lolamoris2
lolamoris2
S2 nimes
3 posts
Venho em paz para curtir minha vida
Don't wanna be here? Send us removal request.
lolamoris2 · 3 months ago
Text
A Rotina que os Transformou
As semanas seguintes foram um turbilhão.
Amélia, acostumada a lidar com crises profissionais, agora se via navegando em um mar de burocracias: transferência de guarda, matrícula escolar, terapia para Susan. Seu apartamento minúsculo, que antes era perfeito para uma mulher solteira, agora parecia uma caixa de sapatos com três pessoas dentro.
Foi Tom quem sugeriu, em um daqueles raros momentos de silêncio entre xícaras de café:
— "Precisamos de um lugar maior."
Ela olhou para ele, exausta.
— "Eu sei. Mas aluguel em um bairro bom, perto de uma escola decente…"
— "Eu me mudo com vocês." A voz dele era calma, como se estivesse sugerindo algo simples, como dividir a conta do supermercado. "Dividimos as despesas. E eu posso ajudar com Susan quando você estiver trabalhando."
Amélia ficou parada, segurando a xícara com as duas mãos. Não era um pedido romântico—era prático, quase um contrato. E, no fundo, ela sabia que precisava da ajuda.
— "Certo." Ela assentiu. "Mas só se for temporário."
Ele sorriu, como se soubesse que ela mentia.
---
A Mudança
O novo apartamento tinha três quartos—um para cada um, e um escritório que Tom insistiu em chamar de "sala de descompressão", onde ele poderia corrigir provas longe do barulho.
Enquanto desempacotavam, Amélia encontrou uma caixa pesada de Tom. Curiosa, abriu—e viu pilhas de livros:
"Como Criar uma Filha sem Enlouquecer"
"Ajudando Crianças a Superar o Luto"
"Manual do Pai de Primeira Viagem (Mesmo que Você Não Seja o Pai)"
Ela não conseguiu evitar um sorriso fraco, misto de gratidão e incredulidade.
— "Tom." Ela ergueu um dos livros. "Você tá mesmo lendo isso tudo?"
Ele corou levemente, desviando o olhar.
— "Bom, eu não exatamente… tive um modelo paterno exemplar."
A expressão dele era tão vulnerável que Amélia sentiu um aperto no peito. Ela se lembrou, então, do pouco que ele havia contado sobre seu passado—órfão, criado em instituições, sem família. Susan, pelo menos, tinha memórias boas para guardar. Tom não tinha nada.
— "Obrigada" ela disse, simplesmente.
Ele apenas acenou, como se não soubesse o que responder.
---
Susan
A menina ainda estava no limbo entre a negação e a dor. Qualquer coisa—um cheiro, uma música, uma foto—fazia os olhos dela se encherem de lágrimas.
Amélia tentava ajudar, mas muitas vezes se sentia perdida. Foi Tom quem, em uma noite em que Susan acordou gritando depois de um pesadelo, pegou ela no colo e ficou andando pela sala, cantarolando uma música sem sentido até ela se acalmar.
— "Você é bom nisso" Amélia murmurou, observando.
Ele encolheu os ombros.
— "Eu só fiz o que você faria se não estivesse morta de cansaço."
Mas ela sabia que era mais que isso.
Aos poucos, uma rotina se formou:
- Manhãs eram caóticas—Amélia preparava o café da manhã enquanto Tom ajudava Susan a se arrumar para a escola.
- Tardes eram divididas—Tom pegava Susan na escola algumas vezes, outras era Amélia. Terapia duas vezes por semana.
- Noites eram sagradas—jantares juntos, mesmo que fosse algo simples. Susan começou a desenhar nos cadernos dela, e Tom, sem querer, virou o tema favorito ("Professor T. e Seu Café que Nunca Acaba").
---
Os Fantasmas do Passado
Algumas noites, Tom acordava com pesadelos—não das coisas que ele havia feito, mas do medo de falhar com Susan. De ser tão ruim quanto os adultos que ele conheceu na infância.
Em uma dessas noites, ele encontrou Amélia na cozinha, tomando chá.
— "Não consegue dormir?" ela perguntou.
— "Pensando." Ele esfregou o rosto. "E se eu… não for bom o suficiente pra ela?"
Amélia olhou para ele por um longo momento, então sorriu, cansada mas afetuosa.
— "Tom, você já é."
Ele não respondeu, mas quando Susan apareceu na porta, sonolenta e perguntando se podia dormir com eles "só essa noite", ele apenas abriu os braços.
E, naquela casa, enquanto os três aprendiam a ser uma família, algo curioso aconteceu:
Eles começaram a se curar.
0 notes
lolamoris2 · 3 months ago
Text
A Noite que Tudo Mudou
A lua estava alta no céu quando Amélia e Tom se encontraram no parque da cidade, sentados em um banco sob a luz suave de um poste. Ela tinha acabado de contar uma história sobre seu tempo como investigadora, e ele rira de um de seus comentários ácidos—algo raro, considerando que Tom não era do tipo que ria facilmente.
Foi então que o telefone dela tocou.
Amélia atendeu com naturalidade, esperando ser algum cliente encrenqueiro reclamando de um pedido. Mas a voz do outro lado era grave, formal.
— "Senhora Amélia Varela? Aqui é o Conselho Tutelar. Lamento informar, mas houve um acidente..."
O resto das palavras pareceu se dissolver no ar. Amélia ouviu apenas fragmentos: "sua irmã... cunhado... colisão frontal... não resistiram..."*
E então, a sentença que a fez esquecer como respirar:
— "Sua sobrinha, Susan, está na delegacia. De acordo com o testamento dos pais, a guarda é sua. Você precisa vir buscá-la."
O mundo parou.
Tom viu a cor sumir do rosto dela. Antes que ela pudesse cair, ele segurou seu braço.
— "Amélia? O que houve?"
Ela não respondia. Os olhos, sempre tão focados e afiados, agora estavam vidrados, perdidos. Quando finalmente falou, a voz saiu rouca:
— "Minha irmã... eles se foram. Susan... minha sobrinha... eu— eu preciso ir. Agora."
Ele não hesitou.
— "Vou com você."
Amélia nem protestou. Mal conseguia se mover. Tom a guiou até o carro, abriu a porta do passageiro e, com mãos firmes no volante, dirigiu até o endereço que ela mal conseguia articular.
O trajeto foi um borrão. Amélia olhava pela janela, mas não via as ruas—só memórias. A irmã mais nova, sorridente, dizendo "Se algo acontecer com a gente, você cuida dela, né? Você sempre foi a mais forte." Era uma promessa feita anos atrás, quase esquecida. Nunca deveria ter se tornado realidade.
Quando chegaram, Susan—uma garotinha de oito anos, com olhos inchados e um ursinho apertado contra o peito—estava sentada em uma cadeira dura, cercada por adultos sérios. Assim que viu Amélia, correu para ela.
— "Tia Amélia! Eles disseram que o papai e a mamãe foram embora... que não vão voltar..."
Amélia a abraçou com força, como se pudesse protegê-la de toda a dor do mundo.
— "Eu sei, querida. Eu sei..."
Tom ficou um passo atrás, observando. Ele não era bom com crianças. Nunca tinha imaginado ser pai, muito menos lidar com algo assim. Mas quando Amélia olhou para ele, os olhos cheios de um desespero silencioso, ele apenas acenou.
— "Vamos para sua casa," ele disse, calmamente. "Vocês duas não deveriam ficar aqui."
No carro, Susan adormeceu no banco de trás, exausta de chorar. Amélia, agora mais presente, olhou para Tom.
— "Eu... não sei como fazer isso. Como cuidar de uma criança. Eu nem sei se tenho um quarto pronto, ou—"
— "Respira," ele interrompeu, suave. "Uma coisa de cada vez. Hoje, ela só precisa de um lugar seguro para dormir. O resto a gente resolve depois."
Ela fechou os olhos por um momento, então murmurou:
— "Obrigada. Por estar aqui."
Ele não respondeu, mas seus dedos se apertaram levemente no volante. Talvez, de alguma forma, ele também precisasse estar ali.
Quando chegaram ao apartamento de Amélia, Tom ajudou a carregar Susan, ainda dormindo, até o sofá. Enquanto Amélia cobria a menina com um cobertor, ele foi até a cozinha e preparou um chá—não tinha certeza do que mais fazer.
Amélia pegou a xícara com as duas mãos, como se aquilo a mantivesse ancorada.
— "Eu não posso falhar com ela," ela sussurrou. "Não depois de tudo."
Tom sentou-se ao seu lado, olhando para a pequena Susan, que respirava calmamente.
— "Você não vai."
E, naquela noite, enquanto o mundo lá fora continuava girando, os três—a confeiteira ex-investigadora, o ex-chefe da máfia e a órfã que os unira—começaram, sem saber, a se tornar uma família.
0 notes
lolamoris2 · 3 months ago
Text
Dois Estranhos na Cafeteria
O outono chegava à cidade, trazendo consigo um vento fresco e folhas alaranjadas que dançavam pelas calçadas. A cafeteria "Avelã e Canela" estava especialmente aconchegante naquela tarde, com o aroma de café fresco e bolos recém-saídos do forno pairando no ar.
Amélia, de 35 anos, estava atrás do balcão, decorando um bolo de chocolate com mãos firmes e precisas. Antes de se tornar confeiteira, ela havia sido investigadora especial, desvendando casos que outros consideravam impossíveis. Mas os anos de trabalho sob pressão a deixaram exausta, e ela trocou os arquivos criminais por açúcar e baunilha. A vida agora era mais doce—literalmente.
Na mesa do canto, Tom, de 38 anos, esfregava os olhos cansados enquanto corrigia uma pilha de provas de matemática. Seus alunos do ensino médio o chamavam de "Professor T." e adoravam suas histórias absurdas—ninguém desconfiava que, em outra vida, ele havia sido o temido "Tomás Vento Negro", chefe de uma organização que mantinha governos em alerta. Mas o peso do passado o consumiu, e ele fugiu, assumindo uma identidade nova. Agora, ensinava equações e tentava esquecer os erros que cometera.
Foi o destino—ou talvez o cansaço—que fez Tom levantar para pegar outro café e, sem perceber, esbarrar em Amélia, que carregava uma bandeja de croissants.
— "Perdão!" — Tom disse, segurando-a gentilmente pelo ombro para evitar que caísse.
— "Não se preocupe, eu já sobrevivi a coisas piores" — ela respondeu, com um sorriso irônico, enquanto se ajeitava.
Seus olhares se cruzaram por um segundo a mais do que o necessário. Havia algo familiar naquela troca, como se ambos reconhecessem, mesmo que inconscientemente, que ali estavam duas pessoas que já haviam visto demais.
— "Você é nova aqui?" — Tom perguntou, tentando puxar conversa.
— "Hmm, nem tanto. Eu sou a confeiteira. E você? Nunca te vi por aqui antes."
— "Sou professor. Costumo vir quando a escola me deixa à beira de um colapso nervoso."
Ela riu, um som suave e genuíno.
— "Então você também trocou uma vida de caos por algo mais... pacífico?"
Tom franziu a testa, intrigado. "Como ela saberia?" Mas antes que pudesse perguntar, Amélia continuou:
— "Ah, é só que você tem cara de quem já viveu coisas intensas. Eu também."
Ele sorriu, quase como um desafio. "Interessante."
Nas semanas seguintes, Tom começou a aparecer na cafeteria não só pelos cafés, mas pelas conversas. Amélia descobriu que ele adorava romances policiais e tinha um gosto horrível para filmes de terror. Tom, por sua vez, ficou fascinado pela forma como ela descrevia doces—como se cada bolo tivesse uma história.
Nenhum dos dois estava procurando romance. Amélia nunca se interessara por isso, e Tom já tinha tido relacionamentos demais—todos baseados em poder ou medo. Mas ali, entre xícaras quentes e risadas contidas, eles encontraram algo raro: compreensão.
Uma noite, enquanto fechavam a cafeteria juntos (Tom insistia em ajudar a limpar as mesas), Amélia olhou para ele e disse:
— "Sabe, eu nunca me importei muito com... aquela coisa que as pessoas chamam de paixão. Mas gosto da sua companhia."
Tom acenou, aliviado.
— "Eu também. E depois de tudo o que vivi, companhia é o melhor que alguém pode me oferecer."
E assim, sem pressa, sem drama, os dois começaram a construir algo que nem nome precisava ter—apenas dois estranhos que, por acaso, se encontraram em uma cafeteria e decidiram que gostavam de estar um perto do outro.
E, no fim das contas, isso era mais que suficiente.
1 note · View note