todo dia alguma coisa. projeto de férias de matheus meneghin.
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Tradução: Random notes to my child, de Keorapetse Kgositsile
Keorapetse William “Bra Willie” Kgositsile, foi poeta e ativista político sul-africano, além de estudioso nos campos de cultura, música e outras expressões artísticas de origens africanas. Nasceu em Joanesburgo, 19 de setembro de 1938, e faleceu em sua cidade natal ontem, aos 79 anos de idade. É pai do rapper Earl Sweatshirt. Especula-se que o poema traduzido é dedicado a ele, seu filho mais velho. A tradução e estudo deste e outros poemas do autor provavelmente serão tópicos recorrentes no projeto. Notas aleatórias para meu filho Cuidado, meu filho, palavras que carregam os estrondos do desejo insensato também carregam a gosma da ilusão pingando como pus das costas despedaçadas dos escravos por exemplo: eles falam de força negra de quem os olhos não ameaçarão o ágil embranquecimento de seu próprio intuito quais dias você herdará? quais sombras habitam seus silêncios? Eu aspirei expressão, todos esses anos, passado elegante a mais eloquente palavra. Mas aqui agora nossa língua seca como larvas enquanto continuamos as nossas nojentas risadas e mortes. Embora agora seja bonito gritar orgulho e beleza ainda que não era sabido que "escravos e defuntos não possuem beleza" Confusão, em mim e ao meu redor confusão. Essa dor não era do passado. Essa dor não era porque nós falhamos em entender: essa terra é minha confusão e medos impostos que a causaram. Nós ficamos como arbustos murchos nesse pedaço de terra o chão seco e rachado pelas rachaduras meu grito: E o que forma em aceitação e ascensão deve o povo o olho do bebê determinado desejar saber nenhuma lágrima assustada escorre para a elegância do fogo. Eu ruí com todos os nomes que sou mas o olho do bebê, tão novo ao nascer, deve sentir o dia que, falando minha língua, dirá: hoje nos movemos, nos movemos? // Random notes to my son Beware, my son, words that carry the loudnesses of blind desire also carry the slime of illusion dripping like pus from the slave's battered back e.g. they speak of black power whose eyes will not threaten the quick whitening of their own intent what days will you inherit? what shadows inhabit your silences? I have aspired to expression, all these years, elegant past the most eloquent word. But here now our tongue dries into maggots as we continue our slimy death and grin. Except today it is fashionable to scream of pride and beauty as though it were not known that 'slaves and dead people have no beauty' Confusion in me and around me confusion. This pain was not from the past. This pain was not because we had failed to understand: this land is mine confusion and borrowed fears it was. We stood like shrubs shrivelled on this piece of earth the ground parched and cracked through the cracks my cry: And what shapes in assent and ascent must people the eye of newborn determined desire know no frightened tear ever rolls on to the elegance of fire. I have fallen with all the names I am but the newborn eye, old as childbirth, must touch the day that, speaking my language, will say, today we move, we move?
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Tarde na Lapa
Meu cigarro quase na metade e meu olho ainda não tinha parado. Não suporto esperar. Tinha pensado em sentar, mas não queria estar muito perto de ninguém – algo inviável caso sentasse em qualquer lugar ali, naquele horário. Decidi esperar em pé mesmo. Pior ainda.
Minha camiseta suava nas minhas costas e eu sentia cada vez mais presentes os pingos em desenvolvimento e, imediatamente depois, cascata.
No penúltimo pingo que me irritou dois homens pararam próximos a mim. Sem opções, não só os olhos, como pousei toda minha atenção naqueles sujeitos.
Um era jovem (até mais novo do que eu) e o outro tinha idade para ser o seu pai. Não se pareciam nem um pouco. Dividiam um pão de queijo e entre mordidas, bebiam um suco.
Ainda no meio do pão de queijo, o homem velho acendeu um cigarro e continuou comendo. O jovem que carregava o isqueiro e demorou para encontrá-lo. Impaciente, apalpou os bolsos repetidas vezes até encontrar o fogo, no fundo de um dos vários bolso da bermuda. Com o cigarro na boca o homem velho reclamava de sua lentidão.
O meu cigarro logo acabou.
Pegando as tralhas que carregavam, o jovem fez como que quisesse sair andando.
"Tá indo é onde?"
"Seguindo, ué. Bora."
"Não, não. Espera aí."
"Esperar o que? Não tamo atrasado?"
"Tamo atrasado, mas já atrasado não adianta atrasar mais ou menos. To fumando."
"Oxi! Fume e ande então."
"Não fumo e ando não, faz mal, sabia?"
"Mas que caralho! Tá fumando, já tá fazendo mal, o que custa andar?"
"Faz mal e eu não quero andar fumando não. Meu médico que falou: andar e fumar faz mal, não pode não."
"Cê já vai morrer de qualquer jeito desgraça, deixa de frescura. Fuma um maço desses por dia, nunca anda não?"
"Andar eu ando, mas só quando é preciso. Agora não é não, então não tem motivo."
"Eu vou indo então." Disse o jovem incomodado, carregando algumas sacolas e duas mochilas sozinho.
"Caralho viu, esse moleque..." Jogou o cigarro no chão e pisou em cima. Saiu caminhando atrás, tentando alcançar o companheiro.
Ao alcançá-lo, se arrependeu, puxou do bolso o maço e depois um cigarro. Deu uns tapinhas no moleque e pegou o isqueiro com ele. Acendeu o cigarro e riram os dois.
Logo segui meu caminho, tocando meu hábito: caminhar fumando, fumar caminhando. Meu médico nunca falou nada sobre isso.
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dona Ruth e as luzes
Dona Ruth viu pela primeira vez aquelas luzes na sacada do seu apartamento, de frente para a 9 de julho, e logo chegou à conclusão de que três taças eram o suficiente. Deitou e sentiu aquelas luzes penetrarem em sua memória, o momento dos clarões se repetiu duas vezes, três, reverberando. Arrepiou-se e dormiu em seguida. No dia seguinte na conversa diária com seu Mário, contou o ocorrido entre risadas e toques em seu ombro esquerdo; o direito continuava imóvel, braço esticado e mão apoiada no botão que abria o portão, terça feira movimentada na garagem, todo mundo saiu pra trabalhar dona Ruth. Menos eu né! E gargalhou a aposentada ainda distante da terceira idade.
 Poucos dias depois viu as mesmas luzes, mas agora em outra região do céu, quando fechava a janela do quarto ao anoitecer. Não acreditou, estou precisando fazer os meus óculos, sentiu uma dor na têmpora, quase que na lateral do rosto, pouco mais acima também, a região toda doía por igual, tomou uma taça. Estranho isso, nunca tive essas dores. Deitou na cama e não conseguiu decidir o que assistir na televisão. Pegou uma palavra-cruzada quase no final e a completou em menos de hora. 
 Terminada a palavra-cruzada levantou-se em direção à cozinha. Deu alguns passos, mas mudou de ideia, intrigada, girando meia-volta e tornando à janela, a veneziana fechada, o vidro aberto por um palmo. Pensou na taça que tinha bebido, não é possível, deve ser a vista mesmo. Estou mesmo ficando velha. Abriu o vidro por inteiro e escancarou a veneziana, o barulho do alumínio que esperava ouvir não veio. Encarou o céu.
 Lá estavam as luzes, novamente. Mas o que é isso? Como é possível eu nunca ter visto isso antes? E fechou um olho, forçou o outro, tudo igual, espremeu os dois olhos com força, uma amarela e duas outras mais distantes esbranquiçadas, não pode ser e fechou os dois olhos, esfregou com força, puxou de um canto do globo ocular para o outro, isso tá no meu olho não no céu, esbugalhou os olhos o máximo que podia, lá estavam as luzes.
 Você viu ontem à noite seu Mário? Eram mais de nove, mas não tinha começado o jogo ainda. Encostou a mão no ombro esquerdo dele, ele olhando fixamente para a tela exibindo as imagens das câmeras internas do condomínio. Olha dona Ruth sem querer soar desrespeitoso ou nada do tipo, sabe que tenho muito gosto pela senhora, almoça comigo todo sábado, isso é coisa de gente boa mesmo, coração bom, eu valorizo isso na senhora, mas esse horário eu tava no quintal lá de casa e eu não vi nada não, nem lua tinha né? Tava tudo meio enuviado. Mas talvez seja a distância né? Você viu daqui, mas onde eu moro o céu é mais poluído, deve ter sido por isso.
 É verdade seu Mário, nem lua tinha. (Eu estou ficando cega ou louca, que merda). Boa tarde seu Mário bom descanso viu? Pra você também dona Ruth, até amanhã. Abriu a porta do elevador e apertou o botão do oitavo. Bufou. Começou a vasculhar a casa mentalmente à procura da carteirinha do convênio médico que nunca precisara usar. Deve estar ou na primeira da escrivaninha ou no rack mesmo, junto com as contas.
 Abriu a porta e olhou para a sala, e nela o rack, ficou com preguiça, mais tarde eu faço isso, só vou marcar a consulta amanhã mesmo. Vasculhou a geladeira e pegou a última caixa de lichias, sua fruta favorita. Amava as cores tão contrastantes contidas naquele pequeno fruto, o rosado da casca, o branco quase transparente de dentro e o marrom sólido do caroço. O gosto era mais ou menos, o sabor não chegava perto de agradar tanto quanto as cores. Pegou uma taça de vinho para acompanhar e comeu as lichias sentada na sacada, tentando a todo custo afastar os pensamentos negativos da sua cabeça. Não estou ficando velha. Não estou ficando cega muito menos louca. É coisinha pouca o que estou tendo, se é que estou tendo algo. Provavelmente não estou tendo nada mesmo. São só luzes no céu, e o seu Mário não viu porque ele mora depois do estádio do Corinthians, é muito longe, a vista é outra. Amanhã vou perguntar para a dona Cida se ela viu alguma coisa, se bem que a dona Cida faz o turno da noite então certeza que não veria nem se fosse um meteoro atravessando o céu. Ficar enfurnada dentro daquela guarita a noite inteira, credo, eu não aguentaria nem quinze minutos.
 Acabaram as lichias e o último gole da taça foi dado logo em seguida. Anoitecia. Entrou e fechou o vidro e a cortina da sacada, evitando pensar. Lavou a louça do almoço e aproveitou para descer os sacos de lixo à lixeira, no subsolo. Colocou os chinelos e desceu pelo elevador até o menos dois.
 No quarto andar o elevador parou. Não conhecia ninguém do quarto andar e num instante sentiu a oportunidade aparecer junto com um frio na barriga. Um jovem de cachorrinho no colo entrou e a cumprimentou com boa noite. Respondeu com um sorriso e um afago no bichinho. Coçava a palma da mão ponderando entre perguntar ou não. (Quer saber? Foda-se).
 Viu? Desculpa perguntar assim do nada, sem mais nem menos, mas ontem de noite você viu umas luzes da sua janela? Eram lá pelas nove e pouquinho, antes do jogo começar. Eu achei muito lindo, mas ninguém que eu conheço viu, queria saber o que era.
 Olha senhora, perdão, mas eu não faço ideia. Essa hora ontem eu já estava dormindo, cheguei exausto do trabalho. Mas com certeza era algum balão, esses que o pessoal solta de vez em quando, coisa de moleque.
 Mas estava muito alto pra ser balão – e o cachorrinho deu um espirro. Balão também não brilha, o que eu vi ontem era brilhante, lindo, nossa, você tinha que ver!
 Desculpa mas se não era balão, era avião. Não tem muita opção de luz no céu à noite né? Só se for, sei lá, um OVNI? E riu soluçando com uma expressão de criança boba, o cachorro encarando o dono. Também não devia achar o dono engraçado.
 O elevador parou no térreo e o moço bobo saiu com um sorriso no canto da boca depois de falar boa noite. Dona Ruth só acenou com a cabeça, moleque é você, tá me chamando de doida? Eu lá vou ver OVNI? No centro de São Paulo? E o que alienígena vai querer fazer aqui? 
 Arremessou os dois sacos de lixo para a lixeira de longe e logo entrou de volta no elevador. Não queria encontrar mais ninguém, só deitar no sofá e assistir TV até dormir.
 Assim o fez, mas não conseguia assistir canal algum por mais de cinco minutos. Filmes que já tinha assistido; ou recentemente ou há anos, filmes que não queria assistir; comédias românticas para adolescentes ou filmes de ação completamente fora da realidade. A cada três canais um talk show entrevistava uma pessoa que não conhecia e não tinha o menor interesse em conhecer. Acompanhado da frustração de não conseguir soltar o controle remoto veio o sono, que a derrubou rápido, a deslizando pelo sofá até estar completamente deitada.
 Já com os olhos fechados e só ouvindo o som já distante da entrevista que um comediante meia-boca conduzia com um médico cardiologista, sentiu uma pontada na têmpora. Não pode ser. O sono a deixou de imediato. A vontade de abrir os olhos era crescente, a aflição de não conseguir mais ficar naquele agradável estado entre o sono e a consciência era uma coceira intensa em todo seu corpo. Queria abrir os olhos, a cabeça latejava, a irritação crescia, se revirava no sofá, e como eu sei que estou com o coração saudável doutor? Puta que me pariu, e lá estavam as luzes.
 Um tom de amarelo invadiu a proteção de sua pálpebra, tornando-se cada vez mais presente na sala, perfurando a cortina sem hesitar. Dois pontinhos brancos. De novo não, por favor, não, e abriu os olhos, e as luzes ali, na sua sala de estar, como que encarando a moradora daquele apartamento, que saturada daquele inferno foi ao banheiro pegou três pílulas de um frasco verde e de lá para a geladeira, o vinho quase no final um grande gole, escorre um pouco dona Ruth finge que não vê e deita em sua cama. Esqueceu de desligar a TV. Risos ecoam. Essa foi muito boa, me pegou! É isso aí galera! Uma salva de palmas para o doutor Maurício Coutinho!
 Fechou os olhos, na mente as palmas ecoando em amarelo e branco, próximas, mas logo distantes, se distanciando, assim até sumirem.
 Puta merda, que dor de cabeça. A televisão noticiava um jovem morto depois de se envolver em uma briga de torcida organizada. Caminhou da cama até a sala como nunca tinha caminhado, devagar demais, estou mesmo velha, velha e louca, e apertou com força o botão que desliga a TV. Comeu meio pão com manteiga, tomou dois copos d'água gelada e antes de procurar a carteirinha do convênio médico tomou um comprimido para enxaqueca. 
 Na primeira gaveta que abriu no rack achou a carteirinha e ligou para o convênio. Pediu que o atendente marcasse oftalmologista e psiquiatra, para hoje, sim, cinquenta e três anos, é urgente, por favor, faça isso por mim meu bem, muito obrigado deus te abençoe e desligou depois de muito mais tempo na linha do que desejava ter ficado.
 Desceu do táxi com dificuldades. Além de se sentir anestesiada, a dor agora também estava atrás dos olhos, nada de diagnóstico nem de um médico, nem do outro. Marcou retorno nos dois para uma semana depois.
 Cumprimentou seu Mário de longe com um aceno, mas ele logo saltou de sua cadeira e foi até ela, dona Ruth tudo bem com a senhora? Tá com uma carinha abatida, me desculpa perguntar mas você sabe como eu sou, me preocupo com a senhora, estou vendo que a senhora não tá bem. É as luzes seu Mário, continuo vendo essas malditas luzes... Eu não aguento mais, acabei de voltar do médico e nada, não fazem ideia do que eu tenho. Eita dona Ruth toma cuidado com essas coisas viu? Longe de mim insinuar uma coisa dessas mas ontem mesmo tava assistindo com a minha mulher um programa sobre pessoas que foram levadas por E.T sabe? Abdução que fala né? As pessoas ficaram igualzinho a senhora, pele pálida, via luzes que ninguém via, claro que não to falando que esse é o caso, longe disso, mas a senhora tá com dor de cabeça? Porque no programa apareceu uma moça que falou que depois do contato dela com os E.Ts ela sentia dores de cabeça horríveis dona Ruth, é tenso o negócio. Até lembrei da senhora quando vi o programa mas achei muita coincidência né? Uma coisa dessas acontecer com conhecido nosso a gente nunca imagina. Melhoras viu dona Ruth? Certeza que logo, logo isso aí que a senhora tem vai passar.
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Resenha: Tony Hawk's Pro Skater 2
Em 2011 eu descobri um pequeno fórum brasileiro dedicado a jogos retro e emuladores. 
Eu decidi mentir minha identidade, por pura diversão, e assim surgiu um usuário no sítio de clima agradável que era programador morando em Osaka, cidade do Japão, trabalhando numa empresa que prestava serviços para a Capcom, desenvolvedora de jogos mundialmente conhecida. Os usuários do fórum ficaram interessados, fizeram diversas perguntas e me acolheram como membro da comunidade imediatamente.
Nunca menti tanto na minha vida. Mas me diverti bastante. Durante o curto período em que participei ativamente do fórum, organizei um pequeno projeto com outros membros com o intuito de resenhar nossos jogos antigos favoritos, criando algo como uma seleção dos melhores jogos das plataformas passadas.  
Minha contribuição foi uma resenha de Tony Hawk's Pro Skater 2 para o console portátil Game Boy Advanced. Um texto curto e tímido, mas já com traços do que viria a ser meu estilo de escrita. Acho que melhor do que um texto novo, bom mesmo é relembrar um texto antigo, tão antigo quanto esse, para embarcar no ano que está por vir com mais fome de escrita ainda.
Que em 2018 eu escreva bastante, seja lá o que for. Feliz ano novo para todos vocês!
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Resenha: Tony Hawk's Pro Skater 2 (GBA)
Empresas Envolvidas: A Activision é a distribuidora e produtora, e para a versão de GBA, a Vicarious Visions foi escolhida para ser a desenvolvedora. Foi lançado em 2001. Gameplay: O jogo consiste em dar um rolê de skate pelas fases pontuando o máximo possível. Assim você destrava outras pistas, locais e etc. Modos de Jogo: Existem o modo carreira, onde você tem dois minutos para fazer a maior pontuação possível, e também o modo Free Skate, onde você pode andar livremente, em qualquer pista aberta. Temos também o modo Single Session, que como o nome já diz, você possui somente ''uma seção'', para pontuar o máximo possível, uma mistura dos outros dois modos. Eles fazem bem o trabalho que propõem, e é bem divertido primeiro treinar um pouco, depois ver se funciona e partir para o modo Carreira, um complementa o outro, e nisso, ponto para a VV. Resumo: O jogo consiste em se divertir, com certeza. E isso se torna muito explícito quando a música toca. Um Skate Rock típico da época, de muita boa qualidade por sinal. Isso te estimula a esquecer as quedas feias que acontecem quando você está tentando soltar aquele 900º caprichado. Os gráficos, para a época e para o porte do console, são muito bons, mas algumas texturas deixam a desejar, parecendo as vezes que você está andando em cima do ar ou de papel. Os personagens não possuem rosto, são infelizmente uma representação estranha e pixelada dos melhores skatistas da época, Bob Burnquist, Tony Hawk, Rodney Mullen e etc. Foi considerado também como percursor dos jogos de esportes radicais, revolucionando a indústria gamer. Incrivelmente, o jogo também é considerado por muitos o primeiro jogo em reais três dimensões nos portáteis, o que deixou outro marco na história. Opinião: O jogo é ótimo, a jogabilidade é simples e muito funcional, a trilha é empolgante e divertida e o melhor, relaxa. Me peguei várias vezes enquanto jogava de cabeça vazia, pensando somente em conseguir realizar tal manobra. Você nem percebe a presença de pequenos bugs nos cenários, ou às vezes na imprecisão do jogo em julgar se você caiu errado ou certo. Eu infelizmente ainda não tenho um Dingoo, mas até no PC, usando o emulador Virtual Boy o jogo rodou suavemente, causando uma sensação de imersão mais do que impressionante. Em todos os casos, o jogo é leve e tirando alguns pequenos erros e precipitações na programação. Pode ter certeza que você vai querer tentar uma pontuação máxima enquanto espera por algo, ou quando você se estressou alguma coisa, trabalho, qualquer coisa. Eu realmente amei conseguir esquecer os problemas todos de uma vida corrida somente jogando um jogo simples de GBA em meu notebook, e a Vicarious Visions com certeza teve essa intenção, seduzir o jogador pela forma mais simples, a ''fome de querer mais''. 
Notas Finais:
Jogabilidade: 9 Trilha Sonora e Som: 9,5 Gráficos: 8,0 Diversão: 10 Replay: 10 Geral: 9,2
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as mãos
a minha mão segura a mão do lado dos lados dos cantos a mão segura do lado invisível do canto escuro que aperta amassa de um lado, do outro a outra mão física visível que solta lança e assim paira no centro segura as mãos juntas separadas por mim em mim de um lado, a mão livre mas não, do outro.
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catado: 03/16 - 06/16 @ Canadá
Em 2016 eu fui para o Canadá fazer intercâmbio com um notebook e um celular velho. Longe do meu equipamento e de todo meu conforto, queria muito fazer música. Me virei com o que tinha: o gravador do celular, um programa de edição de áudio no notebook e a internet.
Utilizando sons achados, sons transformados, bastante paciência e um pouco de sorte, eu consegui fazer uma faixa para cada mês que passei lá. Com Drake e sons de mim caminhando pelo bairro. Talheres batidos na pia e outras coisas que não sei muito bem o que são.
Agora, para comemorar o natal e dar continuidade no projeto, a coisa de hoje é um presente para vocês, que me acompanharam (e continuam acompanhando) nessa pequena jornada: catado: 03/16 - 06/16 @ Canadá.
São três faixas disponíveis para download gratuito no meu bandcamp. Feliz natal! Nos vemos semana que vem :)
https://waterproofshit.bandcamp.com/album/catado-03-16-06-16-canad
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estrutura de gravetos
certa vez construí de forma muito descuidada uma estrutura de gravetos era interessante porque cada graveto tinha sua história seu passado e seu motivo alguns achei sentado ou caminhando outros foram friamente calculados outros achados no frio uma porção deles desnecessários [...] na realidade em retrospecto todos os gravetos eram desnecessários já que de nenhum uso útil era a estrutura existia somente por distração e covardia dói dizer mas eu a destrui alguns dias atrás não tomei conhecimento de todos os gravetos e suas histórias tomei conhecimento sim de minha futilidade em brincar de empilhar gravetos numa estrutura que por natureza era torta sinto falta às vezes vejo gravetos... sinto vontade de pegá-los mas ando resistindo superando a perda pouco a pouco
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querubins
da cama do quarto do hospital sinto o cheiro do mundo um frasco único que nele cabe a vida toda que me foi, num frasco só um cheiro só. [...] na cama do quarto do hospital vejo meu tio(avô) vejo toda a vida dele numa cama reclinável cinza eu de pé não conseguia ficar de pé sofregante entre choros alegres e suplicantes um choro só.
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resenhas de álbuns
Nicolas Jaar – Sirens De ascendência chilena, o artista nova-iorquino Nicolas Jaar demonstra em seu segundo álbum sensos crítico e melódico únicos, um gosto pela experimentação peculiar – já aparente em seu álbum de estreia, Space Is Only Noise, de 2011 –, assim como um inconformismo com as tensões culturais e políticas presentes ao redor do globo, tão em voga nos dias atuais. De paleta diversa, Sirens não é somente um álbum que atrai o ouvinte e o leva para uma jornada sonora impressionante, é uma série de questões sobre nossa realidade e a dualidade nela presente. Deixadas com carinho embaixo de uma instrumentação poderosa e movente, as emoções de Sirens são comoventes e intrigantes. Na capa do álbum, em espanhol, a frase “Ya dijimos no pero el si esta en todo” traduz como: “já dissemos não, mas o sim está em todo lugar”. Aparentemente inofensiva, a frase na realidade alude a um plebiscito realizado no Chile, em Outubro 1988, que indagou a sua população se desejava ter como líder o ditador Augusto Pinochet por mais oito anos. A resposta do povo chileno foi negativa, e assim iniciou-se o processo de redemocratização do país sul-americano. A partir dessa contextualização histórica, o álbum suscita reflexões sobre poder, a perpetuação do status quo e as diversas relações hierárquicas existentes nas sociedades contemporâneas. Com somente seis faixas em pouco mais de quarenta minutos, o projeto aposta em faixas de longas durações, estendidas narrações de uma história que merece tamanho detalhe. Progressivas, sempre em movimento, as seis faixas do álbum empurram o limite da capacidade de atenção do ouvinte comum – habituado com recortes sonoros mais breves. Mesmo assim, não se perde a objetividade do disco, que com suas letras cantadas sutilmente desenvolve seus temas centrais. Em Killing Time, faixa inicial do álbum com desafiadores onze minutos, Nicolas relembra a história de Ahmed Mohamed, estudante de quatorze anos que foi detido por supostamente ter levado uma bomba à sua escola (na verdade, era um relógio digital desenvolvido pelo garoto). Com sons discretos contrapostos com o que parecem explosões, o ouvinte se vê atraído para o terreno enevoado que é a faixa. Tão intrigante e tão intricada. Com vocais em falsete perfeitamente incorporados a instrumentação impactante, de percussão pesada, a história de Ahmed é confrontada com o comum senso de que nada está errado. Mudando completamente o ritmo, The Governor é uma faixa impactante em sua melodia agressiva, de peso. Um baixo distorcido, bateria acelerada, o vocal de Nicolas. Todos os elementos lembram o gênero punk, tão popular entre as décadas de 80 e 90. Não por coincidência, certamente. A letra, que questiona nosso controle sobre nossas escolhas e nossos caminhos, alinha-se com as encontradas em canções do movimento que marcou a arte e a cultura desde seu surgimento. Com seu desenrolar, a faixa ainda surpreende com um saxofone, que com diversos efeitos contracena de maneira belíssima com o resto da composição. Pinceladas impressionistas em Leaves nos levam à infância do artista, que conversa com seu pai sobre uma estátua sendo atacada por leões por ser muito pesada. A infância é envolta por uma composição ambiente delicada, que desenvolve lentamente, atraindo o ouvinte como o cantar de uma sereia. No tem em sua melodia o sangue latino que corre também pelas veias do jovem músico. Contando mais detalhadamente o episódio do plebiscito de 1988, o artista canta sobre como foi realizada a transformação do sim para o não clamado pela população chilena. Three Sides of Nazareth dá continuidade a experimentação sônica, com os elementos do punk intensificados que, gradualmente, tornam-se uma composição eletrônica com proeminente percussão. Em seus dois minutos finais, a faixa ainda adquire um tom melódico – porém ainda estridente – com sintetizadores e baixo marcantes. O final não poderia ser melhor com History Lesson. Sobre instrumentação leve e até inocente, inspirada no surf rock dos anos 60, a faixa relata a história da humanidade em capítulos. “Capítulo Um: Nós Erramos; Capítulo Dois: Nós erramos de novo, e de novo…”. Cantando de forma descontraída e com diversos vocais harmonizados ao principal, Nicolas finaliza o disco com mais uma demonstração da dualidade presente em nossas vidas, e todos os problemas que são frequentemente negligenciados. No minuto final, tudo vai à loucura, os instrumentos chocam-se em uma explosão de questões, indecisões, um vocal gritado e suspense. Mas ainda assim, esperança. Artista: Nicolas Jaar Álbum: Sirens Gravadora: Other People Ano: 2016 Nota: 8,0 // DJ Rashad – Double Cup Descanse em paz, Rashad Harden. Não nascido, porém crescido e desenvolvido em Chicago, Illinois, o artista também conhecido como DJ Rashad é uma das lendas do cenário de música eletrônica da cidade americana. Percursor de um dos gêneros musicais mais interessantes a surgir nas últimas décadas, o footwork, DJ Rashad também é co-fundador do selo/grupo musical Teklife, especializado em música do gênero, sendo casa de outros músicos como DJ Taso e DJ Spinn. Em 2013, somente um ano antes de seu falecimento, DJ Rashad lançou o disco mais aclamado de sua carreira, Double Cup. Em minha opinião, também seu melhor trabalho de uma carreira extensa e prolífica, que infelizmente foi interrompida por uma trágica overdose. O disco, lançado pelo selo londrino Hyperdub (casa de diversos lançamentos do grupo Teklife) apresenta como capa uma fotografia aérea da cidade de Chicago à noite, invocando logo de início um sentimento de profunda ligação entre artista e sua cidade. Esse sentimento perdura quando observamos a lista de faixas do álbum, que conta com participações frequentes de seus companheiros DJ Spinn, DJ Taso, amigos pessoais do artista, além de outros artistas como DJ Earl e DJ Phil. Não obstante, a temática de ligação continua quando analisamos a vibrante cultura envolvida com o footwork. Cultura urbana essa muito similar a do hip-hop, que surgiu e prosperou das ruas, por gente das ruas. Esse álbum é dançante. E muito. Ritmos com BPMs (batidas por minuto) altíssimos são marca registrada do gênero e do projeto. Ritmos tais que mesmo sendo sintetizados, oriundos de máquinas sequenciadoras – como a famosa Roland TR-808 – possuem a potência de fazer uma festa inteira remexer-se. Tema esse tão presente por todo disco. Festejar. Vocais sampleados recitam hinos de diferentes modos, mas que possuem um só objetivo: dizer que é hora de dançar. Entretanto, festejar não é o suficiente para DJ Rashad e turma. Drogas também são repetidamente citadas. Da maconha até o lean (a infame mistura de refrigerante de limão com xarope para tosse) a temática do uso de entorpecentes intensifica a experiência da cultura local de baladas um tanto quanto selvagens e sem limitações. Sintetizadores flutuam sobre os ritmos de percussão como se o acompanhassem há anos. Como se algo do gênero já fosse conhecido, testado e aprovado por vários. O que não é verdade. DJ Rashad nesse álbum mistura tais elementos com maestria jamais vista. Recortes vocais que ficam na cabeça como o de Double Cup, faixa que leva o nome do projeto, combinam perfeitamente com as viradas futuristas vindas dos sintetizadores, que por sua vez parecem ter sido feitos com o exato propósito de serem acompanhados por drum breaks rearranjados e acelerados ao máximo. Já na última metade do disco, DJ Rashad mostra versatilidade com a faixa Acid Bit, que mescla as sonoridades das famigeradas raves com seu groove inconfundível. O resultado é uma amalgama de sons e estilos que se chocam, e com surpreendente êxito. Com uma atenção aos detalhes e as sutilezas primorosa, DJ Rashad compõe com álbum consistente de início ao fim, sem decepcionar o ouvinte que queria balançar um pouco o corpo. Tal consistência que não se torna em mesmice, felizmente, já que durante todo o projeto samples são arranjados e manipulados de inúmeras formas, com o uso de delay, filtros e mudanças de tons, todos esses realizados com destreza e esmero. Não há um sample que parece forçado ou deslocado nas faixas, e até são o destaque de algumas, como no caso de I Don’t Give a Fuck e She a Go. Exceção sendo a última faixa, que de forma um tanto quando desconfortável e mecânica finaliza o álbum. Uma pequena mancha de tinta em uma pintura tão vívida e impressionante, que retrata com incrível verossimilhança a cultura com a qual convive. Considero, corroborando com muitos, o zênite de seu gênero, Double Cup é uma excelente porta de entrada para os interessados nesse mundo de festas, danças, drogas e vida urbana contemporânea. Se vista de forma confortável e afaste os móveis da sala. Você não vai resistir. Artista: DJ Rashad Gravadora: Hyperdub Ano: 2013 Nota: 8,5 // Cadu Tenório – Rimming Compilation: Liquid Sky A introdução ao álbum já nos diz o que vem adiante. Nenhuma arte é arte final, completa. Interpretar uma afirmação deste porte pode parecer complexo, mas o artista carioca Cadu Tenório não hesita buscar sua interpretação por experimentações e impulsos sonoros das mais variadas origens. Com sons achados, recortes diversos, gravações externas e um parafuso ligeiramente desregulado, o artista nos apresenta Rimming Compilation: Liquid Sky (2016, Brava & Sinewave). O disco possui o sentimento de efêmero, de inicial e nunca final em seus loops que se repetem, mas surpreendem simultaneamente. Cyberia(Digital Deathru) é desorientadora em sua natureza, como se por estado de espírito tivesse a tarefa de confundir, esgueirando-se em volta dos fones de ouvido. Resquícios do que possivelmente são inspirações vindas do vaporwave também reafirmam a efemeridade e a reflexão sobre a arte e o estado de espírito do mundo e seu sistema. Tais resquícios encontram-se em ritmos urgentes e repetitivos, progressivos que de forma gradual, crescem e tornam-se um tornado musical, que urra e absorve o que ousa interferi-lo. A faixa Star, com seus imponentes sintetizadores e ritmo épico, sente como a trilha sonora de um filme espacial independente. Até mesmo como se for realmente essa música que ouviremos quando partirmos para planetas vizinhos, resultado do nosso insensato abuso para com o planeta que nos abriga hoje. As imagens e impressões espaciais persistem durante o restante do álbum, como nas faixas Death In Midsummer e Mima – que soa como transferências vindas de um satélite recontextualizadas em ritmos –, reproduzindo o possível som de um mundo distópico, onde sociedades futuras já não falam mais nossas línguas convencionais. Comunicam-se por reprodutores de sons acoplados em suas traqueias. O conceito de voz não é mais o mesmo. Entretanto, o álbum carece de desenvolvimento ou cadencia que seja empolgante o suficiente para conduzi-lo. Cada faixa se arrasta à procura da próxima, sem saber muito bem aonde ir ou quando deixar sua companheira entrar em cena. Faixas como Pirease ou Enter The Void falham em criar uma ambientação crível, sendo somente loops, que em alguns momentos soam promissores, mas falham em entregar algo que satisfaça. O projeto acaba tornando-se uma espécie de convidado incômodo, não sabendo conduzir seus conceitos de maneira condizente. O potencial é visível, mas a execução deixa a desejar. A variedade de sons também não contribui para o todo. Samples de cultos religiosos contracenam com blips e blops, sons de objetos comuns e outros. O resultado é um disco com diversas facetas, todas longe de serem concisas como a mensagem deixada no início do álbum. Rimming Compilation: Liquid Sky soa sim como arte imcompleta, porém não de uma maneira intrigante à sua audiência, que ao invés de instigar-se pela obra e desejar por mais, perde o interesse antes mesmo do álbum acabar. Artista: Cadu Tenório Gravadora: Brava & Sinewave Ano: 2016 Nota: 5,5
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o homem louco
era um homem, louco um homem louco no canteiro da marginal tietê às cinco e meia da tarde o sol virando as costas o homem louco parado em pose de luta pronto e preparado para o combate punhos fechados e tensos pernas dispostas em base rígida um homem louco parado confrontava a cidade desafiando a paisagem mundana parado em pose preparadíssimo para o momento derradeiro onde certamente sem exitar desferiria o golpe decisivo e potente o homem louco triunfaria e a sua plateia somente o apreciaria por alguns segundos, ou nem isso
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a verdade nas mentiras ou a mentira nas verdades
na água minha mãe e irmão eu sozinho na areia olhavá-os com os olhos cerrados eles acenavam de volta efusivos distraído nessa interação não percebi um homem se aproximando pelas minhas costas. só o percebi com sua sombra tornando inútil meus olhos forçados. numa estranha sequência me assustei me acalmei me surpreendi o homem carregava churros numa bandeja mas não me ofereceu churro algum sou lá de campos do jordão esse sol quente em campos era garçom na madrugada os casal atrasando o bar quatro hora da manhã e os maldito lá fumava pra esquentar por dentro enfiava a cabeça embaixo do aquecedor pro cérebro funcionar é foda né irmão valeu patrão bom dia pra você acenei a cabeça sorrindo primeiro não muito mas depois sincero bom dia pra você também, amigo. o que aquele homem queria? ele estava só vendendo churros, mãe.
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estacionamento: 9,00R$/hora
um carro parado não causa emoção no casal de passageiros. os vidros fechados, a paisagem estática e ninguém no volante. o silêncio ritmado pela falta de direção. o homem olha a mulher levanta a sobrancelha pedindo desculpas errou. a mulher olha a maçaneta dobra o dedo indicador pedindo licença não funcionou. sem emoção nada acontece, e do nada surgem todas as coisas que não ditas estão sendo discutidas neste momento violentamente. não consegui enxergar muito mais do que isso porque o estacionamento estava vazio e não seria recomendável encarar e analisar o carro por mais tempo. espero que o motorista demore bastante pelo menos até que tudo o silêncio resolva ou que trate de afundar tudo mais profundamente no âmago dos dois. seja o que for que aconteça seja quem seja o motorista ou se é que existe um seja isso necessário ou não ou seja o que seja me senti terrivelmente próximo a eles mesmo em movimento mesmo em outro carro mesmo sem companhia.
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casa nova
casa nova é ruim por não sabermos no escuro por precisarmos tatear ou buscar nos mínimos reflexos migalhas de pistas e informações na casa nova o escuro é múltiplo fundo muito fundo parece dobrar nos encontros das paredes parece saltar aos olhos já desarmados assaltando o equilíbrio tento de alguma forma ganhar do escuro na casa nova; não na força (nesta sempre perco) na malandragem ou na pura sorte ganho poucas vezes persistirei nesse embate sinuoso interno externo e recente até que não o seja mais por pura exaustão do meu adversário ou por mérito meu: o que vier primeiro
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encontro
encontrei um morcego na estação de trem perguntei para ele do meu futuro e do que ele tinha medo eu estava com medo dele e da cidade ambos tão profundos e sombrios quase que não os via: sentia
felizmente o morcego respondeu-me em uma língua que eu não conheço ruídos e grunhidos indecifráveis que atingiam meus ombros numa brisa que interpretei como indiferente
nesses sons tão alheios meus destinos estavam contidos e por puro acaso não os entendia por pura falta de algo que eu não soube o que
o morcego então disse que não era preciso me culpar ele me compreendia, olhava para baixo no vazio não sei como decifrei sua compreensão mesmo estando absolutamente certo dela
o acompanhei com o olhar e ele voou tão logo apareceu sumiu no breu noturno tornaram-se novamente um só, o senhor morcego e a senhora noite
neste instante a brisa já não parecia mais indiferente eu a sentia plenamente eu me sentia diferente.
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Acompanhamento
Dia 1:
No cruzamento da Rua Dante Batiston com a Pedro Fioretti vi um morador de rua sentado em um muro, ao lado do hospital municipal. Tinha pinos expostos na perna esquerda, que estava muito inchada.  
Dia 12:
No mesmo cruzamento vi o mesmo indivíduo sentado na mesma posição, mas do outro lado da rua. O inchaço na perna não tinha melhorado, os buracos dos pinos pareciam largos demais por algum motivo. Não pude reparar muito, o farol de pedestres abriu.
Dia 27: 
Vi o indivíduo andando com dificuldades, três quarteirões adiante do seu ponto usual. Carregava a perna, praticamente não a movia. Acredito que toda a aparelhagem dos pinos na fratura pesava muito para seu corpo magro e curto. Os arredores dos buracos estavam enegrecidos levemente, o inchaço tinha passado.
Dia 45:
Já tinha esquecido dele. Lembrei-me quando de longe vi o reflexo dos pinos na janela de um carro, no mesmo cruzamento de dias anteriores. Caminhei vagarosamente, para conseguir – da maneira mais discreta possível – averiguar sua ferida. Não era preciso averiguação alguma. Os furos dos pinos tinham sangue já seco em sua volta. A gangrena era visível e proliferava. Numa região da perna uma ferida horrível estava aberta e exposta, com somente restos de curativos ainda pendurados.
Dia 47:
A perna do homem já não era mais uma perna. As moscas o cercavam, principalmente na região da ferida aberta. Quando digo que não era mais perna estou sendo sincero. Não tinha mais aspecto de perna. Gangrena crescia como fungos em orientação circular, assustadoramente ordenados.
Dia 49: 
O cheiro forte me serviu como suficiente e não tive coragem de olhá-lo. Atravessei a rua em meio dos carros com pressa, me colocando em risco de ser atropelado; naquele momento, parecia muito mais prazeroso ser participante da dor, não testemunha. 
Dia 50:
O homem não tinha mais a perna. Tinha no lugar um toco comprido de madeira, amarrado no calçado por um fim, e ao redor da coxa (o pouco que restou dela) pelo outro. Andava com maior facilidade do que quando carregava a perna de carne. Fedia menos também.
Dia 52:
O homem gritava de dor. Não estava onde eu o encontrava como de costume, e sim numa maca do lado de fora da entrada do hospital, deitado, porém revirando-se bruscamente, quase caindo repetidas vezes. Não parecia estar recebendo atendimento médico.
A partir desse dia nunca mais o vi. O canto no qual se sentava ainda tem manchas de sangue e moscas, mas nada do homem.
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