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Quadrinhas
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Mulheres quadrinistas
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quadrinhas-blog1 · 8 years ago
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Still de "Entrevista Quadrinhas - Parte I"
Em tempos onde o machismo impera, o Quadrinhas resolveu conversar com  duas mulheres quadrinistas, Carol Pimentel e Germana Viana.
Moradoras da cidade de São Paulo — fonte de inspiração diária para Carol —, e produtoras de conteúdo geek, o diferencial no trabalho das autoras está em seu conteúdo antissexista e antirracista, que reafirma o empoderamento feminino. A quebra do padrão de beleza também é um tema recorrente nas ilustrações de Germana, a exemplo da uma super-heroína negra e gorda em "As Empoderadas", do selo Pagu Comics
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Daniela, personagem de “As Empoderadas”, do selo Pagu Comics, vencedor do troféu HQ Mix na categoria de Web Quadrinho de 2016.
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Na web tira “Lizzie Bordello e As Piratas do Espaço”, de autoria de Germana, é possível perceber, mais uma vez, através das personagens, a quebra do padrão de beleza.
Em meio há uma discrepância gritante no destaque que a mídia especializada e pesquisadores dão para as produções feitas por mulheres e por homens, nada mais justo que abrir o jogo nessa conversa, falando de temas "tabus" no universo das HQ's.
Confira abaixo, na íntegra, o bate-papo que o nosso blog teve com as duas quadrinistas:
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Web tira "Point of View 2", roteiro de Carol Pimentel e arte de Germana Viana, publicada pelo Lady's Comic.
Já na segunda parte, elas falam das suas referências pessoais. Nomes como Gail Simone, Trina Robbins e Chelsea Cain são citados. O mercado editorial dos quadrinhos também é abordado no vídeo, visto que, predominantemente sexista, está longe de uma situação ideal. Mas há perspectivas de mudanças. Germana exalta ainda o papel positivo da internet nos dias atuais, sendo a web tira uma opção para quadrinhos independentes.
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Elas são maravilhosas, né, gente? Espero que vocês tenham curtido!
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quadrinhas-blog1 · 8 years ago
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Representação feminina não falta
Na década de 1960, algumas mulheres coloriam ou arte-finalizavam HQs, mas usavam somente as iniciais de seus nomes para disfarçá-los no meio das demais assinaturas de homens que apareciam nos créditos. Petra Goldberg, por exemplo, era creditada como P. Goldberg nas histórias do Drácula. Essa já era uma marca de como a indústria se comportaria por anos. Até mesmo a Sheena, uma das personagens mais conhecidas da Era de Ouro das HQs, fica no imaginário geek como se tivesse sido produzida apenas por homens. 
“Sheena já teve muitas mulheres envolvidas em sua revista, como Ruth Roche e Jean M. Press. Elas trabalharam como produtoras para a Fiction House (1920-1950), editora americana que ficou conhecida por ser a que mais contratou mulheres durante a Segunda Guerra Mundial”, lembra a pesquisadora de representação de gênero em HQs, Rayza Bazante, citando mulheres quadrinistas pioneiras como Jackie Ormes, que criou a tirinha Torchy Brown in Dixie To Harlem entre 1937-1938; Dale Messick, criadora da personagem jornalista Brenda Starr (que ilustra essa matéria) nos anos 1950; e June Tarpé Mills, a primeira mulher a escrever e ilustrar uma HQ com uma super-heroína, que era a Miss Fury (Mulher Pantera no Brasil).
Leia mais sobre esse resgate histórico na entrevista abaixo com a pesquisadora:
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De onde acredita que veio a ideia de que "quadrinhos não era coisa para meninas"? Por que muitas de nós crescemos instruídas a ler fábulas e contos de fadas, enquanto os meninos ficavam com as histórias de aventura? Esse impasse é inteiramente sócio-político/cultural?
Acredito que aqui possa ser aplicada a mesma lógica dos brinquedos infantis: meninos ganham carrinhos e robôs, meninas ganham panelinhas e bonecas bebês. Dar carrinhos às meninas seria como apresentar a elas ideais de liberdade, da busca por aventuras, como se faz com os meninos. Isso acontece com os quadrinhos, uma literatura cheia de aventuras e ficção científica, com algumas heroínas… É difícil aceitar isso, mas a nossa cultura tende a “adestrar” as garotas, e para isso, os contos de fadas servem como verdadeiros “manuais” para criar a mulher “bela, recatada e do lar”. Os quadrinhos são justamente o contrário disso. 
É preciso também que se entenda a origem dessa forma de literatura, pois os quadrinhos basicamente surgiram nas fandoms, grupo de fãs de ficção científica e histórias fantásticas, por volta de 1920, e onde só tinham garotos, e depois vieram os Syndicates. Você criava histórias, desenhava, e as vendia aos Syndicates, que eram empresas com dinheiro para produzir e distribuir o material. Esse meio também era dominado por homens. Alias, de uma perspectiva histórica, no início do século XX, berço dessa cultura, a maioria do mercado era dominado por homens, e é dai que vem os quadrinhos: homens criando e representando mulheres. Talvez isso tenha relação com o imaginário de que os quadrinhos são literatura pra garotos. Mas isso está mudando. Hoje você tem um grande publico de garotas leitoras de HQs. Elas estão lendo, fazendo blogs sobre cultura geek, estão presentes nos eventos do ramo, estão escrevendo sobre representação de gênero nas HQs, falando sobre como querem ser representadas.
A área de super-heróis tende a ser mais inóspita para as mulheres que trabalham como quadrinistas? Se sim, por quê?
Claro que sim. Tem um livro que eu uso na minha pesquisa, do Gerard Jones, intitulado Homens do Amanhã – Geeks, Gangsteres e O Nascimento dos Gibis - um título bem sugestivo – onde, na nota à edição brasileira, do Rogério de Campos, está a seguinte frase: “Tanto ‘nerd’ como ‘geek’ são, de maneira geral, termos usados para definir indivíduos do sexo masculino. Até porque o mundo dos nerds é, por princípio, um mundo masculino, onde mulheres não entram.”
Apesar de existirem ilustradoras e roteiristas por volta da década de 30, essas mulheres foram se chegando aos poucos em um meio criado e dominado por homens por muitas décadas, o que configurava um universo masculino. Essas mulheres acabam enfrentando muitos obstáculos e tendo que lidar com muito machismo. E ainda enfrentam né, como aconteceu recentemente com a Heather Antos, editora da Marvel Comics, e responsável pela edição das revistas Star Wars para a edição americana. Bem, no dia 28 de julho desse ano, a Heather postou uma selfie em seu Twitter, onde ela e colegas de trabalho da Marvel estavam tomando milkshake juntas, o que ela intitulou de “Milkshake Crew” (“It’s the Marvel milkshake crew”), e elas foram atacadas via redes sociais, com insultos que iam desde o sexual até a critica a seus intelectos, pois alguns homens escreveram que era por causa daquelas mulheres que a qualidade dos quadrinhos Marvel tinha caído. Tudo isso por habitarem o universo geek, por terem a ousadia de serem mulheres e estarem editando ou ilustrando quadrinhos. Grande parte dos homens leitores de HQ não aceita isso.
Poucas mulheres são publicadas ou indicadas a premiações de HQs. Qual a saída para a problemática de gênero no mercado editorial? O que tem inviabilizado o acesso da mulher a essa indústria?
Acredito que a grande questão pro problema da representatividade de mulheres no mercado editorial seja a visibilidade. Nós temos mulheres fazendo quadrinhos há muito tempo.
Entre 1937-1938, Jackie Ormes, uma mulher negra havia criado a tirinha Torchy Brown in Dixie Harlem, que era sobre uma jovem negra do Mississipi tentando ganhar a vida no Norte. Em 1950 tem Dale Messick, que criou a Brenda Starr, uma personagem jornalista, e tem também a June Tarpé Mils, que foi a primeira a escrever e a ilustrar uma HQ com uma super-heroína, que era a Miss Fury. Aqui no Brasil, em 1931, Patricia Galvão, a Pagu, que era uma militante feminista, criou a tirinha Malakabeça, Fanika e Kbelluda, e tem a Cila Pinto, que entre as décadas de 50 e 60 criou a tirinha O Pato, onde ela fazia criticas ao regime militar. E a maioria dos leitores de HQ não conhece essas mulheres, enquanto a maioria das pessoas já ouviu falar no Jerry Siegel e o Joe Shuster, criadores do Superman.
Até mesmo a Sheena, uma das personagens mais conhecidas da Era de Ouro dos quadrinhos, fica no imaginário geek como tendo sido produzida apenas por homens, quando ela já chegou a ter mulheres envolvidas em sua revista, como a Ruth Roche e a Jean M. Press, que trabalharam como produtoras pra Fiction House (1920 - 1950), editora americana que ficou conhecida por ser a que mais contratou mulheres no período da Segunda Guerra Mundial, quando muitos homens foram para o front, entre eles Jerry Siegel.
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Acredito que quando damos visibilidade a todas as mulheres que trabalham nos ramos de quadrinhos, estamos melhorando a possibilidade do acesso dessas a essa industria ainda tão masculina e machista.
Existe uma discrepância entre o número de mulheres quadrinistas e a atenção que elas recebem? Que mudanças são necessárias para que se alcance um ambiente mais igualitário?
É como falei, existem mulheres produzindo, editando, escrevendo e ilustrando quadrinhos já há bastante tempo, a questão é que estamos em um universo ainda muito machista. O público masculino desse universo é problemático com as questões de representatividade de gênero, problema com mulheres ocupando espaço nesse meio. Existe uma verdadeira arrogância dos excluídos. É como se, aquele menino nerd, fã de quadrinhos, que foi escanteado, excluído na escola etc, é como se ele se sentisse tão excluído que ele acredita ser impossível que ele possa ser “o vilão”, que ele possa estar sendo machista ou conservador com relação à diversidade no meio cultural dele. E a consequência disso é que acabamos não conseguindo, ou apenas com muita resistência, levar o debate de gênero e representação pra dentro do universo nerd/geek. E isso afeta diretamente na indústria de quadrinhos. As mulheres estão lá, mas acabam não tendo tanta importância, ou destaque.
Por exemplo, veja a Batwoman, personagem que estou pesquisando. Ela foi criada em 1956, por Bob Kane, para ser o par romântico do Batman e abafar os rumores de que este seria homossexual. Ela apareceu pela primeira vez na edição #233 da Detective Comics, revista carro-chefe da DC na época, e durante toda a sua história ela só teve uma produtora, que foi a Marguerite Bennett, que escreveu a HQ solo da heroína em seu retorno ao catalogo da DC Comics, em 2016. Nela, a Batwoman se assume lésbica, protagoniza um beijo gay, inclusive, e sofre uma positiva e significante modificação visual. Quantos prêmios você viu a Marguerite receber? Acho que temos que buscar dar cada vez mais valor e visibilidade ao trabalho dessas mulheres que estão produzindo os quadrinhos que lemos, e colocando diversidade ali.
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Algumas mulheres conseguem se identificar com personagens masculinos, mas homens geralmente não conseguem se identificar com personagens femininas ou não consomem histórias produzidas por mulheres. Por que muitas vezes o "quadrinho feminino" acaba sendo enquadrado como gênero narrativo e fica de fora do universal?
Essa é uma boa questão. É comum que os autores de quadrinhos coloquem em seus personagens arquétipos. A questão é que personagens masculinos representam: coragem, justiças, sacrifícios, paradigma moral, concretude social… Todos arquétipos universais, qualquer pessoa se identifica com essas questões, e vai se identificar com esses personagens. Enquanto que as mulheres acabam seguindo os clássicos arquétipos femininos: a donzela, a mãe, a anciã. Até quando essa personagem é a maior guerreira ela se enquadra nesses arquétipos, ou em um imaginário negativo e estereotipado. Isso não ajuda na questão da representação, pois nem todas as pessoas vão se identificar com esses arquétipos e os dilemas que eles trazem. Eu, enquanto mulher, não me identifico com eles, imagina os homens. Mas isso é fruto de uma indústria que ainda é composta em sua maioria por homens, e são esses caras que muitas vezes não estão por dentro dos debates feministas e de gênero que chegam lá e reproduzem esteriótipos, e é assim que acabamos tendo um gênero de “quadrinhos”, e um outro que seria o “quadrinho feminino”. E também a resistência por parte do publico masculino em consumir esse quadrinhos protagonizado por mulheres.
Por isso que é preciso que, cada vez mais, levemos os debates feminista e de gênero para o meio nerd, para que possamos encontrar esse público resistente à mudança, debater com eles, e desenvolver soluções para as questões de gênero e de representação no universo nerd/geek, principalmente agora, em que essa cultura tem se tornado cada vez mais forte, e tem se popularizado muito.
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quadrinhas-blog1 · 8 years ago
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As sombras de Roberta Cirne
Uma das poucas representantes da nona arte em Pernambuco é Roberta Cirne, roteirista e desenhista das HQs de terror Sombras do Recife, publicadas no site homônimo. Além de cuidar de toda a parte literária e do design, a quadrinista também faz um resgate histórico da cidade. “A pesquisa que eu estou fazendo com os quadrinhos já existe há 19 anos, mas nunca consegui publicá-los por meios tradicionais”, declara, ao mencionar que a internet teve papel fundamental no seu trabalho. “Tudo o que produzi foi lançado online. Isso fez com que o projeto chegasse a todo Brasil, de um jeito que ainda me surpreende”, afirma. Atualmente, Roberta se dedica inteiramente aos quadrinhos, mas a trajetória foi longa para isso. “Me formei como arte-educadora e passei a dar aulas para poder me sustentar, mas sempre quis ser dona do meu próprio projeto. Hoje, não leciono mais, graças ao poder que a internet teve na minha carreira”.
Ainda conforme a Roberta, a ideia de criar a HQ surgiu em 1998. A princípio, ela havia pensado em fazer um quadrinho misturando cultura local com vampiros, pois já tinha criado alguns personagens e histórias nesta linha de terror mais globalizado. “Aos poucos fui refinando a história, à medida que lia mais sobre os usos e costumes da cidade, monumentos demolidos e desaparecidos, roupas, personagens pitorescos, doces, usos e costumes, coisas que só Recife tem”, contou, comentando que o material de referência provém de reportagens de jornais, livros encontrados em sebos, fotos e arquivos que ela foi juntando ao longo dos anos. “Ainda tenho guardados os manuscritos desta época e a pesquisa histórica que fiz, pois se trata de material praticamente inédito na internet, de livros que nunca foram reeditados em dezenas de anos”.
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Neste momento do projeto, Roberta está narrando como cada assombração surge, em suas distintas épocas: Boca de Ouro, em 1913; A Velha Branca e o Bode Vermelho, em 1885; Branca Dias, em 1598; Papa Figo, em meados de 1850 etc. E para criar essas histórias ambientadas no Recife do passado, a quadrinista tem como objeto de pesquisa mais de 100 fontes literárias, como as obras de Câmara Cascudo, Gilberto Freyre, Mário Sette, Pereira da Costa e Antônio Gonsalves de Mello. “O que eu quero adicionar à ideia dos quadrinhos é a presença de textos extras, ou glosas, que podem ser lidos juntos ou em separado, mas que aprofundam a experiência da HQ. Estes textos serão paradidáticos, e contarão a história da cidade”.
Atualmente, Roberta está publicando a HQ do Boca de Ouro, que é um condutor de bonde de burro no Recife de 1913 - período em que a cidade passava por reformas e mudanças em seu transporte urbano. Humilde e com os dentes estragados, ele sonha em ficar com a mulher que ama, que é casada. Quando o jogo do bicho chega na cidade, Boca de Ouro resolve entrar na dança. Ele torna-se o maior bicheiro de Recife, coloca uma dentadura de ouro e se casa com a mulher amada, após assassinar o marido dela. O que ele não sabe é que a história tomará um rumo inesperado e terrível. “Usei a lenda do Boca de Ouro, que aparece às pessoas nas ruas de Recife como uma espécie de zumbi, e aproveitei para passar pelas reformas da cidade em 1911/1913, a demolição do porto e a vida noturna dos cafés da Praça do Diário (surgimento do jogo do bicho e a boemia do início do séc. XX na capital pernambucana)”. A HQ tem 18 páginas.
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Recentemente, Roberta adaptou uma lenda nunca antes trabalhada e de pouco conhecimento geral: A Lenda do Palhaço do Coqueiro do Janga, que lida com o medo de palhaço. Um assunto bem atual, quando se leva em conta os ataques de palhaços nos Estados Unidos e produções cinematográficas como It: A Coisa. A HQ narra a história de um palhaço que, não conseguindo fazer ninguém rir, enlouquece e sai matando as pessoas que não o acham engraçado. “Cada HQ de assombração encaminha para uma junção, mas por enquanto vamos apresentando os personagens. É um universo em expansão, com muita coisa esperando para aparecer”, antecipou a quadrinista.
Confira a entrevista e conheça um pouco dos caminhos que levaram Roberta à Sombras:
1. Roberta, quando e em que circunstância o desenho entrou na sua vida?
Eu sempre adorei desenhar. Na minha casa, ninguém era artista, com exceção de uma tia por parte de pai. O nome dela era Alba, ela costumava fazer bonequinhas de papel desenhadas para mim. Com o tempo, eu mesma comecei a desenhar minhas próprias bonequinhas, e descobri sozinha, por observação, como projetar em perspectiva, usando distâncias de objetos. Mas foi esta minha tia, que admirei por toda a vida, que me mostrou os primeiros passos nas artes.
2. Na infância, você foi desestimulada ou estimulada a desenhar? Tinha acesso a quadrinhos quando criança? Se sim, de que tipo?
Assim que comecei a demonstrar interesse pela arte, meus pais deram o maior apoio. Incentivavam, davam materiais de arte para mim. As minhas melhores lembranças são as de receber, todo natal, livros (sempre adorei ler) e caixas de lápis de 48 cores da Faber-Castell, e papéis para desenho.
Quadrinhos, eu colecionava. Era fã das revistas da Luluzinha e do Bolinha, mas também adorava ler Almanaque Disney, principalmente as sagas da família pato, de Carl Barks. Tio Patinhas, os sobrinhos e as aventuras no Klondike e Escócia me faziam viajar. Eu mesma fazia minhas histórias em quadrinhos, também. Lembro que criei, aos 7 anos, uma HQ de uma menina que tinha uma boneca que ganhava vida. Fora isso, eu “quadrinizei” filmes que gostei, antes dos 10 anos. Tenho até hoje a HQ de Annie e de Peter Pan que fiz.
“Tive a sorte de minha mãe me apresentar aos heróis que ela costumava ler, como Mandrake e Fantasma”, disse Roberta.
3. Quais são as suas principais referências no desenho? O que pensa do fato de que havia poucos modelos de mulheres a serem seguidos nas HQs?
O mercado de quadrinhos sempre foi predominantemente masculino, então comecei pelo que eu gostava de ler. Como na época só tinha acesso aos “formatinhos” da Abril, li muito X-Men. As histórias de Chris Claremont ilustradas por Marc Silvestri me marcaram bastante, e quando comecei a fazer uma série de HQs com uma amiga, usava como modelo a seguir. Logo depois, me encantei com Alex Ross (Marvel Comics) e comecei a pintar em aquarela.
Um dos grandes problemas, na minha opinião, é que os quadrinhos no Brasil, antes da internet, eram bastante setorizados. Havia “quadrinhos para meninas” até certa idade, depois apenas super-heróis, o que focava no público adolescente masculino. Tive a sorte de minha mãe me apresentar aos heróis que ela costumava ler, como Mandrake e Fantasma. Depois ela passou a comprar pra mim umas edições de encalhe da Ebal. Do Superman, Batman e outros. Li muito X-Men, como já disse.
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Em 1992, eu fazia HQs baseadas no RPG Vampiro: A Máscara, dos personagens que jogava em grupo de amigos. E também possuía, junto com outra amiga, um grupo de heróis de um universo distópico. Mas estas HQs eram apenas para nós mesmas e mais algumas pessoas que liam de “cobaias”. Não havia então nenhuma publicação de HQs com “temáticas femininas”. No Japão, há muito tempo já tínhamos as mangakás mulheres, e na Europa quadrinistas mulheres faziam parte do cenário franco-belga. Mas nada chegava de forma distribuída aqui. A falta de quadrinhos ditos “para garotas” de mais idade, não cultivava o hábito de leitura de HQs na maioria das meninas. Então, demorou bastante para que as (poucas) leitoras de quadrinhos de heróis começassem a produzir suas próprias histórias.
4. Existe uma discrepância entre o número de mulheres quadrinistas e a atenção que elas recebem? Cita alguma autora que você costuma ler e que acha que deveria ter mais destaque.
Com toda a certeza esta discrepância existe. Inclusive constatei que a grande maioria das quadrinistas mulheres ficam em casa, e compartilham seus trabalhos apenas com amigas. Que eu saiba, apenas umas três ou quatro (a maioria ilustradoras) estão atuando de forma visível no Recife. Eu sou uma das únicas que trabalha terror no Brasil, mas acredito que temos muito mais quadrinistas. Precisamos trazê-las para fora, mostrar seus trabalhos. Algumas desistem, abandonam os quadrinhos buscando caminhos menos áridos.
Uma das quadrinistas que mais admiro é a Marjane Satrapi, de Persépolis e Bordados. Seu trabalho é libertador, no que concerne aos direitos femininos.
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5. Foi forçada a investir numa carreira séria antes de se tornar quadrinista? Ou chegou a fazer outra coisa antes por que não se conhecia o suficiente?
Entrei em crise várias vezes. Desenhar era “bonitinho” quando criança, mas se tornava um “hobby” pouco rentável, segundo meus pais, para se ter quando adulta. Tentei seguir o caminho da advocacia, mas terminei abandonando o curso de direito na UFPE pelo de artes plásticas (meu pai quase teve um treco hehe). Fazer quadrinhos era algo meio sofrido, por amor mesmo. Não dava dinheiro, a princípio. Fazia vários bicos e estágios na faculdade, principalmente porque casei e engravidei em seguida. Nosso núcleo familiar se formou neste redemoinho. 
Dentro de um coletivo de quadrinhos, lançamos em 2006 (eu e um grupo de amigos) o primeiro álbum, chamado Passos Perdidos, História Desenhada, pela Sinagoga do Recife. Ganhamos o Troféu HQ Mix 2007 de maior contribuição para os quadrinhos nacionais. Fizemos juntos mais seis álbuns pelo MinC e Fundarpe, mas nenhum deles era roteirizado por mim. Tinha certa liberdade em criar as artes, mas queria mais. Os projetos culturais davam algum dinheiro, na época. Para sustentar a vida de forma regular, me formei como arte-educadora e dava aulas. Todo o conjunto das coisas não era o que eu queria fazer, na verdade. Queria ser dona de meu próprio projeto, e pesquisava sobre Recife desde 1998. Queria algo que me representasse mais.
Abandonei as HQs em 2010, para cuidar de meus pais nos seus últimos anos. Não me arrependo disso, pois esta parada me fez repensar muita coisa. Em 2015, voltei às HQs. A princípio, produzindo aos poucos, para mim mesma, e depois aumentei a produtividade. Atualmente, não leciono mais. Posso me manter, e me dedico 100% aos quadrinhos. São os meus quadrinhos, feitos exatamente do jeito que sempre quis. A internet teve este poder em minha carreira.
“O que falta para as mulheres entrarem de vez nos quadrinhos é a visibilidade”, opinou a quadrinista.  
6. Você acha que está inserida num meio particularmente hostil? O que falta para que as mulheres possam ser propriamente incluídas e deixem de ser uma raridade no mercado editoral e nas indicações a prêmios de HQs?
Como meu trabalho é totalmente autoral, não há competitividade, como no caso do mercado americano, europeu ou oriental de quadrinhos. Há o estranhamento, ainda nos dias de hoje, de estar em um meio predominantemente masculino, sim. As mesmas perguntas que me faziam em entrevistas em 93, fazem hoje. Mas está um pouco diferente. Já não é tão fechado. A grande maioria dos produtores de quadrinhos de Recife eu conheço há anos, como é o caso da PADA (Produtores, Artistas e Desenhistas Associados), Eduardo Schloesser, Leonardo Santana, Milton Estevam, entre outros. São amigos que respeito e que me respeitam, nesta caminhada.
O que falta para as mulheres entrarem de vez nos quadrinhos é a visibilidade, como já disse. Quem faz, precisa lançar na mídia seu produto, sua ilustração, tira, série. A internet é um excelente meio. Divulgar, criar blogs, sites, jogar ao público seus projetos.
7. Qual a sensação de estar contrapondo estereótipos e rompendo tabus com o seu trabalho? Fala um pouco também sobre Sombras do Recife.
A sensação é a melhor que já tive na vida. Sei que sou uma das únicas a trabalhar com quadrinhos, e possivelmente a contar nos dedos da mão direita que trabalha com terror. Estou quebrando este paradigma, e agradando ao público tanto feminino, quanto masculino. Não existe nada melhor que fazer exatamente o que você quer, e receber aprovação dos leitores e fãs do site. 
A pesquisa que estou trazendo com as HQs de Sombras do Recife já existe há 19 anos, porém nunca consegui publicar pelos meios tradicionais. Trabalhei em Passos Perdidos, Afro HQ e Heróis da Restauração em parceria com roteiristas e historiadores, então basicamente eu fiz apenas a parte gráfica dos quadrinhos. Já as histórias do Sombras são  roteirizadas e desenhadas por mim, então estou cuidando de toda a parte literária, histórica e de design. Demora cerca de dois meses para transformar o roteiro já existente em rascunhos, fazer a pesquisa de vestuário, móveis e ruas (basicamente pegando ruas que não existem mais e resgatando para a topografia da cidade atual). Além do desenho, arte-final e balonagem. Todo o site é criado, mantido e organizado apenas por mim, que ainda cuido da parte de design e SEO.
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Temos, na época atual, de saber lidar com tudo, e eu sou bastante curiosa para pesquisar e criar em tudo o que busco. Sempre gostei muito da temática de horror, desde criança, e já escrevia contos de suspense com nove anos. Terror sempre foi a minha área. História da cidade e terror foram escolhas naturais, e poder apresentar e representar graficamente a cidade nesta forma é algo que sempre tive em mente, contar coisas que muitos recifenses desconhecem, passando pelas ruas, pontes, praças, sem desconfiar de toda a história que elas carregam. Não é apenas assombração e o susto pelo susto, é incorporar o medo ao ambiente da cidade, mostrando em cenários ruas que não mais existem, costumes que entraram em desuso. As assombrações do Recife foram por muito tempo pouco exploradas, e acredito que este projeto tem um potencial de resgate histórico imenso.
8. Já passou por alguma situação constrangedora simplesmente pelo fato de ser mulher e quadrinista? Foi subestimada de alguma forma?
Como mulher, já passei por inúmeras situações constrangedoras. Como quadrinista, apenas do ponto de vista do trabalho em si. Certa vez, tentei entrar no mercado americano, mas meu traço foi considerado fraco para dar a energia que os super-heróis precisavam. Pediram que modificasse meu traço, e então, preferi desistir deste mercado. Fui subestimada por ter abandonado a área por um tempo, mas estou cada vez mais disposta a lutar e mostrar que estou aqui para ficar.
9. Qual o papel da internet em relação ao seu trabalho? O que seria dele hoje em dia se dependesse da indústria?
A internet teve papel fundamental. Para começar, tudo o que produzi para o Sombras do Recife foi lançado na net. Isso fez com que o projeto chegasse a todo País, de um jeito que ainda me surpreende. Se ficasse apenas na dependência da indústria, do quadrinho tradicional impresso, talvez não tivesse toda esta repercussão. Estamos para lançar a revista agora em dezembro por apoio da Prefeitura do Recife e Secretaria de Turismo da Cidade, mas o alcance do site é de milhares de pessoas. A revista, pode atingir 1000, 2000 leitores. Por isso, reitero o valor de se lançar na mídia online. Tudo que estou conseguindo começou com a publicação na internet.
10. Busca inserir temáticas feministas nas suas histórias ou tenta desconstruir suas personagens quando as cria? Se sim, acha que faz algum efeito, que está se fazendo ouvida?
Gosto de trabalhar com anti-heróis, e anti-heroínas. Não tenho pena de maltratar os personagens e acredito que tudo é válido para criar uma boa história. Minhas personagens são fortes, às vezes usam de meios pouco honestos, como no caso da Guilhermina, de Boca de Ouro. Não a pintei com cores suaves, pois ela é manipuladora. Personagens densos são mais similares às pessoas, e isso aumenta a empatia do leitor pela trilha de evolução do personagem, seja do sexo feminino ou não.
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