Tumgik
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Lado A
Parte V
_Cara, eu não acredito que você me trouxe até aqui para me falar essas besteiras. 
_Não é besteira, Eddy, é a terceira vez que te digo, é serio. 
_Claro, e eu sou o lanterna verde. 
_Mas que merda, Edgar, você pode acreditar em mim uma única vez? 
_Olha Luis, – disse ele pousando sua mão em meu ombro direito – como você quer que eu acredite que você foi cinco anos pro futuro e voltou? 
_Seis. 
_Que seja. 
_Não é que seja, é algo complexo, é como se eu tivesse voltado no tempo, não sei. 
_Luis, esse calor está te fazendo mal, só pode ser isso. Aquela conversa com Edgar começava a me irritar, talvez seria melhor não lhe haver dito nada, o que eu deveria fazer seria apenas aproveitar essa segunda oportunidade e fazer tudo certo dessa vez. 
_Tanto faz, vamos embora Eddy. – disse em um tom incomodado. 
   Edgar subiu a moto e voltamos para sua casa. Eram quase três da tarde, e aquele era um dia crucial, então tive de recusar o convite de Edgar pai de ficar e assistir a semifinal do campeonato da serie A do futebol. 
_Isso! Essa é a chave! – disse. 
_Que chave garoto? Você está bem? 
_Calma pai, – disse Eddy a seu pai – ele está falando coisas assim o dia todo, esqueça ele.
_Três a zero, Eddy. 
_O que? – me perguntou ele com um olhar confuso.
_Nosso time vai ganhar de três a zero hoje, e logo na final, ele vai pegar ao São Paulo, e vai ganhar de dois à um, pode apostar nisso senhor Edgar, faremos os três gols hoje ainda no primeiro tempo, e na final receberemos um gol no inicio de partida, ao final do primeiro tempo faremos um gol e ao início do segundo, faremos outro.
   Edgar pai olhou seriamente para mim e perguntou:
_Você tem certeza disso rapaz? 
_Te dou minha moto se o resultado não for esse.
   O velho me olhou com um sorriso malandro e entrou rapidamente em sua casa. 
_Você sabe que ele vai ligar para o bicheiro, não sabe? – me questionou Eddy. 
_Perfeitamente, aceite isso como um presente meu para vocês. 
_E o que te faz pensar que esse será o resultado correto? 
_Eu já vivi isso Eddy, eu já vivi, agora tenho de ir, porque uma das mulheres que conhecerei hoje será a mulher da minha vida. 
   Eddy me observava enquanto saia com a moto, suas palavras haviam desaparecido e enquanto o via pelo retrovisor, podia ver em seu rosto o questionamento de se eu estava louco ou se algo realmente havia passado.
   Assim que cheguei em casa, notei que Oscar havia saído, excelente, teria a casa toda para mim, dei uma olhada rápida em meus CDs que estavam na sala e logo peguei um que tinha na capa alguns livros, quase como se fosse uma biblioteca. Aquele cd eu havia perdido logo após a morte de Oscar, quando me mudei para uma casa com menos lembranças. Aquele cd era de uma banda chamada Beirut, estava a pouco no mercado e seu cd tinha apenas três musicas, mas eram as três melhores musicas para se ouvir enquanto se fuma um baseado em um domingo a noite com seus amigos, sentados no jardim. Logo o coloquei para tocar em um aparelho de som laranja e prata, tive de lembrar como funcionava, já que estava acostumado com iPods e aparelhos de micro systems. 
_Pronto, agora só falta isso. – disse tirando minha roupa. 
_Pronto o que? – me indagou uma voz atrás de mim. 
_Oscar? Pensei que você tivesse saído. 
_E sai, só voltei pra pegar minha carteira que esqueci. Agora por favor, vá colocar uma calça.
   Dei de ombros para o pedido de Oscar enquanto aumentava o volume do radio e saia em direção ao banheiro. Era impressionante como depois de reviver algumas coisas, eu sentia uma necessidade tão grande de voltar com alguns hábitos, como o de andar sem roupa pela casa, ou até mesmo de ouvir musicas enquanto estava no banho.
   Minha cabeça começou a maquinar esse tipo de pensamento, até que me lembrei o que realmente era importante naquele dia, elas.
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Lado A
Parte IV
   Observei minha moto, ela ainda era nova, as ultimas lembranças que eu tinha dessa moto era de ela quebrando toda semana até a semana antes de meu casamento. Minha moto era uma Yamaha R1 azul, extremamente sentimental, quase como uma pessoa. Todas as vezes que tentava sair com alguma garota, ela resolvia me deixar na mão, a única garota que ela permitia que andasse nela era Sofia. 
   Montei em minha moto e sai em direção a casa de Edgar, enquanto conduzia me lembrei que Noel também andava comigo naquela moto sem problemas algum. Alguns minutos depois, cheguei a casa dos pais de Edgar.
_Eddy! – gritei a porta da casa da família Vidal. 
_Ei, ei, o que está acontecendo aqui? Que gritaria toda é essa em minha porta? – perguntou um senhor calvo saindo de trás de um arbusto. 
_Sou eu mesmo, algum problema? 
   O senhor pôs sua cara de extremo desgosto ao ver-me e caminhou em minha direção. 
_Não consigo entender como meu filho tem amizade com um moleque como você, me dá extremo desgosto.
 _Desgosto sinto eu por ter de vê-lo logo pela manhã. 
   O olhar daquele senhor se afiou mais e mais sobre mim, quase como um predador observando a sua presa, de repente um esboço de sorriso começou a se formar em seu rosto. 
_Seu moleque sem vergonha, venha até aqui e me dê um abraço, nunca mais veio aqui para me acompanhar em uma cerveja. 
_Foi mal senhor Vidal, essa semana eu venho para que possamos conversar com calma. 
_Tudo bem, vamos ver se você virá ou se essa é mais uma de suas historias.   
   Sorri amargamente enquanto o senhor caminhava em direção a porta da casa. Aquele era o pai de Edgar, cujo nome também era Edgar. Edgar pai sempre me tratou muito bem, ainda mais depois de que sua esposa sofreu um acidente e eu era o único que poderia ajudá-la com uma transfusão de sangue. As vezes parecia que a intimidade que eu tinha com a família Vidal era melhor do que com a minha própria família.
   Poucos minutos depois vejo uma figura sair do interior da casa, aquela forma roliça de Edgar me surpreendeu. Por um momento eu havia me esquecido que ele havia sido gordo no passado, porém isso era apenas um detalhe irrelevante. 
_Eddy, aconteceu uma coisa incrível. – disse com entusiasmo. 
_O que? Deve ser algo muito incrível mesmo, faz mais de um mês que você não vem até aqui em casa, já estava cansado de ouvir meus pais perguntarem de você. 
_Tsc, isso é o de menos, sobe aqui na garupa que a gente tem de conversar. – disse jogando um capacete para Edgar. 
   Ao ouvir minhas palavras, Edgar pegou o capacete e o encaixou na cabeça, olhou para o pacote de batatas fritas que estava em sua mão esquerda e entrou em sua casa para guardá-lo. Enquanto isso comecei a observar minha moto, até que meu olhar caiu sobre meu joelho direito, o toquei com as pontas dos dedos seguindo em direção a minha coxa, puxei a barra de minha bermuda para cima e observei minha coxa, lisa, sem nenhuma marca ou cicatriz, aquela era uma das provas de que eu realmente havia retornado, no ano de 2012 eu havia sofrido um acidente, e por conseqüência disso, fiquei com uma enorme cicatriz justo nessa coxa que agora eu observava. 
_Tudo bem, – disse Edgar saindo de casa – seja o que for, vamos logo, hoje é dia de jogo e eu quero voltar cedo. Edgar subiu na moto e saímos em direção à praia.
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Lado A
Parte III
Um sopro de ar encheu meus pulmões fazendo-me despertar. Estava atordoado, minha cabeça doía e fragmentos de minha memória chegava a todo momento em minha mente. 
   Tentei acalmar-me e retomar o foco de meus pensamentos. 
_Sofia! – gritei.
   Logo em seguida um forte estrondo abriu a porta de meu quarto e por ela se adentrou uma figura meramente conhecida. 
_Deus do céu, Luis, o que aconteceu? Quem é Sofia?
_O-Oscar? É você mesmo? – perguntei com os olhos marejados. 
_Quem mais poderia ser? 
   Aquela resposta totalmente rude fez com que meu coração tremesse, como poderia ser esse cara? Oscar deveria estar morto ha pelo menos cinco anos, eu o vi morrer. Aquilo deveria ser algum tipo de brincadeira, ou… pode ser que quem esteja morto seja eu… 
   Oscar me observou com um ar de confusão, mas logo saiu de meu quarto. Passei a mão por meus cabelos e para minha surpresa eles estavam enormes. Desde quando meus cabelos estavam tão grandes? Me levantei e caminhei até o espelho, só então me dei conta de que estava em meu antigo quarto. O que estava acontecendo? Caminhei até o computador sobre a mesa e o liguei, a data que me mostrara me surpreendeu, era dia 13 de maio de 2008. Poderia ser que eu morri? Ou aquilo era tudo uma grande brincadeira? Sim, definitivamente deveria ser uma brincadeira, e uma de muito mal gosto, devem ter pego o primeiro cara pela rua que se parecera a Oscar para fazer isso, mas quem seria capaz de fazer algo desse tipo? Edgar, deve ter sido ele…
 _Oscar! Venha aqui! – gritei.
_Mas que diabos está passando aqui Luis? – perguntou Oscar adentrando abruptamente em meu quarto. 
_Oscar, o que aconteceu aquela noite depois da nossa formatura, atrás da casa da piscina? 
   Aquela pergunta era algo que apenas o próprio Oscar poderia responder, qualquer farsante seria desmascarado. 
_Po-por que isso agora, Luis? 
_Ué, você não se lembra? – perguntei com um sorriso sarcástico no rosto. 
_Bem, nós havíamos bebido escondido para comemorar, de repente chegou o Pedro falando o que havia visto seu irmão fazer com sua… 
_Tá bom, já entendi, é você mesmo. – disse enxugando as lágrimas e pulando em seu pescoço. 
_Luis, o que aconteceu? Por que você está chorando? 
_Oscar, meu irmão, eu senti tanto a sua falta… 
_Como assim? Nos vimos ontem mesmo… 
_Não importa, o que importa é que estamos juntos. 
_Luis, você está me assustando… 
   Oscar tentou remover-me de seu pescoço, mas mesmo com quase dois metros de altura, ele ainda era fraco perante a mim. Assim que o soltei, tirei minha calça e caminhei em direção a meu armário.
_Luis, você está bem? O que significa tudo isso? Você sabe que eu não curto esse tipo de coisa, então coloque suas calças. 
_Cale a boca Oscar, eu estou apenas trocando de roupa. 
   Oscar suspirou aliviado, virou-se e saiu do quarto, logo troquei minha roupa e tentei forçar em minha mente o que havia passado nesse dia. Isso! Hoje era o dia da festa na empresa que trabalhava à seis anos atrás, justamente o dia em que conheci tanto a Sofia quanto a Noel… 
   Observei todo meu quarto, realmente era meu quarto de seis anos atrás, desde um celular velho que não possuía nem ao menos internet até todo o lixo que eu costumava deixar embaixo de minha cama. 
   Algo havia passado, agora tudo fazia sentido, por algum motivo eu estava tendo a oportunidade de refazer minha vida, de me redimir de meus pecados e concertar meus erros. 
_Luis, quer ovos com torrada? – gritou Oscar da cozinha. 
_Não, estou saindo. – respondi enquanto terminava de vestir-me.
   Saindo de meu quarto, observei a Oscar na cozinha, aquele realmente era ele, fazendo torradas com ovos, como todas as manhãs. 
   Oscar era meu amigo desde que tínhamos dez anos de idade, quando fizemos dezoito anos resolvemos ir morar juntos, e assim foi, até o dia 02 de maio de 2009, justamente o dia em que ele morreu ao reagir a um assalto. Meus olhos encheram-se novamente de lágrimas ao lembrar do ocorrido, mas antes mesmo que ele pudesse ver toda a fragilidade que transbordava de mim, sai pela porta da cozinha até a garagem.
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Lado “A”
Parte II 
   Aquela era a imagem mais bela que eu já havia visto e a cada passo que Sofia dava em minha direção, maior era o sentimento de que eu estava fazendo a coisa certa. A beleza de Sofia refletia em meus olhos que logo começaram a marejar, minhas mãos suavam e tremiam no momento em que Felix, meu sogro, deixou Sofia ao altar e caminhou em direção a Solange, sua atual esposa. 
    Durante toda a cerimônia, meus olhos permaneceram em Sofia, minha felicidade era tanta que parecia que meu braço direito estava formigando, essa sensação me alarmou quando senti o formigamento subir por meu pescoço. “Deve ser a emoção”, pensei. Aquele momento era como mágico, tão mágico que nada mais importava. Os pensamentos de como seria meu futuro acordando todos os dias ao lado daquela mulher me fazia sorrir como um tonto. 
    Eu sabia que o padre estava dizendo alguma coisa, mas naquele momento eu só podia me importar com o sorriso de felicidade de Sofia. 
    Apos algum tempo, fiz meus votos, logo em seguida, Sofia os dela, minha felicidade era tanta que escorria por meus olhos, então ouvi o padre pronunciar meu nome completo, logo em seguida ele fez a pergunta decisiva. 
 _Luis Claudio Lopez Serrano, você aceita a Sofia Villas Boas como sua legítima esposa e se compromete a amá-la e cuidá-la enquanto estiverem vivos? Na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença até que a morte os separe? 
    No momento em que iria responder, a imagem de Noel veio em minha mente, por algum motivo hesitei, mas logo respirei fundo e disse “sim”. 
    O padre fez a mesma pergunta a Sofia, que lhe respondeu antes mesmo que ele pudesse terminar de falar. Nossa ansiedade estava totalmente a vista, eu não podia esperar pelo momento em que a teria envolta em meus braços, em que teria seus lábios, pequenos e vermelhos tocando os meus. 
    Alguns momentos depois senti o formigamento em meu braço cessar, trazendo uma sensação de amortecimento em todo meu corpo, via alguns pontos negros em meu campo de visão e logo em seguida todo um filme começou a passar por meus olhos. Não sabia distinguir se era a realidade ou minha imaginação...
   No exato momento em que o padre perguntou se alguém tinha algo contra o casamento, as portas da igreja se abriram em um estrondo, por elas passou Noel, apressadamente. Todos se viraram tentando entender o que estava acontecendo, celulares se voltaram para ela quando palavras saíram de sua boca. 
 _Luis, – disse ela ofegante – eu, eu te amo. 
    Senti um sorriso se formar em meus lábios, seguido de algo escorrer de minha narina esquerda, passei os dedos sobre o liquido e o observei, o tom carmesim me surpreendeu por um momento, mas antes que eu pudesse reagir, tudo se escureceu... 
    Era dia 25 de junho de 2014, o dia do meu casamento, o dia em que fui dado como morto...
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Lado “A”
Parte I
_Luis, eu te amo, eu sei que isso não é o tipo de coisa que eu deveria estar lhe dizendo em um dia como hoje, mas eu sinto que é o certo a ser feito…
   Após Noel despejar todos seus sentimentos sobre mim, logo no dia de meu casamento, fiquei sem reação, meus sentimentos por ela também haviam aflorado, mas eu estava prestes a me casar com a mulher que eu julgava ser a que eu amava, aquela com quem eu passei os melhores e piores momentos até hoje. Talvez se Noel houvesse me dito essas palavras uma semana atrás, tudo seria diferente, mas eu estou decidido, então minha resposta acabou sendo simplesmente meu silêncio... 
_Tudo bem Luis – disse Noel após alguns segundos de silêncio – eu te entendo, você terá outro momento para responder-me. 
    Noel deixou suas palavras juntamente com seu cheiro enquanto saía de meu quarto.
   Eram 15:00h e minha cabeça estava uma bagunça, eu estava segurando meu quarto ou quinto copo de whisky quando ouvi alguém abrir a porta de meu quarto, na mesma hora pensei em Noel, mas a silhueta que adentrou pela porta era outra, era Sofia. 
_Lu, – disse Sofia entrando sorrateiramente em meu quarto – consegui dar uma escapada para te dizer uma coisa. 
_Sô, você é louca, você deveria estar terminando de se arrumar, nosso casamento é em duas horas. 
_Eu sei, eu sei, mas eu precisava vir te dizer que estou me sentindo a mulher mais feliz do mundo, eu sei que dizem que atrai má sorte ver a noiva antes do casamento, mas eu sei que nosso amor é maior do que tudo isso. 
_E a única coisa que eu sei, é que você é louca. 
_Louca por você. – disse ela beijando-me – Agora eu tenho de voltar antes que alguém sinta minha falta, agora tente maneirar na bebida, entendeu mocinho? 
_Entendi meu amor. 
    Assim que Sofia saiu do quarto, um nó se formou em minha garganta, eu queria lhe haver dito o que passara à uma hora atrás com Noel, mas por mais que Sofia e eu nunca tivéssemos segredos entre nós dois, dizer uma bomba dessas a ela, justamente hoje seria algo difícil de prever o resultado. Eram 16:30h quando Edgar entrou em meu quarto, perguntando desesperadamente o que havia acontecido.
 _Mas que caralho Luis, você já deveria estar no altar, cadê seus sapatos?  
  Lentamente olhei para meu copo, já vazio e segurei a garrafa de whisky. 
_Largue esse copo e vamos, seu casamento é em menos de meia hora. Vesti meus sapatos, arrumei a gravata e beijei o rosto de Edgar, ele havia sido meu amigo desde que tínhamos quatorze anos, e todas as burradas que eu fazia na vida, era ele quem resolvia. 
_O que foi isso agora Luis, você está bêbado? 
 _Não, só estou te agradecendo por ser esse cara tão foda que você é. 
    Esgar corou, ele nunca havia sido bom com elogios. Ele ajudou-me com o nó da gravata e saímos para o local do casamento. Já no altar, pude observar conforme as pessoas chegavam e se sentavam, que Noel não estava presente, eram 17:04 quando o jovem coroinha adentrou apressadamente pela igreja e caminhou até o padre. Após o coroinha deixar o recado e sair, o padre olhou para mim e levantou seu polegar direito, assenti com a cabeça, foi então que a famosa marcha nupcial começou a soar, e logo em seguida Sofia adentrou pela igreja.
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