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revolucionar-se · 7 years
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Swallow 1957
Salvador Dali
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revolucionar-se · 7 years
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CARNAL
a carne é feminina pois é rosa está na carne o segredo do que é ser mulher encarna um personagem em um espetáculo recebe as dores como teu aplauso a carne encardida do mercado é preciso coragem para ser mulher e sentir teu dia amaldiçoado seria a semana, seria o mês ou o ano? é quase a vida inteira é na carne que se encarna a santa (ou a puta) que não conseguimos jamais ser no carma de interpretar seu papel ser irmã e amante, mãe ou transa jamais humana ser humano é outro patamar precisa ser homem, precisa de masculinidade precisa ser hétero até a carne e as outras carnes, abusar cuspir, xingar, matar, estuprar até a carne sangrar sem generalizar, é claro a gente precisa ter cuidado mas era na carne tatuado no mundo o meu lugar precisa de coragem pra ser mulher e coragem não é dom a gente ganha depois de alguns hematomas depois de uma ou outra mão boba depois de um salário diferente depois de ter sua identidade negada depois de levar uma lampadada depois de pelo asfalto ser arrastada depois de pela polícia ser espancada depois de pelo namorado ser assassinada e pros cachorros, oferecida mastigando a dor até a carne encascora a pele de mais um dia carne gostosa, carne macia carne bela na cama carne jamais admirada file mingnon e peito, o cérebro é miúdo desnecessário que seletivo é o açougueiro! selecionando o melhor corte pro mercado e na janta se olha o formoso corpo carne é produto e propriedade solte-se apenas na cama na mesa, no prato em público, é pecado que beleza essa carne em seu prazo de válidade mas carne precisa ter qualidade e muda, encarna o papel de mulher viver seu destino manifesto sangrando do coração ao cérebro para ser, apenas o que o açougueiro quer
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revolucionar-se · 7 years
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PILLOW TALK
Não, você não entenderá o que eu estou fazendo aqui. Parada a sua frente, enquanto você me olha como quem enxerga uma incógnita, ou como quem enxerga um objeto de desinteresse. E se indaga, se eu serei histérica, como presumira tantas vezes que as mulheres seriam. Eu digo que não. 
Senta, fuma um cigarro, beba do vinho. É barato, você sabe, eu prefiro vinho seco ao suave, meu cigarro não tem sabor, o sexo comigo é demorado, eu vivo nessa linha tênue entre exagero e intensidade. Mas talvez você não saiba, talvez você não enxergara algo além do horizonte de minhas curvas, ou todo o resto que vem junto com o que tenho entre as pernas. Embora, pensando bem... Não seja sua obrigação, ou a minha, mas eu gosto dessas coisas, sabe? Eu gosto de intensidade, de olhar além do sexo, de sentir prazer ao ouvir histórias, ideias. 
Para mim, pra ser sincera, isso tem me dificultado muito as coisas. Funciono além do tato e visão. E existe uma incompatibilidade, nesta troca. Eu tenho mais a oferecer que meu corpo, mas você sempre me chamara de gostosa. É um elogio e tanto, mas não é o suficiente, não é? Ser apenas gostosa me limita, não se encaixa sozinho em tudo que eu sou, em tudo que eu seria, em tudo que eu possa ser. Gostosa... Eu poderia te chamar de gostoso também. Mas sejamos sinceros, não bastaria, bastaria? Eu te enxerguei, entende? 
Estreitei os olhos, apertei-os da melhor forma que podia. Enxerguei gostos e vontades, manias, humor, ideias e inteligencia... Beleza, sorrisos, olhares. Enxerguei sensualidade, estreitei os olhos e enxerguei bons pensamentos, alegria. Enxerguei beleza também, mas ela se misturou com tudo, numa revoada da manhã, e o céu fundiu ao mar, e a cidade era o nosso lugar. Eu e você. Você enxergou meu corpo. Você diz que é bonito, mas eu não me importo com isso na realidade. É banal, um corpo bonito é por muitos identificado, é visto nas fotos, ao balançar-se nas ruas, nos mistérios da roupa. Um corpo bonito é apenas um corpo. Um corpo bonito é apenas uma lembrança.  
Você me olha como quem não entende, jamais entenderá. E eu me faço presente para lembrar que eu poderia ser mais que um corpo, não é? Eu fumo meu cigarro de forma charmosa, mas a verdade é que é triste. Eu caminho de cama em cama, esperando ser enxergada. Ser mais que um sexo maravilhoso. Dei as mãos para a intensidade, para a profundidade, para meus olhos que estreitam-se para ver tudo que não pode ser visto a olho nu, nada que é mostrado numa mesa de bar, numa cama as cinco da madrugada. E sigo... 
Não busco coisas que não estejam lá, não insisto aonde não sou bem quista, sigo e não olho para trás, sigo bebericando de fontes que não podem me saciar. Mas sou um grande amontado de amor por baixo de uma pose blasé, que se desmancha nos primeiros clarões de sinceridade. Embora você não saiba, eu sou deveras romântica. Eu penso sobre amor e cumplicidade, carinho e identificação. Meu sorriso poderia transmitir tantas coisas, meu querido. 
Mas agora já passou. Você provavelmente não lembrará destas palavras, será que algo que saiu de minha boca, você se lembrará? Acenda um cigarro, não importa. Vamos transar então.
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revolucionar-se · 7 years
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Lo que el agua me dió
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Eu pensei em me matar em várias ocasiões. O pensamento sempre ocorria, e em minha mente eu planejava: seria melhor dessa forma, em tal dia. Eu poderia disfarçar como um acidente, não poderia. Deixaria uma carta, ou apenas um bilhete? Seria melhor não dizer nada. Seria melhor dizer um adeus. Se matar não é um ato de coragem, afinal de contas, eu não teria coragem, pelo menos hoje não, e talvez eu nunca tive, talvez ninguém tenha. Suicídio é questão de coragem? Não, é questão de desespero.  
Quando eu tentei me matar, eu não planejei. A tentativa veio, fruto de uma crise devastadora que senti em uma manhã de sexta-feira. Fazia sol, eu inclusive estava arrumada, maquiada, pronta para sair para trabalhar, e aos poucos me sentia torpe, não conseguia sair de casa, me senti profundamente deprimida e cheia de um vazio aterrador, aonde meus membros não me respondiam, eu não conseguia sair de casa. Por quê eu não conseguia sair de casa? E tudo, tudo foi ladeira abaixo, quando aquele torpor encontrou-se com a ansiedade, e a ansiedade soprou em meus ouvidos todas as possibilidades assustadoras que aconteceriam dali em diante. E um desespero, finalmente, tomou conta do meu corpo, soltou as amarras dos meus membros e eu corri atrás de qualquer coisa que pudesse me libertar. Primeiro, lembro de ter pego uma faca, e cortar todo meu antebraço esquerdo. Um leve alívio seguiu-se disso, mas não era o suficiente, não foi o suficiente para me acalmar, nem para me parar. Creio que nunca chorei tanto, as lágrimas não paravam de cair, minha perna não parava de mexer, meu coração batia, corroendo-me por dentro, como se nem ele, aguentasse estar em meu corpo. 
Finalmente, lembrei de todos os comprimidos que estavam na cozinha. Eu não pensei, apenas tomei todos, absolutamente todos. Eram mais de 60. Eu não tive coragem. Foi algo mais como desespero, não desejando a morte em si, mas a calma, como se o preço a ser pago não importasse. Finalmente, eu me acalmei. 
Acho que morri naquele dia. Vê, muitas coisas se desenrolaram desde então. Saí do meu corpo, voltei. A carcaça quase morreu e sobreviveu, de fato, mas eu morri naquele dia. São coisas assim que me fazem questionar cada situação que me coloco, cada pingo que tange cada parte de minha essência. Suicídio não é coragem, morrer, de fato, ninguém quer. Mas existem amarras, correntes que se enrolam em nossa volta. Nos prendem e nos impedem de tomar qualquer atitude. De viver, de fato. De sentir toques, de sorrir, de mudar nossas vidas. Mergulhar nas águas de si mesmo e de outros, e sair molhado com tudo de bom, não só o que há de ruim. 
Eu morri naquele dia. Entre parar tudo e ver o que está errado, e profundamente refletir sobre si mesmo, olhando até o que há de podre em mim, eu joguei uma carcaça do alto de um penhasco. Eu matei algo que não funcionava. Eu embalsamei essas angústias que tomavam conta de mim. Eu nunca mais pensei na morte. Ou no cadáver que foi jogado nas águas do meu passado, e lá repousa. Não que as crises não existam mais, ou que a depressão e a ansiedade não caminhem por meu cérebro, mas elas agora estão em correntes, uma crise agora dura um dia, e existe firme em minha consciência que ela vai passar. Raramente existe desespero. Depois de um tempo, você as vê chegando, e sabe quando vão embora. Então prepara a sala, faz o jantar, deixa elas virem e sentarem à mesa, e você se deita na cama, fuma um cigarro, escuta som, vai se encontrar com um amigo, e espera sua meia-noite. O tempo não está contra nós, e as horas não arrastavam-se por minha pele. E eu me jogava nessas águas, agora, boiando um pouco. Esperando meu impulso, esperando minha mente tornar-se mais forte. Eu ondulei por muito tempo, e naufraguei. Mas eu morri naquele dia, aquele corpo está no fundo desse mar, aquele corpo, desesperado, não mais se afoga. Eu morri naquele dia, eu jamais esperaria ressuscitar. Fica afogado em minhas águas, a fragilidade do cotidiano, fica afogado em minhas águas, o medo de sair de casa, fica afogado em minha água, meu eu tão frágil, quebrado ao mais sútil toque, machucado na menor das dores. Fica enterrado nas profundezas de meu mar. 
Morrer não é sobre coragem, mas desespero. Quase morrer não é triste, na verdade, se olha tudo com outros olhos. Se vê cores que jamais poderiam ser vistas, se toca de forma mais intensa, se ama de forma mais bonita. Se está presente, com os pés fincados no chão, nas areias desta praia.
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revolucionar-se · 7 years
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revolucionar-se · 7 years
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revolucionar-se · 7 years
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Anulados
Eu tenho um sério problema em ser coerente. Ando pra cima e pra baixo com essa dualidade de sentimentos, metade de mim é positivismo puro, do jeito perigoso, daqueles que acredita na cena do filme bem água com açúcar. Vai dar tudo certo, o melhor emprego vai me aparecer, amanhã vai ser foda, eu sou tão linda que mal consigo me abraçar. A outra metade é negativismo doloroso. Daqueles que faz me perguntar por quê eu ainda me dou o trabalho. Entro em qualquer situação ou relação achando que vai acabar. Mal. Bem mal. Mal pra caralho. Vão haver lágrimas, provavelmente as minhas. Nesse oito ou oitocentos, me distancio. Um sério problema de coerência, que me faz ficar na retaguarda. Que me faz soar ensaiada, que me faz não dizer o que quero. Não sempre.
Tudo bem. As coisas ruins eu consigo falar. Consigo reclamar, perguntar, chamar pra briga! Parte de mim já espera que tudo eventualmente vá pra casa do caralho mesmo, que seja agora. Que seja na hora, que seja da pior forma. Vem, anda. Diz que não me quer, de uma vez. Diz que broxou. Diz que eu não sou tão interessante assim. Eu já espero mesmo. A caixa de e-mails vazia, o whatsapp apenas vibrando com mensagens de caras que só querem sexo. A caixa de cigarros prestes a acabar. O vinho que só falta um gole. Anda, diz que não me quer. A vida é essa cerveja vencida na geladeira. Vamos acabar com isso logo, talvez eu fique chateada hoje, amanhã passa. Meu lado negativo estava certo, pra variar, não é?
As coisas boas... Ah, essas eu guardo pra mim. Eu até poderia pedir carinho, companhia, atenção. Falar que gostei, que gosto, que quero, que sinto. Poderia degustar devagar, ao invés de acabar tudo de uma só vez. E minhas ondas engolem qualquer possibilidade. Eu quero conhecer, quero acariciar, tocar, sentir, rir, deitar no colo. Eu quero declamar minhas poesias em público, eu quero declamar meus sentimentos em voz alta. Eu quero dizer que eu não sei só foder, eu também sei gostar. Eu quero, mas pensando bem... Vamos evitar o elefante da sala, o baleia orca da cozinha. Que vêm nos lembrar que a reciprocidade jamais vai existir. Que ninguém vai gostar dos meus poemas, ninguém vai querer meu amor, ninguém sente minha falta no rolê. Os sentimentos bons, eu guardo pra mim. Afeto. Realização. Risadas. Eu vou amontoando, em uma gaveta qualquer do meu cérebro. Junto com tudo que eu poderia fazer e não fiz. O que eu poderia dizer, mas engoli a seco e entornei junto à uma cerveja em algum bar, ou traguei junto com algum cigarro em alguma cama. Eu poderia dizer, mas não consigo.
Essa minha espera de que as coisas apenas aconteçam. Na primeira resistência eu caio fora. E eu lá gosto de me foder? De me magoar? Vamos ficar assim, no plano das ideias. Boiando nas águas da covardia. Expressando meu afeto através de tretas, porque de alguma forma, sinto que é mais fácil de aceitar. Um gesto carinhoso e todo mundo fica meio sem jeito. E eu espero sem pedir, quero sem dizer, sinto sem mostrar. Escrevo sobre em algum texto ou poema, que talvez não seja lido, ou morra em algum caderno enfiado no armário do quarto.
Eu acendo um cigarro. Anda. Diz que não me quer. Diz que me quer. Ou apenas adivinhe minhas inseguran��as. Anda, que daqui eu não saio. Existe um mar de incoerência e neuroses. Inseguranças. Eu não sei dizer, eu só sei gostar, querer. Mas eu sou positiva e negativa demais, e entre esses dois sentimentos, eu me anulo em minha própria direção, me sabotando de qualquer sensação e oportunidade. Anulando meus passos e minha sinceridade. Me anulando na essência e minha personalidade. E nula, nesta incoerência, não há espaço para a atitude, mas o espaço vazio, me preenchendo por dentro, comendo todas as coisas boas que eu senti e esqueci de entregar.
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revolucionar-se · 7 years
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Woman Reading, 1970, Will Barnet
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revolucionar-se · 7 years
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Para P, com amor
Eu olhei em seus olhos, eu me perguntei o que me fazia gostar tanto dele. O me fazia sentir essa onda de empatia, de enxerga-lo? Creio que paixão, ou amor, seja isso, enxergar. Existia algo estranho, complicado, difícil, na história toda, mas quando estávamos juntos, era fácil. Era paz, mesmo naquele boteco do Vale do Anhangabaú, mesmo com a vozes flutuando em nosso redor. Eu me perguntei o que me fazia preservar aquele carinho, ou delicadeza. 
Gostar, de fato, é enxergar. Sem aquelas expectativas triviais no caminho, sem a espera por algo em troca, mas enxergar. Olhar aquele conjunto em sua frente, um universo de falhas e gostos, vontades, pele, rosto, sexo, qualidades, sorrisos, tristezas e dores. Enxergar e ser enxergado. Das músicas favoritas, à conversas sobre as coisas que mais detestamos. Eu acho difícil falar dessas coisas, são as marcas de cigarro que se tornam a nossa favorita. São as músicas que carregam um nome, são ruas que não pertencem mais à cidade, mas a minha história. 
Talvez exista um quê de conforto. Não são muitas pessoas que me deixam confortável, tirando meus amigos, e alguns familiares, conto dois ou três. Sempre fui meio insegura. Aparecer maquiada, bem vestida em uma mesa de bar é uma coisa, a gente finge que sabe de tudo um pouco, a gente entretêm, mas se mostrar de fato, sentir-se confortável para deitar em um colo invisível e deixar as falhas e dores apareceram como quem olha as estrelas... Não, eu nunca consegui isso de fato. E ali eu conseguia, me senti bela contando minhas dores, como quem se despe de uma roupagem pesada. Existia beleza nessa cumplicidade, nessa intimidade vinda do nada. Enxergar e ser enxergado. E da gentileza do olhar, minha pele sentia-se tocada. Os sentidos se embaralham. O olhar toca, o faro enxerga, as mãos escutam e os ouvidos são beijados. 
E das dores, minha vontade era de enterra-las, todas suas dores em minha pele. Enxergar, e o olhar jamais esquece. Deitar em um colo quente e sentir-se são. É contar de minha internação na clínica e não ser julgada, contar das angústias e não esperar conselhos, mas atenção. Sentir-se admirada pelas curvas do corpo, mas feliz porque meu cérebro jamais fora ignorado. Existe um lugar geográfico ao lado de alguém, um espaço invisível, onde só se é possível enxergar, estando lá. 
Eu não escrevo sobre paixões, não porque eu não aprendi a amar, mas não sei esquecer. Existe um carinho à distância, um medo de atrapalhar. Eu sei amar, sei me entregar e me jogar em águas desconhecidas para mim, mas eu nunca aprendi a voltar. Camel passou a ser meu cigarro favorito, vez ou outra durmo ao som de John Coltrane, olho as linhas de metrô e os destinos se perdem em minha mente, mas a memória toma conta. Mesmo não possuindo um toca discos, frequento lojas de vinil, e o centro de São Paulo, deixou de ser São.
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revolucionar-se · 7 years
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Mi nana y yo — Frida Kahlo
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revolucionar-se · 7 years
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bruja
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Por muito tempo em minha vida, me senti meio bruxa. Eu sempre carreguei esse instinto visceral, algo como sexto sentido ou observação extrema. As emoções sempre correram por meu sangue como agulhas em curso, espetando e pinicando o corpo inteiro. Eu sempre senti demais, sempre enxerguei demais e, por vezes, doeu. Talvez seja um dom, ou maldição. É algo como sentir o mundo nas costas, sentir-se nas costas do mundo. Deitar-se em pregos e ter as memórias transformadas em sonhos enquanto dormia. Eu sempre senti demais, e as emoções me arranhavam a pele. Enxergo, como quem não consegue virar o rosto para o outro lado. Talvez isso tenha atrapalhado quando eu quis viver noites de sexo causal, sem me ligar, sem me conectar, mas esse meu olhar estava lá. Eu enxergava detalhes, qualidades, pequenas coisas que se tornavam importantes em um quadro pintado em minha mente. Nenhum sexo tornou-se apenas sexo, nenhuma briga foi tão banal, nenhum erro permaneceu em meu passado. Eu apenas não consegui fechar os olhos. A ignorância é uma benção, mas eu me perdi nessa graça. Eu previ as partidas antes mesmo de serem dadas, eu olhava nos olhos e sentia dor, curiosidade, desinteresse, carinho. Eu nunca exigi que as coisas fossem ditas, pois o texto para mim, já estava formado. O ponto final já era colocado. Eu sentia. Desculpas nunca me desceram bem, eu percebia as intenções, as mentiras, aquela coisinha que ninguém quer falar. Aquele não que fica no ar. Eu observo, e em minha mente, existe um quadro sendo pintado com a imagem maior dos fatos. Um amigo uma vez disse: que boca maldita, ein, Michele. Boca maldita não, mente desgraçada. Emoções à flor da pele. E a flor desabrochava. Como jardim em meus sentidos, como toda a flora em minha tez. Meio bruxa, meio escritora. O mundo nas costas, e nas costas do mundo, observando tudo de fora. Talvez eu tenha nascido para descrever essas emoções, que eu nunca soube lidar. Meus sentidos tão delicados, mas o tato tão bruto. Meio bruxa, meio de fora. Um cara esses dias deu uma desculpa quando eu o convidei a sair, era um final de semana de “ensaios”, ele disse. E eu dou risada, quando eu já prevejo esses fins lá do começo. A culpa não é dele, realmente. Ele achou que seria delicado de sua parte, ele achou que seria maduro, queria evitar o climão. Mas a culpa é minha, não sei deixar me enganar. Culpa desse meu cérebro delicado, desse sentido maior de compreender os outros. De olhar no olho mesmo através de mensagens, de sorrisos amarelos da sala de estar. É dom. Mesmo com pessoas que não se importaram de me enxergar através do horizonte de meu corpo, eu as enxerguei e dali absorvi o que podia. Um passo diferente na dança, uma visão diferente de mundo, uma música diferente. Meu mundo se expandiu, o mesmo mundo que eles ignoraram. Viraram palavras, poemas, histórias. Viraram memória em meu corpo e mente. Pesco os detalhes agradáveis, com um carinho que jamais vai me fazer mal. E eu sinto, observo e sigo. É maldição. Fechar os olhos e escutar. Talvez, viver nesse mundo requeira um pouco de ignorância. Não no mal sentido da palavra, mas um mistério, otimismo, sem saber o que vem a seguir, faz bem. E eu sei. Pelo jeito de olhar, de falar, os silêncios e as pausas. As risadas e as lágrimas. E tudo se aloja em minha memória como uma exposição que eu não consigo deixar de contemplar. Viram palavras, nem sempre aprendizado.
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revolucionar-se · 7 years
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Poema do desassossego
Existe um quê de insatisfação crônica alojada em meu peito. Não me doem o passar dos dias nem a chegada do inverno, mas a vida segue e se atrita com meu eu, inerte e os vergões da pele tornam-se feridas que jorram pra dentro. O veneno sangue de minhas incapacidade, o vermelho veneno das minhas inseguranças: o amor foge de minhas mãos como se eu fosse seu antônimo. Eu tento criar asas quebradas, na terra do impossível, dou de cara com o chão mas ao invés de quebrar a cara, sou furada por um dos cacos de minha personalidade. Em meu cerne doente, sigo querendo mais, eu sigo querendo paz me embriagando em agonia; e o eterno desconforto, minha morada se faz.
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revolucionar-se · 7 years
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Você escreve muito bem Jesus amadoooooo
Obrigada, apesar de eu postar vez ou outra no tumblr, sempre acabo trazendo textos novos. 
Valeu pelo salve.
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