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Meu blog de filmes!
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qleidoki · 27 days ago
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"Lady Bird" e a primeira vez vivendo
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Quando comecei a assistir, eu não sabia exatamente o que esperar do filme. "Barbie" era o único trabalho da diretora Greta Gerwig que eu havia assistido previamente, que, mesmo sendo uma demonstração tenra de seu talento para direção, é longe de ser um filme perfeito. Ademais, também desconhecia a temática principal da história - só me recordando do fato de ser uma aparente "subversão do arquétipo da garota manic pixie dream girl". Parecia interessante? Imediatamente quando terminei o longa, já imaginei que sua sinopse oficial seria curta e vaga. Não estava enganado: "Uma adolescente extremamente independente tenta abrir seu próprio caminho no mundo enquanto quer se afastar da mãe complicada e do pai recentemente desempregado." Assim como a sinopse, a história é ausente, espalhada. Mesmo seguindo uma linha do tempo linear, não depende dela. É quase como se, na maior parte do filme, não houvesse história, e sim uma coletânea das vivências dessa adolescente classe média "enclausurada" por sua família uma escola católica de uma cidade interior. E o filme ser montado dessa forma é exatamente o que permite uma reflexão intensa por parte do telespectador.
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O filme é real. Os personagens, portanto, reais, não são caricaturas; não são do bem ou do mal, não são heróis ou vilões. São somente imperfeitos. Christine é muitas vezes narcisista, pretensiosa, ou mesmo uma grande babaca, mas é uma garota adolescente, lidando com a vivência escolar e aprendendo com seus erros enquanto comete outros. Sua mãe, Laurie, acaba sendo egoísta, egocêntrica, e adepta a comentários terrivelmente desagradáveis, mas não é uma mãe ruim; é uma mãe, trabalhadora, sendo mãe pela primeira vez, cometendo os mesmos erros de sua filha. Seu pai, mesmo com uma forte faceta de pacificador, possui um transtorno depressivo persistente, e não é em sua totalidade o exemplo de pureza jubilosa que sua filha imaginava. Todos esses personagens são multidimensionais, complexos e principalmente imperfeitos. Ao possuírem suas qualidades, admiráveis, na mesma proporção que possuem seus defeitos, é possível compreender: ninguém ali aprendeu a viver antes de viver. É a primeira e única vida de todos eles, assim como é a nossa primeira e única vez vivendo. Mesmo se tentarmos dar o melhor de nós mesmos, iremos cometer os mesmos erros inúmeras vezes, e vacilar da mesma forma com inúmeras pessoas. A ausência de um guia de 'como viver' é justamente a única característica que todos os seres-humanos podem compartilhar entre si. Talvez você seja um cuzão com sua melhor amiga. Talvez você faça um comentário que te renda uma suspensão na escola. Talvez você brigue com sua mãe. Talvez você, por teimosia, não despeça de sua filha quando ela estiver se mudando para Nova Iorque. E, talvez, em seu primeiro dia em Nova Iorque você seja internada por exagerar na bebida. Mas, também, você talvez faça a escolha certa quando resolver ir para o baile de formatura. E se, no final do dia, é a primeira vez de todos vivendo, talvez deveríamos perdoar mais uns aos outros, assim como deveríamos perdoar mais a nós mesmos.
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Assim como os personagens, a vida também não é do mal ou do bem. Ela só é, e só acontece. A passagem por um período de dificuldade não deve ser encarada como um castigo, assim como a calmaria após a tempestade não pode ser interpretada como uma recompensa. Não se deve esperar uma retribuição ou uma sentença de morte por parte da vida. Talvez um dia você seja traída pelo seu namorado, mas no outro pode acabar sendo beijada pelo outro garoto que você achava bonito. Você não "merece" nada disso, as coisas só acontecem. Portanto, não se pode esperar que você viva sua melhor vida. Ninguém vai. As coisas não vão acontecer da forma que desejamos, e tem dia que vamos nos encarar no espelho e pensar sobre como tudo poderia ser diferente. Mas isso é poder viver. Não um castigo, não uma benção: uma experiência. Uma experiência sua, não uma experiência ideal. Por mais doloroso que seja encarar essa verdade, é a única maneira de nos permitir viver.
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Tangenciando um pouco da reflexão principal, gostaria de também ter a oportunidade de encostar em uma cena específica que mexeu muito comigo. Logo pro final do filme, Julie descobre que, no meio tempo que ficou sem falar com Christine, a mesma havia perdido sua virgindade. A reação da amiga é se emocionar profundamente. Quando descobri em uma festa que meu melhor amigo de anos, cujo eu havia brigado e não falava por alguns meses, havia perdido a virgindade, eu chorei. Chorei muito. E choro até hoje quando me recordo do momento. Não só pelo sentimento de ter perdido completamente uma etapa tão importante na vida de um amigo querido, mas também pelo sentimento de reconhecer que ele cresceu. Encarar a passagem do tempo é doloroso, e quando resolvemos ignorá-la, mais tarde somos estritamente forçados a legitimá-la, querendo ou não. Nesse momento, naquela festa fui obrigado a legitimar a existência da passagem do tempo, que passa enquanto escrevo isso, e que passa enquanto você lê isso. Todos vão crescer, e todos vão perder a virgindade. Inclusive quem cresce comigo. Como lidar com isso?
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E a montanha russa de sentimentos que fui submetido enquanto escrevia essa resenha, ou autorreflexão, é parte de viver também.
(Review escrita em 17/06/2025, por @qleidoki)
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qleidoki · 4 months ago
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"Anora" e o real
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Reassisti com meus pais ontem. Quando vi Anora sozinho, dirigido por Sean Baker, em janeiro, havia gostado bastante. E, dessa vez, não tive necessariamente uma nova perspectiva sobre o filme, mas vi um comentário da influencer Senhorita Bira nas redes sociais que me encantou completamente.
"Eu ainda estou sentado na sala de cinema. Acabo de assistir Anora. O filme tocou naquele Bira de dezenove anos que colocava sua melhor maquiagem e jurava que seria uma linda mulher. O amor, infelizmente, não é para todos. Que Deus abençoe as pessoas que nunca serão amadas."
Assim como a maioria dos filmes do Sean Baker, Anora olha para pessoas que não são vistas. Procura contar a história de pessoas que nunca terão suas histórias contadas. Quando o relógio bate meia-noite, e o sonho acaba, a personagem volta para sua antiga casa em Brooklyn, com o mesmo metrô passando na frente de sua janela. Volta a ser mais uma pessoa na paisagem. Volta a ter sua vida solitária e sem graça. Sua vida real. Eu sou um pouco Anora. Crio expectativas sobre tudo e superestimo a felicidade que o desconhecido vai me trazer. E, no final do dia, quando acabar voltando para a minha vida sem graça, frustrado, é bom saber que não sou só eu no mundo.
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Não acho que realmente mereça todos os prêmios e indicações que recebeu. Não achei melhor que Conclave, nem achei Mikey melhor que Fernanda. Mas, dessa vez, debater isso é inútil; ao levar esse filme a sério demais, e tentar identificar um elemento revolucionário e sobrenatural em seu roteiro, seu objetivo se perde. Até porque, por mais que ele conte uma situação completamente inusitada, antes de tudo, o filme é real - e o desfecho que leva a personagem Anora, ou Ani, quando comparado às loucuras que ela viveu no filme, é o desfecho mais sem graça e real possível.
E também acho que, ainda mais depois da cena final, a personagem Anora Mikheeva merece uma discussão singular, que procure perceber e compreender suas reações durante o decorrer do filme, para, então, associá-las à não só sua posição como dançarina erótica feminina de classe baixa no século 21, e como isso interfere na forma como ela enxerga sua alma e seu corpo, mas também à sua essência e sentido como indivíduo próprio (ou seja, o que a personagem representa nos temas social e pessoal). Tem muito terreno para discussão aqui. O filme é sobre Anora. (Essa review foi escrita em 05/03/2025, por @qleidoki)
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qleidoki · 5 months ago
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"Anatomia de uma Queda" e a compreensão da existência da incerteza
Mesmo sendo um thriller, "Anatomia de uma Queda" (2023), dirigido por Justine Triet, não é uma investigação criminal. É sobre pessoas, pessoas convivendo com pessoas, pessoas com problemas, pessoas que morrem e talvez pessoas que matam. E, claro, sobre a verdade - ou a ausência dela.
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Nesse caso, a verdade sobre o crime não é o foco, e sim a pessoalidade, a familiaridade. É de intimidade interpessoal. Os personagens tem relações reais, existentes. Você sente a emoção de cada um deles.
Me prendeu bastante, e assisti tudo em uma sentada só. Não só pela ânsia em relação ao crime, mas principalmente pelo interesse em ver aqueles personagens conversando, se relacionando e interagindo. O filme sabe que esse é seu ponto forte, até porque shots de câmera onde os personagens se entreolham e se tocam, ambiguamente ou emocionalmente, são constantes e longos. É um instrumento narrativo. As relações humanas.
Também vi um comentário no YouTube que achei magnífico, e vou deixá-lo aqui: "O menino faz o papel do espectador: tenta entender, busca uma possível motivação, convive o tempo todo com a dúvida na busca pela certeza e, no final, faz sua escolha."
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E dois comentários de pouca relevância: primeiramente, sou apaixonado pelo título desse filme. Acho que o nome "Anatomia de uma Queda" não só é intrínseco mas ao mesmo tempo reflexivo, tratando tanto sobre o processo de dissecação que ocorre em volta do episódio criminal quanto sobre a total estrutura que leva a realização do mesmo, no sentido da causa moral. Segundamente, aquele detetive francês é um tesão gigantesco. (Review escrita em 08/01/2025, por @qleidoki)
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qleidoki · 5 months ago
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"A Substância", a arte em constante dualidade e o alcance da frivolidade
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Blogueiras superficiais irão te dizer que é um filme profundo. Eu considero um body horror novidade comercializável, com momentos excelentes.
Hi everybody, I'm Sue, and it's time to pump it up!~
O filme "A Substância" (2024), dirigido pela doce Coralie Fargeat, é tacitamente dividido em duas partes: a vida monótona da personagem sub-celebridade "Elisabeth Sparkle", e a existência cheia de personalidade da nova estrela americana "Sue". Dependendo da protagonista do momento, as cenas do longa irão tomar direções artísticas muito diferentes (o que me fez perguntar se a equipe de arte se manteu a mesma durante todo o decorrer do filme, ou não), o que não só se apresenta como fundamentalmente um objetivo narrativo-visual mas também constrói uma perfeita ironia que sela a identidade do filme, considerando que Sue e Elisabeth são uma só, não duas.
A vida de Elisabeth Sparkle é chata, fatigante e tediosa, assim como seus momentos na tela. A acredito que dificilmente alguma outra atriz conseguiria encarnar a personagem tão bem quanto a ilustríssima Demi Moore (e não há exagero quando digo que é como se o papel tivesse sido escrito para ela - o que até acredito que possa até ser verdade, considerando como as vivências da atriz na vida real se relacionam com as da personagem do filme). É visível que Demi ainda continua extrema, e espero que agora volte a ganhar mais papéis, nem que seja na área do terror. Como eu vi alguém comentando em tom de brincadeira, "esse filme surgiu pois Demi não pode deixar de atuar".
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Agora, a vida de Sue é artisticamente formidável, e caprichosamente sexy. Os tons rosados, passo agitado e trabalho de câmera tão sensual dão toda a presença que a personagem precisa - e isso tudo ajuda a contar a história. Com sua ferocidade e caráter forte, Sue certamente se tornará a próxima mascote feminina dos filmes de terror (o que acaba ironicamente provando a crítica do filme sobre os padrões de beleza). "Sue" ganha vida graças à deslumbrante e memorável Margaret Qualley - atriz que, honestamente, mesmo com papéis em outros ótimos filmes (mais notavelmente em "Era Uma Vez em Hollywood", de 2019), nunca se destacou tanto em meus olhos. A jovem soube incorporar perfeitamente a volúpia, inocência e delírio da personagem, e me empolgo pelo seu futuro na indústria.
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Visualmente, o filme consegue ser divertido, principalmente no que se trata do trabalho de câmera e cor nas cenas protagonizadas por Sue, como dito anteriormente. Porém, meus maiores aplausos vão para a remixagem e trabalho do áudio e efeitos sonoros - de altíssima qualidade, um dos destaques do filme.
Mas, em geral, esperava mais. É tiktokável, tweetável, vago. Mesmo que seja inédito, é uma mistura de elementos de outras narrativas já existentes (o que confesso não ter percebido logo de cara, já que essa foi análise de uma querida amiga minha). Mesmo com cenas maravilhosas (destaque para Sue matando sua "alter ego", com uma brutalidade e feminilidade absurda), a organização geral parece causar certo desapreço. Pensava que o filme ia ter mais profundidade - é tudo muito óbvio. E, conquanto, aposto que, mesmo com os defeitos, se tornará um clássico das fantasias tanto de Halloween quanto de carnaval. Afinal, consegue ser "icônico" e deixa sua marca: a quantidade de piadinhas sobre o filme percorrendo desde a internet até eventos de marketing já apostam no fenômeno; e eu mesmo fiz várias pequenas referências a momentos particulares no decorrer dessa review (e também nunca mais conseguirei olhar para um líquido verde convencional sem me lembrar, nem que seja de leve, da intimidadora substância compartilhada por Elisabeth e Sue). Acredito que seu impacto a longo-prazo se provará ser de caráter mais cultural.
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O final é surpreendente, e essencial. Vi pessoas falando que deixaram de gostar do filme por ele, mas não poderia discordar menos. Mas é intenso. Bruto.
Também não pude deixar de observar que esse é um dos primeiros longas da diretora. Ela fez um trabalho mais que excelente. Definitivamente divertido de assistir! (Escrito em 03/11/2024, por @qleidoki)
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qleidoki · 5 months ago
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"Emilia Pérez" e a receita para a frustração
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É notável aqui que houve uma evidente disputa criativa entre a equipe técnica e os roteiristas e diretor.
Consistentemente, o filme "Emilia Pérez" (2024), dirigido por Jacques Audiard, tem uma identidade visual fortíssima, montagem e filmagem excelentes e alguns dos melhores números que você vai ver nos últimos anos de musicais contemporâneos (destaque para "El Mal", principal concorrente do Oscar, e "Bievenida". Realmente excelentes); mas por outro lado, a narrativa é extremamente medíocre, ofensiva e desenxabida. E, a partir desse confronto, o filme desmorona.
Como um fã do gênero, acho bastante empolgante e inovador o conceito de fazer musicais sobre temas extremamente sérios e mórbidos, como las desapariciones seriales en México e o narcotráfico, repletos de sarcasmo, zombaria e forte tom crítico - mas é uma pena que, nesta grande produção, o diretor não parecia ter propriedade nem senso político ou social para contar essa história. E o que mais me entristece é que, após o fracasso de��"Emília Perez", projetos similares a este - que procuram denunciar uma causa através de números de dança e canções - irão ser inevitavelmente mais evitados pela indústria; esse filme realmente poderia ter sido um ponto de virada para musicais em todo o mundo, mas foi inconveniente o suficiente para não ser.
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Outro forte incômodo é que há a impressão que o roteiro parece tentar se manter republicano, querendo agradar as massas conservadoras; e parece inelutável que escolher esse campo político para contar a história de uma protagonista transsexual e um grande grupo socialmente marginalizado e latino-americano iria acabar em catástrofe. Uma solução talvez poderia ser escolher uma visão mais subversiva e revolucionária na montagem do roteiro.
Obs.: vi no cinema, mas não paguei pelo filme. Comprei uma sessão de "Ainda Estou Aqui", que começava mais ou menos no mesmo horário, e só entrei escondido na sala de "Emília Perez". Façam o mesmo! Apoiem as produções nacionais e não narrativas preconceituosas.
(Essa review foi escrita em 10/02/2025, por @qleidoki)
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qleidoki · 5 months ago
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"Assassinos da Lua das Flores" e a necessidade da ternura na cinebiografia
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Aproximandamente na primeira hora do filme "Assassinos da Lua das Flores" (2023), dirigido pelo ilustre Martin Scorsese, Anna Burkhart, membro da tribo originária Osage, é brutalmente assassinada, e tem sua face desfigurada durante uma autópsia para descobrir a causa da morte. Essa série de acontecimentos faz com que sua irmã, Mollie, deuteragonista do longa, passe por uma turbulenta crise emocional. Sua crença tradicional a faz acreditar que a parente não será reconhecida por seu deus Wah-kon-tah no pós-vida, devido ao estado ilegível de seu rosto. Isso a desespera imensamente.
Essa cena, comovente, não só demonstra a vigorosa pesquisa cultural que ocorreu durante a produção do filme, com notória determinação para representar precisamente e respeitosamente as práticas cultural-religiosas executadas pelo povo Osage, mas também evidencia o forte cargo emocional que acompanha a trágica personagem de Mollie Burkhart.
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Sendo uma figura histórica real, que sofreu com o genocídio de sua nação, uma versão ficcional de sua imagem demanda respeito e homenagem; mas também necessita sensibilidade e comoção, para que o nível de emoção na tela se mantenha compatível com as tristezas vividas na realidade - porém, não de forma hiperbólica, para que sua ilustração não seja de uma vítima indefesa. Resumidamente, é preciso encontrar o exato meio termo entre a resistência, a sentimentalidade e a genuinidade.
E "Assassinos da Lua das Flores" não só se mostra capaz de realizar essa proeza, mas também mostra-se capaz de realizá-la com sobeja facilidade. Mollie Burkhart não é só uma caricatura, e sim uma personagem multidimensional, real: possui momentos que esbanja autoridade, assim como outros onde expõe o seu lado mais vulnerável; carrega brandura, e ao mesmo tempo firmeza; é severa, mas também ingênua; consegue ser sensível, outrora pétrea. Muitas vezes é uma filha, uma mãe, uma esposa, uma amorosa irmã e sobretudo uma mulher ímpar. A duração do filme consegue explorar todas as realidades de Mollie, e com muita ternura, ao mesmo tempo que não desconcentra de sua narrativa de mistério de assassinato.
O mérito dessa personagem não vai somente aos escritores, mas também ao talento excepcional de Lily Gladstone, que possui toda a habilidade necessária para trazer Mollie Burkhart à vida novamente e também não se retém ao desfilar suas habilidades. Desde urros que contorcem a alma, até olhares dóceis e delicados, ela é o grande destaque do filme.
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Agora, sobre o conteúdo do filme, histórias como essa, particularmente nos dias atuais, acabam se tornando mais que necessárias. Nesse período de reerguimento dos movimentos de extrema-direita, onde o orgulho branco e colonialista voltam à tona, filmes que testemunham a verdade da formação de nações coloniais como os Estados Unidos servem para reforçar a realidade de que os movimentos expansionistas, que resultaram no que esses países são hoje, não foram patrióticos e sacrossantos, e sim demonstrações de violência e crueldade. Não há porquê se orgulhar das ações dos seus antepassados.
Não ganha minha nota máxima por eu achar que, honestamente, é um pouco mais longo do que realmente precisa ser. E também não gosto do gênero. Mas é um filme que cumpre tudo o que propõe.
(Review escrita em 21/01/2025, por @qleidoki)
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qleidoki · 5 months ago
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"Pobres Criaturas" e a filosofia da exposição no cinema contemporâneo
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Em certo momento, durante minha experiência com o filme "Pobres Criaturas" (2023), dirigido por Yorgos Lanthimos, eu questionei se o mesmo estava sendo de alguma forma complacente ao capitalismo como sistema de costumes; e bem, este não é necessariamente o caso - mas a partir do momento que o filme expõe diretamente os podres da sociedade, como a extrema pobreza, segregação de classes e labor sexual, mas prefere não denunciar diretamente a fonte desses problemas, não fica um gosto ruim na boca? Será toda aquela exposição realmente oposição?
Há um constante descarado flerte com o progressismo, feminismo e inconformismo, e o filme parece se mostrar disposto a ter a maturidade para abordar esses temas - ele chega a capinar um lote que poderia dar espaço a uma feroz denúncia. Por exemplo, na versão meio Salvador Dali de Alexandria, a extraordinária personagem Bella Baxter tem seu primeiro contato com a injustiça social e má distribuição das riquezas, o que a comove profundamente. Logo no capítulo seguinte, a mesma experiencia a pobreza e a prostituição por necessidade. Mas, em vez do filme abordar tópicos sensíveis como a hostilidade do serviço sexual, que dá espaço para o desenvolvimento do sentimento feminista, ou as questões interclassiais desse campo, ele prefere focar na jornada de gratificação sexual de uma mulher da alta classe que larga a prostituição assim que passa a se "desinteressar" pela mesma. (Digo, é claramente errôneo falar que não há um reconhecimento da ordinariedade do capitalismo em momento algum no filme. A própria personagem questiona as morais e ética daquele serviço laboral em alguns momentos. Mas sinto que não há mais nada; é raso.)
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E, por sinal, agora em outro tópico, não pude deixar de ver algumas outras pessoas apontando que o filme pode acabar perpetuando o elemento da sexualização feminina que ele parece tentar denunciar. Há uma clara paixão árdua pela biologia e uma tentativa da normalização do desabrochamento sexual, e dos hormônios biológicos das mulheres, mas em nenhum momento a personagem tem que lidar com questões como pelos pubianos ou menstruação. Uma possível tentativa de subversão acaba continuamente perdurando a imagem da mulher ideal, perfeitamente bonita, jovem, e pura, livre dos "feios". Essa constante forçação de barra da imagem da mulher ideal no filme pode ser em si uma crítica, mas eu entendo de onde surge a posição dessas pessoas.
Eu não cobro uma crítica ácida vinda de Pobres Criaturas. O filme pode servir muito bem só como uma leitura de nossa sociedade. Só que seu posicionamento é claramente deixado em aberto, eis que são tão recorrentes até hoje as discussões que procuram identificar se o filme é uma obra feminista ou não. Obras interpretativas são sexy e podem servir um papel muito bem, mas eu acho que nesse filme não dá certo. Ainda mais quando você descobre que o livro original possui um final bem mais progressista, fazendo jus às temáticas revolucionárias apresentadas na obra mas que o filme parece ter uma certa aversão e prefere não seguir adiante com.
O que Pobres Criaturas tenta ser? Um filme progressista que usa a sexualidade da mulher como um instrumento de libertação? Uma obra que usa da constante exposição de cenas cruas e até radicais para criticar a sexualização das jovens mulheres? Uma análise da humanidade, da filosofia do ser, mostrando como se mesclam a pura biologia e as éticas da sociedade? Será que ele tenta subverter algum clichê ou padrão? Ou tenta chamar atenção do olhar masculino? É pra ser desconfortável? Certamente essas incertezas me deixaram completamente desconfortável.
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De qualquer maneira, deixando o conteúdo de lado, o filme é visualmente uma obra prima, eis a razão da minha nota alta. As cores, que são tão harmônicas e complementam cada fase da história de Bella; a música, que divertida, quase extraterrestre, te imersa no universo da fantasia e ciência, e te transforma em um telespectador do crescimento da protagonista; os figurinos, que são simplesmente espetaculares e usufruem de tudo que a fantasia do filme pode oferecer (fazem as personagens parecerem delicadas bonequinhas de porcelana); e os cenários, um dos meus elementos favoritos - cuidadosamente montados, perfeitamente pesquisados, cautelosamente projetados, com um surrealismo extraordinário e um abuso total de formas e dimensões. O carinho e atenção são tão evidentes na construção dos cenários que eu acabo achando difícil descrevê-los em palavras e atrevidamente sugiro você mesmo checá-los. Uma nota pessoal. O céu nesse filme, em todos os momentos, é nitidamente editado, o que para mim o deixa extremamente bonito. Parece que um tipo de imagem impressa de um céu foi colada no fundo do panorama, funcionando perfeitamente bem com toda a estética absurda da obra. Novamente, difícil descrever, mas é lindo demais.
Outro elemento que gostei bastante foi a escrita e ritmo dos diálogos. Não falo do seu conteúdo, e sim da escolha de palavras e montagem das frases. Mesmo sendo completamente compreensíveis, trazem um elemento de confusão e anormalidade que corresponde com o sentimento surrealista da obra. Parece que o filme está em uma língua estrangeira. Eu achei um trabalho muito muito admirável e só espero um dia poder escrever algo em nível similar.
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O que a obra me desregula em material, ela consegue cobrir em visual, que acaba se transformando em uma experiência fortemente única e muito agradável. Mesmo assim, eu acredito que meu julgamento sobre a filósofa do filme continua muito incerto, e talvez eu precise assisti-lo e analisá-lo mais vezes para tomar uma conclusão mais marcada. Mesmo assim, novamente, o seu conteúdo me deixa com dúvidas e insatisfações teimosas.
(Review escrita em 26/12/2024, por @qleidoki)
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