Graduada em Letras, com habilitação em Português, pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Escritora. Adepta a artigos acadêmicos. Pesquisadora da Psicanálise, Literatura (em suas mais diversas grandezas), Gênero e Cinema. A comunicação nas mídias digitais é um caminho a seguir. Aspirante na fotografia e em edição de imagens. Fluente no inglês, aprendiz do espanhol.
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CORPOS EM CENA: A HOMOSSEXUALIDADE FEMININA NO CINEMA
Rayssa Kelly Santos de Oliveira - UFPB
Hermano de França Rodrigues – UFPB
(Orientador)
Resumo
A homossexualidade é uma questão complexa e diversificada, sobre a qual recaem discursos, por vezes, diaspóricos, provenientes dos diversos setores sociais, tais como: igrejas, escolas, sindicatos, universidades, dentre outros. Essas esferas institucionais engendram, amiúde, dispositivos de poder que reativam estereótipos que deturpam e esfacelam a homoafetividade. No tocante às identidades lésbicas, a estigmatização assenta sobre a negação da sexualidade feminina, vista, desde o florescer das grandes civilizações e impérios patriarcais, como apêndice do masculino. A virilidade, perversamente ofertada aos homens, criou mecanismos discursivos que, na hodiernidade, ainda promovem a fragmentação e a subalternização do corpo feminino, em especial, das mulheres lésbicas, objetificadas e rechaçadas pelas estruturas heteronormativas. Essa deturpação estende, pois, às artes. No decorrer do tempo, a sétima arte – o cinema – tornou-se um espaço de representação de identidades consideradas “desviantes”, fazendo circular discursos de contestação (às vezes de reprodução) ao preconceito e à discriminação. Nosso estudo almeja examinar a película Azul é a cor mais quente (2013), dirigida por Abdellatif Kechiche. A obra aborda a homossexualidade feminina sob o prisma da amizade e do relacionamento erótico, cujos contornos ainda são determinados por valores oriundos da sociedade heterocentrista. O texto fílmico, embora consiga romper conceitos conservadores sobre a sexualidade lésbica, é cercado por conflitos que denunciam nuances de um processo identitário deficiente, incapaz de se desvencilhar das pressões normatizadoras de um corpo social heternormativo, hábil em reduzir o amor sáfico a uma pura sexualização do corpo. Como arcabouço teórico, recorreremos aos constructos epistemológicos derivados dos Estudos Culturais e de Gênero, principalmente, os trabalhos desenvolvidos por HALL (2006) e BUTLER (2003). Esses referenciais nos permitirão compreender como, no corpus, a ruptura ao heterocentrismo não chega, de fato a acontecer. As identidades homossexuais amargam, no universo semiótico em questão, a ação de códigos de conduta que subvertem o desejo e equiparam a subjetividade ao sexo, culminando em representações contraditórias, fragmentárias ou, simplesmente, não resolvidas.
Palavras-chave: Homoafetividade – Cinema - Identidades
INTRODUÇÃO
A identidade, de um modo abrangente, pode ser descrita acerca de uma associação própria de um indivíduo, ou seja, um conjunto de caracterizações individuais que permite que este se diferencie dos demais grupos formados perante uma sociedade. A questão da construção da identidade é ampla e diverge em vários âmbitos, pois, não há uma teoria globalizada em que afirme que seus conceitos sejam unificados ou imunes a discrepâncias, embora também não haja contrariedades sobre tais hipóteses, considerando-as errôneas por completo. Muitas ciências a analisam de forma recorrente, porém, cada uma em sua particularidade. A homossexualidade é uma questão complexa
e diversificada, sobre a qual recai divergentes opiniões, provenientes das mais diversas áreas do conhecimento. À vista disso, os questionamentos giram, mormente, em torno da construção de identidades múltiplas, ou seja, como estas se formam a partir de parâmetros sociais, culturais e psicológicos, possibilitando, assim, uma apreensão dos fatores plurais que integram, subjetiva e coletivamente, o reconhecer-se homossexual, expandido-se as artes. Ao remetermos para a categoria cinematográfica, observamos que as películas direcionam-se para diversos tipos de público, sendo assim, oferecendo, de alguma forma, uma orientação em torno de uma construção moral neste (público), diante a forma com que ocorrem determinados fatos da tela, pois:
um cineasta competente precisa saber como essa linguagem funciona, como a tela se comunica com as pessoas, como o significado é gradualmente construído de pequenos elementos e como controlar os pensamentos e sentimentos do público (HUNT, MARLAND, RAWLE, 2013, p. 8).
Faz-se necessário uma harmonia entre o que será exposto e quais serão as ideias que se quer conduzir, uma vez que, esta arte é composta por diversas possibilidades de interpretação, encaminhando o espectador para as vertentes presentes. Com isso, percebe-se ainda, que é possível compreender tais produções como um ambiente que suporta a representação de culturas plurais que se assemelham com o meio social, estabelecendo outros sentidos e de alguma forma, obtendo um poder capaz de modificar ou moldar práticas e pensamentos.
Referente às mulheres homossexuais, a estigmatização recai sobre a negação da sexualidade feminina, visto que os valores falocêntricos ainda vigoram em nosso século. Diante disso, cria-se uma subalternização envolta do corpo destas mulheres. Pode-se relacionar como essa descrença acerca do feminino estendeu-se a produções cinematográficas. Mediante a contemporaneidade, ainda observa-se nos filmes uma determinada separação entre os sexos, sobretudo, a sexualidade. A representação homossexual feminina no cinema é abarcada por diversos fatores que, por vezes, intensificam estereótipos, construindo assim, conceitos (pre)estabelecidos, tendo a mulher como objeto, submissa ao homem, predispondo o seu corpo envolvido a uma vulgaridade social em que a imagem e a representação feminina relacionam-se legivelmente a favor e a mercê dos desejos masculinos, logo, oprimindo-a. No entanto, observamos que o espaço para outros discursos em torno dessas encenações, está mais vasto, possibilitando pontos diversos e assim, recaindo a novos conceitos.
Neste artigo pretende-se compreender como ocorre a visibilidade em torno dessas mulheres homossexuais no cinema. Para isso, analisaremos a posição destas perante a sociedade, focalizando uma melhor percepção sobre a (re)construção de identidades, a fase de descoberta e o receio acerca do (pre)conceito em torno de uma sociedade heterocentrista, em que assenti-se pela normatividade imposta, renegando tudo o que opõe-se a esta. Para tanto, a compreensão se dá através dos estudos e teóricos pesquisados, como personagens representadas por mulheres homossexuais são retratadas e os estereótipos, ainda, concisamente marcantes como forma de discurso, conduzindo tais elementos diante o auxílio da obra analisada.
1. Identidades múltiplas e flutuantes
O termo homossexual foi criado no século XIX, por Karl-Maria Kertbeny, definindo aquele indivíduo que sente uma afetividade-sexual por outro do mesmo sexo. Pois até então, falava-se em pederastia, sodomia, anomalia ou religião. A homossexualidade pairava como fator marginalizado, porém, desde o fim desse mesmo século, essa categoria passou a existir enquanto discurso. A sociedade burguesa dispunha enfaticamente acerca de determinações do que seria masculino e feminino, e os que apartavam-se ao que era considerado um modelo padrão recaiam sobre um conceito de anomalia ou até mesmo de desvio. Sendo assim, considerados seres desviantes ou anormais. Mas o que seria normalidade? Ao retomar Foucault, Richard Miskolci, enfoca:
“Enfim, vê-se que não se trata de uma demarcação definitivade uma parte da população. Trata-se do exame perpétuo de um campo de regularidade no interior do qual julgar-se-á sem trégua cada indivíduo para saber se ele é conforme a regra, a norma de saúde definida.” (Foucault, 1999: 43 apud Richard Miskolci p. 13) Isto é, a normalidade encaminhava-se acerca das implementações decorrente do meio social, em que este impõe regras (pre)estabelecidas e homens e mulheres deveriam segui-las conforme os limites postos, ao desviarem-se, estes seriam enquadrados em um elemento de anormalidade. Estudos sobre essa anormalidade eram realizados, tomando-a como fator patológico. Nessas análises, atribuía-se tratamentos ativos, maçantes, regulares e intensos, ao passo que internavam esses indivíduos “desviantes”, a fim de cessar ou curar ao que era considerado “identidade social e pessoal do interno, cuja liberdade é drasticamente cortada desde a admissão na instituição” (MISKOLCI, 2005, p. 56). Essas identidades eram forçadas e interligadas a um fator intrinsecamente biológico. Contudo, a partir do século XX, o que outrora declarava-se desvio, passou a fazer parte de um conceito denominado de “diferenças”, tendo o feminismo como parte importante nesse processo de entendimento acerca de identidades sociais. “Nesse caso, não a biologia, mas a cultura se torna o destino” (BUTLER, 2003, p. 26).Para Hall (2006), um tipo diferente de mudança estrutural está modificando a maneira com que vivem e se estabilizam as sociedades modernas desde o final do século XX. Segundo o autor, isso está fragmentando as paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade, pois outrora tais estruturas eram sólidas, ao passo que na sociedade atual, encontram-se diluídas.Até que ponto o indivíduo tem poder de si e consegue diferenciar o que lhe é próprio ou coletivo? Tais transformações de acordo com o passar dos anos, têm influenciado no querer saber, querer viver e querer entender? Por que a sociedade faz parte da construção de uma identidade alheia e se importa com isso?Segundo Butler, sendo “a identidade assegurada por conceitos estabilizadores de sexo, gênero e sexualidade a própria noção de ‘pessoa’ se veria questionada pela emergência cultural daqueles seres cujo gênero é ‘incoerente’ ou ‘descontínuo’, os quais parecem ser pessoas, mas não se conformam às normas de gênero da inteligibilidade cultural pelas quais as pessoas são definidas (BUTLER, 2003, p. 38), ao reportarmos a figura da mulher inserida em uma sociedade, percebe-se que de acordo com a autora, esta sentiria-se enclausurada a tais questões culturais ao distanciar-se do que a coletividade impõe como algo normativo. No mundo contemporâneo, a normatividade avalia-se ao que define-se por uma sociedade “heterocentrista”, em que neste artigo denomina-se por um conjunto de regras impostas por um social do qual considera padrão e/ou normal a heterossexualidade e esta é de teor dominante, suprimindo tudo (e todos) que não estejam aprisionados a isso. Detém-se a um estereótipo que impera sobre o meio, tomado por preconceitos e preceitos estabelecidos fundamentados a uma “herança” que é passada de indivíduo a indivíduo, a mostrar-se que tudo que for contrário ao considerado normativo, deve ser extinto, punido e dilacerado. Pois, “Ser uma mulher que não pertence a nenhum homem é ser invisível, patética, inautêntica, irrcal” (Gross, 1999, p. 564).A matriz heterossexual e o patriarcalismo são tidos como premissas das demais relações sociais do ser, logo, a heterossexualidade e o falocentrismo fazem parte de uma fundação identitária de dominação e poder.De acordo com Hall (2006), as transformações presentes na sociedade estão modificando as identidades pessoais e diversificando uma ideia inserida no conceito do que é próprio aos indivíduos como sujeitos integrados. Na perspectiva do autor: Esta perda de um “sentido de si” estável é chamada, algumas vezes, de deslocamento ou descentração do sujeito. Esse duplo deslocamento—descentração dos indivíduos tanto de seu lugar no mundo social e cultural quanto de si mesmos — constitui uma “crise de identidade” para o indivíduo. (HALL, 2006, p. 9) A crise de identidade de um sujeito refere-se apenas a ele em sua totalidade ou a um mundo externo que é passível a mudanças e este indivíduo está suscetível a estas? Stuart Hall recorda as palavras de Kobena Mercer: “A identidade somente se torna uma questão quando está em crise, quando algo que se supõe como fixo, coerente e estável é deslocado pela experiência da dúvida e da incerteza” (Mercer, 1990, p. 43, apud Hall, 2006, p. 9). A fim de analisar e fundamentar a existência do indivíduo como sujeitos humanos, Hall relata três concepções de identidade, das quais se fundamenta o sujeito do iluminismo, sujeito sociológico e sujeito pós-moderno. O sujeito do iluminismo baseava-se em uma percepção do indivíduo como centro de si, ou seja, durante todo o seu processo de crescimento e desenvolvimento, até o fim da vida, permanecia com uma única base, aquela em que nasceu. O sujeito sociológico se forma a partir de um âmbito relevante ou ponderoso socialmente, isto é, acerca daquela sociedade que é importante para o sujeito. Se forma a partir de crenças e valores sociais, a cultura alheia que este insere-se, estaria presente na caracterização desta identidade. Dessa forma, “a concepção sociológica clássica da questão, a identidade é formada na “interação” entre o eu e a sociedade. O sujeito ainda tem um núcleo ou essência interior que é o “eu real”, mas este é formado e modificado num diálogo contínuo com os mundos culturais “exteriores” e as identidades que esses mundos oferecem”. (Hall 2006), logo, o indivíduo atribui os conceitos próprios e de mundo, o que o autor denomina de “interior” e “exterior”, respectivamente. O sujeito adentra-se a essa chamada, “identidade cultural” e a absorve, atrelando o ambiente que está introduzido, juntamente com o seu próprio eu, que pelo autor é definido por lugares objetivos e sentimentos subjetivos, agindo de modo recíproco entre ambos os caracteres. Referente ao sujeito pós-moderno, Hall enfatiza que devido a essa identidade cultural e as transformações advindas dela, o indivíduo e o que o envolve está mudando, logo: O sujeito, previamente vivido como tendo uma identidade unificada e estável, está se tornando fragmentado; composto não de uma única, mas de várias identidades, algumas vezes contraditórias ou não- resolvidas. Correspondentemente, as identidades, que compunham as paisagens sociais “lá fora” e que asseguravam nossa conformidade subjetiva com as “necessidades” objetivas da cultura, estão entrando em colapso, como resultado de mudanças estruturais e institucionais. O próprio processo de identificação, através do qual nos projetamos em nossas identidades culturais, tornou-se mais provisório, variável e problemático. Esse processo produz o sujeito pós-moderno, conceptualizado como não tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente.(HALL, 2006, p. 12). Diante o exposto, o autor afirma, por tanto, que “a formação da identidade é definida historicamente, e não biologicamente” (p. 13), isto é, o sujeito assume determinada identidade, e estas distintas, a depender da situação ou condição que está inserido. Pois, no interior de cada ser humano há identidades contrapostas que o guia para os mais diversos seguimentos, ou seja, a identidade de um sujeito está em constante mudança. Logo, o pós-moderno desencadeia-se a partir do sociológico. Discordando disso, remetemos ao discurso feminista, que de acordo com Butler, manifesta-se do ponto de que as identidades femininas são fixas, pois predispõem da ideia central de que mulheres oprimidas obtêm uma “forma singular disponível na estrutura universal ou hegemônica da dominação patriarcal ou masculina”. (BUTLER, 2003, p. 21) Porém, a autora difere e afirma que estas são flutuantes e múltiplas. Pois a mulher apropria-se de atribuições sociais, que estaria envolta a variados significantes. Portanto, mesmo que esta modifique seu meio social, estará intrinsecamente relacionada a um determinado “ponto de partida”, isto é, uma certa posição de origem, uma vez que a “consciência, a capacidade de linguagem ou a deliberação moral” estará enraizada.(BUTLER, 2003, p. 37-38 )A deficiência de definir identidades tanto para homossexuais ou caracterizar um discurso capaz de expressar-se sobre a homossexualidade, mormente, a feminina, está envolta em uma temática complexa, uma vez que, lida com questões de ordem cultural, social e do indivíduo em si. A vista disso, uma única ciência não dispõe de suporte suficiente para conceituá-la. Assim como aos passos anteriores, na contemporaneidade ainda se está em busca de um melhor entendimento acerca destas. No entanto, percebe-se que gradativamente que há uma compreensão que recai sobre um aparato culturalmente social resultante das transformações hodiernas. 2. A representação da mulher homossexual no cinema
Ao longo dos anos, as mulheres vêm lutando para conseguir seu lugar de forma inteira, contra a condição inferior imposta mediante uma denominação dos sexos. Desde a última década do século XIX que lutas e manifestações são feitas para auferir tais conquistas, para isso, deu-se o nome de “primeira onda do feminismo”. A exemplo disso valia-se o esforço pelo direito de voto e causas identitárias. No caso das mulheres homossexuais, a estigmatização apela para a negação da sexualidade feminina, pois parâmetros sexuais têm sido dominados pelo gênero masculino, ou seja, a sexualidade masculina é a aceita de modo único, sendo assim, criando uma subalternização do corpo feminino. Isso se dá através de uma incredulidade acerca do âmbito sexual feminino, sendo assim, por não existir a presença do falo, tem-se a ideia de que a mulher dispõe de uma falsa sexualidade. Ao retomarmos a sodomia envolta das mulheres na época da inquisição em 1646, Braga revela que: A Inquisição considerava só estar verdadeiramente perante o “pecadonefando” cometido entre mulheres quando havia penetração com recurso apénis artificiais (Braga, 2010, p. 309 apud Braga, 1996, p. 87). O falo estaria na condição de uma virilidade própria e indivisível. Essa deturpaçãoestende, às artes. No decorrer do tempo, o cinema tornou-se um meio onde ocorre representações de identidades antes consideradas “desviantes”, sendo envolto a variados discursos, dentre eles o de discriminação e preconceito.No final do século XIX e meados do século XX o continente europeu passava por um momento nomeado de Belle Époque (Bela Época), um período de notória transformação nas artes. Porém, nesse mesmo momento desencadeou-se a Primeira Guerra Mundial, sendo assim, os americanos conseguiram sobressair-se em suas produções cinematográficas, dominando a Europa.Em 1910, o cinema foi ganhando mais espaço, logo, era visto como uma inovação, uma arte que veio para transformar e revolucionar o século; explorar territórios e os tornar amplo, como uma forma de exibir-se e ganhar reconhecimento, principalmente nas produções de cinema mudo.Na década de 1960, surgiu a chamada “segunda onda do feminismo” e com ela, a publicação de um livro, como marco, enfático e envolto aos problemas que a mulher vivenciava e como era vista e (re)tratada na sociedade. Segundo Miskolci: Desde a publicação de O Segundo Sexo (1949) de Simone de Beauvoir, o feminismo tornou visíveis os processos sociais e históricos que levaram à construção da mulher como um Outro do serhegemônico, o homem. Contribuiu, assim, para o desenvolvimento dos estudos sobre diferenças devido a seu próprio objeto de crítica e por adotar a perspectiva da metade (feminina) da humanidade que é objeto de processos de subordinação e controle. (p. 30) A teoria de Beauvoir considerando a mulher como o “Outro”, estendeu-se ao cinema, juntamente com as produções de Hollywood. Seguindo essa diretriz, a mulher servia de estereótipo, como também – sobretudo – a mercê dos desejos masculinos, tendo o seu corpo dominado. Diante o exposto, percebe-se uma imagem predestinada, de cunho social, unindo-se com uma falsa ideologia de repressão e esta permeia sobre uma representação modulada que a mídia impõe. A exemplo disso pode-se citar o filme “Camille” (1921), em que a personagem central retrata a vida de uma cortesã de luxo que apaixona-se por um rapaz e ao iniciar o romance tem a vida amorosa encerrada pela condição em que vive. Em determinado momento da trama, Camille beija outra mulher, “acariciando e afagando a jovem, beijando-a na boca quatro vezes. (…) Uma ousadia que (grifo nosso) “até mesmo Eva LeGalliene, que também era lésbica, disse ter ficado “chocada”. (MANN, p. 91). Com isso, podemos perceber como o patriarcalismo agia de maneira forte e opressora em relação ao sexo feminino. A imagem da mulher estava, mormente, interligada com os desejos e fantasias do sexo oposto, este poder de dominação ficava cada vez mais nítido, silenciando a figura representativa da mulher.A representação da mulher homossexual, nessa época, era ainda mais reclusa e fechada. O autoritarismo social seguia-se de maneira opressiva. Observamos de acordo com as referências utilizadas que foi um período restrito e de grandes conflitos, como também, de certa forma, de resigno. “Quem é que não precisava fingir? Quem é que não precisava mentir? (…)Em Hollywood nossos padrões mentiam pela gente. Eles nos protegiam”. (MANN, p.10). A representação da imagem era forte e cobria qualquer outro intuito que não fosse preservá-la, logo, figuras consideradas desviantes deveriam ser mantidas afastadas da mídia.Para tanto, observa-se que o cinema dissipa-se em ideologias que têm a valência de adentrar no sujeito que interage com o que é apresentado e representado, como também, a forma com que as produções devem seguir linearmente. Tais construções recaem acerca da sociedade e o conceito da mulher e da mulher homossexual associa-se como uma ampla influência a elementos preestabelecidos pelo mundo das artes. 3. O estereótipo lésbico no cinema contemporâneo e o homoerotismo:Azul é a cor mais quente Como percebe-se, mediante as lésbicas de outrora, o cinema contemporâneo não é mais tão caricato e esmagador como em outras épocas. Atualmente, pode-se enxergar personagens lésbicas na TV, nos cinemas, nos vídeos da internet ou até mesmo em campanhas publicitárias. A mídia apesar da censura ainda imposta torna-se mais permissiva, visto que, o tema recorre e percorre avenidas e movimentos. O cinema é a representação do real, da imagem, do que ocorre no dia-a-dia, não refere-se ao cotidiano, mas faz uma representação a partir deste. As mágicas projeções passeiam pela vida real em busca de material vívido e verídico, a fim de passar ao público algo que se assemelhe a sua realidade constante, em que este se sinta tão próximo que o vanglorie e divague opiniões, que fale e exponha; que sinta. Porém, até que ponto a projeção cinematográfica viabiliza o que é real e irreal e expõe em suas cenas de forma estereotipada? Que figura é passada para o público? O estereótipo em si não é o principal problema, pois ele é apenas uma espécie de “atalho” por meio do qual os seres humanos “ordenam” a massa complexa e incoerente de informações que recebemos do mundo. (Richard Dyer 1993, p. 12 apud Freire 2009, p. 120). O indivíduo, hoje, tem acesso a diversos meios de comunicação e o cinema é o lugar onde este sociabiliza consigo mesmo. É a partir do que enxerga na tela que as (in)formações e ideias surgirão e o que lhe for exposto, pode ser taxado e dificilmente modificado de sua mente. Para Freire “o problema não estaria nos estereótipos – um dos vários aspectos do pensamento e da representação humana –, mas nos efeitos decorrentes de quem os controla, quem os define e, principalmente, dos interesses aos quais eles servem”. (FREIRE, p. 120) Diante disso, percebemos que o cinema é um meio de comunicação extremamente persuasivo e neste caso, os interesses dessa produção fantástica adentraria o mundo de imaginação do indivíduo, posteriormente, trazendo tais ideais para seu convívio.O conteúdo que se expressa verbalmente, o modo que caracteriza uma vestimenta, os gestos, olhares, atitudes, posições e contraposições, são artefatos que determinam uma representação do ser – ou não ser – de um personagem em cena. Atualmente, há diversos filmes, em muitos idiomas que retratam o homoerotismo. Duprat retoma Garcia: O homoerotismo, nesse sentido, aponta para uma noção mais flexível, descrevendo melhor uma pluralidade de práticas e desejos entre dois homens, ou duas mulheres. (Duprat, 2007, p. 3 apud GARCIA, 2004, p.36-37) Isto é, em produções que representam homossexuais, aborda-se múltiplos conceitos em torno de identidades, dessa forma, não se posicionando de forma fixa e sim, variável.Algumas dessas produções, foram cartazes de cinema, estavam estampados em revista, como forma convidativa de apreciá-lo, porém, muitos ainda permeiam a censura de não ligar-se a imagem com conteúdos que contenham homossexuais. A caracterização homossexual feminina no cinema passa-se por inúmeras etapas. Percebe-se que a forma que as personagens entram em cena, pouco a pouco, torna-se alvitante e depreciativa, alvo de piadas e discursos negativando aquela personagem. Dessa forma, tomaremos como análise, o filme “Azul é a cor mais quente”.
Imagem 01 (Imagem retirada do site: http://infinitum2007.blogspot.com.tr/) O filme francês “Azul é a cor mais quente” (2013) tendo como título original “La vie d'Adèle”, dirigido por Abdellatif Kechiche da obra “Le Bleu est une couleurchaude” de Julie Maroh (1985). A mesma trata-se de um HQ (livro em forma de quadrinho) que foi produzido e desenhado por Maroh. No entanto, aqui, trataremos apenas do filme. Este mostra a vida de Adèle (Adèle Exarchopoulos), uma adolescente tímida que em meio aos conflitos amorosos, ao iniciar um relacionamento heterossexual, se descobre apaixonada por uma mulher, a pintora Emma (Léa Seydoux). Ao conhecer a pintora, passa a sentir desejo pelo o corpo feminino, a partir de então, procura um meio em que possa cessar essa inesperada paixão pelo mesmo sexo. Nessa tentativa, mantém relações sexuais com o sexo oposto, porém, a falta de desejo e ensejo faz com que trave uma batalha consigo mesma, encerrando assim, o relacionamento. Na produção cinematográfica, há dois contrapontos: A protagonista, Adèle, que vive a fase de descoberta e Emma, com sua identidade afirmada. Ao remetermos elementos da produção fílmica, nota-se que o ambiente em que se passa condiz com algo cotidiano, porém, o discurso imposto, ainda revela o preconceito internalizado na sociedade. Adèle tem seu primeiro contato verbal com Emma em um bar gay, em que é composto por homossexuais, em sua maioria lésbicas. A protagonista encontra-se curiosa acerca do local e Emma, a familiariza com o ambiente, iniciando uma conversa mais concisa.
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(Imagem retirada do site: www.s1.zetaboards.com)
Logo após o encontro, a artista encontra nossa protagonista na porta de sua escola e é alvo de olhares depreciativos.
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(Imagem retirada do site: www.lightsremoteaction.com)
No dia posterior, novamente na porta da escola, Adèle é tomada por perguntas e insultada de forma brusca, ferindo sua moral. Essa cena é marcada pelo preconceito e o discurso preestabelecido por uma sociedade fechada e heterocentrista.
De acordo com o diálogo:
Amélie:
- Quem era aquela garota? Aquela de cabelo azul? Tipo sapatão.
Adèle:
- Só por que tem cabelo azul, é sapatão?
Amélie:
- Não é isso, tá na cara que ela gosta de boceta. Onde a conheceu? Adèle:
- Em um café.
Amélie:
- Em um café?
Adèle:
- É.
Amélie:
- Tem certeza que não foi em um bar gay com o Valentin? Ele contou que você foi com ele. Por que foi lá? Eu não entendo.
Adèle:
- Eu não fui lá.
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(Imagem retirada do site: www.awardsdaily.com)
A preocupação da protagonista é visível diante sua negação para todas as perguntas das quais estava sendo indagada. Essa negação pode ser caracterizada como uma forma de auto-proteção perante aos elementos que determinam o processo de formação de um indivíduo em que este deve-se igualar aos padrões normativos. Pois mesmo que nesse momento ainda não tivesse um relação nominativa com outra mulher, seus desejos estavam expostos dentro de si.
Freire retoma Shohat e Stam:
A preocupação exclusiva com imagens, positivas ou negativas, pode levar a um certo tipo de essencialismo, em que críticos menos sutis reduzem uma variedade completa de retratos a uma série limitada de fórmulas reificadas. Esse tipo de crítica força diversos personagens a se encaixarem em categorias preestabelecidas, levando a um tipo de simplificação reducionista que reproduz justamente o essencialismo racial que deveria ser combatido. (2006, p. 289 apud Freire, 2009 p. 122).
Durante todo o filme, mesmo mantendo um relacionamento com Emma,de acordo com os estudos apresentados, a mesma não assume uma identidade lésbica para o meio social em que vive, é um jogo em que o encontrar-se e o identificar-se estão em constante oposição. Por que nem mesmo a paixão e o amor intenso que Adèle sentia por Emma, a fez assumir-se no seu social, para família e amigos?
Medo, vergonha e preconceito podem ser fatores que sobressaiam a um desejo de se impor de modo diferente e estranho para um outro modo obrigatório. A representação fílmica mostra uma personagem que se afasta do seu próprio espaço para inserir-se em outro, adequado ao modo de vida que almejaria viver. Contudo, consiste em uma zona restrita que condiz apenas a quem o pertencesse.
Por outro lado, a personagem Emma, releva sua identidade perante tudo e todos: Família, amigos, no meio profissional e acadêmico. Todos os ciclos que fazem parte do seu mundo, a conhece da maneira que se mostra ser. Desse modo conciso, diante o coletivo, percebe-se uma vida menos indecisa e trancada, como observamos na protagonista que permeia por um processo individual.
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(Imagem retirada do site: www.frequency.com)
O homoerotismo é extremamente presente, visto que as personagens centrais sentem e vivem o desejo e a paixão como uma forma de axiomatizar o sentimento vívido entre ambas. Percebe-se nesse âmbito, em caráter distinto e notório, que o sexo em si não foi demonstrado como algo banal e estereotipado, mas como uma consequência de um sentimento entre seres humanos.
Ao decorrer do filme, compreende-se que a protagonista percorre a imensurável busca por identidades, visto que, vive-se paralelamente entre uma cultura preestabelecida e uma cultura de margem, que a prende em seu mundo e dificulta o convívio social.
4. Considerações finais
O objetivo desse estudo consistiu em tentar compreender através das teorias analisadas como a homossexualidade e o homoerotismo é retratado e representado nas produções cinematográficas com um segmento em lésbicas. Não analisamos o cinema como uma forma ampla, nem tampouco, generalizamos a sexualidade ou o gênero como um ciclo fechado ou aberto.
Dessa forma, prioriza-se entender como esse processo ocorre diante uma construção de formação de identidade, a desconstrução de identidades fixas e os estereótipos que formam-se nas cenas expressas a partir disto.
No tocante a comparação entre a exibição de cenas e a construção da identidade de uma personagem lésbica, incluindo a maneira como se vive pode-se notar significantes mudanças. A transformação inicia-se em um fator primordial, que enquadra-se em um filme com uma narrativa como tema principal o amor e a paixão entre indivíduos(mulheres) do mesmo sexo.
Ao fazermos uma menção referente às produções contemporâneas e as do início do século XX, é notório um marcante traço positivo, uma vez que, tudo que fosse referente à homoerotismo, outrora, deveria ser desvanecido.
Em elaborações técnicas contemporâneas, como a do filme analisado, o estereótipo destaca-se de forma relevante quando Adèle sofre preconceito e fica a mercê de termos ofensivos, porém, a quebra de paradigmas se dá quando o sentimento de maneira límpida é traduzido ao decorrer da película.
De forma branda e sutil, as produções cinematográficas vêm acarretando mudanças ao que se refere a padrões preestabelecidos por uma sociedade, que muitas vezes, encara-se de forma maçante. Com isso, os homossexuais podem ser vistos e representados em um discurso pródigo, de maneira que mostrem-se como são e não que uma sociedade toldada, imponha ou deseje que sejam. Referências Homo-erotismo feminino. In: Análise Social, vol. XLV (195), 2010, 307-327. Disponível em http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1276642499Q6tSO9hd8Pw86GB9.pdf < Acesso em 27 de junho de 2014. BUTLER, Judith P. Problemas de gênero: Feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. BASTOS, Liliana Cabral. Estudos de Identidade entre saberes e práticas/ Liliana Cabral Bastos, Luiz Paulo da Moita Lopes. Rio de Janeiro: Garamond, 2011. DUPRAT, Nathalia. Cinema gay e estudos culturais: Como esse babado é possível. p. 1-9, 2007. Disponível em http://www.cult.ufba.br/enecult2007/NathaliaDuprat.pdf < acesso em 27 de junho de 2014. EDGAR-HUNT, Robert. A linguagem do cinema/Rober Edgar-Hunt, John Marland, Steven Rawle. Porto Alegre Bookman, 2013. FREIRE, Rafael de Luna. “Na minha vida, mando eu”: o estereótipo do homossexual masculino nos filmes A navalha na carne (1969) e A rainha Diaba (1974). Revista Galáxia, São Paulo, n. 17, p. 119-130, jun. 2009. Disponível em >http://www.revistas.univerciencia.org/index.php/galaxia/article/viewFile/6710/6066 < acesso em 10 de março de 2014. GOMIDE, Silvia. Formação da identidade lésbica: Do silêncio ao Queer. In: Conjugalidades, parentalidades e identidades lésbicas, gays e travestis. Rio de Janeiro: Garamond, 2007. HALL, Stuart. A Identidade Cultural Na Pós-Modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. MANN, J. William. Bastidores de Hollywood a influência exercida por gays e lésbicas no cinema 1910-1969. São Paulo: Editora Landscape, 2002.MISKOLCI, Richard. Reflexões sobre normalidade e desvio social. In Estudos de Sociologia, Araraquara, 2002/2003. MISKOLCI, Richard. Desejo e solidão. p. 1-3, disponível emhttp://www.clam.org.br/publique/media/RichardMisk.pdf < acesso em 27 de junho de 2014. MISKOLCI, Richard. Do desvio às diferenças. In: Teoria e Pesquisa, p. 9-41, julho/dezembro 2005. Disponível emhttp://www.teoriaepesquisa.ufscar.br/index.php/tp/article/viewFile/43/36 < acesso em 27 de junho de 2014. MISKOLCI, Richard. O armário ampliado – notas sobre sociabilidade homoerótica na era da internet. In: Niterói, v. 9, n. 2, p. 171-190, 1. sem. 2009. Disponível emhttp://www.ufscar.br/cis/wp-content/uploads/OArmarioAmpliadoRichardMiskolci.pdf < Acesso em 27 de junho de 2014. SEDGWICK, Eve Kosofsky. A epistemologia do armário. In: Cadernos Pagu (28), janeiro-junho de 2007:19-54. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/cpa/n28/03.pdf< Acesso em 27 de junho de 2014. SHOHAT, Ella; STAM, Robert. Crítica da imagem eurocêntrica. In: FREIRE, Rafael de Luna. “Na minha vida, mando eu”: o estereótipo do homossexual masculino nos filmes A navalha na carne (1969) e A rainha Diaba (1974). São Paulo: Cosac Naify, 2006. Artigo apresentado no Congresso Internacional de Estudos sobre a Diversidade Sexual e de Gênero - Juiz de Fora/MG - 2014
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GESTOS DE LEITURA: HISTÓRIA E IMAGINÁRIO NO TEXTO INFANTO-JUVENIL MODERNO
Rayssa Kelly Santos de Oliveira – UFPB
Ivanildo da Silva Santos - UFPB
Hermano de França Rodrigues – ORIENTADOR
Resumo
A literatura infanto- juvenil circula, há séculos, no imaginário de grupos, povos e sociedades. Seu caráter humanizador atribui contornos ideológicos a comportamentos, valores e crenças, de tal modo que passam a refletir, na figurativida desígnica, as permanências e rupturas próprias da cultura. Assim, deixando-nos guiar pelos trabalhos de Antônio Cândido, acerca da relação entre literatura e sociedade, e de Ângela Kleiman, sobre o caráter social da leitura, pretendemos analisar, no conto O Rouxinol e a Rosa, do escritor e dramaturgo Oscar Wilde, as críticas arremessadas, sutil e incisivamente, à política vitoriana, buscando compreender, numa interlocução entre leitores, os papéis que as personagens representam nesse contexto.
Palavras- chave: Literatura; Sociedade; Leitura.
Introdução
A leitura de mundo através do texto literário proporciona para o aluno uma inesgotável fonte de sentidos para sua vida. Além de motivá-los a questionar o tempo, espaço e sociedade que são inseridos. O leitor em seu contato com a obra estabelecerá um elo que necessita da intervenção de um docente que preocupe-se em motivá-lo através de temas prévios que os instiguem para a leitura do texto. Compreendemos que a literatura terá um caráter social que refletira na mudança de consciência do individuo, permitindo visões de vivência, através da experiência do outro. Ultrapassando os limites do aqui e agora, proporcionando as relações de expressões interculturais.
E estabelecer uma relação entre sociedade e literatura. Procuraremos ressaltar a importância da obra literária como fragmento sócio-histórico capaz de representar a memória e os indivíduos da sociedade. Através dos estudos teóricos de ensino de leitura e letramento literário em sala de aula destacaremos a necessidade da escolarização da literatura. 2. Literatura e Sociedade: um direito de todos A literatura possui laços estreitos com a sociedade, porque expressa os dilemas e realidade do homem em determinado espaço e tempo histórico. A literatura impulsiona o leitor a colocar-se no lugar do outro explorando o raciocínio e imaginário. Nessa perspectiva atentamos a capacidade que a literatura possui de tocar em temas relativos à história e a realidade social de comunidades e grupos retratando através do texto, os costumes, normas, opressões, submissões, e a cultura e organização política e social de determinada região. Ela tem um papel fundamental nas construções e desconstruções de paradigmas. Em virtude disso, através de seus textos de ficção podemos perceber as representações dos sujeitos que ocupam as ilegitimidades, desigualdades, subversões numa sociedade. A literatura é uma invenção do cotidiano e articula entre discursos e práticas sociais.É uma forma de expressão subjetiva do homem, a literatura amplia nossa compreensão sobre os vários contextos em que se insere o sujeito na sociedade, através da interpretação das palavras do autor podemos entender a intenção do mesmo ao escrever a obra. Além de compreender melhor a associação entre o texto e contexto numa interpretação. A literatura passa a ser um fragmento sócio-histórico da sociedade. Representando um olhar e visão de temas, frequentemente, esquecidos e camuflados. Nas palavras de Antônio Cândido refletimos que a obra literária seria um “condicionamento” do externo (social) sendo assim, os fatores externos tornam-se parte da constituição da estrutura interna. (…) e que só a podemos entender fundindo texto e contexto numa interpretação dialeticamente íntegra, em que tanto o velho ponto de vista que explicava pelos fatores externos, quanto o outro, norteado pela convicção de que a estrutura é virtualmente independente, se combinam como momentos necessários do processo interpretativo. Sabemos, ainda, que o externo (no caso, o social) importa, não como causa, nem como significado, mas como elemento que desempenha um papel na constituição da estrutura, tornando-se, portanto, interno (CÂNDIDO, 2006, p.13-14 ). A partir da citação acima, entendemos que há uma associação entre fatores externos (social) que fornece fatores sociais como, costumes, gírias, ideias, hábitos, ambientes; configurando-se como a essência da obra, sendo assim, impossível negar o valor sócio-histórico da Literatura.A obra ficcional é a construção de uma memória com coletiva ou individual, moldando clareza “a ficção é um discurso informal do real, mas não pretende representá-lo nem abonar-se nele” (CHARTIER, 2010). Nas palavras de Chartier, algumas obras literárias possuem a capacidade de assegurar um testemunho da memória coletiva ou individual, tornando-se um artefato sócio-histórico da sociedade. As obras de ficção, ao menos algumas delas, e a memória, seja ela coletiva ou individual, também conferem uma presença ao passado, às vezes ou amiúde mais poderosa do que a que estabelecem os livros de história. (…) deslocando para o registro da ficção literária fatos e personagens históricos e colocando no cenário ou na página situações que foram reais ou que são representadas como tais (CHARTIER, 2010). A literatura estabelece uma relação entre a memória coletiva ou individual, como elementos fornecidos pelo passado. Através dessa relação a obra ficcional assume a representação de várias formas discursivas representando o passado(referencial histórico). A literatura pode criticar, observar e analisar todos os aspectos conflitantes ocorridos na comunidade ou sociedade. E através dos pontos de vista traçados pelas representações sociais descritas nas personagens ficcionais, o leitor entenderá e notará a construção de uma argumentação favorável ou não;sobre os discursos em torno dos indivíduos representados na obra. A literatura propõe uma reflexão sobre a história ou uma crítica a sociedade como uma consciência ou revelação dos sentidos dos fatos narrados nas obras( Hartog, 1994). Nas palavras abaixo, notamos a condição própria da narrativa literária nessas representações do passado e memória do coletivo e individual,
A narração não podia ter uma condição própria, pois, conforme os casos, estava submetida às disposições e às figuras da arte retórica, ou seja, era considerada como o lugar onde se revelava o sentido dos próprios fatos ou era percebida como um obstáculo importante para o conhecimento verdadeiro. Só o questionamento dessa epistemologia da consciência e a tomada de consciência sobre a brecha existente entre o passado e sua representação, entre o que foi e o que não é mais e as construções narrativas que se propõem a ocupar o lugar desse passado permitiram o desenvolvimento de uma reflexão sobre a história, entendida como uma escritura sempre construída a partir de figuras retóricas e de estruturas narrativas que também são as da ficção (CHARTIER, 2010).
Fica perceptível o valor sócio-histórico da obra literária como forma de construir um panorama das opressões, preconceitos e sujeitos colocados à margem na sociedade. 3. Compreensão do ato de ler na escola A percepção de leitura abrange os mais diversos temas, seja ele de cunho analítico, psicológico ou em caráter pedagógico. Este meio de interpretação é uma função de extrema importância no ensino, pois é a partir desta competência que o aluno irá adquirir suportes para dar significados ao que lhe é exposto, sendo capaz de desenvolver diversos gêneros textuais. De acordo com os PCN’s: “formar um leitor competente supõe formar alguém que compreenda o que lê; que possa aprender a ler também o que não está escrito, identificando elementos implícitos; que estabeleça relações entre o texto que lê e outros textos já lidos”. (PCN’s, Língua Portuguesa, ensino fundamental, p. 41). Ao ler um texto, o aluno resignifica-o de acordo com uma leitura prévia acerca do meio social que se está inserido. Se essa leitura for complexa e discrepante, irá tornar-se maçante e sem significados, sendo assim, o aluno não será capaz de associar textos, ou seja, a leitura, como uma forma de acrescentar conhecimento a sua vida dentro e fora do âmbito escolar e encaminhará para uma inabilidade do ato de ler. Para Kleiman (2002), a leitura consiste em representações que abarcam o significado do texto. Segundo a autora: A experiência do leitor é indispensável para construir o sentido, não há leutras autorizadas num sentido absoluto, mas apenas reconstruções de significados, algumas mais e outras menos adequadas, segundo os objetivos e intenções do leitor. (KLEIMAN, 2002, p. 23).
Para tanto, faz-se necessário uma compreensão do educador tornando-se um mediador do processo de leitura e interpretação. Porém, deixando o aluno livre para fazer suas próprias interpretações, sem infiltrar-se como uma figura autoritária e detentora do conhecimento e interpretação.
Muitos educadores possuem a criatividade e o ensejo de provocar mudanças mediante as formas organizadas e ordenadas propostas pelas escolas, contudo, atena-se para o que Kleiman (2002) vem nos informar que embora estes profissionais almejem mudanças, não há um preparo em sua formação, nem tampouco, um curso direcionado para esta área em específico. À vista disso, algumas escolas também têm o poder de (pre)definir o que será ministrado e as formas que se encaminhará o processo de ensino. Por vezes, os elementos inseridos não levam o aluno a obter o prazer pela leitura, os fazendo enxergar como uma forma obrigatória e cansativa. Com essa “política” adotada nas instituições, permeia ao costume e alienação.
Os alunos aprendem que para se ter um bom aproveitamento, é necessário seguir com essa maneira maçante. Surgem então as dificuldades para o educador, mediante as indagações enfatizadas pelos próprios educandos quando há a aplicabilidade de gêneros textuais, mormente, textos que tenham como intuito interpretação de significados e sentidos. Provocando um conflito nestes (educandos) por não compreenderem o sentido do ensino, pois não assimilam essa “nova” forma de ensinar, ao passo que entendem que a veracidade do aprendizado, recorre apenas à forma ortográfica envolta na gramática sem observar os meandros que os levam para uma forma dinâmica de leitura, sendo assim, não desenvolvendo-se para outras áreas de ensino/aprendizado, intermediando texto/contexto e dificultando seus interesses inclusive, como cidadãos.
Em Oficina de Leitura: Teoria e Prática, Angela Kleiman refere-se a cinco conceitos de leitura que a escola atualmente emerge e aplica de forma fechada, que não faz com que o aluno se detenha ao ato de interpretar, pensar, observar e adquirir gosto pelo que está sendo lido, nem tampouco, unindo texto e contexto intermediando com outros sentidos e significados de mundo e interdisciplinar.
O primeiro conceito dar-se pelo “texto como conjunto de elementos gramaticais”. Esse conceito enfoca na utilização do texto como pretexto para inferir aspectos de ordens gramaticais em que possui um significando, desprezando assim, o contexto.
O segundo recai sobre “o texto como repositório de mensagens e informações”. Consiste em fazer com que o aluno leia um texto e retire palavras soltas para dar significados. O grande problema desse conceito está envolto em uma indagação: Que tipo de aluno crítico se formará, mediante a esse conceito imposto pela escola? Citando Kleiman No livro didático encontramos várias outras manifestações da visão que acredita na extração da mensagem através do domínio das palavras. A própria divisão que se faz regularmente entre compreensão das palavras (ou do texto) e interpretação do texto é reveladora dessa postura. Também a prática de examinar o significado absoluto das palavras é decorrente dessa mesma visão. (KLEIMAN, 2002, p. 20) Dessa forma, este aprendiz dificilmente conseguirá compreender de forma coerente e completa o sentido de um texto que não esteja fragmentado. É necessário, mais uma vez, enxergar o contexto e não só, palavras livres. “A leitura como decodificação” abarca o terceiro conceito ditado por Kleiman. Este conceito não induz o aluno a pensar ou interpretar. Baseia-se no simples ato de “perguntas e respostas”, das quais tais respostas já estão no próprio texto. Como se interessar por algo já pronto, que inibe a criatividade e o intuito pensante? Qual a relação que o indivíduo conciliará mediante as suas próprias indagações? Não há como correlacionar interpretações próprias em uma leitura decodificada, visto que, o espaço para esse elemento didático encontra-se fechado por “muitas informações” fornecidas.Tratar a leitura como “método de avaliação” inibe a satisfação e o desejo do aluno pela mesma. Pois envolve inúmeros significados que este tende a lidar mediante a uma forma avaliativa. Á vista disso, reflete-se o quarto conceito estimado por Kleiman. Se o nosso objetivo for verificar se o aluno conhece as letras, se automatizou as correspondências entre som e letra, se conhece o valor dos símbolos usados para pontuação, e se dermos tempo prévio à leitura em alta para fazer uma leitura silenciosa, então a leitura em voz alta pode ser a melhor forma de avaliar esse conhecimento. Entretanto, essa atividade não é sempre necessária, sendo até contraproducente se o nosso objetivo for ampliar o vocabulário visual de reconhecimento instantâneo, ou desenvolver os hábitos típicos do leitor proficientes na atividade solitária que caracteristicamente nem balbucia as palavras nem as declama. (KLEIMAN, 2002, p. 22). O aluno, no momento dessa leitura, agrupa a pronuncia, dialeto próprio e a linguagem de forma padrão. Sendo assim, sufocando-o e intimidando-o mediante uma determinação imposta.O último conceito permeia “a integração numa concepção autoritária de leitura”. Em que o conhecimento (prévio) de mundo do aluno é deixado de lado e suas interpretações não são avaliadas, pois, o professor e/ou o autor têm a apreensão do que é certo e errado. Porém, como aplicar uma teoria de certo e errado em uma sala de aula em que compõe-se várias mentes pensantes de forma distinta? A utopia que se forma diante de apenas uma compreensão textual reduz e rompe a maneira de se expressar do aluno.Para se ter uma compreensão do ato (e hábito) do aluno adquirir a leitura como compatível e apreciativo, na escola, é fundamental que o professor posicione-se a direcioná-lo para livros que conversem com o mesmo e que estejam (os livros) inseridos em seu contexto social e cultural. Pois ganhando significado, essas leituras irão tornar-se produtivas e compreensivas. Consequentemente o desejo de ler, saber e aprender estarão presentes de forma notória, pois é uma realidade próxima. Dessa forma, o aluno saberá interligar o seu conhecimento prévio ao novo saber e assim conduzirá melhor suas leituras interna e externas a escola. 4. O conto A Rosa e o Rouxinol de Oscar Wilde: diálogos entre o ensino literário e o social A Era Vitoriana foi um período de enorme desenvolvimento na Inglaterra, crescimento sustentado pelas colônias de exploração na África, Ásia e Oceania, além do ápice da Revolução Industrial que proporcionou novas técnicas de produção. Durante a Era Vitoriana, houve uma restauração do prestígio da Coroa Inglesa e o acumulo de riqueza da classe burguesa. Foram impostos valores morais e éticos muito rígidos, além de repressão e sanção a todos aqueles que se opusessem as ideias vitorianas. Esse regime perseguiu as pessoas que não seguiam os valores morais propostos. E através disto, Wilde nos traz reflexos de sua visão da época supracitada em suas obras.No conto A Rosa e o Rouxino, Oscar Wilde dá-nos uma impressão inicial de que o conto é sobre o verdadeiro amor, no entanto, ao fazermos uma leitura mais detalhadas percebemos o tom de ironia que permeia no texto. O aparente romance entre um estudante e uma moça mostra-nos quão superficial é o amor baseado em compensações materiais (felicidade material), enquanto o enredo ironiza o sacrifício do rouxinol, que é a única personagem de amor puro e incondicional. No início do conto temos uma impressão de que o estudante possui um entendimento sobre o verdadeiro sentido da felicidade. Ele compreende que a felicidade não depende de coisas insignificantes e simples, como por exemplo, uma simples rosa. No entanto, ele deseja ardentemente encontrar uma rosa vermelha para tornar possível seu desejo de partilhar uma dança com a moça e demonstra o verdadeiro amor para a mesma. Neste conto entre outros como O Príncipe Feliz, O Gigante Egoísta, O Amigo Devotadoo escritor Oscar Wilde utiliza-se da estrutura do conto de fadas para refletir sobre a vida moderna e discutir sobre ideias impostas socialmente. Nos trechos abaixo notamos que,
“Ela disse que dançaria comigo se eu lhe trouxesse rosas vermelhas”, exclamou o jovem Estudante, “mas em todo o meu jardim não há uma única rosa vermelha”. (…) “Aqui finalmente, está um verdadeiro apaixonado!”, disse a Rouxinol. (…) “A Morte é um preço alto a ser pago por uma rosa vermelha”, lamentou-se a Rouxinol, “e a vida é cara a todos (…)Ainda assim o Amor é melhor que a vida, e o que é o coração de um pássaro comparado ao coração de um homem?” ( WILDE, 2013, p. 17,19)
Notamos na primeira parte um grande sentimento de recompensa material para obter-se a “verdadeira felicidade”, sentimento adquirido nesse período através do amor ao dinheiro. Porque a pobreza era vista como algo repulsivo e uma falta de moral da diligência, ou um estado desonroso. Apesar do Rouxinol no conto ser a personificação do sacrifício pelo amor, observamos uma nítida crítica aqueles que cidadãos que viviam em condições de vida que apenas permitiam racionalizar entre o trabalhar para sobreviver notamos isso pela exploração do homem pelo homem que iniciava se nesse período. Notamos um estudante proveniente de classe burguesa que não consegue compreender a necessidade de valorizar pequenos gestos. E uma moça materialista que compreende os sentimentos nobres através de aquisições materiais e mostra-se insensível diante do sacrífico alheio de mantê-la feliz. Há diversos pontos que poderíamos analisar como referencia a critica social decorrente no conto, mas vamos deter-nos ao questionamento de: como podemos desenvolver a leitura literária?
O livro Letramento Literário: teoria e prática do Rildo Cosson tenta responder essa questão entre outras. O autor Rildo Cosson defende a ideia de um ensino de literatura em escola básica como uma maneira de promover a escolarização da literatura em sala de aula. Rildo defende que o letramento literário é diferente da leitura literária como atividade prazerosa, entretanto depende dela. Para ele a literatura deve ser ensinada na escola não esquecendo seu valor social,
(…) devemos compreender que o letramento literário é uma prática social e, como tal, responsabilidade da escola. A questão a ser enfrentada não é se a escola deve ou não escolarizar a literatura, como bem nos alerta Magda Soares, mas sim como fazer essa escolarização sem descaracterizá-la, sem transformá-la em um simulacro de si mesma que mais nega do que confirma seu poder de humanização. (COSSON, 2012, p. 23)
O autor propõe que o letramento literário não deve resumir a aplicação apenas que o aluno desenvolva uma leitura e no final do processo realize uma prova avaliativa, porque o desempenho dos mecanismos que levam ao aluno a uma ótica compreensão e interpretação do texto proposto depende inteiramente, da escola.
A partir dessa proposta, devemos motivar-nos do caráter humanizador e social da literatura na vida dos alunos, porque “o texto literário é o meio através do qual somos permitidos a compreender e vivenciar, através da experiência do outro (COSSON, 2012,p. 17). Por este motivo faz-se necessário o ensino de obras literárias que formem um caráter argumentativo e crítico no aluno. Sempre valorizando sua visão de mundo e conhecimento prévio sobre os temas que serão discutidos através da leitura literária em sala de aula.
Considerações finais
Consideramos que para ampliar o ambiente de interação entre o leitor e o autor faz-se necessário respeitar as interpretações do universo de leitura e as dificuldades dos alunos e, procurar uma compreensão melhor deste vasto território.
Esta reflexão leva- nos ao universo de redescobrimento do leitor e do leitor literário, com as palavras e seu método de interpretar no simples ato de ler o texto e atribuir um sentido novo. Porém, muitos alunos possuem dificuldades de interpretação e compreensão dos textos.
Muitos educadores colocam a responsabilidade maior da democratização da leitura e escrita, unicamente as escolas. No entanto, há uma exclusão social na qual os métodos para avaliar esses dois elementos são taxativos, controladores e ditadores ferindo muitas vezes o universo de criatividade, criticidade e interpretativo que traz ao ambiente escolar e ao próprio leitor/escritor.
Alguns educadores estabelecem este “consenso” como um padrão a ser seguido sobre o que é certo e errado no ato de ler um texto, ou quando depara-se com uma obra literária, criando na maioria das vezes um controle na aquisição das práticas de leitura e interpretação do leitor. Controlando a originalidade e desprendimento dos leitores ao mergulharem no mundo lúdico e imaginário, assim como, bons escritores. É perceptivo que esta postura retarda a autonomia do leitor e a liberdade de escrita, dessa forma, inibindo sua individualidade, pois não são respeitadas e valorizadas.
Oscar Wilde, escritor e dramaturgo, possuía ideias contra o regime moral imposto pela sociedade, por tal motivo criticou ferozmente em suas produções literárias a hipocrisia, o egoísmo, hábitos, vícios da sociedade burguesa. Seus contos infantis retomam a estética e estrutura dos clássicos contos de fadas criando uma atmosfera de fantasia e escape da realidade, no entanto, a representações dos sujeitos oprimidos e colocados à margem na sociedade são explicitamente visíveis. Ele tocou na ferida do moralismo burguês sem excluir o belo de sua arte. Apesar de sofrer sanções e interdições por defender posturas contrárias aos padrões da sociedade vitoriana.
Notamos a necessidade do ensino de seu trabalho em sala de aula, devido a vasta possibilidade de leitura polissêmica, proporcionando aos alunos o rompimento das fronteiras de língua, tempo e espaço, e estabelecendo um intercâmbio cultural. Os conteúdos de suas obras contrapõem a maneira controladora e intolerante, que inibem a interpretação e o imaginário do aluno. Em “A Rosa e o Rouxinol” observa-se temas em que pode-se associar aos que os jovens vivenciam. Amor, juventude, ingenuidade e sacrifício, são questões que recaem na hodiernidade, fazendo com que o aluno reflita e consista em significados mediante suas próprias experiências e conhecimentos prévios de mundo.
Faz-se válido comentar que a importância no ato de ler terá valor no sentido de formação dos conceitos do ser humano. Seu envolvimento singular, sela em muitos sentidos o desenvolvimento acadêmico dos mesmos. Pois a aprendizagem de leitura frequentemente ensinada em sala de aula, formará um verdadeiro leitor ou não. Tudo dependerá dos meios que são desenvolvidos para realização da veiculação destes textos nas escolas.
Referências
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COSSON, Rildo. Letramento Literário: teoria e prática. Ed. Contexto. São Paulo. 2012.
KLEIMAN, Angela. Oficina de Leitura: Teoria e Prática. Ed. Pontes. São Paulo. 2002
WILDE, Oscar. Contos Completos. São Paulo. Landmark.2013.
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A VIA CRUCIS DA CARNE: O SUBSTRATO ERÓTICO EM CLARICE LISPECTOR
Por: Rayssa Kelly Santos de Oliveira (UFPB)
Ivanildo da Silva Santos (UFPB)
Resumo
Ao nos inclinarmos sobre as questões de gênero e sexualidade, notamos o potencial do discurso feminino de promover a visibilidade e a legitimidade das mulheres. A partir das representações políticas e ideológicas do movimento feminista, outras minorias organizaram-se para questionar os discursos e as estruturas que reduzem os indivíduos a classificações estáveis e permanentes. Numa sociedade violenta como a nossa, os sujeitos que se mostram anômalos aos padrões erguidos pela matriz heterossexual são interditados, subalternizados e, ferozmente, negados. Através de uma escrita intimista e feminina, Clarice Lispector inaugura um estilo que ultrapassa os modelos hegemônicos sobre o corpo e a sexualidade. Sua linha poética transgride e desestabiliza o pensamento patriarcal. Deparamo-nos, em sua obra, com uma via de acesso à alma de personagens masculinos e femininos. A linguagem assume uma dimensão de experiência-limite que Bataille (2014) denomina de o “gozo sagrado ou místico”. O presente trabalho, nesse contexto, tem o propósito de adentrar no território lispectoriano, em especial, no conto O Corpo, no qual investigaremos os enlaces ideológicos acerca do gênero e sexo que, ainda, repercutem na sociedade. Nosso arcabouço teórico compreende os estudos de Judith Butler (2010), Michel Foucault e Guacira Louro (2008).
Palavras- chave: Sexualidade, Gênero, Feminino
Introdução
Neste trabalho buscaremos estabelecer um dialogo com o papel da Literatura comoforma de representação da sociedade, bem como utilizar referências bibliográficas que deemrespaldo à importância da obra literária em seu caráter representativo e determinante nasrelações de papeis de gênero. Procuraremos tornar visíveis as relações de poder que exaltamuma forma de sexualidade em contraste com a outra. E como essas relações de poder entresexo e gênero procuram ir além de uma busca por uma identidade sexual fixa e estável? Comoas experiências, dilemas e escolhas apontam para uma relação sexualidade/discurso?Buscando um diálogo com as relações de poder que o discurso sobre a sexualidade utilizapara regular e domesticar corpos e indivíduos numa sociedade heterocêntrica.
A partir de uma concepção de que a Literatura apresenta uma problematização eexpressão dos papeis sociais, conforme Antonio Candido (1980). Com os olhares voltadospara a forma como a Literatura representa e constroem os sujeitos desviantes, e de como arelação à Literatura e Sociedade expandem seus olhares e fronteiras para as relações degênero,do domínio do discurso da sexualidade, focando nos processos de construção dasidentidades sexuais e como seus papeis desenvolvem na sociedade. Tendo em vista que porsua vez estabelecer um diálogo com a Literatura e as demais ciências humanas e sociaisproporcionando uma compreensão dos valores e crenças que expressam e constituem a vidacotidiana dos sujeitos.
Dessa forma, atentaremos para a formação das subjetividades procurando traçar um diálogo entre os discursos que regulam as práticas sociais,bem como, rotulam sujeitos como"anormais" e “ilegítimos”.
2. Literatura e Sociedade: Um caráter representativo dos papeis sociais de gênero na sociedade
A literatura possui laços estreitos com a sociedade, porque expressa os dilemas erealidade do homem em determinado espaço e tempo histórico. A Literatura impulsiona oleitor a colocar-se no lugar do outro explorando o raciocínio e imaginário. Nessa perspectivaatentamos a capacidade que a Literatura possui de tocar em temas relativos à história e arealidade social de comunidades e grupos retratando através do texto, os costumes, normas,opressões, submissões, e a cultura e organização política e social de determinada região. Elatem um papel fundamental nas construções e desconstruções de paradigmas. Em virtudedisso, através de seus textos de ficção podemos perceber as representações dos sujeitos queocupam as ilegitimidades, desigualdades, subversões numa sociedade. A Literatura é umainvenção do cotidiano e articula entre discursos e práticas sociais.Representando as posições e relações de indivíduos através de como são concebidas ecategorizadas na sociedade brasileira.Como afirma-nos Antônio Candido, no artigo O direitoà literatura: “(…) uma literatura empenhada, que parte de posições éticas, políticas, religiosasou simplesmente humanistas.(…) [ situações em que o autor] parte de certa visão da realidadee a manifesta com tonalidade crítica” (CANDIDO 1995, p.250). A Literatura “empenhada”está engajada em descrever as brechas de desvios que permite “os dominados interiorizaremsua própria inferioridade ou ilegitimidade” (CHARTIER, 2010, p.47). A Literatura propõeuma análise das “formações discursivas” que regulam e normatizam o “prazer de saber” sobreo sexo.
Nessa perspectiva, a literatura teria a como principal missão “ser a estratificação da vida de um povo e participar da melhoria e da modificação desse povo” (ANTONIO, 1976,p.14).
3. Corpo: A linguagem como representação dos corpos sexuais “O corpo” de Clarice Lispector
O conto “O corpo” pertencente à obra A Via Crucis do Corpo publicado em 1974, composto por 13 contos. A obra desvincula-se do estilo comumente encontrado em trabalhos anteriores da Clarice Lispector. Notamos que este distanciamento da obra em comparação a outros da autora deve-se ao fato dos conteúdos dos temas abordados serem considerados “desviantes”, “transgressores” e desviarem-se da norma social da época.
A personagem principal deste livro é o corpo feminino e as direções (vias) que este perpassa pelo desejo e como clama pela liberdade de si e do outro. É um corpo feminino que reconstrói estratégias que reagem diante dos interditos que lhes são impostos pela sociedade patriarcal ao qual encontra inserido. A sexualidade é tratada como algo livre, em construção e transformação. Gradativamente, nas narrativas dos seus contos percebemos estes sujeitos em “deslocamento, desenraizamento, trânsito” (LOURO, 2008, p.13). Segundo Louro, são sujeitos fragmentados e divididos enveredando numa viagem em que “não há um lugar de chegar, não há destino pré-fixado, o que interessa é o movimento e as mudanças que se dão ao longo do trajeto”(LOURO, 2008, p.13).
A obra A Via Crucis do Corpo celebra um corpo transgressor que desvincula da naturalização imposta ao sujeito através dos discursos construídos na sociedade. Os contos abordam uma sexualidade sem pudor. Os temas abordados nas narrativas são sobre adultério, homossexualidade, bigamia, bissexualidade, crimes e desejo sexual na 3° idade. A voz feminina descrita nas histórias desta obra revela uma mulher como detentora do seu desejo e não como objeto de desejo e satisfação masculina. Critica a autoridade machista e opressora que subjuga o corpo feminino a satisfação do desejo sexual masculino. Clarice Lispector mostra-se ousada ao publicar um livro como este, tendo em vista o período de repressão, censura e ditadura militar que o país enfrentava. Devemos lembrar que o movimento feminista colocava-se como resistência ao período da Ditadura Militar no Brasil.
Clarice Lispector, compreendendo a repercussão que sua obra teria em comparação com seus trabalhos anteriores. Escreve-nos o primeiro texto da obra com o título de Explicação para justificar-se ou (talvez não) da responsabilidade do conteúdo de seus textos que afrontavam tantos tabus da época. Ela diz-nos em Explicação que o livro foi uma encomenda do seu editor, e que se tivesse sido permitido teria o publicado com o pseudônimo de Cláudio Lemos. Entretanto, percebemos ao longo de Explicação que Clarice está muito satisfeita e livre para debruçar-se em temas polêmicos “Que podia fazer? senão ser a vítima de mim mesma.” Sendo assim, este ser “inliberto” da narrativa de Explicação cumpre seu papel de abordar temas tão silenciados na sociedade luso-patriarcal brasileira da época em que foi publicado. Clarice é irônica em Explicação ao dizer que é uma encomenda, já que a intenção é de que circule entre a sociedade burguesa e preconceituosa. No entanto, notamos que A Via Crucis Do Corpo com sua temática transgressora contrapõem-se a visão de uma obra meramente comercial, já que seus conteúdos não são temas tão populares para época.
O conto que será analisado é O Corpo que encontramos neste livro transgressor. No começo do conto existe um relacionamento amoroso entre Beatriz, Carmem e Xavier. Eles possuem um triângulo amoroso que é muito sólido. Xavier é descrito como um homem truculento e sanguíneo. Apreendemos que os adjetivos inseridos na narrativa remete-nos aos estereótipos agregados a cultura machista ocidental que associa a masculinidade à virilidade, agressividade e porte físico. Devendo demonstrar valentia e dominação sobre os mais fracos e covardes. Entretanto, além de descrever os personagens o início do conto situa-nos como é abordado o sexo no livro. O narrador tenta fazer-nos crer que a relação bígama de Xavier é algo naturalizado e aceito “Na noite em que viu O último tango em Paris foram os três para cama: Xavier, Carmem e Beatriz. Todo o mundo sabia que Xavier era bígamo: vivia com duas mulheres” (LISPECTOR, 1998, p. 21). Em todo o conto notamos referências à alimentação e apetite sexual. O relacionamento de Xavier, Carmen e Beatriz perde a estabilidade no momento em que descobrem uma prostituta que Xavier visitava frequentemente.
O papel feminino de Carmen e Beatriz não é orientado pelas convenções e interdições imposta a mulher na sociedade. Porque ambas quebram as convenções sociais que permite que numa relação amorosa haja só dois sujeitos. Além de descontruírem a concepção de casal e família. A partir deste contexto a narrativa faz duras críticas as instâncias ou Instituições (a Igreja, Estado e Família) que reproduzem interditos e convenções sociais aos sujeitos femininos. Bourdieu (2002) afirma que as estruturas de dominação “(…) são produto de um trabalho incessante (e, como tal, histórico) de reprodução, para o qual contribuem agentes específicos ( entre os quais os homens, com suas armas e violência física e violência simbólica) e instituições, famílias, Igreja, Escola, Estado” (BOURDIEU, 2002, p. 22).
Logo após terem a decepção com Xavier, as duas tornam-se cada vez mais unidas. A relação entre os três tornou-se monótona, passaram a desprezá-lo. Após refletirem decidem cometer um crime: matar Xavier. A narrativa ajuda-nos a compreender o quanto as personagens femininas desmoronam o perfil socialmente aceito pelo feminino. Elas mostram-se ativas, planejam a morte do amante como uma forma de anteciparem-se para o pior. No trecho abaixo observamos a relevante (des)construção e transgressão das personagens:
Foram armadas. O quarto estava escuro. Elas faquejaram erradamente, apunhalando o cobertor. Era noite fria. Então conseguiram distinguir o corpo adormecido de Xavier. O rico sangue de Xavier escorria pela cama, pelo chão, um desperdício. (LISPECTOR, 1998, pág. 26)
Para Judith Butler (2010), o sujeito é um ser em processo que é construído discursivamente pelos atos que realiza. Sendo assim, o gênero não é natural. Em seu livro Problemas de Gênero, comenta que a mesma busca uma desconstrução das identidades-padrão propondo um pensamento mais abrangente empreendendo uma mudança epistemológica. A teórica considera a sexualidade como um objeto socialmente construído. Seu objetivo é apontar a “incoerência” da identidade de gênero, porque as normas regulatórias do sexo pressupõe uma necessidade de adequar aqueles que serão sujeitos “abjetos” ( aqueles que escapam do ideal normativo).
O sujeito desviante será colocado a uma margem de exclusão na sociedade por desviar sua rota da trajetória “normal”. Sua transgressão aos planos pré-definidos o colocará na posição do “outro”: o diferente, o marginal, o subversivo. Mas será que este “corpo” assumirá os padrões que regem sua cultura? Nas palavras de Louro (2008, pág 16), “para eles e para elas a sociedade reservará penalidades, sanções, reformas e exclusões”.
“ (…) Como as linguagens leigas e científicas que difundem a ideia de “natureza”, e assim produzem a concepção naturalizada de corpos sexuais distintos, a própria linguagem de Wittig cria uma desfiguração e redesenho alternativos do corpo. Seu objetivo é mostrar que a ideia de um corpo natural é um construto, e apresentar um conjunto de estratégias desconstrutivas/reconstrutivas para configurar corpos que contestem o poder da heterossexualidade. O molde e a forma dos corpos, seu princípio unificador, suas partes combinadas são sempre figurados por uma linguagem impregnada de interesses políticos. Para Wittig, o desafio político consiste em tomar a linguagem como meio de representação e produção, tratá-la como um instrumento que constroi invariavelmente o campo dos corpos e que deve ser usado para desconstruí-lo e reconstruí-lo, fora das categorias opressivas do sexo.”( BUTLER, 2010, pág. 181).
Assim, compreendemos que o sujeito mulher e homem são construídos discursivamente pela sociedade residindo como única diferença em seus corpos a anatomia. A partir desta diferença biológica que foram construindo identidades sexuais masculinas e femininas dentro da sociedade. De acordo com Louro (2008), este processo já começa desde a descoberta do sexo biológico do bebê “a afirmação é um menino ou é uma menina inaugura um processo de masculinização ou de feminização com o qual o sujeito se compromete” (LOURO,2008, p.15). A partir deste processo os corpos passaram a obedecer às normas que regulam sua cultura.
O momento culminante do texto é a descoberta do corpo de Xavier pela polícia no jardim. Entretanto, algo surpreendente acontece há um descaso pelo crime cometido pelas duas e a solução indicada pelo policial é inusitada: “Vocês duas (…)arrumem as malas e vão viver em Montevidéu. Não nos dêem maior amolação”. E as duas mulheres disseram: “muito obrigada. E Xavier não disse nada. Nada havia mesmo a dizer”. (LISPECTOR, 1998,p.28).
O leitor encontra no final do conto nem moral da história, tragédia tradicional e arrependimento. Talvez porque esta tenha sido a ideia do autor, através de um profundo vazio questionar os valores silenciosamente confrontados na narrativa desde o início do conto. Deste modo como podemos perceber o sujeito é construído através de discursos, deste modo o ser/tornar homem ou mulher estão inseridos nestes processos construtivos impostos pela sociedade.
Considerações Finais
Tendo em vista da análise que realizamos, o conto O Corpo de Clarice Lispector é uma ótima referência da desconstrução da identidade de gênero imposta pela sociedade. Mesmo que o livro A Via Crucis do Corpo, coletânea de contos no qual O Corpo está inserido, seja menos aclamado que as outras obras publicadas pela Clarice, podemos notar seu teor politizado e reflexivo tendo em vista o contexto social em que foi lançado.
Através da análise percebemos como as personagens Xavier, Carmem e Beatriz são transgressores. Eles fazem o leitor questionar a família, as relações amorosas e sexualidade. Ambos são corpos que flutuam, escapam e deslizam as normas impostas pelo seu gênero sexual construído.
Carmem e Beatriz reviram os conceitos naturalizados impostos pelas instituições que regulam a sociedade quando decidem assumir uma relação bígama com Xavier. Além de serem donas do próprio desejo e corpo.
Deste modo, compreendemos que os temas abordados no conto são abrangentes permitindo-nos questionar o silêncio que é imposto aos indivíduos que são desviantes na sociedade patriarcal. Além de questionar os conceitos de sexo/gênero/identidade.
Referências
BOURDIEU, PIERRE. A dominação masculina. Tradução, Maria Helena Kürhner. 2° ed. Bertrand Brasil. Rio de Janeiro, 2002.
BUTLER, JUDITH P. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução, Renato Aguiar. 3° ed. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 2010.
LOURO, GUACIRA LOPES. Um corpo estranho - ensaios sobre sexualidade e teoria queer.1 ed. Belo Horizonte. Autêntica, 2008.
LISPECTOR, CLARICE. A via crucis do corpo. Rocco. Rio de Janeiro, 1998.
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— Acho que há momentos tão íntimos, nosso, que eu acabo beijando sua alma sem nem tocar seus lábios ou qualquer parte do seu corpo. Te beijar, em todos os níveis, é ter um doce que eu nunca vou conseguir encontrar nas mais intensas buscas. É um doce peculiar, aquele que só eu posso sentir. Eu me atrevo a dizer que é quase particular. O adocicado feito sob (des)medida, que vem de você para mim, feito com sabor singular. Eu amo seus beijos, até, sobretudo, aqueles que tocam a alma.
Rayssa Oliveira ✫
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— Você já sentiu um vazio tão profundo do qual encheu-se tanto ao ponto de te transbordar? É, daqueles que te sufoca e faz com que sinta dificuldades para nadar. Como se o mar estivesse próximo da lua e sua intensidade fosse arrebatadora ao chegar à beira mar. Os vazios cheios são os piores. Porque você percebe que mesmo algo estando preenchido, você continua com um buraco desocupado que te puxa para ondas impetuosas.
Rayssa Oliveira ✫
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— O problema é que eu insisto em permanecer em um lugar do qual sei que não me pertence mais.
Rayssa Oliveira ✫
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— É domingo de manhã e eu posso te sentir dentro de mim, daquele jeito que nós fazíamos ao acordar. Sua cara amassada de sono, o desejo dos teus olhos nos meus, o seu corpo abraçando o meu como se fôssemos um só naqueles lençóis que sumiam sem que percebêssemos num segundo de entrelaço. Internamente, meu corpo grita transbordando cada pedaço seu, é, rememorando seu jeito singular, do qual não há troca, sem medida. Na verdade, a desmedida era certa. Mas meus olhos... Ah, esses gritam em silêncio.
Rayssa Oliveira ✫
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— Nunca se deixe levar por um pensamento medíocre acerca de você mesmo. Nunca acredite em uma fala rodeada de hipocrisia a seu respeito. Jamais admita que alguém lhe diminua e o faça pensar ser errado e causador de intrigas. Nunca aceite que o próximo te veja com olhos e coração ruins. Caso contrário, será sugado dentro de si mesmo. Esteja com alguém que tenha você como bons fluídos, com pensamentos benéficos. Que veja o seu coração, que enxergue seus sentimentos e abarque teus sofrimentos. Seja alguém capaz de perceber tais elementos a tempo de agir de forma imediata. Não acredite no vazio, não mergulhe no raso. Afunde-se no mar de prazeres e boas percepções que o outro fizer de você. Afogue-se neste. Este é propício. Este é amor.
— Rayssa Oliveira ✫
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— Eu construí meus alicerces em pedaços de madeiras duvidosas, estão prestes a desabar, como se cupins tivessem se alimentado de cada partícula que a compreende. Alimentaram-se de mim.
Falha construção de si — Rayssa Oliveira ✫
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— No beco dos prazeres, desejos e importâncias encontra-se também o querer.
No infinito do caminho — Rayssa Oliveira ✫
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