Tumgik
nah-raposinha · 1 year
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se afastar para aproximar?
”Você precisa fazer as pessoas aprenderem a sentir a sua falta!” — Ela disse isso enquanto eu chorava por ter sido impedida de ver a minha irmã, pela minha própria irmã. 
Depois desse acontecimento, essa frase ficou ecoando em minha mente, como o badalar de um sino: um som que vai sumindo de forma gradativa do ambiente, mas que deixa uma memória. 
Todos os dias eu mando um “oi” para ela, por mensagem. Como saio cedo e ela ainda está dormindo, é uma forma de desejar um bom dia. Mesmo quando eu comento do sol (ela adora o ☀) ou falo sobre qualquer outra coisa, eu sempre recebo a mesma resposta: curta e objetiva. 
Sempre que eu chego em casa e a cumprimento, ela levanta os olhos e manda um “oi”. Dificilmente ganho um sorriso. Se eu pergunto alguma coisa para puxar assunto, ela perde a paciência; principalmente se estiver vendo dorama. 
Por vezes levo a Haru, para ver se o clima fica mais agradável, mas quase sempre eu ouço “Por quê você trouxe ela aqui? Sabe que ela não gosta de vir!”. 
Por algum motivo que eu desconheço sempre quis que a minha mãe me amasse, sempre quis que eu fosse para ela a melhor companhia. Isso não aconteceu… Eu sei que ela me ama, não sou insensível em relação a isso, mas por que então eu não consigo sentir que esse amor a faz feliz? Por que parece que me amar é doloroso para ela? 
Eu queria ser um sorriso, mas acabei me tornando sua dor. O motivo pelos quais os seus sonhos foram interrompidos e a sua vida se tornou uma grande bagunça… ”Você foi o aborto que deu errado.” — Espero que se algum dia eu sofrer de amnésia, que eu seja capaz de esquecer essa frase, assim como a raiva misturada com tristeza que pude ver em seus olhos. 
Depois veio o meu pai… Um homem de quem eu nada sei. Não conheço suas histórias de infância, não sei dos seus antigos sonhos e nem do que o faz sorrir. As únicas coisas que eu sei é que ele não estava pronto para ser pai; que ser agressivo era a única resposta que ele tinha para qualquer coisa que o desagradasse; que ele nunca amou a minha mãe e nem a gente. 
Claro, vamos falar sobre aquele estereótipo de que a menina sempre vai se relacionar com um homem problemático igual ao pai. Não sei dizer se isso é real, a única coisa que posso afirmar é que foi quase isso…
Os momentos de alegria eram raros, mas suficientes para me manterem ali, acreditando que era o melhor para mim. A cada grosseria, eu tentada mais; a cada resposta que nunca chegou, eu tentava mais; a cada encontro desmarcado, eu tentava mais; a cada plano que nunca foi feito, eu tentava mais.
Eu estava sempre tentando, quando eu deveria estar desistindo. Sempre dando desculpas para as ausências, quando eu deveria ter aceitado que a minha companhia não era uma escolha. Sempre dando desculpas para o terror psicológico que ele fazia, fazendo-me acreditar que eu não era suficiente 
A verdade é que, por algum motivo que eu não sei ainda, eu desejo (de todo o meu coração idiota❤️) ser amada. Por algum motivo, eu preciso ser a felicidade de alguém para me sentir feliz comigo mesma. E quando isso não acontece, eu adiciono a mim a culpa, quando eu deveria só aceitar que aquela pessoa não escolheu me amar. 
Hoje, eu me vejo novamente sendo o plano distante de alguém que deveria me querer por perto. Quando você leva horas para me responder, com o pretexto de que não está bem; quando me responde com meias palavras; quando deixa de compartilhar comigo o que é importante para você…
Por mais que nossos momentos juntos sejam bons, por mais que os sorrisos pareçam verdadeiros, por algum motivo meu coração se sente confuso e largado. Ele sente que novamente está recebendo um amor pela metade, um amor que o deixa sofrer para mantê-lo por perto, um amor ausente…
Talvez eu te conheça pouco, ou apenas não tenha me familiarizado com seu jeito de se comunicar; seja como for, eu sinto que há alguma coisa errada. Alguma coisa que faz eu me sentir insegura, ao invés de tranquila…
E é por isso que eu decidi deixar de ir contra a lógica natural que me rodeia para aprender a ser a saudade de alguém. 
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nah-raposinha · 1 year
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uma visita indesejada
“vai ficar tudo bem!”, “vai ficar tudo bem!”, “vai ficar tudo bem!” — Eu repito isso para mim mesma, na esperança de que alguém escute e abençoe meu pedido.
Eu não consigo imaginar um futuro para mim. Já vasculhei em todos os cantos da minha mente e só encontrei o vazio. Questionei o meu coração e obtive o silêncio como resposta. (ele costumava ser mais comunicativo, um chato expansivo)
Não penso mais em me casar ou ter filhos. Sempre que a ideia de mudar de emprego invade a minha mente, é como abrir uma porta e nela, o breu. Qualquer tarefa que vá além do básico, parece-me grande demais para ser executada. 
Meu corpo está cansado, mas sei que sua paralisia é resultado da resposta que recebe da minha mente vazia. 
Há momentos em que não sinto nada, e são estes os que mais me assustam. Pego-me pensando na Haru, em quantos anos de vida ela ainda tem, na vontade antiga que tenho de ir embora. E sei que estes são os sinais da volta de uma amiga antiga. 
Ela já me visitou várias vezes. No começo, tive dificuldade para entender sua natureza. Depois, em saber lidar com seu jeito peculiar. E por fim, e talvez tenha sido a tarefa mais difícil, foi aprender a fazê-la partir. O problema é que ela sempre deixa algo comigo: uma parte do seu ser. 
A sua essência é sombria, desprovida de luz e calor. Ela não sabe o que é movimento, desconhece o tempo e nunca ouviu falar em esperança. Ela não sorri, e caçoa do amor. 
Ela também é uma ladra!!! Demorou para eu perceber, mas agora vejo com nitidez, que a cada visita ela furtava algo de mim. Ela foi comendo pelas beiradas, até conseguir o todo daquilo que tanto queria: minha capacidade de acreditar. 
Como posso viver sem acreditar no amanhã? Como posso me relacionar com as pessoas sem acreditar no que dizem? Como posso seguir em frente, se não acredito no futuro?
Sinto que ela vai chegar logo. Tenho medo do que ela vai roubar desta vez, de quanto tempo vai ficar. O que me conforta é saber que a Hariu vai estar aqui. Ao mesmo tempo, gostaria que ela não tivesse que receber essa visitante indesejada…
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Sinto dificuldade em respirar, o coração bate sem fôlego, as lágrimas inundam meus olhos… Ela já está aqui! Fria e sem vida. Sem esperar um convite, ultrapassa a minha linha da vida e, como uma parasita, se apodera do meu corpo e mente. Agora já é tarde, não sei quando ela vai partir…
P.S O ser humano é mesmo um bicho prepotente, ele sempre acha que está por cima, mas na verdade só é cego o bastante para perceber que está na merda. Por todo esse tempo pensei que estava saindo ilesa das suas visitas, sendo que eu só estava anestesiada. Agora me diz, como você se sente sabendo que tirou o melhor de mim? 
☀ estou deixando de ser sol e me tornando a noite…🌑
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nah-raposinha · 1 year
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o garoto do sorvete de chocolate🖤
Você lembra como foi o seu primeiro encontro? Provavelmente criou algumas expectativas em relação a ele, e posso arriscar que nem todas foram atendidas. Mas se isso o torna menos especial, é outra história…
Já faz uns anos que eu evito criar expectativas. Que eu busco me controlar pra não pensar em algo, até que seja a hora certa (com coisa que eu sei quando a hora é certa). Mas, sim, essa é uma forma de evitar congestionamentos mentais, de sobrecarregar minha mente com assuntos que fogem ao meu controle. 
Mesmo tendo essas regras claras, eu não consegui evitar. Ao longo daquele dia eu me peguei pensando, projetando, ensaiando a forma certa de dizer “oi”. 🙂 Quanto mais o sol movimentava-se a oeste, mas eu sentia o meu coração acelerar e a minha mente afundar em pensamentos. 
Enquanto caminhava até o shopping, comecei a imaginar formas de puxar assunto, a torcer para que ele não fosse tão estranho e a repetir várias vezes para mim: “não pensa não, você sabe que isso não funciona, só vai e pronto!”. 😶
Enquanto subia a escada rolante, pude ver ele de longe, ali parado em frente a Cacau Show. Estava do jeito que eu havia imaginado: com roupa preta, cabelo bagunçado e com o olhar que vagava do chão ao teto. Era visível, pelo menos para mim, que ele estava inquieto e, talvez, até desconfortável por estar ali. 
A gente se cumprimentou, os dois levantamos as mãos em um aceno curto combinado a um sorriso de canto de boca.
🗣️
Uma época, enquanto estudava sobre técnicas de pitch para apresentações de projetos, li sobre os níveis do diálogo. A teoria era clara, dizia que para começar a conversar com alguém o ideal era puxar assuntos triviais, como falar do tempo, por exemplo. 
Depois, dependendo da aceitação da outra pessoa, era permitido introduzir assuntos que envolviam a opinião e, por fim, pode-se discorrer sobre temas mais pessoais e até íntimos. 
Se já fez entrevista de emprego, deve ter percebido que depois do cumprimento, o entrevistador costuma perguntar como estava o trânsito e se foi fácil chegar até ali. 
Na real, ele não quer saber se você teve que correr atrás do busão para chegar no horário, ou se seu guarda-chuva foi levado com o vento, mas te deixar mais solto para quebrar as suas barreiras e, assim, acessar traços da sua personalidade que você guarda para os amigos e familiares. 
Começamos a andar pelo shopping, falamos sobre o tempo, o metrô, o motivo pelo qual eu cheguei atrasada, isso, intercalando com comentários sobre as lojas. 
Pessoas criativas e observadoras nunca ficam sem assunto, uma vez que tudo que elas veem e ouvem se torna referência para uma nova conversa. Mas, se a sua companhia não souber disso, há grandes chances de você se ver falando sozinho. 
Não demorou muito para eu perceber que se continuássemos ali, aquele passeio duraria muito pouco. Eu sabia que ele gostava de livrarias, mas a dali era pequena demais, chata demais, não tinha emoção.
Eis que tive a brilhante ideia de ir para a Paulista. A Martins Fontes da Brigadeiro foi meu refúgio por meses. Fosse na hora do almoço ou na saída do serviço, eu gostava de ficar ali, junto aos livros, analisando a arte das capas e folheando as páginas.  Se ele gostava de livros como eu achava que sim, era bem provável que ficaria bem lá. 📕
Qualquer coisa, se a livraria fosse um fiasco, a Paulista é repleta de segundas e terceiras chances. Lá tem muito para se ver, quase sempre é só preciso olhar e deixar que seu cérebro crie associações ou que vagueie sem destino. (era o melhor que eu podia fazer, mas porque eu estava preocupada com isso, não sei)
Ele aceitou. Juntos pegamos o metrô. Se ficou agitado, não quis demonstrar, mas a forma com que balançava a cabeça ou coçava os olhos deixou claro para mim que a ansiedade dele estava gritando em seu ouvido e anuviando seus olhos. (resolvi seguir em frente)😶
Ele olhava para cima, depois para baixo. Nunca para mim. Ah, sim, isso me incomodou. Tanto que uma hora cheguei a pedir para ele olhar em minha direção. Eu me afastei e esperei. Se durou 3 segundos foi muito, mas resolvi não me importar, afinal o sorriso dele era lindo. 
Eu o arrastei por toda a Paulista. Ora ele ficava ok, ora parecia que iria surtar. Sempre que estávamos sentados, suas perdas não paravam de tremer. 
Isso me fez lembrar de uma pessoa que eu havia visto na linha amarela do metrô uma vez, a perna dele também não parava de tremer e, quando olhava para as pessoas, parecia que ia ter um ataque de raiva. Lembro de ter observado aquele homem o caminho todo, sem entender sua angústia, pelo menos até agora. 
A semelhança era visível. E sabendo disso, eu tentei ao máximo distraí-lo, para que ele deixasse de pensar no que estava deixando-o assim. Claro, ele havia me dito que sofria de ansiedade, que tinha dificuldade em ficar em lugares cheios e com poucas possibilidades de fuga, mas preciso ser honesta e dizer que não pensei que fosse tão forte. (fiquei triste com isso)
Entrei em um modo em que tudo virava assunto. Comecei a tagarelar sobre qualquer coisa e, por mais que ele estivesse acompanhando a conversa, passei a me sentir cansada. Eu estava ficando sem ideias e, também, pensando se eu não estava exagerando, sendo chata ou só parecendo uma louca. 
Quando criança, sempre que isso acontecia, eu era repreendida pela minha mãe quando a visita ia embora. Comecei a imaginar a bronca que eu levaria se ela soubesse e fiquei com fome. 
A verdade é que eu não queria ir embora. Por mais que ele me lembrasse uma pessoa de quem eu não tinha boas referências (que entendo ser pelo fato dele usar preto e pelo jeito que mexe a cabeça), a sua companhia era leve. 
São poucas as pessoas com as quais eu consigo ser eu mesma. Existe uma alegria em mim que poucos puderam ver, isso porque ela não se manifesta com frequência. E perto dele ela se manteve presente, sem medo de ser repreendida ou anulada. Sua inquietude me deixou sim apreensiva, mas tinha junto dela uma calma que vinha da alma, e foi ela que me fez permanecer ali. (e ainda faz)
As poucas vezes em que ficamos parados, fosse na casa das rosas, na livraria ou no café, o jeito dele movimentar a cabeça ou balançar as pernas ficou bem marcado na minha memória. Mas era o sorriso dele que chamava o meu e fazia meu coração se sentir abraçado. 
Dividimos o copo, tomamos suco de canudinho, ao mesmo tempo.🥤🍍 Isso foi legal! Na volta, enquanto conversávamos, meu rosto chegava bem perto do dele. Era como se eu pudesse abraçá-lo e colar meu rosto no seu, bochecha com bochecha, como se fossemos amigos de muito tempo. A gente ria, ele abaixava a cabeça (acredito que o pescoço já estivesse doendo de tanto olhar pro céu). Era mesmo bom estar perto dele…
Desta vez não teve aquele aperto no peito. (rezei muito para que não tivesse) Foi mais para um “que bom que você voltou”. Um sentimento de alegria com euforia, pelo simples fato de rever alguém de quem sente saudades, alguém que fez falta e que sempre vai ter um espaço guardado no seu coração. 
No dia seguinte, eu não pude deixar de pensar nisso, e também me vi com receio pelo futuro. Fiquei chateada por ele não conseguir me olhar nos olhos. Pensei como seria viver com alguém que não consegue estar entre as pessoas.
Verdade que meu último relacionamento me treinou para não me importar em estar sempre sozinha, para aprender a ficar bem com a minha companhia, para não fazer planos..
Mas será que eu quero isso para mim novamente? Nunca poder ir além do presente, estar sempre pronta para um “vamos ver” (com a certeza de que é um não), para um “não vai dar” depois de ter criado mil expectativas…
E mais que isso, será que estou pronta para ver alguém que eu amo tentando e nunca conseguindo? Sempre refém de um medo que ninguém consegue ver? Será que serei capaz de sentir sua tristeza e não desmoronar? 
Não espero ser o seu milagre! Como a gente vê nos filmes, em que do nada surge alguém na vida do protagonista e que o conduz à superação. Não acredito que isso seja possível. Posso, na verdade, ser só mais um motivo de tristeza, uma dor a mais em sua coleção, das coisas que perdeu por causa da ansiedade. 
Mas também posso ser um motivo para tentar mais, uma companhia em meio ao caos, um conforto para o coração cansado…
Seja como for, eu escolhi não criar expectativas. Há dias em que eu falho de forma miserável, outros em que me mantenho firme. Mas também há aqueles que nego a impossibilidade e ajo sem pensar, deixando a impulsividade tomar conta; é nesses em que eu apareço na sua porta, como uma menina louca mesmo. 😥
Quando esses pensamentos me vêm à cabeça, eu tento assoprá-los para longe. Digo para mim mesma que de nada adianta planejar o futuro, que ele vai acontecer e ser do jeito que bem quer. 
Então, me forço a lembrar que ele não foi uma “dor no peito”, mas a ”lembrança de um abraço bom e seguro”, e só continuo ao lado do garoto do sorvete de chocolate….🖤
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nah-raposinha · 1 year
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lições aprendidas [p.3]
“Não são poucas às vezes que esbarramos com o nosso destino pelos caminhos que escolhemos para fugir dele.” — Jean de La Fontaine
Eu já havia desistido do design, mas o tempo que passei como telemarketing fizeram-me reconsiderar os meus traumas. Quando vi, já tinha pedido demissão e estava trabalhando em uma empresa de papel especial nos subúrbios do Cambuci. 
No segundo ano da faculdade, eu havia visitado um showroom dessa mesma empresa e fiquei encantada. Na época, enviei meu currículo, mas sem sucesso. Quatro anos depois, eu achava que tinha tirado a sorte grande quando, enfim, eles me contrataram. (menina tola)
O lugar era uma bagunça. Não demorou muito para eu perceber que precisava sair dali. Pouco tempo depois, meu cachorro ficou doente e faleceu. E por mais que eu tentasse, não conseguia passar em nenhuma entrevista. 
Eu estava vivendo a primeira pior fase da minha vida, tudo estava desmoronando, nada mais  fazia sentido: eu estava sem rumo. A empresa, falindo. E na tentativa de salvar, contrataram um primo. 
Oito anos se passaram, e lá estava eu sentindo aquele aperto no peito novamente, assim que ele subiu a escada e nossos olhos se cruzaram… Deus é testemunha do quanto eu tentei lutar contra esse sentimento. Tudo, absolutamente tudo, indicava que seria uma merda das grandes.
Eu tentei sair da empresa, eu rejeitei todas as investidas, comecei a sair com um cara qualquer na esperança de mudar o rumo do que eu sentia, mas tudo em vão. 
Ele não combinava em nada comigo. Tinha vício em bebida, usava drogas, sempre chegava atrasado no serviço, não gostava de estudar e nem de ler. Sua família era uma bagunça. Mas ele era bom com os animais, e foi por isso que meu coração resolveu dar uma chance. 
Entrei nesse relacionamento sabendo de duas coisas: que eu precisava viver essa história; e que ela não duraria para sempre. Eu sabia que não seria fácil, mas não pensei que seria tão difícil. Que ao mesmo tempo que me libertaria, deixaria marcas profundas em mim. 
Desde muito pequena, eu já sabia que é na dor que aprendemos e crescemos. Com os anos, percebi que há lições que são mais desafiadoras, que exigem mais de nós: de nossa fé e boa vontade. 
Esse relacionamento durou 7 anos. Conturbado e doloroso, do início ao fim. Eu já estava perdida quando ele começou e eu precisei me perder um pouco mais, chegar no fundo do poço e bater a cabeça para perceber que eu havia deixado de respirar. 
Eu era prisioneira em um conto de fadas, fruto do medo que minha mãe tinha de me perder. Havia correntes em meus pés e punhos, mas eu não conseguia enxergar. O mundo que ela criou para mim era irreal, e eu não podia viver nele. 
Ele me fez tirar a venda dos olhos. Apesar de ser exposta à luz ter sido uma experiência tortuosa, eu serei eternamente grata.🙏 Sinto que contribuímos e muito na vida um do outro.
Nunca fizemos planos juntos, mas crescemos. Hoje, ele não bebe mais e nem usa drogas; se formou em duas faculdades e fez pós-graduação. O nosso término deu a ele a coragem de que tanto precisava para seguir os seus sonhos, aqueles em que eu nunca me encaixei. 
Eu, além de ganhar a minha liberdade, passei a gostar da minha companhia. Hoje eu conheço alguns dos meus limites, e não deixo que as pessoas os ultrapassem. Eu não tento mais ser perfeita, busco ser eu mesma, por mais que pareça bobo e ruim aos olhos de alguns. 
Tomo sorvete quando sinto vontade, vou ao parque e assisto a todos os seriados e filmes que eu quiser. Consigo me vestir, sem precisar da aprovação de ninguém. Não abro mais mão do que é importante para mim. 
Mas, de todas as lições que eu aprendi, tem uma que julgo ser a mais valiosa: só eu sei qual é o meu destino e as lições que eu preciso aprender. Por mais que eu não tenha memória delas, o meu coração tem, eu só preciso continuar o escutando. ❤️ (e quem diria que ele me levaria até você, o garoto do sorvete de chocolate).... continua
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nah-raposinha · 1 year
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zero % de otimismo [p.2]
Ah, o ensino médio! Que época odiosa. Repleta de mudanças e decepções. Tudo parecia pesado demais… (e ainda parece)
Jardim Itápolis, esse era o nome do ônibus que eu pegava para ir e vir do colégio. Um dia, voltando para casa, assim que um lugar vagou, um rapaz perguntou se eu queria sentar. Sem pensar, eu arrastei meu corpo para o banco e fiquei o caminho todo olhando para os meus tênis. (ser adolescente é difícil)
O caderno dele estava entre as pernas. A mochila no chão. Pedi-lhe várias vezes para deixar eu segurar, mas em nenhuma delas eu disse eu voz alta. Mas tarde eu pediria desculpas, e colocaria toda a culpa na vergonha juvenil. 
Passaram-se alguns dias e lá estávamos nós de novo no busão. Só que dessa vez ele estava sentado no fundão. O ônibus freou de sopetão, e eu quase caí no colo nele. Nossos olhos se cruzaram, e foi aí que eu senti aquele aperto no peito pela segunda vez. 
Nos tornamos amigos. Uma amizade estranha, preciso reconhecer. Eu era animada, sorridente, e via o mundo com muita esperança. Ele era depressivo, negativo e sentia que Deus o havia abandonado. 
— Por que você fica lendo esses livros? — Eu estava segurando um exemplar de Harry Potter e o Cálice de Fogo. — Cada semana você aparece com um diferente. Você realmente lê todos?
— Eu leio porque gosto de conhecer outras histórias, por mais que não seja real. Elas fazem eu imaginar um mundo diferente, e a sensação é boa. — Respondi já esperando pela devolutiva. 
— O seu otimismo e felicidade são irritantes, sabia? Fico imaginando quando você vai crescer e começar a ver o mundo como ele realmente é? — Ele sempre me dizia essas coisas, e em todas as vezes eu ficava magoada. 
É, nossa amizade era assim. Por mais que o meu jeito o irritasse, ele sempre andava comigo. Ele estava no segundo ano quando nos conhecemos, mas fizemos o técnico juntos.
Ele passava os finais de semana rondando a porta de casa com aquela bicicleta vermelha. Ficávamos horas ao telefone. E sempre que dava, ele vinha em casa e a gente jogava baralho, vídeo game e comia pipoca. 
Minhas irmãs tinham ciúmes. Minha mãe me fez prometer que jamais o namoraria. Meu cachorro, sempre que podia mordia-lhe o pé. E foi assim durante todo o meu ensino médio.
Com paciência, eu sempre o ouvia dizer que o mundo era injusto com os pobres. Que por não ter dinheiro, ninguém o respeitava. Que o jeito era estudar e conseguir um bom emprego. (ele era um bom aluno)
A verdade é que ele viu o avô enforcado no quintal de casa. Sua mãe lutava contra um câncer desde que ele se lembrava. (ela faleceu pouco tempo depois enquanto dormia, em casa) Seu pai era distante, nada dizia. 
Ele foi um amor que durou 7 anos. Lembro que quando ele começou a namorar eu fiquei muito mal, porque eu podia jurar que era de mim que ele gostava. (tive até febre)
— Sabia que você se parece com a Grazi?! — Ele soltou essa na aula de ilustração 2D. 
— Jura?! Então por que você está namorando com ela, se você me conheceu primeiro? Ah, e você é muito sem noção de vir aqui dizer isso na minha cara. — Pensei, enquanto sorria indiferente. 
Ser amiga de quem a gente é apaixonado pode ser uma merda. Muitas foram as tardes em que eu passei ouvindo suas histórias. Ele me mostrava as cartinhas que escrevia para ela, os chocolates que comprava e pedia conselhos.
Uma vez ele me perguntou como fazer para convencê-la a transar com ele. Estávamos em um passeio do técnico, e eu só consegui fingir demência. Quando não, era ela quem vinha reclamar de alguma coisa e me perguntar o que deveria fazer. (eu devia é ter cobrado pelas consultas💰) 
 — Um amigo tem mais valor que um namorado. — Assim eu dizia para mim mesma, na esperança de não enlouquecer. 
O ensino médio acabou. Entrei na faculdade. Pouco tempo depois ele me indicou para trabalhar na mesma agência que ele. Por motivos que não convém agora, eu aceitei na hora.
Essa era a minha chance!!! Ele havia terminado com a namorada já fazia um tempinho. Parece que ela descobriu que ele a traiu, e decidiu fazer a mesma coisa. Eles tentaram sustentar o relacionamento, mas não rolou. (alguém aí achou que daria certo?!)
— Você não bebe, você não namora e não transa. Que vidinha de merda a sua. — Ele falou gentilmente para mim enquanto eu apanhava da impressora. 
— Você não tem mais idade para usar All Star, sabia?! Fica parecendo uma menininha. É por isso, e pelo fato de você ter essa cara de jovenzinha, que nenhum cara vai querer ficar com você. É como se fosse imoral, sabe?! — Sério, como ele podia ser tóxico quando queria. 
Mas eu ainda gostava dele, mesmo ele sendo um babaca comigo. E esse sentimento só desapareceu quando ele começou a namorar uma menina do serviço. (chega uma hora na vida que a gente precisa cair na real)
Hoje, eles são casados e têm dois filhos. Ele foi diagnosticado com Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), toma remédio controlado e passa por sessões periódicas com a psicóloga. 
Mas ele sempre volta…. manda mensagem dizendo que está difícil controlar os pensamentos, que as vozes na sua cabeça são cruéis. Agradece por eu continuar lembrando do seu aniversário, pede desculpas por ser um amigo ruim. 
[ A esposa me odeia! E por causa disso, ele manda mensagem sem ela saber. Queria que fosse diferente.]
Uma vez ele me disse assim:
— Eu sempre valorizei a sua amizade. Se eu quisesse mais, tinha medo de estragar tudo com o tempo e perder algo que era tão precioso para mim. Você sempre pareceu ler meus pensamentos e suas palavras eram um conforto. Eu queria muito ter metade do seu otimismo. Agradeço por você continuar me escutando e sendo minha amiga. 
Vez ou outra eu ainda sonho com ele. Foi assim que eu soube que teriam um menino; e é assim que eu sei quando ele não está bem. Quando isso acontece, costumo receber uma mensagem sua. 
A verdade é que nossos espíritos estão ligados. Provavelmente, somos velhos conhecidos. Se viermos juntos uma próxima vez e nossos caminhos se cruzarem, tenho certeza que continuaremos sendo bons amigos. 
P.S Natachinha, era como ele me chamava. Toda vez que alguém me chama assim, eu sorrio. Sei que é porque sentem carinho por mim. 🦊
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nah-raposinha · 1 year
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😸❤️cartões de gatinhos [P.1]
Você já sentiu isso?
É a primeira vez que seus olhos se cruzam, e você sente um aperto no peito. Como um choque, a dor causada pelo impacto te paralisa. Uma ferida antiga, até então adormecida, desperta com o reencontro.
A primeira vez que eu senti isso, foi no primeiro dia de aula do terceiro ano do fundamental. O nome dele era Paulo Victor, e ele foi o primeiro garoto de quem eu realmente gostei. Eu via e sentia uma dor profunda em seus olhos. Uma tristeza que era como um ímã para mim. 
— Eu gosto de você. — Ele me disse na primeira semana de aula, no fundo da quadra de ginástica. 
— Eu também gosto de você. — Retribui a coragem com honestidade.  
Depois disso, ele pediu para segurar a minha mão uma vez, e eu deixei. Em casa, fui ameaçada de todas as formas pela minha mãe. No dia seguinte, ele pediu novamente e dessa vez eu disse que não podia.
Ele não sorria, nunca fazia as lições, estava sempre perturbando as pessoas e não interagia com os outros garotos. Tinha uma menina, que assim como ele tinham repetido o ano, eles viviam juntos, eram amigos as pessoas diziam.
A gente não conversava, ele também não implicava comigo, ao invés disso sempre deixava um cartão de gatinho (com o seu nome e uns corações desenhados à caneta) na minha mesa. Eu guardei todos. 
Sempre o observava de longe, não entendia sua dor, apesar de senti-la. Eu não o julgava, como as pessoas faziam, só torcia para que ele aprendesse a sorrir e que tivesse uma boa vida. 
Um pouco antes do ano letivo terminar, ele veio falar comigo. Disse que ia embora, que não voltaria no ano que vem e que odiava essa escola, mas que estava triste porque não iria mais me ver, e sentiria a minha falta. 
Eu sorri, disse que também sentiria saudades e pedi que se cuidasse. Lembro de ter ficado muito triste. Passei alguns dias sem querer brincar ou comer direito. Eu nunca mais o vi. 
Alguns anos depois, em uma conversa aleatória, minha mãe disse sentir muito. Que apesar de sermos crianças, que o nosso sentimento era real e ela podia ver, e mesmo sabendo disso foi dura comigo para me prometer. 
Naquele ano, eu tive meu primeiro ataque de pânico. Não contei para ninguém, mas aqueles corredores ainda me perseguem em sonhos, sinto medo daquelas escadas. 
Seis anos se passariam até eu sentir novamente esse choque…
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nah-raposinha · 1 year
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um beijo inesperado 😶
Alguma vez, você já ficou sem voz? Incapaz de dizer o que sente?
Há estudos que dizem que nós, seres humanos, não somos capazes de vivenciar dois sentimentos ao mesmo tempo. Bom, só posso dizer que esses estudiosos esqueceram de considerar aquela parcela do mundo que vive à margem da ansiedade. 
Raiva, nervosismo, mágoa, tristeza, insegurança… esses são alguns dos sentimentos com os quais eu convivo em meus momentos mais desconexos. Todos querem ser o escolhido: gritam, fazem barulho e perturbam a minha mente ao mesmo tempo.
Eu aprendi que nesses momentos, eu preciso de um esconderijo: um lugar seguro, longe dos olhares curiosos, do barulho da civilização e do brilho ofuscante da luz. 
Logo percebi que o segundo andar era de longe o mais calmo. A verdade é que os anos treinaram meu olhar, tanto que consigo identificar à distância o refúgio perfeito. 
Num impulso, soltei a sua mão e subi as escadas. Em meio às prateleiras de usados, eu me joguei no chão, tirei a bolsa do ombro e coloquei a cabeça entre as pernas. Respirei forte algumas vezes e mantive minha cabeça nessa posição, tentando calar o que tanto perturbava a minha mente. A dor da cólica só aumentava o desconforto. 
— Ele não vai te achar aqui! Ele não vai te achar aqui! Droga, ele realmente não vai me achar aqui!!! 
Digo para mim mesma que eu preciso me levantar e descer. Eu o deixei na área da Companhia das Letras, junto a vasta coleção de Stephen King. Mas eu não consigo, não consigo me mexer. Pego o celular e mando uma mensagem, tentando ao máximo parecer despreocupada. Ele não visualiza.
Eis que entro em uma discussão interna, na qual um lado suplica para eu ir procurá-lo enquanto o outro ordena que eu continue aonde estou. Minha respiração já alcança um nível mais forte quando eu o vejo do outro lado do salão, no mesmo andar que eu. Torço para que ele olhe para frente, mas nada. Ele resolve dar a volta, e é nessa hora que eu venço o ditador e me levanto para buscá-lo. 
Como uma criança que teme a represália de um adulto, dei o meio sorriso mais torto e disse que achei o lugar perfeito para ficar sentada no chão, mascarando a situação. 
Eu percebi a inquietude em seu olhar, um início de raiva com confusão. Mesmo assim, ele manteve a postura e em questão de minutos já estávamos retirando livros da prateleira e criticando o estado e o preço absurdo de cada obra. — Ufa! tô salva! — Foi o que pensei…
Continuamos o passeio. O clima estava deveras agradável. Quando passávamos em frente a uma cafeteria ou lanchonete, o cheiro forte de café misturado com pão na chapa trazia conforto, ao mesmo tempo que incitava a fome em nós. 
Não sei se foi isso, ou a quantidade absurda de pessoas que enchiam os dois sentidos da calçada, típico da Avenida Paulista, mas eu senti a mudança de sentimento. De repente ele estava visivelmente inquieto. 
Tentei distraí-lo, é claro! Mas eu ia perceber que seria tudo em vão. Logo, eu comecei a ficar inquieta também, e ansiava chegar até a última parada, que na minha cabeça seria o Shopping Cidade São Paulo.
Na época em que trabalhei por ali, o pessoal costumava ficar na praça ao lado do shopping. Um lugar agradável, no qual enchiam de luzes no Natal. Por várias vezes eu pensei em repousar ali ao término do serviço, mas as obrigações sempre me impediram de ‘desperdiçar tempo’. 
A ideia era ficarmos um pouco por ali, observando o movimento e depois entrar para tomar um sorvete e, quem sabe, achar uma livraria. (é uma meta nossa visitar todas as livrarias que a gente conhece em São Paulo. Mas ninguém disse nada).
— São 17 horas! — Ele diz apontando para o relógio. — Você sabe o que isso quer dizer? — Diante da minha negativa, ele completou. — O jogo do Real Madrid está começando, o jogo da final. 
Se não fosse pelo tom, eu acredito que teria levado numa boa (ou não, nunca saberemos). Mas acontece que eu já estava lutando para me manter em ordem, afugentando as vozes na minha cabeça desde que aquele dia começou, que não fui capaz de me segurar.
Quando dei por mim já estava de pé, andando em direção a entrada do Shopping. Irritada, uma irritação quase infantil, daquelas em que a gente bate o pé, fecha a cara e cruza os braços em protesto. Todas as vozes voltaram. 
— Compra esse sorvete, taca na cara dele e vai embora! — Dizia a mais barraqueira. — Ele jogou na sua cara que preferia ver o jogo a estar com você, já sabe né?!— Repetia aquela que adora ver o parquinho pegar fogo. — Também, vocês ficam de bobeira fazendo nada da vida. — Vomitada a mais debochada. 
Subi todos os lances de escada, na esperança de que ele soubesse para onde eu estava indo e achasse o caminho. O erro do principiante é achar que a sorte pode bater duas vezes na mesma porta. Então, novamente, mandei uma mensagem com ar de inocência pedindo para ele subir e tomar sorvete. Só que dessa vez não deu certo. 
Quando eu o vi, ele estava puto! Nem irritado, só puto mesmo. Perguntou se eu ia continuar fazendo isso e pediu para irmos embora. Seja por capricho ou na esperança de tentar consertar as coisas, eu exijo sentar para comer. Ele bufa, mas aceita.
Com a cabeça baixa, apoiada na mochila, ele se calou. Compreensível! Totalmente aceitável. Insisti para que ele tomasse o sorvete, e ao perceber que não teria mais conversa, levantei, joguei o gelado na lixeira e comecei a andar, ou a andar rápido. (vai da sua percepção)
Quem aí achou que a essa altura do rolê eu teria aprendido com as duas burrices anteriores, enganou-se. Como um husky que tira sarro da cara do seu cuidador, eu desci as escadas na velocidade da luz, deixando-o novamente para trás.
Claro, eu sabia que essa não era uma boa ideia. Mas, uma parte de mim, aquela que até então tinha se mantido bem quietinha (canalha!), tomou conta da cena para fechar o dia com chave de ouro. (sim, minha ansiedade me presenteia com várias personalidades)
Eu andava rápido e esperava, só para ter a certeza de que ele estaria logo atrás de mim. (filha da puta!) Entrei na estação e coloquei-me à espera do metrô. Logo ele estava do meu lado. Por um relance pensei em pegar o trem e deixar ele lá. Queria ficar sozinha, não ter que lidar com tudo isso. 
Mas, como sempre, meu coração fala mais alto que todas as vozes na minha cabeça. Como eu poderia deixá-lo ali sabendo que ele poderia passar mal no metrô? Eram muitas as estações até sua casa. Revoltada, fui para o último vagão e esperei o próximo trem. (ele prefere os lugares mais vazios)
Eu não conseguia olhar para ele. Mantive-me encostada na parede do trem, com os olhos fixos em qualquer coisa que estivesse à minha frente. Estava envergonhada, confusa e torcia para me acalmar. Recitando um mantra e tentando alcançar a estabilidade. 
Um pouco antes da penúltima estação, ele tirou a garrafinha de água da mochila, entregou-me e então me deu um beijo na cabeça, próximo a região da testa e disse — Fica bem. 
Eu nunca senti isso na minha vida... Naquele beijo tinha carinho, cuidado e preocupação. Mais tarde, eu continuaria pensando nele, tentando decifrá-lo. 
Não é só porque eu não conseguia agir de outra forma, que eu não tinha consciência de que eu estava muito errada naquela história. E por isso, esse beijo me pegou de surpresa. Foi tão inesperado, que nem a minha personalidade mais traiçoeira foi capaz de ficar ali. Vi-me abandonada, perdida e totalmente sem ação. As vozes se calaram e deram espaço para o meu coração, que disse —  Segue ele. 
Eu segui. Calada. Como uma sombra, sem fazer contato visual. Assim que descemos na Mooca, eu dei meia volta e subi as escadas, para chegar ao outro lado e pegar o caminho de volta. Sentei no banco, o choro na garganta. Depois de alguns segundos, ele estava novamente ao meu lado. 
— Você quer me falar alguma coisa?
Deus, por favor! Não é possível que ele seja tão emocionalmente avançado, que no mesmo dia ele consegue me desestabilizar duas vezes com sua atitude… (alguém descreve aí, porque aqui ainda não consegui identificar os adjetivos certos). 
— Como ele pode estar me perguntando isso? 
Eu estava incrédula. Se o beijo tinha me deixado sem chão, aquela pergunta foi um soco no meu estômago. A essa altura, era para ele ter dado meia volta, bloqueado o meu número e nunca mais desejar ouvir falar de mim. (no fundo, era o que eu queria)
Eu então o abracei. (o que mais eu poderia fazer?) Ele não recusou meu abraço e, ainda, permitiu que eu o tivesse pelo tempo que eu precisasse. Pedi para ele deixar eu ir com ele (tem uma área comum em seu condomínio que eu gosto muito, com vista para o céu e fonte de água ao redor). 
Ficamos por mais de uma hora, os dois ali. Ele assistindo o segundo tempo do jogo (Real Madrid ganhou, para quem quiser saber) e eu fiquei observando as crianças disputarem a quadra de futebol. Enfim, eu disse que ia ao banheiro, peguei minha bolsa e fui embora. (sim, eu fiz de novo! Alguém, qualquer um, explica por favor qual é o meu problema?)
Eu não disse tchau! Mandei uma mensagem pedindo desculpa pelo dia de merda e recomendando que ele fosse comer pizza. (ele devia estar com fome, pensei) Meu celular tocou — Cadê você??? — No ônibus, respondi. 
Ele não disse mais nada. 
P.S Vocês ficam juntos há muitas vidas. Na relação de vocês, há sempre uma vontade muito forte de fazer dar certo. [leitura de tarô, em resposta à pergunta: a gente já se conhece de outras vidas?]
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nah-raposinha · 1 year
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diga o meu nome
— Qual é o meu nome? Você se lembra? Diga o meu nome. 
Já faz algumas semanas que quando você me vem à mente, ouço sua voz me pedindo para dizer o seu nome. Não é que eu não lembre, mas por algum motivo, que não recordo agora, eu mudei o seu nome. Era Natal, eu estava injuriada e você não pareceu se importar.
>>>
O ano é de 2001. O mundo não acabou com o início de um novo milênio como os profetas disseram; e a prova disso é que já haviam se passado pouco mais de um ano e nada havia mudado (nada mesmo). 
O telefone toca. Meu pai atende. — Não tem ninguém aqui com esse nome. Assim que ele coloca o telefone no gancho eu pergunto — Qual era o nome? E ele então me diz. 
Eu nunca havia ouvido esse nome. Lembro de tê-lo repetido várias vezes, pois a sonoridade mexia comigo. Descobri sua grafia correta e de tão perfeita, eu o dei a você. 
Você que sempre me acompanhou, nas horas boas e nas ruins. Que mais tarde eu descobriria que seria a minha companhia mais presente, a única capaz de ouvir meus pensamentos, de afugentar meus monstros e manter-me nesse mundo. 
Eu te procurei. Oh, como eu te procurei! Em todas as listas, em todos os olhares na rua. Com os anos aprendi a te escutar, e passamos a conversar sem proferir palavras em voz alta. Por mais que eu me sentisse acolhida, sua presença física sempre foi um vazio em meu peito. 
Eu desisti. Desisti de você, por isso troquei o seu nome. Você me enganou, e no fundo eu não quis te perdoar. Trocar seu nome foi uma forma de mantê-lo distante, não do meu coração, mas da minha mente. 
<<<
— Você precisa dizer o meu nome. Diga o meu nome! — Eu podia sentir a urgência em sua voz. Uma súplica. 
— Eu não quero! Ele agora é desconfortável demais para mim. Eu não acredito mais. 
Há quem desconheça os mistérios que envolvem um nome… A verdade é que por mais simples que possa parecer, todo nome carrega uma energia, uma força no universo que conecta: capaz de atrair e aproximar. 
Meus desejos não são convicções. E sem perceber eu disse o seu nome: uma, duas, três vezes. 
Tem uma brincadeira que faço comigo mesma: depois do três sempre vem o quatro. Então, se eu não quebrar o ciclo no dois, se deixar chegar ao três, o quatro com certeza virá!
E eu cai na minha própria armadilha. 
Mas, para minha surpresa, desta vez você resolveu atender ao meu pedido mais antigo, aquele que eu guardei no coração por longos anos, aquele que por mágoa e cansaço eu despejei no mar e dei as costas.
Você me deu um presente 🎁
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nah-raposinha · 1 year
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sorvete de chocolate
Nunca acreditei em promoções, raspadinhas e tudo que envolve a sorte, mas lá estava eu como Charlie em busca do bilhete dourado, em A Fantástica Fábrica de Chocolate. — Gente, não é que essa praga vicia!!!😂
A essa altura, eu já tinha dado match em pelo menos 4, afinal,  eu não estava ali para encontrar meu príncipe encantado, mas para vivenciar a experiência de conhecer alguém pela internet (tive que me lembrar disso algumas vezes, porque estava sendo muito exigente).
— Como assim, você não gosta de sorvete de chocolate? 🍨
É verdade, eu nunca gostei de sorvete de chocolate! Napolitano é meu sabor favorito, mas eu nunca como o de chocolate. E eu havia adicionado esse fato no perfil. 
Achei interessante a forma aleatória, porém embasada, de puxar assunto. Com certeza uma abordagem que eu tomaria em meus dias mais confiantes. 
Fosse por diversão ou só por teimosia mesmo, mas passamos um tempo discutindo sobre qual o melhor sabor de sorvete, e discordando um do outro. (a sinceridade tem seu charme)
E a conversa seguiu assim, entre filmes, animes e gatos. Em menos de 1h, já tínhamos trocado Whatsapp. Rápido? Insensato? Talvez, mas eu não me importei com a velocidade, a conversa estava boa e eu pensei: porquê não?!😊
Ele foi a primeira pessoa com quem eu comecei a conversar…
A verdade é que não tinha quase nada no perfil dele e o aplicativo dizia que seria uma relação um pouco desafiadora. 
Mas por que eu dei “match”? Ele era de peixes, tinha o cabelo bagunçado, formado em letras, sorriso torto e gostava de gatos. Ah, ele também tinha cara de bonzinho. 
Sim, eu sempre andei contra a maré. Enquanto as meninas brigavam pelos bad boys, eu sempre gostei dos nerds, intelectuais, educados e divertidos. 
Eu não curto relacionamentos conturbados, joguinhos e nada que me desgaste emocionalmente. Então, pode até soar piegas, mas para mim a resposta estaria na tranquilidade do olhar e na espontaneidade do sorriso. 
E eu vi isso no rapaz do sorvete de chocolate (tá bom que o sorriso estava pela metade, mas resolvi acreditar no seu potencial). 😆
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nah-raposinha · 1 year
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azul é a cor mais quente💙
Infinitos corações azuis, seguidos de inúmeros perfis de pessoas, em sua maioria homens: de todas as idades, nacionalidades e características. 💙
Fiquei surpresa em perceber que não demorou muito para eu me acostumar com a arte de rejeitar pessoas. Com um simples toque de tela eu disse “não” para uma caralhada de homens.😈 
Na minha visão de julgadora recente assumida, todos tinham um defeito: muito novo, muito velho, ariano, barbudo, cabeludo, estiloso demais, desleixado, sem estudo, nome do ex (sem chance, Deus podia descer aqui e me dizer que é a minha alma gêmea, que eu iria rejeitar e ainda fazer cara feia), bebe demais, fuma, hobbies nada a ver comigo...
Mesmo quando eu lia o perfil, ainda assim, todos pareciam vagos demais, nada me chamava a atenção. Cheguei a pensar que nem sabia o que estava buscando e, sim, comecei a me sentir mal em fazer parte do sistema. 
O próprio aplicativo dizia que "não há almas compatíveis com você”. Nossa, que frustrante! Abandonei a busca e fui dormir, afinal, o sono havia chegado. 😴
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nah-raposinha · 1 year
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😅tô fazendo nada mesmo...
Sexta à noite e eu estou aqui, jogada na cama, esperando o tempo passar enquanto aguardo o sono chegar. 
Dormir é sempre um refúgio em dias como esse, em que minha mente exausta pouco reflete sobre a vida e seus contratempos, apenas se entrega a mais completa abstinência de pensamentos. 
Vez ou outra, contudo, ela resgata trechos de um passado recente, e desta vez esse lampejo me fez baixar um app de relacionamento. (sem comentários!)😶
É verdade que eu muito relutei em seguir esses passos, mas agora a ideia me parecia bem menos desesperada. Afinal, a semana toda eu havia ouvido minhas amigas do serviço falarem das pessoas que elas estavam conhecendo pelo app.🖤 (só trevas, mas decidi ignorar esse fato)
Confesso que senti curiosidade em saber como seria conhecer alguém pela internet, apesar da dinâmica não me agradar em nada.
Há crueldade em aplicativos de relacionamento: escolher as pessoas em uma vitrine virtual, decidir mediante imagens e um breve descritivo se descarta ou se aceita dar uma chance para o começo de alguma coisa.  
Sei lá, gosto do modelo antigo, o problema é que quando sua vida social se resume a trabalho e estudo à distância, fica difícil conhecer pessoas novas, então me rendi a curiosidade e a expectativa de encontrar alguém que pudesse me ajudar a preencher esse vazio de sexta à noite...
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nah-raposinha · 1 year
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a fome
Acordo todos os dias com uma fome que corrói o estômago. Começo então a passar em minha mente todas as coisas que eu sempre gostei de comer, só que nada me interessa.
Olho então para a fome e peço que ela passe mais tarde, quando eu lembrar de algo. Contrariada, ela vai embora.
Quando volta, já é outro dia. Olho desanimada para ela. Novamente não consigo pensar em nada e bufando ela me deixa jogada entre os lençóis.
A lua desponta no céu, sei disso porque o lixeiro grita lá fora enquanto faz o seu trabalho. Olho para o lado e de pé está um ser de rosto doido e amargo. Notei que sua aparência estava pior agora e resolvi demonstrar gentileza.
Dei-lhe biscoito com leite. Agradecida, a dor que me fez sentir até então na cabeça diminui e aquele enjoo também. Agora temos um acordo: lhe dou migalhas e em troca ela vai tirando minha vida aos poucos.
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