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Entropia Existencial
Ao lidar com a dor, é preciso a precisão cruel e mecânica de um cirurgião. Não desses heróis de propaganda, de sorriso comprado e máscara bem passada -- mas daqueles que
nas madrugadas frias
fumam,
fodem -- na rua mesmo, no banco de um carro.
Que batem primeiro e perguntam depois.
Que trancam segredos escuros
em gavetas ainda mais
escuras.
Nada de heroísmo nisso -- só o que é preciso fazer. Aceite. Do contrário, o caminho para as máscaras está a um clique de distância. Basta aceitar os termos de uso.
É como amputar um membro podre sem nem perguntar ao dono se ele prefere a ausência ou a infecção. Quem diabos liga pro que dói? Dói. Sempre doeu. Sempre vai doer.
Nasce com você,
cresce com você,
dorme com você.
Algumas dores viram a própria fundação. Você veste elas como quem veste a calça velha que já devia andar sozinha. Todo dia, por pura preguiça de abrir o armário e encarar outras opções. Mas e quando você decide cortar?
Não é coragem.
É só o bisturi ali,
conveniente,
brilhando sob a luz morta
do medo.
E então você corta. Porque não dá mais pra olhar. Já cheira a carniça. Porque cansa esperar que alguém note. Corta do jeito que se rasgam páginas de um diário velho e sujo que ninguém nunca vai ler.
E no segundo em que separa o que te dói do que te sustenta… percebe que cortou demais. E ri. Ri feito um idiota descompensado.
Levou pele,
levou carne,
levou memória,
e o pior: levou quem você era. Aquele covarde. O outro covarde que ainda sabia sentir — porque ser covarde, no seu caso, é quase uma constante cósmica. Aquele que sentia falta. Que implorava por atenção. Que ainda acreditava.
Esse miserável ficou pra trás. Jogado num canto junto com os pedaços que você arrancou. Que chore sozinho. Porque você? Não chora mais.
Não sente falta.
Não sente nada — nada.
Essa anestesia,
esse vazio,
é tão grande que quase parece cura. Mas não é. E você sabe. Não é porque você virou forte. É porque você desistiu. Não ganhou nada. Só parou de lutar.
Alguns vão chamar isso de força — ha! Força, coisa nenhuma.
É só entropia.
Espalhando pedaços de você
como calor inútil
num espaço sem fim.
Frag m e n t o s
perdidos no tempo,
afogados na memória,
se dissipando
até virar o que sobra:
O silêncio.
Esse silêncio escroto
que fica depois do caos.
E agora? Olha você aí. Sobra de um procedimento que deu errado. Um resto de algo que já foi vivo. Vagando por corredores mal iluminados, arrastando fantasmas tão cansados que nem têm ânimo pra assombrar.
São só vultos,
parados no escuro,
te encarando
sem olhos,
sem rosto,
sem nome.
Mas você sabe quem são.
E eles também sabem quem você é.
A ironia? Mesmo que quisesse, não dava pra reconstruir o que cortou. Fantasma não se faz com pedaço morto. E é isso que sobrou de você agora:
Um amontoado de ausências.
Um corpo cheio de nada.
Um grito
que ninguém mais ouve.
Você sorri, às vezes, daquele jeito de quem entendeu uma piada ruim… contada tarde demais.
É a degradação, no seu modo mais elegante:
Tão discreta, tão arrumada,
que quase entra com convite falso.
Mas não se engane, otário.
É só o velho e patético niilismo de vitrine. A comédia barata de saber que não tem salvação. Que ninguém vai estar lá pra assistir sua queda.
Só você.
É assim que termina:
Sem sangue,
sem lágrimas.
Mas com o mais absoluto,
estúpido
e insuportável
silêncio.
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Um Tango na Penumbra...
Eu caminhava por um corredor de sombras,
os pés ainda feridos por uma ferida que não se curava,
quando ela surgiu, uma silhueta esguia na luz fraca do entardecer,
com um sorriso angelical que cortava o silêncio como uma lâmina fina.
Éramos parceiros de ofício, cúmplices de risadas,
e o mundo ao redor, com seus olhos curiosos,
cantava uma música que não negávamos,
um refrão que nos chamava de par,
e nós, com um deboche leve,
deixávamos a melodia tocar,
sem saber que ela nos guiava a um compasso perigoso.
Foi devagar, foi sem alarde,
como a noite que se instala sem que você perceba o crepúsculo.
Nossos olhares se cruzavam nos intervalos,
nossos toques se escondiam nas brincadeiras,
e o desejo, esse dançarino silencioso,
nos puxava pra uma valsa que não ensaiávamos.
Numa noite, sob o céu que não via,
na porta de um palco que não era nosso,
roubei dela um instante,
um sopro de ousadia que selou nossos lábios,
e ela, com um sorriso que não se decidia,
condenou o gesto, mas dançou comigo,
ali, na rua ao lado,
onde a escuridão nos abraçava como cúmplice,
e nossos beijos, febris,
tinham o gosto de um segredo que não precisava de palavras.
Éramos mais que química, mais que um ritmo,
éramos parceiros de uma luta que não nomeávamos,
dois vultos na penumbra, enfrentando o mundo,
encontrando no outro um refúgio que não se explica.
Ela desabafava, com a voz tremendo de cansaço,
e eu, com o peito ainda pesado,
deixava minhas próprias sombras caírem,
e ali, entre silêncios e confissões,
éramos um porto, um escudo,
um par que dançava contra o vento,
contra o peso de um palco que sugava a luz.
Houve noites em que fugimos do script,
escapadas furtivas entre risos e copos,
olhares que diziam mais que nossas vozes,
e uma química que pulsava como um tambor,
um ritmo que não explicava, que não pedia permissão.
Mas o mundo, com sua prosa cruel,
nos sentou à mesa de um bar qualquer,
e ali, entre goles e silêncios,
nossos passos se desencontraram.
Ela queria um compasso que eu não sabia dançar,
e eu, com meus próprios acordes,
não sabia seguir o dela.
E ainda assim, naquela noite fria,
em ruas escuras que não julgavam,
nossos corpos cantaram o que as palavras não diziam,
uma entrega que desafiava a razão,
um desejo que queimava na raiz do que eu sou,
e que, por um instante, me fez esquecer quem eu era.
O tempo, esse maestro implacável,
nos afastou com sua batuta invisível.
Ela partiu, com um sorriso que escondia alívio,
e eu, com um novo posto e o vazio das férias,
trocava mensagens que eram ecos de uma música que não tocava mais.
Mas o que ignoramos sempre volta,
como uma nota que não termina,
e num compasso final,
nós dois, com mãos hesitantes,
escolhemos o silêncio.
Eu forcei o fim, com um cálculo que ainda me pesa,
um corte que fiz pra não sangrar mais tarde,
uma frieza que não era minha,
mas que escolhi como quem escolhe a máscara mais segura,
como quem sabe que o mundo não perdoa os que dançam fora do ritmo,
e que nossos passos, tão perfeitos na penumbra,
não sobreviveriam à luz do dia.
E desde então, o palco ficou vazio,
o compasso se perdeu num eco que não explica,
a música que dançávamos não toca mais,
e eu fico aqui, com o coração que ainda ouve os acordes,
com a alma que ainda sente o peso dos passos,
imaginando os palcos que nunca subimos,
as melodias que nunca ensaiamos,
os finais que nunca escrevemos…
Porque ela não queria o fim, não de início,
e eu, com minha frieza que não era frieza,
escolhi por nós, escolhi o silêncio,
escolhi o vazio que ainda ressoa,
escolhi o que nem todos podem escolher,
e agora carrego o peso de um tango que não terminou,
de uma dança que ainda vive em mim,
mesmo que o compasso tenha se perdido,
mesmo que o palco tenha ficado vazio,
mesmo que a música nunca mais toque…
E ainda assim, ela mora num canto da minha memória,
num baú onde guardo o que não se explica,
o que não se define,
o que poderia ter sido e não foi.
Ela, com sua risada que ecoava como sinos,
com sua silhueta que dançava na penumbra,
com sua mente que brilhava como uma lâmina afiada,
me ensinou que as escolhas mais certas
são as que mais doem,
as que mais pesam,
as que mais ecoam…
E eu sigo, com o coração que ainda ouve a melodia,
com a alma que ainda dança na escuridão,
agradecido por ter dançado com ela,
mesmo que o compasso tenha se perdido,
mesmo que o palco tenha ficado vazio,
mesmo que a música nunca mais toque…
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Elogio à Miragem
Eu já escrevi versos que dançavam com a luz,
que cantavam um brilho que eu jurei ser divino,
um brilho que, tolo, chamei de paraíso,
como se o céu pudesse morar num olhar que não via.
Eu me curvei, com a pena trêmula,
derramando tinta pra pintar um edem que nunca existiu,
um jardim que eu inventei pra fugir do breu,
e que, agora, vejo com um riso frio,
um riso que não perdoa, que não esquece,
que zomba do menino que acreditou no conto.
Que patético, que ingênuo,
pintar de azul o que era só sombra,
chamar de salvação o que era só um espelho,
um espelho que refletia o que eu quis ver,
não o que era, não o que sempre foi.
Eu falei de cavernas e abismos,
como se o mundo pudesse ser mais que um buraco,
como se uma luz pudesse me tirar do escuro,
mas a luz que cantei era só um reflexo torto,
um reflexo que não ilumina, que não sara,
que fere, que queima, que engana e ri por último.
Eu escrevi sobre um olhar que ardia,
mas o fogo que senti não era paixão,
era o calor de uma fogueira que consome,
que deixa cinzas onde havia pele,
que transforma sonhos em pó que o vento leva.
Eu falei de um encanto que me purificava,
mas que pureza é essa que suja a alma,
que deixa marcas que não saem,
que faz você odiar o que um dia amou?
Eu cantei uma melodia que não era minha,
e agora, com a voz rouca,
olho pra trás e vejo o palco vazio,
o cenário desmontado,
o script rasgado por mãos que não tremem mais.
Que triste, que risível,
ter dançado com uma miragem,
ter chamado de amor o que era só um truque,
ter chamado de céu o que era só um teto rachado.
Eu escrevi versos que não merecem ser lidos,
palavras que não merecem ser ditas,
e agora, com um sorriso que não alcança os olhos,
eu as vejo pelo que são:
um eco de um tolo que quis voar,
e caiu, caiu feio,
mas aprendeu a rir da queda.
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Canção do Mar que Fere
Eu forjei um refúgio com retalhos de névoa,
convencido de que era mármore, de que me protegeria da chuva,
mas era só fumaça, fumaça que se desfez e me deixou
com um cheiro de cinzas nas mãos, um ranço que não sai.
Eu quis ver uma estrela, cantei pra ela como se fosse minha,
dancei na sua luz como quem dança sobre brasas,
mas era só um reflexo, um brilho que engana quem já tá caindo,
e eu caía, caía devagar,
com os olhos abertos, com a voz entoando uma melodia que não escolhi.
Não houve estrondo, não houve alarde —
apenas um murmúrio que rasga, um sopro que corta,
e eu, com o coração em chamas, vi o que não quis ver:
um circo de sombras, um jogo de espelhos quebrados,
onde meus sussurros viravam acusações, onde eu era o monstro da trama.
Cada passo meu, cada silêncio, era distorcido,
virava um canto contra mim, e eu, com a voz tremendo,
com o sangue pulsando, com o peito apertado,
cantei de volta, cantei rouco,
mas o que sobrou não era verdade,
era um vazio que ria, que debochava,
que dizia, com um sorriso gelado,
“eu não me curvo, eu não me rendo, eu não te devo nada”.
E eu ri, ri com os olhos ardendo,
ri com um gosto de ferrugem na boca,
porque era tão cruel, tão podre,
que o alívio veio como uma maré,
uma maré que me engoliu e me cuspiu,
minha voz subindo e descendo,
minha canção virando um lamento que eu não sabia que conhecia.
Eu sonhei com um cais, com um mar que não rugisse,
um canto onde as ondas fossem só um sussurro,
onde eu pudesse respirar sem queimar a garganta.
Mas o que eu tive foi um deserto de espinhos,
cada passo uma farpa, cada palavra uma sentença,
e eu andando, tropeçando, caindo, mas andando,
porque parar é sumir, e eu não sumo, não sumo assim.
Meus silêncios eram julgados, meus gestos eram crimes,
e eu era pintado como o que destrói,
como o que queima, como o que arrasa,
e quase acreditei, quase cantei a melodia que não era minha,
quase me vi no reflexo que não forjei,
quase me perdi na tela que não tracei.
Quase.
O pior não foi o golpe, foi o veneno que ele semeou —
um veneno que rasteja, que murmura, que confunde,
que faz você odiar o vazio que ecoa no peito.
Eu sentia, sentia sim, sentia um buraco que me engolia,
e eu me odiava por isso, me odiava por ouvir a música,
por dançar com a falta, por querer o que me queimou,
o que profanou o que eu guardo,
o que cuspiu no que eu mais defendo,
o que desejou o fim enquanto eu ainda cantava.
Ela voltava, com notas doces que eram ciladas,
com acordes que eram lâminas,
e eu, com a alma em brasas, respondia,
respondia torto, respondia com força,
porque não sei calar a canção que me fere,
não sei, não sei,
e ela se desfazia em lágrimas,
me chamava de cruel, me chamava de destruidor,
e eu ria de novo, ria com o coração em cacos,
porque era tão absurdo, tão podre,
que doía mais que qualquer nota fora do tom.
Mas eu não afundei, sabe por quê?
Porque eu nunca mergulhei de verdade.
Eu vi as correntes escondidas na água,
vi o brilho das presas na escuridão,
e mesmo assim fiquei,
não por fé cega, mas por um instinto que me mantinha na borda,
com um pé fora, com a voz pronta pra calar a música.
Eu nunca abri as velas inteiras,
nunca deixei o vento me levar,
porque eu sabia, sabia que o que cura também fere,
sabia que o que promete luz também queima,
e queimou, queimou feio,
mas não o suficiente pra calar meu canto.
Porque o que cura, o que eu achei que curava,
não cura, não — sara, sara por fora,
mas por dentro fere, fere fundo,
fere como quem canta uma canção de ninar
enquanto afia a faca nas sombras.
O casco rangeu, o mar rugiu,
e eu saí, com os ossos inteiros,
com o sangue ainda quente,
porque o que me fere não me silencia —
me acorda, me empurra, me faz cantar mais alto.
Agora, o horizonte é um vazio que sussurra,
e o eco do que eu sonhei ainda entoa,
mas eu não olho pra trás, não olho, não olho.
Eu pego o amargo, o peso, a raiva que queima,
e sigo, porque parar é silenciar,
e eu não silencio, não silencio assim.
O que sara e fere ao mesmo tempo não me define —
eu defino o que canto,
e canto o vazio como quem canta uma cicatriz:
com raiva, com orgulho, com a certeza de que sobrevivi.
Eu sigo, com o gosto podre na boca,
com o riso torto na alma,
cantando uma melodia que é só minha,
sabendo que o pior não foi o que veio de fora —
foi o que eu quase deixei calar minha voz.
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O Sangue Que Me Guia
Eu sou o fio desencapado, a carne exposta que chispa no escuro. Não há como me consertar, porque o quebrado é o que me mantém vivo. O sangue escorre devagar, mas é ele que me lembra: parar é apodrecer. Então eu sigo, arrastando os cacos, o peso, o grito que engulo antes que ele me engula.
Ninguém vê as costuras, mas eu sinto cada ponto rasgando a pele. Vivo do veneno que me atravessa, da facada que não mata, mas acorda. A paz é um luxo que nunca pedi — ela me deixa mole, fraco, um trapo largado num canto. Prefiro o osso exposto, o nervo que lateja, porque é aí que eu me encontro, no ranger dos dentes, no suor que queima os olhos.
Não me peça para soltar o leme. Ele é feito de espinhos, sim, mas minhas mãos já sangraram tanto que nem sinto mais. O mar é um espelho sujo, e eu olho pra ele sabendo que o reflexo não mente: sou o destroço que ainda flutua, o casco que range mas não afunda. Cada onda é um tapa, cada vento é um chute, e eu agradeço, porque sem isso eu seria nada.
A verdade é um punhal cravado no peito: eu não sei viver sem o corte. Não é coragem, é necessidade. O vazio me chama, mas eu cuspo na cara dele, porque parar seria me apagar. Então eu danço nessa corda frouxa, com o abismo rindo embaixo, e o som dos meus passos é o único hino que conheço — torto, rouco, mas meu.
Quem lê isso pode tremer, pode virar o rosto, mas eu não. Eu encaro o buraco que sou e digo: é assim que se respira. Não há porto, não há chão firme, só o mar que me engole e me cospe de volta. E eu sigo, porque o que me fere é o que me carrega, e o dia que isso parar, eu paro junto.
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Rascunho de Mim
Eu nasci com o sal nos dentes,
um grito preso no casco da garganta,
e a dor veio antes que eu soubesse chamá-la.
Ela não pediu licença,
se instalou como o vento que rasga as velas,
e eu aprendi a navegar porque parar era morrer.
Não me peça a calmaria,
ela me deixa cega,
um pântano doce onde os ossos amolecem.
Eu preciso do corte,
da faca que acorda o sangue,
do amargor que sussurra: levanta, segue, respira.
O navio range,
as tábuas gemem sob o peso do que carrego,
mas é assim que sei o rumo.
A bússola treme na minha mão,
não aponta o norte, aponta o vazio,
e eu vou, porque o vazio é meu.
Dizem que é loucura,
que eu abraço o que me fere,
mas como soltar o leme
se é ele que me mantém inteira?
Eu sou a tempestade e o mar,
o naufrágio e o grito que sobra.
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Em meio às sombras que me envolvem, Eu a observei à distância, um farol de vida. Você, insistente na luz de um mundo que não via, E eu, prisioneiro da caverna que me era lar. Seu olhar atravessava o véu, Mas meus muros eram altos, erguidos por mãos Que tremiam com o medo do não dito.
Era um campo de batalha silencioso, Onde o desejo e a razão duelavam. Seu sorriso, uma faísca de fogo azul, Correndo por minhas veias frias, Mas minhas palavras eram pedra, imóveis, Rígidas como a gravidade do que eu não podia ceder.
Você dançava na margem do meu abismo, Ousando descer onde ninguém mais se atrevia, E eu, imóvel, observava a sua ousadia, Sabendo que, no fundo, O que nos unia era o que me afastava.
Era você quem corria, E eu, parado, observava o tempo dobrar-se sobre nós. Cada briga, um eco na eternidade, Cada promessa, um sopro perdido no vento.
Mas enquanto seu cabelo azul, Céu noturno dos meus sonhos inquietos, Iluminava o caminho que eu não podia trilhar, Você, persistente, me lembrava: Mesmo que eu fugisse, mesmo que eu me calasse, Eu não poderia apagar a verdade de quem somos.
E agora, em meio à incerteza do que fomos, Resta apenas essa reflexão amarga e doce: Nada é permanente, Nem nossas sombras, Nem nossa luz.
Mas o brilho azul que um dia tocou minha alma, Esse permanece, mesmo que o tempo nos apague, Como um farol perdido no horizonte, Que ilumina sem pedir nada em troca.
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Embora eu possa desviar
o meu olhar,
os demais sentidos, são
no entanto, traidores
implacáveis.
Resistir a você é como
segurar chamas nas mãos,
uma luta vã contra o
inevitável.
E mesmo que eu não veja
o paraíso, eu sinto ele,
o seu olhar
ardente.
E foi assim,
que as minhas sombras
sucumbiram à luz
do seu edênico encanto.
E ao contrário do abismo de Nietzsche,
que um dia
me consumiu,
precisei te olhar apenas um instante, para que
seu paraíso
me olhasse de volta.
Foi então que eu vi
a sua luz azul,
E o que ela fez comigo;
me arrebatou,
me purificou,
me iluminou,
me salvou,
me amou,
me sarou.
E como na Alegoria da caverna de Platão,
a sua luz azul
mexeu com minhas crenças,
me fazendo acreditar que
viver nesse mundo
é mais
do que viver na minha caverna
na qual você
me resgatou.
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Quando ela fala,
nas primeiras palavras proferidas,
pistolas e fuzis
cessam e falham em disparar,
a pólvora se umedece, tornando-se inútil.
Tanques de guerra ficam inertes,
esvaziados de combustível,
um armistício é selado,
é o fim da batalha.
A tempestade dissipou-se,
sinto então na minha pele o alívio de
um toque suave.
Olho para o alto, e tudo que vejo
é ela,
em sua aparente serenidade:
uma brisa doce e uma garoa delicada.
O mundo parou,
o meu mundo,
ou me trouxe de volta àquele refúgio,
uma ilusão,
uma perigosa armadilha.
É inebriante contemplá-la
tão de perto,
mas sentindo-a tão fora do meu alcance.
Há uma dor agridoce em observá-la,
sobrevivendo
à sua maneira,
como uma linda flor no meio de um deserto.
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Na minha casa, será muito bem tratada,
mas só entra pela porta
quem eu sinto que pode
entrar.
Então, se você entrar,
terá um quarto,
Vai encontrar móveis limpos
e o piso brilhando,
mesmo que eu tenha que limpar
enquanto
você estiver em outro cômodo.
E se por acaso,
por descuido meu,
algo sujo passar despercebido,
se você me contar,
vou também limpar.
Fato é que,
precisamos manter juntos
as coisas funcionando,
ordem e caos
no seu belo equilíbrio,
para nós mesmos.
E se você for quem me fará te dar
uma cópia da chave para entrar
quando quiser, e
quem sabe, morar comigo nela,
então dessa casa eu cuidarei,
como uma fortaleza
voando livremente,
porque entendo agora que não sou
somente eu
dentro dela.
Vai ser algo maior,
não sobre seu espaço,
me refiro ao seu valor:
porta-retratos na estante de momentos juntos,
cheiro impregnado nas paredes da cozinha
porque a gente prepara nossa comida preferida quase todo
final de semana.
Mancha de vinho no sofá
porque não podíamos nos conter
até o quarto.
Um caule morto dentro de um copo de água
porque o valor sentimental vai além da aparência.
Garrafas de vidro no quintal,
esquecidas de serem devolvidas ao dono do bar que nos emprestou,
travesseiro velho que me recuso a trocar
porque nele ainda tem o cheiro daquele seu perfume antigo,
latas de energético que por alguma razão começamos a colecionar,
E molhos sachês de nossos pedidos de comida das noites que não queríamos cozinhar.
É só uma casa,
mas dela farei nossa fortaleza.
É só uma casa,
quando pela porta você entrou,
foi como se estivesse suspensa a balões de ar,
nos levando aos céus,
nos levando à uma jornada épica.
Nós dois.
Mas foi você
que escolheu entrar
quando eu escolhi
abrir as portas para você.
Foi sua escolha ficar.
E você sabia que
deixar o lixo no chão da cozinha,
que as plantas morressem,
varrer cacos para debaixo do tapete,
não contar que temos goteiras,
sair sem apagar a luz,
perder a cópia da chave,
esquecer a porta aberta,
convidar alguém escondido,
sorrir para um intruso enquanto
bebem vinho juntos, com ele
bagunçar a nossa cama.
Terão sido essas,
cada uma,
escolhas suas.
Porque as portas estavam
igual quando você entrou,
era sua escolha sair
a qualquer momento.
Mas foi sua escolha ficar.
E a minha escolha
É não ter você mais
dentro de casa.
Então para você,
viver nessa casa é igual
viver de cabeça para baixo.
Não é o seu lugar.
Sem justificativas
e reparo.
Porque quando você arrisca a casa que
paira sobre tão alto
do chão,
ao sair, você terá um pára-quedas,
Eu não.
Eu ficarei dentro dela
enquanto cai.
Porque quando atingir o chão,
tudo será como antes
de você;
somente eu.
E o que restar de mim,
da minha casa,
Será somente eu continuar,
nessa morada.
Sendo incompreensível, você
sua presença,
dizendo:
"Oi. Tudo bem?"
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o perdão não é sobre outra pessoa
é sobre você
é sobre se permitir ser livre
é sobre seguir em frente deixando o passado para trás
ele já passou, não há mais como voltar
o que a pessoa fez com você ou deixou de fazer
é sobre ela e os seus problemas não resolvidos com ela mesma
entenda o contexto dela, procure entender
isso não é uma justificativa para ela ter feito o que fez
é sobre entender tudo de forma estrutural, da base até o final
você vai entender que o que ela é, você não teve e nem teria controle
você não poderia transforma-la em algo que ela não é
e por incrível que pareça, no fim das contas ela se tornou de forma natural
exatamente o que ela tinha que ser, e ela sempre mostrou isso a você
tudo aquilo que você pensou que ela fosse, era o seu sentimento
distorcendo a imagem dela em sua mente, isso é o que acontece quando estamos apaixonados.
de frente no espelho, se olhe bem, permita-se ser olhado
entenda que você fez tudo que tinha que fazer
você foi além
de todas as suas versões, ninguém foi tão longe como você
você foi um lutador bravo e partiu contra todas as possibilidades e medos
mas esse mapa que você um dia viu, esse baú do tesouro prometido
nada dentro tinha para você
e por esse fato, eu sinto muito
eu sei exatamente qual foi a sensação, e somente nós sabemos
não precisamos mais falar disso
agora o maior clichê, o verdadeiro tesouro foi o que você encontrou pelo caminho
em você mesmo
encontrou perdido em algum lugar aí dentro, aquela faísca que um dia ardia como um inferno
você fez aquilo brilhar de novo
contra todas as possibiliddes
da mesma forma que acende fogueira com galhos úmidos
por alguém que não vibrava na sua mesma frequência
você fez ressurgir fogo para mostrar a ela o que podia fazer
você viu do que você é capaz, você viu bem
então porque?
porque desistir disso por causa de alguém que não se importa
parece justo para você mesmo?
continue, de alguma forma, apenas continue, aceite o que aconteceu
a jornada ainda não terminou, você saiu em busca de um objetivo, mas a aventura não termina quando você chega lá, ela nunca termina
foi uma fase, você passou por ela, é o precesso difícil mas natural que faz grandes guerreiros com jornadas gloriosas
cuide das suas feridas, porque sabemos
que por mais que tenha passado
a experiência e os acontecimentos daquele momento ainda ficarão por um tempo dentro de você
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você se levanta
olha no espelho
você viu
então você finge
vive
mas fingindo
está sempre ali
você tenta
mas sabe
que você finge
não adianta
se quando mais tarde
em casa
no seu quarto
à beira da sua cama
vai se sentar
te observar
antes de continuar
nos seus sonhos
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Eu sinto
Os grãos de areia escorregam
As batidas do relógio
A meia-noite se aproxima
Aquilo que não tenho
Aquilo que me tem
Está próximo
Eu posso sentir
Ouço sua voz
Sinto seu cheiro
Anseio pelo seu toque
Sua salvação
Sua cura
Vai ser rápido
Não vou sofrer
Não mais.
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estou vendo o quanto
se esforçou
para fazer essa máscara
uma pena
porque foi pela feiura sob ela
que eu um dia me apaixonei
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Nada está como era,
nada é mais como antes,
o café não está mais amargo,
nem o limão azedo.
Você vai implorar por um vislumbre
de quando você podia chorar
de quando seu coração
podia se partir.
Tome cuidado,
não tem placas sinalizando
que está próximo
ou para se afastar.
Você não percebe o quão perto está,
até
você
chegar
perto
demais,
Percebeu?
Não há mais volta.
Você olhou,
confiou,
só não percebeu
você
sendo olhado de volta.
Não fique espantado.
Entre
e se acomode.
Seja bem vindo ao seu lar.
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enfrente o vazio
essa dor
é o atrito que vai
dar sua forma final
não evite isso
não foram mãos gentis
que transformaram o mármore
na mais bela obra de arte
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