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talvez a graça seja de fato postar em uma rede social decadente onde ninguém vai me achar
Existe um problema trivial na minha vida que se baseia em um gap entre a pessoa que eu quero ser e o motivo pelo qual eu não a sou.
Algo que me acompanha desde muito criança (muito criança mesmo) é o meu desejo de ser colocada aos olhos públicos, de ser famosa. É um sonho que me acompanha até os dias de hoje, mesmo que nesse percurso já tenha mudado muito de forma.
Hoje eu tenho uma compreensão de que existe uma série de motivos pelos quais eu não consigo ficar famosa, mas obviamente o principal deles é que eu não consigo nem mesmo tentar.
Eu não sei muito bem o porquê eu quero ser famosa, em primeiro lugar. Acho que é como tentar pedir pra alguém explicar o porquê quer ser mãe, ou o porquê quer ser médico, ou o porquê quer ser um bilionário. Existe todo um fetiche em torno dessa posição ocupada socialmente. Mas mais do que isso, ser uma pessoa pública te abre portas para acessar uma série de coisas que uma pessoa normal nunca vai conseguir acessar.
Pegando um exemplo que eu sempre costumo citar: o Lucas Inutilismo. Lucas é um cara que ficou famoso com alguns vídeos fazendo graça no YouTube, numa época que essa rede tava mais em alta. Com uns vídeos de cerca de 10 minutos falando sobre qualquer assunto da vida com algum humor, ou com alguns quadros em que fazia bobagens, o que separa o Lucas de mim é que ele gravou (como costumam dizer os comentários no TikTok). Isso abriu possibilidades pro Lucas acessar espaços, produtos e pessoas que a vida que ele tinha anteriormente nunca possibilitaria. Isso tornou com que seu sonho de ser um músico de sucesso pudesse ter chance de se tornar realidade: de logo no começo da carreira já lotar casas de shows antes mesmo de ter sua primeira autoral lançada. Possibilitou que Lucas viajasse pra todo tipo de país e recebesse todo tipo de mercadoria em sua casa sem que pagasse por nada.
Mas não só isso, acho que a possibilidade de se criar uma comunidade em torno de seus gostos pessoais, uma comunidade grande, de pessoas interessadas não só no que você tem a dizer, mas também em construir em torno disso. Essa possibilidade é surreal.
Enfim, e hoje em dia acho que o TikTok se tornou uma plataforma em que isso toma um nível diferente. Os vídeos no TikTok me parecem hitar com uma certa facilidade, gente completamente normal alcançando papo de 8 milhões de visualizações. O que também pressupõe que se todo mundo é famoso, então ninguém mais é famoso, né?
Mas com uma boa gestão da plataforma, parece muito mais possível que uma pessoa como eu realize esse sonho que, quando eu era criança, parecia que só ia ser realizado se eu conseguisse chegar à TV.
Então, por que não?
Eu acho que... Eu acho que eu me odeio. Eu sinto muita vergonha de mim mesma.
Óbvio que isso é complexo e tem uma série de diversos fatores envolvidos ao longo de toda a minha criação. Mas queria destacar alguns pontos sobre esse sentimento, que é uma trava pra (sinceramente?) qualquer aspecto de um desenvolvimento meu.
Eu passei a adolescência viciada no Twitter (e esse termo não é nenhum exagero). E dentre os diversos fatores apontados como contribuintes pra toxicidade desse ambiente, um deles pode ser o quão crítico a galera do Twitter pode ser. Provavelmente pra conseguir manter a maior autenticidade da sua panelinha, uma prática muito comum é apontar absolutamente qualquer coisa sobre os outros como um motivo para se sentir vergonha. Tudo é cringe. Tenta se criar uma separação de si mesmo (e dos seus) quanto aos outros tão intensa, que se chega em um ponto em que não dá mais para se reconhecer como identidade nenhuma. Você se constrói a partir da negação de tudo e de todos, e se você for visto associando-se a mesmo um fragmento de qualquer aspecto que se remeta a esse algo apontado como vergonhoso, então você já não é autêntico o suficiente.
E isso serve pra tudo, sinceramente. Desde aquilo que era mais consensual, como o "meme de gay branca", até algo mais específico, como fazer parte de algum nicho dentro de outro nicho (como, sei lá, gostar de vocaloid), tudo era um motivo pra você estar sempre autoconsciente. E era, inclusive, engraçado como certas coisas precisavam ser "assumidas" com uma certa coragem, como quando eu decidi que ia basear minha personalidade em ser egirl ou otaku, e tentaria bancar qualquer julgamento.
A verdade é que essas coisas não importam como parecem. Mas continuam me afetando, mesmo aos 21 anos de idade, longe do Twitter fisicamente como estou hoje.
Outra coisa que me faz ter tanta vergonha é esse sentimento de nunca ser suficiente como eu idealizo. Porque sempre acabo me defrontando com a realidade objetiva. Poxa, eu queria muito postar vídeos cantando, mas eu não canto bem. Eu queria postar vídeos falando sobre política, psicologia, sociologia ou comunismo, mas sempre estarei exposta ao risco de falar merda, e uma autocrítica nunca ser suficiente pras pessoas esquecerem. Eu queria fazer vídeos de maquiagem, mas sinceramente, eu não tenho muito tempo livre e eu não sei editar muito bem. Tudo parece ser um esforço gigantesco pra algo que, possivelmente, nem vai dar resultado nenhum. Preciso estar exposta a críticas construtivas e destrutivas, mesmo que completamente descabidas, de pessoas desconhecidas que nunca vão se importar em me conhecer. Ou mesmo preciso estar preparada pras pessoas me satirizarem, pra virar meme caso faça algo visto como vergonhoso, e ser reconhecida por isso muito mais do que pelo meu trabalho.
E eu sinto muita vergonha, de verdade. Sempre fico pensando no que as pessoas que já me conhecem pessoalmente vão pensar, ou como vão me julgar. Eu sei o quão cruel podem ser os comentários.
Em um dado momento do ano passado, em 2023, eu apaguei todas as minhas redes sociais. E isso veio muito de uma reflexão que eu tive sobre o quanto eu estava me expondo pras pessoas, questões extremamente íntimas. Mesmo que isso se desse principalmente nas minhas contas privadas, que não deveriam ter passado de 40 pessoas em momento nenhum, começou a me preocupar muito o fato dessas 40 pessoas estarem criando uma imagem de mim baseada nos meus rants sobre estar deprimida, me sentir sozinha, e aos poucos a minha vida estar perdendo o sentido. Não apenas os tweets eram viscerais, mas também eram os textos dos stories do insta, assim como os memes que eu postava nos meus dumps de 2022. E o que mais me doía era que eu sabia que as pessoas estavam vendo aquilo, mas na maioria das vezes não diziam nada. E, inclusive, hoje eu sei que algumas pessoas usavam esses meus posts pra fazer fofoca.
Essa autoconsciência pesou em mim e, de repente, me vi face à face com um sentimento de fuga do mundo que me pega até hoje. Eu nunca fui de ter muita vergonha, nunca tive muito problema com palco, toda minha infância e adolescência fiz diversas apresentações de música e dança, sempre gostei de falar em público, e isso aparecia inclusive na militância. Mas de um tempo pra cá, me expor até às situações sociais mais simples têm me dado parafuso na cabeça. Ir à faculdade, encontrar meus colegas de turma, ir a uma festa. Toda vez que eu bebo álcool e relaxo quanto a isso, assim que o efeito passa cai uma bigorna sobre mim, e tudo o que eu quero é sumir.
Mas se de fato fosse só isso, só sumir, então qual é o problema?
Essas semanas teve uma trend no TikTok que eram pessoas mostrando outfits, com uma legenda que dizia algo como "não sei qual é meu estilo, então eu visto de tudo". Imediatamente eu tive a ideia de juntar uns 6 outfits clássicos meus, como o Vomita Podrasa ou a Hatsune Miku, só pra poder participar. Mas, pra além do trabalho que isso ia me dar, eu comecei a tomar uma autoconsciência disso que me deixou completamente paralisada. Pra que eu vou fazer isso? Pra hitar? E se não hitar, poxa que vergonhoso, o que as pessoas vão pensar? Mas qual o problema, eu nem mesmo sou importante, ninguém se importa, então por que só não posto?
E os meus vídeos do TikTok sempre entram em um looping de eu privar e publicizar. Nunca sou constante e não pegam muitos números.
O problema é justamente: por que eu quero continuar tentando se eu nunca tento de verdade? Faz algum sentido eu continuar tendo esse sonho infantil de ser famosa? Mas se tantas pessoas conseguiram, por que eu deveria desistir, se algo que eu realmente sempre quis?
Eu queria poder expressar minha arte, e acho que isso tem tudo a ver com toda essa problemática. Porque, mais uma vez, eu vivo nesse limiar entre querer ser artista, de diferentes formas (seja pela maquiagem e as roupas, seja pela música, seja pelos desenhos e o design) e me odiar tanto, a ponto de olhar um produto meu e não ver sentido nele. O processo de criação artística é tão cansativo, e parece que não me dá nenhum retorno. Mas, ao mesmo tempo, quando eu tento desistir (como escolhendo um curso de psicologia ao invés de tentar a sorte nas artes), essa voz no fundo da minha cabeça continua me importunando: eu nunca serei completa se não estiver expressando aquela parte tão importante de mim.
Por onde eu começo? Ou melhor, por onde eu recomeço? Como criar consistência e disciplina? Como definir prioridades? Como não ficar absolutamente angustiada com o que eu produzi? Como expor essa produção ao olhar do público, que sempre tem a possibilidade de ser muito cruel com os criadores? Como fazer um videozinho sem compromisso nenhum, sabendo que isso não importa?
Eu não realmente sou tão importante assim.
Enfim, escrevi isso no maior formato de desabafo, como faço nos meus diários, e eu não vou reler por agora. Porque é isso, talvez, no final, a graça seja justamente que ninguém vai nem ler, e é por isso que esse é o único espaço em que eu consiga falar sobre isso com sinceridade.
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WEEDKILLER
Ashnikko (2023)
a review by luanasa

World Eater: nao ironicamente achei maior musica de league of legends
You Make Me Sick!: essa já conheço desde que lançou, sou MUITO FÃ, acho ela porradeira amo quando ela grita I'M MAAAAAD
Worms: tb conheço desde q era single, tb amooo essa, acho divertidinha, pegajosa, mim faz feliz 👍
Super Soaker: achei a energia dessa meio baixa, mas acho condizente com a temática do álbum, só me lembra demais os techno repetitivo que eu não gosto kekek
Don't Look at It: pior q minha opinião dessa é a mesma pra Super Soaker affff
Cheerleader: essa música é de MITO de MULHER PEITUDA de gente BOA FELIZ PODEROSA e eu cantei ela com a maior energia no set do dj brinquedo 🙏
Moonlight Magic: música de monster high (gostosa)
Miss Nectarine: me lembra a época em que música eletronica tava em alta quem lembra
Chokehold Cherry Python: CARALHO COMO É BOM SER UMA MULHER GOSTOSA QUE MUSICA FODAAAAAAAAAA
WEEDKILLER: essa mulher sabe muito de música de gostosa sério bom DEMAIS
Want It All: SÉRIO VELHO nao sei como ela faz isso as músicas são todas MUITO INTERESSANTES
Possessions of a Weapon: ao mesmo tempo em que é muito interessante ela me causa estranhamento, e eu não consigo apontar o porquê, me parece uma bomba que fica prestes a estourar por 2'35", mas não vira nada
Dying Star: mano que música linda meu deus até fazendo pop ela tem algo de muito legal pra apresentar, eu sinto q ela resgata algo MUITO NOSTÁLGICO sem que eu consiga dizer o que, sério ashnikko não sabe errar
Conclusão
QUE OBRA DE ARTEEEEE! A estética desse álbum, além de tudo, é MARAVILHOSA. Sinceramente, depois de ouvir o álbum da billie e esse, o que fica pra mim é que o rap subir pro mainstream é MIL VEZES MAIS INTERESSANTE do que o pop que tem sido produzido nos últimos anos. É animado, é poderoso, é agitado, e pra tocar nas baladas dos EUA (onde eles infelizmente não sabem o que é o doce sabor do funk!) essa é de longe a melhor opção. Eu gosto da ashnikko porque, mesmo tendo um status parecido com a doja cat, ela ainda consegue fazer isso puxando demais pro alternativo, subversivo, sangrento, mistura elementos de vários outros estilos, e é um tipo de música que eu tenho me identificado demais recentemente. Me familirizar com ashnikko me abriu os portões pro inferno, trilhou o caminho pra eu conhecer minha mami ✨️slipmamiii✨️. Enfim TO MUITO ANSIOSA PRA VER ASHNIKKO ESTA GOSTOSA AO VIVO NO SHOW EM SÃO PAULOOOOO!!!!
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HIT ME HARD AND SOFT
Billie Eilish (2024)
a review by yanassinha

SKINNY: classic billie song mas meio batido :p mas acho que se eu ouvisse mais vezes eu seria fã (e que final lindo !)
LUNCH: classic popzão mas como eu AMO MULHERES essa fica bem avaliada
CHIHIRO: eu tava curiosa p ouvir essa pq nos story do instagram ela é bem foda, no fim achei ela bem classic popzao, ela até tem um tempero interessantinho, mas achei que tá bem vibe tiktok de q é uma música interessante pra 30 segundos, mas dps enjoa
BIRDS OF A FEATHER: completamente taylor swift das ideia pelo amor de deus chega
WILDFLOWER: achei bem linda!! não muito inovador, mas bem bonita
THE GREATEST: a billie sempre fez músicas desse tipo, mas no geral eu nunca gostei desse estilinho de pop acústico não kkkkk
L'AMOUR DE MA VIE: LINDAAAA EU AMEI MUITOOOO billie sabe ser foda e achei a caraaaa da produção do finneas do jeito que eu gosto s2 s2 s2 (o final super the weeknd x the nbhd kkkkkk)
THE DINER: achei bem a cara da billie essa kkkk mas sinceramente meh claramente usando a mesma fórmula desde 2017
BITTERSUITE: legalzinha, vou tentar ouvir de novo depois, mas e aquele malandramente no meio da musica? kkkkkkkkk
BLUE: a que eu tava mais curiosa pra conhecer, já até salvei pq já vive na minha cabeça essa, popzão chiclete do jeito que Deus desejou para abençoar nossa terra
Conclusão
Acho que esse álbum é a demonstração na forma mais pura do que o TikTok fez com a música. De forma geral, as músicas tem trechos interessantes, mas parece que todo o resto é construindo experimentalmente em torno desse trecho feito pra bombar na internet. Um aspecto pra se considerar é que faz uns bons anos já que pop não é mais o meu estilo favorito de música, mas é fato que meu ouvido já ta treinado pra ele (e saturado também). Já fui muito fã da billie, mas não sei se eu que cresci, amadureci meu gosto musical, se ela também cresceu e amadureceu e perdeu aquele gostinho de rebelde que eu achava que ela imprimia na música dela, se ela se adaptou à indústria e ficou tão chata quando o resto, ou mesmo uma mistura de todos esses fatores. Gostei de algumas músicas pelo gostinho nostálgico daquilo que eu era tão apegada na billie eilish, mas de fato desde o happier than ever as músicas já não tem grande impacto pra mim. Enfim, tem quem goste, o álbum tem sido um sucesso!!
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Contradições, afetos e realismo
Boa noite telespectadores!!
Hoje eu trago uma reflexão que tem estado bastante presente na minha vida. Aqui como um espaço pra eu falar minha opinião meramente embasada nas minhas experiências de vida, queria deixar minha humilde contribuição sobre o tema.
Primeiramente, é importante marcar as condições histórico-culturais da onde eu to vindo (brincadeira): eu recentemente saí da organização onde eu militava e isso tem trazido uma série de sentimentos mistos sobre algo bastante importante na minha vida. De um lado, cansaço e decepção, de outro, jamais desistir!
O objetivo do post de hoje é refletir sobre o meu (e o nosso) papel de sujeito comunista no mundo - de uma forma bastante singular. O assunto não vai se esgotar, sempre vou ter alguma coisinha que senti que deixei pra trás no texto, mas pelo menos dou uma organizada nos meus pensamentos (e sentimentos!) sobre uma série de coisas.
A vontade de escrever teve seu estopim no vídeo do Jones Manoel (As confusões de Senhorita Bira: identitarismo, luta de classes e neoliberalismo) em resposta a Senhorita Bira (É O NOSSO FIM | PARTE 1: O identitarismo e o Congresso Nacional). Sinceramente, já abro o texto com o fato de que o vídeo do Jones me incomodou bastante, muito mais do que o vídeo do Bira (que, no geral, eu gostei muito). Vou deixar claro que eu amo o Jones Manoel e assisto TODOS os vídeos dele, mas aqui acho que ele pecou em algo que pra mim tem se mostrado cada vez mais urgente.
O vídeo de Senhorita Bira foi um vídeo bastante sincero, aberto, humilde, em tom de desabafo, de trazer à tona sentimentos de muitos militantes por aí. Foi um vídeo baseado em uma experiência bastante subjetiva, em que Bira deixa claro que sofreu uma série de violências no twitter (essa terra de ninguém), e que, pra além disso, de fato a dinâmica das redes sociais em um mundo de capitalismo tardio em permanente crise tem deixado geral um pouco cansado.
Bira deu pra nós um relato repleto de afetos, e apresentava-os até de um jeito meio na defensiva, porque sabia o tipo de consequência que ele poderia ter pelas coisas faladas.
O vídeo do Jones me chateou especialmente por aquilo que eu venho pensando e dizendo a alguns meses: me parece que comunista não sabe lidar bem com afetos. Quando eu ouço a galera da esquerda falando sobre afeto, sempre me parece que se faz em termos muito tecnicistas, como se a gestão dos afetos fosse só uma dentre as várias táticas que a gente precisa ter domínio, e isso aparece especialmente quando se fala da massa amorfa da extrema-direita.
Jones tece críticas duras à Bira, e não que ele não tenha razão no que ele argumentou, mas o que se destacava pra mim do vídeo era que ele dizia tudo com certa raiva, ou decepção. E, entre tantas outras vezes que vi Jones criticando figuras ditas progressistas, sempre tive muita concordância em cobrar posicionamentos firmes; em outros momentos quando jogava certas indiretas pra Soberana eu relevava; mas em especial hoje Jones tava apontando pra uma pessoa muito importante no campo da comunicação virtual dos comunistas. O que me pareceu perigoso, apontando pra que essas duas figuras não se confundissem.
Eu até entendo a preocupação de Jones com a divulgação consideravelmente ampla de um conteúdo aparentemente conservador, mas o que Bira traz em seu vídeo (e isso eu vi sendo falado por outros comentários no vídeo de Jones) parecia estar em uma outra camada. Bira trouxe denúncias sobre a situação em que a gente tá situado agora (estático? talvez), e Bira trouxe a dimensão do afeto em sua comunicação de forma muito mais presente e clara do que Jones. Era abertamente um vídeo de desabafo.
Eu digo um conteúdo aparentemente conservador porque, realmente, nas palavras, foi dito que não tem o que fazer (ou até mesmo um não sei o que fazer), mas eu defendo que existe uma essência afetuosa muito importante no vídeo de Bira, em que as pessoas assistem e se identificam com esse sentimento de impotência. O meu digníssimo namorado já me argumentou algo muito pertinente, sobre como os comunistas da internet estão tão preocupados em fazer a agitação e influenciar as pessoas pra que elas se organizem urgentemente que eles não são capazes de preparar o terreno para a realidade da militância e suas contradições. Militar é difícil, é cansativo, muitas vezes é cheio de decepções. Acho que Bira, falando com toda sua sinceridade e humildade, faz diferente, mostrando pras pessoas que assistem seu vídeo um sentimento de coletividade, que sintam-se parte de uma comunidade de pessoas exaustas desse sistema que parece que ta engolindo a gente cada vez mais, dia sim e dia também (tamo na merda mas tamo afundando tudo junto!!!).
Acho que essa sinceridade precisa ser colocada abertamente SIM, que não é todo dia que a gente acorda no otimismo da vontade revolucionária (inclusive se depender de mim é NUNCA), que muitas vezes a gente tá sendo fatalista mesmo, não por escolha, mas porque depois de tanto ser sugado pelo neoliberalismo, por ver uma polarização absurda na política brasileira entre o inferno e o umbral, ver literalmente o mundo acabando pra tantas pessoas na nossa frente e a esquerda radical incapaz de organizar a porra do movimento estudantil ou sindical, que seja, que o que parece é que não vai dar mesmo!
O foda é que nos comentários dos dois vídeos aparecia muitas pessoas falando que Bira é muito realista, que Bira tem pé no chão, que Bira tá mostrando o Brasil como ele é, e aí a gente entra na minha leitura do momento (vem aí mark fisher dominando meu blogs), que eu só li cerca de 1/3 da obra, mas que tenho familiaridade com o conceito desde que ele mudou a minha vida em junho de 2022.
O realismo capitalista é uma praga das piores, isso a gente já sabe, (se passa de leitura da realidade tal como ela é, mas não passa de mais um recorte ideológico), mas acho que o que não fica explícito o suficiente é como se trata de um afeto. A gente não decide pelo realismo capitalista, ele tem a capacidade de invadir a cabeça até do militante mais forte, porque se trata de uma perspectiva estrutural e sistêmica: de fato, não tem alternativa para esse sistema à vista, no imediato, não no Brasil e não nas principais potências do mundo (nem mesmo na China!).
O que me pega é que depois de todo o trabalho foda que Bira fez nos últimos anos, com vídeos extremamente bem construídos, apresentando ao público a análise de uma conjuntura ampla a partir de exemplos particulares, práticos e cotidianos, uma pessoa que sabia de fato se comunicar com seu público, a Senhorita foi pega nas garras do twitter e das suas discussões agressivas que não chegam em lugar nenhum. Sofrendo de sentimentos de desistência, de cansaço, de solidão, sendo xingado de todo o tipo de coisa, atacado por pessoas ditas do mesmo campo, será que o que Bira (e não só ele como todo o campo da esquerda completamente fracionado) precisava agora era de 1h do Jones de apontação de dedo, num discurso velado de que Bira tava ou de má vontade ou não faz boas análises pq é incapaz? - O bom é quando o conflito leva à superação e à elevação do debate né?
Aí a pergunta vem "kkkkkk luana mas por que você está continuando esse ciclo de apontação de dedo? Qual é o papel da polêmica pros comunistas? Quem é você na porra da fila do pão?"
Meu público deve consistir em média de uns 5 fãs (meus amigos). Eu tenho o conhecimento que uma menina de 21 anos que militou por (de verdade?) uns 4 meses, e que antes disso nem era muito capaz de pegar num texto ou livro, mas que sempre gostou muito de consumir esse conteúdo do youtube e afins. Qual é o valor da minha comunicação no meio desse caos todo?
Talvez seja conscientemente e abertamente demonstrar o meu afeto, bastante subjetivo e singular, mas que reflete dimensões mais amplas. Porque eu não to sozinha nesse mar de angústia que eu sinto, e a gente tem que parar de deixar com que as pessoas passem por essas coisas sozinhas. Bira sabia disso.
É claro que nossos afetos, assim como TUDO, estão submetidos à ideologia (como muito bem apontado pelo realismo capitalista: é, de fato, bastante confortável pra burguesia que a gente olhe pra o que temos, diga que acabou, e performe um anticapitalismo que não represente nenhuma ameaça a eles). Mas pra gente reconhecer quais aspectos ideológicos estão estruturando nossos sentimentos, precisamos, primeiro, reconhecer tais sentimentos. O que a gente sente, de verdade, sobre nossa organização quando a gente deita a cabeça no travesseiro? Sobre a linha que a gente defende? É uma mera questão de convencimento e elevação das consciências racionais?
Quando Lula faz publicamente uma fala desmoralizando a greve das federais, eu não penso “nossa que jogo político equivocado camarada Lula”, e sim o que eu sinto é raiva, decepção, traição. Quando a gente vê uma legião de pessoas vestidas de verde e amarelo, gritando Mitoooo! frente a um homem que acabou de se declarar como IMBROCHÁVEL nas comemorações de 200 anos da independência do Brasil, não só essas pessoas não estão pensando “olha só que análise de conjuntura incrível que nosso presidente apresentou agora”, como elas estão sentindo coisas inomináveis, que vem de um lugar que nem a gente nem elas entendem muito bem, e que singularmente me gera um sentimento de que isso tudo é muito sarcástico, trágico e HILÁRIO. Quando eu vi, pela primeira vez, o vídeo do Ian Neves sobre o realismo capitalista, o que eu vi ali não foi um conceito novo que se apresentava como uma aproximação mais efetiva da realidade concreta, o que eu vi foi uma ideia que traduzia exatamente o que eu sentia na época, que dialogava diretamente comigo, e que foi o necessário pra eu estruturar parte da minha vida em torno de não só praticar a militância, mas de sentir um grande amor pelo comunismo (essa coisa meio difusa né).
Gostei muito quando Rita von Hunty trouxe no final de seu último vídeo (Por que os socialistas falam tanto sobre trabalhadores? - ABC do Socialismo #10) sobre como a gente se organizar é importante, não só porque essa é a nossa única ferramenta para derrotar a burguesia, mas porque no processo da atividade da militância a gente se encontra com os nossos, a gente desenvolve trabalho coletivo, a gente vê como a gente pode mudar a nossa realidade local, como a gente pode mudar a vida, nem que seja de “só” algumas pessoas. Que se a gente fica só nos estudos, atomizado em nossos quartos, a gente fica realista capitalista mesmo, a depressão é o resultado, porque não vivenciamos o verdadeiro sentimento de camaradagem.
Mas acho que fica muito claro como tudo isso ta cheio de contradição e conflito (só esperando pela superação!). Sim, é verdade que fazer um texto de apontação de dedo pro Jones não é exatamente o que eu defendo aqui. É verdade que eu acho que certas polêmicas a gente não deveria ficar dando continuidade (não desse jeito pelo menos). É verdade que eu acabei de falar da importância afetiva da militância ao mesmo tempo que to afastada de qualquer organização, e pretendo ficar assim por um tempo. Porque eu compreendo conscientemente e racionalmente que o realismo capitalista tá aí pra fazer a gente se desviar da nossa luta, mas eu também sei que eu não acredito nisso completamente, e que dentro da gente tem forças contraditórias e desejos conflituantes e crenças opostas que convivem, e às vezes o momento histórico que a gente tá de fato dificulta muito com que a gente arranque qualquer conquista que seja.
Mas enfim, a realidade é muito dinâmica e as coisas simplesmente vão acontecendo e a gente tenta fazer o nosso melhor nas condições que a gente tem. Minha conclusão é que eu não tenho resposta (nem Bira tinha!), eu nem mesmo consegui esgotar o tema (e nunca irei, por isso mantenho o blog hehe), mas fico aberta ao debate porque aí a gente vai construindo.
E as coisas vão mudando sim. Algumas coisas permanecem, mas outras vão mudando sim.
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Início de uma retomada
Boa noite fãs!
Foram muitos anos afundada em um vício em redes sociais e internet pra eu fingir agora que tenho uma vida real tocando a famosa grama que tanto falam. O twitter é provavelmente o mais relevante nessa história toda, mas o real início de tudo foi aqui no tumblr. Em 2016 a pequenina luana yanasse de 13 anos de idade, que tinha uma mãe que a restringia de ter redes sociais, decidiu criar, no sigilo, um blog. Com o nome de onceuponalua (mantido até hoje pelo apego emocional), abriu suas postagens com uma citação da Taylor Swift de Begin Again, porque aquele dia era uma quarta-feira. Depois de alguns meses de uso, a luaninha, sabendo que o tumblr teve seu auge uns anos anteriores e que já estava em declínio, percebeu que o conteúdo que mais consumia nesta rede social era prints de tweets famosos. Então deu a lógica, e foi propriamente atrás de sua conta no twitter.
O twitter foi uma jornada extensa e com consequências sérias no meu desenvolvimento, das quais eu sei que nunca me recuperarei. Durante um ensino médio solitário, em uma escola e uma cidade em que eu não me encaixava, em um círculo social minimamente estranho, sobrevivendo a um relacionamento mais estranho ainda, é certo que uma vida paralela virtual caiu como uma luva. Não é uma história nova pra ninguém, e eu (realmente) conheço gente pra caralho que passou pela mesma coisa. Não é exagero dizer que minha relação com a internet tem sido um vício desde então, a ponto de eu, por vários anos da minha vida, ter sido capaz de ollhar TODA a minha timeline do twitter, sem perder nada, com a maior facilidade.
E foram indas e vindas. Em 2017 eu ainda gostava muito de escrever poemas e outros escritos pro tumblr, mas ao longo do tempo fui transformando esse espaço apenas para reblogs e consulta do imaginário popular sobre séries, filmes, jogos, músicas e animes que eu gostava. Eu acho que ao longo de todos esses anos eu deixei de frequentar o twitter umas 3 vezes, ficava uns meses fora porque sabia que tava viciada, e depois voltava porque sabia que não conseguia sustentar a vontade de tuitar. O que acontecia, inclusive, nesses períodos de recessão não era diminuição do uso da internet, não era eu sair mais do quarto e tentar construir uma vida social decente, mas sim passar aquelas horas de twitter pra alguma outra coisa que derreteria meu cérebro, como o youtube ou a netflix.
Em 2020 veio outra revolução acontecer nessa minha relação com a internet. Não só uma pandemia avassaladora e um governo genocida que fez todos nós sentirmos que estávamos vivendo o apocalipse, mas principalmente o ✨TikTok✨. O TikTok veio pra me mostrar um novo tipo de obsessão com a internet, muito cruel de uma forma diferente, mas ainda muito interessante. Em um contexto de isolamento social e desesperança completa no futuro da humanidade, uma das únicas coisas que eu pude fazer era passar horas e horas mexendo o dedão de baixo pra cima na telinha do meu celular e recebendo uma quantia espalhafatosa de estímulos visuais e sonoros que ne custaram alguns neurônios importantes para serem processados.
Em fevereiro de 2023, afundada na pior crise de depressão que eu já tive, finalmente apaguei minhas redes sociais, e o foco aqui tá especialmente no twitter. Foram umas crises no meu círculo social virtual somadas com uma aula meio estranha sobre sociedade narcisista do consumo que me convenceram de que eu não queria ser vista ou percebida nunca mais. Só que esse NUNCA MAIS na minha vida, eu fui notando que é uma coisa bem engraçada, que não significa nunca de verdade. Primeiro que esse tempo que fiquei "sem rede social nenhuma", eu tava era aumentando as minhas horas de tiktok. Depois, passada a depressão e virando a chavinha pra uma coisa mais agitada, o instagram foi o primeiro a voltar (e a se assentar incansavelmente na minha vida ao meu contragosto). E quase 1 ano e meio depois, a vontade de tuitar permanece firme, mesmo que eu nunca mais queira pisar naquele lugar de novo.
Enfim, tudo isso pra poder justificar o que eu to fazendo aqui. Meu objetivo é só voltar a escrever e expressar meus sentimentos e opiniões sobre o mundo de novo. O instagram é inapropriado pra esse tanto de textão (pelo menos deveria ser né), o twitter é inabitável, eu tenho MEDO do reddit, e o tumblr me acolheu tanto aos meus 13 anos, e foi feito exatamente pro meu propósito de agora, que não consigo ver POR QUE NÃO tentar existir nesse lugar mesmo que ninguém mais esteja olhando.
Alguns disclaimers antes de reinaugurar este espaço. O primeiro é que eu sou um tanto inconstante com tudo, com exceção dos meus relacionamentos e comunismo, então pode ser que venha uma maré de postagens e um grande nada por meses, assim como pode ser que eu NUNCA MAIS volte! O segundo é que, apesar dos vários anos de existência dessa conta, eu nunca fui de usar tanto o tumblr, então não conheço tanto assim como as coisas funcionam por aqui, o que eu vou experimentando no caminho. O terceiro é que eu quero mandar um salve pro Mark Fisher por contribuir com a minha vontade de escrever sobre qualquer coisa, e talvez ver algo legal sair disso (ou talvez não :P ).
Enfim, é isso, se eu tiver outra informação eu aviso depois.
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Gaslight gatekeep girlboss more like housewife beauty queen homewrecker idol teen
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[ csm ] i be walking with the cheese, thats that queso ‼️
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by friedrice.art
art republished with artist’s permission
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o que eu posso dizer é que eu não to bem, e eu não me vejo ficando bem nunca. só tem piorado ao longo dos anos. essa é a tendência. eu to bem cansada já.
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