Tumgik
oteosofoiniciante · 4 years
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03 de Janeiro de 2021 às 00:04 – Cuiabá-MT
Desde criança sou alguém "estranho", meus pais, avós, tios e professores nunca puderam me entender. Sempre fui considerado, no mínimo, excêntrico e ao longo da vida ganhei diversos adjetivos, alguns palatáveis e outros um tanto quanto cruéis. Na infância sempre fui uma criança quieta e tímida, mas muito curiosa: desde a mais tenra idade carregava um universo de perguntas e um espanto angustiante ante os mistérios da vida. Lembro-me que tudo começou aos 04 anos de idade, quando fui ao velório de um desconhecido - sim, me lembro com detalhes - acompanhado de minha avó materna. Ao ver o corpo daquele senhor inerte, perguntei a minha querida avó por quanto tempo ele ficaria ali deitado, dormindo, enquanto os outros o observavam. Então, após uma longa explicação de que tal homem não dormia, mas estava morto, descobri que não éramos eternos e que não iríamos viver pelos séculos neste corpo evanescente. Daí em diante, a incógnita da morte fixou-se em minha mente juvenil tal como um espectro lúgubre e mudo que, para minha futura libertação, me perseguiria irresolutamente, infatigavelmente, até os 22 anos; daí em diante, iniciou-se a minha longa e angustiante caminhada em busca de respostas: por qual razão morremos? Se todos vamos morrer, então qual é o sentido da vida? Há algum objetivo ou fim a se alcançar que não seja meramente passageiro? Estamos entregues ao acaso e o universo é filho da coincidência? O que há depois da morte? Há um Deus? Há um céu e recompensas? Há um inferno e castigos?
Assim dizem meus pais, que por volta dos 06 anos fui levado ao psicólogo várias vezes, pois achavam-me muito “incomum” e que cultivava gostos um tanto macabros para garotos da minha idade. Lembro-me de passar tardes inteiras pesquisando sobre múmias egípcias, métodos de mumificação, nome e aparência de deidades, hieróglifos e símbolos funerários. Cheguei a fazer minha avó paterna comprar enciclopédias sobre egiptologia e a levar-me à uma exposição de múmias e artefatos antigos. O Egito e a sua magia enchiam-me o coração de alegria e ao mesmo tempo instigavam-me a querer saber sempre mais sobre a morte, sua passagem e o além-túmulo.
 Houve um episódio em que cheguei a ser expulso da casa de um vizinho, pois ao longo de vários dias atrapalhei sua noite de descanso com o choro de pavor dos filhos atormentados pelas imagens de múmias egípcias já ressecadas e escuras há séculos pelo trabalho do tempo. Obviamente, eu não o fazia por maldade, só queria mostrar aquele mundo mágico e cheio de mistérios para as outras crianças. Eu não podia saber, naquela idade, que aquilo que era tão normal para mim, era, na verdade, perturbador até mesmo para os mais velhos.
Daí em diante, as coisas continuaram a acontecer de forma pouco comum. Transcorri os anos enxergando sombras e espectros me encarando de longe; de madrugada, vendo figuras negras de capas vermelhas e pretas de pé ao lado da TV – houve uma noite em que minha irmã, ao acordar, pôde enxergar exatamente a mesma figura usando cartola vermelha e capa preta; sentindo a opressão ou a leveza dos ambientes com os quais eu me relacionava. Tudo durou até mais ou menos os 10 anos de idade, depois disso tive uma vida relativamente “comum”.
Fiz todo esse trajeto buscando respostas relacionando-me com a religião dos cristãos protestantes. Tanto que os 15 anos fui aceito como aspirante ao Sagrado Ministério e antes de completar 16 fui enviado para o Seminário em São Paulo, onde a angústia, a loucura, a ansiedade, a depressão e o desespero perseguiram-me do começo ao fim, pois do mesmo modo como os cristãos são bons para colocar perguntas sempre novas, são também brilhantes para fugir das respostas mais coerentes e conviver com as quimeras do supralapsarianismo e predestinação.
Louco de desespero e medo, diante das incoerências teológicas dos teístas, fui obrigado a abandonar o seminário e, por honestidade e coerência, a deixar a igreja e o Deus cristão. Assim, tornei-me ateu, pois vasculhando o universo cristão não pude encontrar respostas, apenas mentiras e ilusões.
Ao retornar do Seminário permaneci por dois anos tentando me recuperar da depressão e ansiedade. Tomei todos os tipos de remédio, fiz uma dúzia de tratamentos e ao mesmo tempo mergulhei sem medo nas profundezas do ceticismo e do materialismo. Em meio ao álcool, drogas e noitadas li desesperadamente todos os títulos relacionados à divulgação científica em física, astronomia, cosmologia e biologia. Ao mesmo tempo devorei Schopenhauer, Nietzsche, Camus e Kierkegaard e no meio de todo esse redemoinho de informações eu me afundei mais e mais até desejar a morte, a loucura e a miséria total. Encontrei um abrigo muito frágil, mas que me foi suficiente para não deixar a vida. A literatura brasileira, os romances e clássicos de vários países, as fantasias, os contos de horror, a poesia e, marcando o começo de um novo ciclo, Marx.
Assim, tornei-me não somente um ateu, mas diante da grandeza estupenda do Marxismo, encontrei uma vez mais um sentido para a vida que não fosse o nada, tornei-me materialista histórico-dialético. Então, iniciou-se mais uma longa caminhada de estudos: não escapou-me um só livro de Marx e Engels, assim como li boa parte das obras de Lênin, Gramsci, Trotsky e etc.
Depois de se passar um longo período de imersão no Marxismo, voltei à tona com várias perguntas, uma dúzia de desconfianças e algumas certezas, sendo uma delas de que a base metafísica do marxismo era falha. No entanto, ao invés de abandonar o barco depois de descobrir o seu furo, o que é do meu feitio, decidi por continuar ali forçando-me a aceitar tudo como se fosse verdade absoluta. Afinal, precisava de um bom tempo para me recuperar de mais uma desilusão até ter forças para quebrar, desde as bases, tudo o que eu considerava ser real para, só então, recomeçar minha empreitada do zero.
Nos bastidores de tudo isso, estudei e participei de várias religiões no intuito de encontrar alguma coisa nelas que me desse alguma pista, mas em todas as tentativas frustrei-me ainda mais e apeguei-me, por isso, com mais força ao materialismo. Não satisfeito, mesmo com um olho no marxismo e outro na filosofia, deixei de lado “O Capital” e dediquei-me ao estudo frenético da metafisica antiga.
Ao encontrar uma nova base para reconstruir o meu “mundo”, tive coragem suficiente para abandonar aos poucos toda a parafernália vermelha e dar um salto metafísico – tendo por base os ombros de Platão e Aristóteles. Mirei no BEM platônico e acertei o cerne da teosofia, Helena P. Blavatsky, fundadora da Sociedade Teosófica e “portadora” do conhecimento oculto no mundo ocidental.
Daí em diante encontrei todas as respostas para as perguntas que me perseguiram durante a vida e, mesmo ganhando mais uma centena de dúvidas, sigo tendo a certeza de que um dia poderei resolvê-las, uma vez que agora assento-me sobre uma base indestrutível que perdurará pelos séculos dos séculos.
Muitos podem pensar que depois de todo esse vai e vem agora me encontro em absoluto conforto no braços do Ocultismo. Ora, engana-se o pobre homem que pensar assim, pois se há um “lugar” em que não há conforto, este lugar é a teosofia. Isso não quer dizer que vivo em constante perturbação, angústia, desespero e medo da morte, não! Livrei-me de tudo isso e agora posso dedicar-me verdadeiramente à busca pela Verdade.
Por outro lado, novos desafios surgiram no horizonte do Absoluto e todos eles estão impregnados pelo auto sacrifício, extrema disciplina, pureza, ascetismo, renúncia e profundo altruísmo. Dia após dia uma nova questão apresenta-se diante de mim imperiosa e frenética, louca para ser resolvida. Tenho passado por dificuldades monstruosas e dilemas que me tiram o sono.
Fica para amanhã...
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