procrastinario
procrastinario
Procrastinário
9 posts
Registro das mídias que consumo, impressões e opiniões. Meio que um blog pessoal
Don't wanna be here? Send us removal request.
procrastinario · 3 months ago
Text
Série - Adolescência (2025)
A série do momento da Netflix me gerou fortes sentimentos conflitantes. Por um lado, agradeço aos desenvolvedores por darem visibilidade a uma importante temática que há tanto tempo me inquieta - isto é, a sujeira que existe por trás das comunidades de ódio à mulher na internet, e como elas trabalham na surdina, por meio do enviesamento proposital dos algoritmos com o intuito de capturar a mente de homens jovens para a sua causa. Além disso, a técnica de plano-sequência utilizada expressa um esforço admirável e uma paixão pela arte por si só, servindo à narrativa em alguns momentos, e em outros nem tanto. Por fim, a série faz um ótimo trabalho em mostrar as nuances do comportamento do pai enquanto perpetuador da violência e da misoginia, e retrata de maneira convincente as dinâmicas familiares após o trauma da "perda" do filho.
Agora vamos falar sobre o enorme desperdício de potencial que foi essa série. É difícil saber por onde começar: as inúmeras pontas soltas, os diálogos maçantes que não agregam em nada, subplots que são apresentados e nunca desenvolvidos, a superficialidade com a qual certos assuntos são abordados...afinal, onde está a arma do crime? O que o policial descobriu? Do que a amiga da vítima sabia? E qual o envolvimento do filho do policial? Todos esses elementos poderiam ter sido utilizados para apresentar ao espectador novas facetas da temática abordada, mas, porque a série preferiu focar em diálogos sem sentido e longas tomadas de plano-sequência, devemos nos contentar com menções vagas sobre uma "manosfera" e "incels" como a única explicação para o crime cometido.
A quais conteúdos, exatamente, o adolescente foi exposto, e como se deu sua radicalização para que chegasse ao ponto de matar uma colega? Quem está por trás da propagação desse tipo de conteúdo, e quem se beneficia com isso? Por mais que o foco da série seja em mostrar o desmantelo de uma família diante de uma tragédia inesperada (e, de certa forma, evitável), a falta de aprofundamento em certos aspectos acaba reforçando um discurso "alarmista" voltado para o lugar errado. Afinal, a discussão sobre os pais vigiarem o conteúdo que seus filhos consomem não é de hoje.
Mas então, até que ponto essa é uma solução viável? E até onde esse deveria ser de fato o foco da discussão? Claro, é importante que os pais conversem com seus filhos homens sobre o conteúdo que eles assistem, mas não podemos fingir que se trata de um mero "protejam suas crianças!" que está em jogo nesse cenário. O que sabemos é que existem pessoas poderosas e influentes que estão interessadas na propagação desse tipo de conteúdo da internet, e que isso faz parte de um intrincado projeto de poder que tem como base a subjugação das mulheres. Convenhamos: já não é possível regular o que os adolescentes têm ou não acesso. O foco agora é regular a existência dos conteúdos em si, e responsabilizar aqueles que estão por trás do repentino sucesso das comunidades misóginas.
Em resumo, essa série me deixou com uma série de expectativas frustradas, e, apesar de possuir bons momentos (com destaque para o episódio da psicóloga, que mostra o nível de dissuasão e ódio incubado do protagonista), me deu a impressão de ter perdido o meu tempo.
0 notes
procrastinario · 3 months ago
Text
Série - Os Normais (2001)
Depois de todo o bafafá do Oscar e os holofotes virados para a Fernanda Torres, precisei dar uma chance pra essa série de comédia romântica extremamente liberal que retrata um casal de noivos aparentemente "normal" em diversas situações cotidianas que acabam tomando contornos absurdos, geralmente envolvendo brigas, gente pelada, traição e uma eventual reconciliação.
Os primeiros episódios da série são bem engraçados e mostram, talvez pelo ano no qual foram produzidos, muito pouco respeito pelo politicamente correto, o que por vezes contribui para a construção do humor, mas às vezes deixa um clima esquisito de "meu deus, antigamente isso era visto como aceitável?" e nos faz agradecer a mudança dos tempos. No entanto, mais pra frente a trama vai ficando repetitiva e as piadas já não têm mais tanta graça, o que me desestimulou a assistir o restante da série...uma pena, porque acredito haver outros episódios bons misturados aos ruins. De qualquer forma, a obra me proporcionou boas risadas com meu companheiro!
1 note · View note
procrastinario · 3 months ago
Text
Filme - O Estranho Mundo de Jack (1993)
Já não é a primeira vez que expresso aqui meu amor por animações em stop-motion (e nem vai ser a última!). Nesse sentido, O Estranho Mundo de Jack é um show para os olhos, em especial por conta do design estilizado dos personagens e da atmosfera gótica típica do Tim Burton, que contrasta com a personalidade amável e sonhadora do protagonista, o temível Jack. O protagonista reina como a figura mais prestigiada de uma cidade onde o Halloween é eterno, mas descobre que a repetição de mais-do-mesmo ano após ano já não o satisfaz. Assim, após ter um vislumbre de uma realidade alternativa onde o Natal é eterno, na qual tudo é novo e ele pode enfim expressar seu verdadeiro eu além dos doces e travessuras, Jack mobiliza a cidade inteira em um ambicioso plano para sequestrar o Papai Noel (ou seria Papai Cruel?) e substituí-lo durante a comemoração do feriado cristão.
A história diverte públicos de todas as idades, por vezes subvertendo nossas expectativas dos personagens, evitando alguns velhos clichês e abraçando outros orgulhosamente. Enredo à parte, o elemento de maior destaque da obra são as músicas originais, em especial "This is Halloween", que aparece logo no início do filme. Além disso, pode-se notar a paixão com a qual a animação foi executada, o que resultou em uma obra de arte que, apesar de antiga, permanece atemporal e digna de ser revista todos os anos durante o mês de outubro!
0 notes
procrastinario · 3 months ago
Text
Anime - Look Back (2024)
A primeira coisa que me chamou a atenção nesse anime longa-metragem foi o traço único e as cores. Soube da existência dele por uma lista de obras no Instagram e, assim que bati o olho, vi que seria algo diferenciado.
A história se inicia como um slice of life de uma garota que desenha tirinhas para o jornal da escola, até que um dia é desbancada por uma colega tímida que nunca vai às aulas. Uma série de acontecimentos faz com que as duas cresçam como melhores amigas e parceiras de trabalho inseparáveis, até a inevitável despedida na vida adulta, que vai gerar a reviravolta da história e, notavelmente, alterar o gênero narrativo para drama, com uma pitada muito bem-vinda de sobrenatural. A obra emociona e traz uma demonstração do impacto que os afetos que construímos e as decisões que tomamos têm em nossa vida e na vida das pessoas que nos rodeiam, além de explorar temas como inveja, amizade, desenvolvimento e arrependimento.
Foi uma grande surpresa descobrir que o autor dessa história é o mesmo de Chainsaw Man, não apenas pelo gênero narrativo completamente diferente, mas também pela impressão de uma história mais madura e bem menos apelativa que fez com que eu me deleitasse com essa obra maravilhosa do início ao fim!
1 note · View note
procrastinario · 3 months ago
Text
Filme - Flow (2024)
Finalmente assisti a essa obra de arte nos cinemas! A animação letã que concorreu e arrebatou o Oscar de melhor animação de 2025 tem uma história encantadora e me surpreendeu pela beleza da animação e a sensibilidade da trama, em especial, pela sua produção e recursos extremamente limitados. Afinal, o filme contou com uma equipe por volta de 20 pessoas (das quais somente cerca de cinco ou seis trabalhavam simultaneamente), e foi feito inteiramente com o Blender, um programa de animação gratuito. Essas limitações, ao meu ver, impulsionaram a equipe a encontrar soluções criativas que resultaram em inovação, provando que, muitas vezes, menos é mais.
O filme conta a história de um gato preto que luta para sobreviver a uma inundação de grandes proporções, aliando-se a vários outros animais que encontra no caminho. Apesar de não haver nenhum diálogo, a maneira fluida como as trocas foram estabelecidas entre os personagens possibilitou ao espectador criar as frases na própria mente e entender tudo o que se dizia. Existe uma série de questões que envolvem a narrativa, como a natureza da catástrofe climática e o mundo em que se passa a história, que são deixadas para a imaginação de quem assiste, e que, na minha opinião, só contribuem para o clima misterioso do filme. Vitória merecida!
2 notes · View notes
procrastinario · 3 months ago
Text
Filme - Minha Vida de Abobrinha (2016)
Recentemente assisti a essa animação sensacional que mostra a vida de um garoto no orfanato após a morte da mãe. A animação em stop motion me deixou encantada, pois tenho mesmo um fraco por essa técnica, e as cores vibrantes deram ao filme um charme especial. Além disso, alguma coisa na dublagem original francesa me cativou profundamente.
Em termos de enredo, o filme entrega sensibilidade e sinceridade nos temas abordados, que variam desde assuntos delicados como abuso infantil e luto até temas mais alegres como amizade e família, e desenvolve todos eles com o tato necessário, sem romantizar o sofrimento ou se utilizar de sentimentalismos baratos.
Nesse sentido, o storytelling foi utilizado muito habilmente, em especial na sutileza com as quais os acontecimentos transcorrem na tela, sugerindo em vez de expor, e confiando na capacidade do espectador em preencher as lacunas - o que torna a jornada de quase 2h do filme extremamente prazerosa, e o caloroso desfecho merecido.
Em termos da minha formação em Psicologia, acredito que essa animação aborda de maneira muito didática a fase da infância, sobretudo da infância precarizada, e me ajudou a pensar o impacto de certos profissionais na vida dessas crianças, em especial por conta da figura do policial. Em resumo, esse filme prometeu muito e entregou bem mais do que prometeu! Já ganhou um cantinho especial no meu coração.
0 notes
procrastinario · 4 months ago
Text
Revistas - Cult #286 e #306
Registrando aqui a leitura das revistas Cult, edições "Não Monogamia" e "Anatomia da Arte de Amar", que me introduziram a uma nova maneira de pensar relações afetivo-sexuais. A revista é maravilhosa, com um viés psicanalítico que casa perfeitamente com o conteúdo e agrega também para a minha profissão e meu futuro como psicóloga. Resta apenas finalizar o tópico especial sobre Franz Kafka, algo que farei mais despretensiosamente quando me der vontade. De qualquer forma, fiquei viciada nessas revistas, e gostaria mesmo era de comprar um monte delas, mas são muito caras! E estou sem grana no momento...
1 note · View note
procrastinario · 4 months ago
Text
Livro - "Descolonizando Afetos" (2024)
Finalizei nessas férias a leitura do livro da Geni Núnez, psicóloga indígena que trata sobre feminismo, não-monogamia e decolonização. Achei o conteúdo imensamente interessante, de fazer realmente a gente repensar nossas formas de amar. Trouxe também a visão dos povos originários em diversos âmbitos da vida - em especial relacionamentos - além de linhas de raciocínio perspicazes sobre a violência contra a mulher, ligando alguns pontos de uma maneira que até então não me havia ocorrido. A autora mescla a prosa e a poesia em uma escrita que consegue ser autêntica, leve e gostosa, de modo que mal senti o tempo correr enquanto lia, e abandona os falsos moralismos para incentivar o leitor a agregar aquilo que, para ele, mais fizer sentido. Me fez ter vontade de conhecer outros trabalhos dela! Além disso, o livro é cuidadosamente referenciado, estimulando inclusive que a gente pesquise mais sobre outros autores citados, como, por exemplo, o psiquiatra e filósofo Frantz Fanon.
4 notes · View notes
procrastinario · 4 months ago
Text
Filmes - "I am not a robot" (2023)
No fim de semana assisti o curta metragem "I am not a robot" com um amigo. O filme é de origem holandesa e tem uma abordagem existencialista e feminista, que traz um conceito comicamente absurdo de uma mulher que não consegue passar pelo captcha ("não sou um robô") e passa a achar que realmente é um robô. Ela descobre uma trama elaborada por seu namorado rico, que afirma que toda a sua vida era apenas uma fachada - seus amigos, sua família e seu trabalho, e que ela era na verdade um robô programado para ele, que só poderia, inclusive, morrer quando ele morresse. Desesperada para fugir de seu controle, ela se joga do prédio onde trabalhava. A última cena mostra a mulher estirada no chão com uma poça de sangue escorrendo de sua cabeça. O filme termina sem que tenhamos certeza da morte da mulher, e resta o questionamento se ela era realmente um robô.
2 notes · View notes