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eu não sou um robô

Constantemente no meu trabalho ouço a palavra humanização. “Precisamos humanizar mais”, “precisa ser mais real, mais humanizado” mas o que é ser “humano” afinal? Digo no aspecto de como nos vemos perante o mundo, Apesar do ser humano ter evoluído durante milhares e milhares de anos e descobrindo com o passar do tempo como funciona seu corpo e o ambiente onde vive até muito além das estrelas sempre tentamos reafirmar, mesmo que mentalmente, após um dia exaustivo no trabalho:

eu não sou um robô! Eu não sou uma máquina feita para executar tarefas! Eu sou um ser HUMANO!

Hoje completaram 20 dias que eu fui arrastada de volta à estaca zero, praticamente um ano após concluir meu primeiro tratamento psiquiátrico a tempestade se formou rápido demais, a ponto de eu não perceber a tormenta que estava por vir, o pânico, o medo, as dores que minha mente insiste em me fazer acreditar serem reais, a sensação pré-morte. Em nenhum outro momento da minha vida me senti tão à beira do abismo, do terror psicológico chamado depressão que quando combinada com a ansiedade e síndrome do pânico se tornam um coquetel extremamente tóxico que não te causa a morte, mas te leva desejá-la apenas para cessar o sofrimento sem causa.

Eu não me sinto humana, não me sinto como uma pessoa de verdade.

Meus sentimentos são ceifados crises após crises, e minha memórias pílulas após pílulas. Perceber suas memórias sendo sugadas por um buraco negro dentro da sua própria mente não é a coisa mais agradável, na verdade, nem um pouco perto disso. A cada memória que vai embora, é a sensação de perder junto todo e qualquer tipo de sentimento que adquiri com experiências, pessoas, tudo se esvai e a única coisa que sinto é um vazio, um nada.

Muitos me dizem “olha só que coisa boa, você não se importa com mais nada, não vai se estressar com coisas corriqueiras”, gostaria que assim fosse, pois a real sensação é que eu não estou me importando comigo mesma, vivendo no automático, pensando no automático. Eu estou me perdendo, quem sou eu? O que eu quero? Qual é o meu objetivo? O meu propósito?

Enquanto escrevo este texto o YouTube está tocando músicas no aleatório, pois não consigo escolher uma música, na verdade não consigo ver sentido ao fazer qualquer tipo de escolha. Se eu vou me vestir, parece que nada combina, se eu vou comer nada me atrai e muitas vezes acabo por não me alimentar, nada faz sentido, parece que o mundo está todo errado e eu também. Será que eu já me perdi e assim como a tormenta que varreu minha sanidade mental nos últimos dias e eu ainda não consegui perceber?

As músicas não me trazem mais tantas memórias, mas a playlist aleatória trouxe uma que resume meu sentimento:

There are so many things that I don't understand There's a world within in me that I cannot explain Many rooms to explore but the doors look the same I am lost I can't even remember my name

Como diz Daft Punk: are we human after all?