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"Utilizar a escrita como forma de escoamento"
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solidando · 4 months ago
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solidando · 4 months ago
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solidando · 4 months ago
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1741
Não sei o que está a se passar em minha cabeça. 1741.
O ano virou sem virar, para mim e para o entorno. Apenas deixei que me carregasse, nada mais a esperar depois da chuva ácida de angústia que foi 2024. Apenas continuei e sem apostas. E foi aí que eu me vi em 15 dias do novo ano já vivendo meu sonho e sem perceber. E as coisas foram acontecendo e eu sem sensopercepção para me atentar. 30 seres humanos confiando na minha escuta e eu já podendo sonhar com continuidade. O discurso neoliberal, por fim, não me destruiu. Não curiosamente, os marxistas-leninistas me salvaram da queda e me colocaram de volta aos trilhos.
Experimentei a serenidade olhando a enorme pedra riscada na estrada dos sonhos. Era um sábado de carnaval e muitas cachoeiras na estrada. Chihiro de fundo e a floresta preservada, uma das pouquíssimas da Mata Atlântica, tal como mencionou aquele que me escuta - o meu psicanalista. E foi com o coração fervendo de serenidade que lhe relatei sobre o sonho posto na realidade: eu conheci a região serrana do estado do Rio de Janeiro.
"O seu desejo te leva em direção às nascentes. Você é nordestina."
Tem quase 16 anos que vivo enquanto migrante, desenraizada. Não sei mais qual é o sotaque que utilizo. Ou melhor, os sotaques. Mas não é este o assunto, estou tangenciando. Enrolando em variados temas para evitar colocar nestas linhas o mais novo do que já é velho: estou em estado de apaixonamento.
Escrevo com cansaço de mim. Decepciono com uma organização psíquica que sequer me deixa retomar o fôlego da última decida aos porões do inferno. Eu queria apenas viver de oferecer minha escuta aos mais de 30 sujeitos, alimentar-me cada vez melhor e apreciar estradas. Queria viver de levar Charlie Brown para os lugares, de transcrever trechos de Clarice na agenda da 'Noite Estrelada', de esperar minha chamada para a terra do abacaxi. Mas a minha cabeça se aproveitou de que estava distraída apreciando o café quentinho da clínica. Aproveitou a pequena brecha de minha rotina mais feliz, mais viva, mais "La Paura Del Buio" e deixou ele passar. E lá estava eu de novo, envolta ao mais básico do que é a neurose: repetir, repetir, repetir e repetir com pouca elaboração.
Dias e dias e dias e eu estranhando o tempo que a fantasia se ocupava com o que era dele. Já que eu agora não era mais aquela angústia em sol, passei a olhar com outros olhos para o outro lado do país. Mas é que o outro lado do país tem ele - o primeiro a apontar para o amor. O amor: este sentimento tão distante do que se configurou como eu. Mas era ele, mas eu o deixei viver. E assim permaneceria, não há nada mais que eu queira preservar com o maior dos cuidados do que o laço fraterno de quem insistiu em mim. E esta permanência talvez tenha se consolidado, mesmo com idas e vindas, justamente graças à linguagem da ternura. Porque a linguagem da paixão só se apresenta acompanhada da minha tendência à circular a falta. E este texto sai da sensação de insuficiência em que me encontro, apesar de ter acabado de ler Lacan (e quem disse que elucidar ameniza a dor de ser?). Apesar de ele, a paixão agora figura como pecado para mim. Como agnóstica que sou, não tenho certeza a quem pedir desculpas. Mas ele é evangélico. Seria a ele? Se assim o for, tento redimir com as seguintes palavras:
"Ao contrário do que lhe aparece, o encontro afetivo não é da ordem do controle. Eu não te pude responder as perguntas, pois eu também não sabia. Eu não gostaria de estar aqui, justamente por saber o que a paixão significa para um corpo histérico. E sempre olhei para você como alguém que merecia mais. E além: considerando os mil setecentos e quarenta e um quilômetros, minha sensopercepção recebeu pouco ou nenhum dado sobre você enquanto sujeito existente, vivo e respirante. Eu não sei identificar o seu cheiro, qual a textura da sua pele e quantos centímetros de chão o seu corpo ocupa. Qualquer pessoa comum de um dia comum na sua cidade, desde que esteja no cruzamento de suas passadas, sabe mais de você do que eu. Ainda que eu esteja 1 hora à frente. E talvez seja o nosso desencontro o que há de mais trágico em toda essa situação. Mesmo em quase 8 anos, o que construímos só é possível graças a um aparelho que precisa de recarga e faz barulho e desconecta e distancia. As vezes que te disse o que não sentia apontava para isto: é uma distância tão grande quanto é o tamanho da angústia. Eu prezava por nossa preservação. Mas desta vez eu não consegui reparar a saída do investimento e ele retornou para a fantasia e lá estava você ocupando o meu interior. Não há muito o que eu possa fazer, iria guardar como o maior segredo entre nós, mas a parte do investimento que pede retorno ao Eu me fez transformar tudo isso em uma informação de dois: agora você sabe. Você saber intensifica minha angústia de sentir e só eu posso contar quantas análises serão necessárias para reconstituir alguma coisa. Eu não quero ser esmagada mais uma vez, não mais suporto repetir sem elaborar. Mas eu gostaria de que você soubesse e de alguma forma entendesse que é passível de desejo e que pode ser alvo do olhar apaixonado. E desta vez fui eu. Não há muito o que fazer, a não ser esperar que o tempo faça o seu trabalho. Eu só solicito que o laço não se rompa pela força da mágoa, caso não haja mais tempo e espaço (distância temporal de 1 hora) para mim e caso não haja também sustentação suficiente para que eu consiga lidar com a sua liberdade de ser, de ser por aí, nos seus 1.741 quilômetros de distância. Adoro-te, para você queria guardar um amor melhor. Só não era a hora."
Com ternura, para F.
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solidando · 4 months ago
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Amy Winehouse by Valerie Phillips, 2003
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solidando · 4 months ago
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solidando · 4 months ago
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solidando · 5 months ago
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A felicidade prometida
Terei um dia a oportunidade de me livrar das dores na perna esquerda, de controlar os níveis de oleosidade da pele e de conhecer outros mares? Conseguirei chegar a um ponto da vida em que sentirei satisfação no amanhecer e saberei que tenho alguém para presentear com um caloroso “BOM DIA”? O futuro será um lugar melhor para mim? O futuro é o espaço no tempo em que, finalmente, viverei em estado de felicidade e gratidão? O universo me dará tudo aquilo que não me foi permitido durante todo o passado e o presente? Eu serei feliz no amanhã? Quando chegar o amanhã, terei as condições necessárias para ser feliz? Conseguirei os amigos que sempre almejei na adolescência solitária presenteada pelo bullying? A expressão verbal e física não serão mais limitadas pelo meu medo de estar no mundo e com os outros? Eu serei feliz no dia de amanhã? Quando chegar o dia de amanhã, estarei no trem às 17 e 40m, olhando para toda a imensidão da cidade sendo coberto pelos raios despedidos do sol? Eu conseguirei olhar nos olhos das pessoas, sem o medo do que eles me acusam? A minha faculdade realmente me trará uma perspectiva de vida melhor? Terei plano de saúde para dar conta do calor infernal do meu aparelho digestivo? O meu cabelo ainda será o alvo principal do meu ódio à minha aparência? Ele, seja lá quem for, estará lá comigo e me fará sorrir? Conseguirei entender que, finalmente, todo o sofrimento e privações da vida foram pra me fazer uma pessoa forte para um futuro grandioso ou tudo isto não passou de mais uma brincadeira do destino, que escolhe no dedo um bebê aleatório para ser o alvo de todas as piores coisas possíveis? A morte do meu irmão será então entendida, ou eu continuarei sonhando com ele vivíssimo comigo? Eu conseguirei fazer alguma coisa importante nas áreas que escolhi? O meu marido vai utilizar o diálogo como principal ferramenta no negócio que é o casamento, ou iremos acertar um acordo subentendido e simplesmente arrastar com a barriga todos os nossos pontinhos de erros? Eu terei a chance de ser amada e assumida ao ponto dele decidir que vai me pedir em casamento? Eu terei uma criança feliz e saudável? Eu terei filhos? O Arthur chegará a existir? E a Anahí? Minha casa será arejada e tomada por plantas, combinando harmonicamente com o verde musgo das paredes? Eu terei uma casa verde musgo em Porto Alegre? Eu irei para Porto Alegre e lá iniciarei a carreira brilhante que pretendo ter, ou Porto Alegre sequer terá suas ruas pisadas por meus pés? Eu serei feliz em Porto Alegre, ou em qualquer cidade do Rio Grande do Sul? Eu realmente conseguirei ir ao Rio Grande do Sul ou conseguirei um emprego urgente na mesma cidade que me formei e que planejo não ficar após a graduação? William finalmente terá conhecimento do meu sonho de ser neurocientista ao lado dele, ou meu sonho de ser neurocientista não será concretizado? A neurociência realmente será agraciada por mim? A neurociência precisará de mim para desenvolver algum espaço em aberto? Eu conduzirei alguma pesquisa que mudará o estado de desengano de certas questões na neurociência? A neurociência está esperando por mim ou o Jeon Jungkook não ouviu a minha oração? Eu terei um celular com as funcionalidades excelentes ou ter um celular não será mais um desejo meu, uma vez que continuarei insistindo em não visualizar as mensagens das pessoas? Eu terei condições para fazer o curso de fotografia e adquirir a Canon t6i e assim registrar preciosamente pessoas desconhecidas e entregar as belas imagens para elas? Eu irei rir de ter pago 350,00 em uma Sony de péssima qualidade ou eu continuarei a escondê-la em casa? A Sony que me roubou 350,00 reais terá seu trabalho realizado na gravação dos meus dance covers de Kpop? Eu conseguirei acompanhar uma tentativa de dance cover meu sem sentir nojo o ódio pelo meu corpo? Eu chegarei a criar meu canal de dance cover e serei reconhecida por ser pretty good dancer? O meu inglês terá nível excelente, ou continuarei a saber ler e ouvir, mas não escrever e falar? Eu saberei algo suficiente da língua coreana? Os estudos de coreano terão alguma utilidade prática para a minha vida e eu receberei dinheiro e satisfação por isto? Eu saberei ler documentos de psicologia em coreano? Eu vou ser a poliglota que sempre quis ser, ou eu vou apenas saber meia merda de vários idiomas? Eu vou morar na Alemanha ou vou acabar parando em um lugarzinho qualquer norte-americano? Eu visitarei a Muralha da China? Eu conhecerei outros mares? Eu saberei me comunicar em vários idiomas? O meu filho será educado no exterior? Eu terei um filho no exterior? Eu chegarei a ter a oportunidade de usar passaporte? Eu vou ter passaporte? Eu vou para algum lugar? Eu chegarei a algum lugar? Eu estarei viva até lá, a fim de viver toda a felicidade que o futuro me promete desde a minha infância? Eu terei forças e fôlego para lutar até lá? A felicidade realmente está sendo reservada para mim? Ele vai me amar? Ele existe ou sequer irei conhecê-lo? Eu vou ter alguém, ou a única experiência romântico-amorosa que tive se resumirá em uns 16 anos mais velho e já dentro de uma relação romântica-amorosa com outro ser humano, este sim amado e vivendo intensas experiências românticas?. Eu irei superar esta mancha sangrenta da minha história? Eu terei entendido que eu não merecia passar por tamanha humilhação e desamor? Eu entenderei que não foi culpa minha e que o único problema é que ele realmente não gostava de mim? Eu serei sincera comigo para aceitar que ele só estava precisando de sexo, mas tinha medo de pegar sifílis, herpes ou HIV nas experiências com outras mulheres, estas sim já experientes? Eu saberei aceitar que a ingenuidade pode destruir as esperanças de alguém já padecendo sem esperanças? Eu saberei dicernir nossa relação futura e tratarei tal capítulo de nossa história como algo morto e enterrado? Ele não mais me olhará como uma menina que ele transou incansavelmente e passará a me ler como uma pessoa que merece ser amada, ou continuará justificando as próprias fraturas lançando a responsabilidade para mim? Ele saberá que destruiu a minha autoestima, quando supostamente estava sendo coaching de comportamento, ou ainda achará que me fez feliz por aqueles meses? Ele assumirá a responsabilidade no futuro quando as coisas vierem à tona? Eu conseguirei superar isto algum dia ou continuarei o odiando por nunca assumir nada? Eu conseguirei superar essas coisas algum dia? Eu conseguirei superar a falta de amor dos outros seres? Eu conseguirei ser bonita e assim vão achar o que é preciso para que eu seja amada? Eu serei bonita no futuro? O futuro vai me dar a beleza que nunca me confiou e assim eu serei feliz? Eu serei feliz quando for bonita? Eu serei bonita quando for feliz? Eu serei feliz no futuro? Eu serei no futuro? Eu estarei lá no futuro? O futuro espera por mim? Tem espaço para mim no futuro? O meu nome circula no futuro? O futuro vai cuidar de mim e amaldicoará as maldades realizados pelo passado e pelo presente? O futuro passará pomada e me dará soro e medicamentos necessários para o tratamento multidisciplinar que a minha existência exige? O futuro será bom comigo, ou me receberá com mortes, doenças e falta de amor? O futuro me dará ele? Ele está no futuro me esperando para me dar o amor que aquele dos 16 mais velho me negou? Eu estarei com ele ou aceitarei conscientemente a vida medíocre ao lado de um outro, que não me ama e eu não o acho atraente? Eu estarei em uma relação feliz ou me colocarei em um relacionamento morto apenas para não continuar sendo só? Eu estarei com alguém no futuro? O futuro me traz um par? O meu par irá querer que eu seja o seu par? Eu estarei lá com ele, ou quando chegar já será tarde demais? Eu conseguirei chegar à tempo de pegar a fila da felicidade, antes que as senhas sejam todas distribuídas? Eu encontrarei a felicidade no futuro? Eu e a felicidade seremos companheiras? A felicidade me aguarda no futuro? Eu terei um futuro? A felicidade existe?
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solidando · 9 months ago
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@lovesdaya
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solidando · 11 months ago
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solidando · 11 months ago
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solidando · 11 months ago
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Antraz
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solidando · 11 months ago
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solidando · 11 months ago
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É uma luta solitária que já dura anos
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solidando · 1 year ago
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“Talvez escrever fosse uma forma de lamento.”
— Charles Bukowski.  (via reiterastes)
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solidando · 1 year ago
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(pics aren't mine)
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solidando · 1 year ago
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A negação da vida pelo excesso de ausências:
01 de maio. Conto 27 anos de idade. E eu me formei. Escrevo estas palavras sem experimentar qualquer indicio de alegria. Sim! Eu me formei! E repito mentalmente "eu me formei!" mas nada emerge.
"Eu me formei!" "Eu venci o sistema!" "Eu inauguro um diploma universitário na família de nordestinos!" "Eu me formei!"
E o nada emerge. O que se vê é dor no peito e dificuldades para executar funções simples do aparelho respiratório. O consumo de medicamento tarja preta tomado emprestado e um corpo que espalha desânimo pelo sofá. As noites de insônia e a iminência de um estômago que grita de ausência. A angústia de ainda assim não servir para nada, de ser incapaz. Da distância quilométrica entre o que consegui ser e uma profissional de roupas limpas em uma sala com ar condicionado. As dores e ânsias, a vontade de rasgar a cara em partes por não conseguir se apresentar como algo a mais além de meu próprio nome. Quando é que poderei ser uma profissional? Por que em meu primeiro sonho eu exclamava que era 'psicóloga e faxineira?'
Mas como é que conseguirei ter algum sentimento organizado de ser alguém, se tudo o que fiz foi me subjugar ao olhar sádico dos empregadores? Se tentando fugir de certos ataques tudo o que eu consegui foi repetir infinitamente o que antes fizeram comigo? Se eu me tornei escrava de meu próprio trabalho e trabalho esse que carrega todas as formas de exploração e sujeição? Se em momento algum eu consegui enxergar que no espelho pode ter mais uniformidade?
Como é que se legitima uma posição social diante dos outros se eu não consigo reconhecer o meu próprio mérito em toda essa trajetória de leituras e expulsões de palavras e exercícios e discussões e revisões e acolhimentos e supervisões e escritas e avaliações e produções e apresentações e em construções e em laboratórios e em salas e em consultórios e em contatos e em reflexões? Se houveram tantas mortes brutas, as quais eu jamais conseguirei desvincular meu sintoma, estaria eu agora caminhando para uma dos desligamentos mais difíceis de realizar dentro de mim mesma? Como é que eu vou conseguir alcançar uma sala com ar condicionado e sendo convocada como uma profissional que ganhará dinheiro suficiente para algo mais que o alimento?
Como é que eu vou conseguir acessar as emoções e o êxtase de um "Eu me formei!" Se ainda estou no mesmo lugar e não consigo sair? Se tudo que poderia ser comemorativo se deu de maneira silenciosa e sem reconhecimento? Se eu estou sangrando pela terceira vez em um único mês e minha mãe teve princípio de câncer de colo de útero e eu não tenho acesso a um médico ginecologista, para ter certeza que "Stay With Me" de Matsubara não será uma canção que me lembra que eu poderei ter o mesmo fim? Se eu tive que carregar a lateral de um tricíclo pesado na parte de direita do meu corpo e senti dor por semanas? E depois disso, passei a ter graves crises de ansiedade no meio da noite, com lembranças aterrorizantes de minha queda para a miséria cada vez mais vergonhosa? Se com medo de passar fome eu passei a fazer uso de medicamento psiquiátrico?
Eu não vou ter certeza que me formei, pois foi sem rito de passagem, sem beca, sem aquele chapéu. Sem foto, sem maquiagem, sem vestido vermelho. Sem reunir a família, sem dar orgulho para ninguém. Sem bolsa, sem colação de grau, sem conseguir construir laços reconhecíveis por minha fobia social e ressentimento de classe social? Se eu poderia narrar mais questionamentos até redobrar a noite, tentando expulsar em palavras a quantidade de sufocações que tenho passado nos últimos meses e ainda assim não teria alcançado a ab-reação?
Se eu não consigo descrever ou aproximar o tipo de sensação que essa fase da vida me traz, se eu sou aterrorizada por humilhações e assédios morais nas relações interpessoais do mercado de trabalho, se eu fui alvo de calote, abandono, negligência, desnutrição, nutricídio, inferiorização, violências, bullying e não-reconhecimento da legitimidade da condição de pessoa, é porque a vida tem sido construída a partir do nada e na reapresentação da ausência como única forma de subjetivação. É a vida como miséria, a miséria como adereço que se vincula em todos os âmbitos da existência. É a escassez, o mínimo, o "ainda não". O menor, o informal, o sem recursos. É a falta como marca identificatória, como registro no social, como imagem, como número, como ser. E é justamente o excesso de ausência que impede reconhecer algum dado factível e assumir uma nova posição social. Se não conquisto ser alguma coisa, um dado, portadora de um valor, não disponho de atribuições suficientes para transmitir ao outro. Mesmo com a realidade material do "Eu me formei!", pois não é disso que se trata, mas sim: Formar-se não é o suficiente, não comprova que eu posso ser alguém e obter um lugar novo diante do outro. Me formei, mas isto não quer dizer nada. Eu não mudei, ainda ocupo a ausência.
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solidando · 1 year ago
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