loficreepy
loficreepy
Sem objetivo nenhum
7 posts
numanice
Don't wanna be here? Send us removal request.
loficreepy · 5 years ago
Video
reflections from an underwater wave 
373K notes · View notes
loficreepy · 5 years ago
Photo
Tumblr media
899K notes · View notes
loficreepy · 5 years ago
Photo
Tumblr media
91K notes · View notes
loficreepy · 5 years ago
Photo
Tumblr media
69K notes · View notes
loficreepy · 5 years ago
Photo
Tumblr media
112K notes · View notes
loficreepy · 5 years ago
Photo
Tumblr media
51K notes · View notes
loficreepy · 5 years ago
Text
Luzes que te apagam, sombras que te fazem ser
O primeiro raio de luz atingiu a pele do seu rosto através da fresta da janela que não fechara da melhor maneira possível no crepúsculo do dia anterior. Uma nova chance de interpretar os sinais de uma maneira menos sórdida, talvez, mas o pensamento era muito denso para os primeiros momentos do dia. Sim, ele começou. O novo dia acabara de ter começado, que difícil admitir. Como sempre, encara e julga, o começou com um detalhe do ontem, como uma assombração. Maldito seja o ontem. A sensação era diferente, entretanto, o ar soava como se não pertencesse ao passado. A luz parecia carregar sinceridade, pertencimento ao agora. Duzentos e noventa e nove, setecentos e noventa e dois, quatrocentos e cinquenta e oito metros por segundo – não existe nada mais presente que a luz, tola.
Isso incomodou. O que me aguarda?
Alguns segundos passaram e foram desperdiçados em raciocinar se levantar. Desperdício. Enquanto isso, a luz viajava aquela quantidade absurda de metros e metros e metros... O corpo se cansou da indecisão, os músculos começaram a se contrair involuntariamente - como tudo nessa vida.
A água gritou gelada no rosto, um esforço descomunal para se reconhecer no espelho sujo de pasta de dente. O novo dia existia, mas ela ainda não. Os passos descalços pelo corredor obviamente incognoscível fazem com que – aos poucos – a mente reconheça o corpo, e os músculos – aos poucos – voltem para o controle superior: eu.
Não tem café da manhã pronto e a primeira pancada de solidão se manifesta nos primeiros minutos da manhã. Que merda. Sol, outono, tudo em vão. O caminho para as realizações daquele dia, que começou ontem quando não fechou a janela direito, se torna de repente cheio de crocodilos, rodeada de atiradores de arco e flecha profissionais, questões sem resposta, alternativa. Que merda.
Calça os pés, os seios, os dentes. Não necessariamente nessa ordem. As decisões são um misto de impulso e vontade de sair daquele mangue pegajoso. Vou sair de casa em busca de pão fresco, que desafio. A vontade mesmo, era contato humano de café da manhã. Comer suor e reclamações, angústias e alegrias de uma outra pessoa. Escapar do buraco que sou. A sacola de pão, era sabido, repousaria ridiculamente na mesa, até que alguém decidisse experimentar um – e não seria ela. Ignora o fato, continua. Continua. Só continua.
A chave virou na porta, o barulho deu mais dicas do absurdo que é existir. Se tranca com medo do que? De outras pessoas? Por favor entre, vamos tomar um café preto. Me conta uma história divertida, ou triste, ou inventa. Foco no pão, é simples. Que medo de olhar pra trás. Não quer embarcar no raio de luz que te acordou há 7 minutos atrás. Tudo parece ser um convite tão atraente pro devaneio. Que... merda.
Quarta feira de abril, agora no abrigo da casa, o corpo volta a se mover involuntariamente enquanto o raciocínio se aloja em algum lugar que ela não conhece – e nem ousaria. Mais regular que isso? Aquele aperto sutil na consciência pulsante, alojada nas tripas, diz e diz alto: que angústia conviver sem nenhuma novidade, sem surpresas. O ar vai embora durante alguns segundos. Em poucos passos na rua, enquanto toma fôlego, o tempo se estende e aquela angústia acaba por findá-la. Em breve me enterrará viva nos meus lençóis com cheiro de amaciante.
O racional vem junto, nunca deixou de existir, sussurra nos primeiros tempos da manhã. Agora, se espreguiça: depois de abrir o presente, depois de comer o primeiro pedaço do bolo, depois de encontrar um amigo antigo no mercado sem ter planejado, depois... A emoção acaba, a sensação do novo vai embora. Justamente. Não existiria essa sensação se não fosse exatamente desse jeito. Não existiria o novo se ele não se comportasse exatamente com essa feição ridícula. Sanguinolenta. Do mesmo jeito que se espreguiça, ele volta a se esconder: então porque estou aqui? Em busca de pequenos pontos de prazer diluídos numa existência fajuta e mesquinha? Não, melhor não pensar nisso. Talvez nem os lençóis aguentem esse peso, me expulsem da cama, me comam morta como abutres. Que merda. Só vai pegar o pão, ouvir o beep da moça da padaria passando as compras dos outros.
Enquanto vira a esquina, a sensação de deixar o lar melhora as coisas. Pega o celular, coloca o fone, tá tudo bem, tudo normal. Não tem porque afundar agora. Playlist, clica no aleatório: flauta doce, vento no cabelo, palavras do Cartola ecoam na sua mente enquanto anda sem rumo, mas em direção ao pão fresco. Preste atenção, querida. Embora eu saiba que estais bem resolvida, em cada esquina cai um pouco tua vida e em pouco tempo não serás mais o que és. O ar passa facilmente entre as narinas: ele me entende. Não preciso mais do devaneio, alguém me entende. O Cartola me entende. Virei a esquina nos seus primeiros acordes... só pode ser um sinal. Um bom sinal.
De repente a primeira forma de vida cruza seu horizonte sem estar dentro de um carro, ou em cima de uma moto. Um gatinho branco. Que coisa linda. Tá tudo bem. Bom sinais. Foda-se a luz de hoje de manhã, tudo é possível, existir faz sentido quando se vê gatinhos brancos. Existir faz sentido quando a música canta quem sou, mesmo sem eu ter escolhido. Tudo se encaixa como um quebra cabeça.
A padaria estava gelada. Bom dia, moça. Segura a vontade de perguntar “como vai, tudo bem?”. Todos achariam estranho, estão trabalhando, ou comprando pão. Sua mente entra dentro dos olhos da mulher, começou a nadar dentro da sua íris, escalar seu nervo óptico, tudo sem sua permissão. Enquanto invade a individualidade da moça do pão fresco, sem ela saber - uma falta de respeito! - uma curiosidade: qual foi a ultima música que ela ouviu? A pergunta não cabe para o momento, não caberia nem se fossemos íntimas. É necessário cumprir o papel da ida: buscar o pão fresco. Tudo tem um propósito.
O propósito da brecha de luz era isso? Comprar pão fresco? Não é possível. Duzentos e noventa e nove, setecentos e noventa e dois, quatrocentos e cinquenta e oito metros por segundo. Patético.
O quebra cabeças fica na vertical, cai como um castelo de cartas. Nem uma música muito boa que toca no aleatório salvaria. O fone somente em um ouvido, aquele sentimento de não pertencer ao universo, nem a ela mesma, vomita: “gostaria de oito pães”. Inadmissível comprar um número ímpar de pães, não faz o menor sentido. Espero que entenda, moça do pão fresco. A vontade de perguntar – você também não acha um absurdo comprar um número ímpar de pães? Foda-se.
Rasgue as minhas cartas e não me procure mais, assim será melhor, meu bem. Concordo, Adriana Calcanhotto. Música boa, mas não salvou nada.
Pega o pão, tá quente. Que sorte, outro ótimo sinal. Chega a dar vontade de deixar ele ali em cima do balcão pra esfriar um pouco, a mão sentia um desconforto em segurar o pão fresco. E olha que era o objetivo do dia. Trazendo dor. Sorrio pro nada... Paradoxos me excitam. A tarefa do dia seria leva-lo quente para casa, mesmo sabendo que só comeriam frio. É travada a batalha, a mão suando, vai até o caixa. Ninguém na fila. Sem ouvir o beep do caixa passando a compra dos outros. Que merda, outro péssimo sinal. O pão tá quentinho, dirige essa frase vazia, que não te representa nem um pouco, pra moça do caixa da fonte de pão fresco. A resposta é um sorriso cansado.
O que ela carrega? Como ela dormiu noite passada? Será que ela acabou de voltar de um atestado de óbito do pai, da mãe? Vítima de alguma coisa? Ela bateria no gatinho branco, ou faria carinho nele? Ou nem olharia. A luz entrando pela manhã, a acordaria, a desviaria ou faria fechar a janela e voltar a dormir? Provavelmente ela prefere comer pão velho, acho que existem pessoas assim. Definitivamente, o sorriso foi em virtude disso. Tá tudo bem na vida dela, ela só não acha legal comer pão fresco, e tá tudo bem. Dois segundos se passaram, os pensamentos vão embora, pago o pão. Nem assimilo a quantidade. Penso na nota de dez reais que entrego pra ela. Por onde viajará? Por onde viajou? Peguei na mesma nota que a Adriana Calcanhotto? Ela tá cantando no meu ouvido agora. Seria muita sorte.
Que inferno viver em uma mente que não sabe conviver com o silêncio, com a falta de obrigações, horários, agendas. A mente de criança, perguntando repetitivamente os porquês de coisas que não precisam de porquês, ou que precisam tanto e ninguém consegue decifrar.
O caminho de volta pra casa é solitário, o pão agora está dentro de uma sacola de plástico. Ela sofre por mim, minha mão agradece, obrigada. Parabéns por cumprir seu papel.
Como previu, o pão foi largado em cima da mesa, a chave foi deixada em cima do móvel, volta pro quarto. Quando abre a porta, cadê a luz? Maldita. Vou abrir a janela, fazer com que essa luz perca sua individualidade. Vingança, ela me perturbou. Bate a cama, dobra edredom e tudo mais. O ar tá lindo, cheio de micro poeiras fazendo dança e graça pro sol. Suspensas no gás que respiramos, com certeza entrando dentro dela e conhecendo seus alvéolos pulmonares. Puxa com mais força, deixe que entrem. Façam morada, poeirinhas.
O dia se perde em outro alguém, em outra refeição, não importou. As obrigações diárias te tiram do mundo que criou, ainda bem. Obrigada.
Mundo que criou com dor e com certeza de que era aquilo que mais te representava. Nada era mais ela, nada é mais eu, do que isso. Mas cansa. E não existe devaneio ou poesia que floreie um dia de obrigações, tarefas, compromissos, só elas. Tão mais fácil viver pra máquina, tão mais fácil não conhecer nós mesmos. Obrigada, capitalismo.  
O dia passou, foi embora aos poucos, sem avisar. De repente os números na tela do celular fazem sentido e representam uma despedida – outro crepúsculo se aproxima, meu bem. O inconsciente agradece: me deixe repousar, viva para os outros, para a higiene e para o conhecimento científico. O inconsciente agradece: me deixe repousar.
Amou daquela vez como se fosse a última, beijou sua mulher como se fosse a última. Chico não me conhece, que saco.
O final da tarde é mandatório fechar a janela, regras da casa, lições da avó-tia-mãe-irmã. Se não, entra muito pernilongo. Eu concordo, apesar de nunca ter feito o teste, acredito nos meus. Fecho a janela. De repente a carga da manhã, a densidade dela mesma que se manifestou nos primeiros minutos do dia volta como um tapa na cara, um copo de água gelada sendo jogado contra o meu cabelo quente de sol. Um contraste, um tiro no peito, uma perna sendo arrancada por um tubarão fora do mar.
Que se foda. Apesar de saber que a luz que te acordou aquele dia não será a mesma, ousa e desafia o futuro. Ela machucou, lambuzou minha cara de mim mesma. Desmoronou minha solidez, abriu um buraco na minha barriga e queria preencher minhas tripas me fazendo engolir existencialismo fajuto. Fecha a janela, mas deixa entreaberta, de propósito. A luz do amanhã será diferente, e a viagem me desafiará de novo. Uma provocação pro amanhã, que não chegou ainda, e uma vingança pro hoje. Vingança que disfarça gratidão: obrigada por me fazer tornar eu. Por permitir que eu possa ser dona das minhas próprias surpresas e reinventar minhas alucinações cotidianas. Ela se conhece. Obrigada, acaso. Obrigada por permitir que ela seja sua própria luz.
2 notes · View notes