"[...] the only people that interest me are the mad ones, the ones who are mad to live, mad to talk, desirous of everything at the same time, the ones that never yawn or say a commonplace thing.. but burn, burn, burn like roman candles across the night."
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i’m on my way to something new | POV
| Track: Vienna - Plàsi
A primeira noite não tão ruim quanto tinha imaginado. Tendo viajado algumas vezes em sua vida, já sabia o que poderia esperar de locais como o que tinha escolhido, mas era a primeira vez que se empurrava em uma aventura daquelas. Os pingos de suor formavam-se em sua testa, enquanto deixavam para trás uma coceira residual como se marcassem que um dia estiveram por lá. Passara as costas das mãos algumas vezes na tentativa de secar o local, mas sabia que era inútil. Demoraria apenas alguns segundos antes que uma nova gota se formasse e mais uma vez levasse sua mão, sem nenhuma reflexão prévia, de volta ao mesmo local.
Disseram que o dono do hostel ainda iria providenciar um novo ventilador, mas em breve faria aniversário de uma semana que o anterior quebrara e nada tinha mudado. Pete não podia ter certeza; tinha chegado à espelunca a menos de 24 horas e era a primeira vez que tentava dormir sobre os colchões desconfortáveis e os lençóis que causavam um pouco de comichão na pele clara de suas costas. Nada disso ajudava a ardência que tinha se formado por conta da exposição ao sol enquanto caminhava pelas estradas rentes com um sinal de legal no polegar, esperando que alguém se prontificasse a atentar seu silencioso pedido. As pessoas naquela cidade pareciam um tanto quanto desconfiadas, ou apenas não foram com a sua cara. Ou talvez até não tivessem o costume de parar para um completo estranho. Mesmo que soubessem exatamente o que ele precisava.
Por isso fora obrigado a andar o caminho inteiro a pé. Tinha cogitado pegar algum transporte, mas parecia que nenhum ônibus passaria por lá. Pelo menos não contou um desde que começara a pedir por parada. O que foi bom, refletiu mais tarde; só assim economizaria para depois. Saíra dos Estados Unidos sem previsão de volta, uma atitude claramente impulsiva de alguém que, apesar de não ter muito, sentia que precisava desaparecer para buscar aquilo que tinha perdido. E ali estava, acompanhado com um boné azul de aba vermelha, uma camisa cinza escura que já adquiria um leve tom massento, uma calça jeans e um sapato surrado que usava há uns bons dois anos. Além disso, tinha uma mochila, tão longa que quase tocava-lhe a parte posterior dos joelhos, mas que comportavam aquilo que ele acreditava que iria precisar.
Estava decidido a procurar por empregos locais, daqueles que pagassem mal, mas que não exigissem comprovação de residência ou cidadania europeia. Pete até tinha tentado correr pela sua árvore para ver se alguns dos seus parentes podiam ajudá-lo de alguma forma, mas nada. Tinha apenas chegado aos anos 1890 e, para trás, era como se fosse uma folha em branco. Não conhecia sua própria história, bem como a terra também a conhecia.
Virou-se de lado, capturando alguns rostos que mantinham seus olhos fechados enquanto respiravam despreocupadamente ao sono o qual eram sorvidos. Perguntou-se se dentro daquelas cabeças existiam preocupações e medos; objetivos e desistências. Sabia que era uma pergunta tola, mas não podia evitar. Tinha curiosidade em saber como funcionavam mediante aqueles problemas. Quais as soluções que encontravam e se sonhavam com isso. Pete não sabia. Estava apenas entremeado em pensamentos fugidios enquanto tentava inutilmente cair no sono. Mas não sabia se era a adrenalina da viagem, a emoção do desconhecido, o medo de futuros arrependimentos e a incerteza de suas escolhas que faziam seus olhos permanecerem abertos, sondando o ar ao seu redor. Talvez fosse apenas a cama.
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“A good traveler has no fixed plans and is not intent on arriving.”
Lao Tzu
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