Text
De repente, enquanto você escreve, você se depara com a seguinte situação:
Era frustrante ver que meus esforços para fazer ele entender eram em vão...
Espera... "fazer ele entender"? Ou "o fazer entender"?
Se você já teve essa dúvida, essa dica vai te ajudar a saber que, na verdade, a forma correta é "para fazê-lo entender".
Isso porque, depois de um verbo transitivo direto no infinitivo (verbos que terminam com 'r' e não precisam de preposição), o correto é usar o pronome oblíquo e ênclise.
Os pronomes oblíquos são aqueles que funcionam como complemento de um verbo, ou seja, eles completam o sentido do verbo, indicando a pessoa que recebe a ação verbal (a, o, lhe, se, me, nos, vos...).
Eu o vi na rua.
Ela a encontrou no parque.
Eu lhe dei um presente.
Eles nos pediram ajuda.
Ele se machucou.
A ênclise é um dos três tipos de colocação pronominal na língua portuguesa, que se refere à posição do pronome oblíquo em relação ao verbo. Especificamente, a ênclise ocorre quando o pronome oblíquo é colocado após o verbo, ligando-se a ele por hífen. Em outras palavras: a ênclise é quando o pronome vem "depois" do verbo.
Contaram-me um segredo.
Disseram-lhe a verdade.
Fez-se silêncio na sala.
Então, se você se deparar com essa situação de um verbo terminado em 'r' + pronome oblíquo, saiba que a forma correta de escrever é essa:
Decidi contratá-lo para a vaga de gerente.
O juiz ordenou condená-la à prisão perpétua.
Espero convencê-los a participar do evento.
É preciso ajudá-las a superar os desafios.
Consegui convencê-lo a mudar de ideia.
A empresa decidiu demiti-lo devido à má conduta.
Outro dia falo mais sobre próclise e ênclise. Por enquanto é só, boa escrita! 👋☕️
4 notes
·
View notes
Text
Outra coisa que é bem interessante (e que acabou de me ocorrer), é aquela história que trabalha com a "ironia do destino". Por exemplo, um universo em que as pessoas reconhecem suas almas gêmeas pelo olhar, mas o protagonista é cego.
Ou então, usando o exemplo do livro A Forma da Água, a protagonista, que é muda, é a única pessoa capaz de se comunicar com a criatura mitológica capturada para estudos científicos.
Essas conexões, de oposição ou de similaridade, podem adicionar muito sabor na sua narrativa e te dar muitas ideias diferentes. ☕️
4 notes
·
View notes
Note
nuwa, nos dê dicas de como adicionar detalhes interessantes no enredo para dar um desenvolvimento maior na história e deixá-la mais interessante :3 o que podemos fazer para deixar nossa história bem construída?
Eu vou falar aqui sob uma perspectiva pessoal, como escritora e leitora, sobre os pontos que deixam uma história interessante. Claro, existem pontos de vistas diferentes, acho que especialmente quando se fala de gêneros diferentes, então eu quero trazer algo que seja comum a toda narrativa. Cada história vai ter sua particularidade e eu acho importante você estudar seu público para entender o que mais ou menos eles esperam ver.
O que eu considero que deixa a história interessante são os seguintes elementos: o dilema; a verossimilhança; e o tom da história. Vamos falar um pouquinho sobre cada um deles.
Dilema
Como eu já ouvi dizer uma vez, seu personagem não precisa de um problema, pois problemas são resolvidos. O que ele precisa é de um dilema, uma situação em que ele precisa tomar uma decisão difícil entre duas ou mais alternativas. Ou melhor dizendo: escolher qual é a menos pior das opções. Tal conflito gera um desenvolvimento que atrai a curiosidade, já que o leitor vai ficar "puts, e agora?" e vai continuar lendo para saber como esse personagem vai resolver, que situações vão surgir e quais serão as consequências.
Será que ele vai preferir entre um amor ou outro? Fazer o que é certo ou o mais fácil? Salvar a vida de um amigo ou de um país?
São inúmeras as situações em que seu personagem pode ser confrontado e não precisa ser algo terrível, caso a sua história seja mais modesta. Para citar um exemplo, naquele romance Para Todos os Garotos que Já Amei, a protagonista se vê numa situação em que é exposta para todos os garotos para os quais escreveu cartas de amor. Além disso, um deles é o ex de sua irmã. E agora? Quais são as alternativas? Se esconder para sempre? Lidar com o terrível constrangimento de admitir seus sentimentos? Ou então se envolver num relacionamento de fachada para escapar das explicações (e lidar com sua enorme inexperiência e timidez)?
Perceba que conforme ela toma decisões frente ao dilema (presumindo que você tenha assistido ou tenha uma noção da história), ela terá que lidar com novas consequências. É como uma teia e tudo está interligado, e a história fica cada vez mais interessante conforme uma decisão impacta em outra situação, como num dominó. E perceba que não tem como escapar ileso, pois toda e qualquer ação vai trazer repercussões e a personagem vai ter que lidar com isso.
Verossimilhança
Uma das coisas que atrapalham a leitura é aquela sensação de que você não consegue acreditar no que lê porque não existe uma estrutura lógica. Nada pior do que o personagem inventar de fazer algo que não faz sentido nenhum consigo ou com o que seria possível dentro daquela realidade fictícia.
A sensação de que os eventos poderiam acontecer na vida real ou em um mundo possível permite que o público se entregue à narrativa, experimentando as emoções e os desafios dos personagens como se fossem seus. A verossimilhança ajuda a suspender a descrença dos leitores, ou seja, a aceitar as convenções da história, mesmo que elas não correspondam à realidade. Por exemplo, em uma história de fantasia, o público pode acreditar em magia e criaturas míticas se a ela for contada de forma coerente e convincente.
É importante ressaltar que a verossimilhança não significa necessariamente retratar a realidade de forma fidedigna. Em histórias de fantasia ou ficção científica, por exemplo, a verossimilhança é construída a partir da criação de um mundo próprio, com suas próprias leis e regras, desde que sejam coerentes e consistentes. Por isso, é interessante quando você, enquanto autor, busca por referências, estuda possibilidades e monta o enredo de acordo com a lógica. A história não precisa ser real, ela só precisa fazer sentido.
O tom da história (e a construção de cena)
Esse ponto eu acho muito relevante, pois eu sinto que isso é o que mais pega o leitor. Pelo menos, no meu caso.
O tom da narrativa ajuda muito na escolha de cenários, de personagens e de atitudes. É o que facilita as decisões na escrita e o que sempre me ajuda no desenvolvimento. Caso você queira uma noção sobre estrutura, aqui é um bom ponto de partida.
Para tentar explicar melhor isso que eu chamo de tom, eu vou falar sobre a construção da cena, que se compõe de moldura, atmosfera e ação. A menos que você tenha intenção de eliminar algum deles, você deve levá-los em conta toda vez que for construir uma cena.
"A moldura é o conjunto de elementos fixos do cenário em que a ação se desenvolve: paredes, janelas e móveis numa cena doméstica; montanhas, campos, árvores e fontes de água numa cena campestre. A atmosfera está constituída pelos elementos variáveis do cenário: luz, temperatura, sons, aromas, etc. A ação é tudo aquilo que acontece no cenário, qualquer movimento, pensamento, diálogo, etc. Não é necessário que a moldura, a atmosfera e a ação estejam presentes em partes iguais em todas as cenas. O peso que cada um desses elementos terá vai depender, em primeiro lugar, das informações que o leitor já possua (se em cenas anteriores, por exemplo, o cenário em que vai acontecer a ação já foi descrito, torna-se desnecessário insistir na definição da moldura, e talvez seja preferível sequer mencioná-la de novo). Em segundo lugar, caberá ao escritor decidir o que deve ressaltar num determinado momento do relato. Para evitar redundâncias, o autor deverá perguntar-se, ao iniciar a descrição de uma cena, se o leitor já está suficientemente informado a respeito da moldura e da atmosfera em que a ação vai acontecer, tendo em vista os resumos e as cenas que surgiram anteriormente." - Como melhorar um texto literário, Profs. Felipe Dintel & Lola Sabarich.
Por que eu considero isso interessante? Porque é muito esquisito ler uma história que começa sem me inteirar do que está acontecendo ou então que adiciona detalhes que fazem a história perder seu objetivo.
Vamos supor que você queira contar uma história de mistério. Você precisa levar em consideração coisas que precisam ser ocultadas, atenções que precisam ser desviadas, objetos peculiares, pessoas bem estranhas. Já no caso de um romance, você precisa pensar em imagens que ilustrem a conexão entre os protagonistas e interações significativas. Se eu quero contar uma história bem humorada, não vou falar sobre um dia frio e tenebroso, mas dar importância sobre fatos coloridos e curiosos. Se quero contar sobre um drama, é legal dar atenção para o ar pesado, expressões tristes, plantas murchas.
Veja que saber o tom me permite saber que escolhas devo fazer para narrar. Começar a pensar sobre essa estrutura me permite me infiltrar nos sentimentos de quem está lendo e colocá-lo no véu da minha história. É como montar o quarto onde o leitor vai se deitar, sabe? O que você quer que ele veja e se atente quando entrar nesse ambiente? Como você quer que ele se sinta e quais são os elementos sensoriais que vão permitir essa experiência?
Eu às vezes sinto que não consigo me expressar cada vez que tento explicar isso. Eu queria usar exemplos, mas não tenho nenhum pronto aqui e eu não posso colar os do livro por causa dos direitos autorais, então eu vou redirecioná-los para esta estrela ⭐ que contém o livro com a licença para exibição. Páginas 27 a 54 contém o que estou falando aqui, mas o livro todo em si é maravilhoso, pode aproveitar para mais dicas.
Resumindo: é isso, pois como eu disse, cada gênero vai ter sua especifidade. Alguns vão priorizar cenas com tensão (outras com tesão), e alguns vão demandar personagens complexos, outros vão querer ver coisas mais absurdas. Não importa muito o tipo de história que você queira escrever, desde que você possa se focar nesses três elementos que citei, que vão compor o que eu considero os fundamentos de uma narrativa. São eles que vão fazer o serviço de cativar o leitor. Não importa colocar um protagonista muito interessante ou um cenário enriquecido se isso tudo não fizer sentido ou não for inserido num contexto que aproveite tudo isso, sabe?
Mais do que pensar em coisas interessantes, temos que pensar em como encaixar essas coisas. Criar situações para elas serem desfrutadas e começar a pensar num todo.
Podemos nos surpreender muito quando abrimos mão de ideias para sentir o que a história pede e explorar novas facetas. Até o estilo mais simples pode chamar a atenção quando você sabe dar o tom, fazer sentido e criar conexão com a moral do leitor usando um dilema.☕
[Obrigada pela ask!]
6 notes
·
View notes
Text
Pessoinhas lindas, vocês têm sugestões sobre o que gostariam de ver num blog de escrita? Especialmente neste blog aqui que vos fala. Quero umas ideias para futuras postagens☕
1 note
·
View note
Text
Porque, por que, porquê e por quê?
Pra que tantos porquês, não é, minha gente?
★ Quando usar o "Por que" (separado e sem acento)
No começo de perguntas diretas, ou seja, aquelas que têm um ponto de interrogação:
Por que você está triste? Por que não foi à aula ontem? Por que não tenta experimentar?
Em perguntas indiretas, aquelas que não tem o ponto de interrogação, mas que dão a entender que existe uma dúvida acerca do motivo. Para te ajudar, você pode substituir por "por qual motivo":
Gostaria de saber por que você fez isso. (Gostaria de saber por qual motivo você fez isso.) Eu não sei por que ele fez isso. (Eu não sei por qual motivo ele fez isso.)
★ Quando usar o "Por quê" (separado e com acento)
No final perguntas diretas. Ou seja, quando ele 'tá coladinho com o ponto de interrogação:
Você não veio, por quê? Você parece meio triste, por quê?
Isolado, com sentido de "motivo". Quando ele aparecer sozinho ou então antes de uma vírgula:
Não sei por quê, mas tenho um pressentimento ruim. Eu não o vi hoje. Por quê? Ele não me disse por quê, mas eu descobri.
★ Quando usar o "Porque" (junto e sem acento):
Em explicações, justificativas ou razões:
Ele não veio porque estava doente. Estudo muito porque quero passar no vestibular.
★ Quando usar o "Porquê" (junto e com acento):
Quando tem sentido de substantivo, significando "motivo" ou "razão". Você sempre vai vê-lo com o artigo "o" antes, então fica essa dica pra você lembrar:
O porquê de sua ausência ainda é um mistério. (O motivo de sua ausência ainda é um mistério.) Descobri o porquê de tudo. (Descobri o motivo de tudo.)
E é isso por hoje, pessoal! ☕
4 notes
·
View notes
Text
"O escritor não para de trabalhar. O escritor está sempre pensando na possibilidade de que as coisas que acontecem em sua vida real se transformem em texto. Vou andando pela rua. Carrego um caderninho e nele vou anotando coisas que poderão ser úteis, por exemplo, para um novo romance. De repente, as ideias chegam, sem que saibamos muito bem por que, e se fixam na mente. Quando tive a ideia do romance O sorriso etrusco, eu estava em Estrasburgo, passando alguns dias por volta do Natal na casa de minha filha, que tinha um bebê de nove meses. Numa noite, dessas noites frias que fazem no centro-europeu, o bebê começou a choramingar. Como sempre saio da cama muito cedo, peguei a criança no colo para que sua mãe ou a avó não precisassem se levantar. Enquanto eu ninava a criança, andando pelo quarto, a luz da lua incidia sobre a neve e entrava pela janela. Foi fascinante. Esses quinze minutos transformaram-se para mim numa eternidade, e fiquei pensando em tudo o que bebê ainda teria de viver, se um dia me conheceria, como seria o seu destino, etc. Em resumo, voltei para a cama com a intenção de escrever um pequeno conto intitulado 'O avô' que acabou se tornando um romance com mais de duzentas páginas. Isso mostra que nunca se sabe como será o primeiro passo de um romance. E, como é evidente, cada escritor tem uma forma de desenvolver a trama e de procurar os pontos de apoio para mantê-la viva. Eu demoro bastante para concluir um romance, faço extensa pesquisa. Precisei de cinco anos para terminar A velha sereia, não porque eu quis exibir erudição, mas porque tenho uma convicção em meu trabalho de escritor: se eu não acredito naquilo que estou contando, o leitor também não irá acreditar. Por isso eu preciso pesquisar e me documentar muito."
- José Luis Sampedro.
1 note
·
View note
Text
"Para escrever é preciso escrever. Nessa contradição se situam a essência da escrita, a dificuldade da experiência e o salto da inspiração. O salto é a forma ou o movimento da inspiração. Essa forma ou esse movimento não apenas faz da inspiração o que não se pode justificar, mas que esta se reencontra em sua principal característica: nessa inspiração que, ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto, é falta de inspiração, força criadora e aridez intimamente confundidas."
- Maurice Blanchot.
2 notes
·
View notes
Text
"Ao escrever um livro, a primeira pessoa a quem você deve agradar é você mesmo. Se for capaz de se divertir durante o tempo que escrever o livro, certamente conseguirá divertir também os editores e leitores."
- Suspense - Como se escribe una novela de intriga, Patricia Highsmith.
2 notes
·
View notes
Text
"Às vezes quando eu estava começando uma nova história e não conseguia engrená-la [...] levantava-me, contemplava os tetos de Paris e pensava 'Não se preocupe. Você sempre escreveu antes e vai escrever agora. Só o que precisa fazer é escrever uma frase verdadeira. Escreva a frase mais verdadeira que sabe'. Assim finalmente eu escrevia uma frase verdadeira, e depois prosseguia a partir dali. Era fácil porque havia sempre uma frase verdadeira que eu sabia, tinha visto ou tinha ouvido alguém dizer. Se eu começava a escrever de maneira rebuscada, ou como alguém que introduz ou apresenta alguma coisa, descobria que podia cortar esse ornamento, jogá-lo fora e começar com a primeira frase declarativa simples e verdadeira que tinha escrito."
- Oficina de Escritores, Stephen Koch.
4 notes
·
View notes
Text
Dizer e Mostrar
E aí, meus queridos?
Vamos falar hoje sobre uma coisa que vai te ajudar muuuuuuuuuuuuuuuuito a repensar sobre seu texto e a como criar uma leitura imersiva.
Você, como escritor, deve saber que existem dois jeitos de contar a mesma coisa: dizendo ou mostrando.
Quando você diz, você faz uma afirmação clara e objetiva, expondo de forma direta a informação ao leitor. Exemplo:
Ele era um homem muito inteligente.
Ou seja, a frase diz que o homem é inteligente sem descrever comportamentos ou situações que evidenciam essa característica.
Quando você mostra, você utiliza descrições, diálogos e ações para que o leitor chegue à conclusão. Vejamos como o exemplo anterior seria mostrado:
Ele solucionou o complexo enigma em poucos minutos, deixando os outros participantes da competição boquiabertos.
Não foi preciso dizer que o personagem era inteligente, mas quem leu certamente pensou "caramba, se ele solucionou algo tão complexo, ele era muito inteligente".
A diferença básica entre dizer ou mostrar está no fato de que o primeiro (dizer) está relacionado a termos abstratos enquanto o segundo (mostrar) se serve de imagens. Dizendo eu entrego de bandeja a informação e mostrando eu apresento uma situação e deixo meu leitor fazer suas próprias interpretações.
Qual é a melhor opção? As duas! Num texto é preciso equilibrar essas duas formas de narrativa para tornar a história atrativa, afinal, um texto que só mostra corre o risco de ser muito denso e monótono e um texto que só diz apenas despeja informações prontas, o que torna o texto corrido e não envolvente.
Como eu vou saber quando utilizar uma forma ou a outra? Essa é a pergunta certa a se fazer. Para chegarmos à resposta, vamos conferir mais um exemplo e conversar sobre ele.
Ren está nervoso. A entrevista é importante. Sabe que precisa causar uma boa impressão.
Veja que não há espaço algum para visualização e interpretação. Não há imagens que levam o leitor a tirar suas próprias conclusões. Com essa descrição tão breve, o leitor pode se perguntar "mas como eu sei que ele está nervoso?" porque não há mais informações sobre esse nervosismo, o motivo por trás dele, o contexto. Em suma, é mais difícil sentir empatia pelo personagem.
Também não há como saber de que jeito Ren fica nervoso e isso já é uma falha no texto que poderia ter aproveitado essa oportunidade para descrever melhor sobre o personagem. Também não dá pra saber o que ele está fazendo para causar uma boa impressão, já que existem tantas possibilidades que a mente do leitor fica em branco, sem saber a que imagem recorrer.
Se quiséssemos que o leitor ficasse imerso na leitura, teríamos que acrescentar informações sobre o cenário, as ações e emoções. Também teríamos que evitar os verbos ser e estar e substituir as descrições abstratas (nervoso, ansioso, triste, feliz) por imagens, ou seja, ações concretas que demonstrem o que está acontecendo.
Então, em vez de dizer que Ren está nervoso, vamos dizer que:
Em frente ao espelho, as mãos de Ren tremem enquanto ajustam a gravata. Seus olhos estão focados no laço que não conseguiu acertar na primeira volta e evitam ao máximo aqueles do reflexo. Quando enfim termina, engole em seco e limpa as palmas das mãos úmidas na calça. Daqui a pouco precisa pegar o ônibus para chegar ao local da entrevista. Só de pensar nisso, Ren fica com as pernas bambas. Ensaia um sorriso forçado e respira fundo várias vezes. Considera-se pronto quando calça os sapatos, no entanto, antes de sair algo lhe ocorre: uma lembrança sobre um comentário relacionado sobre o uso antiquado de gravatas. O acessório enforca seu pescoço. Foi presente de vovó, que lhe desejou sucesso no aniversário anterior. Achava que ela traria sorte, mas pensando bem, talvez fosse melhor não usá-la. Vovó não sabe mais sobre a etiqueta dos tempos atuais. Com a mão no nó apertado no pescoço, o pé de Ren vacila na entrada. Com pressa, ele tira a gravata e hesita com ela em mãos. O som de buzina na rua lhe causa um sobressalto e seu olhar no relógio constata seu atraso. Precisa sair logo, o quanto antes. Embola a gravata e a enfia no fundo do bolso, e sai em disparada para o próximo ponto de ônibus.
Bem diferente, certo? Veja que em nenhum momento eu citei que ele está nervoso. Eu mostrei que ele está e usei vários tipos de imagem.
Quando queremos fazer a substituição de termos abstratos, o macete é se perguntar "Por quê? Como?". Se o personagem está feliz, por que ele está feliz? Prove que ele está feliz. Se está cansado, me mostre como é que ele está cansado. E aí você se esforça para captar recursos no ambiente que demonstrem essa felicidade, por exemplo, dizer que o personagem sorri o tempo todo, pratica bondades, cantarola, etc. Se está cansado, diga que os passos se arrastam, que não consegue levantar da cama, etc.
Lembre-se que as imagens são de ações reais, coisas que dão pra ver!
Você também deve ter percebido que mostrar dá um pouquinho mais de trabalho, pois uma pequena frase virou três parágrafos. Sim, mostrar é um recurso que exige mais de você já que você vai ter que se esquivar de dizer as coisas, mas ele é muito vantajoso porque se infiltra no imaginário do leitor.
Se você tem essa sensação de que seu texto é muito corrido e sem vida, opte por exercitar o lado de mostrar sua história. Aproveite a oportunidade para ilustrar como seu personagem se comporta e, principalmente, desligue sua neura!
Eu digo isso porque às vezes caímos na tentação de querer ter certeza de que o leitor entendeu o que estamos contando e aí falamos a mesminha coisa várias e várias vezes. Isso, além de ser um insulto à inteligência do seu leitor, também é muito desnecessário e cansativo. Pratique deixar as coisas não ditas e se preocupe em mostrar as atitudes do seu personagem.
Eu sei que é bem irresistível repetir a informação. É muito comum o erro de dizer e depois mostrar ou vice-versa. Eu admito que eu já cometi essa falha (ainda cometo pra falar a verdade) e hoje em dia trabalho isso no meu texto. A redundância é um desperdício de escrita, então vamos fazer o possível para não perpetuá-la e assim nos aproximarmos cada vez mais de uma leitura fluida.
Portanto, não vamos dizer algo do tipo:
Ren está nervoso. Suas mãos tremem enquanto ajusta a gravata.
É redundante. Se ele treme enquanto ajusta a gravata, já estou mostrando que ele está nervoso. Não preciso reforçar a informação.
Também não vamos dizer algo do tipo:
Achava que ela traria sorte, mas pensando bem, talvez fosse melhor não usá-la. Vovó não sabe mais sobre a etiqueta dos tempos atuais. Indeciso, Ren não sabe o que fazer. Não quer chatear a vó, mas também quer impressionar na entrevista. Com a mão no nó apertado no pescoço, o pé de Ren vacila na entrada. Com pressa, ele tira a gravata e hesita com ela em mãos.
Dá até uma impressãozinha de que a informação destacada agrega ao cenário, mas a sensação de modo geral é que ela repete o que acontece em seguida. Quando alguém está indeciso, não sabe o que fazer, então é redundante dizer isso. A hesitação também é uma demonstração da indecisão.
Parece que foi dito várias vezes sobre o mesmo fato, percebe? Se é algo pontual, pode até passar batido, mas se o texto contém inúmeras situações parecidas, o leitor vai querer te chamar de nomes indecorosos. Sem contar que isso começa virar uma encheção de linguiça...
Outro exemplo:
O sol se pôs há muito tempo e as estrelas já cintilavam no céu noturno. A cidade, iluminada por milhares de luzes, contrastava com a escuridão da rua onde Gabriel estava parado. Ele sabia que deveria tocar a campainha, mas seus pés pareciam colados ao chão. Hesitava. Tinha medo. E se ela não estivesse em casa? E se não quisesse vê-lo? Mil pensamentos cruzavam sua mente, cada um mais angustiante que o outro. Suas mãos suadas apertaram os botões do casaco, e ele respirou fundo, tentando se acalmar. Mas a ansiedade era maior do que ele. A campainha, tão próxima e ao mesmo tempo tão distante, parecia um abismo que ele precisava saltar.
Além das informações redundantes, as repetições acontecem num momento muito crucial. O leitor quer saber logo o que vai acontecer, pois provavelmente já sabe da importância daquele momento para Gabriel. Infelizmente, no meio do caminho há uma pilha de obstáculos que sequer acrescentam à narrativa, detalhes que falam sobre a mesma coisa várias vezes.
Excluindo as redundâncias, poderíamos reescrever o parágrafo da seguinte forma:
A noite já havia caído, e as luzes da cidade cintilavam como estrelas na escuridão. Gabriel, diante do portão, hesitou. O coração batia forte no peito. Respirou fundo e tocou a campainha, seu corpo tenso a espera da resposta.
É importante frisar que a ênfase é bem-vinda quando adequada, mas é como eu disse antes: se isso é recorrente no texto, o leitor pode ficar exausto da redundância. Escolha com sabedoria pontos para mostrar ou para contar.
Nem tudo precisa ser descrito em seus pormenores. Muita coisa fica subentendida, não se preocupe. Cenas que são relevantes merecem mais atenção porque são elas que vão falar sobre seus personagens, sobre os acontecimentos. Pense nisso como um filme, cuja câmera vai focar imagens que depois vão compor o quadro narrativo.
E saiba que mostrar nem sempre precisa de muitos detalhes ou você perde a oportunidade de distribuir a informação ao longo da narrativa. Foque no que é importante e vá dosando.
Quando quiser fazer uma passagem de tempo, uma ponte entre uma cena e outra, opte por dizer sobre aquele trecho sem muitas delongas. O que é chato e vazio não merece foco do seu leitor, sabe? Se você quer, por exemplo, falar sobre o relacionamento de duas pessoas que se veem só de vez em quando, opte por narrar sem mostrar o tempo em que elas ficam separadas. Se o teu foco é o momento em que elas ficam juntas, o afastamento deve receber menos holofote.
Além disso, você também não quer correr o risco de criar expectativa em torno de uma cena que, no fim, nem fala nada sobre a sua história. Se o personagem A perdeu o ônibus e essa informação não se relaciona com alguma coisa que importe, pra que isso foi dito? Qual a relevância de mostrar isso ao seu leitor?
E o mais chocante: seu leitor não pensa como você! Ele não está na sua cabeça, não tem as informações que você tem. Por isso não deixe coisas vagas do tipo:
A ansiedade de Gabriel divide o mesmo espaço das vontades de um garoto que está para entrar no ensino médio. Ele se veste mal e fala errado. Seu andar também é muito esquisito.
Afinal, que vontades são essas? E o que é se vestir mal? O que é falar errado? O que é esquisito? Tudo isso é muito vago e despersonaliza o personagem, deixando-o num lugar de senso comum.
Sabe aquela máxima filosófica que pergunta "O que é belo?". Use a seu favor para melhorar seu texto. Beleza é relativa, então como é que eu vou simplesmente dizer que alguém é esquisito sem mostrar? Por que fulano é bonito? O que ele faz que o deixa amigável, popular?
Mostre o comportamento e deixe seu leitor concluir sobre a esquisitice do personagem. Você que narra deve evitar emitir juízos de valor e abrir espaço para interpretações. Você vai perceber como isso vai transformar sua história.
Espero que essas dicas tenham ajudado você.
É isso aí ☕
4 notes
·
View notes
Note
Inspirado pelo teu último blog me surgiu uma dúvida (que na verdade tá na minha cabeça desde que aprendi a escrever): existe diferença entre "para" e "pra"? Situações que pedem um ou outro? Agradeço muito se você puder responder 🩵
Respondo, yes!
A diferença está somente no contexto em que devem ser utilizadas, pois as duas formas estão corretas. O "pra" só deve ser usado em situações informais (conversa, mensagem, posts pessoais) enquanto o "para" deve ser usado nas formais (documentos, redações, textos científicos, etc).
No caso das narrativas, que é o assunto aqui do blog, o "pra" seria mais utilizado nos diálogos para preservar a realidade do discurso direto (já que é muito mais comum uma pessoa falar "pra" do que o "para"), mas não é uma obrigatoriedade. Também existe a possibilidade de usar durante a narração (especialmente no caso de primeira pessoa), caso a história tenha uma linguagem bem mais informal, já que histórias permitem uma liberdade maior nesse sentido. ☕
3 notes
·
View notes
Text
Este, esse ou aquele
Vamos tomar um cafezinho?
Os pronomes demonstrativos "este", "esse" e "aquele" (e seus derivados) são utilizados para indicar a posição de algo em relação à pessoa que fala (primeira pessoa), à pessoa com quem se fala (segunda pessoa) ou a uma terceira pessoa. A escolha entre um e outro depende da proximidade ou distância do objeto em relação aos interlocutores, tanto no espaço quanto no tempo.
Este, esta, isto:
Proximidade da pessoa que está falando ("eu", primeira pessoa):
Isto que estou segurando é muito importante. Este vestido que estou usando foi comprado ontem. Quero tirar esta etiqueta da minha blusa.
Introdução de um novo assunto, apresentar algo pela primeira vez:
Isto é o que quero te mostrar. Este é o meu novo carro. Esta é a professora de matemática.
Indicar algo que está acontecendo agora ou que vai acontecer em breve.
Isto que estou fazendo agora é muito importante. Isto que vamos fazer amanhã será incrível. Este fim de semana será agitado. Abordaremos este assunto no artigo: gestão de recursos.
Esse, essa, isso:
Proximidade da pessoa com quem se fala ( "tu, você", segunda pessoa):
Isso que você está segurando é meu. Esse vestido que você está usando é lindo! Vamos tirar essa etiqueta da sua camiseta.
Referência a algo já mencionado:
Isso que você falou me deixou pensando. Eu comprei um carro novo. Esse carro é muito econômico. Gestão de recursos. Esse é o tema do nosso artigo. - Estou assistindo "Breaking Bad". - Essa série é ótima!
Indicar algo que acabou de acontecer ou que está relacionado a uma situação que ocorreu há pouco tempo.
Isso que você disse me magoou. Isso que aconteceu ontem foi inesperado.
Aquele, aquela, aquilo:
Indicar algo distante do falante e do ouvinte ("ele", terceira pessoa):
Aquele prédio ali é muito alto. Olha para aquele carro, que modelo mais bonito! A bolsa daquela mulher é cara. Aquilo parece ser difícil de ser feito.
Associado ao passado mais distante ou a um futuro distante. Indica algo que ocorreu há muito tempo ou que vai acontecer em um futuro remoto.
Aquele dia que fomos à praia foi inesquecível. Aquele sonho que eu tinha quando criança se realizou. Aquele dia em que finalmente conquistarei meus objetivos será o mais feliz da minha vida.
Criando Contraste e Ênfase:
"Este/Esta" vs. "Aquele/Aquela": Para contrastar dois elementos ou ideias no enunciado.
Havia dois caminhos: um pelas montanhas e o outro pela floresta. Este caminho era curto, mas perigoso; aquele, longo e seguro. Este se refere ao segundo caminho mencionado (pela floresta), que está mais próximo na ordem da frase. Aquele se refere ao primeiro caminho mencionado (pelas montanhas), que está mais distante na ordem da frase.
Mais um exemplo prático: o certo seria dizer "Ele falou comigo esta semana" ou "Ele falou comigo essa semana"?
A escolha entre "esta semana" e "essa semana" depende do contexto e do que você quer enfatizar.
"Esta semana" geralmente é usado para se referir à semana em curso, à semana presente. É como se você estivesse dizendo: "Nesta semana, que é a semana que estamos vivendo agora...".
"Essa semana" pode ser usado em duas situações:
Referindo-se a uma semana que já passou: "Ele me ligou essa semana para marcarmos um encontro." (A semana já passou.)
Em diálogos, quando a outra pessoa já sabe de qual semana você está falando: "Você viu o João essa semana? Ele está bem?" (Ambos sabem da semana em questão.)
Em resumo:
"Esta semana": Semana atual, presente.
"Essa semana": Semana passada ou semana específica que já foi mencionada.
Exemplo:
"Esta semana": "Estou muito ocupado esta semana com as provas." (A semana em que a pessoa está falando ainda não acabou.)
"Essa semana": "Na semana passada, ou seja, essa semana, choveu muito." (A semana já passou.)
Para escolher a forma correta, pense:
Qual semana você está se referindo? A atual ou a uma semana específica?
A outra pessoa sabe de qual semana você está falando?
Em sua frase "Ele falou comigo esta semana" ou "Ele falou comigo essa semana", a escolha dependerá do contexto:
Se você está falando sobre a semana em curso:
Ele falou comigo esta semana para marcarmos um almoço.
Se você já mencionou a semana anteriormente ou se a outra pessoa sabe de qual semana você está falando:
Ele falou comigo essa semana sobre o projeto.
Isso é tudo, pessoal ☕
5 notes
·
View notes
Text
A abertura fria
Recentemente aprendi sobre uma técnica chamada cold open (traduzindo para o nosso português: uma abertura fria) que propõe abrir uma narrativa com a cena mais crítica ou mais impactante da história. Uma prévia que permite dar o tom da narrativa e também fisgar os mais curiosos.
Dias atrás, mecionei sobre o in media res, que é uma técnica sobre começar do meio, mas ela e o cold opening, apesar de quebrarem a estrutura linear, não são a mesma coisa. Eu até fiz uma alteração na postagem sobre o in media res a fim de esclarecer que começar do meio significa começar pelo movimento da história e não pela sua exposição. Ou seja, eu "explico no caminho" como as coisas são em vez de dar uma introdução sobre como aquele mundo funciona.
Já o cold open tem uma proposta mais ousada, já que ele praticamente traz para frente a cena mais marcante da história. O termo foi cunhado na década de 60 pelos executivos de televisão, que perceberam que teriam de achar um jeito de impedir que o telespectador trocasse de canal (ou desligasse a tv) quando um programa terminava. Para resolver esse problema, eles começaram a criar o que hoje também chamamos de teaser, um início chamativo ou provocativo, para que a pessoa que estivesse assistindo tivesse sua curiosidade aguçada e continuasse em frente à televisão (capitalistas mercenários).
Esse tipo de abertura se popularizou especialmente em sitcoms, e provavelmente você já deve estar familiarizado com as aberturas de The Office e Friends. Mas essa forma de abrir uma narrativa não se limita aos programas de televisão, se quer saber. E você, como escritor, pode se beneficiar dessa técnica caso queira impactar seu leitor logo nas primeiras linhas.
Diferente do in media res que apenas se propõe a uma imersão mais natural, o cold open busca escancarar o momento mais crítico. Ele praticamente dá o spoiler sobre o que acontece, de forma que o leitor tenha uma visão do futuro ou do que está prestes a acontecer, e fique curioso para entender como aquilo vai desenrolar. Mas seja cauteloso: trazer o final (ou a parte mais chocante) para o começo tem muita vantagem desde que você preserve o mistério. Não entregue a fofoca completa!
Vamos a alguns exemplos?
"Nunca pensei muito em como morreria — embora nos últimos meses tivesse motivos suficientes para isso —, mas, mesmo que tivesse pensado, não teria imaginado que seriam assim. Olhei fixamente, sem respirar, através do grande salão, dentro dos olhos escuros do caçador, e ele retribuiu satisfeito o meu olhar. Sem dúvida era uma boa forma de morrer, no lugar de outra pesoa, de alguém que eu amava. Nobre, até. Isso devia contar para alguma coisa. Eu sabia que, se nunca tivesse ido a Forks, agora não estaria diante da morte. Mas, embora estivesse apavorada, não conseguia me arrepender da decisão. Quando a vida lhe oferece um sonho muito além de todas as suas expectativas, é irracional se lamentar quando isso chega ao fim. O caçador sorriu de um jeito simpático enquanto avançava para me matar." — Crepúsculo, Stephenie Meyer.
"Nunca pensei que chegaria a este momento. E aqui estou. Destruída, acabada, morta por dentro. Enxugo os olhos e volto ao que estava fazendo como uma funcionária diligente que não pensa, não hesita; só executa. Finco a pá na terra e vou abrindo a cova. Apesar de demandar grande esforço, tudo ainda parece um sonho. Na verdade, um pesadelo. Irreal, intangível, como se acontecesse em outro tempo ou com outra pessoa. A história absurda e violenta que se escuta da amiga de uma amiga. É cruel que uma coisa dessas aconteça de verdade. Mais cruel ainda que aconteça comigo. Enquanto revolvo a terra, repasso cada instante, cada escolha, cada migalha de culpa e omissão que me trouxe até aqui. É um caminho repleto de buracos e zonas cinzentas. Não posso ficar sofrendo. Não tem mais volta. Aconteceu. Abrir uma cova é mais cansativo do que eu pensava. Sinto falta de ar, fico zonza e exausta. Solto a pá e aperto os olhos para medir o buraco. Acredito que, sim, é suficiente para uma criança. As lágrimas voltam, impossíveis de conter; é uma coisa física, não emocional. Deixo que sigam seu trajeto pelo meu rosto, levem consigo a maquiagem da noite de ontem e se misturem ao suor no meu pescoço até alcançarem o vestido vermelho, que, se antes era elegante e sedutor, agora soa inadequado, quase absurdo, neste lugar imundo e abandonado pelo tempo. A noite prometia tantas respostas. Cheguei a ter esperanças. Como tudo pôde terminar assim?" — Uma Família Feliz, Raphael Montes.
"Na imaginação de Laura, Deidre falou. Seu problema, Laura, disse ela, é que você faz péssimas escolhas. Você tá com a porra da razão, Deidre. Não algo que Laura consideraria dizer nem pensar, mas, parada ali em seu banheiro, tremendo incontrolavelmente, o sangue quente brotando do corte no braço ao ritmo de sua pulsação, ela precisava admitir que a Deidre que morava dentro da sua cabeça tinha acertado em cheio. Ela se inclinou para frente, apoiando a testa no espelho para não ter que encarar os próprios olhos; mas o problema era que o olhar para baixo piorava as coisas, porque dava para ver o sangue fluindo, e isso a deixava tonta, com a sensação de que iria vomitar. Tanto sangue. O corte era mais profundo do que havia imaginado; ela deveria ir para o hospital. De jeito nenhum iria para o hospital. Péssimas escolhas." — Em Fogo Lento, Paula Hawkins.
O cold open, mais do que servir como um choque ao telespectador/leitor, ele também dita o tom da narrativa. Usando o segundo exemplo retirado do livro Uma Família Feliz, se o leitor começasse a leitura a partir do cotidiano de uma família comum e padrão, ele não entenderia logo de cara por qual motivo esse cenário seria relevante (e interessante). Começando pelo fim, ou seja, com a personagem cavando uma cova para uma criança, o leitor sabe que tem alguma coisa errada e lê as próximas páginas aguardando por esse momento.
Usar essa abertura também te permite uma oportunidade de inserir informações que não estarão na narrativa. Pode ser um meio de entregar ao leitor uma coisa da qual os personagens não sabem, mas que os impactará diretamente.
A técnica é comumente usada nos suspenses, mas isso não te impede de usar em narrativas engraçadas. Por exemplo, você pode começar uma história mostrando que o seu personagem acabou preso em outro país e logo em seguida mostrar que antes disso acontecer o dia estava bem normal, o que faz seu leitor ficar se perguntando "e como é que ele foi parar na Holanda vestido de palhaço e preso por desacato?". Curioso, não?
Como o próprio nome já diz, é como se eu estivesse jogando o leitor para enfrentar o chefão em vez de aquecê-lo com o desenvolvimento. Não o preparo para o que está por vir, mas deixo a bomba na mão dele e saio correndo kkkkkkkkk
É uma técnica interessante que talvez te desperte alguma ideia aí.
Faça bom proveito! ☕
5 notes
·
View notes
Note
Não é sobre escrita, mas você fala bem e quero um concelho… O que fazemos quando nossos amigos parecem não se importar? Se você é muito tímido e não consegue estar no assunto… e como se você fosse invisível?
Primeiro, cuidar da própria autoestima, porque nosso olhar sobre o mundo molda a nossa realidade. Então se não nos valorizamos, se não enxergamos quem somos, isso se torna a nossa verdade. Nossas crenças sobre quem somos interfere diretamente com aquilo que nos acontece. Seu primeiro passo sempre deve ser o de olhar para dentro e entender por qual motivo você sente que é invisível. Curar essa parte e começar a tomar atitudes para evoluir sua autovalorização.
Eu já estive nesse lugar de me sentir sozinha e invisível e o que me ajudou muito foi reconhecer meu próprio valor e buscar interagir mais com o mundo ao meu redor. Por causa do "efeito holofote", temos essa tendência de achar que "isso só acontece comigo" ou que "isso só acontece porque sou assim". Só que o que nós temos que entender é que se nós não gostarmos de nós mesmos, vamos interpretar como se o mundo inteiro também não gostasse. Quando a gente tem esse olhar crítico sobre nós, começamos a nos sabotar, a não enxergar coisas boas, a não fazer coisas boas por nós. E aí vira uma bola de neve, sabe? Que só distorce ainda mais a impressão que temos de nós.
Vivemos em um mundo muito doido também, e não duvido que seus amigos também estejam vivendo essa mesma sensação que você. Principalmente se você for adolescente ou bem jovem ainda. A percepção do mundo nessa época é muito pequena e não estou falando isso por mal, estou apenas dizendo que conforme fui amadurecendo, percebi que o mundo da adolescência é um ovo kkkkkk porque tudo fica muito intenso devido a maturação do cérebro. Um processo normal e necessário, que parece horrível no momento em que acontece kkkkk mas que passa, graças a Deus kkkkkk.
Falo que o mundo é doido, mas não para te desencorajar ou coisa do tipo, mas para te fazer perceber que a nossa realidade também precisa muito que a gente faça a diferença nela. As pessoas não são educadas para se relacionar, para gerenciar seus pensamentos e emoções, e muitos de nós não tem oportunidade de entender a si mesmos e exercitar virtudes. E infelizmente a sociedade cada vez mais vai propagando um estilo de vida egocêntrico, distante e frio, e o efeito colateral disso é isso que você sente: uma desconexão muito forte. E o melhor caminho para acabar com esse padrão é entender quem somos, amar quem somos e então engajar com a vida de forma consciente.
Eu não tenho como dizer se seus amigos se importam ou não com você, mas eu acredito que quando você começar a cuidar de você, você também vai adquirir o discernimento capaz de te dizer se você está ao lado de pessoas que te querem bem ou não. Porque pode acontecer também de ter pessoas que não se importam (que são reflexo dessa sociedade desconectada), mas também pode acontecer desses seus amigos também serem inábeis na hora de se conectar com você, sabe? E não é por mal. É que ninguém ensina a como fazer isso. Eu mesma tinha muita dificuldade de me sentir parte de algo. E eu tive que trabalhar isso em mim porque apenas eu posso me permitir fazer parte, entende o que eu quero dizer? Não é o outro que vai me convidar, não é o outro que vai me dizer se eu posso ou não. Mesmo que apareça alguém bondoso para te conduzir, é você que tem que dizer sim. Um sim para si mesmo.
Se as pessoas ao seu redor é que forem o problema, então aí você começa a procurar sua turma. Começa aos poucos quebrar essa timidez que te impede de fazer com que você possa se relacionar. Porque para conhecer precisamos nos mostrar. É um campo de troca, então o diálogo é necessário. Como eu te disse, as pessoas estão vivendo meio desajeitadas, e não é culpa de ninguém, mas desse sistema que vai nos aprisionando com regras sociais invisíveis e esquisitas.
Eu acredito que quanto mais você se esforça nesse caminho de autoconhecimento, de se gostar, de fazer coisas por você, um mundo novo se abre. Não é clichê. É a mais pura verdade. E quando esse mundo se abre, a gente começa a enxergar as pessoas ao nosso redor também. E a permitir que elas entrem no nosso mundo particular. Porque às vezes a gente acaba se fechando para visitação. Será que você deixa essas pessoas te conhecerem? Será que você se permite estar de verdade com essas pessoas? São reflexões possíveis também. Penso que você tem que entender um pouco mais sobre você, sobre as pessoas com que convive e então dar passos para melhorar o relacionamento consigo mesmo e com as pessosas ao seu redor.
Espero que isso te ajude de alguma forma. Um dos caminhos para o autoconhecimento seria algum tipo de terapia, talvez uma psicoterapia. Não sei o quanto isso é acessível para você. Caso não seja, conheço a plataforma psymeet que cobra sessões num valor social. Talvez alguma clínica universitária. Mas também tem outros meios, todos eles envolvendo um mergulho para dentro de si mesmo. Livros de autoajuda (se bem usados e praticados) também são muito interessantes. A prática da espiritualidade (não da religiosidade!) também pode te ajudar muito.
Parece não fazer sentido agora, mas recorrendo a uma analogia, é como se você estivesse olhando para uma parede pintada de vermelho e estivesse enxergando ela roxa porque você está usando óculos com lentes azuis. E esses óculos são todas as crenças que você tem de si mesmo que herdou de pessoas que te criaram, que conviveram com você, que te traumatizaram, que te ensinaram como é viver aqui no mundo... se você não tirar esses óculos, não vai conseguir enxergar a parede vermelha (a realidade). Até lá, vai ficar enxergando através de impressões. E aí vai continuar achando que não é capaz de superar timidez, que não é capaz de entrar no assunto, que seu destino é ser invisível... sacou? É uma loucura da nossa cabeça. E quebrando esse padrão você abre a mente e vê que é possível, sim, você ser importante, você conseguir conversar, você ter amigos que se importam.
Espero que fique tudo bem com você e que dê tudo certo. Vai por mim, investe em você e no seu autocuidado. Investe no seu conhecimento, vai fazer coisas novas, aprender alguma coisa diferente. Você só tem a ganhar porque a pessoa que vai conviver com você até o final da vida é você mesmo. Então seja sua melhor companhia. Goste de você e se divirta com você. Tá bom?
Fique bem ❤
1 note
·
View note
Note
Alguns autores têm rituais na hora de escrever, como é esse momento pra você? Você é daqueles que tem um momento do dia preferido pra escrever, gosta de ouvir alguma música durante o processo ou prefere o silêncio? Se você puder, conta pra gente como é esse momento pra você
Eu gosto muito de escrever assim que eu acordo. Gosto muito de escrever pela manhã. À noite eu gosto apenas de revisar ou fazer anotações. Eu crio momentos de estudo sobre a história, então eu fico em silêncio em períodos aleatórios do dia, apenas pensando.
Sobre música, depende a história e se estou em estado de flow. Quando a história "tem um som", eu consigo ficar ouvindo enquanto escrevo, do contrário, prefiro o silêncio. Se estou muito agitada, eu gosto de ouvir ondas binaurais.
Eu não tenho um ritual fixo, mas eu sei que presto muita atenção aos meus sentidos para descobrir o que meu corpo 'tá pedindo. Tem vezes que eu tomo um copo de café forte no início da tarde e aquilo funciona para me manter concentrada (detalhe: eu evito tomar café além da manhã). Em outras, eu preciso acender um incenso porque preciso de um cheiro diferente no ambiente. Vai depender muito do meu momento e do que a história está precisando. Busco criar o humor propício para a criação dela.
E, claro, evito acessar redes sociais enquanto estou escrevendo porque elas distraem muito.
Acho que é isso ☕
6 notes
·
View notes
Text
O tempo na narrativa (parte 2)
Falando mais sobre o tempo, vamos destrinchar um exemplo para nos ajudar a entender as peculiaridades sobre as conjugações. Tentei não focar demais nos nomes "complicados" porque estou tentando facilitar as nossas vidas.
Vamos lá!
Numa manhã calma de novembro, Fulano recebe a notícia de seu chefe que mudaria de vez a sua rotina. Desde que entrou no escritório de advocacia para trabalhar como secretário, sua vida estava sendo morna, sem muitos desafios. No entanto, com a demissão do colega que fazia o trabalho externo, Fulano seria designado para desempenhar o papel dele. Ele não entendia por qual motivo foi escolhido quando outros funcionários poderiam ser designados para a função, mas não contestaria as ordens de um superior. Apesar de não conhecer os compromissos externos, ele se comprometeu com a tarefa. Afinal, o extra que ganharia pelos serviços não era de se jogar fora. Quem sabe pudesse finalmente formar o seu pé de meia e realizar aquela viagem que sempre sonhou.
Vamos analisar por seções!
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
A princípio, o texto começa no presente (recebe), mas logo sofre uma divergência de tempo com a intromissão do futuro do pretérito (mudaria):
Numa manhã calma de novembro, Fulano recebe a notícia de seu chefe que mudaria de vez a sua rotina.
Existe uma diferença de como abordar o futuro em narrativas no presente e no passado.
Se estamos narrando no tempo presente e vamos falar sobre um fato que você tem certeza de que vai acontecer, então o verbo deve obedecer o futuro do presente. No exemplo que citei, o Fulano de fato vai ter sua rotina alterada (pois vai assumir a função de outra pessoa), então não é correto usar o futuro do pretérito.
Na prática, o trecho fica assim:
Numa manhã calma de novembro, Fulano recebe a notícia de seu chefe que mudará de vez a sua rotina.
Numa narrativa que está no passado, por sua vez, não podemos utilizar verbos como mudará, cancelará, transformará que correspondem ao futuro do presente. Devemos fazer o uso desse futuro do pretérito, que altera a forma do verbo para ele terminar em -ria, ou seja, mudaria, cancelaria, transformaria.
Na prática:
Numa manhã calma de novembro, Fulano recebeu a notícia de seu chefe que mudaria de vez a sua rotina.
É possível usar futuro do pretérito em narrações no presente, mas preste atenção em seu uso, pois deve indicar uma possibilidade, um desejo, um arrependimento. Uma coisa que poderia ter acontecido, mas não aconteceu, como no exemplo abaixo:
Caminho pelas ruas da minha cidade e observo as pessoas. Vejo aquele homem sentado no banco da praça, lendo um livro antigo. Penso em como sua vida seria diferente se tivesse seguido a carreira de escritor, como sempre sonhou.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Em seguida, temos esta colocação:
Desde que entrou no escritório de advocacia para trabalhar como secretário, sua vida estava sendo morna, sem muitos desafios.
Se estamos falando no tempo presente, está correto dizer "desde que ele entrou", já que estou mencionando algo que aconteceu. O problema está neste "estava sendo" que não transmite a informação correta.
O "desde" lá no começo insinua que do período da entrada de Fulano no escritório até momento presente, algo vem acontecendo (monotonia).
Quando quero sugerir que a situação de ter uma vida profissional monótona se prolonga até o momento presente, tenho que utilizar o "tem sido".
Desde que entrou no escritório de advocacia para trabalhar como secretário, sua vida profissional tem sido morna, sem grandes desafios.
É diferente de dizer,
Antes de entrar no escritório de advocacia para trabalhar como secretário, sua vida profissional estava sendo morna, sem grandes desafios.
Que indica que uma ação começou no passado e terminou no passado. Consegue perceber a diferença?
Em resumo:
"Tem sido" indica uma ação que começou no passado e continua no presente.
"Estava sendo" indica uma ação contínua no passado, mas que já terminou.
Agora, se a narrativa está no tempo passado, temos que fazer uso do pretérito mais-que-perfeito. Lembra dele? Pensa lá na linha do tempo. Estou falando da vida de Fulano no escritório, então resolvo mencionar quando ele entrou, que é mais passado ainda...
Desde que entrara no escritório de advocacia para trabalhar como secretário, sua vida estava morna, sem muitos desafios.
Aqui também não cabe o "estava sendo" já que ainda estamos falando sobre uma ação que não terminou. Portanto, devemos usar o "estava" que dá a ideia de continuidade.
"Nuwa, se eu quisesse citar que, antes do escritório, a vida de Fulano era pacata, como devo fazer?". Neste caso podemos fazer de duas formas.
☆ Mantendo a ideia de ação contínua no passado:
"Antes de entrar no escritório de advocacia para trabalhar como secretário, sua vida profissional tinha sido morna, sem grandes desafios."
O "tinha sido" indica uma ação que começou e terminou antes de outro fato no passado (entrar no escritório);
☆ Enfatizando o estado da vida profissional antes de entrar no escritório:
"Antes de entrar no escritório de advocacia para trabalhar como secretário, sua vida profissional era morna, sem grandes desafios."
Em que o verbo "ser" indica um estado ou condição que existia no passado.
Qual opção escolher?
A primeira opção ("tinha sido") enfatiza a duração da situação monótona antes de entrar no escritório.
A segunda opção ("era") foca no estado da vida profissional naquele período, sem enfatizar a duração.
Ambas as opções estão corretas e a escolha dependerá do contexto e do efeito que você deseja causar.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
No próximo trecho, temos o seguinte:
No entanto, com a demissão do colega que fazia o trabalho externo, Fulano seria designado para desempenhar o papel dele. Ele não entendia por qual motivo foi escolhido quando outros funcionários poderiam ser designados para a função, mas não contestaria as ordens de um superior.
No presente, esse trecho fica assim:
No entanto, com a demissão do colega que fazia o trabalho externo, Fulano é designado para desempenhar o papel dele. Ele não entende por qual motivo foi escolhido quando outros funcionários poderiam ter sido/poderiam ser designados, mas não contesta as ordens de um superior.
Agora, esse mesmo trecho no passado, fica assim:
No entanto, com a demissão do colega que fazia o trabalho externo, Fulano foi designado para desempenhar o papel dele. Ele não entendeu por qual motivo fora escolhido quando outros funcionários poderiam ser/poderiam ter sido designados para a função, mas não seria ele a contestar as ordens de um superior.
Aqui quero chamar a atenção para os nuances, já que há mais de uma possibilidade.
☆ O verbo "entender":
No caso do trecho no passado, nós podemos usar tanto "Ele não entendeu" como também "Ele não entendia". A diferença é a duração do comportamento e a sensação que você quer causar.
"Ele não entendia por qual motivo fora escolhido": Essa frase sugere um estado de incompreensão que se prolongou por algum tempo. Ou seja, Fulano não entendia o motivo da escolha e continuava sem entender, mesmo após a designação. Indica uma espécie de perplexidade duradoura.
"Ele não entendeu por qual motivo fora escolhido": Essa frase indica uma incompreensão pontual, no momento em que foi designado. Após a designação, ele pode ter aceitado a situação ou ter buscado entender melhor o motivo, mas no momento em que recebeu a notícia, ele não compreendia a razão da escolha.
Qual escolher?
A escolha entre as duas opções dependerá do contexto e do efeito que você deseja causar.
Se você quiser enfatizar a perplexidade contínua de Fulano, a primeira opção ("Ele não entendia...") é mais adequada.
Se você quiser indicar uma incompreensão momentânea, no momento da designação, a segunda opção ("Ele não entendeu...") é mais adequada.
☆ A variação "poderiam ser/poderiam ter sido":
"Poderiam ser designados" indica uma possibilidade no presente ou no futuro, ou seja, sugere que outros funcionários ainda poderiam ser designados para a função.
"Poderiam ter sido designados" indica uma possibilidade no passado, ou seja, sugere que outros funcionários poderiam ter sido designados para a função em algum momento anterior, mas isso não aconteceu.
Para resumir:
"Poderiam ser designados": Foca na possibilidade atual ou futura.
"Poderiam ter sido designados": Foca na possibilidade passada.
Qual escolher?
A escolha da forma verbal depende do contexto específico e do efeito que você deseja causar. Se você quiser enfatizar que a possibilidade de outros funcionários serem designados ainda existe, a primeira opção é mais adequada. Se você quiser enfatizar que essa possibilidade já existiu no passado, mas não se concretizou, a segunda opção é mais indicada.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Para finalizar, temos o trecho:
Apesar de não conhecer os compromissos externos, ele se comprometeu com a tarefa. Afinal, o extra que ganharia pelos serviços não era de se jogar fora. Quem sabe pudesse finalmente formar o seu pé de meia e realizar aquela viagem que sempre sonhou.
Corrigido para o tempo presente, esse trecho fica assim:
Apesar de não conhecer os compromissos externos, ele se compromete com a tarefa. Afinal, o extra que ganhará pelos serviços também não é de se jogar fora. Quem sabe possa/poderá finalmente formar o seu pé de meia e realizar aquela viagem que sempre sonhou.
Para o passado:
Apesar de não conhecer os compromissos externos, ele se comprometeu com a tarefa. Afinal, o extra que ganharia pelos serviços não era de se jogar fora. Quem sabe poderia/pudesse finalmente formar o seu pé de meia e realizar aquela viagem que sempre sonhou.
Variação do verbo "poder": possa, poderia, pudesse.
Análise das opções:
"Quem sabe poderá finalmente formar o seu pé de meia": Essa frase expressa uma possibilidade futura, indicando que existe a chance de a pessoa formar o seu pé de meia em algum momento no futuro. O verbo "poderá" indica uma capacidade ou possibilidade de realizar a ação. É a opção mais neutra e aberta em relação ao tempo.
"Quem sabe poderia finalmente formar o seu pé de meia": Essa frase expressa uma possibilidade que era viável no passado ou em uma situação hipotética. O verbo "poderia" indica uma capacidade ou possibilidade que existia, mas que pode não existir mais no presente. Sugere um certo grau de incerteza ou frustração por algo que poderia ter acontecido, mas não aconteceu.
"Quem sabe pudesse finalmente formar o seu pé de meia": Essa frase expressa um desejo ou uma esperança não realizada. O verbo "pudesse" indica uma capacidade ou possibilidade que não se concretizou. É a opção mais subjetiva e expressa um sentimento de frustração ou lamento.
Qual escolher?
Escolha "poderá" se você quiser expressar uma possibilidade futura e aberta, sem conotações de passado ou frustração.
Escolha "poderia" se você quiser expressar uma possibilidade que existiu no passado ou em uma situação hipotética, mas que não se concretizou.
Escolha "pudesse" se você quiser expressar um desejo ou uma esperança não realizada, com um tom mais subjetivo e emocional.
O "pudesse" é mais comum em narrativas no passado.
Exemplos:
Passado: "Gostaria de ter viajado mais quando era jovem. Quem sabe pudesse ter conhecido lugares incríveis." (Aqui, "pudesse" expressa um desejo não realizado no passado.)
Presente (com referência a uma ação passada): "Se tivesse estudado mais, poderia ter passado no concurso." (Embora a frase seja dita no presente, ela se refere a uma ação que ocorreu no passado e que poderia ter tido um resultado diferente.)
Por que não é comum no presente?
Ação futura: Para expressar uma possibilidade no futuro, normalmente usamos o futuro do subjuntivo (por exemplo, "quem sabe possa").
Ação presente: Para expressar uma possibilidade no presente, usamos o presente do subjuntivo (por exemplo, "quem sabe possa fazer isso agora").
Quando usar "pudesse" no presente?
Hipóteses e condições: Em frases condicionais que se referem a uma situação passada, como em "Se tivesse estudado mais...".
Desejos não realizados: Para expressar um desejo que não se realizou, mesmo que a frase seja dita no presente.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Ufa!
Sei que é muita coisa, mas pode voltar para cá sempre que precisar consultar ou quiser tirar uma dúvida. É o que eu vou fazer a partir de agora 😅
Espero que isso ajude bastante ☕
5 notes
·
View notes
Text
Alguns métodos para planejar sua história
Aproveitando o assunto sobre planejamento, além do método das Três Partes (Introdução, Desenvolvimento, Desfecho), também temos outras formas de planejar uma história. Uma delas é através do método Cubo, que basicamente envolve 6 perguntas (as 6 faces de um cubo) que precisam ser respondidas.
Quem são os principais personagens na história?
Em que lugar a história acontece?
Qual é o problema principal da história?
Como esse problema é resolvido?
Qual é o tema central da história?
De que parte da história você mais gosta?
Também temos o método A Jornada do Herói, que consiste contar sua história em 9 fases (originalmente são 12, mas resolvi resumir):
Mundo comum: usado para descrever o mundo normal do personagem, aquilo que acontece antes do início da aventura. Usado especialmente para provocar o interesse do leitor, mas sem iniciar o conflito/problema.
O chamado: quando o problema se apresenta ao protagonista.
Reticência ou recusa do chamado: o protagonista não aceita ou demora a aceitar o desafio.
Encontro com o mentor: o protagonista encontra alguém, mais sábio e experiente, que o incita a aceitar a jornada. Na ausência de um mentor, você pode optar para usar esse momento apenas como um catalisador, ou seja, para provocar o protagonista a ser movido a aceitar o chamado. Aumentar o senso de urgência ou acontecer algo que realmente impacta o personagem a ponto de fazê-lo assumir a responsabilidade.
O caminho de ida: quando o protagonista abandona o mundo comum e entra no mundo mágico/diferente. Ele começa a enfrentar as suas primeiras provações, encontra aliados e se depara com seus inimigos. Esse é um bom momento para explicar o funcionamento universo mágico/diferente para o entendimento do leitor. Use esse espaço para fazê-lo ter sucesso em seus primeiros testes e para explorar o seu desenvolvimento conforme ele reage aos desafios.
Provação difícil ou traumática: um momento crucial, que normalmente põe o protagonista entre a vida e a morte.
Recompensa: o protagonista supera seu medo, derrota o desafio principal e obtém algo em troca.
O caminho de volta: O herói deve voltar para o mundo comum. Aqui ele pode enfrentar mais uma situação em que ele emprega tudo o que foi aprendido em sua jornada. Como uma pedra que foi lapidada, ele não é mais a mesma pessoa que começou a jornada.
Resolução: aqui é o momento para encerrar a história de modo a mostrar como o protagonista foi transformado, seja para o bem ou para o mal. Se ele partiu em busca de algo, se ele o conseguiu, se conseguirá ajudar o bem comum, o que fará com isso, etc.
Também temos o método Floco de Neve, que consiste começar com algo pequeno, uma frase, e a partir disso expandir o volume de informações. As etapas são:
O núcleo da ideia: Comece com uma ideia básica para sua história. Pode ser um personagem, um cenário, um evento ou uma simples pergunta. Resuma-a em apenas uma frase.
Expansão gradual: A partir dessa ideia central, comece a expandir a história em diferentes direções, como se os braços de um floco de neve estivessem se formando. Cada ramo representará um aspecto diferente da sua história, como:
Personagens: Crie perfis detalhados para seus personagens, incluindo suas personalidades, motivações, histórias de vida e relacionamentos.
Enredo: Desenvolva a trama principal da sua história, com um início, meio e fim bem definidos.
Cenário: Crie um mundo detalhado para sua história, com suas próprias regras, leis e culturas.
Temas: Explore os temas centrais da sua história, como amor, perda, amizade, etc.
Detalhamento: Conforme você explora cada ramo, adicione mais detalhes e complexidade à sua história. Por exemplo, você pode criar subplots, desenvolver os personagens secundários, explorar os conflitos internos e externos dos personagens, etc.
Revisão e edição: Após completar a estrutura básica da sua história, revise e edite o material para garantir que tudo se encaixe perfeitamente e que a história seja coesa e interessante.
Exemplo prático:
1. A ideia em uma frase: Um detetive particular investiga o desaparecimento de uma jovem em uma pequena cidade litorânea.
2. Expansão para um parágrafo: Em uma pacata cidade litorânea, conhecida por suas praias desertas e clima ameno, o detetive particular, um homem taciturno e experiente, é contratado para investigar o misterioso desaparecimento de uma jovem. A comunidade local, inicialmente acolhedora, revela segredos sombrios à medida que a investigação avança.
3. Criação de fichas de personagens:
Detetive: John Carter, 40 anos, divorciado, viciado em café e cigarro. Possui um passado obscuro e habilidades de investigação aguçadas.
A vítima: Emily Wright, 18 anos, estudante de arte, popular e com muitos amigos.
O prefeito: Um político ambicioso com segredos obscuros e uma ligação com a vítima.
A melhor amiga da vítima: Uma garota rebelde com um passado conturbado e um segredo que pode ser a chave para o caso.
4. Expansão do parágrafo principal:
A investigação: O detetive Carter começa a investigar o desaparecimento de Emily, entrevistando testemunhas, analisando evidências e desvendando os segredos da cidade.
A comunidade: A pequena cidade, inicialmente acolhedora, revela-se um lugar com muitos segredos e conflitos.
O mistério: O desaparecimento de Emily está ligado a um antigo mistério que assombra a cidade há décadas.
5. Detalhes sobre o cenário:
A cidade: Uma pequena cidade litorânea com um porto, uma praia deserta, um farol antigo e uma floresta densa.
A época: Verão.
A atmosfera: Sombria, misteriosa e com um clima de suspense.
6. Criação de subplots:
O passado do detetive: Uma investigação anterior que o traumatizou e o tornou um homem solitário.
O romance: O detetive se envolve em um romance com a bibliotecária da cidade, que possui informações importantes sobre o caso.
A conspiração: Uma conspiração envolvendo o prefeito e outros membros da comunidade para esconder um segredo obscuro.
7. Desenvolvimento dos personagens:
John Carter: Ao longo da investigação, Carter se torna mais próximo de Emily e de sua família, descobrindo um lado mais humano de si mesmo.
Emily Wright: A história de Emily é revelada através de flashbacks e depoimentos de seus amigos e familiares.
O prefeito: Suas ambições políticas o levam a cometer atos cada vez mais desesperados para proteger seus segredos.
8. Resolução:
O detetive Carter finalmente descobre a verdade sobre o desaparecimento de Emily e desmascara a conspiração que assombra a cidade. No entanto, a resolução do caso tem um custo pessoal para ele.
Você vê que basicamente todos são muito parecidos e buscam a mesma coisa que o método das Três Partes. O que vai diferenciar é a riqueza de detalhes, o tamanho da narrativa, os pontos em que a atenção será concentrada. A estrutura pode ser quebrada, é claro, mas entender a sequência te permite ter uma noção daquilo que sua história pretende contar.
E aqui encerramos mais um post. No futuro abordarei outros métodos.
Aproveite!☕
7 notes
·
View notes