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Blog Mancha de Dendê
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manchadedendesblog · 4 years ago
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A Greve dos ATPs
Professora Suzana está no laboratório falando aos alunos.
PROFESSORA SUZANA - A molécula de ATP é fundamental para a célula. O ATP é o principal transportador de energia usado para todas as atividades celulares. No ATP, o que acontece quando a miosina se mantém unida à actina? BM e CS se entreolham e ambos fazem cara de que não entenderam o que a professora disse. CS olha para BM, dá um sorriso e sua mente começa a divagar.
Dentro da Célula...
Chamada jornalística urgente intitulada: ORGANISMO NOTÍCIAS. Repórter está parado olhando para a câmera. Ao fundo, gritaria geral.
VOZES - Chega! Basta! Melhorias! Volta, Magnésio! Água para todos!
Citoplasma segurando um microfone fala para a câmera.
CITOPLASMA - Os ATPs estão revoltados e decidiram fazer uma greve por melhores condições de trabalho. Eles estão acumulando muita energia e há possibilidade de colapso dentro da Mitocôndria!
Citoplasma se dirige a um dos grevistas segurando uma placa escrita: Volta, Magnésio.
CITOPLASMA - Está acontecendo uma paralisação geral dentro da Mitocôndria. A nossa fonte informou que vocês estão mantendo unidas a Miosina e a Actina. Onde elas estão?
ATP - As duas 'vão estar' sendo mantidas juntas atrás das nossas barricadas. Elas não 'vão estar saindo' de lá e nem 'vão estar sendo' separadas enquanto não tivermos o Magnésio de volta!
CITOPLASMA - Vocês não estão preocupados em segurar toda essa energia sozinhos? Afinal, isso poderá causar enrijecimento muscular.
ATP - Nós 'vamos estar unidos'. E juntos nós 'vamos estar segurando' essa barra! O Magnésio é um companheiro fundamental para o desenvolvimento do nosso trabalho. Não 'vamos estar aceitando' perder um fósforo 'para estar virando' ADP sem a recontratação do Magnésio! ENTRA MAGNÉSIO, SAI ENERGIA!
VOZES - ENTRA MAGNÉSIO, SAI ENERGIA!
O Citoplasma coloca o dedo no ouvido como se tivesse recebendo alguma informação.
CITOPLASMA - Nós acabamos de receber a notícia que a paralisação está acontecendo em outras Mitocôndrias. Há uma grande possibilidade de colapso. O corpo está acumulando muita energia e os ATPs se negam a liberá-la. O Metabolismo já entrou em contato com os líderes grevistas para iniciar as negociações!
ATP - Não 'vamos estar liberando'! ATP UNIDO, VAI FICAR ENRIJECIDO!
VOZES - ATP UNIDO, VAI FICAR ENRIJECIDO!
CITOPLASMA - Chegaram notícias de que câimbras e dormências estão acontecendo em diversos setores em decorrência da paralisação.
Gritaria geral de todos os ATPs!
ATP - ATP UNIDO, VAI FICAR ENRIJECIDO!
Outros ATPs aderem à palavra de ordem e começam a gritar também. ATP UNIDO, VAI FICAR ENRIJECIDO!
CITOPLASMA (Com o dedo no ouvido.) - Acabo de receber a notícia que houve ingestão de alimento contendo Magnésio. Ele já foi recontratado e está se dirigindo ao local de trabalho.
ATP - Isso é verdade ou Fake News?
CITOPLASMA - A informação acabou de chegar na nossa redação. O Estômago já publicou nas Redes Sociais.
ATP tira um celular do bolso, liga e olha. Depois de ler, fala alto para os outros ATPs.
ATP - Atenção, todos! O Magnésio já 'vai estar sendo' recontratado! Avisem o Fósforo Radical que podem 'estar sendo' liberadas a Actina e a Miosina. 'Está sendo' fechado um acordo do sindicato com o Metabolismo e 'vamos estar' voltando ao trabalho imediatamente!
VOZES - Liberem a Actina e a Miosina! Fósforo, pode 'estar separando' as duas! Libera geral!
CITOPLASMA - Parece que tudo está voltando à sua normalidade. Com a recontratação do Magnésio os ATPs aceitam a quebra. A greve acabou sem grandes prejuízos. Aqui é o Citoplasma para a Organismo Notícias!
Vinheta com o slogan da emissora Organismo Notícias aparece encerrando o programa.
No laboratório...
CS está com o braço levantado olhando para BM que olha pra CS sem entender.
CS - ATP UNIDO, VAI FICAR ENRIJECIDO!
BM - Por que você está com esse braço levantado e dizendo isso?
CS - Agora entendi a importância do ATP e a relação dele com a Actina e a Miosina.
BM - Pois eu tô pesquisando aqui nos livros e ainda não entendi nada.
CS - Livros? Se você tivesse na minha cabeça entenderia.
CS levanta o braço, com o punho cerrado.
CS - ATP UNIDO, VAI FICAR ENRIJECIDO!
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manchadedendesblog · 4 years ago
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Amor sem fim.
Amanda está vestida de luto, parada, olhando para o caixão de Bruno que desce lentamente à sepultura. Ela chora e traz consigo um buquê de flores. O buquê de seu casamento, e o aperta em seu peito.
MÍRIAM (Abraçando Amanda.) - Minha amiga, sei que é um momento difícil, mas você precisa ser forte.
AMANDA - Eu acho que vou demorar para aceitar. Nós íamos nos casar amanhã. Não é justo! Não é justo…
MÍRIAM - Eu sei, minha amiga, mas aconteceu. Não vai mais haver casamento e, o melhor a fazer, nesse momento, é livrar-se de tudo que remeta ao casamento. Entregue esse buquê a ele. Deixe que seu amor fique guardado aí. Você não vai esquecê-lo, eu sei disso, e nem estou dizendo para fazer isso, só quero o seu bem e manter uma coisa que representa esse amor de vocês, só pode lhe causar mal.
AMANDA - Acho que você tem razão… (Joga o buquê sobre o caixão.) Meu eterno amor, eu jamais deixarei de te amar. Guarde o buquê para quando nos encontrarmos novamente.
Ela permanece mais um tempo ali, com a sua amiga ao seu lado. Outras pessoas acompanham o sepultamento e vêm cumprimentá-la.
No mesmo dia, na casa de Amanda, as duas estão sentadas num sofá de três lugares. Amanda está calada, com o olhar vazio. Míriam olha em torno até que se levanta e vai até o manequim com o vestido de noiva.
MÍRIAM - Amanda, o que você vai fazer com este vestido?
AMANDA - Ainda não sei. Minha vontade é de deixá-lo aí para me lembrar dos momentos felizes que passei ao lado do Bruno…
MÍRIAM - Amiga, eu acho melhor você guardar esse vestido. Ou pode vendê-lo ou até mesmo doá-lo. Não é bom manter isso aqui. Aliás, você tem sete dias para manter essas coisas. Depois disso, vestido, fotos, aliança, tudo o que lembre Bruno deve ser guardado, para o seu bem e para o dele.
AMANDA - Sete dias?
MÍRIAM - Sim. É o tempo necessário para se despedir de todos os objetos que te fazem lembrar dele. E tem mais uma coisa…
AMANDA - O quê?
MÍRIAM - Tente não tocar em nada. Observe tudo, olhe o quanto quiser, mas tente não tocar em nada nesses sete dias. Somente depois você poderá pegar em tudo e guardar… Ou dar outro fim.
AMANDA - Está bem. Vou tentar fazer isso.
MÍRIAM - Eu vou indo, Amanda. Fique bem. Se precisar de mim, é só chamar.
AMANDA - Está bem, Míriam. Obrigada por tudo.
Míriam sai. Amanda tranca a porta e caminha pela sala olhando as fotos de Bruno até que chega no vestido. Ela passa a mão por todo o vestido, pelo bordado, pela gola, pelos botões. Ela abre os botões e coloca o vestido. Vai até um grande espelho e se olha nele. De repente o espelho fica escuro e, dentro dele, surge Bruno, vestido elegantemente com a roupa de noivo. Ele sorri para ela e estende uma das mãos que está segurando o buquê que ela jogou no caixão. Ele não sai de dentro do espelho, apenas sua mão. Amanda pega o buquê, olha para ele, olha para Bruno e lentamente caminha para dentro do espelho.
Aparecem os dois, dentro do espelho, caminhando para o infinito.
Fora do espelho, Amanda está estendida no chão, vestida de noiva, sem vida. Ao seu lado, repousa umas das flores vermelhas do buque.
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manchadedendesblog · 4 years ago
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Revelações!
A campainha toca insistentemente enquanto Cristina seca seus cabelos apressadamente, enrolando a toalha num coque, dando-lhe a aparência de uma mucama, só que branca. Ela corre para atender, mas antes olha para fora, na janela e vê a chuva que cai torrencialmente e se pergunta quem poderia ser a essas horas naquela chuva. Pega o guarda-chuva que está do lado da porta, abre e vai até o portão, se encolhendo para não se molhar.
Ela abre a porta e se depara com uma mulher alta, morena, cabelos lisos escorridos, presos num coque, deixando alguns fios soltos que brincam em sua face sorridente. Ela traz um enorme guarda-chuva rosa, de renda, revestido com um plástico purpurinado por cima. Suas roupas em tom pastel, mas que demonstram uma certa sensualidade, expressam a elegância de uma socialite do Rio de Janeiro.
Cristina pergunta o que ela deseja e a moça diz que gostaria de conversar sobre o seu marido. Já imaginando o pior, convida a moça para entrar. Elas entram e, fechando seus guarda-chuvas, colocam os dois, lado a lado, perto da entrada da porta da casa.
Já dentro de casa, Cristina pergunta o que ela tinha a falar sobre Paulo. A mulher, após se apresentar como Angelina, disse que não veio falar sobre Paulo, mas sobre seu finado marido, Agenor.
Cristina diz que Agenor já morreu há mais de quinze anos e não entende o porquê dela vir agora falar sobre ele, mas Angelina lembra que hoje está fazendo exatamente dezoito anos que Agenor fora dado como morto. Cristina se desculpa por não se lembrar disso, mas não entende a visita de Angelina agora, depois de tanto tempo.
A moça pede um copo de água pois não estava mais acostumada com o calor de Salvador. Cristina pede licença e vai buscar a água. Enquanto isso, Angelina passeia pela sala. Arruma os cabelos em frente a um grande espelho, olha alguns porta-retratos que estão sobre a cômoda embaixo do espelho.
Cristina volta com o copo de água, convida-a para sentar e ela aceita prontamente. Bebe a água de uma só vez e deposita o copo sobre a mesa. Cristina lhe pergunta se ela deseja mais água, mas Angelina nega e agradece.
Elas sentam-se nas cadeiras de uma grande mesa. Há um clima de expectativa referente ao que Angelina teria para falar sobre Agenor. Angelina olha para Cristina. Um olhar de carinho, como se já a conhecesse há muito tempo.
Cristina pergunta o que ela teria para dizer sobre Agenor. Angelina respira fundo, olha fixamente para Cristina, como se tivesse buscando as palavras certas e diz que ela precisava vir até ali pois Agenor gostaria de saber como ela estava. Cristina se assusta e, após perguntar se a moça é espírita, diz que não acredita nessas coisas e que já ouviu histórias de pessoas que trazem recado dos mortos para tirar dinheiro da família.
Angelina sorri e diz que não é nada disso, mesmo porque Agenor não está morto.
Cristina fica um tempo sem saber o que dizer, e depois diz não acreditar pois acompanhou todo o velório e viu quando o caixão desceu à sepultura. Mas Angelina lembra Cristina que foi Cláudio, o primo de Agenor que esteve no necrotério para reconhecer o corpo e que, por causa do acidente, sugeriu que ela não fosse vê-lo pois estava todo desfigurado. Inclusive por isso o caixão estava lacrado.
Cristina levanta-se e permanece em silêncio, relembrando todos os detalhes do funeral de Agenor. Ela anda de um lado para o outro até que para, vira-se para Angelina e diz, com um tom de revolta na voz, que forjar a própria morte é crime, não entendendo como ele conseguiu burlar a lei por tanto tempo. Mas Angelina explica que, enquanto Cláudio trouxe a notícia da morte de Agenor, ele estava viajando para a Espanha e que, logo após o enterro ele foi encontra-lo lá e viveram naquele país juntos durante todo esse tempo até que no ano passado com o falecimento de Cláudio, Agenor desejou saber como estavam todos aqui, principalmente Cristina.
Cristina senta-se como se um grande peso tivesse caído em sua cabeça e tenta entender perguntando para Angelina se Agenor é gay. Nesse momento Angelina fica séria e, num tom calmo, mas direto, diz que Agenor e Cláudio já mantinham um relacionamento aqui no Brasil, mas que eles desejavam mais para terem uma vida plena e isso incluía fazer Cristina não sofrer e, foi quando surgiu a oportunidade de irem viver na Espanha.
Cristina ainda atônita, sente a necessidade de falar em voz alta o que está pensando sobre seu ex-marido ser gay. O rosto de Angelina volta a se iluminar com um leve sorriso entender que Cristina não guarda raiva e disse que a pressão que sofreu do pai lhe obrigou a casar-se e teve que esconder essa e o amor que sentia por Cláudio e que aquele casamento foi um grande erro.
Ao ouvir isso, Cristina levanta-se já com a intenção de mandar aquela mulher embora de sua casa e aos berros, fica indignada por ser associada a um erro. Pede para Angelina dizer a Agenor que ela está bem e deseja que ele seja feliz, mesmo não tendo confiado nela e inventado toda aquela história de morte.
Angelina entende que ao dizer que o casamento foi um erro, incluiu Cristina nesse erro, mas não era essa a sua intenção e, abaixando a cabeça, disse num soluço quase inaudível que teve medo. Apesar de ter falado muito baixo, Cristina ouviu e a indagou se ela tinha tido medo. Como assim?
Angelina levanta a cabeça, respira fundo, reunindo todas as forças, fala de um só fôlego que ela era o Agenor, foi para a Espanha, trocou de sexo através de várias cirurgias e tratamentos com hormônios.
Cristina sentou-se calmamente, olhando no fundo dos olhos de Angelina e só pode dizer: Agenor?
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manchadedendesblog · 4 years ago
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Amantes
Fábio, um rapaz branco, grande, já foi musculoso na juventude, mas atualmente o corpo está mais gordo, dorme ao lado de Clara, uma mulher branca, corpo frágil, magra, mas com uma sensualidade natural. Ele ocupa a maior parte da cama, todo espalhado, deixando Clara espremida num canto e com a perna em cima dela.
Clara levanta a cabeça e fica brava com a situação, pois não consegue se mexer e nem tirar a perna dele de cima do seu corpo. Ela dá um sorriso de quem acabou de ter uma ideia.
CLARA (Falando baixinho pra Fábio.) - Amor! Amor! Acorda! Meu marido chegou.
Ele não se mexe. Clara aumenta o tom de voz e sacode Fábio com mais força.
CLARA - Fábio! Acorda!
FÁBIO (Acordando.) - Hein? Que foi?
CLARA - Meu marido chegou! Levanta!
FÁBIO - Sério?
CLARA Sim! Eu ouvi o barulho de chaves na porta!
Fábio levanta-se apressado, pega uma calça e camisa que estão sobre uma poltrona e os sapatos que estão no chão, joga tudo pela janela e logo em seguida se joga pela janela também. Som de pessoa caindo, miado de gato e, logo depois barulho de gato brigando e miando alto.
FÁBIO Cacete! Sai daqui! Puta que o pariu! Que merda!
Tempo.
Fábio volta todo sujo de terra e alguns galhos presos no corpo e nos cabelos. Clara está deitada na cama, fingindo que está dormindo.
FÁBIO Que história é essa de marido? Teu marido sou eu!
CLARA Então por que pulou a janela, palhaço?
Fábio tenta dizer alguma coisa, mas desiste. Ele contorna a cama, deita, mas não consegue fechar os olhos pra dormir.
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manchadedendesblog · 4 years ago
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Gaiolas
O carro parou em frente à CASA e de dentro saiu Cláudia, uma mulher de 25 anos, bonita, corpo normal, nem magra nem gorda, cabelos longos amarrados num rabo de cavalo. Traz consigo uma bolsa simples de viagem. Marcelo, com seus 32 anos, traz a camisa nos ombros e mostra um corpo musculoso e totalmente tatuado, cabelo curto despenteado. Um homem de uma aparência bruta e bonita. Ele pega no banco traseiro do carro uma mala, segura a mão de Cláudia e, com um sorriso terno, a conduz para dentro da CASA.
Nesse instante está saindo, lá de dentro, Sofia, uma moça loira, linda, com 22 anos, estilo capa de revista. Traz nos braços um bebê, que carrega com carinho e um certo excesso de proteção. Sofia está numa cadeira de rodas sendo conduzida por Pedro, um homem de 35 anos, alto, magro, com a aparência máscula de um acrobata. Usa cabelos grandes, mas não longos, que lhe cobrem uma parte do rosto.
Cláudia olha com carinho para Sofia que está sorrindo para o bebê, mas o sorriso some ao levantar o olhar e ver a nova garota da CASA chegando e fecha o semblante imediatamente. Há um olhar de pena e solidariedade, mas devido à velocidade que a cadeira desliza pelo corredor de entrada, não houve tempo de dizer nada. Sofia ainda tenta olhar para trás, mas só consegue ver Cláudia já dentro da casa e a porta se fechando.
Sofia entra no mesmo carro que estava Cláudia, e senta no banco traseiro, carregando seu bebê, colocando o cinto de segurança e, pela primeira vez, em meses, conseguiu relaxar. Encostou a cabeça no banco e fechou os olhos para, quem sabe, dormir um pouco. Ledo engano, pois aquelas imagens de seu corpo sendo amarrado e estuprado pelos três “pais”, a fez dar um sobressalto e despertar novamente no banco traseiro do carro que já andava calmamente pelas estreitas ruas do subúrbio de Salvador. As lágrimas de alívio do fim de todo aquele inferno correm pelo seu rosto, outrora reluzente, mas hoje com uma pele opaca, e com marcas de expressão bem visíveis. Ela olha para a rua e aquela paisagem familiar a alivia pois em breve estará novamente com seus amigos. Agora tudo acabou.
O carro para em frente a uma casa no subúrbio. As paredes pintadas recentemente de verde, remetem a um lugar de refúgio e tranquilidade. A placa “CASA DE MARIA – ACONSELHAMENTO FAMILIAR”, na parede ao lado da porta, alivia o coração de Sofia, e mesmo com receio, entra na casa sendo seguida por Pedro.
Sofia é recebida por Dona Maria de forma carinhosa, que a leva, ainda na cadeira de rodas, para uma saleta. Maca, instrumentos, luminária, cores nas paredes, tudo remetia a uma clínica médica. Dona Maria, uma senhora de 60 anos, séria, mas de semblante simpático, exemplo de mãe de filhos homens. Retira o bebê dos braços de Sofia que cede com um pouco de resistência e o coloca sobre uma balança. Faz anotações sobre peso e altura do bebê, sob o olhar cauteloso da mãe.
Sofia levanta-se ainda fraca, segurando-se na mesa à sua frente. Dona Maria a ampara e lhe dá um comprimido que Sofia pega e engole acompanhado de um pouco de água. Quase que imediatamente seus olhos ficam vermelhos, coloca a mão na garganta, como se quisesse respirar e seu corpo desmorona no chão sem vida.
Dona Maria olha para o corpo de Sofia e continua cuidando do bebê. Toma-o em seus braços, passa por sobre o cadáver de Sofia e sai da sala, fechando a porta atrás de si e dirige-se a outro cômodo da casa. Abre a porta e entra num ambiente que remete a um escritório, com livros e fotos espalhados de forma organizada.
Dona Maria cumprimenta o casal que está sentado num sofá marrom de três lugares e entrega o bebê nos braços da mulher que sorri e mostra ao homem que está ao seu lado. Os dois fazem carinho e sorriem para o bebê.
O homem entrega um envelope para Dona Maria que o abre e conta, por alto, as muitas notas de dólares contidas nele. Depois de um sorriso de satisfação, ela retira de dentro da gaveta de uma grande mesa de jacarandá escura, uma folha contendo a Certidão de Nascimento do bebê e entrega para ele que confere, coloca em um envelope e guarda na bolsa da mulher.
O casal levanta-se e se despede, dirigindo-se à porta de saída, acompanhados por Dona Maria que, quando passa por Pedro que está sentado no sofá da sala, mexendo no celular, dá-lhe um tapa de leve no ombro e aponta discretamente para a porta da saleta onde está o corpo de Sofia.
Pedro levanta-se e dirige-se à saleta, entra e fecha a porta atrás de si. Olha longamente para o corpo inerte de Sofia, abre um armário de onde tira uma grande mala de viagem e abre-a sobre a maca. Toma o corpo de Sofia em seus braços e a coloca dentro da mala. Ouve-se alguns ossos quebrando para poder dobrá-la e caber na mala. Joga-a no chão, levanta, aciona a alça e, fazendo uso das rodinhas, leva-a para fora da casa. Abre o porta-malas e joga a mala dentro dele.
Ele troca um olhar cúmplice com Dona Maria que está parada no portão e entra no carro, liga-o e sai em disparada, enquanto o dia está terminando e o céu começa a colorir-se de laranja-avermelhado.
Pedro chega na praia de São Tomé do Paripe, estaciona o carro, abre o porta-malas, tira a mala e desliza-a sobre a plataforma, onde existem alguns barcos ancorados e um parado, com um rapaz dentro, motor ligado, aguardando sua chegada. O barco sai imediatamente após a mala ser jogada dentro do barco e Pedro se acomodar, sob um lindo final de tarde com o sol se pondo atrás da Ilha de Itaparica na Baia de Todos os Santos.
Durante a viagem de barco, Pedro amarra uma rede com várias pedras dentro ao redor da mala que contém o corpo de Sofia e, num determinado momento da viagem, ele atira a mala, e o barco continua seu trajeto.
Pedro reclina-se e, languidamente, observa o lindo pôr-do-sol. Tira o celular de dentro do bolso da calça e fotografa a linda imagem formada com o final do dia. A foto é enviada pelo aparelho através do Whatsapp para uma moça de nome Camila e, logo abaixo escreve: “Olha o lindo pôr-do-sol que te espera aqui em Salvador!”, sendo quase que imediatamente respondido com um desenho de coração.
Na CASA, Cláudia está com o celular nas mãos escrevendo algo e pergunta para Marcelo o endereço de onde ela ficará hospedada. Ele responde que ali mesmo e que já a levaria para seu quarto, pois só estavam terminando de arrumar tudo para que ela possa se acomodar mais tranquila. A moça acha estranho e pergunta se eles não ficariam no mesmo quarto, e Marcelo, se aproximando e falando em seu ouvido, que não pois moram mais gente na casa e não pegaria bem. Mas eles iriam se ver todos os dias. A moça sorri e escreve algo no celular. Ela torna a perguntar o endereço e ele responde, dando o endereço de onde eles estão. Ela anota no celular e, depois de um tempo, ela olha estranhamente para o celular, mexe nele com uma certa habilidade e, por fim, pergunta para Marcelo se há wi-fi na casa pois o seu celular está completamente sem sinal. Ele diz que sim e que, ao chegar em seu quarto, poderá acessá-lo tranquilamente e, com um sorriso encantador, diz que o quarto já está arrumado e que eles já poderiam ir para lá. Cláudia levanta-se e o acompanha, levando consigo a sua bolsa. Eles caminham até a parte dos fundos da casa, até chegarem a uma porta que, ao ser aberta, mostra uma escada que remete ao porão. Marcelo segura em sua mão e a conduz, com cuidado, pela porta e a ajuda a descer as escadas. No final da escada, ao virar-se e olhar para a sala, Cláudia consegue ver cinco gaiolas sendo que em quatro haviam uma moça nua dentro de cada uma delas. O grito de horror dado pela moça foi abafado pela porta no alto da escada sendo fechada.
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manchadedendesblog · 4 years ago
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O convento
A agitação toma conta do pequeno quarto dentro do convento. O catre coberto de lençóis rubros de sangue está rodeado de crucifixos e mulheres nuas. Sete mulheres, pois assim mandam os preceitos. Quando ouviram o choro, após a leve palmada no bebê que acabara de nascer, a Madre Inviaman invade o quarto, acompanhada de duas outras freiras, toma o bebê ainda ensanguentado nas mãos, observa e diz em voz alta: JUNKINAM! É uma menina! Após ouvirem essas palavras, as mulheres que rodeavam o catre, reúnem-se em volta da Madre, em êxtase, braços levantados, gritando, girando em torno dela e da criança até que todas emitem um grito agudo, uníssono e caem prostradas no chão. As duas freiras que acompanham a Madre Inviaman seguram a criança pelos pés e pelas mãos e a esticam para que a líder a observe com mais atenção. Giram a bebê em várias posições para esmiuçar cada milímetro de seu corpo. Há uma grande expectativa da mãe que permanece nua e ensanguentada na cama. Ela olha ansiosa para a Madre como que implorando pela palavra final, enquanto as mulheres prostradas no chão continuam emitindo sons agudos. ISHMANDILA JUNKINAM!, grita a Madre. As sete mulheres prostradas no chão, levantam seus rostos para o alto e emitem um angustiante grito estridente. A Madre e a mãe da criança sorriem aliviadas enquanto as duas freiras envolvem a criança num lençol branco, embrulhando-a e colocando nos braços da mãe. Aquelas prostradas no chão, após a saída da Madre, levantam-se e pegam uma bacia contendo a placenta, levantam todas juntas, giram, emitindo sons agudos e logo depois colocando-a no chão. Enquanto as outras mulheres continuam girando em torno da bacia, uma a uma coloca-se sobre ela e urina dentro. Quando terminam, as duas freiras tomam a bacia nas mãos e colocam-se lado a lado, enquanto as mulheres nuas alinham-se em fila e as seguem.
O silêncio volta a reinar no Convento.
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manchadedendesblog · 4 years ago
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Triste fim.
Alberto está deitado na cama de seu apartamento, cercado de aparelhos que o mantém respirando artificialmente. Ele se despede de seu amigo que lhe deixou um envelope que agora aperta no peito. Ao seu lado está Roberta, sua esposa, que olha triste para Alberto. Ela diz que adorou a visita de Sérgio e que notou que ele o deixou mais animado. Alberto diz que Sérgio é seu mais antigo amigo e que se conhecem há anos. Agora que ele está nas últimas, receber uma visita dele foi maravilhoso. Roberta chora. Alberto diz para ela não chorar pois todos já esperavam por isso. Roberta não consegue conter as lágrimas e diz que ele deveria estar no hospital onde teria mais cuidados. Mas ele diz que os médicos já não têm mais nada a fazer e ele queria morrer em casa. Ela diz que não gosta quando ele fala assim sobre morrer e que faria de tudo para mantê-lo vivo. Ele apenas sorri. Alberto fecha os olhos. Roberta confirma no aparelho cardíaco ao lado da cama que foi ele apenas está dormindo. Alberto deixa cair o envelope que está em seu peito. Roberta olha e pega o envelope. Abre e de dentro tira uma foto de uma mulher. Vira e no verso está escrito. “Completamente sua, hoje e sempre! Não importa o tempo que passar, sempre que você se lembrar de mim, eu estarei com você! Não me esqueça, pois eu nunca te esquecerei! Se precisar de mim, me chame. Você sabe onde me encontrar.”
Roberta está na janela, olhando para o mar ao fundo. Ela ouve a voz de Alberto e se vira pra ele. Alberto nota uma mudança no semblante de Roberta e lhe pergunta o que houve. Ela demora a responder. Ele torna a perguntar. Roberta joga sobre Alberto o envelope com a foto sobre ele. Alberto olha sem entender e pergunta o que houve. Roberta indaga sobre quem é essa mulher da foto. Alberto olha para a foto e sorri. Isso deixa Roberta mais furiosa ainda. Como Roberta volta a lhe perguntar quem é a mulher da foto, Alberto diz que é a Gert, uma mulher que ele conheceu há mais de vinte anos, ou seja, eles nem pensavam em se conhecer ainda. Roberta diz que independente do tempo que eles se conheciam, a Gert escreveu que ele sabe onde encontrá-la. Alberto confirma. Roberta pergunta se ele a encontrava antes de ficar doente. Alberto confirma.
Roberta volta a olhar para o mar. Ela pergunta como ele teve coragem de manter uma amante mesmo depois de casados. Se ele gostava tanto dela, porque não casou com Gert ao invés dela. E todas as declarações de amor que ele dirigiu a ela nesses 10 anos de casados? Alberto diz que é impossível ter uma relação duradoura com Gert. Eles se amam, mas nunca teriam um relacionamento amoroso. Roberta volta a olhar para Alberto. Seu semblante está mais tranquilo e diz que nesse momento ela não iria brigar. Independentemente de quem era essa Gert, é ela quem está hoje ao lado dele agora. Alberto tenta explicar, mas como está muito fraco, Roberta o impede de falar e diz que a vida dele e o amor que sentem um pelo outro é mais importante que qualquer coisa, inclusive uma amante.
Alberto, após pegar fôlego, tira a máscara de oxigênio, sorri, dizendo para Roberta que Gert não é uma amante. Que achou estranho ela não saber quem é a Gertrudes. Roberta fica sem entender. Como assim? Ela tinha certeza de que nunca viu essa mulher na vida. Alberto diz que ela pode não reconhecer, mas a pessoa da foto é ele vestido de Gertrudes.
Roberta fica um tempo em silêncio, olha para Alberto que sorri. Ela não consegue entender. Aquilo é ele vestido de mulher? Alberto confirma com a cabeça.
Roberta volta a olhar o mar e diz que se ele foi travesti a um tempo atrás, não tem problema, afinal isso já passou. E mesmo as alterações que ele fez no corpo, como silicone nos peitos, essas coisas, nem deixaram cicatrizes. Ele teve um bom cirurgião. E a maneira com que ele a tratava, mostra que ele não sente mais atração por homens.
Roberta volta a olhar para Alberto. Ela confirma se ele sente atração por homens. Alberto nega com a cabeça. Roberta suspira aliviada. Ela diz que mesmo que ele ter dito que ela sempre o procurava era essa doença do homossexualismo voltando, mas que ele não precisa mais se preocupar com isso. Ela diz que o importante é descansar e, com o poder de Deus, ele vai se curar e, em breve, poderão conversar melhor sobre esse assunto. Afinal, já que ele não sente mais atração por homens, se livrar da Gert é mais fácil.
Alberto toma fôlego dentro da máscara de oxigênio e tenta falar, mas sua voz falha. Roberta diz pra ele descansar, afinal ele está muito fraco e, mesmo ela, precisa pensar um pouco sobre descobrir que seu marido já foi um travesti. Roberta volta a olhar para o mar. Com muito esforço, Alberto diz que ele não era travesti. Nunca tinha sido. Roberta diz pra ele se acalmar. Ela entende que fazer essas revelações na situação que ele se encontra não é fácil. Eles terão oportunidade de esclarecer isso.
Num esforço hercúleo, Alberto grita e diz que ele era ator. Roberta, que está na janela olhando para o mar, vira-se imediatamente e repete a palavra ator. Alberto confirma com a cabeça e num movimento desesperado, arranca a máscara e diz que trabalhou como ator por mais de 15 anos antes de conhecer Roberta. Madame Hortense. Gertrudes Hortense tinha sido a primeira personagem como ator profissional na vida dele. Guarda ótimas lembranças de quando fez parte desse espetáculo e que ficou em cartaz por dois anos seguidos fazendo essa personagem. Apenas isso. Gert era uma personagem e, assim como ela, ele guarda ainda, dentro de si, inúmeros outros personagens que interpretou. Ele diz que abandonou o teatro por questões financeiras, mas que, como já disse alguém um dia, o ator nunca deixará de ser ator mesmo que abandone os palcos.
Alberto diz isso e coloca a máscara respirando com muita dificuldade. Roberta olha para Alberto, desvia o olhar para o aparelho de oxigênio que mede as batidas do coração, ao lado da cama, e desliga o aparelho. Volta a olhar para Alberto que agoniza sufocado com ausência de ar. Roberta ainda diz: Ator, humpf...
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