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Mo Está de Férias
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Você pode me chamar de Monte, Mo ou Amiga da vizinhança.
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moestadeferias · 15 days ago
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Sou uma tola por não ter te lido anteriorimente.
Olá, Vizinhança. 
Acabo de descobrir, no momento em que começo esse texto, e que muito provavelmente não é o mesmo em que levo ele ao mundo, que Sou uma tola por te querer é mais do que uma coletânea de contos sobre desigualdades e a cruel vida de travestis pretas e latinoamericanas. Sou uma tola por te querer é o abraço desconfortável que eu precisava receber neste junho de chuvas que não molham ninguém de verdade, muitos aniversários e comidas feitas de milho, falando em São João, será que você poderia me fazer uma maçã do amor? Não sou boa com coisas doces; ao menos não em fazê-las, sou ótima às comendo.
A essa altura devemos acreditar, você e eu, que as melhores leituras de minha vida serem as não planejadas é uma maldição, ou será uma benção? Existe mesmo diferença entre os dois conceitos? Encontrar as palavras de Camila Sosa Villada não estava nos meus planos, mas que bom que aconteceu, foi lindo demais. Me atravessou o peito e fez sangrar meus intestinos. Camila é travesti, argentina e formada em comunicação social; talvez por isso ela tenha tanto a me contar. Digo “tenha”  já não existe maneira alguma dessa ser nossa última conversa.  
Para Billie Holiday, Camila escreve “A amizade fez silêncio então, cada uma com sua própria música.” e conversamos sobre como eu tenho uma amizade que respeita meu querer ficar junto, mas em mundos diferentes; com ocupações, trilhas sonoras e ritmos singulares. Para Cotita, Camila escreve “É preciso escrever, desde o princípio, para preencher as horas na natureza que nunca se cala. É o que o corpo sabe fazer.” e conversamos sobre meu biossistema que fala, alto e a todo instante, e sobre como segurar as palavras que passam pelo maquinário da minha mente hiperativa em um blog é um instinto de sobrevivência; o que faço para me manter em plena consciência, para me entreter da chatice dos dias lentos. Nossa conversa continua, fervorosa e incômoda, quando para o fim de sua galeria de histórias Camila escreve “Me dava uma vontade louca de perguntar a elas como era possível que mulheres que tinham sofrido tanto, a ponto de quererem perder a vida, rissem daquela maneira, com aquelas gargalhadas que afugentaram os patos e preenchiam o céu de quaquás.” e ela me força a visitar todas as mulheres sofridas, fraturadas e insistentes que eu já conheci. Penso em todas elas, e eu às poderia listar aqui, mas daí não faria você pensar nas que você já conheceu, e penso em como não as abracei, mas agora sinto que deveria ter feito. Deveria ter ajudado a catar os pedacinhos de todas elas, das que moravam na mesma casa que eu, das vizinhas e das mães das minhas amigas.
Camila me força a encarar meus anos entendendo como viver funciona, o que significa fitar pelo espelho do banheiro muitos e muitos momentos de todos os anos de minha vida. E quando Flor de Ceibo encontra Magda, jovem e curiosa como todos já fomos ou seremos um dia, encontro a minha eu que foi perguntada, por um adulto que deveria me cuidar e ensinar, “O que é aquilo?” e, vidrada no caminhar tão espaçoso e proprietário de uma travesti, que nunca mais encontrei naquele mesmo corpo, mas que me revisitou outras vezes, nada respondeu. Abraço forte aquela eu, a digo que ela não pode, nem deve, já que são coisas diferentes, ouvir um adulto apenas por ele ser um adulto e parecer mais esperto e certo do que ela jamais foi ou será; a maioria dos adultos não passa de uma casca vazia e um cérebro podre, ela aprende comigo e então continua vivendo. Eu encontro Camila depois dessa conversa, e eu e ela seguimos juntas pelo fim da ladeira cuja caminhada leva até a casa de minha mãe.
O dicionário de Camila me prendeu nessa teia da qual não consegui fazer esforço algum para sair, nem mesmo quis, se devo ser honesto, mesmo quando usa palavras como “pica “, o que me parece ridículo para qualquer outro grande escritor, eu quero mais e mais de seu vocabulário. Quero mais dessa mistura de itens religiosos, do peito aberto da américa latina,  da ficção científica e das travestis que usam seus eus como forma de resistência contra o abuso do homem. 
Sou uma tola por te querer me rasga de dentro para fora, me arranca o fôlego e me implanta uma vontade insana de acreditar cada vez mais em algo maior do que apenas o gênero,  o deus único e as fórmulas prontas dos romances com os quais comecei a ler. Quero acreditar que somos todos melhores do que tudo que possa ou não acontecer. Quero abraçar Camila, a fim de abraçar toda travesti perdida pelas ruas estreitas, escuras e não confiáveis da américa latina.
Beijos (para você, Vizinhança, e para Camila, que é toda travesti em um só corpo e mente), Mo.
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moestadeferias · 30 days ago
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Challengers não é um filme sobre tênis.
Olá, Vizinhança.
Esse texto é, provavelmente, a coisa mais diferente que já passou por aqui. Ele não foi feito pensado nas configurações, estilo de escrita ou qualquer outra coisa que seja uma característica exclusiva desse meu canto particular no mundo. Espero que entreguem muito amor a ele mesmo assim, mesmo sem minhas piadas sem graças e observações pontuais e opiniões não solicitadas, já que tenho certeza de que meu professor de impresso não vai.
Com direção de Luca Guadagnino e roteiro de Justin Kuritzkes, Challengers (Rivais, na distribuição brasileira) é um longa cômico esportivo e romântico dramático, com o elenco principal formado por Zendaya, Mike Faist, e Josh O’Connor e tendo um teaser um tanto quanto escandaloso, com sequências de beijos quentes e partidas agitadas ao som de Maneater, da Nelly Furtado, o roteiro se mostrou menos visualmente pornografico do que o esperado; o que me parece ser uma assinatura de Guadagnino. A receita para o sucesso é uma trilha sonora digna de Oscar, que, inclusive, esnobou a produção em todas as categorias possíveis, uma equipe de efeitos visuais que usa o ponto de vista da bola para criar um ritmo eletrizante, uma montagem que mescla o passado e o presente, ambos cheios de tensões, e muitas analogias sobre tênis e relacionamentos.
Durante os cento e trinta e dois minutos do filme, acompanhamos as relações conflituosas de Tashi, Art e Patrick; todos apaixonados por tênis, e, em algum grau, entre si. Art e Josh são melhores amigos desde a infância, conhecidos como fogo e gelo, uma dupla dentro e fora das quadras, Tashi é uma estrela com um futuro brilhante interrompido por uma lesão que a força a continuar sua carreira como treinadora, e não como atleta. Depois da entrada de Tashi na cena, a relação dos amigos passa a girar em torno de algo além de raquetes e bolas verdes. Ao que compete a suas versões do presente, ou futuro, Tashi se torna a treinadora um tanto quanto amargurada de seu marido, Art, eles têm uma vida cheia de luxos e uma filha amorosa, enquanto Patrick está dormindo em seu carro depois de ter o cartão de crédito negado ao tentar pagar por um hotel. Vidas completamente diferentes, impactadas pelos mesmos acontecimentos de suas juventudes.
Guadagnino usa a quadra como apoio para toda a confusão, intriga e desejo entre as três personagens. O tênis é a linguagem do poder, uma partida tem muitos mais possíveis resultados do que apenas ganhar ou perder. A primeira partida de Tashi, a quem só importa a vitória, dentro e fora da quadra, por exemplo, é o começo do desejo de ambos os garotos. É a exibição de seu talento, como tenista e mulher, eles não precisam trocar nenhuma palavra com ela para se encantarem, quase não conseguindo tirar os olhos de seus movimentos graciosos e bem demarcados, é a demonstração perfeita do que os aguarda na vida adulta; Tashi concentrada em sua única paixão verdadeira, o esporte, enquanto os dois orbitam ao seu redor, seguindo suas vidas de acordo com as escolhas dela. Logo após temos uma partida entre Art e Patrick, que ganharam como dupla pouco antes de conversarem pela primeira vez com Tashi. Essa partida decide quem vai conseguir o número da encantadora Tashi, ou seja, quem terá vantagem na conquista, ela é uma transição entre a dupla que se entende pelo olhar e a que briga incansavelmente pela atenção da mesma mulher, é quando o tênis deixa de ser uma cooperação e se torna uma competição.
A prodígio se relaciona, romantica e sexualmente, com os dois ao longo dos anos, o que cria diversas dinâmicas diferentes; temos Tashi e Art (marido e mulher, o que deveria ser um relacionamento de igual para igual, mas também treinadora e atleta, o que transforma a dinâmica em uma hierarquização), Tashi e Patrick (ex namorados, ex amantes. Ambos bons em quadra como ninguém), os três juntos (a luta pela conquista. A diversão de Tashi, o entretenimento de ver dois tenistas tão talentosos brigando por sua atenção). Alguns espectadores apontam também a tensão entre Art e Patrick, muito bem calculada pelo roteiro para nos fazer questionar a natureza dessa amizade. Como assistir a cena do churros ou do chiclete sem enxergar um subtexto homoerótico? E como esperar que essa relação de tantos anos encontre forças para continuar depois de todo o furacão Tashi?
O tênis dita o ritmo dos acontecimentos, mas nada é apenas sobre tênis. Pouco antes da lesão que demarcaria o rumo de seu futuro, Tashi está namorando, à distância, com Patrick, enquanto estuda na mesma universidade que Art, mantendo assim os dois em sua rede de poder. Patrick faz uma visita para assistir a namorada jogando, e mesmo em um dos poucos momentos de intimidade dos dois, entre Patrick jogando em um circuito pelo país e Tashi vivendo como universitária, ela não para de pensar ou falar sobre o esporte. Tashi não tem interesse no amor de Patrick, ou na falta dele, ela quer o jogo, o relacionamento logo chega ao fim; em um surto de gritos e remorsos de uma Tashi ferida fisicamente, ainda na enfermaria após a lesão que mudaria sua vida, e um Patrick abalado emocionalmente. Mais tarde, é o pedido de Art para ser sua treinadora que leva Tashi a se relacionar com ele. Todo o roteiro é sobre o poder, sobre o jogo de Tashi. É quando ela acredita que voltar às competições menores pode salvar a carreira de seu marido que Patrick volta para suas vidas, o que nos leva a uma partida inevitável entre os ex melhores amigos. Tashi sabe que Art não tem chances de ganhar; mesmo tendo a fama e a influência, ele nunca foi melhor que Patrick dentro da quadra, nunca ganhou uma partida oficial contra o amigo, o que talvez explique os motivos que a levam a voltar para Patrick tantas vezes, tudo o que ela precisa é um caso de uma noite, uma briga e um pedido para que Patrick perca de propósito; e os dois amigos parecem se lembrar de tempos em que a influência da magnetica, egoísta e poderosa Tashi não era uma barreira entre eles na quadra.
A partida final na realidade é todo o filme, o começo e o fim, recortes misturados entre a tensão dos sentimentos ruins e da saudade no presente com os momentos em que Tashi cruzou os limites de Art e Patrick no passado. Os quatro últimos minutos são mais sobre movimentos do que sobre falas. O jogo está equilibrado, Patrick leva o primeiro set, Art o segundo; quando descobrimos sobre seu plano de aposentadoria, o que não deixa Tashi empolgada. Na sequência final, Patrick precisa segurar o saque; ou Art ganha. Por um momento nos parece que Patrick vai seguir o pedido de Tashi, entregar o jogo e deixar que Art seja o vencedor, o que não é uma garantia de que ele vai continuar com sua carreira e tentar vencer o US Open, único prémio que falta em sua coleção, e então Patrick troca seu saque assinatura, o tomahawk, e põe a bola no pescoço da raquete. Essa movimentação não parece nada, mas diz mais do que imaginamos quando assistimos com o pensamentos de que aquela sequência é apenas uma partida de tênis. Nos dias dos dois como uma equipe, Art diz a Patrick que se tivesse feito sexo com Tashi, tudo o que precisaria para confirmar é jogar a bola para o pescoço da raquete e fazer um saque padrão; a repetição desse movimento conta a Art que Patrick e sua esposa tiveram um caso na noite anterior. Art, abalado e furioso, parece pronto para abandonar a quadra, o set final chega a 6-6. O resultado é um tie-break, formato usado para desempate, com Art tocando a rede, ato proibido no esporte, e um abraço entre os amigos, com Patrick segurando Art firmemente, a rede entre eles, enquanto Tashi assiste tudo da arquibancada, finalmente podendo experimentar as sensações que tinha enquanto jogadora, mesmo que agora em uma configuração nova, através da dramaticidade do embate a sua frente. Tashi queria o jogo, não apenas uma partida, mas o jogo, e ela consegue no final. Sua ambição levou os três até aquele momento, e existem diversas teorias sobre o que aconteceu após o abraço caloroso e o alto grito de “Vamos Lá” que ela despeja de seu assento, mas, sinceramente, o que me importa é como tudo trabalha a favor da criação da persona Tashi Donaldson como figura de poder.
Beijos, Mo!
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moestadeferias · 1 month ago
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Não sou religioso, mas acho que Deus fez você para mim. 
Olá, Vizinhança. 
Esse texto, apesar de ser nomeado depois de "Pessoas Normais", de Sally Rooney, é mais sobre encaixes do que sobre o romance desconexo e desconversante de Marianne e Connel. Você não acha lindo como duas almas vagam por aí, vivendo suas vidas que, às vezes, podem estar interligadas por uma sala compartilhada na escola ou por um esbarrar de ombros na presa do viver, até que elas começam a viver juntas, aprendendo e decorando cada canto e peculiaridade da outra? E elas se encaixam por terem sido feitas para isso, ou por terem se forçado e contorcido até encaixar. 
E será que existe mesmo essa coisa de encaixe de almas, corpos e formas? Talvez o amor não precise ser como a junção de peças de um quebra cabeça para ser amor, as pessoas costumam ser mais delicadas e complicadas e bonitas e ignorantes do que as peças do meu quebra cabeça da Barbie e o portal secreto, que deve estar pegando poeira em algum lugar na casa da minha mãe, o que eu espero que não aconteça com o meu amor. Eu sei que corpos se encaixam como se fossem feitos um para o outro, como se nada fora daquele aperto quente importasse enquanto ele acontece e o mundo some, desfocado no plano de fundo, e quando ele não acontece você gasta todos os seus nanosegundos pensando em seu fervor e conta as horas para que ele aconteça novamente, mas isso significa mesmo algo? Encaixar corpo com corpo vale o suficiente para ser amor ou algo além de um encaixe? Se sim, então o que? O que poderia ser menos que amor, mas mais do que um simples encaixar de dois corpos? 
De fato não sou tão íntima de Deus, mas, uma vez, tive certeza de que alguém foi feito para mim. Hoje somos pessoas diferentes, e, como não posso falar pelos outros, direi apenas que eu mudei de cabelo, de endereço, de sapatos e de pedido de café. Mudar quem você é significa perder o encaixe, por que ele vinha de quem você era antes, e talvez acabe valendo a pena se mudar e adaptar para o salvar, ou entrar em um faz de conta de que tudo permanece igual, com as meias na mesma gaveta e nenhuma taça quebrada faltando na cozinha, mas não era algo que eu estava disposta a tentar fazer. O experimentar desse encaixe foi importante, e não apenas pelo sabor doce enquanto durou, me fez entender como é sim possível que duas almas e dois físicos sejam feitos para se entregar e se encontrar. 
Minha experiência esbarrando em outra alma em uma esquina qualquer da vida rápida e ríspida me ensinou que nem todo encaixe é amor, que amor não é apenas encaixe, é uma colagem de revistas velhas e glitter que vai parar em todo lugar e canetinhas que falham o tempo inteiro, e que encaixamos em mais pessoas do que imaginamos. São tantos peixes no oceano, ou pessoas no planeta, tanto faz, que não faria sentido se existisse apenas um amor para cada um de nós. As relações vão acontecer, e de vez em quando não devem ou podem durar para todo o sempre, ou até o fim de uma vida, já que a única coisa que parece de fato durar para sempre é nosso lixo, e de vez em quando elas não vão ser românticas. No fim de Naomi & Ely e a lista de não beijos, Ely e Naomi se deitam juntos após fazerem as pazes e dizem boa noite, para eles e para todos os envolvidos no caos de suas vidas, e Ely aprende que vamos ter muitas almas gêmeas durante nossas vidas. Eu aprendi o mesmo.
Beijos, e espero que você possa experimentar um amor e um encaixe. Mo!
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moestadeferias · 2 months ago
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Se jogue pelado de um penhasco.
Olá, Vizinhança. 
Eu acredito fielmente que o mundo nunca esteve pronto para entender a delicadeza da vulnerabilidade de Skinny Dipping, mas Sabrina Carpenter não precisa se preocupar, eu entendi todo o Emails i can't send. 
Você vai terminar o seu relacionamento, e em uma quarta feira, que é só mais um dia da semana e não tem o apelo de uma quinta, que é tão perto do final de semana, ou de um domingo, que é amargo pelo começo de mais uma semana, você vai viver sua vida como em uma quarta feira, até que algo nos cosmos vai se desalinhar. A vida poderia continuar depois que você ouvisse o nome do seu ex acompanhado do seu pedido de café de sempre, que você ainda tem memorizado, afinal é assim que o jogo do amor funciona, mas ela não continua. O momento é aquele, parado como provavelmente foram os últimos momentos dessa relação ruim, e, por algum motivo, ele resolve começar uma conversa.
Essa é a parte perigosa da vida, essa conversa. Ela leva a um convite, que por acaso inclui um lugar que era de vocês durante o relacionamento. E a nostalgia? Podemos nos sentar em uma mesa diferente. O perigo. Ele é doce, é uma armadilha tão bonita o perigo da nostalgia. E mesmo com uma promessa de não falar do passado, ele está ali. Dessa vez em forma de futuro, em forma das diferenças no corte de cabelo dele, ou na mudança da sua bebida na hora de fazer o pedido, ou em como o sol entrando pela janela beija as bochechas dele com mais intensidade agora ou nas infinitas possibilidades que podem ou não ter acontecido em outras linhas temporais, planetas e vidas. Ele podia não ter sido um babaca, vocês podiam ter adotado um cachorro, você podia nunca ter lido mensagens dele com outra pessoa. E esse texto parece pessoal demais agora, o que talvez seja uma prova de que sou boa inventora. 
O mergulhar pelado é gelado, sensível e aterrorizante, por que, e eu já escrevi um texto sobre isso, a água é traiçoeira. Sabrina escolhe aceitar essa revisita de sentimentos antigos, de momentos que ficaram no museu das memórias, ela fica pelada e mergulha. Skinny Dipping não é se despir de roupas, e talvez possa ser isso também, é abrir as portas de uma fortaleza muito bem fortificada e segura. É esse abrir portas que dá vida ao último mergulho em tua piscina, uma das minhas playlists favoritas. Ela não é exatamente sobre uma relação romântica, é apenas sobre uma relação e como eu preciso aceitar nadar pelada por ela. Para Sabrina e para mim o nadar pelada foi um momento de maturidade sobre um relacionamento que já foi intenso como o alto mar, o nadar pelada é estar disposta a ser vista em nome dos momentos que uma relação me deu.
Eu preciso de vulnerabilidade, não para salvar essa relação, só para a honrar. Então eu me jogo pelada de um penhasco, tomo o risco de ser vista desse jeito, sem minha armadura de diamantes, e me despeço de tudo que vivemos. Enterro um relacionamento que poderia ter sido grande, que talvez até tenha sido enquanto durou, descobri recentemente que nem sempre as coisas tem que durar para serem épicas, e sigo vivendo. 
Seguir vivendo é a parte fácil quando você aceita o fim do ciclo, e espero que esse momento da minha vida seja essa aceitação. 
Beijos, e bom nado, Mo.
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moestadeferias · 2 months ago
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Quem você é quando não está performando?
Olá, Vizinhança.
Revisitando minhas íntimas, desbotadas e imperfeitas memórias, não encontro um único momento em que eu não estivesse performando para alguém. Eu vivo pelas expectativas dos outros, mesmo com a pose de quem não se importa. Não faço por querer que todos gostem de mim, costumo não gostar de todos mesmo, e sim pelo medo de abaixar a guarda e descobrir que sou alguém de quem nem mesmo eu gosto. 
Eu pinto meu cabelo desde os onze para não ser mais uma entre um agrupado de outras almas iguais, tristes e perdidas. Eu uso um único brinco, embora tenha quatro furos nas orelhas, por não ter coragem e disposição de encher meu corpo de piercings. Eu tenho sono e fome como se tivesse ajudado na construção do Império Otomano, o que significa que tenho preguiça ao mesmo passo que tenho vontade. Eu como o amor como cereal no café da manhã e transformo ele em um canteiro de beladonas.
Chorando flores, escrevendo um diário digital, bebendo mais coca cola sem açúcar do que o recomendado por nove a cada dez nutricionistas e tendo crises sensoriais com o barulho desesperador da risada dos meus colegas de turma. Essa sou eu quando, acredito, não estou performando. Minha alma tem cheiro de alfazema, meu cérebro faz sons de risadas maléficas de vilões de animações e em outra vida eu fui um gato tricolor criado em apartamento. E tudo isso é performático, até quando não é. 
Este texto não é sobre a performance da era das redes, apesar de sentir uma forte inclinação a escrever sobre, é sobre a persona que assumimos quando sabemos que temos telespectadores se entretendo com a maneira com que atravessamos a rua ou se vamos ter coragem de falar que gostamos de algo quando todo nosso grupo de amigos chega a um consenso sobre a falta de qualidade do objeto. Sempre fui muito firme sobre o que gosto ou não, o que provavelmente foi o que fez meu pai não acreditar quando em uma noite comum eu decidi que já não mais odiava suco de goiaba e acabei com um copo inteiro em poucos goles. Minha performance nunca foi sobre esconder meus gostos peculiares, como acredito ser a de boa parte das pessoas, sempre foi sobre amar. Vou me restringindo para caber na visão limitada de quem amo, colocando minha grandeza debaixo da cama ou comendo as bordas de minhas folhas até que meu jardim não seja tão vibrante quanto o do vizinho, não estou falando do seu, caso estivesse diria “da vizinhança”. 
Passei anos jogada em uma gaveta, esquecida por uma versão minha que gostava do conforto do amor do outro e não conseguia pensar em mais nada em um horizonte além disso, agora fora dela, não mais preciso performar para ser amada. É a esquisitice do ser que hoje me atrai. Fazer as coisas sem pensar em como alguém ficará com os golpes da contra ação, pintar e repintar meu corpo celeste em uma paleta de cores que agrade somente a mim. Se não amo, não performo. Não me ocupo pensando no que vestir, em como prender o cabelo ou em como pedir ou não espaço. 
Hoje já não tenho medo de não gostar da minha versão não performática, e ainda procuro um nome para ela. Ela é a mais monótona entre todas as minhas versões, mas também é a menos ansiosa (ha!), e me permitiu viver em momentos que a performance atrapalha o pensar e o aproveitar. 
E você, Vizinhança. Quem você é quando não está performando?
Beijos, Mo.
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moestadeferias · 3 months ago
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Coisas Naturais deságua em mim.
Olá Vizinhança. 
Desde De Primeira, Marina Sena tem meus olhos nela. Essa mulher é de uma audácia e fome que apenas um artista de verdade poderia bancar. E se Vício Inerente não te provou isso, fica aqui, lê esse texto e escuta Coisas Naturais, terceiro álbum de estúdio da mineira.  
A abertura do disco é com a autointitulada e Numa Ilha, single que foi lançado no fim de 2024 com direito a um clipe protagonizado por Johnny Massaro e planos sequências sensuais do galã com Marina. Logo depois temos a que eu mais ouvi até o momento, Desmitificar, que é urgente, faminta, intensa e livre, uma promessa de momentos inesquecíveis. Vou fazer um carnaval na sua vida tão sem sal. 
Anjo é o que eu acredito ser o auge de qualidade que um artista brasileiro consegue chegar, me lembra Gal, me lembra os dias de glória da música popular brasileira. Em Anjo Marina não é uma boa garota, mas é uma garota de fé, que quer carregar o seu amor como um amuleto. Meu Patuá, Meu azul-pincel. Patuá é uma espécie de talismã de proteção e boa sorte. Apesar de admitir estar disposta a se entregar, e saber que vai ser amada pelo seu anjo, Marina repete por diversas vezes que não vai ser dele. Mesmo com um amor tão lindo, ela parece não estar pronta para perder uma parte de si e de sua individualidade ao se tornar de outro alguém.
Sem Lei nos mostra uma necessidade de ser honesta. Marina diz que seu interesse amoroso só quer viver no raso, que ele não quer a ver descalça, o que eu encaro como uma metáfora para estar vulnerável, nos mostrando como os dois querem coisas diferentes. O início da faixa narra ações de Marina que foram ignoradas, mandando mensagens ou flores e não recebendo respostas. SENSEI e Lua Cheia tem os instrumentais mais interessantes do disco, SENSEI tem a letra bem curta e fala de um homem de mentalidade pequena e visão limitada que tem que aprender a enxergar sua própria insignificância, enquanto Lua Cheia, com um ritmo bem brasileiro, é a música perfeita para se dedicar para uma paixão nova e inesperada que te faz viajar em memórias e vontades durante o dia.
Combo da Sorte tem muito do Reggae. Fala sobre se entregar, sobre estar viciada, sobre um amor que parece um banho de mar, que parece até mito de tão bom. Mágico é um pop dançante, é leve e descontraída, um convite a viver uma vida de pequenas coisas valiosas. CARNAVAL, a menor entre as treze faixas, tem funk e uma relação que é a cara do período do ano que o deu nome. Marina diz que só planeja ligar para seu interesse em abril, já que é carnaval no Brasil, mas ao encontrar com ele no festejo popular, é difícil resistir a seu calor. Entre todos os finais de álbuns de Marina, Ouro de Tolo é a minha última favorita, o que é justo quando pensamos que seus adversários são Santo e Pra Ficar Comigo, com uma pitada de samba e bossa e uma produção de encher os olhos.
Coisas Naturais é refrescante, é tropical como o Brasil e fervoroso como a América Latina. Picante, sensual. De uma qualidade vocal impressionante, sendo a primeira vez que Marina trabalha esse quesito com mais atenção, e de um abraço forte em sua espiritualidade, que é visitada durante diversas vezes ao longo dos quarenta e três minutos do disco. Com participações especiais de Gaia, Nenny e Çantamarta, que Marina revelou terem sido escolhidos por uma vontade sua, e não uma questão de venda, e produção de Janluska, que a acompanha desde seu primeiro trabalho solo. 
As promoções para o MS3 contaram com lambes contendo trechos das faixas e um quebra cabeça com uma foto da cantora em são paulo. Sua capa, montada com diversas fotografias de ensaio extremamente maximalista feito pelas lentes de Marcelo Jarosz, traz duas das maiores referencias de Marina, Gal Costa e Marku Ribas.
Existe uma promessa de turnê em breve, e eu espero poder viver cada uma dessas faixas lindas ao vivo na concha acústica, em Salvador.
Beijos, Mo.
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moestadeferias · 3 months ago
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O MANUAL DA PAPITINHAS
Olá, Vizinhança. 
Esse texto é para Artur, meu amigo. O título foi pedido dele, vocês não vão achar papitinhas um termo engraçado, mas, como é uma piada nossa, ele vai ficar bem feliz com isso. Essa é a primeira lista que não envolve minhas leituras ou músicas favoritas, e não acho que alguém além dele ou nossos amigos próximos vai sentir vontade de ler, mesmo assim, se você ler até o final e achar que esse compilado de motivos é o bastante para se apaixonar por Artur Moraes, o numero dele é sete cinco nove…
1. Artur tem um grandioso senso de humor, apesar de tentar me irritar na maior parte do tempo. Ele é engraçado de um jeito meio natural, e eu não diria isso se não fosse verdade, eu acho.
2. Artistas, quem não gosta deles? Artur é uma das pessoas mais talentosas que eu conheço, e escrevo isso porque uma vez que você conhece o traço de Artur e sua personalidade, é impossível desvincular um do outro. Os desenhos de Artur tem cara de Artur, as músicas que Artur toca tem cara de Artur.
3. Às vezes, temos que saber nossos limites e nos afastar de certas situações. Eu aprendi isso com Artur. Ninguém parece se conhecer mesmo, se conhecer de verdade, mas eu admiro que ele se conheça o bastante para reconhecer quando e onde consegue estar com outras pessoas. Quer dizer que você pode aprender uma coisa ou outra com ele.
4. Pessoas fáceis de agradar são legais, e com algumas bananas você pode fazer a semana dele. Não é demais deixar alguém de quem gostamos felizes com coisas que, para nós, são pequenas, mas para elas são incríveis?
5. Artur tem um bom gosto para música e, às vezes, filmes, apesar de ser fã da Fresno, e talvez, se você for louco como ele, até ache isso legal. Ele até compensa esse deslize sendo fã de Scott Pilgrim vs The World, o que, se você conhece Artur, sabe que é uma coisa muito ele. Infelizmente se você busca alguém com bom gosto para livros, vamos estar te devendo; tenho quase certeza de que nenhum aluno de cinema e audiovisual sabe ler.
6. Depois de conversar com nossos amigos sobre o texto, me senti meio obrigada a colocar esse tópico. Artur é guitarrista, e às vezes isso pode ser útil.
Espero que Artur fique feliz com o fato de que eu, de fato, escrevi tudo isso. Não espero que vire algo recorrente, apesar da ideia dos meus amigos usarem meu blog como tinder me parecer muito divertida. 
Beijos, Mo.
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moestadeferias · 3 months ago
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19/03
Olá, Vizinhança. 
Ano passado, deixei meu Nathaniel queimando na minha Baltimore com o meu pai. Meu pai está bem, não precisa se preocupar com ele, estou apenas dizendo que fiz a mesma idade que Neil Josten fez. Foi simbólico pra mim poder deixar meu Nathaniel queimar. No começo da adolescência, quando li All For The Game pela primeira vez, e não recomendo que faça isso se estiver no começo da adolescência, não imaginei que aos dezenove também teria uma versão minha para queimar. Acho que, principalmente, não imaginei que seria eu a queimar uma versão minha. 
Quando entrei na faculdade, dois anos atrás, ganhei um apelido novo. Monte. Apelidos novos eram comuns para mim. Bia, Bee, Bear, Beah, Be. Sempre uma variação do meu segundo nome, que nunca pareceu me pertencer de fato, mas, de alguma forma, ainda era mais confortável que o primeiro. Demorei muito para perceber que talvez esse incômodo com meu próprio nome fosse um incômodo com questões de gênero. Aos dezesseis anos eu já entendia que gêneros binários eram uma invenção, uma herança que, por direito e por querer, não me pertence e não me conforta. Aos dezoito, entendi que não me importa que civilização está certa ou errada sobre gênero. Gênero não existe, assim como um monte das coisas que o homem inventou por teimosia. Então, quando nasce Monte, eu queimo meu Nathaniel. Passo a ser Neil. 
Beatriz ainda existe. É o nome que minha mãe escolheu para mim, e eu ainda sou a pessoa que ela deu à luz e criou. Não posso jogar fora tudo que já vivi, apenas por ter, em partes, morrido. Mas Monte passa a ser eu. Não mais um apelido, eu por inteiro. E quando minha mãe me chama de Monte pela primeira vez, fogos, que seriam o suficiente para uma década de viradas de ano em salvador, sem corte de gastos e lavagem de dinheiro nem nada, explodem em mim. Montenegro veio dela, o sobrenome e aquela coisa pequena e que ela teve tanta paciência para educar. Mesmo reconhecendo a importância de Beatriz, coloquei fogo no meu Nathaniel e me sentei na areia da praia; que agonia minha pele e irrita minha mente. Como Neil fez com os restos mortais de sua mãe, fiquei assistindo à queima e sentindo o cheiro de carne e fumaça, mas, diferente dele, tinha muito alívio misturado com a tristeza de perder alguém. 
Esse texto não é exatamente sobre minha confusão com gênero, não queimei apenas a parte de mim que o mundo ditou como deveria ser assim que nasci, ele é, também, sobre uma pessoa por inteiro. Uma das coisas mais difíceis que já fiz foi abandonar uma versão minha que tinha tanta certeza de ser a mais esperta. Acho que ela foi, por um tempo, mas existe uma prepotência que apenas nós, jovens, podemos ter. E foi essa prepotência que me fez queimar quem quer que aquela Monte fosse. Talvez, um dia, também seja ela que vá me fazer queimar o Monte de agora. Senti muita raiva daquela versão minha, muita mesmo, hoje sinto uma certa gratidão por ela. Perdi e ganhei amigos graças a ela, seus olhos viram lugares lindos e seus ouvidos escutaram boa música. A raiva ainda está em algum lugar escuro do meu coração. Pelas vezes em que não comi bem e pelos amigos incríveis que sua mania de ser grande me custou. Não dá para mudar nada disso e não existem motivos para pensar no ruim quando, em alguma esquina, eu esbarrei em uma versão melhor. 
Meu bolo de dezenove teve os escritos Happy 19th bday junior. Como os que fizeram no espelho para Neil. E, algo que nos livros é uma violência, virou, para mim, uma libertação. Sinto que esse texto deveria ter nascido antes, e não estou falando do fato de eu estou escrevendo ele antes do meu aniversário de vinte, quando ele vai ser postado, mas talvez eu só não conseguisse enxergar como os dezenove foram uma queima lenta do meu Nathaniel. No fim não importa quando ele foi escrito, no meu aniversário de dezenove ou um mês antes dos vinte. O que conta é o fato de que tive coragem de escrever. É meu aniversário, não agora enquanto escrevo isso, mas provavelmente enquanto você lê, e, pela primeira vez em vinte anos, acho que gosto o suficiente da minha atual versão para dedicar a ela um dos meus textos.
Beijos, e feliz aniversário para todos os amigos com quem divido mês de nascimento, Mo!
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moestadeferias · 4 months ago
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QUINZE HORAS EM UM ÔNIBUS, TER TRINTA ANOS DE IDADE.
Olá, Vizinhança.
Por motivos de forças maiores, a nova edição dos jogos vorazes, conhecida também como novo semestre da UFRB, tive que retornar das minhas belas e extensas férias. Apesar da ansiedade servida com o suco de acerola, que por sinal não sou nem um pouco fã, no meu café da manhã, foi uma viagem legal. Com legal quero dizer sem homens estranhos me importunando, sem ficar sem bateria e tendo uma boa leitura para me entreter. 
Apesar de já ter deixado a casa da minha mãe para me aventurar pelo mundo algumas vezes antes disso, essa foi a primeira vez que fiz isso sozinha. Como sou famoso pela boca nervosa que normalmente encara uma terrível dificuldade em permanecer calada, culpe meus genes!, e pelo cérebro que nunca para de funcionar, foi um tempo terrível para estar sozinha, torci muito para meu companheiro de assento ser legal, então poderíamos começar uma bela amizade, mas, felizmente (?), fui sozinha.
Fiquei pensando no que escrever acerca de minhas férias. Seriam meus banhos no mar paraibano uma boa história? ou minhas aventuras entre Limoeiro, Passira, Lagoa do Carro, Recife, Olinda, Paudalho e onde mais eu tenho parentes interessantes? No fim, resolvi não escrever sobre nada disso. Acontece que, apesar do tempo muito bom na praia, os filmes na fundação e os dias de preguiça no sofá da minha madrinha, tem algo que vem me comendo lentamente por dentro nos últimos dias. Meus trinta anos.
Eu sei, vou fazer vinte ainda esse mês. Eu avisei que meu cérebro nunca para de funcionar, acreditar ou não nesse fato tem que vir de você. A coisa é que eu nunca me imaginei tendo vinte anos, envelhecer sempre me pareceu horrível. Por toda minha adolescência, entendi muito bem os motivos que levaram Sereia a fingir seu assassinato apenas para partir dessa com sua jovialidade intacta.
Ultimamente, envelhecer não tem me parecido tão horrível. Eu ainda tenho medo do momento que o Alzheimer, comum até demais na minha família, vai me alcançar. Eu ainda não superei o fato de que a maior parte das coisas que quero fazer me parecem mais bonitas quando se é jovem. Mas ultimamente, envelhecer não tem mesmo me parecido tão horrível. De verdade. 
Eu vou me formar na faculdade em dois anos, em duas, inclusive!, e vou ter um emprego, coisa que graças ao meu mundinho particular de privilégios não preciso ter agora, como boa parte dos meus amigos precisam. Vou ser adulto, e podia ser pior. Provavelmente vou ter mais uma incontável quantia de crises as duas da manhã, deitada na minha cama, no escuro do quarto que nunca tive que me esforçar para ter na casa que não pago para morar, e vou pensar em como não vou ser jovem, e de certo modo tão bonita, para sempre, e vou superar isso. Espero. Não quero imaginar um dia depender de alguém para tomar banho ou não poder levantar e decidir andar por aí, mas envelhecer não pode ser tão ruim, não é? E pensando agora, parece que acredito que vou ser uma adulta de trinta anos precisando dos cuidados de alguém com oitenta. Você, Vizinhança, tem que me dar um desconto. Não vamos esquecer que até os quinze eu não conseguia me imaginar tendo vinte. 
Queria poder escrever sobre como agora, na casa dos vinte, e cercada de pessoas e coisas e lugares que eu não conhecia aos quinze, quero fazer trinta e como vou achar isso bonito. Seria mentira. E, apesar de gostar de mentiras, não quero mentir para você, que já me conhece bem. Isso se você ainda lembra da minha cor favorita ou da minha preferência para o clima. Queria mesmo era que existisse alguma fórmula mágica que pudesse me deixar jovem para sempre. Aceito sugestões. Mordida de vampiro, feitiços que não envolvam sacrifício animal (estou aberta a receitas com sangue de virgens) ou composto químico suspeito. Sou experimentalista, qualquer ideia é bem vinda. 
Enquanto suas sugestões não chegam, a minha caixa de mensagens está aberta, vou tentar trabalhar minha imaginação. Talvez aos trinta eu ainda esteja me aventurando por aí, ou talvez eu vire proprietário de um bar, como os meus avós paternos, com certeza não estarei rodeada de mato como meu avô materno, talvez eu esteja em um escritório, escrevendo para pagar minhas contas. Existem muitos Talvez, e acho que devia ser grata por hoje em dia conseguir pensar neles com certo carinho, e uma incerteza, como nunca fui capaz antes.
Minhas férias chegam ao fim, mas esse blog não. Beijos, Mo.
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moestadeferias · 4 months ago
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A ERA DE OURO DAS SUBCULTURAS.
Olá, Vizinhança. 
Você já se perguntou como os anos 70 foram o epicentro do nascimento de tantas subculturas? Sempre me encantei com todas as coisas que nasceram, aprenderam a andar ou simplesmente se reinventaram como um jovem adulto entrando nos seus vinte e poucos anos durante essa década. A situação sociopolítica do mundo andava uma bagunça. Ditadura militar brasileira, guerra do Vietnã, crise do petróleo, golpe militar no Chile e na Argentina, revolução islâmica no Irã. Censura e repreensão são as palavras para descrever um período histórico tão conturbado, ah, e, claro, revolta juvenil. As tragédias políticas sempre estiveram por trás dos surgimentos de subculturas, a juventude é sempre uma pulga incomodando as grandes potências mundiais e seus investimentos bilionários em guerras em países ditos de terceiro mundo. 
O conceito de cultura é um grande tópico a ser discutido, e em palavras corridas no blog nada sério de uma futura pesquisadora apaixonada pelo estudo de manifestações culturais, vamos ler cultura como um agrupado de hábitos, crenças, expressões, dialetos e outras maneiras de se passar para as próximas gerações uma história. Cultura é algo que é aprendido desde o momento em que nascemos, e ela se organiza a níveis de grandeza. Existe a cultura da sua casa, com seu núcleo familiar, e a da sua família como um todo. Existe a cultura da sua comunidade, com os vizinhos e as famílias deles, e a cultura da sua escola do fundamental e do seu emprego quando adulto. 
Sua família tem seu costumes moldados a suas personalidades, um bolo que sua avó faz em toda reunião familiar ou um momento da rotina para dividir um hobbie, e sua comunidade tem costumes moldados às demandas locais, um festejo religioso para celebrar a saúde dos mais velhos ou uma história contada para todas as crianças da região. As subculturas e contraculturas vão contra essas manifestações. Criando suas maneiras de pensar e viver, que por muito não condizem com as crenças dos demais. 
Além das diferenças em relação à cultura, as contraculturas e subculturas também apresentam divergências entre si. As subculturas não costumam se desprender totalmente dos maneirismos dominantes, enquanto as contraculturas buscam novos valores enquanto quebram estereótipos pregados pela dominância. Mas o texto de hoje não é sobre isso. 
Voltando à juventude, cheia de vontade de fazer a diferença, é ela a protagonista dos nossos movimentos que nadam contra a correnteza e criam espaços seguros para aqueles lidos como desajustados, para os que sofrem as margens da sociedade e para os que acreditam em mais do que o sistema capitalista prega. As maiores rupturas no sistema foram feitas pelas mãos da mocidade, e sempre em épocas de crise no mundo capitalista.
Em 1970 o mundo era um cenário pós apocalíptico. O Reino Unido, industrial e sobrevivendo pelas mãos de uma classe trabalhadora fadada a vidas miseráveis, estava sendo diretamente afetado com a crise do petróleo. Medidas radicais como a semana de três dias, onde o consumo de eletricidade, que no momento era majoritariamente proveniente do carvão, foi reduzido, foram implementadas, o conservadorismo estava em crescente ascensão. Nasce então o punk. O punk do Sex Pistols e do The Clash. O punk da atitude hostil e da música barulhenta, do incômodo às autoridades e dos questionamentos sobre a vida sem glamour nas grandes cidades. 
O movimento punk era uma espécie de resposta ao rock progressista e limpo que tanto agradava as gravadoras. Com músicas mais simples, barulhentas e que traziam em suas letras questionamentos acerca de problemas sociais. Deus salve a rainha, seu regime facista fez de você um imbecil. Dizia o grupo de meninos brancos e pobres que com um único disco chegou ao topo das paradas. Os Sex Pistols, com assinatura de Vivienne Westwood, figura icônica e que protagonizou diversos momentos chocantes para os tabloides, estampavam a cara da rainha com alfinetes em seus olhos e boca em camisetas enquanto cantavam sobre aborto, drogas e miseria. No terceiro álbum de estúdio do The Clash, Londres faz um chamado. Um recado de alerta sobre a falta de valores que o capitalismo insere na indústria musical, retirando os significados da arte, sobre a guerra fria e um possível desastre nuclear e sobre a perda da individualidade. Um convite à juventude, para uma organização contra todo um sistema maior que todos separados, mas não mais poderoso do que todos juntos.
A onda post punk, quando o punk parecia ter parado de ser “cool”, e sua expansão para além da indústria fonográfica, já no fim dos anos 70, traz com ela o gótico. O expressionismo, os bordéis e o decadentismo são algumas das fontes de inspiração dessa subcultura, com roupas em preto e tons de vermelho ou lilás e muito shock value. Outra inspiração do gótico foi o glam rock, de David Bowie e da liberdade. A androginia, a sonoridade do rock, a literatura e a poesia eram a ligação entre Bowie e a subcultura gótica. A passagem do tempo e as adaptações da comunidade para outras localidades mudou muito o que um dia foi o gótico, e, hoje, podemos encontrar diversos subgrupos vindos todos de um único espaço.
O gótico tem um relacionamento sólido com o cinema. Filmes como Rocky Horror Picture Show, Beetlejuice, Elvira e Drácula de Bram Stoker são alguns dos exemplos de manifestações goticas no audiovisual. Existem também filmes que foram criados quando a difusão de ideais góticos vindo do glam rock e do new wave ainda não era algo, como Nosferatu, que tem uma ambientação sombria, temáticas tidas como proibidas e foi um dos primeiros do segmento terror no cinema. 
No Japão, que por natureza sempre foi lar de um falso moralismo e conservadorismo exagerado, as gyarus ganhavam as ruas. O nome veio de uma marca de jeans, e as meninas desse grupo usam bronzeado artificial, muitas minissaias, cabelo tingido, maquiagem pesada e sapatos de plataformas. O desprezo pelos pensamentos e regras rígidas do país as gerou fama de promíscuas. Uma observação sobre as gyarus é que o termo começou a ser usado da década de 70, descrevendo essas garotas jovens e que não estavam satisfeitas com o conservadorismo e uma vida presas ao papel que o gênero feminino tinha na sociedade, mas muitas dessas marcas registradas da comunidade só passaram a ser adotadas nos anos 90. 
Outro grupo de garotas japonesas que desafiava as normas culturais são as famosas lolitas. Não de um jeito Nabokoviano, podemos falar sobre isso em um texto futuro. Com uma aparência de bonecas de porcelana, misturando a era vitoriana e o rococó, a comunidade nasce já no começo dos anos oitenta. Ao longo dos anos foram se criando diversas subcategorias, com diferentes fontes de referências para o guarda roupa cheio de babados e camadas, que vão do gótico até roupas inspiradas completamente nos uniformes de marinheiros. Ao contrário da promiscuidade atribuída às gyarus, as lolitas buscam a delicadeza extrema, para seu próprio agrado, e não por ser o esperado da feminilidade, e são vistas como um grupo de práticas subversivas. Mesmo que as lolitas, ao menos as japonesas, visto que hoje a subcultura alcançou diversos espaços fora do eixo Japão, e muitos desses usam o movimento com um traçado com suas referências geopolíticas, não protestem segurando bandeiras feministas, os ideais estão ali e podem e devem ser debatidos. 
E um pequeno e breve momento sobre práticas subversivas, elas são usadas por grupos que buscam desafiar e mudar regimes opressivos. Essas práticas foram usadas em momentos como a revolução francesa, que assistiu em primeira mão seu nascimento, e em ambas as guerras mundiais. Elas são caracterizadas pelo uso de meios considerados não convencionais para a quebra de um ideal. Um exemplo é o livro Manifesto Contrassexual de Paul Preciado. 
Também no Japão temos um grupo que gosto de colocar nessa caixinha dos que aprenderam a andar, e não nasceram, nos anos 70, tendo em vista que os Bosozoku já existiam a pelo menos vinte anos antes de explodirem. Com uma comunidade formada por, em média, pessoas menores de vinte anos, os macacões industriais e o automobilismo são suas principais marcas. A atitude revoltada pode ser encontrada aqui também, acredito que  seja ela toda a chave que mantém essas subculturas em funcionamento, junto com motos e carros personalizados, em termos de peças e aparência. As corridas de rua, a tecnologia, a inclinação ao flerte com gangues e o barulho colocaram eles em grandes produções do audiovisual e da literatura, como Windbreaker, Tokyo Revengers e Akira.
As discotecas foram cenário de outro movimento importante da época, a disco music. Calças boca de sino, muitos acessórios, cabelos bem arrumados e passos de dança ensaiados agitavam as noites de sábado de comunidades negras e latinoamericanas. Depois de anos construindo o que seria a base de praticamente toda a indústria musical norte-americana, vendo seus ritmos sendo roubados por artistas brancos, nada mais justo do que a criação de algo feito nas comunidades negras e para as comunidades negras. Chicago e Nova Iorque foram as primeiras protagonistas dessa subcultura, montando espaços seguros para pessoas racializadas e LGBT. 
Essas discotecas da época apresentavam características que ainda hoje são encontradas em casas de shows e boates, como a falta de cadeiras ou mesas, a iluminação e os DJs. O hedonismo carregava o ar, ditava como seria a dança. Durante a semana, esses jovens trabalhavam e estudavam, passando os dias úteis pensando na roupa que usariam no fim de semana e como chamariam seus interesses amorosos para dançar o que no brasil era chamado de música mela cueca, aquelas feitas para se apreciar agarrado a alguém. A androginia também achava seu espaço aqui, macacões, muitas cores e sapatos de plataformas altas eram para todos.
A sexualidade e as drogas foram herdadas da década de 60, que já vinha tentando acabar com o moralismo considerado careta pelos jovens. O pudor não era uma preocupação, namorar e se drogar era a vontade que reinava. A cocaína estava caminhando para sua alta na década de 80, e virou a queridinha das pistas, era cara e garantia de status. 
Durante o pavor da ditadura militar, as influências de contraculturas chegavam cada vez mais fortes pelas bocas dos militantes de famílias importantes e que traziam de outros pontos do globo música, cinema e pensamento crítico por outras óticas. A música popular brasileira cutucava constantemente a política. Chico Buarque e Milton Nascimento escreviam Cálice, com letras bem articuladas e que tentavam fugir da censura ao mesmo passo que a denunciavam, Rita Lee, recém saída dos mutantes, começava um período fundamental para sua consolidação no mercado. Na disco music o Brasil tinha nomes como Tim Maia, que nem estava interessado no gênero em seu começo de carreira, e As Frenéticas, que foi formado por um grupo de garçonetes, e se tornou uma potência para o movimento.
A ditadura que foi marcada por abusos sexuais e tortura a oposição, a comunidade negra tendo seu cabelo raspado e simbolos de identificação queimados e atraso nas pautas relacionadas a homosexuais e/ou transexuais, que eram demonizados e vistos como pervertidos, encontrava seu maior inimigo na arte. Música, teatro, cinema e literatura eram a maneira da militância de continuar trabalhando para o final desse momento histórico. 
A Tropicália, de Gal Costa, Gilberto Gil, Os Mutantes e Tom Zé, unia a cultura brasileira com essas referências trazidas de outros pontos do mundo na luta contra a violência militar e a forte censura da época. 
Do outro lado do cenário musical brasileiro, nos últimos anos da década, o punk rock chegava para também gerar incômodo na política. Bandas como Ratos de Porão, As Mercenárias, Garotos Podres, Cólera e Camisa de Vênus usavam o anarquismo dos Pistols de uma forma mais combativa que a observada no exterior. Se inspirando no visual encontrado no cenário britânico, com muito vinil, jeans, cabelos espetados e coloridos, o punk encarou certas dificuldades para ser aceito pelo público. Uma das bandas que mais me encanta na época é a AI-5, que foi nomeada graças ao Ato Institucional número Cinco, e tinha o que talvez fosse a sonoridade mais similar às bandas britânicas e norte-americanas. Syd, vocalista da AI-5, trabalhava na Wop Bop, que era a loja responsavel por trazer a maior parte dos lançamentos para o Brasil, então estava em constante contato com as referencias em sua forma bruta. Para fugir dos militares, os nomes verdadeiros dos membros nunca eram usados nos materiais de divulgação.
Gostaria de escrever mais sobre o nascimento de subculturas no futuro, espero que a juventude nunca perca esse lado revolucionário e que alguém, que nunca pensou muito sobre o tema, encontre esse texto e forme um movimento capaz de mudar o rumo da história. Ou não, ficarei feliz se apenas uma banda de garagem nascer depois desse meu ato político. Desde que uma faixa seja chamada Mo está de férias.
Beijos, Mo.
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moestadeferias · 4 months ago
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THE GREAT IMPERSONATOR: O álbum que deveria ser um funeral. 
Olá, Vizinhança. 
Acompanhar a carreira e vida pessoal, que por muitas vezes se cruzam, de Halsey sempre foi um misto de sentimentos que apertam meu peito e berram dentro de mim, com gritos que vem da alma dela, e passam para a minha. Seu nome de batismo é Ashley Nicolette Frangipane, Halsey é um anagrama para Ashley, e apesar de ter escrito seu quinto álbum de estúdio por achar que iria morrer, ela está mais viva do que nunca.
Halsey sempre foi muito performática. A capa de seu álbum "Manic" foi revelada em uma live nas redes sociais, onde ela pintou ao vivo seu tão emblemático auto retrato. Os terrores e gratificações da maternidade são o epicentro do sucessor de Maniac, “If I Can’t Have Love, I Want Power", que ganhou um filme teatral dirigido por Colin Tilley, que já havia trabalhado com Halsey em Without Me, além de ser o queridinho de artistas como Justin Bieber, Megan Thee Stallion, J. Blavin, Tyga e Bad Bunny. Não é surpresa que até sua morte vinhesse virar arte. 
Entre 2022 e 2024, Halsey lidou com tratamentos de Lúpus e um distúrbio nas células T, enquanto aprendia a ser mãe. Após receber diagnósticos de que não se recuperaria, ela começa a trabalhar no que seria seu projeto mais tocante, cruel e bonito. Sendo um tributo a quem ela já foi, aos relacionamentos que teve e as possibilidades de sua carreira, as promoções de The Great Impersonator começam com Halsey recriando vários ensaios fotográficos de nomes famosos da indústria do entretenimento, como David Bowie, Fiona Apple, ela mesma e Amy Lee, como quem pergunta “Se eu fosse uma estrela de outra decada, ainda teria que lidar com um aborto aos vinte e poucos anos, as dificuldades de me tornar mãe dez anos após, em um momento tão delicado, relacionamentos amorosos tão crueis e tantos tratamentos médicos?”. 
"Aproximem-se, senhoras e senhores! Contemplem a maravilha de um século! Testemunhem a habilidade misteriosa de uma mulher que pode se tornar qualquer um, qualquer coisa que seu coração desejar. Amiga, amante, inimiga. Ela se transforma diante de seus olhos, sua voz e rosto são um reflexo de seus sonhos mais profundos e medos mais sombrios, mas cuidado, pois ela não é apenas uma mestre do disfarce, mas um espírito de transformação, deslizando entre as rachaduras da realidade. Em um momento, uma amiga querida, no outro, um pesadelo sombrio. Ela é a rainha do estranho, a senhora da metamorfose. Cuidado com a grande imitadora!" Halsey sobre The Great Impersonator, em seu site oficial. 
O álbum abre com a tríade Only Living Girl In LA, faixa de seis minutos que questiona seu pertencimento no mundo e traz uma referência ao infame Clube dos 27, idade que ela tinha enquanto a escrevia, Ego, barulhenta e cheia de ansiedade causada por um possível fim de carreira e um grande ego adquirido nos anos fingindo ser maior do que se achava ser, e Dog Years, que vai crescendo em um instrumental desconexo que aborda a melancolia de pensar em sua morte e a busca pelo amor, enquanto não consegue abrir mão da personalidade arisca e malvada. Acredito que a quarta música, Letter To God (1974), veio cedo demais, embora tenha feito muito sentido próxima a Panic Attack. 
In here lies the great impersonator, o túmulo de Ashley. A auto intitulada, penúltima das dezenove faixas, é a revelação de que Halsey se vê como Frankenstein, o monstro, não o médico, usando sua pele feita de partes de muitas pessoas para não revelar seu eu verdadeiro para o público, que conhece suas músicas e fracassos no amor, mas não sabe que ela é gentil, logo, não sabe de sua natureza e personalidade verdadeira. Ela questiona se as histórias morrem com o narrador, uma indicação de temor pelo que acontecerá com sua carreira quando for enterrada. 
Lonely Is the Muse, a primeira música lançada, depois sendo acompanhada de Ego, Lucky e The End, fala sobre ser um troféu. Alguém que pode se remontar para caber na vida de outra pessoa e que mesmo sendo a inspiração para artistas, continua solitária e negligenciada. Levando anos para se tornar alguém vista como descolada, apenas para servir por um momento e ser jogada fora, à espera do próximo que precisar dela.
TGI, assim como Halsey, tem várias facetas. Panic Attack, que aborda a incerteza de um possível amor em meio a fraqueza de se sentir sobrecarregada, me lembra muito Stevie Nicks, enquanto Lucky teve seu refrão retirado da faixa de mesmo nome de Britney Spears, uma das homenageadas na recriação dos ensaios. A versão de Halsey continua na linha sobre se esforçar para que as pessoas a aceitem, fazendo de tudo para que estranhos gostem dela, que outras faixas do álbum tem. Cause I’m so lucky, I’m a star. But I cry, cry, cry in my lonely heart. 
Distribuir as estrelas de favoritas pessoais é uma tarefa difícil, visto o tamanho do meu carinho por cada um dos minutos de vulnerabilidade completamente despida desse álbum. Tenho que admitir que Panic Attack, Dog Years, Lucky e I Never Loved You me pegaram desde a primeira vez que as ouvi. Com uma menção honrosa para I Believe In Magic, que ainda não foi citada aqui, uma carta da Ashley, como Ashley, e não Halsey, para Ender, seu filho, seus pais e seu noivo. É uma despedida, bonita e cheia de fé. Ela espera que suas pessoas amadas saibam o tamanho de seu amor por elas, e que ela ainda acredita no céu, mesmo que não seja aceita nele. O pequeno Ender, que na música é comparado a uma maçã que caiu longe da árvore, de uma maneira doce e boa, e pode ser ouvido ao fundo dos vocais da mãe, o que o deu creditos de composição, foi o que fez Halsey enxergar as relações familiares de maneira tão delicada ao ponto de escrever tamanha declaração. 
O disco fecha com Alice Of the Upper Class, a mais agressiva entre as faixas, uma caminhada pela autodescoberta e os horrores de perceber que se perdeu na vida das estrelas, com drogas, bebidas e sexo a vontade. A fama lhe dá acesso ao sonho americano, regrado de festas e falta de significados, e a percepção de ter se tornado uma aberração a faz procurar pela garota ingênua e doce que ela um dia já foi, novamente a colocando no papel de impostora, aquela que não pertence ao mundo em que está vivendo. 
Apesar de Halsey acreditar que esse seria seu último álbum, ela está viva e bem. Com um namorado que a respeita e apoia, criando seu filho para ser um homem cheio de amor e vendo os resultados que colocar seus ditos últimos anos no mundo em faixas tão lindas podem gerar em todo um grupo de fãs apaixonados. E, com muito estilo, sua nova turnê foi anunciada na última semana. For My Last Trick, um nome muito apropriado, eu acredito, já tem suas primeiras datas marcadas, com nomes como Evanescence na lista de atos de abertura, e foi apresentada ao mundo por meio de um vídeo onde os preparativos para seu enterro são interrompidos por uma ligação que diz que ela não vai mais morrer. 
Beijos, Mo.
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moestadeferias · 4 months ago
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Eu digo que você é o maior álbum de estreia da história da música britânica, e você é.
Olá, Vizinhança. 
Eu acredito fielmente que ninguém, nunca, em toda a Inglaterra, será capaz de criar um álbum de estreia como os Arctic Monkeys. Whatever People Say I Am, That's What I'm Not, de 2006, foi o jeito perfeito de dizer “olá” ao mundo, e isso não é apenas a opinião de uma grande fã da banda. WPSIATWIN entrou para a história como o disco de estreia mais vendido do Reino Unido, foram 360 mil cópias apenas na primeira semana de distribuição, ficou em trigésimo lugar na lista de melhores álbuns de todos os tempos da Rolling Stones e ganhou o Mercury Prize, prêmio dado ao melhor álbum do Reino Unido e Irlanda. As suas faixas são inteligentes, caóticas, jovens e prontas para viverem aventuras noite adentro. O cara na capa, caso você ainda não saiba, é Chris McClure, também musicista e irmão de um colega da época em que Alex trabalhava em um bar. A foto tirada no, hoje fechado, bar Korova, em Liverpool, ficou tão famosa que Chris recebeu uma proposta de ser seguido por uma noite em troca de certa quantia de dinheiro, bebidas de graça em alguns clubes e uma chance de trabalhar como apresentador na E4, parte da Channel 4, canal de tv público. Ah, claro, não podemos esquecer também do fato de que o NHS, National Health Service, o colocou na lista dos garotinhos malvados por glamourizar o fumo. 
I Bet You Look Good On The Dancefloor, que eu duvido que você consiga escutar sem sentir vontade de cantar e é uma das três a ganharem a estrela de favorita pessoal, ficou em primeiro lugar nas vendas de singles no Reino Unido, sendo a primeira música lançada pela banda após seu contrato com a Domino Records. O segundo single, que tambem ficou em primeiro nas vendas, When The Sun Goes Down, inicialmente intitulado Scummy, fala sobre prostituição e as criaturas que existem na vida noturna, o filme Scummy Man se inspirou na historia da prostituta sem nome da Sheffield dos Arctic Monkeys e foi usado em partes do clipe da faixa. No longa, a prostituta, anteriormente sem nome, passa a se chamar Nina e foi interpretada por Lauren Socha, a Kelly de Misfits.
Existe certa magia nas primeiras composições de Alex, e além do disco de estreia, podemos encontrar seu primeiro EP, Five Minutes With Arctic Monkeys, em algumas plataformas digitais, que quando misturado ao instrumental impecável de músicas como Red Lights Indicates Doors Are Secured e Dancing Shoes ou ao chorus de Fake Tales of San Francisco fazem uma explosão de adrenalina correr por todo seu corpo.
Além de When The Sun Goes Down, minhas favoritas do disco são Perhaps Vampires Is a Bit Strong But…, que, com muito sarcasmo, característica marcante da Arctic Monkeys, nos apresenta a um narrador cheio de desconfiança com as pessoas e suas intenções nada genuínas em relação aos privilégios que estar ao seu redor oferece, comparando essas pessoas a vampiros prontos para sugar suas energias, e You Probably Couldn’t See For Lhe Lights But You Were Staring Straight At Me, que é meu gênero favorito de música: homens desesperados. Existe uma garota que todos querem, e existe um garoto que, assim como todos, a quer. Como eu poderia não adorar essa música?
Falando um pouco da receita do sucesso da AM e de Whatever People Say I Am, That's What I'm Not, já que nem apenas de música de qualidade se faz um nome na indústria fonográfica, temos três elementos fundamentais: internet, acessibilidade e identificação. 
Matthew Helders diz ser por engano a fama que conseguiram usando uma ferramenta que, na época, era novidade para muita gente. O uso da internet no começo dos anos 2010 era bem diferente em relação aos dias atuais e a curiosidade de quem tinha acesso a um computador fez com que muitos descobrissem o nome Arctic Monkeys. Um amigo colocou algumas demos online e, apesar da empolgação dele e de outros que conviviam com o grupo, Helders não sentia que isso daria em muita coisa. Uma história que gosto muito, fugindo um pouco do tópico, mas ainda sobre as expectativas de Matthew em relação a estreia, é que durante as idas e vindas ao estúdio, alguém, que, até onde sei, nunca teve a identidade revelada, brincou que eles chegariam ao top 10 das paradas e Matthew, adolescente de pouca fé, afirmou que se eles chegassem ao top1, ele faria um show usando seu calção de futebol. Sorte dele que o baterista consegue se esconder melhor que o vocalista, não? 
Além do uso da internet, a banda costumava distribuir CDs de graça em seus shows de começo de carreira, antes da Domino entrar em cena. Alex afirma que eles não viam motivos para bandas pequenas cobrarem de três a quatro libras em um CD que as pessoas não tinham motivos para ouvir, já que ninguém tem vontade de comprar coisas de um artista que não conhece. A acessibilidade a sua marca os garantiu uma certa quantidade de espectadores ansiosos pelo primeiro álbum de estúdio. Se você tem um desses CDs dando sopa por aí, por favor, entre em contato e vamos conversar sobre a possibilidade de me enviar como presente.
Mas o combo público da internet e o conquistado em casas de festa e pubs não seria segurado se não fosse a identificação. Um grupo de jovens de classe média cantando sobre amores que não passaram de grandes ideias ou vontades, ansiedade social e expectativas de um futuro incerto era o que os ouvintes precisavam, e talvez nem percebessem isso.  
É inegável o impacto que dois garotos que ganharam guitarras no natal e resolveram formar uma banda com seus colegas de escola tiveram, e continuam tendo, no cenário musical. As composições e vocais de Alex, com a boca suja que as rádios tanto odiavam e o sotaque que faz multidões delirarem, o jeito mágico com que Andy suaviza toda a caoticidade da banda com seu baixo e o nome herdado de uma antiga banda do pai de Matthew, moldaram toda uma geração e uma forma de se fazer música, o que, hoje, os geraram uma carreira estabelecida e um público sólido.
Beijos, Mo.
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moestadeferias · 5 months ago
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O incrível banco de referências de Sabrina Carpenter.
Olá, Vizinhança. 
Você não acha lindo quando um artista sabe colocar partes dele, as que foram construídas por outros artistas, em sua arte? Se existe alguém, hoje, na indústria do entretenimento que sabe usar e abusar de referências, esse alguém é a mais nova queridinha da música pop. Sabrina Carpenter, que já tem uma década na indústria fonográfica, conquistou e reconquistou diversos ouvintes com seu sexto álbum de estúdio, Short N Sweet, que lhe rendeu duas estatuetas no Grammy, de best pop vocal album e best solo pop performance. Juntamente com o estouro do albúm, Sabrina construiu sua imagem para a grande massa de maneira impecável, todo novo conteúdo sobre a loira da vez é cheia de um glamour bem pensado e referências que contam a seus fãs mais e mais de sua personalidade brincalhona e sagaz. O texto de hoje é sobre algumas de suas referências ao mundo do audiovisual. 
I Might Let You Make Me Juno. 
Juno, décima música do Short N Sweet, ganha seu nome graças ao filme de 2007, dirigido por Jason Reitman e protagonizado por Elliot Page e Michael Cera. Se você conhece o filme, mas não a música, já pode imaginar do que Sabrina está falando. Juno também é a deusa da fertilidade na mitologia romana, fato que Sabrina assume não saber enquanto escrevia o álbum. A faixa virou um momento marcante da turnê por sua linha Have you ever tried this one, onde Sabrina corre para o centro do palco e imita uma possição sexual diferente todas as noites.
Já é dia vinte e cinco de dezembro? 
Uma de minhas coisas favoritas na carreira de Sabrina são suas músicas de natal, e nem mesmo elas podem correr de suas referências geniosas. Seu EP Fruitcake conta com a faixa Cindy Lou Who, que, segundo as más línguas, seria sobre Camila Cabello. Se o nome Cindy Lou Who não te é familiar, coitada de sua versão criança, o que você costumava assistir no natal?, eu explico: ela é a garotinha que tenta procurar pelo papai noel em O Grinch. A versão de 1999 conta com Jim Carrey e Taylor Momsen nos papéis principais.
Beijar Jenna Ortega é um ótimo trabalho. 
O clipe de Taste, estrelado por Jenna Ortega, outra nova queridinha da indústria, e Rohan Campbell, de quem sou muito fã, traz diversas referências do mundo do audiovisual. Majoritariamente inspirado em A morte lhe cai bem, de 1992, sua história é centrada em Jenna e Sabrina se matando diversas vezes por causa de Rohan. Além de A morte lhe cai bem, podemos apontar referências a Possuída, Kill Bill, Scream 6, o massacre da serra elétrica e outros. A escolha de Jenna, que está sendo a cara da nova era do humor negro, foi nada além de inteligente. O clipe rendeu um grande debate na internet, acerca do beijo que as duas trocam durante a linha I heard you're back together and if that's true, You'll just have to taste me when he's kissin' you e mostrou para muitos a capacidade de Sabrina e sua equipe ao criarem uma história com tantas boas menções. 
Legalmente loiras, e advogadas. 
Em Sue me, lançada em 2018, Sabrina vive seu momento Elle Woods. A faixa fala sobre superar um término e como seu ex namorado pode a processar por estar vivendo bem, se divertindo e sendo gentil. Seu clipe, cheio de tons de rosa e clichês retirados das comédias românticas dos anos 2000, coloca Sabrina no papel de estudante de direito, cantando em uma sala de aula, uma biblioteca e, no final, em um julgamento.  
O guarda roupa. 
Suas referências a acompanham também em forma de peças de roupa. Para a W Magazine, durante as promoções do seu ensaio para Skims, nossa loira favorita revela que busca por fotos de ícones como Jane Birkin, Brigitte Bardot e Dolly Parton para escolher seus próprios looks que, nesta última era, tiveram, e continuam tendo, a cara dos anos 60. Para além do biquíni adorável de Please, Please, Please, da maquiagem estilo bonequinha e do cabelo estilizado como o de uma estrela de Hollywood, temos também os filmes e séries favoritos de Sabrina brilhando em seu guarda roupa. Seu vestido de aniversário no último ano foi inspirado no tão famoso vestido amarelo de Andie Anderson em Como perder um homem em dez dias, seu vestido para o Grammy foi inspirado em A senhora e seus maridos, em dezembro ela foi fotografada usando um vestido inspirado no episódio piloto de The Nanny, não sendo essa a única vez que o seriado de 1993 fez aparição no guarda roupa de Sabrina.
Esses são apenas alguns dos muitos casos onde Carpenter deixou que seus gostos pessoais cruzassem com sua arte. Temos também momentos como no Ally Coalition´s 10th annual talent show, onde Sabrina, usando um conjunto de uma coleção pensada na personagem Charlotte York, de Sex and The City, fez uma aparição surpresa, sua performance no Grammy sendo inspirada por Goldie Hawn, estrela de A morte lhe cai bem, em Seesaw ou as cenas similares as do longa Brilho Eterno de uma Mente sem lembraças no clipe de Skin, protagonizado por Gavin Leatherwood e dirigido por Jason Lester. Sabrina tem a versão deluxe de Short N Sweet com data de lançamento marcada para dia 14 de fevereiro, com músicas muito esperadas pelos fãs, como Busy Woman, e podemos aguardar mais de suas menções ao audiovisual.
Beijos, Mo.
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moestadeferias · 5 months ago
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Eu faço das pessoas rios, e elas deságuam em mim.
Olá, Vizinhança. 
Falei sobre a fome e o amor no texto sobre É assim que se perde a guerra do tempo, e, hoje, depois de conversar sobre Rios com Eri, falarei sobre água e amor. Apesar de amar o canibalismo como metáfora para o amor, que acredito não ter nascido, exatamente, de um imaginário, visto que, em dados momentos da história humana, o canibalismo já carregou diversas simbologias, de desespero pela escassez de comida até forma de honrar entes queridos mortos, e todo o abstrato de comer quem amamos porque esse amor que sentimos é tão insaciável que apenas os engolindo fisicamente podemos o dar fim, ainda existe certa atração no mergulhar para amar que me cativa fortemente. É como um canto de sereia, a ideia de água e amor, que me tem em suas redes, assim, tão facilmente. 
Existem muitas canções bonitas sobre o amar e a água. Oceano, por Djavan. Dive Into You, por NCT Dream. Bom mesmo é estar debaixo d'água, por Luedji Luna. Todas me ensinaram que, para amar, devemos mergulhar nas áreas mais profundas de alguém. Antes de comer, temos que ter coragem de encarar um oceano cheio de raios e ondas e nos arriscar, nos jogar de cabeça, mesmo que existam pedras pontudas e tubarões famintos nos esperando. O oceano é um dos lugares menos conhecidos no universo, é caro e perigoso brincar com ele, por isso, conhecer alguém é como nadar cada vez mais fundo. Uma vez falei para Maria Eduarda que você conhece alguém quando sabe, de cabeça, seu pedido de café. Quando isso acontece, quando você consegue comprar café para outra pessoa sem nem se questionar o que está fazendo ou o que tem que fazer, como se fosse um instinto involuntário, significa que você nadou bem fundo. Quase contei aqui meu pedido de café, mas não seria muito misterioso da minha parte e já partilhei muito de mim nos últimos textos.
Conversando com Eri, percebi que existem pessoas Rios e pessoas Oceanos, e, às vezes, elas namoram. As pessoas Rio tem água potável, são confiáveis, claro, ainda existem riscos nelas, por vezes não vemos seu chão, então não sabemos que surpresas nos aguardam por lá. As pessoas Oceano são incontroláveis, mesmo as que parecem calmas, são fortes o bastante para te mandar para longe se te cheiram como ameaça, podem quebrar seu barco em milhões de micro pedaços, não importa o quão caro seja seu sistema de segurança e quão forte seja seu casco. Existe um lugar da Bahia onde o Paraguaçu encontra a Baía de todos os santos, e os dois namoram. Barra do paraguaçu, nunca fui lá, mas não preciso ir para ter certeza de que é um namoro lindo, como não poderia ser? O paraguaçu, pelo menos o meu lado dele, carrega muita dor, o maior rio da Bahia só recebe desprezo de quem deveria o cuidar, então, em um lugar da Bahia, Barra do Paraguaçu, ele cruza com a segunda maior Baía do mundo e, eu aposto, é um namoro lindo demais. 
Eu costumava ter muito medo do oceano, até me dar conta de que sou uma pessoa ele. Meio pretensioso de minha parte dizer, com, quase, todas as letras, que sou forte o bastante para quebrar qualquer barco, mas a questão aqui é mais sobre estar pronta para quebrar qualquer barco, e não sobre conseguir. Eu faço das pessoas Rios, e elas deságuam em mim. Sou um enorme quebra cabeça formado de pedaços de quem amo. 
Existem muitos outros corpos d'água no mundo, lagos e poças e reservatórios e canais, e eu aposto que existem pessoas para cada um deles, apenas não sou esperto o suficiente para as descrever. Talvez você, que é limnologista, que, enquanto escrevia esse texto, descobrir ser quem estuda águas continentais, ou apenas mais esperto que eu, consiga as descrever. 
Boas férias. Beijos, e não tenha medo de mergulhar, Mo.
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moestadeferias · 5 months ago
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Onde você esteve por toda minha vida? Quero dizer, noite?
Olá, Vizinhança. 
Ano passado uma das bandas que mais marcou minha adolescência acabou, amigavelmente; o que me conforta, não estava pronta para um divórcio Lovelis - Casey. Hey Violet teve o hit da sua vida em 2017, Boys my age, que, para os parâmetros de charts e fãs de recordes do twitter, não chegou a ser exatamente um hit. No mesmo álbum temos a grandiosa Where Have You Been (All My Night), a faixa dá o título do álbum de estreia, e que por muito tempo foi filho único, do grupo. From the outside, direto do trecho I’ve been watching all the lovers from the outside. O trecho perfeito para explicar a faixa, e, para mim, o álbum como um corpo inteiro. 
A narradora não é popular, provavelmente não tem amigos. É uma observadora em todo o jogo de interpretação que é a adolescência. Ela sabe dos segredos que os outros tanto tentam esconder, mas guarda para si por não ter alguém de confiança para dividir.
As pessoas a enxergam, mas não tem interesse em quem ela é. Seu objeto de desejo, a quem ela se direciona na letra, está ligado ao clichê de conhecer alguém que parece tão certo que você se pergunta como esse encontro não aconteceu antes. Por onde você esteve por toda minha vida? 
Ela continua em Cause this party isn’t started 'til you arrive. Sua vida é resumida a uma festa, onde ela pode parecer só mais uma entre tantos, mas enquanto faz, finalmente, parte de algo. O que não é comum para ela, a observadora. Sempre gostei de acreditar que sua vida é tão miserável que o ápice dela é uma festa. Provavelmente uma pequena, na casa de alguém da escola cujos pais saíram da cidade durante o fim de semana, um clichê americano direto dos filmes. 
A narradora está fadada a assistir todos da sua idade vivendo, se apaixonando. Está vendo um jantar acontecendo pela janela de um restaurante, sem conseguir entrar e comer com todos. E o prato principal, provavelmente um grande pedaço de carne, parece bom demais para não se provar antes que seja tarde demais. Até que seu leitor aparece em cena para a salvar da amargura da solidão. 
Entre as centenas de olhos que a encaram sem a enxergar, é ele quem a tira do estado de observadora. E ela diz várias e várias vezes que mesmo que leve a noite inteira, que aqui equivale a sua vida, continuará esperando até que ele chegue. Even if it takes all night. Even if it takes all night. Even if it takes all night. i’II be waiting.
Ele não resolve seu problema de falta de popularidade, mas quem precisa disso quando se tem amor? A falta de interesse da massa não é um buraco tão grande quando ela tem toda a atenção dele para si. 
Não temos uma descrição do objeto de desejo, não sabemos nada sobre seus possíveis olhos brilhantes e/ou outras atribuições que as músicas de amor dão a pessoa amada de quem falam sobre. Nada disso importa. Seu cabelo, altura, tatuagens ou falta delas, não importam. Se ele é tão excluído quanto ela, não importa. O importante é que ela o esperaria, que ele é o que faz a festa dela começar. Espero que todos encontrem alguém assim um dia, mesmo que não romanticamente. Às vezes, em salas cheias de olhos que não nos enxergam, precisamos de alguém que faça nossa festa começar. 
Boas férias. Beijos, Mo.
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moestadeferias · 5 months ago
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De que jeitos você é mutante?
Olá, Vizinhança. 
Devo a Guido um texto sobre X-Men, e é claro que eu, sendo a ameaça a sociedade que sou, tinha que encontrar um jeito desse texto ser sobre tudo, menos X-Men. No texto passado, aquele sobre tocar, citei Naomi e Ely e a lista de não beijos, e, depois dos comentários de Guido, percebi que deixei passar uma coisa que gosto muito na história de Naomi e Ely e, de alguma forma, tem ligação com a personagem que Guido queria que eu citasse. A cena das revistas em quadrinho embaixo da cama. 
X-Men se cria sobre pautas sociopolíticas. A aceitação, ou a falta dela, que a sociedade deve àqueles que nascem com habilidades sobre-humanas. O que é, comumente, ligado a grupos minoritários que sofrem algum tipo de opressão. É aí que entram nossos melhores amigos favoritos, ou, ao menos, um deles e seu namorado, que, no fim, é namorado dos dois. Ely é gay, tem duas mães, as pessoas sabem disso, Ely não é o padrão que se espera de um homem. Ely começa a namorar o namorado de sua melhor amiga, Bruce, O Segundo, que leva esse apelido por vir depois de Bruce, O Primeiro, o vizinho apaixonado por Naomi, assim como todos os homens daquele lado da Big Apple. 
Bruce, O Segundo, nunca gostou de um homem antes de conhecer Ely. Sendo sincero, ele nem gostava de Ely quando os dois se conheceram. Bruce, O Segundo, tinha ciúmes de Ely. Porque, não importava o quanto tentasse, nunca poderia ser, para Naomi, um quinto do que Ely era. Acontece que não gostar de Ely não impediu que os dois se beijassem, enquanto Bruce, O Segundo, devo acrescentar, ainda namorava Naomi. Veja bem, Bruce, O Segundo, apesar de namorar com Naomi, não estava na lista de não beijos, certo? e, como Ely diz, se Deus não quisesse que ele beijasse Bruce, O Segundo, porque o colocou em seu quarto? Quarto em que, enquanto se esconde da namorada e espera, inseguro, a volta do amante, Bruce, O Segundo, encontra o que parece ser o esconderijo de revistas pornográficas de Ely. A curiosidade o leva a descobrir uma mina de ouro. Poucas coisas seriam melhores que um monte de revistas PlayBoy embaladas cuidadosamente e escondidas no canto mais escuro embaixo da cama, acontece que o segredo de Ely está na lista dessas poucas coisas. Várias edições dos X-Men. 
Uma parte dele que ninguém mais pode acessar, seu segredo mais íntimo. Ely não parece o tipo fã dos X-Men. Calça apertada e cinto brilhante, adesivos da Hello Kitty, CDs de divas pop e duas mães. Ao retornar ao encontro de Bruce, O Segundo, os dois têm uma breve conversa sobre serem mutantes, onde a premissa de mutante ser igual a fora do padrão prevalece, e Ely, para não ser ainda mais acessado, brinca sobre ter uma placa de metal na cabeça que seria seu lado mutante. 
Guido queria que eu falasse da vampira no último texto, então aqui ela encontra Bruce, O Segundo, e a mim. Anna Marie, vampira, com o toque, suga a aparência, memória, trejeitos e habilidades alheias. Ela é como um camaleão. Nem todos podem esconder o fato de que são mutantes, mas ela pode. Assim como Bruce, O Segundo. Ele tinha uma namorada, estuda finanças e usa as roupas mais heterossexuais que o mundo já viu. Ele não se encaixa no mundo homosexual de Ely, na balada lgbt que os dois vão juntos certa noite, onde Ely mostra o pau para um segurança a fim de colocar Bruce, O Segundo dentro da festa, e na simplicidade de um beijo trocado durante o bingo do prédio. Porque, diferente de Ely, ele consegue se passar por hetero. Isso não muda o fato dele ser um mutante. Entre o tédio que fez Naomi se acomodar em um relacionamento com ele, está um mutante, um que não vai sumir, independente dele se casar com uma mulher e ter muitos e muitos filhos ou virar padre. Ele vai ser sempre um mutante. Vivendo em um mundo de caras magros e heterossexuais. Como Gabriel, O Porteiro Gato. 
Ler Naomi e Ely me fez perceber que sou tão mutante quanto Ely e Bruce, O Segundo, e todos sob a proteção do professor Xavier. Seja porque sou filha de uma mãe branca e um pai negro ou porque gosto de pessoas, e não genitálias. Crescendo, sempre me senti nada. Preta demais para os brancos. Branca demais para os pretos. Minha pele é bem mais clara que a do meu pai, mas ainda é mais escura que as das minhas amigas da escola particular. Meus traços são finos, herança da minha mãe, e, por diversos motivos que levaram a falta de estimulo, meus costumes também eram. Diferente da minha orientação sexual, que, desde muito novo, é uma certeza, minha raça era um grande ponto de interrogação. É curioso como minha parte mutante visível é aquela que eu não conseguia entender. Algo que não podia ser escondido e, mesmo assim, era tão estranho de compreender. 
Nessas duas décadas que passei no mundo, me entendi melhor como mutante. Sou mutante de jeitos que posso e não posso esconder, e, hoje, não tenho problema com isso, não tenho problema em ver alguém encontrando minhas revistas em quadrinho escondidas e me perguntando de que jeitos sou mutante. E você, de que jeitos você é mutante?
Boas Férias. Beijos, Mo.
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moestadeferias · 5 months ago
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Me toque, apesar de minhas muralhas.
Olá, vizinhança. 
Sempre acreditei que existe algo muito íntimo no toque. O ato de segurar alguém, a alma e o corpo físico, é tão complexo quanto todas as coisas sem respostas ou explicações no universo. Por que existimos? Como podemos ter tanta certeza de que nossa religião é a única com fundamentos reais quando existem tantas por aí? Se existiu um começo, o que veio antes? Nada? O que é Nada? E como tocar pode ser o mais íntimo dos gestos? Existe uma beleza tamanha na vulnerabilidade do toque que apenas ele pode nos proporcionar.
Quando deixo que alguém que amo toque minha cabeça, meu orí, o centro da minha consciência, eu me torno frágil, porque sei que posso. Quando beijo a testa de uma das minhas amigas, ela abaixa as defesas, porque sabe que pode. Quando lemos um livro e uma personagem de personalidade iritadiça se surpeende com um abraço, ela está se deixando ser alcançada. Quando somos amigos de um introvertido que nos deixa segurar seu braço, ele está nos deixando entrar em seu espaço. Um que é só dele, e que, então, vira parte nosso. Os seres humanos são como felinos que dormem de barriga para cima quando se sentem em segurança.
Entre a minha longa lista de personagens literários favoritos, temos alguns com problemas em serem tocados, de maneiras muito diferentes, e que me ensinaram muito sobre a intimidade do toque.
Kaz Brekker (Six Of Crows) sofreu na mão de um sistema autoritarista e cruel. Ainda criança, foi obrigado a usar o corpo morto do irmão como barco para sair das águas geladas onde ambos foram jogados para sumir, ou então morreria. Passou a usar luvas desde então. O toque humano o deixa enojado. De si mesmo, do mundo. Kaz se tornou alguém baixo, não tem medo de se sujar de sangue para conseguir poder e dinheiro, desde que não envolva esmurrar alguém com suas mãos nuas. Mas acho que falamos muito sobre Kaz e seu trauma, o que nos faz esquecer de Inej. 
Inej foi traficada e forçada a se prostituir. Seu corpo, que foi ensinado a se contorcer e se pendurar com graça e leveza, foi tocado por homens contra sua vontade e sua alma, que nasceu para a arte, foi presa sobre um preço e a promessa de uma noite com uma mulher exótica em troca dele. Como vitima de abuso sexual, ela tem tantos problemas com o ato pele contra pele quanto Kaz. Talvez seja isso que faz deles tão bonitos. Os dois sabem como é difícil deixar que alguém te toque, assim como sabem como é difícil tocar alguém. Inej diz, em tom de ameaça, que Kaz a terá sem armaduras, ou simplesmente ficará sem. Ou os dois aprendem que se tocar pode ser bonito, ou não podem se ter.
Anjo (Chainsaw Man) tira parte da vida de todos que toca, o que o leva a se afastar a qualquer sinal de aproximação, vivendo longe de seus colegas de trabalho. Assim como Inej e Kaz, ele encontra alguém que se põe a lutar contra isso junto. Aki, devido a um pacto, não tem muito tempo de vida, mas está disposto a mostrar para Anjo que isso não importa. Mesmo que tocar signifique perder dois ou quatro meses de uma vida que já está fadada a terminar em breve.
Naomi Scott (Naomi e Ely e a lista de não beijos), não quer ser tocada, apesar de sua fama de pegadora, por não poder ser tocada pela pessoa que ama. Naomi é complicada demais, apaixonada pelo melhor amigo gay, mesmo sabendo do fato de que ela é, bem, tudo, menos um homem, e brincando com os corações de homens não-tão-inocentes pela grande Nova Iorque. Ela se afasta, inicialmente, da atração que sente por Gabriel, O Porteiro Gato, apenas por ele não ser Ely. Ela não aceita transar com Bruce, O Segundo, seu namorado da faculdade, apenas por ele não ser Ely. 
A dor de não ter quem ela, acha, que quer a faz ter aversão ao toque dos outros. Ela não quer Bruce, O primeiro ou O Segundo, e ela não quer Gabriel, O Porteiro Gato. Ela quer Ely, e, se não pode o ter, então ninguém a terá. 
Durante o divórcio Naomi e Ely, ela percebe que o que sente por seu melhor amigo de infância não é amor romântico e Gabriel, O anjo que trabalha como porteiro gato, joga basquete e tem uma banda, consegue entrar em suas fortificações. Ser tocada já não é mais um problema, porque ela aprende que os dois podem seguir seu próprio ritmo enquanto ela descobre como se sente. 
Para além do toque físico, existe o da alma. Tão profundo quanto e, por vezes, mais doloroso. Anthony Lockwood (Lockwood and Co), de quem gosto de pensar como um filho de Kaz Brekker, tem um segredo por trás de uma porta trancada na casa que herdou dos falecidos pais e que usa como base para sua agência. Abrir a porta e mostrar o cômodo para George e Lucy, seus melhores amigos e parceiros de negócios, é como ser tocado. No momento em que a porta for aberta, não há como voltar. Os três ficarão presos no quarto, juntos, com os fantasmas gélidos e empoeirados que ele esconde ali. Anthony carregando o peso da exposição, George e Lucy o de conhecer os pontos fracos de quem amam.  
Quando, em um primeiro encontro, respondemos perguntas como Qual a sua cor favorita? Frio ou Calor? Qual sua comida favorita? O feijão fica por cima ou por baixo do arroz? estamos abrindo portas trancadas. Por que sua comida favorita provavelmente esta ligada a uma memória afetiva e sua preferência para o clima me diz muito sobre seu caráter.
Lilás, apesar de achar meu cabelo rosa mais bonito, e de combinar mais com branco e azul. Calor, porque o sol me deixa feliz e com vontade de viver. Escondidinho de carne seca com purê de banana da terra e muitooooo queijo. Do lado, os dois merecem oportunidades iguais.
Escrevi isso por andar pensando em quantos toques existem em um único beijo e quantas vezes as mãos caminham pelo corpo alheio e as bocas se encontram entre a repetição de abrir, fechar e engolir e quantas vezes a fome vai ser tão intensa que nem todos os toques disponíveis vão ser suficientes para a saciar e quantas vezes amar alguém vai ter que ser maior do que a agonia que o toque pode provocar. 
Boas férias. Beijos (e muitos toques), Mo.
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