CONTABILIDADE
débito e crédito
duas colunas que
o tempo vai preenchendo
no livro de contas dos dias
com caligrafia minuciosa
e um rigor absoluto.
tarde demais vês o balanço
as dívidas, os desfalques,
os cálculos perversos do contabilista
que fez com que aquele cruzasse a tua vida
demasiado cedo, e o outro demasiado tarde.
e tudo o que não vês,
ficou escrito a tinta invisível:
a porta a que bateste dez minutos depois
de alguém sair. a voz que nunca ouviste,
a rua que não cruzaste, a paragem
em que tiveste medo de descer.
e escrito a vermelho indelével,
a lista de acordos, pactos e traições,
a linha irreversível que te adiciona e te subtrai,
a que te multiplica e te divide.
piedad bonnett
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memória minha, guarda-os tu como eram.
e quanto do meu amor possas, memória,
quanto possas, traz-mo de novo esta noite.
konstantinos kavafis
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but peace returns to my heart.
not peace as it used to be
before it left me years ago. it went
away to school,
matured as I did,
and came back looking like me.
yehuda amichai
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desenterrámos tesouros nas mesmas ilhas
dir-se-ia
que estávamos predestinados às mesmas
canções, a uma espécie mais certa de amor.
rui pires cabral
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Deixei de ouvir-te. E sei que sou
mais triste com o teu silêncio.
Preferia pensar que só adormeceste; mas
se encostar ao teu pulso o meu ouvido
não escutarei senão a minha dor.
Deus precisou de ti, bem sei. E
não vejo como censurá-lo
ou perdoar-lhe.
maria do rosário pedreira
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É tão difícil guardar um rio quando ele corre dentro de nós.
Jorge Sousa Braga
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a journey towards infinity | © víctor m. alonso
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É preciso ser muito valente para viver com medo.
Ao contrário do que se pensa,
o medo nem sempre é coisa de cobardes.
Para se viver morto de medo,
é preciso, de facto, ter muita coragem.
Ángel González
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Vasco Gato, UM PASSO SOBRE A TERRA, ed. Língua Morta.
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A pergunta será sempre
se poderíamos ter tido um desfecho à altura da nossa história.
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Shoplifters (2018), de Manbiki Kazoku
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memória do que nunca aconteceu
muito de repente, como um choque elétrico, um pensamento percorre o meu corpo. lembro-me de tudo o que acreditava que era possível.
*
meses, anos, depois ainda visitas os meus sonhos. ficas à margem, como um reflexo. e acenas, de longe, à pessoa que já fui.
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manuel freire - pedra filosofal
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Eu queria
Começo a chorar
do que não finjo
porque me enamorei
de caminhos
por onde não fui
e regressei
sem ter nunca partido
para o norte aceso
no arremesso da esperança.
Nessas noites
em que de sombra
me disfarcei
e incitei os objectos
na procura de outra cor
encorajei-me
a um luar sem pausa
e vencendo o tempo que se fez tarde
disse: o meu corpo começa aqui
e apontei para nada
porque me havia convertido ao sonho
de ser igual
aos que não são nunca iguais.
Faltou-me viver onde estava
mas ensinei-me
a não estar completamente onde estive
e a cidade dormindo em mim
não me viu entrar
na cidade que em mim despertava.
Houve lágrimas que não matei
porque me fiz
de gestos que não prometi
e na noite abrindo-se
como toalha generosa
servi-me do meu desassossego
e assim me acrescentei
aos que sendo toda a gente
não foram nunca como toda a gente.
Mia Couto, Raiz de orvalho e outros poemas
setembro 1982
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Marguerite (2017)
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