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A Ressignificação da Existência
Há muitos anos, tantos quantos nos são possíveis contar, nascia a espécie humana. Dotada de capacidade inventiva e transformadora perpetuara-se por todo o globo terrestre. Cada indivíduo com suas contribuições conduziu a raça através dos séculos, aprendendo e modificando o meio em função de suas necessidades.
Todos os dias são para ser, aprender, conviver, agradecer, estabelecer vínculo, mas até que se chegue a uma dessas, dentre tantas outras, realizações manuais de comportamento nos são empurradas goela abaixo. Para pertencermos a alguma coisa, antes de tudo é necessário esquecer – eles dizem. Desfazemo-nos de nós mesmos para sermos outra pessoa. Mais uma pessoa. Todos os dias, a maioria de nós, simplesmente existe.
Fadados a outra vida que não a nossa nos tornamos insossos e mornos, reclusos e mesquinhos, artificiais e plastificados e, por fim, depressivos. Quando nos é roubada a possibilidade de ser, perdemos a capacidade de viver. A partir dessa e não de sua vizinha, a existência, é que nos compreendemos enquanto dotados de um significado. É na vivência que ampliamos e aprimoramos nossas particularidades. O conjunto só é bom e harmonioso porque somos únicos em toda nossa maneira.
De modo ilustrativo, podemos até destacar a célebre escritora Joanne Kethleen Rowling, que, atraída desde cedo pela literatura, nutria em seu coração juvenil a necessidade de contar histórias, mas desencorajada pelas pressões sociais infligidas por parte do pai acaba relutando em deixar florir sua peculiaridade. Após alguns percalços e impulsionada também pela irmã mais nova, Rowling apropria-se de seu protagonismo e dá uma nova direção à sua vida, a partir da história do menino que sobreviveu, ganhando o coração de milhares de crianças e jovens ao redor do mundo.
Nós somos individualmente únicos e plurais, cheios de significação. Mesmo que consigamos executar ações semelhantes, cada um possui a sua própria maneira e isso deve ser respeitado. Cada ser é uma caixa de mil surpresas. A criatividade deve ser estimulada. A espontaneidade também. Sejamos protagonistas em nossos caminhos. Sigamos as luzes que refletem nosso juízo, sintamos os cheiros que nos instigam na parada adiante. Somos producentes, agentes de ressignificação. Alteremos nossas rotas, aprendamos mais, descartemos a vergonha – ninguém sabe tudo – e avancemos ao novo e todos os dias. Assim, poderemos nos reconhecer no próximo. Respeitando o seu espaço e a sua condição, e a sua maneira, e o seu sonho, e a sua peculiaridade. Assumir a diferença não é fácil, mas é simples e uma vez nesse caminho certamente não nos arrependeremos de sermos livres.
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José
José não é mais o mesmo desde o dia fatídico quando perdera bem mais do que outrora achou ter compreendido. Louco esse menino que deixou-se cegar. Acreditava nas mais belas histórias de amor e fez parecer ter entendido a sagacidade dos maiores amantes. Nada daquelas coisas podem ser refletidas quando se está de frente ao seu próprio espelho desencapado na alma, mirando as janelas da própria face, depois de tantos anos. Saímos da fábrica programados para fazer história, absorver o que houver de melhor e executar tudo com maestria. Todavia, o caminho está cheio de variadas atrações, luzes de muitas cores, cheiros, tantos sabores... Quando saídos da fábrica, somos ingênuos - há a inocência. Logo depois tudo é um atropelo e finalmente somos enganados. Claro que nada tem esse tom melancólico; estamos todos dançando e sorrindo, inclusive o José. Tudo se mistura. A essência existente cruza com toda sorte de variáveis à frente - vagantes, curiosos e mestiços, todos nós. Mas há graça em tudo isso, sabe? Em ser desconstruído. Entendemos que estamos aprendendo. Entretanto, essa noite tudo pareceu dolorido quando num ponto de ônibus, mais uma vez, José enxergou aqueles olhos refletidos nos olhos de outra pessoa. De novo ele lembrou do quão tolo foi quando deixou a guarda, afrouxou os braços e o perdeu de vista. José já sabia o que era amar e agora sabia também o que era perder. Seus olhos, depois do fatídico dia, ficaram enevoados. Mesmo assim quando encontrava fachos de luz, da sua luz, em outras pessoas, em outros lugares era como se o sol nascesse bem ali e só para ele, devolvendo o tom adequado das coisas.
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Para a posteridade
Simples, mas não. Falar de si mesmo parece coisa para a posteridade. É quando estamos mais velhos e enchemos a casa de amigos desde a sexta até o fim da tarde do domingo. Depois de uns goles, de pequenos atritos no almoço todo mundo senta na sala, cada um na sua posição mais confortável, e desata a falar quase que sem pretensão alguma sobre todas as suas aventuranças. Ou, não tão cheio de amigos, pode ser só um e sem nem tantos dias também, pode ser uma noite de quarta feira (esse dia meio termo) depois do jantar deitado num colchonete ao pé da cama, cochichando até a madrugada. Há, ainda, quem tenha como opção os diários improvisados cheios de gravuras, colagens e histórias do sitio dos avós, amores da sexta série, desavenças no ensino médio e o fato de ter chegado um mês depois no curso de Letras por ter que esperar indefinidamente ser chamado de uma lista de espera. Eu gosto de muitas coisas, sobretudo, de estar sempre quentinho. É muito bom alguém estar com frio e encontrar conforto no seu abraço porque se está quentinho. Parece uma coisa boba, mas garanto que não, essa seria só sua leitura apressada do momento. Eu vivi conflitos horrorosos na adolescência e isso quase me fez esquecer o quanto fui feliz em minha infância. Quando estamos instáveis e temerosos a nossa cabeça tende a borrar a maneira como recordamos das idas ao brejo, dos banhos de açude, da formação da “turma” inspirada nas novelas do SBT. Claro que houve tensões, desde quando tudo são flores? Mas era superável e eu só havia esquecido. Sou o filho caçula de uma porção de irmãos. Mainha tem três filhos do primeiro casamento e meu pai tem mais seis. Apesar da paixão, dos encontros e dos muitos cafezinhos servidos tarde da noite eles não ficaram juntos. Era uma relação extraconjugal. Meu pai já tinha uma família e minha mãe não pretendia alimentar mais aquela situação. Ela é a figura mais presente em minha vida. Criou-me sozinha e a muito custo. Sempre chegava tarde por fazer horas extras no trabalho enquanto eu ficava na casa da minha tia. Eu ia pra cama cedo e não dormia esperando ela voltar. Era ouvir as batidas na porta depois das vinte e duas horas e eu fechava os olhos e encenava meu melhor sono. Elas me chamavam, mas eu era muito bom ator, só para poder ser pego no colo e levado até a minha cama em nossa casa. Detalhe: sempre fui bem gordinho. Depois dos vinte anos parei de ser triste, parei de encarnar a minha pior versão. Eu me abracei e me aceitei do melhor jeito que pude, dando tempo ao tempo como dizem os antigos. Saí do Ensino Médio em 2012 e só há pouco tempo me encarei lá do fundo e me entreguei ao curso de letras. A maior motivação tenha sido talvez, a escrita (é a escrita) e o jeito mágico como a literatura abrange o mundo. Há um caminho longo pela frente, não me conheço nem na metade desde que existo, os conflitos ainda pairam vez por outra, mas o mais importante é que não sou jogado para baixo. O mais importante é que agora sei que quero continuar, que tudo nessa estrada é válido e contribui para o meu crescimento.
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