concluída a tempo do Cerro estrea-la na Libertadores, mas ela ainda sofre com atrasos devido à instabilidade climática.
Segundo o próprio Cerro, o investimento deve ultrapassar os US$ 6 milhões e está sendo pago, pelo menos até aqui, através da venda de cadeiras e camarotes. O restante deverá ser quitado com a negociação de publicidade.
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Vale lembrar que o mítico Defensores del Chaco também passou por uma reformulação no ano passado. A mudança incluiu a ampliação no setor de PLATEAS em sua parte baixa; foram criados 1.134 lugares que agora ficam bem próximos ao gramado. Com isso, a capacidade total subiu para 48.300 torcedores.
1 y 57
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Sebastián Verón colocou em contagem regressiva a volta do Estudiantes ao seu estádio, o Tierra de Campeones, localizado na avenida 1 entre as ruas 55 e 57 (La Plata é uma cidade planejada, conhecida como la ciudad de las diagonales, e as ruas foram batizadas por números – daí o porquê do 1 y 57). 
O acordo entre clube e construtora, assinado no final de Fevereiro, estipulou o prazo de 420 dias para o término das obras. Portanto, a previsão é que o Pincha volte a atuar em casa a partir de maio de 2017. O valor total gira em torno dos US$ 13 milhões e também será custeado através da venda de camarotes e cadeiras para sócios. 
A última vez que o Estudiantes jogou lá foi há mais de 10 anos, em Agosto de 2005, quando venceu o clássico contra o Gimnasia por 1 a 0.
E por falar em Gimnasia, lá no Bosque também é tempo de mudança. O Tripero está dando um TAPA NO VISUAL de sua cancha e conseguiu levantar a Platea H, que inclusive já recebeu algumas cadeiras.
 De volta à Terra Santa
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O San Lorenzo e sua sina de construir estádios.
O clube bem que poderia iniciar atividades secundárias como EMPREITEIRA de sucesso. Em sua luta para reacomodar os rumos da História, o Ciclón está muito próximo de voltar às orignes, à avenida La Plata no bairro de Boedo, para o lugar do antigo Viejo Gasómetro (usurpado pela ditadura) e construir o seu terceiro estádio.
No final do ano passado, Matías Lammens, presidente do San Lorenzo, e Daniel Fernández, capo do Carrefour na Argentina, já acertam os detalhes e firmaram os papéis que faltavam oficializando o regresso à Terra Santa.
Já batizado como Papa Francisco, mesmo sem ainda ter saído do papel, o novo estádio tem previsão para ser entregue em 2019 e com capacidade para 40 mil torcedores. Como a cancha será construída do zero, o primeiro passo foi a compra do terreno onde atualmente está o supermercado; US$ 150 milhões que foram arrecados (em grande parte) pelos próprios torcedores através de uma campanha que contou com participação massiva.
A obra sairia por um valor entre US$ 70 e US$ 75 milhões e com projeto inspirado no Ninho de Pássaro.
Azul Azul 
A concessionário Azul Azul, que administra a Universidad de Chile desde 2007, anunciou a compra de um terreno de 5 mil metros quadrados na comuna de La Pintana (zona sul de Santiago). Sobre essa cancha tudo ainda é muito nebuloso. A própria Azul Azul já havia manifestado o interesse de construir um estádio com capacidade para 30 mil torcedores.
A expectativa é que as obras comecem no final deste ano.  O mais próximo que La U já esteve de possuir uma casa própria foi em 1973, quando até chegou a adquirir um terreno em Las Condes, mas que foi cancelado pela ditadura militar.
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leolepri · 8 years
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O Rooney argentino
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Com seu calendário passando por uma TRUCULENTA reformulação, o futebol argentino vive 2016 com nada menos do que 30 equipes disputando a primeira divisão (divididas em dois grupos de 15); e uma B Nacional, o equivalente à segundona, com outros 22 quadros dos mais tradicionais possíveis brigando por apenas uma vaguinha direta na elite. A outra será decidida em um torneio reducido, uma espécie de mata-mata envolvendo do segundo ao quinto colocado na classificação geral.
Em uma primeira análise podem parecer campeonatos inflacionados (e de fato são mesmo), mas acredite; devemos agradecer esta oportunidade ÍMPAR de nos deliciarmos com os mais belos e essenciais clássicos que qualquer vivente apaixonado por futebol gostaria de desfrutar: los clasicos del ascenso argentino.
Logo na abertura desta temporada da B Nacional rolou o clássico PUNTANO. Frente a frente, os dois rivais da província de San Luis (Estudiantes e Juventud Unida) mediram forças pela primeira vez numa importante divisão organizada pela AFA.
O torneio está apenas na 9ª rodada (de um total de 21), mas já aconteceram jogos da ÍNDOLE de: Almagro x Nueva Chicago (vitória do Torito por 2 a 1), All Boys x Chacarita (vitória do Albo por 1 a 0), Almagro x Los Andes (vitória do Mil Rayitas – melhor apodo impossível – por 2 a 1), All Boys x Ferro (terminou empatado em 1 a 1), além do tremendo Talleres x Instituto em Córdoba (que terminou empatado em 1 a 1).
Mas foi no último sábado que tivemos, depois de assombrosos 15 anos, o acontecimento dos acontecimentos da B Nacional: EL SUPERCLASICO DEL ASCENSO!
All Boys e Nueva Chicago se reencontraram no Islas Malvinas com uma saudade que já não cabia no peito. E por isso fizeram um jogo interessantíssimo, com o Albo apresentando ao mundo o seu Wayne Rooney particular.
Germán Lessman, 25 anos, impressiona pela semelhança física com o atacante inglês. Fez as categorias de base em um modesto clube de sua cidade natal; Esperanza (província de Santa Fé), mas surgiu de fato no Colón. Peregrinou por alguns clubes argentinos (e um chileno) antes de desembarcar em Floresta no início deste ano. Não demorou muito e já caiu nas graças da galera. Ele é o artilheiro da B Nacional com 8 gols e contando. No último sábado, no clássico contra o Chicago, somou DOS POROTITOS MÁS pra conta.
Confira os gols do Superclasico del Ascenso:
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Neste domingo ainda tivemos a vitória do Chacarita por 2 a 0 sobre o Ferro Carril, que teve OITO jogadores expulsos..
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leolepri · 9 years
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Ele, que grita os gols que não são
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Na arquibancada o torcedor, este sujeito forjado pelos desatinos do futebol, sempre procura ocupar o espaço mais próximo possível ao lado da prudência. O gol pode até sair, mas ele, un hincha precavido, está curtido e no ponto exato para se deixar levar simplesmente pelo primeiro impulso, que nasce no estômago e ganha força até ser freado no último limite imposto pela garganta.
A espera apenas por alguns milésimos de segundo é tempo mais do que suficiente para uma rápida ESPIADELA, de rabo de olho mesmo, no bandeira, este ser que corre pela lateral da vida com o instrumento do alcaguete na mão, só para garantir que tudo esteja nos conformes. O torcedor procura pelo atestado que garanta ao mundo o direito de seguir girando em seu curso normal e também que aquele grito libertador está, enfim, avalizado, legitimado e carimbado: pronto para romper as barreiras e ganhar uma alma própria.
Porque cada grito de gol é um grito diferente, por isso mesmo deve ser festejado até a exaustão e, quem sabe, um pouco depois também.
Pablo Ledesma sabe disso.
O volante, com passagens e títulos pelo Boca Jrs, gosta de marcar seus golzinhos por aí, mas prefere, indiscutivelmente, comemora-los.
Como gosta!
No clássico santafesino do último fim de semana (derrota do Colón – time de Ledesma – para o Unión por 3 a 0) o jogador marcou quando a partida ainda parecia uma briga de foices entre dois bêbados num beco escuro. 
Foi ele quem dividiu e empurrou para o fundo do arco, desprotegido por um arqueiro que suplicava qualquer mínima dose de MORFINA.
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Ledesma correu e vibrou como aquele que marca o tento na final de Copa do Mundo, ou como aquele que marca o gol que dá respaldo MORAL para o time permanecer na quadra no mais tradicional "quem fizer ganha".
Ai, Ledesma... Ledesma... Olhe para o árbitro e escape do ridículo, che! Não valeu nada do que você fez com exceção da explícita TENTATIVA DE HOMICÍDIO no arqueiro.
Gol anulado.
Mas se neste lance parece que Ledesma não tem tanta culpa pela comemoração exagerada, se o amigo leitor acha que é um absurdo culpa-lo pelo excesso, uma vez que foi o árbitro quem demorou mais do que o comum para anular o tento, recorramos, então, à primeira vez.
Ahhhhh a primeira vez ninguém esquece.
Foi logo em noite de gala. Copa Libertadores de 2013; Boca x Corinthians.
Em posição irregular, encontrou uma bola perdida no meio da área e resolveu lhe dar destino. Gritou. Correu. Gritou mais um pouco. Tirou a camiseta. E continuou correndo. Fez gestos carinhosos para alguém muito querido lá na arquibancada.
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- Avísenle, por favor - implora o narrador sentindo uma vergonha alheia imensurável porque não pode desviar o olhar ou cobrir o rosto já vermelho.
Ledesma passou para os ANAIS como ele, que grita os gols que não são. (E ainda levou o amarelo por ter tirado a camiseta no festejo.)
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leolepri · 9 years
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O dedo que mudou a História
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O dedo provocativo de Gonzalo Jara na Copa América do ano passado, gesto que foi eternamente batizado como EL DEDO DE DIÓS pelos torcedores chilenos, elevou a outro nível a rivalidade entre Uruguai e Chile.
É muito certo que os jogos entres estas duas seleções sempre contaram com DOSES CAVALARES de rispidez e canchereadas, porém, depois daquele dedo, de Jara e de Cavani, tudo mudou. 
Às portas de uma nova edição da Copa América, que em comemoração pelos 100 anos de história será realizada nos Estados Unidos (???), os uruguaios deram mais uma mostra que ainda estão longe de esquecer o que aconteceu naquela noite no estádio Nacional de Santiago.
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E a resposta chilena não tardou em chegar. 
E foi assim: tocando fondo y donde más les duele.
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