Tumgik
rosieclouqs · 4 years
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Aquele dia havia sido difícil o suficiente para Junggi. Havia acordado atrasado para a primeira aula, sem escutar o despertador e seus pais, que fingiam que o loiro não existia naquela casa, não fizeram nenhuma questão de ajudá-lo. Por pouco não havia perdido uma prova importante. Depois disso, a aula de dança, onde Junggi precisava lidar constante e diretamente com mães e pais exigentes de alguns alunos, que culpavam o professor por suas crianças não terem talento ou disciplina para dançar. Sua cabeça, ao final do dia, estava para explodir. Lee Junggi sentia como se uma maré de azar o perseguisse desde o dia em que decidiu fugir de casa um ano atrás e desde então, parecia que nada que ele tentasse dava certo. Mas era a vida, sempre cheia de obstáculos, sempre o tentando de desistir.
Para não perder o pouco da sanidade que ainda tinha, Junggi foi até o bar onde sua melhor amiga de infância trabalhava como bartender. Lá, além de conseguir algumas cervejas de graça, ainda podia papear com Seulgi por quanto tempo precisasse já que não era sempre que o bar estava lotado. Estava há algumas horas lá, bebericando algumas garrafas de cerveja e desenhando no sketchbook surrado nos momentos em que Seulgi precisava atender outro cliente. Tinha os olhos tão fixos ao desenho que sequer notou a aproximação do rapaz, sendo tirado de sua concentração apenas quando ouviu sua voz. Assustou-se, erguendo o rosto na direção do rapaz.
Junggi não estava acostumado com abordagens repetinas, muito menos por rapazes bonitos como aquele. E num bar - diga-se de passagem. Ele era alto, com ombros largos, uma feição um pouco fechada para um rapaz com o rosto tão bonito que era parcialmente coberto pelos cabelos compridos, cheio de tatuagens pelas mãos. Breathtaking, Junggi pensou. Piscou algumas vezes para parar de encará-lo e voltar a respirar, olhando ao redor para ter certeza de que o desconhecido estava falando com ele. Os olhos naturalmente grandes de Junggi se arregalaram com a frase. Junggi não tinha dúvida sobre sua própria sexualidade, mas não imaginava que fosse tão... Óbvio. O rapaz estava chamando-o para... Arrancar suas roupas? Era mesmo uma abordagem para transar?
Quando mencionado a questão profissional, o loiro sentiu-se um pouco ofendido. Que diabos ele queria dizer com aquilo? Estaria ele chamando Junggi de prostituto? Todos aqueles pensamentos passavam na mente do pequeno em turbilhão, sem conseguir abrir a boca um segundo para responder o desconhecido, mas a mudança de suas expressões faciais deveriam ser claras.
Um suspiro de alívio saiu por entre os lábios carnudos de Junggi, abaixando a cabeça rapidamente ao que a balançava em negação. Ok, o rapaz não estava o chamando de prostituo no final das contas. Percebeu que de fato deveria ter um porte de modelo vivo, já que fazia alguns bicos na faculdade de arte e agora esse pintor Kim Daeyong também o queria pintar.
Espere... Kim Dae- "Kim Daeyong?" Junggi repetiu baixinho, erguendo a cabeça para encarar o rapaz com os olhos arregalados novamente. "Você é Kim Daeyong? Pintor, obras expostas em galerias e exposições sobre seu trabalho? Esse Kim Daeyong?" Quais eram as chances de um pintor que gostava tanto do trabalho pudesse estar na sua frente pedindo para pintá-lo? Isso nunca aconteceria na vida de Lee Junggi. Será que estava sonhando? Universos paralelos existiam? "Eu achei que você era mais... Velho... Quero dizer! Desculpa, eu..." O pequeno deixou a frase no ar, evitando continuar falando para não passar mais vergonha que o normal.
Por mais estranho que aquela situação pudesse parecer, Junggi precisava de dinheiro. Daeyong era um pintor conhecido, provavelmente com grana, por que diabos abordaria um rapaz comum e sem graça como Junggi num bar quando puderia contratar qualquer modelo famosa de capa de revista? Soava suspeito sim... Mas poderia compartilhar um momento com um artista que gostava e receber para isso. Se no final, Daeyong quisesse apenas transar com ele, Junggi também não se importaria. "É... Claro. Confesso que nunca recebi esse tipo de proposta assim... De forma aleatória, mas... Seria uma honra. Tem certeza de que quer me pintar?" Precisava conferir se não era mesmo uma pegadinha.
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Daeyong nunca tinha passado por uma semana tão frustrante profissionalmente. E o pior é que ele sabia que não poderia culpar algum bloqueio criativo ou qualquer falta de inspiração, mas sim a sua própria teimosia. Jamais se permitira ficar na comodidade quanto as suas pinturas, sempre retratava diversos modelos tanto femininos quanto masculinos, jovens, velhos, com ou sem um corpo de formas idealizadas, de etnias diferentes, em momentos e cenários peculiares e gostava de acreditar que seu sucesso não era resultado de algum talento nato, mas sim da forma com que ele percebia as coisas, com que via as pessoas, sempre numa perspectiva crua de sentimentos que era visível em seus traços. Apesar do seu perfeccionismo, sempre se sentiu confiante quanto as suas obras, com exceção das que criara nos últimos dias e que julgava tão desinteressantes e sem apelo que sequer conseguiu terminá-las. Fazia meses em que se via numa busca interminável por um modelo perfeito que parecia tão distante ao ponto de sequer existir, mas ao invés de continuar o seu trabalho a partir dos nuances diferentes em que via em cada pessoa, sua teimosia em querer recriar um único pertencente a alguém que jamais vira ou sequer sabia existir era maior do que qualquer data estipulada para a entrega dos quadros. — Merda. — Murmurou assim que a cerveja desceu queimando pela sua garganta, perguntando-se o que diabos ele estava fazendo ali. Daeyong não gostava de bares pelo simples fato de federem a cigarro, mas lá estava ele, num bar qualquer que avistara naquela rua pouco movimentada. Abandonou o copo sobre o balcão após o segundo gole, disposto a ir embora e simplesmente tentar retomar seu trabalho de onde havia parado, mas a atenção se voltou totalmente a uma silhueta desconhecida e foi impossível conter um palavrão ao conseguir vislumbrar a face do garoto. Os olhos observaram tão atentamente as curvas do corpo pequeno quanto os traços do rosto dele a medida em que se aproximava quase automaticamente, sem controle sobre seus movimentos, perdido numa admiração estranha causada por uma figura que jamais havia visto antes mas que ansiava já tê-lo feito. — Sei que é estranho e provavelmente vai parecer alguma proposta indecente em que eu queira tirar suas roupas, e talvez eu queira… — Escorou-se contra o balcão que o mais baixo estava, pronunciando-se numa calma que certamente não tinha no momento, sem conseguir evitar um sorriso ao perceber suas últimas palavras. — Profissionalmente, quero dizer. — Corrigiu-se na tentativa de parecer mais claro quanto ao que queria, embora as palavras pareciam apenas saírem sem sequer pensar sobre elas anteriormente. — Eu sou pintor. Kim Daeyong. E preciso pintar você. — Os olhos recaíram para a face bonita, demorando-se no nariz de formato fofo e lábios gordinhos, por fim encarando-o ao que deslizou a mão tatuada pelo próprio cabelo escuro, empurrando alguns dos seus fios longos e desarrumados para trás. — E eu pago bem. — Daeyong sabia que não podia perder aquela oportunidade tão irreal de tê-lo como modelo e embora soubesse que toda a sua proposta soasse um tanto estranha e que provavelmente fosse recusada, ele não tinha nada a perder em arriscar.
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rosieclouqs · 4 years
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